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Objetivos • Descrever as formas de gestão escolar nas dimensões administrativa e peda- gógica a partir da legislação vigente. • Compreender e refletir sobre o papel da educação escolar numa perspectiva de transformação da realidade social. Conteúdos • A gestão escolar e a legislação vigente. • A escola e a sociedade do conhecimento – perspectiva transformadora. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha gradati- va dos assuntos até poder observar o contexto geral do estudo das políticas educacionais no contexto brasileiro. 2) Não deixe de recorrer aos materiais complementar descritos no Conteúdo Digital Integrador. Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos 4 Claretiano - Centro Universitário 101 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos 1. INTRODUÇÃO Vamos iniciar a nossa quarta unidade de estudo. Você deve ter compreendido os conceitos estudados até aqui, está prepara- do? Nesta unidade, estudaremos a gestão escolar sob dois as- pectos: a legislação vigente e o seu papel transformador na so- ciedade da informação e do conhecimento. Promover a gestão escolar, desenvolver atividades que possam conduzir os sujeitos escolares para alcançar níveis mais elevados de saberes e construir novos conhecimentos. A escola vive, hoje, sob constante pressão do meio no qual está inserida, as exigências e as demandas por uma formação que possibilite um bem-estar social, que minimize as desigualdades, levam a uma situação de mudança no seu interior e nas formas de conduzir o processo de ensino-aprendizagem. A formação de gestores tem sido voltada para a qualificação de profissionais mais criativos e inovadores, estudiosos e investi- gadores na busca de novos processos de gestão educacional. Os sujeitos profissionais da educação devem buscar aprimorar sua formação inicial promovendo uma interação dentro da escola, ge- rando um ambiente de aprendizagem numa perspectiva colabora- tiva, compartilhando saberes. Os sujeitos estudantes, por sua vez, devem ter ambiente propício no qual possam demonstrar suas potencialidades e também trocar experiências tanto com outros sujeitos da faixa etária como também docentes, gestores, agentes mais experientes. A educação escolar tem sido organizada por meio de textos legais que delimitam desde a forma do ambiente até o currículo que deve ser desenvolvido para complementar a educação primá- ria das crianças e jovens. Entramos aqui num contexto próprio da escola – a transformação cognitiva de todos que a frequentam. © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil102 Consideramos que é exigido da escola, nos dias atuais, con- forme Santos (2002, p. 2), uma postura inovadora a cada momen- to durante o processo de ensino-aprendizagem. A nova escola requer gestores mais dinâmicos, criativos e capazes de interpretar as exigências de cada momento e de instaurar condições mais adequadas de trabalho. A autonomia da escola, tão decantada e mesmo prevista na legislação do ensino, depende, em grande parte, da competência de seus diretores para que a escola possa não só acompanhar as grandes transformações que se operam na sociedade como também intervir nelas. Nesta unidade desenvolveremos uma reflexão, em que po- deremos discutir, expor exemplos, considerando o contexto atual no qual as tecnologias, as demandas econômicas da população denotam total integração entre as políticas sociais e o contexto educativo escolar. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucin- ta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão in- tegral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteúdo Digital Integrador. 2.1. A GESTÃO ESCOLAR E A LEGISLAÇÃO VIGENTE O bom funcionamento de um sistema educacional depende da política implementada, se esta permitir ou não, que a gestão escolar tenha liberdade de criar, inovar, estabelecer formas de tra- balho a partir de uma perspectiva democrático-participativa. Os sujeitos escolares – gestores, professores, agentes escolares e alu- nos – devem atuar na criação de um ambiente propício à aprendi- zagem. Sobre essa questão é possível acrescentar que a ideia de uma gestão democrática participativa vem sendo acentuada num processo histórico, em que se percebeu a necessidade de ampliar 103 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos a atuação dos sujeitos escolares, passando de meros espectadores para uma participação efetiva na tomada de decisão. Luck (2011, p. 17) aponta que: A gestão participativa é normalmente entendida como uma forma