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C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 535 Geraldo Augusto Pinto O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO DO TRABALHO NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA DO BRASIL1 Geraldo Augusto Pinto* O objetivo deste artigo é analisar o avanço de conceitos e práticas de gestão do trabalho desig- nados como “flexíveis” na indústria automotiva do Brasil, em especial os oriundos do Sistema Toyota de Produção. Por meio de uma investigação bibliográfica e de um estudo de caso empírico numa planta pertencente a um grupo transnacional do setor de autopeças, situada em Campi- nas, SP (Brasil), demonstra-se como foram efetuadas alterações na organização do trabalho, concomitantes à exigência de novos perfis de qualificação profissional e educacional aos traba- lhadores. Em termos conclusivos, a presente análise evidencia como tais perfis – articulados a métodos gerenciais de avaliação em processos de contratação e promoção – têm fragmentado o coletivo de trabalhadores nas empresas, mercantilizando as relações que estabelecem entre si no cotidiano de trabalho, uma vez que se baseiam na introjeção e manipulação de princípios de conduta entre eles, no sentido de servilizá-los ao propósito da acumulação capitalista. PALAVRAS-CHAVE: Sistema Toyota de Produção. Sociologia do Trabalho. Indústria Automotiva – Brasil. INTRODUÇÃO A emergência e difusão mundial do Siste- ma Toyota de Produção, com seus métodos pecu- liares de gestão da força de trabalho, em que for- mas sutis de envolvimento e controle dos traba- lhadores são combinadas a elementos de alta in- tensificação das funções e tarefas que desempe- nham, é um assunto que vem sendo investigado há pelo menos duas décadas pelas Ciências Sociais no Brasil, mesmo porque foi a partir dos anos 1990 que a aplicação de tal sistema pelas empresas avan- çou pelo país, gerando desemprego massivo e es- trutural, precarização das condições de trabalho e afrontamento do sindicalismo combativo gestado nas crises das décadas de 1970 e 1980. O presente artigo se insere nessa seara de estudos, buscando dar relevo a alguns aspectos da totalidade complexa desse processo. Primei- ramente, mostrando que a difusão do toyotismo nas economias ocidentais, como ilustra o caso da própria indústria automotiva, não consistiu em uma simples réplica da aplicação desse siste- ma na organização interna da miríade de plantas já previamente instaladas em diversos pontos do globo. Se, em parte, isso ocorreu, não se deve olvidar o fato de que tal processo foi acompa- nhado da aplicação conjunta de outras estratégi- as pela indústria automotiva ocidental, tais como o embasamento na abertura comercial crescente das economias nacionais, por meio do qual essa indústria inicou uma exploração ainda mais ri- gorosa das “vantagens” comparativas locais, como o elevado estado das artes da tecnologia dos paí- ses centrais e o baixo custo das matérias-primas e da força de trabalho na periferia. Um outro ponto que chama a atenção nesse * Doutor em Sociologia. Professor do Centro de Educação e Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Foz do Iguaçu. Avenida Tarquínio Joslin dos Santos, 1300. Cep: 85870-650. Foz do Iguaçu – Paraná – Brasil. geraldoaugusto@hotmail.com 1 Este texto é uma versão atualizada e aperfeiçoada de um trabalho apresentado no 33º Encontro Anual da Associ- ação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS) Ele traz análises contidas na tese de Pinto (2011) (IFCH/Unicamp), a qual recentemente foi publicada em livro. Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela bolsa de estudos concedida e ao Prof. Dr. Ricardo Antunes do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universi- dade estadual de Campinas (IFCH/Unicamp) pela orien- tação da tese de doutorado, cujos resultados apresenta- mos parcialmente neste artigo. C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 536 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... processo é o alto grau de concentração de capital atingido pela indústria automotiva em nível mun- dial desde então, em meio ao qual o setor de autopeças de países periféricos foi rapidamente desnacionalizado e absorvido por grupos oligopólicos transnacionais estadunidenses, eu- ropeus e japoneses. Em tais condições, a gestão de empresas até então nacionais, ainda que mantida sob as mãos de gerências assalariadas locais, foi submetida ao comando férreo de dire- torias e presidências de matrizes estrangeiras. Às gerências locais é dada a missão de não apenas ampliar fatias do mercado de consumo, mas de gerar “taxas extraordinárias” de acumu- lação.2 Com tais objetivos em vista, tais gerênci- as têm investido radicalmente na introdução dos sistemas de gestão flexível da força de trabalho, como o toyotista – exemplo contemporâneo de gestão capitalista mediante o qual se avança na “superexploração” do trabalho, desde as econo- mias centrais até as periféricas. O objetivo do presente texto é, pois, evi- denciar como isso se manifesta na realidade, por meio de informações obtidas em um estudo de caso que realizamos entre 2005-2006, numa empresa sistemista de autopeças de capital transnacional, situada na região de Campinas, interior do Estado de São Paulo, Brasil (Pinto, 2011). Buscaremos demonstrar, partindo das alterações na organiza- ção do trabalho na empresa, como as novas exi- gências de qualificação profissional e educacional, articuladas aos métodos gerenciais de avaliação dos trabalhadores nos processos de contratação e pro- moção, têm resultado em uma aproximação entre gerências assalariadas e operariado, mediante a qual a lógica da acumulação capitalista transcende o nível das relações entre as empresas nas cadeias produtivas (matrizes e filiais; clientes e fornecedo- ras), para se instalar nas relações entre os próprios assalariados no ambiente de trabalho. Entendemos, contudo, que tanto o advento do toyotismo no Japão quanto sua difusão mun- dial, após os anos 1970, são realidades cuja com- preensão é deficitária, se não as admitirmos como momentos de uma totalidade histórica maior, ou seja, como processos de reprodução da acumu- lação capitalista na insaciável e crônica necessi- dade de superar suas contradições internas. A seção seguinte, portanto, almeja introduzir o lei- tor nas considerações de caráter histórico mais amplo sobre a emergência e posterior difusão do sistema toyotista, tendo como foco a indústria automotiva ocidental e suas singularidades. Em seguida, na terceira seção deste artigo, as infor- mações do estudo de caso por nós realizado no Brasil serão analisadas