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O lavrador de Café Cândido Portinari A CRISE DA ECONOMIA CAFEEIRA Objetivos Compreender o contexto interno e externo da crise mundial de super produção, os objetivos gerais da política econômica da primeira década republicana e os principais instrumentos de intervenção Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Contexto Internacional: Panorama internacional dos 1º anos/ décadas do século (sociedade, economia e política) Delineia-se uma nova divisão internacional de trabalho. Choques: 2 grandes guerras Crises nas relações comerciais 1917 - Revolução Bolchevique Evolução Econômica mundial Acelerado progresso tecnológico com implicações: 1º oferta cresce rapidamente 2º avanços concentram-se nos países centrais 3º na teoria econômica “oferta já não garante sua própria demanda” “Rumo ao colapso econômico mundial” Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Superprodução de café • Em 1882, a produção mundial já é maior que o consumo Produção é de 10.415 milhares de sacas enquanto o Consumo é de 10.270 Produção brasileira representa mais de 50% da produção mundial (53,5%) Ano Preço/ saca (de 60kg) 1893 4,09 libras 1896 2,91 libras 1899 1,48 libras Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara 1898 – Funding Loan indica falência do mecanismo de desvalorização cambial e inflação (ministro Murtino) 1906/fev – Convenio de Taubaté Ano Produção de café (milhares) 1897/98 7.250 1899/00 9.500 1901/02 16.270 (82% da produção mundial) 1902/03 13.000 1903/04 11.000 1904/05 10.600 1905/06 11.000 1906/07 20.000 Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara 1º Momento de crise 1896 queda brusca de preços desvalorização cambial – excessos do encilhamento (ver slides do bloco seguinte) pressão das camadas urbanas - “socialização das perdas”. Convênio de Taubaté 2º Momento da crise: Objetivo: proteger renda dos produtores, sem desvalorização cambial Premissas: a) crise passageira b) equívoco na avaliação da elasticidade da demanda Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Mecanismo da valorização do café do Convênio de Taubaté (1906) – Instrumentos da política 1. retirada dos excedentes do mercado via estoques reguladores 2. empréstimos externos pagos com imposto sobre saca exportada. 3. mecanismo de conversibilidade de moedas: taxa fixa, lastreada nos empréstimos externos 4. desincentivo a aplicação em novas plantações A u la 3 M ô n ic a Y u k ie K u w a h a ra Segundo Furtado, a natureza da crise envolvia compreendê-la como: - estrutural - e resultante de uma super produção - agravada pela não existência de alternativas de investimentos Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Crítica de Furtado ao mecanismo de Taubaté a) crise estrutural b) não existe alternativas de investimento c) impostos não passa desaparecido, tampouco estoques d) caixa conversão depende de financiamento externo A u la 3 M ô n ic a Y u k ie K u w a h a ra Síntese da crítica Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Valorização alcança seus objetivos até o momento que cessam os fluxos de capitais externos (crise). Questão não é de variação de preços externos, mas sim a dependência do setor externo. Estabelecido o panorama geral da evolução da crise, os próximos slides apresentam as políticas econômicas adotadas nas duas últimas décadas do século XIX Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Rui Barbosa X Ouro Preto Visconde de Ouro Preto Rui Barbosa OBJETIVO • Identificar as principais características de dois programas de governo que marcam a virada do século para a economia brasileira: o programa de Ouro Preto e o Encilhamento Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Presidentes Ministros da Fazenda Deodoro da Fonseca (89-91) Rui Barbosa (89-91) Floriano Peixoto (91-94) Araripe Lucena Rodrigues Alves Inocêncio Correa Felisbelo Freire Alexandre do Nascimento Prudente de Morais (94- 98) Rodrigues Alves Bernardino de Campos Campos Sales (98-1902) Joaquim D. Murtinho Rodrigues Alves (02-06) José L. Bulhões Jardim Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara A primeira década da república Na visão de Gustavo Franco (1990): 1. Reconhecida pelo debate “papelista” X “metalista” 2. Evidente necessidade de flexibilizar política monetária 3. Depreciação cambial de 1891 reforça a deterioração dos termos de troca 4. Em 1898 – plano conservador de saneamento monetário e fiscal 5. A DÉCADA PRESENCIA OS EXTREMOS DA POLÍTICA MONETÁRIA Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Quanto à política monetária Antecedentes Desde o Império, há embates entre os que buscavam uma apreciação do câmbio, para retornar ao padrão-ouro (programa do Visconde de Ouro Preto), versus os que acreditavam em um problema de falta de liquidez Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Quanto à política monetária Contexto, segundo Franco (1990, P. 17) “baixa propensão do público para reter moeda sob forma de depósitos bancários impunha uma limitação estrutural à capacidade dos bancos em expandir seus empréstimos em resposta à maior procura de moeda” Lei 1875 – permitia ao Tesouro emissões para auxiliar bancos Li de 1885 – autorizava emissões até 25 mil contos, o que representava 20% de aumento