regular e significante de envolvimento dos funcionários de uma organização no seu processo decisório. Em organizações democraticamente administradas – inclusive escolas – os funcionários são envolvidos no estabelecimento de objetivos, na solução de problemas, na tomada de decisões, no estabelecimento e na manutenção de padrões de desempenho e na manutenção dos padrões de desempenho e na necessidade das pessoas a quem os serviços da organização se destinam. Nesse sentido, voltamo-nos para a organização legal da edu- cação brasileira que denota tendência para a implementação de formas democráticas de participação direta dos sujeitos escolares, a começar pelas esferas de manutenção dos sistemas. A LDB nº 9.394/96, no seu Título IV Da Organização da Edu- cação Nacional, prescreve a partir do Art. 8º até no Art. 20 todas as normas e incumbências, bem como as responsabilidades sobre toda a política educacional. Consta no Art. 8 que: A união, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. § 1º - Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. § 2º - Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta lei (BRASIL, 1996). Notamos, nesse artigo, que há uma intencionalidade legal para que seja criada uma gestão escolar livre e com possibilidade de criar, inovar, gerar situações que permitam o desenvolvimento do sujeito escolar para a conquista de uma possível autonomia. O que se expressa como "função redistributiva" se refere ao FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil104 Básico, no que lhe compete para a redistribuição de recursos para a Educação entre as esferas administrativas: federal, estadual e municipal. Os Arts. de 9 a 11 definem as responsabilidades, as incum- bências de cada uma das esferas, as quais você pode conferir no texto original. Reservamos comentário especial para o Art. 12, que estabe- lece as incumbências de cada estabelecimento escolar: Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e acomunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (BRASIL, 1996). Nesse sentido, conforme Brandão (2010, p. 51), a lei dá maiores privilégios às redes privadas, vejamos: O inciso I, do art. 12 da LDB, concede às escolas, tanto pública como privada, o dever de “elaborar e executar sua proposta pedagógica". Nesse caso, as escolas públicas acabam tendo menor autonomia de elaboração de suas propostas pedagógicas, porém isso não significa que não haja espaço para propostas diferenciadas, mantidas as linhas gerais da política educacional de seu sistema de ensino (federal, estadual ou municipal). 105 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos Nos outros incisos, veremos que se repete essa situação. Entretanto, em cada estado ou município, pode-se verificar que há uma abertura nesse sentido – verifique as legislações regionais que são disponibilizadas nos sites das Secretarias de Educação. A Lei nº 9.394/96, por ser um conjunto de normas que dire- cionam a política educacional nacional, traz, em seu bojo, um cará- ter ideológico, ou seja, publica o contexto em que a sociedade vive no momento e que se faz destacar na forma da sua letra, do seu texto, as demandas sociais e econômicas vivenciadas na década em que a discussão acontece. Ainda, conforme cita Demo (2002, p. 15), a LDB "deveria ser uma lei curta, sem muitas palavras para não atrapalhar as formas particularizadas de atuar no processo de ensino e aprendizagem". Achamos oportuno apresentar o Art. 13, que estabelece as incumbências docentes, de forma geral, lembrando que se deve consultar a legislação regional ou específica de cada Estado ou Município. Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade (BRASIL, 1996). Cabe uma reflexão quanto às responsabilidades atribuídas aos docentes uma vez que, se essa atuação não for efetiva, as pro- babilidades de êxito de qualquer proposta pedagógica estarão, no mínimo, comprometidas. Nesse sentido, podemos dizer que a © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil106 maioria dos incisos da lei pode ser considerada coisa óbvia no sen- tido de que fazem parte do universo de trabalho docente e que, no mínimo, devem fazer cumprir sua funcionalidade, ou seja, estimu- lar a aprendizagem por meio de pedagogias e recursos didáticos eficientes e eficazes. Isso é o que o texto legal determina e que deve ser cumprido nas escolas. Continuando a demonstrar os artigos e suas normatizações, vejamos, a seguir, no Quadro 1, os artigos e suas determinações. fica: Quadro 1 Definições de Artigos. ARTIGO DEFINIÇÕES 8º Os entes federados organizam seus sistemas de