tendo como preliminares tais considerações, incorporando, contudo, os elementos empíricos que nos permitirão enca- minhar e defender a tese acima: a mercantilização das relações entre os assalariados no interior das empresas. Essa tese, na última seção do texto, será retomada e exposta na forma de um ensaio curto, embora amplo e ousado, cujo objetivo é menos responder do que provocar questões que instiguem novas investigações sobre o tema. A EMERGÊNCIA DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO E A REAÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA OCIDENTAL Nos países capitalistas centrais do Ociden- te, a propriedade privada dos meios de produ- ção admitiu, junto ao surgimento das grandes corporações (sobretudo na primeira metade do século XX), certa multiplicidade de nacionalida- des, gerando, especialmente em indústrias avan- çadas como a automotiva, uma intensa dinâmi- ca concorrencial em termos de saberes e interes- ses. Nascia, então, uma cultura empresarial li- beral, supostamente autonôma em face do Esta- do e que, por meio de uma rede de grandes em- presas de perfil monopolista – aindaque inter- namente fragmentadas sob a influência de acio- nistas vorazes e, externamente, individualizadas 2 Como apontara, desde a década de 1970, Ruy Mauro Marini (2008). A atualidade das teses de Marini para explicar o papel desempenhado tanto pelas novas formas de explo- ração do trabalho sob a difusão do toyotismo, quanto pe- las periferias emergentes na divisão internacional do tra- balho em meio à sucessão de crises após a década de 1970, é objeto de diversas pesquisas, como Valencia (2007), Sader e Santos (2009) e Martins (2011). C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 537 Geraldo Augusto Pinto no plano de suas relações no mercado – conformou as bases dos primeiros sistemas de gestão da força de trabalho em uma organização industrial voltada para a produção em massa: o taylorismo, com sua sanha em eliminar todo saber artesanal, e, posteri- ormente, o fordismo, com a verticalização estandardizada de controle que apregoava. Mundialmente difundido, inclusive em vários setores econômicos além da indústria, tal estilo ocidental de organização estabeleceu rela- ções contraditórias entre empresas, Estado e clas- se trabalhadora. Afinal, quando a verticalização administrativa e a monopolização de negócios por grupos transnacionais concorrentes atraves- saram crises de acumulação, o seu individualis- mo econômico-corporativo e o seu liberalismo político-ideológico vieram a ceder espaço, estra- tegicamente, à intervenção estatal e mesmo à ação sindical para a conservação das formas de acu- mulação de capital. Provam-no o contexto do pós-1945, quando, em face da emergência de re- gimes supostamente hostis ao capitalismo, cris- talizaram-se padrões de intervenção estatal tan- to nos países periféricos, estigmatizados como subdesenvolvidos, quanto nos países centrais, arraigados em seu imperialismo. E foi exatamente em tal contexto que emergiu uma economia de mercado fundada na articulação entre a gestão do trabalho taylorista-fordista3 e as intervenções es- tatais protecionistas às burguesias nacionais. Esse período, consagrado por um cresci- mento econômico relativamente estável e por uma elevação da produtividade do trabalho se- guida de relativas melhorias nos níveis de renda e emprego, sofreria, contudo, alterações nos anos 1970, quando uma série de desequilíbrios cau- sados pelo súbito aumento dos preços do petró- leo no mercado internacional (em 1973 e 1979) e pelas sucessivas variações do dólar impostas pelos Estados Unidos da América (EUA) (em 1978 e 1985), provocaram fortes oscilações nas taxas de câmbio em quase todos os países. Desde então, não só se acentuou uma abertura comerci- al das economias nacionais, como se avolumaram os investimentos financeiros especulativos, dada a instabilidade das moedas e as ágeis operações permitidas pela microeletrônica aplicada à infor- mação (Dedecca, 1998; Harvey, 1992; Mattoso, 1994; Quadros, 1991; Tavares,1992). Tal panorama, ao passo que acautelou in- vestimentos nos setores industriais das econo- mias centrais, promoveu uma hipertrofia dos setores de serviços, como o comércio e as finan- ças. O deslocamento de demandas gerado por esses novos segmentos e o baixo crescimento econômico em geral (se comparado aos índices do pós-1945 até fins dos anos 1960), pressiona- ram as empresas a reverem suas estratégias de gestão, entre as quais adquiriram importância central a agregação de novas tecnologias, a redu- ção de custos de produção e a personalização de seus processos e produtos. Tais iniciativas, no entanto, exigiam de cada companhia alcançar patamares mínimos de: (1) flexibilidade, ou ca- pacidade de ofertar diferentes tipos de produtos e serviços num curto período de tempo, man- tendo-se ou não a larga escala; (2) qualidade, ou redução de custos de re-trabalho, eliminando-se falhas em processo; (3) baixos preços finais, ob- tidos não apenas pela qualidade e flexibilidade, mas pelo enxugamento, ou seja, a redução de toda capacidade ociosa em termos de equipa- mentos e força de trabalho; (4) atendimento pre- ciso, isto é, no momento, na quantidade e nas características exatamente estipuladas pela cli- entela, sem gerar atrasos, tampouco estoques. Tais objetivos colocaram em questão a or- ganização verticalizada e concentradora de gran- des contingentes de trabalhadores, demasiada- mente especializados e pouco qualificados, do sistema taylorista-fordista. Da perspectiva das relações entre gerência e operariado, esse siste- ma experimentava a reação mais crua da pró- pria “natureza” humana, cuja formação física e mental nunca foi para isso voltada: o velho dile- ma de Taylor – a conquista da “iniciativa” dos as- 3 Ao usarmos a expressão “taylorista-fordista”, estamos nos referindo ao próprio sistema fordista. Nosso intuito, en- tretanto, é deixar subentendido que o sistema desenvolvi- do por Ford dependeu e foi plenamente viabilizado pela anterior difusão das práticas tayloristas. Especificamente a esse respeito, consultar Pinto (2007a, 2010a). C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 538 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... salariados – persistia e, desde os anos 1930, pes- quisas sobre as condições de trabalho conjetura- vam acerca do estancamento da produtividade e da crescente insatisfação entre os trabalhadores.4 Por outro lado, a imprevisibilidade de mensuração da mais-valia – pois não é dado às empresas sabe- rem, de antemão, qual é a taxa exata que lhe rende- rá cada trabalhador individualmente –, sempre foi um problema na gestão