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1 Regiões urbanas e questão ambiental ∗ Ester Limonad♣ Palavras-chave: regiões metropolitanas; urbanização; meio-ambiente Resumo Desde 1988, com a definição de diversas figuras legais urbanas e a atribuição das regiões metropolitanas aos governos estaduais pela Constituição Federal, observa-se a multiplicação, em diversas partes do país, de regiões metropolitanas estaduais de dimensões e características diversas, muitas decorrentes de casuísmos políticos locais, que não sóem corresponder ao que convencionalmente se poderia caracterizar como região metropolitana. Em contraste com essa multiplicação de regiões metropolitanas e com tendências anteriores de urbanização anteriores, observa-se, a partir de 1990, um declínio das taxas de crescimento nas áreas metropolitanas; um aumento das taxas de crescimento das cidades médias; um predominio das migrações intraregionais e intra-estaduais, acompanhado por uma crescente dispersão espacial da população. A diversidade de definições legais de regiões urbanas e as mudanças nas tendências da urbanização sugerem que algo mudou na urbanização brasileira. À tendência anterior de urbanização intensiva e concentrada opõe-se agora uma urbanização de caráter extensivo, disperso com um consumo extensivo do território, dos equipamentos, infraestruturas e do meio ambiente. Tal quadro nos leva a lançar um olhar além das grandes aglomerações urbanas, das regiões metropolitanas, no intuito de buscar parâmetros que permitam diferenciar e categorizar as presentes figuras urbanas na perspectiva de buscar elementos que contribuam para a regulação da urbanização e a preservação ambiental. ∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. ♣ Professora Associada, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Geografia, Universidade Federal Fluminense 2 Regiões urbanas e questão ambiental ∗ Ester Limonad♣ Introdução Desde 1988, com a definição de diversas figuras legais urbanas e a atribuição das regiões metropolitanas aos governos estaduais pela Constituição Federal, observa-se a multiplicação, em diversas partes do país, de regiões metropolitanas estaduais de dimensões e características diversas, muitas decorrentes de casuísmos políticos locais, que não sóem corresponder ao que convencionalmente se poderia caracterizar como região metropolitana. Em contraste com essa multiplicação de regiões metropolitanas e com tendências anteriores de urbanização anteriores, observa-se, a partir de 1990, um declínio das taxas de crescimento nas áreas metropolitanas; um aumento das taxas de crescimento das cidades médias; um predominio das migrações intraregionais e intra-estaduais, acompanhado por uma crescente dispersão espacial da população. Soma-se a isso a criação de regiões integradas de desenvolvimento econômico, de aglomerações urbanas e de microrregiões urbanas, designadas heuristicamennte aqui de regiões urbanas. A diversidade de definições legais de regiões urbanas e as mudanças nas tendências da urbanização sugerem que algo mudou na urbanização brasileira. À tendência anterior de urbanização intensiva e concentrada opõe-se agora uma urbanização de caráter extensivo, disperso com um consumo extensivo do território, dos equipamentos, infraestruturas e do meio ambiente. Tal quadro nos leva a lançar um olhar além das grandes aglomerações urbanas, das regiões metropolitanas, no intuito de buscar parâmetros que permitam diferenciar e categorizar as presentes figuras urbanas na perspectiva de buscar elementos que contribuam para a regulação da urbanização e a preservação ambiental. ∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. ♣ Professora Associada, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Geografia, Universidade Federal Fluminense 3 1. Uma primeira aproximação A compreensão da urbanização do território brasileiro em suas diversas formas e nuances exige um olhar crítico e um rigor teórico para evitar generalizações e diferenciar as tendências em curso. Os resultados do último censo do IBGE, em 2000, não deixam margem a dúvidas, o Brasil tornou-se um país urbano, 82% de sua população reside em áreas urbanas. Após a Constituição Federal de 19882 a definição das regiões metropolitanas passa para o âmbito estadual e verifica-se uma multiplicação de regiões metropolitanas de Norte a Sul do país. Às quais vieram se somar nesse início de século as Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico3 (RIDEs), que embora guardem alguma semelhança morfológica ou estrutural com as regiões metropolitanas delas diferem. Primeiro, por abrangerem grandes extensões territoriais. Segundo, por serem instituídas por legislação federal específica4, que delimita os municípios que as integram e fixa as competências assumidas pelo colegiado dos mesmos. E, terceiro, pelo fato de serem de competência federal contam com linhas de crédito especiais para desenvolver atividades prioritárias com recursos oriundos do orçamento da União, além dos recursos dos estados e municípios que as integram. Porém, para os fins desse ensaio serão consideradas como grandes aglomerações urbanas-metropolitanas, embora sejam de caráter supra-estadual. Por conseguinte, considerando-se a taxa de urbanização nacional, a