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193 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 Cynthia Kaufmann Centro Universitário Anhanguera unidade Leme ninamelkaufmann@yahoo.com.br Rafael Correa Neves Centro Universitário Anhanguera unidade Leme rafaneves@hotmail.com Josiane C. Albertini Habermann Centro Universitário Anhanguera unidade Leme josiane.habermann@aesapar.com DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS RESUMO A doença do trato urinário inferior dos felinos acomete frequentemente os gatos domésticos e sua etiologia pode ser multifatorial, complexa e muitas vezes indeterminada. Esses distúrbios são caracterizados por um ou mais dos seguintes sinais clínicos: hematúria, disúria-estrangúria e polaciúria com ou sem obstrução uretral parcial ou completa. O diagnóstico se baseia na história clínica, anamnese, exame físico e exames complementares. A importância do tratamento em gatos não obstruídos vai depender dos sinais clínicos que eles apresentarem. Quando há interrupção do fluxo urinário as condutas terapêuticas são de caráter emergencial. A obstrução total quando não aliviada a morte ocorre em setenta e duas horas. Se o tratamento terapêutico não obtiver êxito e a obstrução uretral apresentar agravamento por estreitamento permanente na uretra o tratamento cirúrgico é indicado. Palavras-Chave: trato urinário; gatos; obstrução; tratamento. ABSTRACT The feline lower urinary tract disease of the felines frequently attacks the domestic cats and his/her aetiology can be multifactorial, complex and a lot of times uncertain. Those disturbances are characterized by one or more of the following clinical signs: hematuria, dysuria-stranguria and pollakiuria with or without obstruction partial urethral or it completes. The diagnosis bases at the historical clinic, anamnesis, physical exam and complemental exams. The importance of the treatment in cats no obstructed will depend on the clinical signs that they to present. When there is interruption of the urinary flow the conducts therapeutics are of character emergency. The total obstruction when no relieved the death happens in seventy two hours. If the therapeutic treatment doesn’t obtain success and the obstruction urethral to present aggravation for permanent narrowing in the urethra the surgical treatment it is indicated. Keywords: urinary tract; cats; obstruction; treatment. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 8/4/2010 Avaliado em: 20/5/2011 Publicação: 25 de agosto de 2011 194 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 1. INTRODUÇÃO Os gatos domésticos são frequentemente acometidos pela doença do trato urinário inferior, e esse distúrbio é caracterizado por um ou mais dos seguintes sinais clínicos: hematúria, disúria-estrangúria e polaciúria, com ou sem obstrução uretral parcial ou completa (GRAUER, 2001; JUNIOR; HAGIWARA, 2004). São chamados fatores de risco algumas condições que podem aumentar a incidência da doença urinária inferior nos felinos, quais sejam: a idade, o sexo e o estado reprodutivo. O aparecimento da doença em gatos com menos de um ano de idade é raro, sendo mais frequente em animais entre 2 e 6 anos de idade e prevalecendo nos meses de inverno e primavera. Com relação ao sexo, os sintomas nos machos geralmente são mais graves, devido à obstrução uretral que ocorre quase que exclusivamente nesses animais, devido à sua anatomia uretral; se a obstrução não for tratada, a morte ocorre em 72 horas com azotemia, distensão vesical e cistite hemorrágica. As fêmeas parecem ser igualmente acometidas, porém na forma não-obstrutiva. Tanto em machos quanto em fêmeas que estiverem sendo afetados por essa forma não-obstrutiva da doença, ela pode regredir espontaneamente em 5 a 8 dias. A castração também é um fator de risco, tanto em fêmeas quanto em machos, já que, na maioria dos casos, leva à obesidade e, como consequência, à diminuição da atividade física, o que predispõe à doença do trato urinário inferior (JUNIOR; HAGIWARA; MAMIZUKA, 1998; WOUTERS et al., 1998; BALBINOT et al., 2006). Outros fatores que contribuem para o aparecimento dessa doença são citados por outros autores e podem atuar de forma isolada ou múltipla, como: fatores dietéticos, pH alcalino da urina, sedentarismo, confinamento, diminuição do consumo de água e o estresse (TAREVNIC; PINTO, 1998). Os gatos que ingerem pouca quantidade de água ao dia e os que convivem com outros felinos apresentam maiores chances de apresentarem a doença. Também foi encontrado maior risco de adquiri-la em felinos que se alimentam de ração seca industrializada (BALBINOT et al., 2006). O estresse parece estar relacionado com as recidivas da doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), que são frequentes; independentemente da terapia e da recuperação, acontecem uma ou mais recidivas, principalmente nos seis primeiros meses após o primeiro episódio (JUNIOR; HAGIWARA, 2004). O objetivo do presente trabalho é descrever uma revisão bibliográfica da DTUIF, por ser uma doença de grande incidência entres os felinos domésticos, de etiologia Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 195 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 multifatorial, e que é tratada com condutas terapêuticas de caráter emergencial quando há interrupção do fluxo urinário. