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XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 1 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 ENSINO DE FÍSICA ONDULATÓRIA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO1 Jéssica Caroline Santos da Páscoa1, Adriana Gomes Dickman2, Amauri Carlos Ferreira2 1 Curso de Licenciatura em Física, 2 Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais / jessica.pascoa@sga.pucminas.br /adickman@pucminas.br /mitolog@pucminas.br Resumo A presença de alunos com necessidades educativas especiais nos bancos escolares brasileiros é crescente nos últimos dez anos. É compreensível que estudantes com deficiência visual apresentem dificuldades com a sistemática do ensino de Física, visto que o mesmo fundamenta-se, em boa parte, em referenciais funcionais visuais. Para toda e qualquer atividade que se realiza no ambiente escolar, o sentido da visão é de grande importância para as anotações no caderno, anotações feitas em lousa, utilização do livro didático, utilização de gráficos, desenhos e figuras, entre outras atividades. Diante disso, faz-se necessário o desenvolvimento de novas metodologias para a inclusão de alunos com deficiência visual nas aulas de Física. O enfoque deste trabalho é a proposição de um material didático que auxilie na compreensão dos conteúdos de física ondulatória, mais especificamente as propriedades das ondas na superfície de um líquido e o experimento de Young. A proposta consiste em um trabalho em conjunto, entre o professor e o aluno com deficiência visual, utilizando como ferramenta didática a massinha de modelar. Trata-se de um material simples, de baixo custo e de fácil aquisição, além de suas qualidades táteis, de fácil manipulação e modelagem, oferecendo uma estimulação tátil-sensorial que potencializa o aprendizado dos alunos cegos. Palavras-chave: Ensino de física, deficiência visual, material didático, física ondulatória, massinha de modelar. Introdução A presença de alunos com necessidades educativas especiais nos bancos escolares brasileiros é crescente nos últimos dez anos, fato que reflete os efeitos da definição de legislações, parâmetros e diretrizes para a educação especial nacional (BRASIL, 1996, 1998, 2001), bem como, dos movimentos e manifestos de organizações internacionais de pessoas com deficiências (UNESCO, 1994). Embora a referida presença não garanta a inclusão desses alunos, sem ela, consolidam-se padrões e normas de uma sociedade excludente. A crise que se estabelece devido ao fato de alunos com deficiências frequentarem a escola regular, é muito bem vinda, pois, questiona e movimenta práticas educacionais consolidadas e converge o interesse investigativo para as dificuldades oriundas da nova realidade social da escola. (CAMARGO; NARDI, 2008) Nos dias atuais, o atendimento das 1 Trabalho financiado pela FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 2 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 diferentes necessidades educacionais dos alunos apresenta-se como o desafio mais importante que o professor deve enfrentar (RODRIGUES, 2003). Por isto, a constatação da crise não é suficiente, na medida em que o contexto escolar necessita de modificações em suas estruturas física, metodológica, atitudinal, e os professores necessitam de formação inicial e continuada a fim de tornarem-se aptos ao exercício da docência em ambientes inclusivos. (CAMARGO; NARDI, 2008). Como indica Moreira (2003), faz-se necessário que o professor utilize novos procedimentos didáticos, que reflitam de forma crítica sobre sua ação, superando os perigos da concepção baseada na deficiência como algo que limita ou impossibilita. É compreensível que estudantes com deficiência visual apresentem dificuldades com a sistemática do ensino de Física, visto que o mesmo fundamenta- se, em boa parte, em referenciais funcionais visuais (CAMARGO; SILVA, 2003). Apesar de os outros sentidos serem importantes para todos os indivíduos, o sentido da visão parece ser pré-requisito para toda e qualquer atividade que se realiza no ambiente escolar (CAMARGO; SCALVI, BRAGA, 2001). Anotações no caderno, utilização da lousa por parte do professor para realização de tarefas como transcrição de textos ou explicações de exercícios, provas escritas, medições, entre outras, sentenciam o aluno com deficiência visual ao fracasso escolar