quantidade desses grandes aglomerados urbanos com suas respectivas áreas de expansão5 e sua dimensão populacional tudo leva a crer que a maioria da população brasileira reside em grandes aglomerados urbanos de caráter metropolitano conforme se pode observar no Mapa 1. Uma vez que todas essas áreas, com base nas definições legais vigentes em 2006, respondiam em 2000, por cerca de 51% da população urbana e por 41,4% da população total. O que de certa forma corroboraria as previsões de uma metropolização crescente e infindável, assinalada, por diversos teóricos na década de 1970, como um dos traços característicos de uma urbanização dependente. Em contraste com essa multiplicação de regiões metropolitanas e com tendências de urbanização anteriores, observa-se, a partir de 1990, um declínio das taxas de crescimento nas áreas metropolitanas; um aumento das taxas de crescimento das cidades médias; um 2 Acessível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm ou https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%E7ao_Compilado.htm 3 Por definição as RIDEs seriam, em principio, regiões metropolitanas situadas em mais de uma unidade da federação, como são os casos das RIDE do Distrito Federal e Entorno (Criada pela Lei Complementar nº 94, de 19 de fevereiro de 1998 e regulamentada pelo Decreto-Lei nº 2.710, de 4 de agosto de 1999 (Acessível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2710.htm), alterado pelo Decreto nº 3.445, de 4 de maio de 2000 (Acessível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3445.htm), que além do Distrito Federal compreende municípios dos estados de Goiás e Minas Gerais; a RIDE de Petrolina-Juazeiro (Instituída pelo Decreto-Lei n° 4.366,de 9 de setembro de 2002 (Acessível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/Quadro_2002.htm), que é constituída por municípios dos estados da Bahia e Pernambuco; e a RIDE de Teresina (instituída pelo Decreto-Lei nº 4.367, de 9 de setembro de 2002. Acessível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/Quadro_2002.htm), que abrange o município de Timon no Maranhão, além de municípios do Piauí situadosno entorno de Teresina. 4 Decreto-Lei nº 2.710, de 4/08/1999 (Acessível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2710.htm) 5 Denominadas no estado de Minas de Gerais de Colares Metropolitanos e no estado de Santa Catarina de Áreas de Expansão Metropolitana 4 predominio das migrações intraregionais e intra-estaduais, acompanhado por uma crescente dispersão espacial da população. Cabe, portanto, refletir sobre o caráter dessas regiões metropolitanas e regiões integradas de desenvolvimento econômico, que concentram 51% da população urbana, e 5 compará-las com as aglomerações urbanas. Isso é essencial para estabelecer um marco de referência que fundamente a reflexão e tomadas de decisão em diferentes escalas. É necessário buscar parâmetros não só para diferenciar, em um primeiro momento, o que pode ser considerado metropolitano do que não é metropolitano, mas, principalmente, na perspectiva de poder construir uma metodologia com uma abordagem diferencial e qualitativa, uma vez que critérios político-administrativos definidos pelos legislativos estaduais muitas vezes estão pautados em interesses locais sendo insuficientes para uma caracterização rigorosa. 2. As novas regiões metropolitanas O termo metropolitano surgiu na década de 1920 nos Estados Unidos para designar uma cidade “grande” cujos limites superassem os da unidade político-administrativa original. Independente da diversidade de definições existentes a designação zona, área, região metropolitana alude, via de regra, a um conjunto de diversas divisões político-administrativas de nível local (municípios, ayuntamentos, towns), integradas fisica e funcionalmente, que constituem uma extensa conurbação urbana. Nesse espaço se desenvolvem interações sociais e econômicas diversas (mercado de trabalho, redes de empresas, cadeias de abastecimento, sedes administrativas de grandes empresas, etc.) que articulam as diversas localidades pertencentes à região metropolitana através de relações interurbanas e inter-regionais. Diversos paises desenvolveram metodologias diferenciadas para definir as regiões metropolitanas, baseadas em limites administrativos ou legais, mercados imobiliários, atividade econômica, provisão de serviços, mercados de trabalho e bacias de emprego. Embora as conceituações difiram, quase todas partem da identificação de uma área central, com uma elevada concentração de população e/ou de emprego, com uma área periférica densamente povoada e articulada ao núcleo metropolitano (OECD, 2006, p. 34-35). Via de regra, emprega-se geralmente ao menos três critérios para definí-las: grande dimensão em termos de emprego ou de população, densidade populacional elevada e alta mobilidade espacial do trabalho entre uma região metropolitana e seu entorno. Nos Estados Unidos da América do Norte e no México os critérios estatísticos servem de base primeira para a definição das áreas metropolitanas. No caso do México a variedade de critérios adotados pelos organismos mexicanos (SEDESOL6, CONAPO7 e INEGI8) levou-os a comporem uma norma comum mais complexa para definir as áreas metropolitanas, todavia ainda prevalece como base