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ISSN 2316-3682 | Endereço eletrônico: http://www.unioeste.br/eventos/conape/ 
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CONSTRUÇÃO E EFETIVAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLITICO DO 
SERVIÇO SOCIAL 
 
 
Marindia Correia Do Amaral 
1
 
Juliana Aparecida Valente 
2
 
Francieli do Rocio de Campos
3
 
 
 
Área de conhecimento: Serviço Social. 
Eixo Temático: Fundamentos Históricos, Teórico Metodológico e Ético - Político do Serviço Social. 
 
 
RESUMO 
 
O presente artigo tem como principal objetivo problematizar a discussão acerca da construção, 
definição, e efetivação do Projeto Ético-Político (PEP) do Serviço Social. Utilizou-se de uma revisão 
teórica para melhor compreender os aspectos que o constituem. A pesquisa de campo se fez a partir 
de um questionário estruturado aplicado para duas assistentes sociais, docentes do curso de Serviço 
Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE campus de Francisco Beltrão no 
ano de 2016, sendo que as mesmas possuem mais de 20 anos de diferença no que diz respeito ao 
tempo de sua formação e atuação profissional. A pesquisa possibilitou analisar a visão de ambas a 
respeito do PEP do Serviço Social, em que determinados momentos possuem concordância e em 
outros discordância em suas respostas. Desta forma concretizar tal Projeto significa romper com o 
ideário capitalista, bem como com as aspirações de cunho neoliberal. Partindo do pressuposto que a 
categoria profissional necessita ampliar suas reflexões e estratégias, possibilitando a aplicação 
prática dos princípios abarcados no PEP. Assim conclui-se que a efetivação do PEP passa por uma 
série de entraves, tornando-se um grande desafio no meio profissional, considerando-se que a 
profissão está inserida em uma sociedade capitalista que lhe impõe uma série de contradições e 
limites para efetivação da atuação profissional descrita no PEP do Serviço Social. 
 
Palavras-chave: Projeto Profissional. Projeto Ético-Político. Serviço Social. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
De acordo com Netto, (1999), um projeto profissional deve ser construído 
coletivamente para de fato representar uma categoria profissional, tendo em vista 
que este é a base, a estrutura e o ponto de referência de uma profissão. Nessa 
perspectiva, na década de 1990 se aprimora a discussão do que se denominou 
Projeto Ético-Político (PEP) do Serviço Social, o qual apresentou o enfrentamento e 
a denúncia do conservadorismo profissional, e é nesse cenário que se encontram as 
 
1
Acadêmica do 2º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-
UNIOESTE campus de Francisco Beltrão. Email: marindia_amaral@hotmail.com. 
2
Acadêmica do 2º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-
UNIOESTE campus de Francisco Beltrão. Email: juliana_22_aparecida@hotmail.com. 
3
Msc. em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Docente do Curso de Serviço Social e Economia 
Doméstica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Francisco Beltrão. Email: 
frandecampos@yahoo.com.br. 
 
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raízes para uma proposta de um projeto crítico, baseado na defesa dos direitos 
humanos, que propõe uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de 
classe, etnia e gênero. 
 O PEP do Serviço Social transmite a visão/imagem da profissão, elencando 
os valores, os objetivos, as funções, formulando os requisitos teórico-metodológicos, 
institucionais e práticos do agir profissional. Assim podendo ser constituído e 
materializado por três dimensões: a) a produção de conhecimentos no interior do 
Serviço Social; b) as instâncias político-organizativas da profissão; c) a dimensão 
jurídico-política da profissão. (TEIXEIRA, BRAZ, 2009). 
 É relevante a abordagem da temática, reafirmando o significado e a 
importância do PEP no âmbito do Serviço Social juntamente com a necessidade 
constante de informação e qualificação profissional. 
É a partir dessa contextualização histórica que este artigo vem á público, 
procurando apresentar a situação vivenciada pelo país no momento de sua 
construção, englobando acontecimentos marcantes, não apenas no âmbito do 
Serviço Social, mas de toda nação, como é o caso do fim da Ditadura Militar em 
1985 e a promulgação da Constituição Federal em 1988, não deixando de 
mencionar a construção de um novo Código de Ética do Serviço Social em 1986 e 
sua posterior revisão em 1993. 
Este artigo pretende também problematizar os conceitos Neoliberais4, 
entendidos como principal empecilho para a aplicação prática e efetiva do Projeto 
Ético-Politico do Serviço Social. Levando em consideração, também, que no período 
de discussão mais acirrado sobre o PEP o neoliberalismo desenvolvia-se e 
participava avidamente do contexto político-social. 
 