capitalista do trabalho: ou seja, implanta-se um sistema e logo se desenvol- vem resistências (Oliveira, 1996). Ora, se o taylorismo já enfrentara contestações sindicais e até mesmo jurídicas no início do século XX, o desenrolar das lutas sociais em âmbito mundial, em fins dos anos 1960, colocou a gestão fordista também em condições delicadas (Bruno, 1996). Todos esses aspectos levaram as corporações empresariais a explorarem experiências alterna- tivas de organização, até então restritas a locais específicos, como as cadeias de pequenas firmas estruturadas sob a chamada Especialização Fle- xível, na Terceira Itália (Cattani, 1999), ou no plano interno dos processos de trabalho nas plan- tas, os Grupos Semiautônomos, organização de- senvolvida na Suécia, região de Kalmar, em es- pecial nas fábricas da Volvo e Saab-Scania (Fleury; Vargas, 1983). A mais ousada experiência, entre- tanto, tendo mais uma vez como berço a indústria automotiva, foi desenvolvida no Japão a partir dos anos 1950 sob a coordenação de Taiichi Ohno, en- genheiro industrial da Toyota Motor Company. Tal como no taylorismo-fordismo, não se tratou de ensaios isolados de métodos de gestão do trabalho e de relações entre firmas nas cadei- as produtivas: um contexto mais amplo embasou tais experiências. Diferentemente dos EUA, onde abundavam matérias-primas e mercado consu- midor, as condições enfrentadas pelo Japão no pós-1945 exigiram de suas empresas atenderem a um mercado interno fechado e com uma de- manda gradual e diversificada (Coriat, 1994; Posthuma, 1997). Além disso, independentemen- te do protecionismo estatal em face do comércio exterior, as empresas japonesas, ao contrário das ocidentais, sempre foram fortemente integradas por uma forma de propriedade em que diferentes gru- pos se reúnem como “famílias”, os zaibatsu, divi- dindo entre si a posição de acionistas majoritários em negócios comuns. A própria Toyota é exem- plar nesse aspecto.5 O sistema toyotista permitiu, assim, a con- figuração de uma rede de subcontratação entre empresas muito mais forte, que, no caso da Ter- ceira Itália e justamente sobre essabase, conse- guiu fundamentar um método de produção e entrega mais rápido e preciso que os preexistentes – o just in time/kan ban6 –, uma vez que a rede de empresas toyotista se fortalece pela focalização das firmas no núcleo principal dos seus negócios, gerando desverticalização e terceirização. Como parte desses elementos, a intensificação do uso da força de trabalho foi fundamental, mediante o desenho de uma orga- nização dos processos de trabalho que atribui a cada trabalhador uma gama diversificada de ta- refas até então apartadas pela introdução do taylorismo-fordismo – como, por exemplo, no caso de uma empresa metalúrgica, o controle da qualidade dos produtos ou serviços junto da exe- cução; a manutenção e limpeza das instalações após o seu uso; a operação simultânea de vários equipamentos; entre outros. (Antunes, 1995; Cas- tro, 1995; Coriat, 1993, 1994; Gounet, 1999; Ohno, 4 Proliferava, inclusive, um forte destaque aos fatores “psico- lógicos” e sua relação com a produtividade, como nos estu- dos de Maslow, de Argyris, de Herzberg e, posteriormente, na chamada Escola Sócio-Técnica (Fleury; Vargas, 1983). 5 Não há, na diretoria da Toyota, membros que não sejam anti- gos da empresa e eles, na maioria, advêm da família proprie- tária original. A maior fatia das ações que dispõe ao público pertence a empresas relacionadas aos seus negócios, das quais, reciprocamente, a Toyota também adquire cotas, de modo que as partes não medem seus retornos apenas na forma de dividendos, mas “a propriedade é usada como sím- bolo de um relacionamento, em que os ‘ganhos’ provenien- tes da obrigação comum, implícita, vêm de um trabalho con- junto.“ (Keller, 1994, p. 141; Conceição, 2001). 6 Segundo Sayer (1986), ao invés de se produzirem grandes volumes, antecipando-se à demanda, a essência do just in time consiste na realização do trabalho na quantidade e no tempo estritamente necessários. Os estoques são reduzidos e adicionados em ordem para substituir partes removidas a jusante da linha de produção. Assim, os postos, ao término da linha, recebem instruções de produção que, repassadas aos demais trabalhadores imediatamente linha acima (e as- sim sucessivamente), exigem que cada um inicie a produção designada. Essas comunicações podem ser efetuadas através de etiquetas chamadas “kan ban”, passadas ao trabalhador linha acima, quando exigido (Curry,1993). C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 539 Geraldo Augusto Pinto 1997; Posthuma, 1997; Silva, 1991).7 Tais características produtivas adequavam- se perfeitamente à conjuntura econômica de bai- xo crescimento e instabilidade cambial advinda da crise dos anos 1970 e, uma vez acelerada a abertura das fronteiras comerciais nacionais a partir dos anos 1980, a difusão do toyotismo foi relativamente rápida,8 tendo à frente a indústria automotiva, mesmo porque o maior mercado do ramo no mundo, os EUA, já havia sido invadido, nessa época, pelos japoneses. (Amin; Malmberg, 1994; Hiraoka, 1989; Garrahan; Stewart, 1994; Rachid, 1994; Womack; Jones; Roos, 1992). A indústria automotiva ocidental reagiu com uma súbita automatização, sem muitos re- sultados. Num segundo momento, organizou suas plantas, buscando fórmulas de gestão mais “flexíveis”, obtendo um relativo sucesso, pois, embora modelos assim também emergissem em regiões ocidentais específicas, suas adaptações às gigantescas plantas tayloristas-fordistas exigiam mudanças nem sempre possíveis no curto pra- zo. Num terceiro passo, contudo, as corporações estadunidenses e europeias perceberam que com- punham a maior rede de empresas automotivas com plantas instaladas no mundo. A partir daí, encontraram uma saída, novamente por meio de sua hegemonia no âmbito dos Estados nacionais: amparadas na lenta abertura comercial iniciada na década de 1980 em quase todos os países capi- talistas (pela qual buscavam equilibrar as tendên- cias oscilatórias do câmbio e dos balanços de pa- gamento), engendraram as estratégias denomina- das global sourcing e follow sourcing. Designa-se global sourcing a estratégia pela qual as montadoras realizam uma cotação internaci- onal de fornecedores, levando-se em conta, nessa ordem de fatores: (1º) os preços; (2º) a qualidade exigida para cada tipo de artigo; (3º) os prazos de entrega. Feito isso, as montadoras definem, dentre as empresas cotadas, seus principais fornecedores. Como não se aplica essa estratégia a elementos críti- cos dos veículos, evitando-se, assim, riscos ineren- tes ao transporte das peças ou alterações inespera- das