o critério de tamanho, assim em príncipio, toda conurbação que conte com um núcleo com mais de um milhão de habitantes ou conurbações fronteiriças aos Estados Unidos com mais de 250 mil habitantes é considerada área metropolitana. (SEDESOL, CONAPO, INEGI, 2006, p.17) Mais interessante para os fins desse ensaio são os parâmetros e critérios estabelecidos pela “Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento” (OECD, 2006) em um estudo para definir as regiões metropolitanas. Para contemplar a diversidade de seus países-membro, em diferentes partes do mundo (Europa, América, Ásia, Oceania), a A OECD (2006:36) propõe ao menos quatro critérios para considerar áreas urbanas conurbadas como regiões metropolitanas. Primeiro, a dimensão populacional deve ser superior a um milhão e 6 SEDESOL – Secretaria de Desarrollo Social. 7 CONAPO – Consejo Nacional de Población. 8 INEGI – Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informatíca 6 meio de habitantes. Segundo, a densidade demográfica deve ser superior a 150 habitantes por quilometro quadrado. Terceiro, é fundamental que essas regiões densamente povoadas e com alta concentração demográfica constituindo áreas urbanas possuam um mercado de trabalho definido a partir de fluxos pendulares, em que os fluxos das áreas mais densas sejam inferiores a 10% da população residente. O quarto critério foi estabelecido para países com pequena dimensão populacional, com a finalidade contemplar as cidades com menos de um milhão e meio de habitantes, mas que deveriam congregar mais de 20% da população nacional. No caso dos países membros da OECD isto implicaria na inclusão de Auckland (Nova Zelândia), Luxemburgo e Reijavik (Islândia). Esses dois últimos, por serem casos extremos não foram considerados na análise da OECD. No caso das regiões metropolitanas brasileiras os quatro critérios da OECD poderiam ser adaptados para diferenciá-las e definí-las enquanto tal, com algumas pequenas modificações. Para viabilizar, uma diferenciação rápida em termos heurísticos para o presente trabalho, caberia adaptar estes parâmetros e sua ordem, conforme fizemos em um estudo anterior (Limonad, 2007a) e a eles agregar mais alguns elementos. Então, de modo a contemplar as especificidades regionais das unidades da federação menos povoadas, consideramos conveniente que o quarto critério (participação na população nacional) fosse agregado aos dois primeiros critérios (dimensão e densidade) e passasse a ser o terceiro critério. Por conseguinte as regiões metropolitanas de estados menos povoados deveriam possuir cada uma, tomando por base o critério da OECD, ao menos 20% da população estadual. Portanto, em princípio, para estabelecer se uma área pode ser considerada metropolitana caberia trabalhar com os critérios relativos à dimensão e densidade associados ao terceiro critério, para depois empregar o critério dos fluxos pendulares para comprovar se a área em questão congrega de fato um mercado de trabalho. Os critérios de dimensão e densidade demográfica são importantes à medida que a partir de um certo patamar, se forem considerados de forma associada, podem contribuir para indicar a existência de um certo nível de densidade técnica (redes de infraestrutura e serviços), econômica (existência de mercado de trabalho regional, atividades econômicas, sedes de empresas, serviços e fluxos produtivos), que tendem a caracterizar as, assim chamadas, regiões metropolitanas. Há que se considerar, ainda que, mesmo com a segmentação espacial dos mercados de trabalho, resultante da desconcentração industrial e do êxodo das plantas industriais rumo ao campo, iniciados na década de 1990, em virtude da reestruturação produtiva (Becker, 2004), a maior parte das sedes das empresas, dos serviços financeiros e das atividades econômicas permaneceram sediados nas regiões metropolitanas, como mostra Sandra Lencioni (2004), no caso da Região Metropolitana de São Paulo. Destarte embora quantidade não seja traduzível em qualidade, a quantidade não deixa de ter um peso substantivo na definição do que possa ser considerado como metropolitano, conforme apontam Randolph e Gomes (2007) ao compararem os fluxos pendulares entre municípios fora e dentro das Regiões Metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. Dadas as características das novas regiões metropolitanas e o fato de muitas terem sido formadas devido à constituição de mercados de trabalho regionais definidos por movimentos pendulares, os critérios de porte, dimensão e participação na população estadual, expostos na 7 Tabela 1, podemser de início considerados suficientes para uma diferenciação inicial para fins de delimitação das tendências da urbanização. TABELA 1 Brasil, Regiões Metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico – critérios para delimitação Núcleo RM - RIDE densidade % pop. Estadual mobilidade pendular população ≥ 1.500.000 habitantes Mais de 150 hab/km2 > 20% população estadual saldo (x 1.000) (4) 1° critério 2° critério 3° critério 4° critério São Paulo 10.434.252 17.878.703 2.220,70 48,28 566 Rio de Janeiro 5.857.904 10.710.515 1.899,46 74,42 510 Belo Horizonte 2.238.526 4.357.942 473,85 24,36 252 Porto Alegre 1.360.590 3.718.778 445,17 36,50 189 Recife 1.422.905 3.337.565 1.216,21 