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Anatomia e fisiologia do trato urinário inferior dos felinos O trato urinário inferior dos felinos é composto pela vesícula urinária e pela uretra (Figura 1). A vesícula urinária é um órgão muscular oco, distensível de estocagem, e seu tamanho varia dependendo da quantidade de urina que contém num determinado momento. Ela é constituída de três porções: o ápice, que é a parte cranial; o corpo, que se localiza entre o ápice e o colo; e o colo, que está localizado entre as junções ureterovesical e vesicouretral (ALVES, 2006; DYCE; SACK; WENSING, 1997; REECE, 1996). A uretra é a continuação caudal do colo da bexiga e transporta a urina da bexiga para o meio externo. O esfíncter externo localiza-se caudalmente ao colo da vesícula urinária e é composto por uma musculatura esquelética que circunda a uretra. Esse esfíncter representa o limite funcional entre a vesícula urinária e a uretra (REECE, 1996). (Fonte: REECE, 1996). Figura 1. Junção ureterovesical (entrada do ureter na vesícula urinária). A - O ureter passa obliquamente através da parede da vesícula. B. O ureter é ocluído quando a pressão da urina acumulada aumenta (seta). A prevenção do escape de urina enquanto a vesícula urinária está repleta é fornecida pela contração do esfíncter externo e pela tensão passiva exercida pelos elementos elásticos do interior da mucosa. Quando a urina é expelida da vesícula, o esfíncter externo relaxa, e a musculatura da vesícula se contrai. Essa contração força a urina para o interior da uretra, mas também dilata a sua porção inicial devido ao arranjo das fibras musculares (REECE, 1996). 196 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 A uretra dos gatos machos é dividida anatomicamente em quatro segmentos: uretra pré-prostática, uretra prostática, uretra pós-prostática e uretrapeniana (ALVES, 2006). Tanto o ápice quanto o corpo vesicais são constituídos de musculatura lisa, formando, assim, o músculo detrusor, que é responsável pelo esvaziamento vesical. A musculatura lisa localizada no colo vesical e na uretra pré-prostática forma o esfíncter uretral interno e, para formar o esfíncter uretral externo, o músculo uretrális envolve a uretra pós-prostática. A uretra prostática é a região de transição entre os dois esfíncteres (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). A resistência ao fluxo urinário é efetuada pela musculatura lisa da uretra pré- prostática, pela musculatura lisa estriada da uretra prostática e pela musculatura estriada da uretra pós-prostática e peniana. Para que ocorra a eliminação normal da urina, há necessidade do relaxamento do esfíncter uretral externo e interno e da contração do músculo detrusor (ALVES, 2006). O nervo hipogástrico, originado dos segmentos da medula espinhal entre as vértebras L1 e L4, é a inervação simpática da vesícula urinária e da uretra. A inervação parassimpática colinérgica é realizada pelo nervo pélvico, que emerge das raízes nervosas entre os segmentos das vértebras S1 e S3. Esse nervo pélvico atua sobre o músculo detrusor estimulando a contração vesical. O nervo que é responsável pela inervação somática da uretra e pela inervação do esfíncter uretral externo é o nervo pudendo, que é originado das raízes nervosas entre S1 e S3 (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). O armazenamento da urina ocorre pelo relaxamento do músculo detrusor, devido ao aumento da atividade β-adrenérgica. O esfíncter uretral interno simultaneamente mantém a continência pela influência α-adrenérgica. O esfíncter uretral externo faz resistência ao fluxo urinário pela ação do nervo pudendo (ALVES, 2006). Quando a vesícula alcança um grau de distensão, impulsos parassimpáticos são iniciados e inibem as atividades simpáticas. Consequentemente, o músculo detrusor se contrai, e a vesícula esvazia pelo relaxamento uretral e do colo vesical. Então a micção é controlada pela inervação parassimpática (ALVES, 2006). Um aspecto importante é a neurofisiologia na diferenciação entre causas obstrutivas e patológicas que atingem o sistema nervoso, como traumas nas vértebras lombossacrais e dissinergismo reflexo, que é a contração do músculo detrusor e o não relaxamento da uretra, impedindo o esvaziamento vesical (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 197 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 2.2. Etiologia e patogenia A etiologia das doenças do trato urinário inferior dos felinos pode ser multifatorial, complexa e muitas vezes indeterminada. Alguns estudos têm sido desenvolvidos na tentativa de descobrir possíveis etiologias, mas a maioria desses estudos é limitada, porque considera a doença do trato urinário como um todo, e não analisando cada uma de suas possíveis causas, já que é muito difícil identificar a etiologia que está levando à apresentação dos sinais clínicos (JUNIOR; HAGIWARA, 2004; BALBINOT et al., 2006). A DTUIF pode ocorrer em associação com urólitos, microcálculos ou cristais que causam a irritação do epitélio das vias urinárias. Para que haja formação de cristais, é necessário que ocorra concentração elevada na urina de substâncias formadoras de urólitos, pH favorável e permanência dessas substâncias por tempo suficiente no trato urinário. E isso ocorre devido ao próprio hábito do felino de ingerir pouca quantidade de água, formando, assim, um pequeno volume urinário diário, e levando-o a urinar em média uma vez ao dia (BALBINOT et al., 2006; LAZZAROTTO, 2001). Já os plugs uretrais geralmente são compostos por grandes quantidades de matriz orgânica, associadas a minerais, ou por tecidos, sangue ou células inflamatórias. São raramente compostos primariamente, por agregados minerais (BALBINOT et al., 2006). Uma causa muito comum de afecção do trato urinário sem obstrução é a cistite idiopática, que atinge gatos, em sua maioria, que consomem exclusivamente alimentos secos. Essa síndrome é caracterizada por polaciúria e noctúria; a urina é estéril, e a análise do sedimento não revela nenhum sinal de malignidade (BALBINOT et al., 2006). Os cristais de estruvita (Figura 2) são as principais causas de afecções do trato urinário inferior dos felinos, e a formação e o desenvolvimento desses cristais parecem ocorrer por meio de três mecanismos: o primeiro, com os cristais de estruvita estéreis, ocorre devido à queda no volume e ao aumento da densidade específica urinária, secundários à baixa ingestão de água e ao consumo excessivo de alimento, resultando em obesidade e alta excreção de minerais, alguns calculogênicos, pela urina. Para o segundo mecanismo, com os cristais de estruvita induzidos por infecções, a principal hipótese é a urease microbiana, em que ocorre a hidrólise da ureia, e isso leva à alcalinização da urina, gerando uma grande quantidade de íons fosfato e amônio, que fazem parte da composição dos cristais de estruvita. Com relação ao terceiro mecanismo, que está ligado aos tampões uretrais, sugere-se que ele seja resultado da associação dos cristais de estruvita estéreis e dos induzidos por infecções. Este mecanismo é uma das causas mais comuns de obstrução uretral em gatos (LAZZAROTTO, 2001). 