nos padrões de qualidade, o global sourcing se limita geralmente a produtos de baixa agregação tecnológica, a fim de que possam ser rapidamente substituídos os fornecedores escolhidos por outros, em caso de problemas. Quanto aos segmentos de autopeças de alta criticidade e agregação tecnológica (os chama- dos subconjuntos ou “sistemas”),9 sua produção evidentemente exige dos fornecedores maior confiabilidade. As montadoras passaram, então, a estabelecer um tipo de relação mais próxima, não necessariamente em termos geográficos, mas no sentido de se levar em conta uma outra or- dem de fatores: (1º) qualidade exigida para cada tipo de artigo; (2º) prazos de entrega; (3º) pre- ços. Os contratos com os fornecedores passaram a incluir, nesses segmentos, o fornecimento por um período determinado de tempo (como a vi- gência do veículo no mercado), o estabelecimento de metas comuns de qualidade e produtividade, e, por fim, a capacidade de os fornecedores de- senvolverem, em parceria com as montadoras, projetos de subconjuntos dos veículos. Trata-se, aqui, da estratégia chamada de follow sourcing.10 Enquanto o global sourcing pulveriza a concorrência, distanciando os fornecedores da concepção dos veículos, tornando-os dependen- tes das montadoras e lançando-os em uma rede de incertezas, na qual usualmente quem ganha o contrato é quem consegue rebaixar ao máximo o seu preço em nível mundial, o follow sourcing, por outro lado, permite a edificação de uma cadeia de 7 Para uma síntese desses estudos, consultar Pinto (2010a). 8 No caso do Brasil, tal difusão tem sido verificada desde o final dos anos 1980, mas, sobretudo, após a década de 1990, em especial nas indústrias metalúrgicas avançadas, mas tam- bém nos setores químico-petroquímico, têxtil, calçadista, e nos setores de serviços dos bancos e das telecomunicações às artes. Ver, sobre todos esses setores (Antunes, 2006). Há mais estudos sobre o tema, como: Abreu e colaboradores (2000); Alves (2000); Araújo, Cartoni e Justo (2001); Bedê (1996); Carvalho e Schmitz (1990); Ferreira (1993); Gitahy e Rabelo (1991); Humphrey (1993, 1994); Pochmann e San- tos (1996); Posthuma (1995, 1997); Rabelo (1994); Rachid (1994, 2000); Rosandiski (1996); Salerno (1985, 1993); Salerno e colaboradores (2002). 9 Componentes que agregam em si, como módulos comple- tos, funções básicas dos veículos, por exemplo: painel de instrumentos, injeção eletrônica, freios, direção, suspen- são, transmissão, entre outras partes de grande complexi- dade tecnológica. 10 Sobre as estratégias de global sourcing e follow sourcing, ver maiores detalhes em Costa e Queiroz (1998). C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 540 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... empresas fornecedoras mais independentes das montadoras – no sentido do desenvolvimento de sua própria tecnologia. Surgem as chamadas “sistemistas”, empresas especializadas de médio e grande porte que participam diretamente dos pro- jetos dos veículos e que reúnem, em torno de si, uma estrutura também hierarquizada de forneci- mento por outras empresas (Salerno et al., 2002).Deve-se perceber, nesse ponto, que, apesar de distintas, o global sourcing e o follow sourcing compõem, na verdade, estratégias complementa- res de maximização da qualidade e redução de preços e deficiências de entrega. Aliás, além de serem utilizadas de forma combinada, o seu uso não somente está restrito às montadoras, mas abrange também as próprias empresas de autopeças, principalmente as sistemistas, que as empregam junto aos seus fornecedores de insumos, pois tanto as plantas montadoras como as de autopeças configuram, cada qual, redes de microcadeias de produção e fornecimento, con- gregando vários negócios e operações produti- vas e de serviços em uma relação tempo-espaci- al densa e intrincada, num ritmo crescente de fusões, aquisições, parcerias, contratos de for- necimento condominiais ou a longa distância etc. A combinação dessas duas estratégias per- mitiu à indústria automotiva ocidental acelerar o lançamento de novos produtos nos mais diversos lugares, sem que, para isso, tivesse de desenvolver localmente toda a produção dos artigos novos: sur- giram as plataformas globais,11 visando a obter van- tagens, como a tecnologia avançada nos países cen- trais, matérias-primas e força de trabalho de baixo custo na periferia (Amin; Malmberg (1994), Amin; Smith, 1990; Conceição, 2001; Costa; Queiroz, 1998; Gereffi, 1996). Como parte integrante desse proces- so, contudo, a indústria de autopeças dos países periféricos foi rapidamente absorvida por grupos estadunidenses, europeus e japoneses. Incapazes de atingir as escalas e preços (agora cotados em ní- vel internacional), intimidados diante dos riscos e custos de uma produção flexível e tecnologicamente avançada, sucumbiram a fusões e aquisições que ampliaram a concentração de capital nesse ramo. (Costa; Queiroz, 1998; Conceição, 2001; Laplane; Sarti, 1995; Pinto, 2006; Posthuma, 1997). Ampa- rando de perto essa tendência, as montadoras cor- taram em cerca de 2/3 o número de suas fornecedo- ras de autopeças, priorizando os sobreviventes – obviamente, as coporações transnacionais – que, por sua vez, intensificaram ainda mais o enxugamento e a terceirização de atividades em todos os países onde mantêm operações.12 Sob tais condições, foram introduzidas, nessas plantas filiais, uma gama de elementos da gestão flexível da força de trabalho, tendo por ori- entação a metodologia do Sistema Toyota de Pro- dução – com diferenças e adaptações locais. Como exemplo concreto, adentraremos, na próxima se- ção, na análise das informações que obtivemos no estudo de caso que realizamos na planta de uma empresa sistemista transnacional do setor de autopeças entre 2005-2006. Advertimos que, com o fim de preservar as fontes de informação, usare- mos aqui nomes fictícios tanto para os entrevista- dos cujas falas serão citadas, quanto para a pró- pria empresa. Assim, a planta subsidiária por nós analisada será denominada de American Company do Brasil. O mesmo se aplica à matriz e às demais instâncias do grupo oligopólico em nível interna- cional (American Company Division, Northern Equipaments Division, Northern Space Division e Northern Group Inc.), citadas logo a seguir. A GESTÃO FLEXÍVEL TOYOTISTA E A MERCANTILIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO A American Company do Brasil é uma das quinze plantas filiais, distribuídas por oito 11 Veículos projetados para serem feitos e consumidos em diversas partes do mundo, como, por exemplo, o Fiat Pa- lio, projetado para ser montado, ao mesmo tempo, na Ar- gentina, Colômbia, Venezuela, Marrocos, Índia, China e no Brasil – onde foi lançado em meados da década de 1990, produzido, no entanto, com peças importadas da Venezuela, Marrocos, Equador, Egito, Argélia e Vietnã (Conceição, 2001). 