 
 
 
 
 
 
4
Neoliberalismo segundo Carlos Montaño (2006) é um projeto de sociedade de inspiração 
monetarista, sob o comando do capital financeiro, que procura desmontar os direitos trabalhistas, 
políticos e sociais historicamente conquistados pelos trabalhadores, acentuando a exploração de 
quem vive do trabalho e sugando os pequenos e os médios capitalistas. 
 
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2 REFERENCIAL TEÓRICO OU REVISÃO DE LITERATURA 
 
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO PEP DO SERVIÇO SOCIAL 
 
2.1.1 Dimensão Política 
 
O Projeto Ético-Político do Serviço Social é um projeto profissional, inscrito no 
âmbito social, que por vezes causa embates ideológicos com os projetos de cunho 
societário, por apresentar uma visão distinta do viver em sociedade que 
cotidianamente contrapõe-se com a visão disseminada pelo viés da ideologia 
dominante no sistema burgo-capitalista. 
Os intelectuais da área do Serviço Social admitem a passagem dos anos 
1970 a 1980 como o período em que se deu início ao que posteriormente 
considerar-se-ia como Projeto Ético-Político do Serviço Social, isso devido a uma 
mais intensa problematização acerca do conservadorismo presente nas estruturas 
do fazer profissional. 
Com a evolução e complexificação das forças produtivas e das relações de 
produção se tornou evidente a hegemonia do capitalismo monopolista. As 
expressões da “Questão Social” tomaram outras formas de manifestação sob essas 
novas estruturas, para tanto o agir profissional do assistente social teve que se 
redimensionar, tendo em vista estas mudanças sociais. Com o movimento de 
Reconceituação desde a segunda metade dos anos 1960, essas críticas vinham 
tomando forma no âmbito do Serviço Social. 
 Sendo assim, 
 
A ruptura com a herança conservadora se expressa como uma procura, 
uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do 
Assistente Social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas 
condições do exercício profissional, busca colocar-se, objetivamente, a 
serviços dos interesses dos usuários, isto é, dos setores dominados da 
sociedade. (IAMAMOTO, 2013, p.42) 
 
A resistência expressiva às arbitrariedades cometidas pelos ditadores, pode 
ser visualizada de maneira mais vivaz a partir da mobilização massiva dos 
trabalhadores, bem como da crescente tomada de consciência política por parte da 
sociedade civil. A categoria profissional do Serviço Social deu sua contribuição para 
 
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o cenário de contestação ao que vinha ocorrendo na cena política e social, por meio 
do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais ocorrido em 1979, o qual “[...] 
assinala o posicionamento ético-político quepassa a se configurar como marco 
decisivo no compromisso político e coletivo da categoria com setor popular” 
(BARROCO, 2010, p.167), e ficou conhecido como “o congresso da virada”. Tais 
iniciativas se inseriram na cena política tendo em vista sua significância econômica, 
ao menos lhes dando visibilidade através dos operários (foram parte constitutiva 
fundamental no sistema produtivo), e dos sindicatos dos trabalhadores que foram de 
incontestável importância para tal processo. O que colocou em cheque tal 
organização social ditatorial, fazendo com que a democracia voltasse a ter espaço 
no cotidiano brasileiro. 
 
A partir desse marco, no contexto da reorganização politica da sociedade 
civil, e defesa da democratização e da ampliação dos direitos civis e sócio-
políticos, os valores ético-políticos inscritos no projeto profissional de 
ruptura adquirem materialidade, o que se evidencia na organização política 
da categoria, na explicitação da ruptura com o tradicionalismo profissional e 
no amadurecimento da reflexão de bases marxistas. (BARROCO, 2010, p. 
167-168) 
 
Com a redemocratização se tornou possível tratar mais avidamente sobre o 
Projeto Ético-Político, pois somente em vias democráticas há possibilidade de 
apresentar ideais diferentes da soberania dominante, sem ser reprimida ou 
criminalizada, prevendo justamente embates de pontos de vista distintos. Nesse 
ponto, a visão societária proposta pelo serviço social é certamente, diferente do que 
propõe o capitalismo. 
 