198 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 (Fonte: www.hospitalveterinario.pt/.../). Acesso em: 9 jun. 2009. Figura 2. Sedimento urinário mostrando cristais de estruvita. Os fatores alimentares podem ter participação na formação dos cristais e dos urólitos de estruvita, devido à grande ingestão dietética de magnésio. O conteúdo de magnésio está relacionado com o conteúdo total de cinzas presente nos alimentos secos, semiúmidos, mas não nos alimentos enlatados. Alimentos com baixos teores de cinzas e alto conteúdo de magnésio na dieta podem promover o aparecimento de cristalúria. Outro fator negativo dos alimentos secos é que eles contêm alto teor de fibras e são menos digeríveis, resultando, assim, em um aumento na ingestão total de magnésio e propiciando também um maior volume fecal e maior perda de água fecal, o que pode reduzir o volume de urina. Essa redução, por sua vez, eleva a concentração de magnésio e outras substâncias calculogênicas na urina, aumentando o tempo de permanência dessas substâncias no trato urinário (GRAUER, 2001; TAREVNIC; PINTO, 1998). Outro fator muito importante na patogenia da cristalúria por estruvita é o pH da urina, pois a estruvita é muito mais solúvel em urina com pH 6,4 do que com pH 7,7. Então, se o cloreto de magnésio da dieta for utilizado para acidificar a urina, as concentrações de magnésio serão altas, mas sem a ocorrência de cristalúria e inflamação da bexiga. Por outro lado, se o óxido de magnésio ou sulfato de magnésio forem adicionados à dieta, ocorrerá de forma rápida a alcalinização da urina, cristalúria e inflamação. As rações comuns para gatos geralmente produzem aumento pós-prandial no pH da urina; já os gatos alimentados à vontade com rações comuns têm menos flutuações no pH urinário, e o valor médio diário do pH urinário é mais elevado do que o dos gatos alimentados em horários definidos. As rações secas industrializadas têm em sua formulação cereais, e as dietas ricas em cereais e vegetais tendem a formar uma urina alcalina; em contrapartida, as dietas ricas em proteínas de origem animal tendem a produzir uma urina ácida (GRAUER, 2001; JUNIOR; HAGIWARA; MAMIZUCA, 1998). A mucoproteína de Tamm-Horsfall, que ésecretada pelos túbulos renais, é a mais importante mucoproteína encontrada nos urólitos de estruvita dos felinos. E ela também pode participar na patogenia dos tampões uretrais (GRAUER, 2001). Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 199 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 A obstrução uretral é a mais comum nos machos felinos, devido ao comprimento e ao diâmetro da uretra. A maioria das obstruções é causada por tampões de muco e estruvita, que se alojam na uretra peniana. Os urólitos podem alojar-se em qualquer porção da uretra. As inflamações locais que ocorrem devido aos cálculos uretrais ou tampões podem piorar a obstrução, causando edema uretral. Traumas iatrogênicos, causados em sua maioria por cateterização uretral, também podem causar uretrites ou inflamação do tecido periuretral, provocando compressão da uretra (GRAUER, 2001). A presença de bactérias no trato urinário em gatos com DTUIF é rara, e esse fato pode estar relacionado com os mecanismos locais de defesa, que são altamente efetivos. Portanto, a perda de um ou mais desses mecanismos pode predispor o gato à cistite bacteriana. Em um estudo realizado em felinos que apresentavam DTUIF, apenas 8% deles apresentavam crescimento bacteriano, e os agentes isolados foram: Pasteurella spp, Klebsiella spp, Staphylococcus spp e Escherichia coli (JUNIOR, 2005). Outros tipos de urólitos podem causar sinais clínicos da DTUIF, que são o oxalato de cálcio (Figura 3) e os urólitos de urato. De acordo com os resultados de um estudo, os gatos Burmês, Persa, Himalaia e os gatos machos castrados são os que apresentam maior risco de desenvolver urolitíase por oxalato de cálcio (GRAUER, 2001). Fonte: (http://www6.ufrgs.br/favet/lacvet/urina_cristais.htm). Acesso em: 09 jun. 2009. Figura 2. Cristais de oxalato de cálcio. Atualmente, há evidências de que o estresse pode contribuir para o desenvolvimento dos sinais clínicos de DTUIF, porém, é difícil provar essa hipótese. Mesmo assim, é comum os proprietários relatarem que mudanças bruscas de manejos ambientais, viagens, introdução de novos animais ou mesmo de moradores na propriedade, participação em exposições e até mudanças climáticas podem ser consideradas situações estressantes para alguns gatos (GRAUER, 2001; JUNIOR; HAGIWARA, 2004). Segundo Junior e Hagiwara (2004), o sistema nervoso simpático (SNS), em condições normais, não participaria da excitação de fibras nervosas sensoriais; no entanto, 200 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 a observação do aparecimento de sinais clínicos da doença urinária em situações estressantes sugere uma possível interação entre o SNS e os neurônios sensoriais localizados na bexiga. Outros fatores que também podem estar associados à DTUIF, e que muitas vezes não são investigados pelo clínico, são as anomalias de úraco (Figura 4) (resquício de úraco e divertículo vesicouracal). A presença de alguma dessas anomalias poderia predispor à infecção urinária, principalmente por bactérias produtoras de uréase (JUNIOR; HAGIWARA; MAMIZUKA, 1998). Os pesquisadores têm responsabilizado alguns vírus, que incluem calicivírus felino, herpesvírus 4 bovino e vírus formador de sincício, pela patogenia da DTUIF. Porém, ainda está para ser esclarecido o papel dos vírus (GRAUER, 2001). Fonte: (ALEIXO et al., 2007). Figura 4. Cistografia de um gato em projeção lateral da cavidade abdominal, onde se visualiza o canal uracal. 