42,15 219 Salvador 2.443.107 3.021.572 1.290,07 23,12 Fortaleza 2.141.402 2.984.689 600,67 40,17 Ride DF e Entorno (1) 2.051.146 2.952.276 53,15 41,85 140 Curitiba 1.587.315 2.768.394 204,54 28,95 145 Campinas 969.396 2.338.148 636,6 6,31 Belém 1.280.614 1.795.536 986,52 29,00 81 Goiânia 1.093.007 1.639.516 410,05 32,77 102 Baixada Santista 417.983 1.476.820 622,3 3,99 Vitória 292.304 1.438.596 706,72 46,45 90 Natal 712.317 1.097.273 545,55 39,52 São Luís 870.028 1.070.688 738,57 18,95 RIDE Teresina (3) 715.360 1.008.198 2,80 Maceió 797.759 989.182 510,81 35,04 Florianópolis 342.315 709.407 115,22 13,24 Londrina 447.065 647.854 182,31 6,77 RIDE Petrolina Juazeiro (2) 393.105 565.877 2,70 Maringá 288.653 474.202 221,52 4,96 Norte-Nordeste Catarinense (Joinville) 429.604 453.249 80,16 8,46 Vale do Itajaí (Blumenau) 261.808 399.901 125,26 7,47 Vale do Aço (Ipatinga) 212.496 399.580 494,82 2,23 Foz do Itajaí (Itajaí) 147.494 319.389 145,31 5,96 Carbonífera (Criciúma) 170.420 289.272 87,7 5,40 Tubarão 88.470 117.830 19,54 2,20 Elaborado por Ester Limonad com base nos dados do Censo de 2000 do IBGE. (1) para o cálculo da participação na população estadual adotou-se o montante da população do Distrito Federal e de Goiás. Não se considerou a população de Minas Gerais dado o pequeno porte de seus dois municípios pertencentes à RIDE DF. (2) para o cálculo da participação na população estadual adotou-se o montante da população dos estados de Pernambuco e Bahia (3) para o cálculo da participação na população estadual adotou-se o montante da população dos estados do Piaui e do Maranhão, em virtude da conurbação de Timon (MA) com Teresina (PI). (4) O saldo da mobilidade pendular foi obtido com base nos dados do Atlas do Censo do IBGE de 2000 referente aos dez maiores saldos migratórios nacionais 8 A análise das Regiões Metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico, segundo os três primeiros critérios assinalados, expostos na Tabela 1, indica que apenas as Regiões Metropolitanas de Campinas e Goiânia poderiam ser consideradas stricto sensu enquanto tal junto com as antigas regiões metropolitanas (assinaladas em negrito na tabela 1). As regiões metropolitanas de Salvador e Fortaleza embora atendam aos três primeiros critérios e se constituam enquanto bacias de emprego e mercado de trabalho não chegam a polarizar de forma marcante o seu entorno (4° critério), uma vez que seu mercado de trabalho e as atividades industriais encontram-se distribuídas em vários municípios da região metropolitana. Portanto, embora a mobilidade pendular seja importante para definir a coesão regional existente, não se constitui por si só em um critério suficiente para definir uma região metropolitana. Inclusive pode-se observar no mapa 2, em particular no Centro Oeste e na fronteira do Amapá com o Amazonas, diversas áreas com um alto índice de entradas de mobilidade pendular, sem que com isso se constituam em regiões metropolitanas. MAPA 2 Deslocamento para trabalho e estudo em 2000 Extraído do Atlas do IBGE 2000 9 Não obstante Campinas não atenda ao terceiro critério, sem sombra de dúvida possui um mercado de trabalho regional e fluxos pendulares em sua direção (4° critério) havendo registrado um dos dez maiores saldos de mobilidade pendular segundo o Atlas do Censo de 2000 do IBGE. Além dessas duas, as Regiões Metropolitanas de Vitória, Natal e Maceió também poderiam ser consideradas enquanto Regiões Metropolitanas de segunda ordem, por sua inserção estadual, por apresentarem uma densidade superior a cento e cinqüenta habitantes por quilometro quadrado e por concentrarem mais de 20% da população estadual. A Baixada Santista (SP) e São Luis do Maranhão, por sua vez, atendem apenas ao critério de densidade, e podem vir a se constituir, no futuro, em regiões metropolitanas de fato, segundo os critérios aqui adotados. A Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e Entorno, por sua vez, constitui um caso único, por ora, pois não obstante atenda aos critérios de porte populacional e participação na população estadual, não atende ao critério de densidade demográfica, neste sentido poderia ser caracterizada como uma área de urbanização dispersa. Restaria, ainda ver nesse caso a densidade da oferta de trabalho e os fluxos pendulares em relação ao Distrito Federal. Caberia ainda considerar mais dois parâmetros, por assim dizer, um tanto óbvios, mas que contribuem para uma diferenciação mais estrita e para limitar ainda mais o universo de regiões metropolitanas brasileiras. O primeiro refere-se à existência de uma extensa conurbação de ao menos mais de três municípios. E, o segundo concerne à própria dimensão do núcleo metropolitano. Por mais controversa que seja a demarcação de um limiar quantitativo minímo esse aparentemente se mostra necessário, e uma possibilidade seria definir que um núcleo metropolitano deveria ter ao menos o porte de uma cidade média, uma vez considerados os critérios antes referidos. A adoção desses dois critérios suplementares permite reforçar a delimitação obtida. A dimensão, densidade demográfica, distribuição da população segundo o porte dos municípios e as taxas geométricas médias de crescimento anual de quase todas as novas Regiões Metropolitanas indicam estarem estas