2.1.2 Dimensão Teórica-Metodológica 
 
Durante o período de ditadura militar compreendido entre 1964 e 1985, 
ocorreu no âmbito acadêmico o que se denominou Reforma Universitária, que teve 
reflexo direto e de extrema importância no Serviço Social, uma vez que incitou o 
surgimento de vários cursos de pós-graduação: especializações, mestrados e 
doutorados. A conquista desses novos espaços culminou em uma produção teórica 
mais intensa e expressiva, que acabou por gerar uma massa crítica considerável 
para a profissão. 
 
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Para tanto se necessitou fazer sérias alterações nos currículos de ensino 
superior de época com o fim da ditadura, visto que os mesmos não eram mais 
capazes de fornecer respaldo para os profissionais mediante as novas conjecturas. 
Assim surgiu a necessidade de formar profissionais habilitados para serem capazes 
de decifrar a realidade histórico-social da época. A efervescência acerca da 
formação profissional no serviço social culminou na reforma curricular de 1982, a 
qual buscou adequar a formação profissional redimensionando o ensino, tendo em 
vista a construção de um novo perfil profissional. É fato que sob outras estruturas 
sociais e políticas se fez necessário outras visões acerca da sociedade, pois a 
mesma se modifica de modo constante. 
O avanço na profissão a partir dos acontecimentos históricos se tornou 
notável, e ganharam ainda mais peso, quando incorporados aos ganhos sociais 
observados na Constituição Federal de 1988. Como foi o caso da conquista em uma 
série de direitos (civis, sociais e políticos), imbricados ao tênue processo de 
democratização, que possibilitou o viés jurídico institucional para embasar a prática 
profissional dos assistentes sociais. 
 
2.1.3 Dimensão Ética 
 
A partir de muita luta e como resultado de um longo processo histórico-social 
na sociedade brasileira, se assistiu uma série de conquistas nas mais variadas 
esferas sociais. A fim de consolidar tais conquistas, bem como abrir caminho para 
outras, a vanguarda que constitui a categoria profissional do serviço social formula 
um novo Código de Ética Profissional em 1986, cujo principal avanço para a 
categoria foi a recusa do Conservadorismo nas estruturas da profissão, e 
posteriormente na sua revisão ocorrida em 1993 já trazendo consigo as conquistas 
obtidas na promulgação da Constituição Federal de 1988. Com isso procura-se 
adaptá-lo as demandas sociais emergentes, estabelecendo forte compromisso com 
a classe trabalhadora, bem como trazer ao debate as questões éticas no Serviço 
social, que até então não haviam sido problematizadas de maneira satisfatória. 
Como cita Barroco: 
 
 
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A partir de 1993, o Código de Ética passa a ser uma das referencias dos 
encaminhamentos práticos e do posicionamento politico dos assistentes 
sociais em face da politica neoliberal e de seus desdobramentos para o 
conjunto dos trabalhadores. É nesse contexto que i projeto ético-politico 
referendado nas conquistas dos dois Códigos (1986 e 1993), nas revisões 
curriculares de 1982 e 1996 e no conjunto de seus avanços teórico-práticos 
construídos no processo de renovação profissional, a partir da década de 60 
(2010, p.206). 
 
O que legitima e materializa o Projeto Ético-Político do Serviço Social, são 
documentos e leis, que na concepção de Iamamoto: 
 
Projeto político profissional que se materializou no Código de Ética 
Profissional do Assistente Social, na Lei de Regulamentação da Profissão 
de Serviço Social (Lei 8662/93), ambos de 1993, assim como na nova 
proposta de Diretrizes para o Curso de Serviço Social da Associação 
Brasileira de Ensino em Serviço Social-ABESS- de 1996, que redimensiona 
a formação profissional para fazer frente a esse novo cenário histórico 
(2015, p.113). 
 