2.3. Sinais clínicos A sintomatologia clínica da DTUIF depende do componente do complexo da doença presente. Felinos não obstruídos geralmente apresentam polaciúria, disúria-estrangúria, hematúria, vocalização durante a micção e lambedura da genitália. Os proprietários também relatam que o animal urina em locais inapropriados (GRAUER, 2001). Nos felinos machos obstruídos, os sintomas apresentados dependem do tempo de duração da obstrução. Inicialmente, a maioria dos felinos faz tentativas de urinar, anda de um lado para o outro, esconde-se, mia, lambe a genitália (e, em alguns casos, lambe até escoriar e sangrar), demonstra ansiedade, apresenta sensibilidade abdominal, e o pênis pode estar exposto ou congesto. A obstrução total causa o aparecimento de sintomas característicos de azotemia pós-renal dentro de 36 a 48 horas, que induz à anorexia, vômito, desidratação, depressão, fraqueza, colapso, estupor, hipotermia, acidose com hiperventilação, bradicardia e/ ou morte súbita (GRAUER, 2001; BROWN, 2008). Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 201 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 Em felinos que apresentam obstrução parcial, os proprietários relatam que o gato inicialmente demonstra várias tentativas de urinar, com eliminação de pouca urina (em gotas), e que esta tem coloração avermelhada. Os gatos permanecem por um longo período de tempo na posição de micção (Figura 5) dentro de vasilhas sanitárias ou em lugares inapropriados, e o proprietário relata que o animal está constipado. Neste caso, o animal também lambe a genitália e mia muito alto (ALVES, 2006). Ao exame físico, um gato não obstruído apresenta-se sadio, exceto pela bexiga pequena e facilmente comprimível, e a parede da bexiga pode estar espessada; a palpação abdominal pode ser dolorosa, mas gatos com obstrução sempre ressentem a palpação. No exame físico de um animal com obstrução, a bexiga estará repleta e distendida, e é difícil ou impossível o esvaziamento por compressão. Deve-se sempre tomar cuidado na manipulação da bexiga distendida, já que a parede foi lesada pelo aumento da pressão intravesical, o que a deixa susceptível à ruptura (GRAUER, 2001). 2.4. Diagnóstico O diagnóstico da DTUIF, em geral, não é complicado e se baseia no histórico clínico, anamnese, exame físico e exames complementares (ALVES, 2006; GASKELL, 2006). Antes de se realizar uma avaliação radiográfica, a palpação e compressão da vesícula urinária para induzir a micção pode ser útil para se confirmar a obstrução uretral. Mas, em felinos obstruídos que apresentarem sinais clínicos de desidratação, uremia e hipercaliemia, qualquer tentativa de investigação diagnóstica deve ser adiada, priorizando a estabilização das funções vitais e o restabelecimento do fluxo urinário normal (ALVES, 2006). As radiografias são úteis para identificar a localização da obstrução e também para verificar anormalidades do trato urinário, evitando, assim, o insucesso da desobstrução (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Dois tipos de radiografias podem ser utilizados: as radiografias simples e as contrastadas. As simples podem identificar a existência de cálculos radiopacos na uretra e na vesícula urinária,bem como nos rins. As radiografias em posição lateral e ventrodorsal auxiliam no diagnóstico diferencial, pois demonstram alterações em vértebras lombossacrais e/ ou na coccígena, que causam distúrbios de micção (ALVES, 2006). As radiografias contrastadas são efetivas na identificação de cálculos radiolucentes, ruptura uretral ou vesical, estenose uretral, divertículo uracal, neoplasias e processos inflamatórios. Agentes de contraste negativo (ar para criar uma 202 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 pneumocistograma) ou positivo (geralmente, agentes hidrossolúveis à base de iodo) podem ser introduzidos através de um cateter uretral, após a vesículaurinária ter sido esvaziada pela primeira vez; 30 mL geralmente são adequados para distensão vesical (GASKELL, 2006). O uso de contrastes duplos na vesícula tem sido realizado quando se suspeita de lesões irregulares ou ulcerantes na parede, como no caso de neoplasia vesical. Mesmo não sendo essencial, é uma boa prática para remover os agentes contrastados da vesícula após a cistografia (GASKELL, 2006). A técnica utilizada em felinos mais frequentemente é o uretrocistograma retrógrado de contraste positivo, em que o contraste é injetado através de um cateter urinário (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). O exame radiográfico dos ureteres pode ser empregado através de urografia intravenosa. O agente de contraste à base de iodo é excretado pelos rins, podendo ser observado radiograficamente delineando os ureteres. Esse procedimento tem mais valor na investigação de casos de suspeita de ureteres ectópicos (GASKELL, 2006). A avaliação ultrassonográfica dos gatos obstruídos tem a vantagem de verificar a integridade do trato urinário superior e inferior, além de avaliar a presença de tampões (mucoproteínas e/ ou cristais, coágulos e debris) e urólitos na vesícula urinária que possam migrar para uretra e, dessa forma, causar a obstrução; ainda permite observar a presença de neoplasias e anomalias anatômicas. Contudo, o trajeto da uretra não é totalmente visualizado, pela presença do púbis (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). A biópsia da vesícula urinária através da cistostomia exploratória pode ser útil para a confirmação de algumas doenças do trato urinário inferior, como a neoplasia, mas os achados, na maioria dos casos, são inespecíficos (GASKELL, 2006). Os exames laboratoriais são essenciais para a escolha da conduta terapêutica adequada aos gatos com a DTUIF (ALVES, 2006). A urinálise é um auxílio rotineiro e básico para o exame de casos de DTUIF. Uma amostra fresca obtida de uma bandeja limpa é satisfatória para a análise urinária básica (densidade específica, pH e avaliação bruta dos níveis proteicos). A urina também pode ser colhida através do jato médio, aplicando uma pressão constante, mas não excessiva na vesícula urinária. A cateterização uretral é outra forma de coletar a amostra de urina, porém, esta pode ser contaminada