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ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1791 CONSTRUÇÃO E EFETIVAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLITICO DO SERVIÇO SOCIAL Marindia Correia Do Amaral 1 Juliana Aparecida Valente 2 Francieli do Rocio de Campos 3 Área de conhecimento: Serviço Social. Eixo Temático: Fundamentos Históricos, Teórico Metodológico e Ético - Político do Serviço Social. RESUMO O presente artigo tem como principal objetivo problematizar a discussão acerca da construção, definição, e efetivação do Projeto Ético-Político (PEP) do Serviço Social. Utilizou-se de uma revisão teórica para melhor compreender os aspectos que o constituem. A pesquisa de campo se fez a partir de um questionário estruturado aplicado para duas assistentes sociais, docentes do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE campus de Francisco Beltrão no ano de 2016, sendo que as mesmas possuem mais de 20 anos de diferença no que diz respeito ao tempo de sua formação e atuação profissional. A pesquisa possibilitou analisar a visão de ambas a respeito do PEP do Serviço Social, em que determinados momentos possuem concordância e em outros discordância em suas respostas. Desta forma concretizar tal Projeto significa romper com o ideário capitalista, bem como com as aspirações de cunho neoliberal. Partindo do pressuposto que a categoria profissional necessita ampliar suas reflexões e estratégias, possibilitando a aplicação prática dos princípios abarcados no PEP. Assim conclui-se que a efetivação do PEP passa por uma série de entraves, tornando-se um grande desafio no meio profissional, considerando-se que a profissão está inserida em uma sociedade capitalista que lhe impõe uma série de contradições e limites para efetivação da atuação profissional descrita no PEP do Serviço Social. Palavras-chave: Projeto Profissional. Projeto Ético-Político. Serviço Social. 1 INTRODUÇÃO De acordo com Netto, (1999), um projeto profissional deve ser construído coletivamente para de fato representar uma categoria profissional, tendo em vista que este é a base, a estrutura e o ponto de referência de uma profissão. Nessa perspectiva, na década de 1990 se aprimora a discussão do que se denominou Projeto Ético-Político (PEP) do Serviço Social, o qual apresentou o enfrentamento e a denúncia do conservadorismo profissional, e é nesse cenário que se encontram as 1 Acadêmica do 2º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE campus de Francisco Beltrão. Email: marindia_amaral@hotmail.com. 2 Acadêmica do 2º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE campus de Francisco Beltrão. Email: juliana_22_aparecida@hotmail.com. 3 Msc. em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Docente do Curso de Serviço Social e Economia Doméstica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Francisco Beltrão. Email: frandecampos@yahoo.com.br. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1792 raízes para uma proposta de um projeto crítico, baseado na defesa dos direitos humanos, que propõe uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero. O PEP do Serviço Social transmite a visão/imagem da profissão, elencando os valores, os objetivos, as funções, formulando os requisitos teórico-metodológicos, institucionais e práticos do agir profissional. Assim podendo ser constituído e materializado por três dimensões: a) a produção de conhecimentos no interior do Serviço Social; b) as instâncias político-organizativas da profissão; c) a dimensão jurídico-política da profissão. (TEIXEIRA, BRAZ, 2009). É relevante a abordagem da temática, reafirmando o significado e a importância do PEP no âmbito do Serviço Social juntamente com a necessidade constante de informação e qualificação profissional. É a partir dessa contextualização histórica que este artigo vem á público, procurando apresentar a situação vivenciada pelo país no momento de sua construção, englobando acontecimentos marcantes, não apenas no âmbito do Serviço Social, mas de toda nação, como é o caso do fim da Ditadura Militar em 1985 e a promulgação da Constituição Federal em 1988, não deixando de mencionar a construção de um novo Código de Ética do Serviço Social em 1986 e sua posterior revisão em 1993. Este artigo pretende também problematizar os conceitos Neoliberais4, entendidos como principal empecilho para a aplicação prática e efetiva do Projeto Ético-Politico do Serviço Social. Levando em consideração, também, que no período de discussão mais acirrado sobre o PEP o neoliberalismo desenvolvia-se e participava avidamente do contexto político-social. 