mais próximas de ser caracterizadas como Aglomerações Urbanas e/ou Micro-Regiões, do que como Regiões Metropolitanas de fato. Torna-se patente, assim, ao menos para efeitos analítico-metodológicos, relacionados ao estudo das tendências recentes da urbanização, que muitas das novas regiões metropolitanas não devem ser encaradas enquanto tal, embora o sejam política e administrativamente, e algumas nem sequer se enquadram no que poderia ser caracterizado de um padrão concentrado de urbanização (Limonad, 2007b). Portanto, ao que tudo indica, embora, o presente estudo careça ainda de outros dados e indicadores, tudo leva a crer que a maior parte da população brasileira não reside em grandes aglomerados urbanos. Portanto, aparentemente tal multiplicação de áreas metropolitanas e criação de Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico aponta para um aumento da dispersão da urbanização, mais do que para uma reafirmação dos processos de urbanização concentrada e de um incessante crescimento das áreas metropolitanas como inicialmente se poderia supor. 10 3. Tendências recentes da urbanização brasileira Para entender os rumos que ora toma a urbanização brasileira cabe inicialmente avaliar a participação das regiões metropolitanas nesse processo para perceber onde reside a maior parte da população brasileira. É reveladora, nesse sentido, a variação do incremento demográfico das regiões metropolitanas criadas na década de 1970 (Tabela 2), a qual se poderia acrescentar as regiões metropolitanas de Campinas, Goiânia e a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal. Tabela 2 BRASIL – Regiões Metropolitanas e Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal,participação na população urbana e na população total (1970-2000) População total Regiões Metropolitanas 1970 1980 1991 2000 Belém 669.768 1.021.486 1.401.305 1.795.536 Belo Horizonte 1.619.792 2.570.281 3.385.386 4.177.801 Curitiba 809.305 1.427.782 1.984.349 2.635.436 Fortaleza 1.070.114 1.627.042 2.339.538 2.910.490 Porto Alegre 1.590.798 2.307.586 3.029.073 3.498.322 Recife 1.755.083 2.347.005 2.874.555 3.278.284 Rio de Janeiro 6.879.183 8.758.420 9.796.649 10.869.255 Salvador 1.135.818 1.752.839 2.474.385 2.991.822 São Paulo 8.113.873 12.552.203 15.395.780 17.813.234 Total RMs (1) 23.643.734 34.364.644 42.681.020 49.970.180 Campinas 644.490 1.221.104 1.778.821 2.219.611 Goiânia 424.588 807.626 1.204.565 1.609.335 RIDE DF 625.916 1.357.171 1.980.432 2.756.701 Total aglomerados (2) 1.694.994 3.385.901 4.963.818 6.585.647 Total aglomerado (1)+(2) 25.338.728 37.750.545 47.644.838 56.555.827 População Brasil (3) 93.134.846 119.002.706 146.825.475 169.799.170 (1)/(3) 25,39 28,88 29,07 29,43 ((1)+(2))/(3) 27,21 31,72 32,45 33,31 População Urbana (4) 52.097.271 80.436.409 110.990.990 137.953.959 (1)/(4) 45,38 42,72 38,45 36,22 ((1)+(2))/(4) 48,64 46,93 42,93 41,00 Fonte: Censos do IBGE (1970, 1980, 1991 e 2000) Um breve olhar a esta tabela 2 revela de imediato um ligeiro aumento da concentração da população nas Regiões Metropolitanas criadas na década de 1970, que respondiam por 29,43% da população brasileira, em 2000. Porém, mesmo após incorporar os dados dos novos referidos aglomerados metropolitanos, a participação das regiões metropolitanas consideradas não superou os 33,31 % da população total e 41% da população urbana em 2000. Um fato curioso, entretanto, é a queda na participação da população das regiões metropolitanas consideradas na Tabela 2 em relação à população urbana nacional, que passou de 48,64%, em 1970, para 41% da população urbana nacional, em contraste com a participação de todas as novas e velhas áreas metropolitanas na população urbana, conforme assinalado ao inicio deste ensaio. Isto pode ser visto como um indicador de que a maior parte da população total e da população urbana reside, de fato, fora destes grandes aglomerados 11 urbano-metropolitanos. Esta queda do crescimento metropolitano seria, assim, mais um sinal do que Milton Santos (1990) caracterizou como involução metropolitana, já na década de 1980. Então onde reside a maior parte da população brasileira? Em que tipo de aglomerados? Concentrados ou Dispersos? Esta pergunta é crucial para delimitar o objeto, pois dela depende a metodologia e os indicadores a serem adotados. Para responder tal questão é necessário proceder a uma breve análise crítica dos dados estatísticos no período 1991/2000. Ao nível nacional, neste período, observa-se uma queda da taxa média geométrica de crescimento nacional (Gráfico 1). Gráfico 1 - Brasil e Unidades da Federação variação da taxa geométrica de crescimento a.a 2,481,931,61 -5,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 Br as il RO AC AM RR PA AP TO MA P I CE RN PB PE AL SE BA MG E S RJ SP PR SC RS MS MT GO DF 70-80 80-91 91-00 Elaborado por Ester Limonad com base em dados dos Censos IBGE (1970/80/91 e 2000) Essa queda, todavia, não foi generalizada. Destacam-se, entre 1991 e 2000, com um crescimento acima da taxa média nacional (1,61%) o estado de São Paulo e os estados situados na região Norte e Centro-Oeste. Estas variações da taxa geométrica média de crescimento, aparentemente estariam relacionadas, em parte às diferenças das taxas de crescimento e de fecundidade regionais, à redução