José Paulo Netto ao tratar a respeito do Projeto Ético-Político do serviço 
social assinala que: 
 
Esquematicamente, este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da 
liberdade como valor central – a liberdade concebida historicamente, como 
possibilidade de escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso 
com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos 
sociais. Consequentemente, este projeto profissional se vincula a um 
projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem 
exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir dessas opções 
que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos 
humanos e o repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando 
positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício 
profissional (NETTO, 1999, p.16). 
 
Em uma sociedade construída sobre pilares conservadores, cuja perspectiva 
tende a ser cada vez mais excludente, desigual e brutalmente injusta, torna-se 
indispensável projetos profissionais que sejam capazes de articular o bojo 
profissional em torno de um (ou mais) objetivo comum, em prol de melhorias para a 
categoria. Além da organização no interior da profissão, tais projetos tem 
fundamental importância no tocante à visibilidade política da categoria, uma vez que 
lhe possibilita mais intensidade e força ao demandar espaço de atuação social e, 
também, por caracterizar-se como frente de resistência ao monopólio do poder e a 
exploração do homem pelo homem, produzindo e reproduzindo miséria alarmante e 
desumana. Assim sendo, segundo Netto: 
 
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Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, 
elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus 
objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e 
institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o 
comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas 
relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com 
as organizações e instituições sociais privadas e públicas [...] (1999, p.4). 
 
Iamamoto por sua vez questiona: 
 
[...] como reforçar e consolidar esse projetopolítico-profissional em um 
terreno profundamente adverso? Como atualizá-lo ante o novo contexto 
social, sem abrir mão dos princípios éticos-políticos que o norteiam? Ora, a 
vitalidade desse projeto encontra-se estreitamente relacionada à 
capacidade de adequá-lo aos novos desafios conjunturais, reconhecendo as 
tendências e contra-tendências dos processos sociais, de modo que torne 
possível a qualificação do exercício e da formação profissional na 
concretização dos rumos perseguido (IAMAMOTO, 2015, p.113-114). 
 
Um projeto profissional para alcançar efetivação é assolado por uma série de 
obstáculos. O primeiro deles trata-se da forma político-social de organização da 
sociedade na qual este se encontra inserido, no caso do serviço social trata-se da 
democracia, que tem dupla atuação ora benéfica ou ora prejudicial a sua efetivação. 
É indiscutivelmente benéfica e indispensável, por possibilitar a presença de projetos 
que divirjam do ideário eminentemente dominante, por outro lado é prejudicial 
justamente por ser um modelo aberto, dando bases para contestação, ou seja, 
existe vários projetos com viés diferente, tornando difícil que apenas um (por melhor 
que seja) alcance hegemonia. 
Outro aspecto que dificulta a ascensão do projeto do serviço social, é o fato 
de que mesmo no interior da profissão, há divergências que acabam por estremecer 
o conjunto. E para que este alcance níveis altos de aceitação, se faz indispensável 
uma boa articulação dos profissionais envolvidos, assim como sua necessária 
interação com outras categorias profissionais. 
Mas, sem dúvidas o principal dificultador da aplicação prática da proposta do 
projeto do serviço social é, sem dúvidas, o fato de este ser sensivelmente contrário 
ao que propõe, para a organização social, o capitalismo ou o neoliberalismo. 
 
É desnecessária qualquer argumentação detalhada para verificar o 
antagonismo entre o projeto ético-político que ganhou hegemonia no serviço 
social e a ofensiva neoliberal que, também no Brasil, em nome da 
racionalização, da modernidade, dos valores do Primeiro Mundo etc., vem 
promovendo (ao arrepio da Constituição de 1988) a liquidação de direitos 
sociais (denunciados como “privilégios”), a privatização do Estado, o 
 
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sucateamento dos serviços públicos e a implementação sistemática de uma 
política macro-econômica que penaliza a massa da população (NETTO, 
1999, p.19). 
 