12 A respeito dessas mudanças na estrutura de fornecimen- to da cadeia automotiva, difundidas com maior vigor a partir da década de 1980(Hoffman; Kaplinsky, 1987; Garrahan; Stewart,1994; Babson,1995. C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 541 Geraldo Augusto Pinto países, da American Company Division, a qual, junto da Northern Equipaments Division e da Northern Space Division, forma as três divisões do Northern Group Inc., grupo estadunidense fundado em 1857 e voltado para a manufatura de estruturas e componentes metálicos de preci- são. A Northern Equipaments Division atua no setor de bens de capital e a Northern Space Division, no de aeronaves comerciais e militares. Mas a American Company Division, que repre- senta sozinha 40% do negócio do grupo, é uma das maiores fabricantes mundiais de estampados e molas de precisão, entre outros componentes voltados para a linha automotiva, a linha branca e o setor de bens de capital (American Company do Brasil, 2005; Northern Group INC., 2005). O Northern Group possui um presidente geral, que ocupa o topo da pirâmide de comando, abaixo do qual há três vice-presidentes, sendo cada um o presidente de uma das três divisões acima citadas. Para o presidente da American Company Division, reportam-se general managers, cada qual responsável por três unidades produtivas no mun- do. No nosso caso, a planta de Campinas é repre- sentada por um desses general managers, junto das unidades do México e Canadá. Abaixo dos general managers, estão os diretores gerais das plantas, e, depois deles, os gerentes de áreas de cada uma delas. Aqui há uma cisão. Enquanto os gerentes das áreas de Vendas, de Engenharia e Desenvol- vimento, de Qualidade e de Produção das plan- tas respondem diretamente aos diretores gerais, os gerentes das áreas de Controladoria e de Recur- sos Humanos, embora devam também se reportar hierarquicamente ao diretor geral da planta no país, devem prestar informações e encaminhar relatóri- os regularmente a diretores mundiais de Controladoria e de Recursos Humanos da American Company Division, nos EUA, os quais, por seu turno, responsabilizam-se pelo andamento dessas áreas no plano mundial da matriz, reportando-se a vice-presidentes de Recursos Humanos e de Controladoria Geral do Northern Group. Essas exceções são significativas, pois atra- vés delas, podemos observar os graus de auto- nomia e de dependência das plantas em face das políticas mundiais da American Company Division e do Northern Group. Na Controladoria, as conexões diretas entre as gerências locais e a rede de diretores e vice-presidentes mundiais (da American Company Division e do Northern Group) têm como objetivo dinamizar o fluxo de informa- ções e permitir análises rápidas sobre as finanças de cada planta, em termos de suas capacidades e necessidades de investimentos, funcionando como suporte às decisões locais das plantas, regionais da matriz e mundiais do Northern Group. É o “cora- ção” financeiro da corporação e suas “veias”. Por isso, há a necessidade de uma centralização do comando. O caso dos Recursos Humanos é ainda mais interessante, pois, embora ele esteja configurado da mesma forma, com um comando centralizado ligan- do fortemente as filiais à matriz e essa ao grupo, sua função é menos a de suporte e muito mais a de im- plantação de diretrizes. É o “cérebro” da corporação e seus “nervos”, a interligar cada cabeça, numa filo- sofia comum em várias partes do mundo, pois de nada adiantaria uma empresa ter solidez financeira se não dispusesse de uma coesão ideológica do topo à base da sua hierarquia de trabalho. Perfazendo exatamente essa ordem, no topo da corporação há um conjunto de políticas bási- cas dessa área que partem do Northern Group, atra- vés do seu vice-presidente em Recursos Huma- nos, para todas as empresas, entre elas a American Company Division. Num segundo âmbito, as de- cisões são tomadas pelo diretor mundial de Re- cursos Humanos da American Company Division, cujas determinações seguem políticasdo Northern Group, mas acrescidas de critérios específicos, ca- bendo, então, à matriz e às filiais segui-las. O ter- ceiro âmbito é o circunscrito à legislação trabalhis- ta dos países onde estão as plantas filiais, onde muitas vezes há a necessidade de adaptação das políticas vindas do Northern Group e da American Company Division aos contextos locais. Abaixo desses três âmbitos de decisão, há uma gama de políticas internas da própria gerência de Recursos Humanos das unidades filiais e que, embora con- C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 542 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... tenham decisões estratégicas da matriz dirigidas a países como o Brasil, são determinadas pelo ge- rente de Recursos Humanos da planta, com o aval do diretor geral, sendo facultado ao último implementar modificações, desde que dentro da hierarquia acima exposta. É o âmbito máximo da autonomia das plantas filiais, ainda que, se- gundo o gerente de Recursos Humanos da uni- dade de Campinas, seja uma autonomia que deva consolidar um controle que permanece centrali- zado no Northern Group. Se, tanto num caso como noutro, o co- mando central é flexibilizado à medida que des- cemos na hierarquia de decisões das plantas matrizes às filiais, essa flexibilização, nos Recur- sos Humanos, está diretamente ligada aos cargos e funções a que estão submetidos os assalariados da empresa, da seguinte forma: nas esferas operacionais, é reservada uma parte muito mai- or de controle às gerências da matriz e das fili- ais, enquanto nas esferas administrativas, o con- trole é mais centralizado nas políticas do Northern Group. Um exemplo é o aumento sa- larial: enquanto, nas esferas operacionais, se- guem-se as campanhas e acordos coletivos de cada categoria e país onde estão as plantas, nas esferas administrativas, tais aumentos devem ocorrer uma vez ao ano e em abril, mediante uma avaliação feita pelas plantas, segundo crité- rios rígidos do Northern Group. Outro exemplo, ainda mais forte, são os requisitos mínimos, da- dos pelo Northern Group, para a contratação e promoção nos cargos diretamente ligados aos diretores gerais das plantas, como os gerentes de Recursos Humanos, de Controladoria, de Ven- das, de Engenharia e Desenvolvimento, de Pro- dução e de Qualidade. Não é demais aludir aqui ao fato de que, entre esses requisitos mínimos, está a fluência no idioma inglês. Essa corporação transnacional