das taxas geométricas médias de crescimento metropolitano e às mudanças nos movimentos migratórios, ocorridas a partir dos anos 1980. As Regiões Metropolitanas instituídas na década de 1970 acompanharam a queda nas taxas geométricas de crescimento, segundo os dados dos censos do IBGE, as regiões metropolitanas de São Paulo (1,63% a.a), Porto Alegre (1,61%), Recife (1,47%) e Rio de Janeiro (1,16%) ficaram aquém da média nacional (1,63%), no período de 1991 a 2000. Por sua vez as migrações, de acordo com o censo de 1991 e 2000, apresentaram uma mudança de inflexão. Embora se tenham mantido as migrações para o estado de São Paulo, verifica-se no período um aumento das migrações de curta distância (intra-municipais), um predomínio das migrações intra-estaduais e intra-regionais e para cidades de porte médio e uma redução das migrações inter-regionais e rumo às regiões metropolitanas. (ver a respeito Baeninger, 2005). 12 De certa forma este conjunto de mudanças na dinâmica demográfica contribui para explicar, em parte, por um lado a redução da concentração da população nas regiões metropolitanas, constituídas na década de 1970, patente na queda de sua participação na população total e urbana nacional (Tabela 2). E, por outro lado, permite entender o crescimento e multiplicação das cidades médias e de pequeno porte, patente no aumento das fragmentações municipais. Segundo dados dos censos do IBGE entre 1980 e 2000 as fragmentações mostram-se intensas, particularmente, nos estados de Minas Gerais e São Paulo, no Sudeste; seguidos pelos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, no Sul; aos quais se somam o estado da Bahia e Goiás, respectivamente no Nordeste e Centro-Oeste. Coincidentemente, todos estes estados apresentam regiões metropolitanas constituídas desde a década de 1970, com exceção de Goiás. A intensificação das fragmentações municipais resultou em um crescimento e multiplicação das cidades de pequeno e médio porte, com um aumento da dispersão da população no território nacional. Tem-se, assim, uma redistribuição da população em relação ao porte dos municípios, conforme se pode observar no Gráfico 2, o que contribuiu para criar um quadro diferenciado da distribuição da população no território nacional. 0,02 2,62 0,38 16,68 0,92 16,06 2,85 14,88 5,55 10,71 4,21 4,88 18,22 2,04 0 5 10 15 20 <5 5-20 20-50 50-150 150-450 450-1.000 .+1.000 GRÁFICO 2 RIDE Distrito Federal e RMs e Selecionadas, segundo a definição legal de 2.006 - Distribuição da População nos Municípios por Classe de Tamanho em 2.000 (x 1.000) pop.RMs e RIDEs pop.fora das RMs e RIDEs % (mil) Fonte: Elaborado com Base em Dados do Censo Demográfico do IBGE de 2.000 Conforme o Gráfico 2 a maior parte da população brasileira vive em cidades de até 150 mil habitantes (50,24% da população) fora das Regiões Metropolitanas e na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal, que respondem em seu conjunto por 33,31% da população nacional. É interessante notar que enquanto nas Regiões Metropolitanas e na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal a maior parte da população encontra-se nos municípios com mais de 450 mil habitantes, fora dessas áreas ocorre o inverso com a maior parte da população distribuída em municípios com menos de 450 mil habitantes. Ainda que a um nível preliminar, os dados apresentados indicam uma tendência ao crescimento demográfico e multiplicação das cidades de pequeno e médio porte fora das regiões metropolitanas tradicionais, acompanhado por aumento da dispersão da população no território nacional, que resulta em uma intensificação da dispersão territorial da urbanização. 13 Portanto, aparentemente tal multiplicação de áreas metropolitanas e criação de Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico aponta para um aumento da dispersão da urbanização, mais do que para uma reafirmação dos processos de urbanização concentrada e de um incessante crescimento das áreas metropolitanas como inicialmente se poderia supor. 4. Urbanização extensiva e regulação ambiental, a necessidade da abordagem regional Tem-se, assim,ainda que grosseiramente a confirmação de uma hipotese levantada em um outro estudo (Limonad, 2007b) onde assinalavamos que agora encontram-se em curso dois movimentos complementares de urbanização relacionados a uma intensificação e a uma extensificação da urbanização. A intensificação da urbanização contribui para a formação de grandes aglomerações urbanas com alta densidade, onde se afirma a primazia da metrópole e da cidade concentrada e compacta por excelência. A intensificação da urbanização nas aglomerações urbanas de grande e médio porte pode ser associada à combinação de ao menos três padrões de urbanização e periferização (Harvey e Clark, 1965, p.1), considerados clássicos, que de forma sintética se caracterizariam: a) por uma expansão contínua do perímetro do marco construído, com a densificação e verticalização da aglomeração; b) pela multiplicação de periferias em anéis concêntricos, entremeados com áreas de baixa densidade e ocupação; e c) por um crescimento tentacular, que acompanha os eixos de transportes e infraestrutura. Esta intensificação da urbanização soe resultar em uma expansão da franja urbana e das áreas periféricas