Atualmente a maior parte da categoria profissional do serviço social admite tal 
projeto como norteador e importante para dar vigor aos valores que legitimam a 
profissão, bem como, visualizam também, sua função social, inserida na divisão 
social e técnica do trabalho coletivo, tendo importância significativa no âmbito 
societário. No entanto tem-se noção da amplitude e complexificação do meio social 
ao qual esta ligada, da mesma forma que se capta a lógica fundamental da 
sociedade atual, a acumulação capitalista, sendo assim, torna-se evidente os 
entraves que acabam por frear a expansão e/ou aplicação de tal projeto dando-lhe 
um aspecto mais realista, ainda que visionário. 
 
3 METODOLOGIA 
 
O presente estudo se classifica como qualitativo, se desenvolveu sob o 
método exploratório, pois [...] “pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o 
objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativa, acerca de 
determinado fato.” (GIL, 2008, p.27). 
O estudo partiu de uma revisão bibliográfica, baseada em livros e artigos 
científicos de periódicos do Serviço Social, onde se destacam autores como Netto 
(1999), Iamamoto (2013, 2015), Montaño (2006) e Barroco (2010, 2011). A pesquisa 
de campo se realizou a partir da elaboração de um questionário ordenado com seis 
questões, e aplicado junto a duas assistentes sociais, docentes do curso de Serviço 
Social da UNIOESTE campus de Francisco Beltrão. Foi enumerado em Questionário 
01, o aplicado na assistente social com formação no ano de 1986, o segundo 
Questionário 02, aplicado na assistente social formada em 2008. 
Os questionários foram elaborados com questões descritivas sobre a 
construção e efetivação do Projeto Ético-Politico do Serviço Social. A partir dos 
depoimentos coletados foi realizada uma comparação entre a atuação prática a 
cerca do PEP, de uma assistente social de formação antiga e a outra com formação 
atual, também contrapondo com o que consta no material bibliográfico pesquisado. 
 
 
 
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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
 
Com o passar do tempo sabe-se a sociedade passa por muitas alterações 
sociais, econômicas, ambientais, históricas entre outras. A forma como os futuros 
profissionais do serviço social encaram a sociedade em constante alteração, faz 
parte do conhecimento descoberto nas mudanças sociais apresentadas pela 
universidade. Nesta perspectiva se buscou junto a duas assistentes sociais com 
mais de 20 anos de diferença de formação profissional, a sua percepção a cerca do 
PEP. Através dos 02 questionários se procurou fazer uma comparação entre os 
mesmo e uma ligação com o referencial teórico. Primeiramente ao indagar sobre o 
que você entende por Projeto Ético-Político do Serviço Social, as duas assistentes 
sociais mencionam: 
 
Quadro 1- Entendimento sobre o PEP do Serviço Social. 
QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONARIO 02 
Entendo ser o instrumento norteador para nossa 
prática profissional, que nos conduz a identificar 
as condições materiais de vida que perpassam 
os determinantes socioeconômicos e culturais 
das desigualdades sociais. Possibilita ainda, 
encontrarmos respostas coerentes, tanto para o 
estado e sociedade civil, para que possamos 
elaborar estratégias para o enfrentamento das 
questões sociais as quais somos expostos. 
 
Um projeto societário, assim configurado o 
projeto ético político do Serviço Social é o que 
nos dá embasamento frente à atuação 
profissional, traça objetivos e funções, além de 
ser a imagem da profissão. Estabelecem 
normas, direcionamentos em relação ao público 
atendido (usuários) bem como em relação às 
instituições, serviços e com outras profissões. 
No caso do Serviço Social o projeto pauta-se 
na ruptura do conservadorismo e a busca 
constante por uma atuação firmada na teoria 
social crítica. Temos como base de discussão o 
Código de Ética da Profissão, que nos 
direciona frente à luta por um novo projeto 
societário, ou seja, a proposição por uma nova 
ordem societária, sem exploração e dominação 
de classe. 
Fonte: Pesquisa de campo, 2016. 
 