e a não socialização (MANTOAN, 2002). Alguns conteúdos exigem um acompanhamento especial com o uso de experimentos e maquetes. Existem trabalhos publicados com sugestões de materiais didáticos que auxiliam no processo de aprendizagem, como Medeiros et al. (2007) que sugerem a confecção de uma maquete tátil para mostrar associações de resistores em série e paralelo aos alunos cegos. Outros autores também sugerem a experimentação através de materiais táteis (BARROS; MARTELLI; SANTOS, 2003; CAMARGO; SILVA, 2003; 2004; COSTA-PINTO et al, 2005; CAMARGO; NARDI, 2007). Em relação ao conteúdo de Física, o aprendizado das pessoas cegas está aquém ao que é exigido. A ausência de material didático para um bom desenvolvimento do processo de aprendizagem tem sido a reivindicação maior. (DICKMAN; FERREIRA, 2008) É essencial que os professores, entendendo os diversos graus de deficiência visual, se conscientizem da importância da elaboração de materiais e práticas educativas que contemplem e incluam os alunos com deficiência visual nas aulas. Considerando o papel central dos recursos didáticos na educação, é inevitável que a carência de material adequado reduza a aprendizagem da criança deficiente visual a um mero verbalismo, desvinculado da sua realidade. Nesse sentido esse trabalho busca a otimização das aulas de física ondulatória para alunos com deficiência visual utilizando como ferramenta didática a experimentação por meio de materiais táteis. Trata-se de uma proposta que consiste em um plano de ensino-aprendizagem acerca da propagação, reflexão, difração e interferência das ondas em uma superfície líquida e da experiência de Young. Fundamentação Teórica Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) discutem sobre a necessidade de novas práticas que proporcionem uma educação para todos. Nesse aspecto é discutida a importância de adotar-se um currículo aberto e propostas XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 3 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 curriculares diversificadas, em lugar de uma única concepção. Diante disso, a diversidade didática do professor se faz necessária para que alunos com necessidades especiais de aprendizado possam, conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases, estar, preferencialmente, na rede pública de Ensino. (BRASIL, 1996) Para alunos com deficiência visual, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) informam que adaptações curriculares e didáticas devem ser feitas segundo as necessidades dos alunos com deficiência, sugerindo que os textos sejam transcritos para o Braille e que, quando possível, haja ilustrações táteis para melhorar a compreensão dos alunos. Para garantir, não apenas a permanência, mas também o aprendizado, muitos autores têm pesquisado sobre o Ensino de Ciências para alunos com deficiência visual, questionando o papel do professor e as metodologias utilizadas, a fim deestabelecerem alternativas para que o aluno aprenda os conceitos ministrados em sala de aula. Camargo e Silva (2003), Dickman e Ferreira (2008) concordam que a maior dificuldade encontrada por alunos com deficiência visual para o aprendizado de Ciências, como Química e Física, está na utilização de referenciais funcionais visuais adotados constantemente pelos docentes. Além disso, Dickman e Ferreira (2008) também discutem a formação dos professores nos cursos de licenciaturas, que em muitos casos, preparam os futuros docentes apenas para ensinar a alunos que não possuem necessidades educativas especiais. Camargo, Nardi e Veraszto (2008) analisam as dificuldades que futuros professores encontram no contexto da comunicação, discorrendo sobre possíveis alternativas para que os alunos com deficiência visual sejam incluídos em aulas de Ciências. Muitos autores, como Camargo e Silva (2003), Camargo, Nardi e Veraszto (2008), Silva, Dickman e Ferreira (2011), defendem como alternativa para o ensino de Ciências, a experimentação dos fenômenos e a materialização das figuras, o que proporcionaria benefícios aos alunos com deficiência visual, que, através do tato e de estímulos sensoriais, poderiam compreender melhor os conteúdos ministrados. Como discutido nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), ao pensar a implementação da educação inclusiva há que se contemplar que saber deve possuir o docente (CARVALHO; GIL-PEREZ, 1994). Teoricamente, este