ensino em regime de colaboração 9º Incumbências da União 10º Incumbências dos Estados 11 Incumbências dos Municípios 12 Incumbências dos estabelecimentos de ensino 13 Incumbências dos docentes 14 A gestão escolar deverá ser democrática, estimulando a participação dos sujeitos escolares e da comunidade 15 Assegura progressividade para autonomia das escolas 16 Formação do sistema federal – mantido pela União 17 Formação do sistema dos Estados e Distrito Federal 18 Formação do sistema dos Municípios 19 Classificação das instituições de ensino em todos os níveis e modalidades 20 Enquadramento das instituições da rede privada Cabe-nos apresentar a gestão escolar, que é definida pela Lei nº 9.394/96 no seu aspecto participativo. O Art. 14, que trata desse princípio, estabelece que a gestão terá caráter democrático; entretanto, serão respeitadas as peculiaridades. Conforme Brandão (2010, p. 56), o que os legisladores que- riam dizer com essa afirmativa é que essa frase dá margem a 107 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos inúmeras possibilidades de não se colocar em prática a ideia de "gestão democrática do ensino público", sob o argumento de que algumas peculiaridades próprias dessa ou daquela escola, ou até mesmo desse ou daquele sistema de ensino (federal, estadual ou municipal) não permitem a gestão democrática. A respeito da gestão escolar e de sua relação com a legisla- ção vigente, é preciso ressaltar ainda que temos a dimensão da avaliação cujo tratamento legal consta do Art. 9º em seu Inciso V: "coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação", como competência da União. Segundo Demo (2002, p. 31-32), este texto legal define a im- portância de buscar o incremento às políticas educacionais: a) [...] admitindo a necessidade de qualidade técnica dos dados disponíveis, sua função política de análise crítica, o incremento desse tipo de atividade e certamente sua relevância como instrumento essencial de diagnóstico e prognóstico [...]; b) no Inciso VI, aparece o compromisso com o "processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades de melhoria da qualidade de ensino"; aqui o foco está no rendimento escolar de todos os níveis educacionais, o que permitiria ao país alinhar-se aos outros que já possuem sistemas de avaliação em andamento [...]; c) no Inciso VIII volta-se especificamente para o "processo nacional de avaliação das instituições de educação superior", consagrando uma iniciativa crucial nesse campo, já de há muito minado por toda sorte de desmandos, sobretudo nas entidades privadas [...]. Outra dimensão que comentamos com igual importância é a questão da organização pedagógica e curricular – dois assuntos que, na gestão escolar, constituem a base do trabalho escolar. Per- cebemos até aqui que os sistemas de ensino são interligados e isso denota a necessidade de estabelecer uma padronização normati- va que conduz o sistema geral. A dimensão pedagógica envolve a definição de níveis e mo- dalidades de ensino, bem como um currículo que compreende uma base nacional e dá abertura para a inserção de outros compo- © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil108 nentes que atendem às políticas regionais, tanto estaduais como municipais. Recorremos a Libâneo, Oliveira e Toschi (2010, p. 355), que sugerem uma divisão das áreas de atuação da organização e da gestão da escola que possibilite uma melhor aprendizagem dos alunos, gerando e criando um ambiente propício em cumprimento às normas legais que estabelecem como prioridade o pleno desen- volvimento dos sujeitos escolares: a) o planejamentoe o projeto-pedagógico-curricular; b) a organização e o desenvolvimento do currículo; c) a organização e o desenvolvimento do ensino; d) as práticas de gestão técnico-administrativas e pedagógico- curriculares; e) o desenvolvimento profissional; f) a avaliação institucional e da aprendizagem. Sugerimos que você consulte outras fontes apresentadas no Conteúdo Digital Integrador para ampliar o nível de informação sobre o assunto, que não se esgota aqui. Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você irá apro- fundar os seus estudos sobre a gestão escolar e a legislação vi- gente. Portanto, antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indicadas. 