 Conforme o que está exposto no Quadro 1 pode-se observar que ambas 
profissionais apresentam uma compreensão acerca do Projeto Ético-Politico do 
Serviço Social, e este é condizente com a revisão realizada por autores e 
profissionais do Serviço Social. 
O projeto é resultado de um processo histórico vivenciado pela categoria 
profissional que, devido a vários fatores, buscou renovar as estruturas da profissão. 
Ao se dar conta das alterações nas bases da sociedade, a categoria profissional 
 
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passa a deferir uma série de críticas ao ideário conservador, que mesmo em face 
das mudanças sociais ocorridas continuou permeando e interferindo 
significativamente na profissão. 
 Ao questionar as mesmas a respeito da visão que lhes foi transmitido no 
período de sua formação acerca do PEP do Serviço Social, se obteve as seguintes 
respostas: 
 
Quadro 2- Visão transmitida na formação sobre o PEP do Serviço Social. 
QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 
Esse questionamentome faz viajar a um período, 
que confesso, estava guardadinho na minha 
mente, que me trouxe muita satisfação. Durante 
minha formação o Projeto Ético-Político ainda era 
uma possibilidade, pois, sou da turma que iniciou 
em 1983 e terminou em 1986, culminando com 
um período de plena discussão do PEP, 
ressaltando que sua aprovação se deu em nove 
de maio de 1986. E a partir daí, é que inicia um 
maior amadurecimento do mesmo, diante da 
intensa discussão do processo da democracia que 
passava o país, onde diversas bandeiras de lutas, 
cujo objetivo principal era conquistar o direito de 
participar da escolha do presidente do país e a 
transição do regime militar rumo à República 
democrática. Neste, período nossa profissão 
buscava seu objeto de trabalho, e a garantia da 
autonomia da prática profissional requerida pelas 
contradições desta sociedade. E com esse PEP 
iniciou-se a discussão de um novo Código de 
Ética que foi discutido durante o período de 1986 
a 1993, que nos rege na atualidade. 
Tenho uma vaga lembrança da terminologia 
propriamente dita “Projeto Ético-Político”, 
mas em toda formação profissional baseava-
se nisto. Com o amadurecimento 
teórico/prático por parte desta profissional na 
compreensão disto é que foi possível 
absorver que todo o aprendizado acadêmico 
estava relacionado ao transito histórico da 
construção do Projeto Ético-Político. 
Fonte: Pesquisa de campo, 2016. 
 
A partir das colocações apresentadas no Quadro 2 se percebe a diferença 
nítida existente entre as duas profissionais a cerca da mesma questão. Podendo-se 
observar na primeira resposta um engajamento maior em colocar as premissas do 
PEP em prática, tendo em vista que no período de sua formação, o PEP estava 
sendo mais problematizado, visto que estava em fase de construção. Já na segunda 
resposta observa-se que há um distanciamento maior a cerca desta discussão 
devido ao fato de tratar de uma formação mais recente, em que o PEP está 
consolidado pelos orgãos responsáveis e profissionais. 
 
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Posterior a esta questão, pergunta-se sobre qual a importância que as 
mesmas atribuem a existência do PEP, não obtendo resposta no QUESTIONÁRIO 
02, e o que foi respondido no QUESTIONÁRIO 01 destaca os seguintes aspectos: 
 
Quadro 3- A importância do PEP para o Serviço Social. 
QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 
A garantia dos direitos e deveres do profissional, 
com a definição e delimitação das diversas áreas 
possíveis para o desenvolvimento da nossa 
prática, das quais cito algumas que entendo ser 
fundamentais; Na qualificação da formação 
acadêmica; Da necessidade de estabelecer uma 
nova relação com o usuário dos serviços 
ofertados pelo Assistente Social; A defesa da 
democratização, universalização e participação; 
A necessidade de articulação com outras 
categorias profissionais de propostas similares e 
com movimentos solidários com a luta do 
trabalhador; e outros. Importante ressaltar, que 
por diversas oportunidades, o PEP e o Código de 
Ética, serviram também enquanto instrumento 
para justificar situações conflituosas nas relações 
de poder em instituições que atuei na minha 
trajetória profissional. 
Não houve resposta. 
Fonte: Pesquisa de campo, 2016. 
 