4 Neoliberalismo segundo Carlos Montaño (2006) é um projeto de sociedade de inspiração monetarista, sob o comando do capital financeiro, que procura desmontar os direitos trabalhistas, políticos e sociais historicamente conquistados pelos trabalhadores, acentuando a exploração de quem vive do trabalho e sugando os pequenos e os médios capitalistas. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1793 2 REFERENCIAL TEÓRICO OU REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO PEP DO SERVIÇO SOCIAL 2.1.1 Dimensão Política O Projeto Ético-Político do Serviço Social é um projeto profissional, inscrito no âmbito social, que por vezes causa embates ideológicos com os projetos de cunho societário, por apresentar uma visão distinta do viver em sociedade que cotidianamente contrapõe-se com a visão disseminada pelo viés da ideologia dominante no sistema burgo-capitalista. Os intelectuais da área do Serviço Social admitem a passagem dos anos 1970 a 1980 como o período em que se deu início ao que posteriormente considerar-se-ia como Projeto Ético-Político do Serviço Social, isso devido a uma mais intensa problematização acerca do conservadorismo presente nas estruturas do fazer profissional. Com a evolução e complexificação das forças produtivas e das relações de produção se tornou evidente a hegemonia do capitalismo monopolista. As expressões da “Questão Social” tomaram outras formas de manifestação sob essas novas estruturas, para tanto o agir profissional do assistente social teve que se redimensionar, tendo em vista estas mudanças sociais. Com o movimento de Reconceituação desde a segunda metade dos anos 1960, essas críticas vinham tomando forma no âmbito do Serviço Social. Sendo assim, A ruptura com a herança conservadora se expressa como uma procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca colocar-se, objetivamente, a serviços dos interesses dos usuários, isto é, dos setores dominados da sociedade. (IAMAMOTO, 2013, p.42) A resistência expressiva às arbitrariedades cometidas pelos ditadores, pode ser visualizada de maneira mais vivaz a partir da mobilização massiva dos trabalhadores, bem como da crescente tomada de consciência política por parte da sociedade civil. A categoria profissional do Serviço Social deu sua contribuição para ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1794 o cenário de contestação ao que vinha ocorrendo na cena política e social, por meio do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais ocorrido em 1979, o qual “[...] assinala o posicionamento ético-político quepassa a se configurar como marco decisivo no compromisso político e coletivo da categoria com setor popular” (BARROCO, 2010, p.167), e ficou conhecido como “o congresso da virada”. Tais iniciativas se inseriram na cena política tendo em vista sua significância econômica, ao menos lhes dando visibilidade através dos operários (foram parte constitutiva fundamental no sistema produtivo), e dos sindicatos dos trabalhadores que foram de incontestável importância para tal processo. O que colocou em cheque tal organização social ditatorial, fazendo com que a democracia voltasse a ter espaço no cotidiano brasileiro. A partir desse marco, no contexto da reorganização politica da sociedade civil, e defesa da democratização e da ampliação dos direitos civis e sócio- políticos, os valores ético-políticos inscritos no projeto profissional de ruptura adquirem materialidade, o que se evidencia na organização política da categoria, na explicitação da ruptura com o tradicionalismo profissional e no amadurecimento da reflexão de bases marxistas. (BARROCO, 2010, p. 167-168) Com a redemocratização se tornou possível tratar mais avidamente sobre o Projeto Ético-Político, pois somente em vias democráticas há possibilidade de apresentar ideais diferentes da soberania dominante, sem ser reprimida ou criminalizada, prevendo justamente embates de pontos de vista distintos. Nesse ponto, a visão societária proposta pelo serviço social é certamente, diferente do que propõe o capitalismo. 2.1.2 Dimensão Teórica-Metodológica Durante o período de ditadura militar compreendido entre 1964 e 1985, ocorreu no âmbito acadêmico o que se denominou Reforma Universitária, que teve reflexo direto e de extrema importância no Serviço Social, uma vez que incitou o surgimento de vários cursos de pós-graduação: especializações, mestrados e doutorados. A conquista desses novos espaços culminou em uma produção teórica mais intensa e expressiva, que acabou por gerar uma massa crítica considerável para a profissão. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1795 Para tanto se necessitou fazer sérias alterações nos currículos de ensino superior de época com o fim da ditadura, visto que os mesmos não eram mais capazes de fornecer respaldo para os profissionais mediante as novas conjecturas. Assim surgiu a necessidade de formar profissionais habilitados para serem capazes de decifrar a realidade histórico-social da época. A efervescência acerca da formação profissional no serviço social culminou na reforma curricular de 1982, a qual buscou adequar a formação profissional redimensionando o ensino, tendo em vista a construção de um novo perfil profissional. É fato que sob outras estruturas sociais e políticas se fez necessário outras visões acerca da sociedade, pois a mesma se modifica de modo constante. O avanço na profissão a partir dos acontecimentos históricos se tornou notável, e ganharam ainda mais peso, quando incorporados aos ganhos sociais observados na Constituição Federal de 1988. Como foi o caso da conquista em uma série de direitos (civis, sociais e políticos), imbricados ao tênue processo de democratização, que possibilitou o viés jurídico institucional para embasar a prática profissional dos assistentes sociais. 2.1.3 Dimensão Ética A partir de muita luta e como resultado de um longo processo histórico-social na sociedade brasileira, se assistiu uma série de conquistas nas mais variadas esferas sociais. A fim de consolidar tais conquistas, bem como abrir caminho para outras, a vanguarda que constitui a categoria profissional do serviço social formula um novo Código de Ética Profissional em 1986, cujo principal avanço para a categoria foi a recusa do Conservadorismo nas estruturas da profissão, e posteriormente na sua revisão ocorrida em 1993 já trazendo consigo as conquistas obtidas na promulgação da Constituição Federal de 1988. Com isso procura-se adaptá-lo as demandas sociais emergentes, estabelecendo forte compromisso com a classe trabalhadora, bem como trazer ao debate as questões éticas no Serviço social, que até então não haviam sido problematizadas de maneira satisfatória. Como cita Barroco: ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1796 A partir de 1993, o Código de Ética passa a ser uma das referencias dos encaminhamentos práticos e do posicionamento politico dos assistentes sociais em face da politica neoliberal e de seus desdobramentos para o conjunto dos trabalhadores. É nesse contexto que i projeto ético-politico referendado nas conquistas dos dois Códigos (1986 e 1993), nas revisões curriculares de 1982 e 1996 e no conjunto de seus avanços teórico-práticos construídos no processo de renovação profissional, a partir da década de 60 (2010, p.206). O que legitima e materializa o Projeto Ético-Político do Serviço Social, são documentos e leis, que na concepção de Iamamoto: Projeto político profissional que se materializou no Código de Ética Profissional do Assistente Social, na Lei de Regulamentação da Profissão de Serviço Social (Lei 8662/93), ambos de 1993, assim como na nova proposta de Diretrizes para o Curso de Serviço Social da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social-ABESS- de 1996, que redimensiona a formação profissional para fazer frente a esse novo cenário histórico (2015, p.113). José Paulo Netto ao tratar a respeito do Projeto Ético-Político do serviço social assinala que: Esquematicamente, este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, este projeto profissional se vincula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir dessas opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício profissional (NETTO, 1999, p.16). Em uma sociedade construída sobre pilares conservadores, cuja perspectiva tende a ser cada vez mais excludente, desigual e brutalmente injusta, torna-se indispensável projetos profissionais que sejam capazes de articular o bojo profissional em torno de um (ou mais) objetivo comum, em prol de melhorias para a categoria. Além da organização no interior da profissão, tais projetos tem fundamental importância no tocante à visibilidade política da categoria, uma vez que lhe possibilita mais intensidade e força ao demandar espaço de atuação social e, também, por caracterizar-se como frente de resistência ao monopólio do poder e a exploração do homem pelo homem, produzindo e reproduzindo miséria alarmante e desumana. Assim sendo, segundo Netto: ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1797 Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas [...] (1999, p.4). Iamamoto por sua vez questiona: [...] como reforçar e consolidar esse projetopolítico-profissional em um terreno profundamente adverso? Como atualizá-lo ante o novo contexto social, sem abrir mão dos princípios éticos-políticos que o norteiam? Ora, a vitalidade desse projeto encontra-se estreitamente relacionada à capacidade de adequá-lo aos novos desafios conjunturais, reconhecendo as tendências e contra-tendências dos processos