2.2. A ESCOLA E A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO – UMA PERSPECTIVA TRANSFORMADORA A escola não é uma ilha, não vive isolada dos contextos no qual está inserida, no seu entorno existe uma comunidade que influencia na sua organização e no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Por meio da organização de um planeja- mento estratégico, podemos inserir, no processo de gestão, uma autoavaliação que nos mostra os meios e entremeios peculiares 109 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos da relação que a escola tem com os sujeitos que demandam seus recursos educativos. Nesse sentido, Santos (2002, p. 14) afirma que: Mudança, inovação, alteração, transformação, conversão, modificação e outras palavras significam que alguma coisa, um fato, uma pessoa, uma instituição, etc., deixa de ser o que era e assume, qualitativa e/ou quantitativamente, outro caráter, outra identidade e, até mesmo, outra forma ou conteúdo. Santos (2002, n. p.) afirma que a sociedade mudou e tem outro caráter, "passamos de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços, o que exige nova parceria entre a educação e os negócios". Nesse sentido acrescentamos que a escola mudará mais ain- da, a gestão escolar deve ficar alerta para o fato de não poder fi- car limitada apenas ao trabalho escolar de forma pura e simples; entretanto, deve expandir e buscar parcerias, reunir suas poten- cialidades para conseguir ampliar seus recursos didáticos e peda- gógicos. Recorremos a Freire (1985, p. 105), que nos orienta sobre a questão da libertação por meio da educação e afirma que "a cons- ciência crítica é a representação das coisas e dos fatos como se dão na existência empírica. Nas suas correlações causais e circunstan- ciais". Nesse sentido, implica-nos pensar que as teorias pedagógi- cas tradicionais não dão conta de fundamentar a organização de uma escola atual por estarem ligadas à teoria escolanovista, se- gundo Saviani (2003, p. 66), ao afirmar que "a crítica escolanovista atingiu não tanto o método tradicional, mas a forma como esse método se cristalizou na prática pedagógica, tornando-se mecâni- co, repetitivo, desvinculado das razões e finalidades que o justifi- cavam". Na continuidade da nossa reflexão, tomemos por critério as mudanças ocorridas no século 20 e que ajudaram a compor © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil110 essa sociedade da informação que temos hoje. As transformações ocorrem em todas as dimensões e lugares; hoje, o conhecimento é o grande recurso, bem como a característica dominante nessa sociedade, ou seja, uma sociedade de organizações. Segundo Santos (2002, p. 16): As mudanças levam a uma nova dicotomia de valores, não literária e científica, mas entre "intelectuais" e "gerentes". Enquanto os primeiros se preocupam com palavras e ideias, os segundos importam-se com pessoas e trabalho. O grande desafio filosófico e educacional é transcender essa dicotomia. Considerando esse contexto, a escola busca se aprimorar com modelos de gestão que correspondam às novas demandas dos sujeitos que a procuram para satisfazer sua necessidade de atualização nesse mundo em que já não há mais fronteiras eco- nômicas, os saberes navegam na internet, as informações estão acumuladas e sua divulgação está ao alcance de um clique. Na sala de aula, professores e alunos disputam espaço entre o antigo e o novo, o uso de aparelhos cada vez mais sofisticados gera conflitos entre a geração de “nativos digitais" e a de “migran- tes digitais", com toda a limitação desta última e resistência em mudar métodos de ensino tradicionais. Recorremos a Dowbor (2013, p. 16), que nos aponta o cená- rio que se descortina e exige da gestão escolar uma nova postura, inovadora e criativa. Não é preciso ser nenhum deslumbrado da eletrônica para constatar que o movimento transformador que atinge hoje a informação, a comunicação e a própria educação constitui uma profunda revolução tecnológica. Este potencial pode ser visto como fator de desequilíbrios, reforçando as ilhas de excelência destinadas a grupos privilegiados, ou pode constituir uma poderosa alavanca de promoção e resgate da cidadania de uma grande massa de marginalizados, criando no país uma base ampla de conhecimento, uma autêntica revolução científica e cultural. Nesta rearticulação da sociedade, hoje urbanizada e coexistindo em "vizinhanças", e frente ao novo papel do conhecimento no nosso cotidiano, as estruturas de ensino poderiam evoluir, por exemplo, para um papel muito mais organizador de espaços culturais e 111 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos científicos do que propriamente de "lecionador" no sentido tradicional. De toda forma o espaço urbano abre possibilidades para a organização de redes culturais interativas que colocam novos desafios ao próprio conceito de educação. Conforme vimos, tudo