 A importância e a caracterização de um projeto profissional na concepção do 
Netto (1999) é o que dá uma imagem ideal da profissão, os valores que a legitimam, 
apresenta sua função social e seus objetivos, abrange os conhecimentos teóricos, 
os saberes interventivos, as normas e as práticas profissionais, portanto é 
indispensável a luta pela efetivação de tal projeto. 
 O PEP do serviço social é um projeto bastante ousado em sua proposta de 
acordo com as resposta do Quadro 3, o que lhe atribuí certo grau de dificuldade para 
ser desenvolvido na prática. Ao perguntar às profissionais do Serviço Social a 
respeito da efetividade do PEP atualmente, ambas concordaram com a premissa de 
que não há efetivação, justificando suas respostas da seguinte maneira: 
 
 
 
 
 
 
 
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Quadro 4- A efetividade do PEP 
QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 
Infelizmente, sua efetivação completa está 
longe de ser alcançada. O que se observa são 
algumas conquistas de caráter individualizado. 
O que prevalece de fato é um engessamento 
do agir profissional, em conflito com as 
exigências de empregadores, sejam eles 
públicos ou privados. A dificuldade de 
diferenciar a ideologia do capitalismo e a 
ideologia do nosso Projeto Ético- Político. 
Dificilmente ele se legitimará na sociedade 
capitalista de produção. 
Fonte: Pesquisa de campo, 2016. 
 
Com base nesses elementos (Quadro 4) pode-se afirmar que as duas 
assistentes sociais compartilham da ideia de que o fato de viver em uma sociedade, 
cuja forma organizacional pauta-se no capitalismo, e as relações de poder 
encontram-se em bases intensamente desiguais, dificilmente será possível 
desenvolver de forma unânime os ideais propostos pelo PEP do Serviço Social. 
São notáveis as dificuldades práticas que se apresentam aos profissionais, 
para que estes apliquem com totalidade os princípios contidos no PEP, isso ocorre 
devido a uma série de fatores que vão além das possibilidades, tendo noção, 
também, que tais dificuldades variam dependendo da área de atuação de cada 
profissional. Com o intuito de perceber tais obstáculos é solicitado que as 
assistentes sociais elencassem as principais dificuldades que encontram no seu dia 
a dia profissional para aplicar o PEP, e estas responderam: 
 
Quadro 5- Dificuldades para aplicar os princípios do PEP. 
QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 01 
Enquanto profissional que atuou exclusivamente 
no setor público, vivenciei o processo de 
desvalorização dos servidores públicos, com 
perdas de direitos sociais historicamente 
conquistados. O assistente social e sua ação 
profissional nos espaços públicos, tem sido 
protagonista de interferências da ideologia 
neoliberal, pautando sua prática em projetos 
impostos pela organização específica da sua área 
de atuação, nem sempre conseguindo 
desenvolver o preconizado no PEP. Ou seja, a 
atuação interventiva não tem permitido 
estabelecer a integração entre o dever assumido 
pelo projeto ético político de sua profissão e a sua 
implementação na prática, independente da 
natureza da Instituição. Portanto, este tem sido 
um constante desfio ao profissional comprometido 
com a proposta ética politica da profissão. 
Quando me perguntam isso faço uma análise 
acerca do surgimento das políticas sociais, e 
este como espaço de trabalho de nós 
Assistentes Sociais, trabalhamos frente a 
estas políticas que se caracterizam 
compensatórias, clientelistas e de caráter 
neoliberal e que por sua vez não garantem os 
princípios estabelecidos no PEP. 
Fonte: Pesquisa de campo, 2016. 
 
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A partir das respostas do Quadro 5 pode-se observar um ponto de 
concordância entre as duas profissionais, no que diz respeito à perspectiva 
neoliberal no âmbito do serviço social, a qual devido a vários aspectos têm muito a 
prejudicar e frear a aspiração do projeto profissional em questão. Sem mencionar o 
fato de que o neoliberalismo é uma corrente político-ideológico que vem se 
desenvolvendo significativamente nas esferas sociais, permeando, desta forma toda 
a conjuntura atual, trazendo consigo uma proposta de sociedade cuja organização 
das forças produtivas, bem como as relações de produção é totalmente distinta do 
que propõem o ideário do Serviço Social. 
Tendo consciência da atualestrutura social, onde todos estão imbricados, 
tem-se a necessidade de analisá-la e repensá-la, com estratégias sólidas a fim de 
alterá-la, tendo em vista que apenas sob esta condição, de alteração do quadro 
social existente, é possível de fato encontrar vias de aplicação mais contundentes e 
viáveis para o visionário e esperançoso projeto de cunho societário. Com base 
nesse direcionamento, as duas assistentes sociais apontaram o que acreditam ser 
boas estratégias para aplicar praticamente o PEP. Assim dispuseram: 
 