sociais, de modo que torne possível a qualificação do exercício e da formação profissional na concretização dos rumos perseguido (IAMAMOTO, 2015, p.113-114). Um projeto profissional para alcançar efetivação é assolado por uma série de obstáculos. O primeiro deles trata-se da forma político-social de organização da sociedade na qual este se encontra inserido, no caso do serviço social trata-se da democracia, que tem dupla atuação ora benéfica ou ora prejudicial a sua efetivação. É indiscutivelmente benéfica e indispensável, por possibilitar a presença de projetos que divirjam do ideário eminentemente dominante, por outro lado é prejudicial justamente por ser um modelo aberto, dando bases para contestação, ou seja, existe vários projetos com viés diferente, tornando difícil que apenas um (por melhor que seja) alcance hegemonia. Outro aspecto que dificulta a ascensão do projeto do serviço social, é o fato de que mesmo no interior da profissão, há divergências que acabam por estremecer o conjunto. E para que este alcance níveis altos de aceitação, se faz indispensável uma boa articulação dos profissionais envolvidos, assim como sua necessária interação com outras categorias profissionais. Mas, sem dúvidas o principal dificultador da aplicação prática da proposta do projeto do serviço social é, sem dúvidas, o fato de este ser sensivelmente contrário ao que propõe, para a organização social, o capitalismo ou o neoliberalismo. É desnecessária qualquer argumentação detalhada para verificar o antagonismo entre o projeto ético-político que ganhou hegemonia no serviço social e a ofensiva neoliberal que, também no Brasil, em nome da racionalização, da modernidade, dos valores do Primeiro Mundo etc., vem promovendo (ao arrepio da Constituição de 1988) a liquidação de direitos sociais (denunciados como “privilégios”), a privatização do Estado, o ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1798 sucateamento dos serviços públicos e a implementação sistemática de uma política macro-econômica que penaliza a massa da população (NETTO, 1999, p.19). Atualmente a maior parte da categoria profissional do serviço social admite tal projeto como norteador e importante para dar vigor aos valores que legitimam a profissão, bem como, visualizam também, sua função social, inserida na divisão social e técnica do trabalho coletivo, tendo importância significativa no âmbito societário. No entanto tem-se noção da amplitude e complexificação do meio social ao qual esta ligada, da mesma forma que se capta a lógica fundamental da sociedade atual, a acumulação capitalista, sendo assim, torna-se evidente os entraves que acabam por frear a expansão e/ou aplicação de tal projeto dando-lhe um aspecto mais realista, ainda que visionário. 3 METODOLOGIA O presente estudo se classifica como qualitativo, se desenvolveu sob o método exploratório, pois [...] “pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativa, acerca de determinado fato.” (GIL, 2008, p.27). O estudo partiu de uma revisão bibliográfica, baseada em livros e artigos científicos de periódicos do Serviço Social, onde se destacam autores como Netto (1999), Iamamoto (2013, 2015), Montaño (2006) e Barroco (2010, 2011). A pesquisa de campo se realizou a partir da elaboração de um questionário ordenado com seis questões, e aplicado junto a duas assistentes sociais, docentes do curso de Serviço Social da UNIOESTE campus de Francisco Beltrão. Foi enumerado em Questionário 01, o aplicado na assistente social com formação no ano de 1986, o segundo Questionário 02, aplicado na assistente social formada em 2008. Os questionários foram elaborados com questões descritivas sobre a construção e efetivação do Projeto Ético-Politico do Serviço Social. A partir dos depoimentos coletados foi realizada uma comparação entre a atuação prática a cerca do PEP, de uma assistente social de formação antiga e a outra com formação atual, também contrapondo com o que consta no material bibliográfico pesquisado. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1799 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Com o passar do tempo sabe-se a sociedade passa por muitas alterações sociais, econômicas, ambientais, históricas entre outras. A forma como os futuros profissionais do serviço social encaram a sociedade em constante alteração, faz parte do conhecimento descoberto nas mudanças sociais apresentadas pela universidade. Nesta perspectiva se buscou junto a duas assistentes sociais com mais de 20 anos de diferença de formação profissional, a sua percepção a cerca do PEP. Através dos 02 questionários se procurou fazer uma comparação entre os mesmo e uma ligação com o referencial teórico. Primeiramente ao indagar sobre o que