produz, por- tanto, uma diferenciação entre os seus assalariados, compondo, na sua esfera administrativa, um grupo de trabalhadores que, apesar de não possuir as mes- mas condições de vida nos diferentes países em que se localiza, é regido por regras estabelecidas num centro de decisão situado nos EUA. Isso é, sem dúvida, uma forma de controle e, mais propria- mente, de construção de consentimento entre os trabalhadores dos níveis gerenciais, através de um mecanismo que fortalece a coesão de interesses, no plano global, entre as matrizes (Divisões), as filiais e os detentores do capital, ou seja, os acio- nistas majoritários do Northern Group. Somente sob essa forte rede de controle mundial, centralizada no topo da corporação, é que a gestão da força de trabalho foi, nos níveis operacionais, delegada às gerências de Recursos Humanos locais. Similarmente, as inovações tecnológicas na produção, os estudos de merca- do, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e o controle das finanças locais ficam a cargo das gerências de Produção e de Qualidade, de Vendas, de Engenharia e Desenvolvimento e de Controladoria das plantas. Todas essas áreas funcionam como “correias de transmissão” dos objetivos do Northern Group em sua expansão mundial e, apesar da autonomia local de que dis- põem, seus assalariados passam pelo crivo de contratações, treinamentos e avaliações minuci- osamente preparados pelas diretorias mundiais e vice-presidências da American Company Division e do Northern Group. Esse controle centralizado fica evidente nas falas dos gerentes entrevistados na planta de Campinas. Em quase todos os assuntos sobre os quais indagamos, suas respostas, como nos exem- plos a seguir, foram dadas na primeira pessoa, no singular ou no plural, como se fossem eles mesmos a corporação ou seus proprietários (os grifos são nossos): Na manutenção, eu só tenho um supervisor [...]. A limpeza que eu tenho dentro da fábrica [...]. Eu tenho um líder que está fazendo engenharia [...]. Esse produto, no caso, ele já sai da nossa máqui- na para a linha de montagem do cliente.13 Que estrutura eu vou ter que ter aqui dentro? Vou ter que investir em novas linhas de produ- ção, em equipamentos? Esse investimento pode ser muito alto e eu não vou ter o retorno esperado 13 RIBEIRO, Jorge. Depoimento [entrevista realizada com o gerente de Recursos Humanos]. (Pinto, 2011, p. 81). C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 543 Geraldo Augusto Pinto [...]. Então, infelizmente eu tenho que manter na Brasimet de São Paulo [...]. A qualidade é pri- mordial para que eu homologue um fornecedor [...].14 Bom, na nossa empresa [planta de Campinas], o nosso principal marketing é justamente a capacitação tecnológica [...]. Nós sabemos lidar com os problemas, sabemos lidar com coisas di- fíceis e que exijam responsabilidade, por isso nós temos tecnologia e conhecimento técnico [...]. Eu não lanço um produto em si. Eu penso num processo, num novo material, pois o produto, em si, ele tem que ser casado com a necessidade do cliente.15 Para além desse discurso internalizado, cabe- nos verificar como tais gerências assalariadas, com sua autonomia local, estruturam as plantas a fim de manterem altas taxas de acumulação de capital, den- tro das metas postas pelos detentores dos meios de produção no exterior. Entre 1989 e 1990, em meio à crise provocada pela abertura comercial e todos os ajustes recessivos internos do governo Collor, a gerência de Recur- sos Humanos da planta de Campinas terceirizou todas as atividades da esfera de apoio – ou seja, a manutenção elétrica, mecânica e predial, a limpe- za e a segurança da fábrica. Em 1998, iniciou-se o kaizen, um sistema de análise constante dos pro- cessos de trabalho, feito por uma equipe multidisciplinar, na qual são envolvidos trabalha- dores desde os níveis operacionais até os gerenciais e cuja finalidade é aprimorar a ergonomia do tra- balho, melhorar o controle de qualidade e aumen- tar a produtividade, eliminando o tempo perdido entre operações e “liberando” força de trabalho para outros setores. Perfazendo um importante instrumento de aproximação entre as gerências e os níveis operacionais, o kaizen abre um canal de extração do conhecimento tácito que os trabalhadores acu- mulam sobre os processos de trabalho em que se inserem, mediante sugestões de melhorias que fa- zem e que acabam se consolidando em projetos de grande envergadura para a empresa. Como exemplo, até 1998, a planta de Campinas dividia-se em áreas com equipamentos semelhantes, dedicados e con- duzidos por trabalhadores especializados. Com o kaizen, os operários, em ensaios coordenados pelas gerências, introduziram dispositivos de segurança e de funcionamento automáticos nos equipamentos (a chamada “autonomação”),16 simplificando o seu ma- nuseio e permitindo que fossem operados por traba- lhadores não necessariamente especializados e, in- clusive, em menor número. Tais equipamentos foram dispostos de modo a configurar “células de trabalho”, que, por sua vez, também foram arran- jadas de acordo com os itens que fabricam, con- centrando, num menor espaço, processos comple- mentares e diminuindo, com isso, o translado de pessoas emateriais. Já se pode notar como o kaizen, além de corresponsabilizar os operários na organização do trabalho na empresa, produziu outros três resulta- dos: (1) a criação de aparatos automatizados redu- ziu as interrupções da produção por quebra de máquinas “dedicadas”, pois os trabalhadores ne- las ocupados são transferidos rapidamente a ou- tros equipamentos nessa eventualidade, uma vez que o seu manuseio foi facilitado pelos novos dis- positivos de segurança e funcionamento automáti- cos; (2) por intermédio dessa automação, a organi- zação da produção em células tornou mais evidente às gerências o andamento de cada pedido e os es- toques de materiais em processo, possibilitando, assim, uma eliminação contínua dos chamados “poros” das jornadas de trabalho; (3) o layout ce- lular, por sua vez, ao aglutinar processos comple- mentares e reduzir o translado de produtos in- termediários no interior da produção, evitou as ocor- rências de mistura de peças entre lotes diferentes, gerando uma enorme economia da força de traba- lho antes empregada na conferência de tais lotes. Posteriormente, as células, dispondo des- sa crescente polivalência dos operários, passaram a se reacomodar constantemente, aglomerando, em si, ora mais, ora menos equipamentos, de um e de outro tipo, obrigando, assim, os trabalhadores a se 14 RAMOS, Vitor. Depoimento [entrevista realizada com o gerente de Melhoria Contínua]. (Pinto, 2011, p. 81). 