Quadro 6- Estratégias para efetivação do PEP. 
QUESTIONÁRIO 01 QUESTIONÁRIO 02 
Em primeiro lugar um maior comprometimento dos 
profissionais que estão atuando em viabilizar a 
efetivação deste PEP. Estar em permanente 
debate para discutir os desafios, entraves e 
obstáculos que interfere para sua efetivação. 
Organização da categoria profissional para 
melhoria do perfil dos profissionais, para torna-los, 
críticos, propositivos e dispostos a enfrentar os 
caminhos para conquistar a efetivação do PEP. 
A luta por uma nova ordem societária. 
Fonte: Pesquisa de campo, 2016. 
 
 Percebe-se a partir de tais exposições do Quadro 6, que por envolver 
questões complexas de ordem societária, o projeto proposto pela categoria 
profissional do Serviço Social ainda tem muito que conquistar para tornar-se efetivo 
em sua totalidade, e mais que isso obter legitimidade reconhecida no meio social o 
qual se destina e se propaga. Requer indiscutivelmente de mecanismos que 
possibilitem sua aplicação em prol de uma maior eficácia. 
 
 
 
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O Projeto Ético-Político do Serviço Social é uma proposta ousada, construído 
a partir de problematizações de ordem social desenvolvidas no interior da profissão, 
que metamorfoseou-se de acordo com cada momento histórico que vivenciou. Desta 
maneira assumiu formas variadas dependendo da conjuntura social a qual se 
vincula. Nesta perspetiva, de mudança na ordem societária e o seu intenso reflexo 
no PEP, é que este artigo se propôs, tendo em vista que, no decorrer de sua 
construção buscou dialogar com a realidade social a qual encontra-se inserido, bem 
como, observou as limitações que a mesma lhe impõe. 
Afim de melhor compreender o PEP do Serviço Social na órbita da realidade 
social concreta, assim como, mostrar que a visão acerca deste, muda de profissional 
para profissional, ainda mais se houver uma diferença temporal significativa no 
período de formação dos mesmos, buscou-se junto a duas profissionais do Serviço 
Social uma problematização sobre a diferenciação de percepção em torno do PEP 
tendo em vista que uma das assistente social consultada formou-se na década de 
80 e a outra em 2007, possuindo assim visões notoriamente distintas. 
No desenvolver deste trabalho procurou-se, também, expor de maneira 
sucinta as principais dificuldades encontradas pela categoria profissional do Serviço 
Social para aplicar na prática cotidiana, com totalidade, os princípios contidos no 
PEP, como é o caso das contradições existentes entre este e as crescentes 
aspirações neoliberais, que por vezes acabam por entravar a efetivação de tal 
projeto. 
Portanto é evidente que o PEP do Serviço Social ainda não se efetivou 
plenamente no âmbito da profissão, mas que é o meio do qual possibilita aos 
assistentes sociais à construção de novas respostas para o agir profissional, sempre 
na perspetiva da ampliação dos direitos e na luta pelos princípios éticos do projeto 
profissional. Nesse viés é indispensável a contínua reflexão sobre o projeto 
profissional do Serviço Social, pois ainda é necessário muitas pesquisas e 
problematização a fim de legitimar e efetivar este projeto, em busca de uma nova 
sociabilidade, a qual não leve em seu bojo os antagonismo entre as classes. 
 
 
 
 
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CEAD/ABEPSS/CFESS, 1999. 
 
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Social. In: CFESS; ABEPSS. Serviço Social: Direitos Sociais e Competências 
Profissionais. Brasilia: Cefss, 2009. P.185-200.

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