por bactérias provenientes dos genitais externos. Nenhum desses métodos de coleta de amostra é ideal para a avaliação bacteriológica ou de sedimento. A cistocentese, que é a punção direta da vesícula urinária através da parede Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 203 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 abdominal, proporciona uma amostra mais satisfatória para a análise urinária e representa uma técnica estéril para obtenção de uma amostra para cultura bacteriana (GASKELL, 2006). A concentração da urina em gatos normais, conforme avaliado por meio da densidade específica, é variável, mas pode ficar alta acima de 1.045, em animais alimentados com alimentos secos ou pobres em umidade. A urina fica frequentemente concentrada nos casos de DTUIF, mas a densidade específica geralmente não é afetada, principalmente nos casos não complicados. O pH urinário está relacionado com a dieta: assim, animais alimentados à base de carne geralmente ficam com o pH ácido. A urina produzida após uma refeição é alcalina (onda alcalina pós-prandial), embora tais flutuações no pH aconteçam no interior da vesícula urinária na maior parte dos gatos que urinam poucas vezes. A urina que fica por um longo período de tempo na vesícula urinária também tende a ficar mais alcalina. De preferência, o pH urinário deve ser avaliado de 4 a 6 horas após a refeição, pois, se a urina estiver ácida, provavelmente será ácida ao longo do dia. Nas infecções bacterianas no trato urinário inferior, o pH normalmente fica mais alcalino, e isso ocorre devido à degradação da ureia na urina por parte de organismos produtores de urease. Esta é uma das causas mais importantes de um pH urinário alto. Prefere-se o uso de medidores de pH, em vez do uso de fitas de imersão urinária (GASKELL, 2006; KERR, 2003; BUSH, 2004a). Os níveis proteicos urinários geralmente são mais altos em gatos do que em cães, mas a presença de proteinúria leve ou moderada, conforme avaliado por meio de técnicas de fita de imersão, indica que há inflamação do trato urinário inferior. No caso da DTUIF, os achados de proteína urinária têm de ser interpretados em associação com a densidade específica da urina e com o exame de sedimento urinário (GASKELL, 2006; MEYER; COLES; RICH, 1995). O achado de gotículas de gordura não está relacionado com a lipemia. Um pequeno número de gotículas é normal em gatos (BUSH, 2004b). Os cristais de fosfato ou estruvita também são considerados um componente normal do sedimento urinário felino, principalmente nos casos de urina alcalina. É discutível se tal cristalúria é uma reflexão precisa da composição urinária vesical, pois os cristais se precipitam conforme a urina resfria, particularmente quando é resfriada. Gatos em estresse podem exibir hiperglicemia e também níveis altos de glicose sangiínea quando ocorre inibição insulínica pelas toxinas urêmicas (GASKELL, 2006; BUSH, 2004a). O exame microscópico de sedimento urinário é parte crucial da urinálise em casos de DTUIF. Células inflamatórias (piúria), eritrócitos e cristalúria constituem achados 204 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 frequentes em varias afecções, mas o achado mais comum na DTUIF é hematúria com cristalúria na ausência de piúria. A hematúria pode ocorrer devido à cateterização ou ao pressionamento da vesícula urinária para induzir a micção. A presença de alguns eritrócitos em amostras de cistocentese pode ocorrer, mas isto é consequência da técnica (GASKELL, 2006; BUSH, 2004b). Um exame citológico do sedimento urinário pode revelar evidência da doença neoplasia na vesícula urinária, mas não é confiável (GASKELL, 2006). Deve-se realizar uma cultura bacteriana urinária, com antibiograma paralelo ou subsequente, quando a urinálise sugere infecção bacteriana. Mas isso deve ser feito antes de qualquer uso de antibióticos ou após um período de suspensão do tratamento. Preferencialmente, a urina deve ser colhida por cistocentece. A infecção bacteriana está presente quando o número de bactérias excede 1000 unidades formadoras de colônias por mililitros, na amostra colhida pela cateterização ou qualquer crescimento na amostra adquirida pela cistocentese. A tentativa de cultura de vírus da urina felina não constitui um procedimento diagnóstico rotineiro, e o significado de um caso isolado é obscuro. (GASKELL, 2006; ALVES, 2006). A hematologia e a bioquímica sanguínea rotineira ficam frequentemente normais em casos não complicados. Porém, gatos com obstrução uretral exibirão elevações acentuadas nos níveis sanguíneos de ureia e creatinina, junto com hipercalemia quando houver obstrução por algum tempo (GASKELL, 2006). A análise do urólito colhido é fundamental para detectar sua composição, com o intuito de selecionar protocolos terapêuticos que promovam a sua dissolução e prevenção. (ALVES, 2006). 2.5. Tratamento sem obstrução uretral A importância do tratamento em gatos não obstruídos vai depender dos sinais clínicos que eles apresentarem. Geralmente, animais com disúria-estrangúria e hematúria tornam- se muitas vezes assintomáticos dentro de 5 a 7 dias a partir do primeiro exame, independentemente de o tratamento ser instituído ou não. A maioria desses gatos é tratada comantibióticos, e se os sinais clínicos desaparecerem, uma relação causa-efeito é muitas vezes estabelecida, tanto por parte do proprietário quanto do clínico (GRAUER, 2001). Se a urinálise revelar uma urina alcalina com cristalúria por estruvita, e se o animal não tiver maiores complicações, pode-se instituir uma dieta calculolítica, rica em Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 205 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 umidade, altamente energética e com proteína em torno de 40% (peso seco do alimento), com o intuito de acidificar o pH urinário. Uma baixo nível de magnésio (cerca de 0,04%) também é de fundamental importância. O cloreto de sódio (0,79% do peso dessecado) poderá ser adicionado, com o objetivo de estimular a ingestão de água, aumentando, assim, a diurese. Essa dieta tem conseguido bons resultados na