você entende por Projeto Ético-Político do Serviço Social, as duas assistentes sociais mencionam: Quadro 1- Entendimento sobre o PEP do Serviço Social. QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONARIO 02 Entendo ser o instrumento norteador para nossa prática profissional, que nos conduz a identificar as condições materiais de vida que perpassam os determinantes socioeconômicos e culturais das desigualdades sociais. Possibilita ainda, encontrarmos respostas coerentes, tanto para o estado e sociedade civil, para que possamos elaborar estratégias para o enfrentamento das questões sociais as quais somos expostos. Um projeto societário, assim configurado o projeto ético político do Serviço Social é o que nos dá embasamento frente à atuação profissional, traça objetivos e funções, além de ser a imagem da profissão. Estabelecem normas, direcionamentos em relação ao público atendido (usuários) bem como em relação às instituições, serviços e com outras profissões. No caso do Serviço Social o projeto pauta-se na ruptura do conservadorismo e a busca constante por uma atuação firmada na teoria social crítica. Temos como base de discussão o Código de Ética da Profissão, que nos direciona frente à luta por um novo projeto societário, ou seja, a proposição por uma nova ordem societária, sem exploração e dominação de classe. Fonte: Pesquisa de campo, 2016. Conforme o que está exposto no Quadro 1 pode-se observar que ambas profissionais apresentam uma compreensão acerca do Projeto Ético-Politico do Serviço Social, e este é condizente com a revisão realizada por autores e profissionais do Serviço Social. O projeto é resultado de um processo histórico vivenciado pela categoria profissional que, devido a vários fatores, buscou renovar as estruturas da profissão. Ao se dar conta das alterações nas bases da sociedade, a categoria profissional ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1800 passa a deferir uma série de críticas ao ideário conservador, que mesmo em face das mudanças sociais ocorridas continuou permeando e interferindo significativamente na profissão. Ao questionar as mesmas a respeito da visão que lhes foi transmitido no período de sua formação acerca do PEP do Serviço Social, se obteve as seguintes respostas: Quadro 2- Visão transmitida na formação sobre o PEP do Serviço Social. QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 Esse questionamentome faz viajar a um período, que confesso, estava guardadinho na minha mente, que me trouxe muita satisfação. Durante minha formação o Projeto Ético-Político ainda era uma possibilidade, pois, sou da turma que iniciou em 1983 e terminou em 1986, culminando com um período de plena discussão do PEP, ressaltando que sua aprovação se deu em nove de maio de 1986. E a partir daí, é que inicia um maior amadurecimento do mesmo, diante da intensa discussão do processo da democracia que passava o país, onde diversas bandeiras de lutas, cujo objetivo principal era conquistar o direito de participar da escolha do presidente do país e a transição do regime militar rumo à República democrática. Neste, período nossa profissão buscava seu objeto de trabalho, e a garantia da autonomia da prática profissional requerida pelas contradições desta sociedade. E com esse PEP iniciou-se a discussão de um novo Código de Ética que foi discutido durante o período de 1986 a 1993, que nos rege na atualidade. Tenho uma vaga lembrança da terminologia propriamente dita “Projeto Ético-Político”, mas em toda formação profissional baseava- se nisto. Com o amadurecimento teórico/prático por parte desta profissional na compreensão disto é que foi possível absorver que todo o aprendizado acadêmico estava relacionado ao transito histórico da construção do Projeto Ético-Político. Fonte: Pesquisa de campo, 2016. A partir das colocações apresentadas no Quadro 2 se percebe a diferença nítida existente entre as duas profissionais a cerca da mesma questão. Podendo-se observar na primeira resposta um engajamento maior em colocar as premissas do PEP em prática, tendo em vista que no período de sua formação, o PEP estava sendo mais problematizado, visto que estava em fase de construção. Já na segunda resposta observa-se que há um distanciamento maior a cerca desta discussão devido ao fato de tratar de uma formação mais recente, em que o PEP está consolidado pelos orgãos responsáveis e profissionais. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1801 Posterior a esta questão, pergunta-se sobre qual a importância que as mesmas atribuem a existência do PEP, não obtendo resposta no QUESTIONÁRIO 02, e o que foi respondido no QUESTIONÁRIO 01 destaca os seguintes aspectos: Quadro 3- A importância do PEP para o Serviço Social. QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 A garantia dos direitos e deveres do profissional, com a definição e delimitação das diversas áreas possíveis para o desenvolvimento da nossa prática, das quais cito algumas que entendo ser fundamentais; Na qualificação da formação acadêmica; Da necessidade de estabelecer uma nova relação com o usuário dos serviços ofertados pelo Assistente Social; A defesa da democratização, universalização e participação; A necessidade de articulação com outras categorias profissionais de propostas similares e com movimentos solidários com a luta do trabalhador; e outros. Importante ressaltar, que por diversas oportunidades, o PEP e o Código de Ética, serviram também enquanto instrumento para justificar situações conflituosas nas relações de poder em instituições que atuei na minha trajetória profissional. Não houve resposta. Fonte: Pesquisa de campo, 2016. A importância e a caracterização de um projeto profissional na concepção do Netto (1999) é o que dá uma imagem ideal da profissão, os valores que a legitimam, apresenta sua função social e seus objetivos, abrange os conhecimentos teóricos, os saberes interventivos, as normas e as práticas profissionais, portanto é indispensável a luta pela efetivação de tal projeto. O PEP do serviço social é um projeto bastante ousado em sua proposta de acordo com as resposta do Quadro 3, o que lhe atribuí certo grau de dificuldade para ser desenvolvido na prática. Ao perguntar às profissionais do Serviço Social a respeito da efetividade do PEP atualmente, ambas concordaram com a premissa de que não há efetivação, justificando suas respostas da seguinte maneira: ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1802 Quadro 4- A efetividade do PEP QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 Infelizmente, sua efetivação completa está longe de ser alcançada. O que se observa são algumas conquistas de caráter individualizado. O que prevalece de fato é um engessamento do agir profissional, em conflito com as exigências de empregadores, sejam eles públicos ou privados. A dificuldade de diferenciar a ideologia do capitalismo e a ideologia do nosso Projeto Ético- Político. Dificilmente ele se legitimará na sociedade capitalista de produção. Fonte: Pesquisa de campo, 2016. Com base nesses elementos (Quadro 4) pode-se afirmar que as duas assistentes sociais compartilham da ideia de que o fato de viver em uma sociedade, cuja forma organizacional pauta-se no capitalismo, e as relações de poder encontram-se em bases intensamente desiguais, dificilmente será possível desenvolver de forma unânime os ideais propostos pelo PEP do Serviço Social. São notáveis as dificuldades práticas que se apresentam aos profissionais, para que estes apliquem com totalidade os princípios contidos no PEP, isso ocorre devido a uma série de fatores que vão além das possibilidades, tendo noção, também, que tais dificuldades variam dependendo da área de atuação de cada profissional. Com o intuito de perceber tais obstáculos é solicitado que as assistentes sociais elencassem as principais dificuldades que encontram no seu dia a dia profissional para aplicar o PEP, e estas responderam: Quadro 5- Dificuldades para aplicar os princípios do PEP. QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 01 Enquanto profissional que atuou exclusivamente no setor público, vivenciei o processo de desvalorização dos servidores públicos, com perdas de direitos sociais historicamente conquistados. O assistente social e sua ação profissional nos espaços públicos, tem sido protagonista de interferências da ideologia neoliberal, pautando sua prática em projetos impostos pela organização específica da sua área de atuação, nem sempre conseguindo desenvolver o preconizado no PEP. Ou seja, a atuação interventiva não tem permitido estabelecer a integração entre o dever assumido pelo projeto ético político de sua profissão e a sua implementação na prática, independente da natureza da Instituição. Portanto, este tem sido um constante desfio ao profissional comprometido com a proposta ética politica da profissão. Quando me perguntam isso faço uma análise acerca do surgimento das políticas sociais, e este como espaço de trabalho de nós Assistentes Sociais, trabalhamos frente a estas políticas que se caracterizam compensatórias, clientelistas e de caráter neoliberal e que por sua vez não garantem os princípios estabelecidos no PEP. Fonte: Pesquisa de campo, 2016. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1803 A partir das respostas do Quadro 5 pode-se observar um ponto de concordância entre as duas profissionais, no que diz respeito à perspectiva neoliberal no âmbito do serviço social, a qual devido a vários aspectos têm muito a prejudicar e frear a aspiração do projeto profissional em questão. Sem mencionar o fato de que o neoliberalismo é uma corrente político-ideológico que vem se desenvolvendo significativamente nas esferas sociais, permeando, desta forma toda a conjuntura atual, trazendo consigo uma proposta de sociedade cuja organização das forças produtivas, bem como as relações de produção é totalmente distinta do que propõem o ideário do Serviço Social. Tendo consciência da atualestrutura social, onde todos estão imbricados, tem-se a necessidade de analisá-la e repensá-la, com estratégias sólidas a fim de alterá-la, tendo em vista que apenas sob esta condição, de alteração do quadro social existente, é possível de fato encontrar vias de aplicação mais contundentes e viáveis para o visionário e esperançoso projeto de cunho societário. Com base nesse direcionamento, as duas assistentes sociais apontaram o que acreditam ser boas estratégias para aplicar praticamente o PEP. Assim dispuseram: Quadro 6- Estratégias para efetivação do PEP. QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 Em primeiro lugar um maior comprometimento dos profissionais que estão atuando em viabilizar a efetivação deste PEP. Estar em permanente debate para discutir os desafios, entraves e obstáculos que interfere para sua efetivação. Organização da categoria profissional para melhoria do perfil dos profissionais, para torna-los, críticos, propositivos e dispostos a enfrentar os caminhos para conquistar a efetivação do PEP. A luta por uma nova ordem societária. Fonte: Pesquisa de campo, 2016. Percebe-se a partir de tais exposições do Quadro 6, que por envolver questões complexas de ordem societária, o projeto proposto pela categoria profissional do Serviço Social ainda tem muito que conquistar para tornar-se efetivo em sua totalidade, e mais que isso obter legitimidade reconhecida no meio social o qual se destina e se propaga. Requer indiscutivelmente de mecanismos que possibilitem sua aplicação em prol de uma maior eficácia. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1804 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Projeto Ético-Político do Serviço Social é uma proposta ousada, construído a partir de problematizações de ordem social desenvolvidas no interior da profissão, que metamorfoseou-se de acordo com cada momento histórico que vivenciou. Desta maneira assumiu formas variadas dependendo da conjuntura social a qual se vincula. Nesta perspetiva, de mudança na ordem societária e o seu intenso reflexo no PEP, é que este artigo se propôs, tendo em vista que, no decorrer de sua construção buscou dialogar com a realidade social a qual encontra-se inserido, bem como, observou as limitações que a mesma lhe impõe. Afim de melhor compreender o PEP do Serviço Social na órbita da realidade social concreta, assim como, mostrar que a visão acerca deste, muda de profissional para profissional, ainda mais se houver uma diferença temporal significativa no período de formação dos mesmos, buscou-se junto a duas profissionais do Serviço Social uma problematização sobre a diferenciação de percepção em torno do PEP tendo em vista que uma das assistente social consultada formou-se na década de 80 e a outra em 2007, possuindo assim visões notoriamente distintas. No desenvolver deste trabalho procurou-se, também, expor de maneira sucinta as principais dificuldades encontradas pela categoria profissional do Serviço Social para aplicar na prática cotidiana, com totalidade, os princípios contidos no PEP, como é o caso das contradições existentes entre este e as crescentes aspirações neoliberais, que por vezes acabam por entravar a efetivação de tal projeto. Portanto é evidente que o PEP do Serviço Social ainda não se efetivou plenamente no âmbito da profissão, mas que é o meio do qual possibilita aos assistentes sociais à construção de novas respostas para o agir profissional, sempre na perspetiva da ampliação dos direitos e na luta pelos princípios éticos do projeto profissional. Nesse viés é indispensável a contínua reflexão sobre o projeto profissional do Serviço Social, pois ainda é necessário muitas pesquisas e problematização a fim de legitimar e efetivar este projeto, em busca de uma nova sociabilidade, a qual não leve em seu bojo os antagonismo entre as classes. ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ | 1805 REFERÊNCIAS BARROCO, Maria Lucia Silva. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2010. ____________. Barbárie e neoconservadorismo: os desafios do projeto ético- politico. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n.106, p. 205-218, abr/jun. 2011. 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