professor deveria estar preparado para planejar e conduzir atividades de ensino que atendam às especificidades educacionais dos alunos com e sem deficiências, o que implica dizer que sua prática deve dar conta de atender as múltiplas formas de interação entre os participantes das atividades e os fenômenos estudados. (CAMARGO, 2010) Na lógica da inclusão, as diferenças individuais são reconhecidas e aceitas e constituem a base para a construção de uma inovadora abordagem pedagógica. Nessa nova abordagem, não há mais lugar para exclusões ou segregações, e todos os alunos, com e sem deficiências, participam efetivamente (RODRIGUES, 2003). A participação efetiva é entendida em razão da constituição de uma dada atividade escolar que dá ao aluno com deficiência, plenas condições de atuação. A participação efetiva pode, portanto, servir como parâmetro sobre a ocorrência ou não de inclusão, além de explicitar as reais necessidades educacionais do aluno com deficiência. Busca-se, então, contribuir com a construção de uma prática de ensino de Física que contemple as especificidades sensoriais e educacionais de XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 4 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 alunos com deficiência visual. (CAMARGO, 2010) Segundo Camargo (2005) para que uma aula para alunos com deficiência visual possa ser considerada inclusiva, algumas condições devem ser observadas: Desmistificar a ideia de que o conhecer depende do ver; Consequentemente, valorizar a ideia do “conhecer sem ver”: neste sentido torna-se necessária a contribuição dos outros sentidos; Considerar as experiências prévias dos alunos, para que ocorra a aprendizagem significativa; Oferecer ao aluno condições de observar o fenômeno e de aprender fazendo. Metodologia Ensinar Ciências para um aluno cego exige dos professores uma busca constante por atividades que explorem o tato, pois em muitos casos, a dificuldade de aprendizagem está relacionada à falta de estímulo sensorial. Portanto, nossa proposta consiste em materializar as figuras relacionadas ao tópico Ondas na superfície de um líquido do livro: Curso de Física (ALVARENGA; MÁXIMO, 2000), aprovado pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM 2012) e utilizado na rede estadual de ensino de Minas Gerais. O enfoque deste trabalho é a proposição de um material didático que auxilie na compreensão dos conteúdos de física ondulatória, mais especificamente as propriedades das ondas na superfície de um líquido e o experimento de Young. A proposta consiste em um trabalho em conjunto, entre o professor e o aluno com deficiência visual, utilizando como ferramenta didática a massinha de modelar. Neste curso específico, a massinha para modelar será utilizada como ferramenta de substituição da imagem e ou figura do livro didático. A escolha da massinha de modelar se baseou nas suas qualidades táteis, por ser de fácil manipulação e modelagem. Já que, ao desenvolver um experimento, maquete ou recursos didáticos diversos para estudantes cegos é importante que estes possuam estímulos táteis. Portanto, o material deve apresentar texturas e tamanhos adequados, e ser agradável ao tato. As dimensões e o tamanho devem ser observados, considerando que objetos pequenos demais se perdem com facilidade e que grandes demais prejudicam a compreensão do todo. O relevo deve ser facilmente percebido pelo tato e com variadas texturas para melhor destacar as partes componentes do todo. Contrastes do tipo liso/áspero, fino/espesso contribuem para o aprendizado do aluno e são excelentes estimuladores táteis. O material não deve provocar rejeição ao manuseio e ser resistente à exploração tátil. É de grande importância, a mobilização do professor em construir o material tátil, em conjunto aos alunos. Consideramos também, que a formação de conceitos se dá através da interação entre o sujeito e o objeto, que no caso de alunos com deficiência visual ocorre pelo contato com o material tátil. Através dessa interação com o objeto, o aluno com deficiência visual desenvolverá ainda mais a percepção tátil, facilitando a discriminação de detalhes e suscitando a realização de movimentos delicados com os dedos. Para a implementação da proposta são necessários massa de modelar e filetes de madeira de tamanhos diversos. Na figura 1 são mostradas as representações da propagação de uma