na base monetária Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Programa de Ouro Preto Objetivo: retornar ao padrão Ouro Instrumentos: criar auxílios à lavoura, estabelecendo uma compensação aos ex- proprietários de escravos na forma de um programa de concessão de crédito Em 1888 retoma-se paridade de 1846 (27pence) em função de uma situação cambial favorável e em 1889 Há um novo regulamento para a Lei Bancária que garante a conversibilidade do papel moeda emitido pelo BNB (Banco Nacional do Brasil), formado por uma associação entre um banco privado nacional (Conde Figueiredo) e um banco francês Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Resultados de Ouro Preto Com a República, papel moeda conversível em circulação (17 mil contas) era muito maior que o fundo metálico do BNB Sustentar o câmbio (apreciado) mostrou-se impossível Em 1889 Rui Barbosa termina com as emissões conversíveis e “o saldo das tentativas de reforma monetária era praticamente nulo” (FRANCO, 1990, P. 21) Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara O programa de Rui Barbosa Enfrentar a iliquidez monetária Principal medida: a Lei bancária de 1890 Incentivos à criação de novas industrias através de crédito vinculado à emissão regionalizada de moeda, lastreada em títulos Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara A Lei Bancária 17/01/1890 Permitia novas formas de moeda (constituição monetária) Emissões bancárias, inconversíveis, poderiam ser lastreadas por títulos da dívida pública Seriam formadas três regiões bancárias, com seu próprio banco emissor Emissões autorizadas até total de 450 mil contos (mais que 2x o papel moeda em circulação na época) Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara O encilhamento O incremento do meio circulante (com a regionalização da emissão) vinculado a empréstimos ao setor industrial criava incentivos para a constituição de sociedades anônimas (intenção de pulverizar K) Muitas empresas fantasmas surgem Ações/papéisnegociados perdem correspondente real Movimento especulativo com fim em si mesmo encilhamento Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Nos governos seguintes.... Set 1890 - papel moeda emitido = 289 mil Jun 1891 - papel moeda emitido = 535 mil Crescimento de 80% Crise cambial 1891 cuja expressão é a queda na taxa de cambio de 27 para 12 pence 1876 27 pence por mil reis 1883 21 pence por mil reis 1885 18 pence por mil reis 1890 24 pence por mil reis 1891 12 pence por mil reis Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Para piorar.... A falência da Casa Baring Brothers em outubro de 1890, somada às influências da moratória argentina, reduzem a entrada de Ks no Brasil e agravam a situação do câmbio Queda nos preços do café Em 1896 – funding loan entre Governo Brasileiro e Casa Rothschild Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Funding loan de 1898 Posterga o pagamento do serviço e do principal da dívida externa em troca de saneamento das contas públicas – saneamento fiscal e monetário Amortizações (pgtos do principal) suspensas por 13 anos Garantias: hipoteca sobre o ouro no RJ, contratos sobre os rendimentos das estradas de ferro (“trocáveis” por titulos de renda fixa) Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Relembrando... Ano Produção de café (milhares) 1897/98 7.250 1899/00 9.500 1901/02 16.270 (82% da produção mundial) 1902/03 13.000 1903/04 11.000 1904/05 10.600 1905/06 11.000 1906/07 20.000 1906 – Convênio de Taubaté Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 19 20 19 21 19 22 19 23 19 24 19 25 19 26 19 27 19 28 19 29 19 30 19 31 19 32 19 33 19 34 19 35 19 36 19 37 pr od uç ão e m 1 00 0t Evolução da produção de café Fonte: Estatísticas do Século XX - IBGE Os mecanismos de defesa do setor exportador e a crise de 1929 Objetivos Conhecer os principais instrumentos para a manutenção da renda agregada utilizados após a crise de 1929 Compreender a forma como se processa o deslocamento do centro dinâmico Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Os números da crise Demanda Preço da saca de café de 4,71 (29) para 1,80 (32-34), queda de 62% Em moeda nacional de 192 para 145 ou 25% Oferta Produção foi máxima em 33. 21,3 milhões de sacas entre 1925- 29 27,7 milhões entre 30-34 22,8 milhões entre 35-39 Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Que fazer? Não existem mais condições de financiamento externo. A queda da demanda, dos preços e a insuficiência dos mecanismos de Taubaté não impedem que caia a renda do produtor Alternativas? Colher? Colher e fazer o que? Estocar ou destruir? Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara De 31 a 39 um terço da produção é destruída. Porquê? A Renda do Brasil basicamente gerada em 02 setores: Exportador e atividades por ele influenciados. Autônomo – do comércio exterior ou de subsistência. Hipóteses – setor de subsistência representa 40% da renda e efeito multiplicador das exportações é de 2. O que foi feito Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara X Setor Influenciado Setor Autônomo Renda Agrega- da Total A 20 40 40 100 B 10 20 40 70 C 12 24 40 76 D 7,5 15 40 62,5 Da situação A para B Quantidade é a mesma, mas preço cai pela metade. O multiplicador do desemprego leva a uma queda de 30% na renda agregada. A lt er n at iv a Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara X Setor Influenciado Setor Autônomo Renda Agrega- da Total A 20 40 40 100 B 10 20 40 70 C 12 24 40 76 D 7,5 15 40 62,5 Da situação A para D Quantidade é reduzida em 25%. Não há aumento do preço e cai a receita metade. O multiplicador do desemprego leva a uma queda de 37,5% na renda agregada. A lt er n at iv a Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara X Setor Influenciado Setor Autônomo Renda Agrega- da Total A 20 40 40 100 B 10 20 40 70 C 12 24 40 76 D 7,5 15 40 62,5 Da situação A para C Quantidade aumenta 20% O multiplicador do desemprego leva a uma queda de apenas 24% na renda agregada. A lt er n at iv a Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara “ Ao evitar-se uma contração de grandes proporções na renda monetária do setor exportador, reduziam-se proporcionalmente os efeitos do multiplicador do desemprego sobre demais setores da economia” Celso Furtado Análise: Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Resultado: Em 33 recomeça o crescimento da renda nacional no Brasil enquanto nos EUA isso se acontece em 34. Ou seja: FURTADO CLASSICO: Recuperação é resultado da política de fomento que era um subproduto da defesa dos interesses cafeeiros que mantém a procura efetiva e o nível de emprego nos outros setores da economia. Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Essa forma de recuperação, o que significou? DESLOCAMENTO DO CENTRO DINÂMICO Como? Política cafeeira manteve o nível de procura efetiva e o nível de emprego Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Reflexões (1) Estoques de café financiados com empréstimos externos evitavam o desequilíbrio no balanço de pagamentos Então, a expansão das importações induzida pela inversão em estoques não pode ser maior que o valor que o valor dos estoques Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Reflexões (2) A expansão das importações deve ser proporcionalmente menor para que não haja desequilíbrio no balanço de pagamentos No caso do financiamento dos estoques por expansão monetária, os efeitos são diferentes, pois se cria moeda com queda no poder aquisitivo externo Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Se não há financiamento... Parte das compras são financiadas com expansão da base monetária Expansão diminui poder de compra externo da moeda Para manter o equilíbrio deve-se reduzir o coeficiente de importações Para reduzir o coeficiente, é preciso reduzir o poder de compra externo da moeda Gerando DESEQUILÍBRIO INTERNO Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Que desequilíbrio é este? Poder de compra externo caiu mais que o externo Se cai o coeficiente de importações, para onde vai a renda que antes era destinada às importações? Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara “ao manter-se a procura interna com maior firmeza que a externa, o setor que produzia para o mercado interno passa a oferecer melhores oportunidades de inversão que o setor exportador” (Furtado, p. 197) IMPORTÂNCIA DO MERCADO INTERNO NA FORMAÇÃO DE CAPITAL Atraíam capitais porque lucros eram maiores Recebe novos impulsos dos capitais desinvertidos do setor exportador Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Porém, Um maior impulso para o mercado interno dependeria da importação de equipamentos para a industrialização A existência de restrições externas a estas importações leva A um crescimento do mercado interno decorrente da ocupação de capacidade ociosa Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara O crescimentodo mercado interno Aumenta a pressão por bens de capital importados Porém, a capacidade de importação não aumenta A produção industrial cresce 50% entre 29-37 e a produção primária para mercado interno 40%. Renda Nacional aumenta 20% enquanto nos EUA a renda per capita cai, no Brasil cresce 7% Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Por que comportamento atípico Reflexo da crise e da forma como foi enfrentada no Brasil A defesa, consciente ou não, dos interesses cafeeiros através da política fiscal expansionista manteve a procura monetária em nível elevado no setor exportador. A existência de capacidade ociosa na indústria permitiu atender algumas das exigências do mercado interno e a existência de algumas industrias de bens de capital explica que a produção industrial passe a ser o fator dinâmico no processo de criação de renda Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara Política Fiscal expansionista, mantendo o nível de renda monetária Restrição às importações, com o aumento de preços relativos dos importados Existência de capacidade ociosa na economia PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES LEITURAS ABREU, M. P. “Crise, crescimento e Modernização Autoritária: 1930-1945” in ABREU, M.P A ordem do Progresso. Rio de Janeiro: Campus, 1990. ABREU, M (org) “Anexo” in ABREU, M.P A ordem do Progresso. Rio de Janeiro: Campus, 1990. FRANCO, G.H.B. A primeira década republicana. In ABREU, M.P. A ordem do progresso. Rio de Janeiro: Campus, 1990. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22 ed. São Paulo: Cia Ed Nacional, 1987. Especialmente capítulos XXVIII a XXXV Aula 3 Mônica Yukie Kuwahara