metropolitanas, e tende a formar ao longo do tempo macro-aglomerações urbano-metropolitanas, na perspectiva da “cidade-região global” com um núcleo forte, como São Paulo, Rio de Janeiro e Cidade do México,. A extensificação da urbanização, por sua vez, contribui para uma ocupação esparsa do território por atividades de caráter urbano, que resulta em última instância em uma urbanização em escala territorial, idéia desenvolvida por Henri Lefebvre em seu livro La Prodution de L’Espace (1974) e por Milton Santos em A Natureza do Espaço (1996). Esta extensificação pode ser associada à a) Ocupação difusa de áreas antes ocupadas por antigas pequenas propriedades ou por estabelecimentos rurais de pequeno porte, onde antes se desenvolviam atividades agrícolas, artesanais e ou extrativas, por residências e edificações direcionadas a atividades industriais e de serviços de pequeno porte – como ocorre no Veneto e na Emilia Romagna, na Itália, como mostram os trabalhos de Francesco Indovina (1990, 2005) e em menor escala na região serrana fluminense, como assinala Rainer Randolph (2005); b) Ocupação esparsa de áreas antes dedicadas exclusivamente à atividades de cunho agrário: seja por resorts turísticos internacionais – como ocorre na costa mediterrânea de Portugal e Espanha; no Algarve em Portugal; ou ainda em escala crescente no litoral norte da Bahia, no Brasil, ao longo da Costa dos Coqueiros 14 (BA-099), entre Salvador e Vila do Conde9; seja por condomínios residenciais fechados, como ocorre na periferia sul-metropolitana de Belo Horizonte10; nos campos de cerrado do planalto central brasileiro; c) a uma ocupação esparsa das áreas rurais por instalações industriais, comerciais e de serviços de grande e médio porte, decorrente das necessidades impostas pela reestruturação produtiva e pelo desenvolvimento e incorporação das tecnologias de informação e comunicação – como ocorre desde 1995 no Médio Vale do Paraíba Fluminense. Não obstante, a intensidade que a extensificação da urbanização conquistou e seu aparente ar de novidade, é interessante destacar que a proliferação de aglomerados urbanos insulares nas áreas intersticiais entre diversos aglomerados urbanos, padrão usualmente designado de Leap Frog, já havia sido assinalado por Jean Gottman, em 1961 (p. 334), ao descrever uma forma de urban sprawl, caracterizada pela ocupação de forma descontínua de algumas áreas agrícolas, ao mesmo tempo em que outras são circundadas ou deixadas intactas. Há que se destacar que embora a intensificação e a extensificação da urbanização sejam aparentemente contrapostas, há diversas indicações de ambas estarem a se desenvolver de forma complementar. É possível observar na periferia de grandes áreas metropolitanas, em países avançados ou em desenvolvimento, uma crescente tendência à dispersão através da multiplicação de núcleos e aglomerações urbanas – leap-frogging. Ambas tendem a apresentar uma expansão territorial da malha urbana. Apesar do caráter disperso e difuso11 da extensificação da urbanização ela também tende a gerar aglomerações de grande porte, que cobrem vastas extensões territoriais. Embora a extensificação da urbanização se verifique com maior intensidade e seja mais perceptível, em parte devido às transformações introduzidas pela III Revolução Industrial, há que se diferenciar os casos e situações. Pois, há que se considerar a estrutura social e fundiária pretérita e a acumulação primitiva de condições gerais (edificações, infra-estruturas, etc) resultantes das práticas espaciais que produziram o espaço social ao longo do tempo, que ao mesmo tempo em que contribuem para gerar identidades e especificidades sócio-territoriais, também propiciam a exponenciação da extensificação da urbanização no território. Dialeticamente seja através da concentração de condições gerais que permitam esta extensificação, seja através da exponenciação da intensificação da urbanização e da densidade técnica e demográfica que tendem a aumentar os custos de reprodução do capital e a transformar as, assim chamadas, economias de aglomeração em deseconomias de aglomeração, em razão da sobrecarga das infraestruturas, equipamentos e serviços. 9 como mostram os sites http://www.paraisodoslagos.com.br, http://www.costadosauipe.com.br, http://www.praiadoforte.com.br e http://www.itaririresort.com. 10 Como mostra a coletânea organizada por Heloisa Soares de Moura de Costa e colaboradores (2006) 11 A este respeito Laura Fregolent (2005, p. 14) introduz uma importante diferenciação: para a autora “a difusão constitui de fato um tendência de fundo de sistemas econômico-territoriais de sucesso e de alto rendimento, em presença de tecnologias velhas e novas, que limitam a obstrução do espaço físico e em presença de necessidades reduzidas de espaços para a agricultura enquanto a dispersão está ligada a ‘explosão’, à fragmentação da forma urbana e a aparente casualidade das novas localizações; à descontinuidade do construído emparelhada à crescente especialização espacial e crescente segregação funcional e social; ao desperdício de solo e ao consumo vistoso de preciosos e sempre escassos recursos ambientais; ao incessante incremento da mobilidade sobre rodas; ao ‘bricolage’ do planejamento urbanístico comunal no caso da cidade difusa as características distintivas entre as duas formas são co-presentes”. 