dissolução dos cálculos de estruvita, num período em torno de 36 dias, e deve ser mantida por mais de 30 dias após a confirmação da dissolução mediante exames radiográficos. Em casos de gatos com cálculos de estruvita acompanhados de um comprometimento sistêmico, é fundamental realizar um tratamento de apoio, antes de fazer uso de uma dieta estruvilolítica (LAZZARROTTO, 2001). Se as rações dietéticas não mantiverem o pH da urina ácido, o que é raro, acidificantes urinários devem ser incluídos. O cloreto de amônio, a metionina ou o ácido ascórbico podem ajudar a dissolver ou prevenir os urólitos de estruvita ou plugs uretrais que contenham estruvita. Sempre se deve tomar cuidado com a acidificação por tempo prolongado ou a administração em altas doses, pois podem resultar em acidose metabólica, hipocalemia, disfunção renal, desmineralização óssea e formação de urólitos de cálcio (BELONE, 2002). Geralmente, na maioria dos casos de DTUIF, a urina é ácida, com ausência de cristais de estruvita; então, não se recomenda a dieta acidificante com restrição de magnésio. Se a urina for bacteriologicamente estéril, exames devem ser realizados para tentar identificar anormalidades anatômicas (GRAUER, 2001). O tratamento com antibióticos, em gatos com urolitíase por estruvita e com infecção bacteriana no trato urinário, deve ser prescrito com base na cultura de urina e nos resultados dos testes de sensibilidade e deve ser mantido durante todo o período em que os cálculos estiverem sendo dissolvidos (GRAUER, 2001; BELONE, 2002). Alguns agentes, como antibióticos, tranquilizantes, anticolinérgicos, antiespasmódicos e anti-inflamatórios (ex: dimetilsulfóxido, glicocorticóides), têm sido utilizados no tratamento da cistite idiopática em gatos; entretanto não, existe nenhum estudo que comprove a eficácia de nenhum desses agentes. A amitriptilina também não tem sua eficácia atestada, mas, devido à semelhança com a cistite intersticial da mulher, o tratamento com amitriptilina pode ser indicado com cuidado para gatos com afecções idiopáticas. A recomendação é que a amitriptilina seja dada na dose de 5 a 10 mg/gato, 1 vez ao dia na hora de dormir, pois este medicamento pode ter efeito calmante (GRAUER, 2001). 206 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 Comparações da cistite felina com a cistite humana, em que defeitos no revestimento de glicosaminoglicanas (GAG) uroepitelial protetor da vesícula urinária e uma associação com o estresse foram identificados como fatores na afecção, têm levado a sugestões adicionais para tratamento. O uso de suplementos orais de GAG ou precursores de GAG tem sido sugerido; tais suplementos podem ser úteis, mas ainda não há evidências publicadas de sua eficácia (GASKELL, 2006). Ainda não estão disponíveis protocolos clínicos que promovam a dissolução de urólitos de oxalato de cálcio e urólitos de urato amônio nos gatos. Os urocistólitos podem ser removidos por meio de uroidropropulsão ou sonda uretral. A única alternativa prática para a remoção de urólitos de oxalato de cálcio e de urato de amônio é a cirurgia. Após essa remoção cirúrgica, alguns protocolos clínicos devem ser realizados com o objetivo de reduzir a concentração urinária das substâncias calculogênicas (OSBORNE et al., 2004; BROWN, 2008). Os divertículos uracais são raros como fator primário da DTUIF em felinos. A maior parte dos divertículos macroscópicos do ápice vesical são sequelas da disfunção do trato urinário inferior e geralmente são autolimitantes se a vesícula urinária e/ ou a uretra retornarem à condição normal. Os divertículos adquiridos, em sua maioria, curam-se dentro de 2 a 3 semanas após a eliminação da causa subjacente da pressão intraluminal elevada (OSBORNE et al., 2004). 2.6. Tratamento da obstrução uretral O tratamento adequado da obstrução uretral vai depender do grau e da duração dessa obstrução. A obstrução total, quando não aliviada, leva à morte em 72 horas (PEIXOTO et al., 1997). As principais complicações durante a obstrução uretral são: desidratação, que pode levar a hipovolemia e choque; azotemia com acidose metabólica; hiperfosfatemia; hipercaliemia e hipocalcemia. Estes são pacientes de emergência, nos quais se deve, antes de mais nada, corrigir o que poderia levar primeiro o paciente a óbito – de neste caso, hipovolemia e hipercaliemia. Coloca-se um cateter na veia, e o ideal, antes de se iniciar a fluidoterapia, é coletar sangue para a análise laboratorial (ALVES, 2006). Antes de se iniciar a restauração da permeabilidade do lúmen uretral do paciente felino, é necessário que se faça a sua contenção. Em felinos dóceis ou altamente debilitados, a contenção pode ser feita fisicamente, em associação com anestesias tópicas. A contenção farmacológica é recomendada quando as tentativas de desalojamento do Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 207 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 material obstrutor estão provavelmente associadas às lesões adicionais à uretra, e quando há risco elevado de infecção iatrogênica do trato urinário. As cateterizações da uretra realizadas sem a devida sedação podem causar ruptura uretral, com consequente extravasamento de urina para o tecido periuretral (ALVES, 2006). Os anestésicos são administrados de forma cautelosa, visto que as dosagens inferiores às recomendadas para pacientes com função renal normal são exigidas naqueles com azotemia pós-renal, principalmente os fármacos excretados pelos rins (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Após o procedimento do controle da dor e sedação necessários, a primeira manobra para diminuir a pressão intrauretral e facilitar a passagem do cateter uretral é a cistocentese de emergência (ALVES, 2006). Corgozinho e Souza (2003) priorizam uma massagem suave da uretra peniana, seguida de compressão manual da vesícula urinária. Essa massagem causa retração do prepúcio e exposição do pênis, permitindo detectar a presença de material obstrutor. A massagem suave no pênis entre o polegar e o dedo indicador ajuda a desalojar e fragmentar os tampões localizados