indica que não estamos enfrentando apenas uma revolução tecnológica. Na realidade, o conjunto de transformações parece estar levando a uma sinergia da comunicação, informação e formação, criando uma realidade nova, que está sendo designada como “sociedade do conhecimento". De certo modo, o processo reflete os primeiros passos do homo culturalis, em contraposição ao homo economicus dos séculos XIX e XX. Podemos visualizar várias situações – mudanças e resistên- cias – os sujeitos continuam os mesmos e vão se vendo em contex- tos cada vez mais diferentes. Toda mudança é um grande desafio que deve ser enfrentado por pessoas diferentes, em diferentes posições, que liderem de maneiras diferentes, e não como heróis. Finalmente, a gestão escolar é mais globalizante e dinâmica e envolve a dimensão política e social, a ação para transformações, globalizações, participação, práxis, cidadania etc. A expressão “gestão educacional" é comumente utilizada para designar a ação dos dirigentes que simplesmente administram e não alteram seu padrão de atuação, que hoje deve mudar para que a escola seja de fato transformadora e não reprodutora, numa sociedade que se modifica cultural, social, tecnologicamente a todo o momento em rápidos movimentos. Frente a esse mundo tão diferente do início do século 20, corroboramos com Dowbor (2013, p. 17), que nos posiciona em um contexto em que os indicadores demonstram que outras ins- tituições têm causado mais transformações que as nossas escolas possam influenciar. A desigualdade continua a marcar estruturalmente o nosso universo da educação. Mas nos últimos 20 anos, tivemos avanços extremamente expressivos. De certa maneira, a educação ainda é o nosso setor mais atrasado, e ao mesmo tempo o que mais avançou. O Atlas de Desenvolvimento Humano Municipal Brasil 2013, elaboradoconjuntamente pelas Nações Unidas, pelo IPEA e © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil112 pela Fundação João Pinheiro, mostra que as pessoas de 18 anos ou mais que concluíram o fundamental representavam 30,1% em 1991, 39,8% em 2000 e 54,9% em 2010, cifras que mostram tanto o impressionante atraso herdado do chamado “milagre da era da ditadura", como a força das transformações recentes e o longo caminho pela frente. A população de 11 a 13 anos, frequentando os anos finais do Ensino Fundamental passou, nos mesmos anos, de um desastroso 36,8% para 59,1% e 84,9%, o que aponta para um futuro mais decente, ainda que não satisfatório. A população de 15 a 17 anos com fundamental completo passou nos mesmos períodos de 20,0%, para 39,7% e 57,2%. E a população de 18 a 20 anos com curso médio completo passou de 13,0% para 24,8% e 41,0%. Concluímos o estudo desta unidade com uma reflexão a res- peito da capacidade da educação transformadora, que convive no bojo dessa sociedade do conhecimento e tem buscado mudar seu interior, substituindo velhas práticas pedagógicas pelo uso de re- cursos tecnológicos. Entretanto, ainda resta lutar contra seus mi- tos e tabus, explicitando-os a partir de uma autoavaliação que de- monstre de forma clara os indicadores das dimensões que devem sofrer intervenção, seja de ordem física ou filosófica. Além da temática apontada no parágrafo anterior, é impor- tante levantarmos uma discussão sobre gestão e avaliação de forma sucinta, uma vez que são temas já discutidos em outras unidades. As políticas sociais, atualmente, têm se pautado em incluir em seus planejamentos a necessidade de realizar processo ava- liatório em larga escala no intuito de produzir indicadores para in- vestigar os resultados alcançados. Na educação não é diferente, conforme aponta Libâneo (2010, p. 476-477): A avaliação é função primordial do sistema de organização e gestão. Ela supõe acompanhamento e controle das ações decididas coletivamente, sendo este último a observação e a comprovação dos objetivos e tarefas, a fim de verificar o estado real do trabalho desenvolvido. A avaliação permite pôr em evidência as dificuldades surgidas na prática diária, mediante a confrontação entre o planejamento e o funcionamento real do trabalho. Visa ao melhoramento do trabalho escolar, pois, conhecendo a tempo as dificuldades, pode-se analisar suas causas e encontrar meios de superá-las. 113 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos Outro aspecto que se denota nessa discussão é a questão da centralização e da descentralização, fenômenos políticos que se manifestam no bojo da dinâmica da organização da educação bra- sileira. Os registros do processo histórico da organização da edu- cação brasileira