15 Por outra parte, não se pode desconsiderar a intensidade da extensificação da urbanização em alguns casos em que chega a configurar uma ocupação populacional difusa de grande e médio porte em grandes extensões territoriais com interações entre as diversas aglomerações insulares, dispersas como ocorre em diversas partes da Europa e no Brasil, que tende a configurar uma região metropolitana esgarçada, ou conforme Indovina (2005) um arquipélago metropolitano. De fato o que se pode observar, nos últimos quinze anos, é uma afirmação da extensificação da urbanização em diversos lugares e com diferentes intensidades, que tem gerado preocupações entre administrações municipais, movimentos ambientalistas e políticos de diferentes matizes em razão dos impactos da crescente dispersão da urbanização sobre o território. Altera-se, assim, a organização territorial pretérita com a conformação de uma rede multipolar de núcleos urbanos, em diversos níveis e escalas, que rompe com esquemas consagrados de hierarquias urbanas. A articulação e integração das cidades não obedece mais necessariamente a uma lógica hierárquica de tamanho ou poder econômico. As especificidades sócio-territoriais construídas lentamente atravésdas práticas espaciais dos grupos sociais tornam-se um elemento diferencial, que garante um acumulo especifico de condições gerais para o desenvolvimento do capital. Os territórios convertem-se, assim, em um fator estratégico para a acumulação. O que exige novas metodologias e referências de análise que possibilitem pensar práticas de intervenção, que contemplem os diferentes interesses sociais envolvidos. A dispersão urbana, a cidade difusa, a extensificação da urbanização aparecem inicialmente como sintomas de problemas a serem combatidos em defesa do ambiente natural e no sentido de otimizar investimentos e poupar recursos financeiros de modo a garantir o desenvolvimento sustentável da cidade e, last but not least, garantir a segurança aos cidadãos. A dúvida que surge é se estas novas formas de distribuição espacial da população são problemas a ser sanados, por serem um desvio nos padrões conhecidos e consagrados de crescimento urbano, ou se trata-se de uma nova qualidade, de um novo patamar de crescimento. Estaríamos, assim, diante de um tipo diferenciado de desenvolvimento urbano? Esta de fato é uma questão crucial para escapar de práticas arraigadas e impositiva para a definição de medidas a serem tomadas para se avançar rumo a uma sociedade mais equânime. Descortinam-se algumas alternativas possíveis, a serem pensadas e desenvolvidas em estudos futuros, para de certa forma reduzir o impacto ambiental da difusão das atividades urbanas no território tais como: - a cidade lenta (slow city) que se traduz por atos simples no cotidiano e pressupõe a satisfação das necessidades cotidianas sem que se necessite realizar grandes deslocamentos, que tem levado ao incremento do uso de bicicletas e de ruas de pedestres. - a resistência ao consumismo e a acelerada troca e obsolescência de máquinas e equipamentos. - a implementação estritas de normas ambientais já existentes, cokmo por exemplo as áreas de preservação permanente (APPs) e áreas de preservação ambiental (APAs) 16 - a busca por uma urbanização mais sustentável , a despeito da carga ideológica desse termo, lembrando que uma urbanização “sustentável” não se traduz apenas por ambientes mais limpos e por uma imutabilidade dos espaços. Coloca-se, assim, a nececessidade de compatibilizar o desenvolvimento urbano com a preservação ambiental. Nessa perspectiva a escala municipal de decisão mostra-se extremamente limitada uma vez que o processo de tomada de decisão tende a ser usualmente atravessado por interesses diversos que comprometem por vezes não só os recursos naturais e o ambiente do município mas o de seus municípios vizinhos. Nesse sentido não há mais como pensar o desenvolvimento urbano limitado a escala do município, é necessária a retomada da escala regional e de planos de desenvolvimento urbano em escala regional que conciliem os interesses dos diversos municípios envolvidos e contribuam para a preservação ambiental. Enfim, tendo em mente que as atuais tendências da urbanização caminham rumo a implosão-explosão da cidade prenunciada por Lefebvre (1969); lembrando que práticas específicas para o desenvolvimento urbano e a preservação ambiental, em escala regional, não se constroem de uma hora para outra, mas geohistoricamente em contextos e condições específicas juntamente com a articulação e organização escalar dos atores envolvidos, impõe- se a necessidade de conciliar interesses hegemônicos e contra-hegemônicos através de pactos territoriais, na perspectiva do direito à cidade e à uma sociedade mais equânime. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAENINGER, R. A.. Tendências das Migrações Internas no Brasil. Ciência Hoje, v. 37, p. 34-39, 2005. BECKER, B. K. . Uma nova regionalização para pensar o Brasil. In: LIMONAD, Ester et al. (Org.). Brasil Século XXI: Por uma Nova Regionalização. São Paulo: Editora Max Limonad/CNPq, 2004, v. 1, p. 11-27. BRASIL. Constituição Federal. 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