na uretra peniana (Figura 6), a tal ponto que a subsequente palpação da vesícula induza a sua remoção. Fonte: (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Figura 5. Massagem no pênis entre o polegar e o dedo indicador. Essa compressão deve sempre ser efetuada com cautela para prevenir trauma iatrogênico na vesícula urinária. Quando há suspeita de infecção do trato urinário, a palpação da vesícula pode induzir o refluxo vesicouretral de urina, levando microorganismos para o trato urinário superior(ALVES, 2006). A descompressão da vesícula por meio da cistocentese (Figura 7) é recomendada quando não se obtém sucesso nas etapas citadas anteriormente e, quando ela se encontra superdistendida, deve-se retirar o máximo de urina possível. A ruptura da vesícula 208 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 urinária pode ocorrer em função da fragilidade da parede vesical em animais obstruídos por muito tempo (ALVES, 2006). Fonte: (CORGOZINHO; SOUZA, 2003) Figura 6. Cistocentese em um gato obstruído por um período de 24 horas. Observe a intensa hematúria. A próxima etapa a ser realizada é a desobstrução via sonda uretral, que deve ser feita de forma delicada, evitando, assim, traumatismo adicional à uretra já lesionada pelo material obstrutor. Todo o procedimento deverá ser realizado de forma asséptica, e a antissepsia é realizada no pênis e no prepúcio antes da cateterização (Figura 8). Após a exposição do pênis (Figura 10), o cateter urinário, estéril e lubrificado (Figura 9) de polipropileno com extremidade proximal aberta, é delicadamente introduzido na uretra peniana até o ponto da obstrução (Figura 11), e a solução de irrigação (solução salina a 0,9% ou Ringer com Lactato) à temperatura ambiente é injetada em grande quantidade através do cateter (Figuras 12 e 13), no intuito de dissolver o material obstrutor e/ ou empurrá-lo para o interior da vesícula urinária. Essas soluções são atóxicas, estéreis e não irritantes (ALVES, 2006; CORGOZINHO; SOUZA, 2003). A expulsão de tampão ou urólito do lúmen uretral, após a uretra ter sido irrigada, ocorre com a aplicação de pressão digital contínua e suave na vesícula urinária. Até que ocorra a remoção do material obstrutor, o cateter não deve ser forçado para o interior do lúmen uretral, devido à possibilidade de ruptura da parede uretral (ALVES, 2006). As irrigações do lúmen da vesícula urinária com soluções isotônicas são válidas para prevenir uma nova obstrução uretral na presença de grandes quantidades de debris, coágulos ou cristais. Cerca de 50 ml de solução isotônica estéril são injetados e removidos, até que se obtenha uma urina clara e livre de cristais ou sangue e o cateter seja removido (ALVES, 2006). Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 209 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 Fonte: (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Figuras 7. Legenda: 8: Antissepsia antes da cateterização do pênis. 9: Cateter urinário estéril e lubrificado. 10: Pênis exposto. 11: Introdução do cateter na uretra peniana até o ponto de obstrução. 12 e 13: Solução salina estéril injetada através do cateter. Se o material obstrutor permanecer no interior do lúmen uretral, deve-se fazer uma suave compressão digital da uretra peniana sobre o cateter e enviar o tampão e/ ou urólito para o interior da vesícula urinária através da solução de irrigação (ALVES, 2006). Após a desobstrução, o felino deve permanecer com um cateter uretral (Figura 14) que seja macio e flexível, com um sistema de coleta fechado, evitando, assim, infecção pós-sondagem. Ele deve permanecer com esse cateter durante um período de 24 a 48 horas, utilizando junto o colar elisabetano para impedir que o felino remova ou desconecte o cateter uretral. Após a retirada do cateter, o gato deve ser mantido em observação durante 24 horas para avaliação da função da vesícula urinária. Em alguns casos, o uso de antibióticos de amplo espectro reduz a incidência de infecção urinária, mas pode levar ao desenvolvimento de resistência bacteriana (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Após a remoção do cateter, pode-se monitorar a infecção bacteriana colhendo amostras de urina para análise e cultura; caso ela se confirme, a antibioticoterapia é instituída durante 10 dias (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). 210 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 Fonte: (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Figura 8. Gato com cateter após a desobstrução uretral. Algumas complicações podem ocorrer após a desobstrução, que são: atonia do músculo detrusor da vesícula urinária devido à hiperdistensão; resistência ao fluxo urinário devido ao espasmo uretral, uma vez que não há relaxamento do esfíncter uretral durante a micção; e a estenose uretral, que pode ser resultante de um episódio traumático acometendo a uretra. Em alguns casos, a inflamação da mucosa uretral e a formação posterior de estenose ocorrem em virtude de várias e frequentes cateterizações, sem a devida contenção farmacológica do felino, e é comum a ruptura da parede uretral. O que também causa danos à mucosa uretral é a cateterização crônica e permanente (ALVES, 2006; CORGOZINHO; SOUZA, 2003). 2.7. Tratamento cirúrgico Quando o tratamento terapêutico não tem êxito e a obstrução uretral apresenta agravamento por estreitamento permanente na uretra, o tratamento cirúrgico é indicado (LIMA et al., 2007). Na incapacidade da restauração da permeabilidade do lúmen uretral através das manobras clínicas, pode-se suspeitar da presença de uma lesão mural ou periuretral em um ou mais locais da uretra. Avaliações radiográficas simples ou uretrocistograma retrógrado com contraste positivo são procedimentos diagnósticos que devem ser realizados na tentativa de detectar o local da obstrução, como também a presença de ruptura uretral e/ ou vesical dentre as possíveis causas. Diversas técnicas cirúrgicas têm sido descritas na literatura (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). Não é recomendado o tratamento cirúrgico para correção da uropatia obstrutiva em gatos urêmicos, a menos que não exista nenhuma alternativa razoável. É fundamental na preparação do felino para a intervenção cirúrgica a correção das alterações metabólicas e do desequilíbrio hidroeletrolítico (ALVES, 2006). Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 211 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 A uretrostomia perineal reduzirá o risco de novos episódios de obstrução física no nível da porção distal da uretra, mas não trará nenhum benefício se a obstrução se localiza na porção média ou proximal (LIMA et al., 2007). De acordo com Corgozinho e Souza (2003), a uretrostomia perineal é indicada para gatos machos portadores de lesões irreversíveis na mucosa da uretra peniana, e também para os felinos que apresentem obstrução uretral recorrente, não responsiva ao tratamento clínico. Nestes animais, a taxa de recidiva da obstrução é em torno de 35 a 50%, ocorrendo num período inferior a seis meses. O monitoramento do paciente com urinálise, cultura e antibiograma deve ser realizado, pois a uretrostomia perineal predispõe à infecção bacteriana urinária, e muitos dos pacientes podem ser assintomáticos (ALVES, 2006). A uretrostomia pré-púbica é indicada em obstruções graves na uretra e em processos de estenose. A emissão de urina volta à normalidade dentro de 24 horas no pós- operatório. O uso de colar elisabetano é indicado por 10 a 14 dias, até a remoção da sutura (ALVES, 2006). A uretrostomia subpúbica é indicada quando o processo obstrutivo se localiza na uretra pélvica caudal e quando há estenose recidivante após a uretrostomia perineal. O colar elisabetano é utilizado até a remoção dos pontos. Esta técnica cirúrgica, quando comparada com a uretrostomia pré-púbica, apresenta um menor índice de estenose, de infecção bacteriana do trato urinário inferior recorrente e de dermatiteamoniacal (CORGOZINHO; SOUZA, 2003). 2.8. Prognóstico O prognóstico no caso de felinos machos com recidiva de obstrução é limitado, em gatos com DTUIF recidivantes, mas sem a obstrução é de razoável a bom. Pielonefrite, urolitíase renal e insuficiência renal crônica são sequelas em potencial da DTUIF recidivante e sem obstrução (GRAUER, 2001). 2.9. Prevenção A afecção do trato urinário inferior dos felinos, associada aos cristais de estruvita, ocorre pela falta de atenção e cuidados com os vários fatores predisponentes, os quais, em sua maior parte, estão relacionados à alimentação desses animais. Torna-se, então, fundamental esclarecer os proprietários a respeito de como prevenir tal patologia, orientando-os para utilizarem uma dieta nutricionalmente adequada. É importante 212 Doença do trato urinário inferior dos felinos Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 oferecer dietas que aumentem o volume e acidifiquem a urina, ou diminuam a excreção urinária dos constituintes de estruvita; é importante também manter o pH urinário inferior a 6,4, uma vez que, nessa faixa, raramente se formam tais cristais (LAZZAROTTO, 2001). As dietas que minimizam a urolitíase por oxalato de cálcio devem ser formuladas para reduzir a acidose e não devem conter precursores do ácido oxálico em excesso. Também se devem evitar níveis excessivos de vitamina D, pois induzem a absorção intestinal de cálcio e ácido ascórbico, que é um precursor de oxalato. As dietas devem conter quantidades adequadas de cálcio, fósforo, magnésio e potássio e baixas quantidades de proteínas e sódio. As dietas enlatadas são preferidas às formulações secas, para elevar a produção de urina menos concentrada, e promovem aumento da micção (OSBORNE et al., 2004; BENOLE, 2002). Já no caso de urólitos de urato amônio, é importante oferecer uma dieta com um teor relativamente baixo nos precursores de purina, promovendo, assim, a formação de menos ácido úrico pH 7 que não seja altamente concentrado (OSBORNE et al., 2004). Outra forma importante de prevenir os cristais é mantendo a higiene nos recipientes de água, que devem ser lavados diariamente, e a água trocada de 3 a 4 vezes ao dia. O local de dejetos também deve ser limpo diariamente, preferencialmente 2 vezes ao dia, e mantido distante dos recipientes de água e comida, pois os felinos não ingerem água que esteja nas vasilhas por muito tempo e nem defecam ou urinam em locais previamente sujos (BELONE, 2002). O estresse pode ser uma causa estimuladora de DTUIF, portanto, deve-se evitá-lo ou usar drogas ansiolíticas, como o diazepan, que parecem ser benéficas (BARTGES, 2003). 3. CONCLUSÃO A doença do trato urinário inferior dos felinos acomete com grande frequência os gatos domésticos, o que está relacionado com fatores de risco como: idade, sexo, sedentarismo, confinamento, alimentação com rações secas industrializadas, obesidade, estresse e também com o fato de esses animais ingerirem pouca quantidade de água. Embora essa doença possa ter diversas causas, as manifestações clínicas são similares, por isso, muitas vezes sua etiologia é indeterminada, tornando, assim, a sua identificação um desafio terapêutico para os clínicos, o que pode aumentar as chances de recidivas. Portanto, há necessidade de realizar uma investigação diagnóstica completa Cynthia Kaufmann, Rafael Correa Neves, Josiane Conceição Albertini Habermann 213 Anuário da Produção Científica dos Cursos de Pós-Graduação • Vol. IV, Nº. 4, Ano 2009 • p. 193-214 para chegar à etiologia que está levando à apresentação dos sinais clínicos, pois, uma vez conhecida a origem do problema, poderá ser indicada um terapia mais apropriada, reduzindo o risco de recidivas. Um outro fator fundamental para evitar essa doença e a recidiva é a prevenção. Assim, é importante esclarecer aos proprietários sobre as formas de prevenir tal patologia. REFERÊNCIAS ALVES, A.M. Tratamento clínico e cirúrgico de obstrução uretral em doença do trato urinário inferior dos felinos. Out. 2006. p. 01-32. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em Clínica médica e cirúrgica em pequenos animais). UCB, Rio de Janeiro. BALBINOT, Z.D.P. et al. 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