onda na superfície de um líquido. O professor, ao montar junto com os alunos a representação das ondas em duas dimensões pode trabalhar os conceitos de comprimento de onda, frequência e XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 5 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 introduzir a ideia de raios da onda, ou seja, retas indicando as direções de propagação. Figura 1. Representações de pulsos retos e circulares. Fonte: Fotos do autor. A representação da reflexão de uma onda em uma barreira é mostrada na figura 2. Nesta situação, o professor pode explorar a relação entre materiais refletores e não refletores, e em quais condições ocorre a reflexão de uma onda, caracterizada pelo ângulo de incidência igual ao de reflexão. Com este material, vários ângulos podem ser representados. A mesma representação pode ser utilizada para discutir a refração de uma onda quando uma onda passa a se propagar em uma região com velocidade diferente da anterior. Novamente, vários ângulos podem ser utilizados para trabalhar a lei de refração (Lei de Snell). Figura 2. Reflexão de uma onda. Fonte: Fotos do autor. A representação da difração de uma onda na superfície de um líquido, figura 3, pode auxiliar na compreensão de características do fenômeno, como a mudança dos pulsos retos em circulares, após a barreira. Pode-se também variar o tamanho do orifício ou do comprimento de onda, e discutir as suas consequências. Figura 3. Esquema de difração de uma onda ao atravessar um orifício. Quando uma onda encontra um obstáculo, ela o contorna, isto é, sua propagação deixa de ser retilínea. Fonte: Fotos do autor. Na sequência discute-se a interferência de duas ondas na superfície de um líquido. Baseadona representação da figura de interferência, figura 4, pode-se mostrar as condições para que as duas ondas estejam em fase, e as superposições XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 6 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 construtiva e destrutiva por meio da soma de cristas com vales, cristas com cristas ou vales com vales. Figura 4. Interferência produzida pela superposição de duas ondas em fase se propagando na superfície de um líquido. Fonte: Fotos do autor. A partir dos conceitos trabalhados anteriormente é possível discutir a experiência de Young, cuja representação é mostrada na figura 5. O professor pode explorar o contexto de ondas na superfície de um líquido e interligar com o fenômeno da interferência da luz. Figura 5. Esquema da montagem com a qual Young obteve a interferência com a luz. Fonte: Fotos do autor. A montagem das representações da propagação, reflexão, difração e interferência das ondas em uma superfície líquida e da experiência de Young, foram realizadas com a modelagem permitida pela massinha de modelar. Por meio dos modelos materializados é possível explicar os conceitos de física ondulatória, tais como: comprimento de onda, pulso, crista, vale, entre outros, além dos conceitos da reflexão, difração, etc. Considerações Finais O Ensino de Ciências para alunos com deficiência visual enfrenta grandes dificuldades devidas principalmente à falta de recursos didáticos adequados; ausência de experiências que possuam estímulos tátil-sensoriais para alunos cegos e muitas vezes, o despreparo dos professores que, por não conhecerem as limitações e possibilidades que a deficiência acarreta ao aluno, não modificam suas aulas, baseando-as em referencias visuais. De acordo com a literatura percebe-se que o desenvolvimento de aparatos táteis e novas metodologias que auxiliem no ensino de diversos conteúdos da física são indispensáveis para aprendizagem dos alunos com deficiências visuais. Este trabalho é uma pequena contribuição para que as aulas de física ondulatória possam incluir alunos com deficiência visual, potencializando, através da estimulação tátil, a compreensão de termos científicos necessários para aprendizagem. O próximo passo da pesquisa é preparar uma aula sobre física XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 7 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 ondulatória utilizando o material desenvolvido com alunos cegos e elaborar instrumentos para verificar a assimilação do conteúdo pelos alunos. Referências ALVARENGA, B., MÁXIMO, A. Curso de Física. Vol.II. São Paulo: Scipione, 2000. 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