apontam um movimento que tem início nos anos de 1930 em diante e que denotam que o início de tudo se identi- fica como períodos centralizadores da organização da educação. A partir dessa data, com a Reforma Francisco Campos, o Estado or- ganizou a educação escolar no plano nacional, especialmente nos níveis secundário e universitário e na modalidade comercial. Segundo Libâneo (2010, p. 161-162), "retomada da discus- são sobre a municipalização do ensino com o apoio dos privatistas, aliada à busca da escola privada por pais (em boa parte, para evitar as greves nas escolas públicas), reforçou a tese da privatização do ensino". Ainda, conforme Libâneo (2010), a educação brasileira nor- matizada pelas leis que centralizam as decisões de conduta dos processos educativos escolares ainda continua não oferecendo privilégios para a conquista de autonomia gestora. A Constituição ou uma lei, porém, não conseguem sozinhas e rapidamente descentralizar o ensino e fortalecer o município. [...] Descentralização faz-se com espírito de colaboração, e a tradição política brasileira é de competição, de medição de forças. As categorias centralização/descentralização estão vinculadas à questão do exercício do poder político, mesmo porque, desde o final do século XX, a descentralização vem atrelada aos interesses neoliberais de diminuir o gasto social do Estado. [...] A lei nº 9394/96 centraliza no âmbito federal as decisões sobre o currículo e avaliação e atribui à sociedade responsabilidades que deveriam ser do Estado, tal como ocorreu, por exemplo, com o trabalho voluntário na escola. [...] Os projetos Família na Escola e Amigos da Escola e a descentralização de responsabilidades do ensino fundamental em direção aos municípios são outros exemplos concretos de uma política que centraliza o poder e descentraliza as responsabilidades. © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil114 Com as leituras propostas no Tópico 3. 2., você irá apro- fundar os seus estudos sobre a escola e a sociedade do conhe- cimento – uma perspectiva transformadora. Portanto, antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indicadas. Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––– Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar. Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula, lo- calizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Pós- -graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por fim, clique no Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil para abrir a lista de vídeos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR O Conteúdo Digital Integrador apresenta uma condição ne- cessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade. 3.1. A GESTÃO ESCOLAR E A LEGISLAÇÃO VIGENTE A legislação educacional brasileira, embora traduza norma- tivamente determinada concepção, não expressa o significado de sistema de ensino. Na Lei nº 4.024/61, o termo "sistema" é orien- tado pelo critério administrativo, na Lei nº 5.692/71 ocorre o mes- mo e na Lei nº 9.394/96, atual LDB, este termo refere-se à Admi- nistração em diversas esferas. Leia mais em: • LIBÂNEO, J. C. Diretrizes curriculares da pedagogia: impre- cisões teóricas e concepção estreita da formação profis- sional de educadores. Educ. Soc., v. 27, n. 96, p. 843-876, out. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/ v27n96/a11v2796.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2014. 115 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos 3.2. A ESCOLA E A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO – UMA PERSPECTIVA TRANSFORMADORA Como enfrentar as novas dinâmicas, como ultrapassar as re- sistências das chamadas elites aos processos de democratização econômica e social, como rearticular os diversos universos sociais tão distantes? O nosso desafio, portanto, não é só o de introdu- zir novas tecnologias, com o conjunto de transformações que isto implica, mas também de assegurar que as transformações sejam fonte de oportunidades mais amplas. Leia mais em: • DOWBOR, L. Tecnologias do conhecimento: desafios da educação. Disponível em: <http://dowbor.org/2013/09/ tecnologias-do-conhecimento-os-desafios-da-educacao. html/>. Acesso em: 24 abr. 2014. Os líderes, hoje, devem ser agentes de mudança, pois não se trata de adquirir novos conceitos, habilidades ou atitudes, mas de "desaprender" o que não é mais útil à organização. Leia mais em: • SILVA, R. C. Gestão da educação para novos tempos. Dis- ponível em: <http://www.anpae.org.br/congressos_anti- gos/simposio2007/379.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2014. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliaçãopode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em res- ponder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos es- tudados para sanar as suas dúvidas. 1) Segundo o Art. 12 da LDB nº 9.394/96, trata das incumbências dos estabe- lecimentos escolares. I. Elaborar e executar sua proposta pedagógica. II. Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros. III. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas. © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil116 Assinale a alternativa correta. a) Está correta apenas a II. b) Está incorreta apenas a I. c) Está correta apenas a III. d) Todas estão corretas. 2) A gestão escolar é mais globalizante e dinâmica, envolve a dimensão políti- ca e social, a ação para transformações, globalizações, participação, práxis, cidadania etc. Infere-se do texto acima que: a) a escola deve buscar atingir mais seus alunos deficientes. b) o trabalho escolar deve ter seu currículo ampliado. c) a escola não é a única agência formadora na sociedade. d) a gestão escolar é uma função única e unilateral. 3) O bom funcionamento de um sistema educacional_____________, se esta permitir, ou não, que a gestão escolar tenha liberdade de criar, inovar, esta- belecer formas de trabalho a partir de uma perspectiva democrático-parti- cipativa. Assinale a alternativa que completa corretamente o texto acima. a) depende da política implementada. b) é relevante para a hegemonia do poder político. c) depende da gestão ser mais rígida ou flexível. d) depende da gestão coletiva. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas: 1) d. 2) c. 3) a. 5. CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final da quarta unidade, na qual você teve a oportunidade de compreender dois pontos fundamentais: a legis- lação educacional e sua influência na formação do sistema e na condução da gestão escolar e a importância de a escola ser orga- 117 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Legislação da Organização Escolar – Aspectos Administrativos e Pedagógicos nizada de forma que possa transformar a sociedade em que está inserida. Nesta unidade, pela temática desenvolvida, compreende- mos que as formas de gestão da educação escolar são originadas de um processo histórico e influenciadas pelos contextos sociais e políticos e, circunstancialmente, em cada particularidade dos estabelecimentos escolares, pelas comunidades que apresentam aspectos culturais diversos. O padrão que a legislação impõe, como vimos, se restringe à constituição de sistemas educacionais com características espe- cíficas, entretanto, há uma liberdade legal para a composição de regulamentações curriculares, didáticas, pedagógicas, de manu- tenção de cada sistema, bem como da adoção de formas de gestão diferenciadas. Com preceitos de caráter democrático-participativo, as nor- mas legais não se limitaram a instruir a estrutura de manutenção, mas também as incumbências de cada esfera. Na segunda parte, procuramos estudar um pouco da função social da gestão escolar – proporcionar ambiente a todos os sujei- tos escolares para que se cumpra a competência transformadora que se exige da escola nos dias de hoje. Encerramos esta unidade com a sugestão e orientação para que você possa buscar outras fontes de consulta, participe dos Fó- runs no qual podemos trocar saberes, experiências e tornar nosso estudo mais profícuo. 6. E-REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm>. Acesso em: 24 abr. 2014. DOWBOR, L. Tecnologias do conhecimento: desafios da educação. Disponível em: <http://dowbor.org/2013/09/tecnologias-do-conhecimento-os-desafios-da- educacao.html/>. Acesso em: 24 abr. 2014. © Políticas Educacionais e Organização do Ensino e da Gestão no Brasil118 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, C. F. LDB passo a passo. 4. ed. (ver. e ampl.). São Paulo: Avercamp, 2010. DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. 13. ed. Campinas: Papirus, 2002. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 16. ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1985. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2010. LUCK, H.; FREITAS, K. S.; GIRLING, E.; KEITH S. A escolar participative: o trabalho do gestor escolar. 9. ed. Petropólis, RJ: Editora Vozes, 2011. SANTOS, C. R. O gestor educacional de uma escola em mudança. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 36. ed. Revista. Campinas: Autores Associados, 2003.
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