15 MELLO, Lucas. Depoimento [entrevista realizada como o ge- rente de Engenharia e Desenvolvimento]. (Pinto, 2011, p. 81. 16 Definição presente em Coriat (1994), advinda da fusão das palavras “autonomia” e “automação”. C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 544 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... adaptarem rapidamente a esse rearranjo contínuo, que varia de acordo com as demandas dos seg- mentos de mercado em que a empresa atua (a dis- posição entre as várias células, de fato, mudou várias vezes ao longo da nossa pesquisa de cam- po, conforme a empresa absorvia ou dispensava negócios). Por fim, os operários passaram a ser trei- nados no uso de medidores e na elaboração de car- tas de Controle Estatístico de Processo (CEP), res- ponsabilizando-se totalmente pela qualidade do que produzem em cada operação, com o que se reduziu o trabalho de restauração de itens defeituosos. Um dos operadores-ajustadores que entrevistamos nos disse, acerca da sua jornada diária de trabalho: Para falar a verdade, eu trabalho no setor inteiro de estamparia. São divididas em ’Ralo’, ’Peixe’, ’Água’, ‘Cofap’ e ‘Lingueta’, cinco células, cada uma faz um produto. Só que eu trabalho em to- das. Ajusto [a ferramenta na máquina], ponho para operar e libero o produto. E têm as inspe- ções [de qualidade], vamos supor, a cada dez mil [peças produzidas]. Depois precisamos preparar a próxima ferramenta, o próximo material: os desbobinadores lá são duplos; esse lado está tra- balhando, e desse lado você tem que estar arru- mando a outra [máquina]. A gente faz manuten- ção participativa também, para lubrificar, ver se tem algum defeito. E faz a limpeza semanal, que é na sexta-feira, em todo o local de trabalho, na máquina e no chão.17 Trata-se de um processo que atinge não apenas as esferas operacionais, mas também as administrativas da planta. Nas palavras de um dos gerentes de Produção que entrevistamos: Os próprios supervisores e gerentes absorveram trabalhos pelos quais não eram responsáveis. E aí você também acaba tendo uma visão global de todo o negócio da empresa. Porque hoje, o cara de manutenção não pode só pensar em consertar máquina, tem que ter uma visão global de toda a empresa, de atendimento ao cliente, de produti- vidade. A gente também, o gerente de Produção, tem que ter uma visão global de custo, sempre estar envolvido com os custos, com o planeja- mento geral da empresa. Você tem que ter uma visão geral de tudo.18 Já abordamos, em outros trabalhos,19 como o tripé “autonomação, celularização e polivalência”, ao invés de uma “visão global da empresa”, pro- duz, na realidade, a aglutinação de um grande número de tarefas simplificadas numa quantidade menor de postos de trabalho, gerando uma explo- ração extensiva e intensiva maior do que no siste- ma taylorista-fordista, inclusive pela ausência de incremento salarial em face das novas atribuições assumidas pelos trabalhadores e, ademais, pelo abuso de horas extras que esses sistemas flexíveis de gestão do trabalho requerem. Nosso objetivo, aqui, será mostrar, no entanto, como tais sistemas, em especial o toyotista e sua ocidentalização, pro- movem uma espécie de “mercantilização” das re- lações entre os assalariados no interior das empre- sas. Tomemos, como uma referência, o Quadro 1. Como o próprio título aponta, esse quadro foi aplicado visando a captar a importância de alguns critérios na contratação de trabalhadores para a esfera da produção da empresa.20 No en- tanto, segundo o gerente de Recursos Humanos – que o preencheu, tecendo-nos, ao mesmo tempo, comentários –, ele também é representativo dos casos de contratação em todas as demais esferas e, inclusive, dos casos de promoções no mercado interno de trabalho da empresa. Mas há particu- laridades em cada um desses casos. Vê-se que a escolaridade, a formação e a experiência profissional21 compõem os três as- pectos mais importantes em uma contratação. To- davia, na opinião da gerência de Recursos Huma- 17 PEDRO, Luiz. Depoimento [entrevista realizada com tra- balhador da esfera da Produção]. Pinto (2011, p. 85). 18 MUNHOZ, Walter. Depoimento [entrevista realizada como o gerente de Produção]. Pinto (2011, p. 90). 19 Em textos sucintos como Pinto (2008, 2009, 2010b); ou, de modo mais aprofundado, em Pinto (2011). 20 Nesta pesquisa, compreende-se por esfera da produção o conjunto de processos de trabalho diretamente relacionados à fabricação dos produtos, desde abastecimento de matérias- primas nas máquinas e sua transformação, passando pela confecção das ferramentas, manutenção da maquinaria e ins- talações fabris, até o controle de qualidade dos produtos e seu empacotamento final (Pinto, 2011, p. 165). 21 Compreendemos por “experiência profissional“ o co- nhecimento tácito desenvolvido espontaneamente pelo trabalhador no contínuo exercício do labor e quase sem- pre compartilhado (formalmente ou não) entre os cole- gas de trabalho. Já por “formação profissional“ compre- endemos os treinamentos de caráter técnico e voltados a uma atividade especializada, realizados dentro e fora das empresas pelos trabalhadores, bem como os cursos de formação tecnológica (nível médio e superior), de gradu- ação e pós-graduação que possuem (e aqui nos referimos C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 545 Geraldo Augusto Pinto nos, embora esses três itens sejam imprescindí- veis em uma contratação, não são os únicos a se- rem requisitados nas promoções – ou seja, no âmbito do mercado interno de trabalho da planta. Nesse âmbito, levam-se em conta critérios intangí- veis, ou “fluidos”, como certos perfis comportamentais expressos em situações cotidianas de trabalho. Crité- rios que, diferentemente da “rigidez” presente na escolaridade, na formação e na experiência profissio- nal, não se oferecem à mensuração ou à observação conjunta pelas gerências e trabalhadores em experi- ências controladas. Não obstante, são tais critérios determinantes nas promoções, conforme atestam as próprias palavras do gerente de Recursos Humanos: Nós temos hoje um supervisor na parte de estam- pados, o Pedrinho: ele entrou como aprendiz. Hoje está como supervisor, pois está fazendo enge- nharia – para sersupervisor, tem de estar fazendo engenharia [aspecto rígido], porque nós precisa- mos de engenheiros lá embaixo [no chão de fábri- ca]; ele está fazendo engenharia no momento, mas, antes dele começar a cursar, ele já tinha sido pro- movido, porque ele é um cara acima da média, se destacou muito [aspecto fluido]. Por exemplo, surgiu uma vaga de ajustador, sei lá, em prensa, que é o exemplo que nós temos usa- do, eu vou fazer uma avaliação, uma análise de quantas pessoas eu tenho com possibili- dade para ocupar esse cargo. Eu levanto cinco pessoas. Aí a gente vai ver: ’O João: tem escolaridade?’ Tem. ’Tem curso téc- nico?’ Tem. ’Tem experiência?’ [aspectos rígidos]. Não tem. Então, já segura. Até que você vai achar um que tenha todos os quesitos, aí você vai partir para a perso- nalidade dele [aspecto fluido]: como que é o João, como que é o José, como que é o Manoel e tal. Aí você vai definir: ’Ah, não, olha, acho que aqui nesse cargo, nessa si- tuação, a melhor situação é o José’. Aí, o José é promovido. Incide na avaliação geral do funcionário o comportamento pessoal dele, a postura, como que ele vê a empresa, como os ou- tros veem ele dentro da empresa, qual é a visão que o gerente dele tem dele, dos outros gerentes, qual que é a visão do RH. Principalmente pesa a visão do gerente dele, do RH e do diretor geral [todos as- pectos fluidos], e aí os atributos técnicos, a for- mação dele, a experiência [aspectos rígidos], é um somatório de todos os fatores.22 Mesmo se nos restringirmos aos casos de contratação, tomando critérios como a “Aprova- ção em testes de seleção da empresa” (terceiro lugar em importância no Quadro 1), iremos nos deparar, novamente, com a fluidez dos perfis comportamentais. Segundo a gerência de Recur- sos Humanos, havia roteiros prescritos para es- ses testes, os quais foram abolidos no início da década de 1990, seja por demandarem pessoas para aplicá-los – o que os tornou inviáveis com o quadro cada vez mais enxuto da planta –, seja pela ocorrência de casos de candidatos que se saíam bem nos testes, mas não no dia a dia, tendo também ocorrido o inverso: ficavam nervosos e se saíam mal nos testes, embora fossem excelentes profissionais. Sendo assim, a referida gerência optou por testes mais práticos: O ’teste’ é: o supervisor leva o pretenso candidato a funcionário lá na máquina e fala: ’Esta máqui- na aqui, você conhece? Se formos fazer isso, faria o quê? E aquilo? Você acha que dá para trabalhar aqui? Etc.’ Então, nós preferimos ter esse feeling de quem conhece a máquina e, eventualmente, o 22 Os três parágrafos acima foram extraídos da entrevista realizada como o gerente de Recursos Humanos, repre- sentado pelo nome fictício de Jorge Ribeiro (Pinto, 2011, p. 101). ao peso que a área de formação nesses cursos tem para o trabalho a ser desenvolvido na empresa, segundo a gerên- cia entrevistada; portanto, não apenas a escolaridade em si, cuja importância foi tomada separadamente). C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 546 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... supervisor pode pedir a ajuda de um ajustador mais antigo, de um líder, para fazer um bate- bola ali com o candidato.23 Deixemos de lado, aqui, a justificativa dos quadros enxutos para entender o “feeling” do dia a dia que o teste tem de revelar. Em primeiro lugar, notemos que esse tipo de teste comporta não somente uma análise da competência técni- ca do candidato; vai além, pois, mediante a si- mulação de situações reais, ele abre margem à avaliação de traços comportamentais. Em segun- do lugar, os operários efetivos têm, nesse siste- ma, uma participação mais ativa, o que, se, por um lado, amplia suas ações na divisão do traba- lho na empresa, por outro, os responsabiliza com relação ao desempenho futuro dos selecionados, haja vista que as metas de produtividade e qua- lidade não são mais cobradas pelas supervisões e gerências no âmbito dos postos individuais, mas das células de produção, organizadas inter- namente e entre si como “times” de novos e an- tigos operários. Novamente aqui, transparece, portanto, um controle horizontalizado que se instala entre os próprios trabalhadores, escamoteado pela su- posta incorporação de novos saberes e atuações. E, de fato, os antigos operários (segundo pude- mos observar em nossas visitas à fábrica) são bastante requisitados não apenas nas seleções, mas no treinamento dos mais jovens, o que os leva a circular cada vez mais entre as células, ampliando, por todo o tecido das relações de trabalho (dos mais jovens aos mais experientes, dos mais especialistas aos mais generalistas), a es- tratégia da polivalência e retroalimentando, por essa via, o kaizen, a autonomação e os seus resultados já anteriormente comentados. Voltemos, mais uma vez, ao Quadro 1 e analisemos como o item “Objetivos de carreira” é compreendido pela gerência de Recursos Humanos da American Company do Brasil. Segundo essa gerência, apesar da descrição da estrutura de cargos e salários ser exposta aos candidatos nos processos de contratação, a observação do interesse deles na possibilidade de crescimento dentro da empresa não constitui um critério importante nessa ocasião. É, entretanto, um inestimável meio de avaliação do desempenho dos trabalhadores quando se trata de promoções internas: Se a gente leva isso em consideração como crité- rio de contratação, simplesmente? Não. Mas nós incentivamos as pessoas para que estudem, e não só os cursos que a empresa oferece, mas que fa- çam cursos, que se desenvolvam, para quando surgir a oportunidade estarem preparados. Nós falamos: ’O conhecimento, não é só aqui dentro [da empresa], o conhecimento está dentro da ca- beça e, se você vai embora, você o leva’. Quere- mos que ele [o trabalhador] tenha objetivos de crescimento, de desenvolver uma carreira den- tro da empresa. Não queremos contratar uma pessoa que entre hoje, mas que daqui a três me- ses vá embora, pois estamos investindo. [...] No primeiro mês, ele vai ter um ajustador mais anti- go que vai estar acompanhando, o supervisor vai estar mais em cima. Têm os cursos, tem a integração, tem os cursos básicos de qualidade e tudo mais. Então, a gente quer que ele entre e continue trabalhando.24 Tanto na unidade brasileira como nas de- mais, há dois planos de carreira: um para os as- salariados mensalistas (que recebem um salário fixado por mês de trabalho) e outro para os horistas (que recebem salário mensalmente, mas fixado por hora trabalhada). A diferença reside nos sistemas de avaliação: para os cargos da es- fera administrativa, as avaliações e promoções seguem critérios dos EUA em todas as plantas no mundo – e um critério canônico é jamais pro- mover alguém por tempo de serviço na empre- sa. Os horistas distribuem-se entre as esferas pro- dutivas e de apoio, embora, para efeito da presente análise, devamos considerá-los apenas como inte- grantes das primeiras, em vista das atividades de apoio terem sido totalmente terceirizadas (confor- me já foi comentado no início) e seus assalariados não serem submetidos aos mesmos critérios que os demais trabalhadores da empresa. A avaliação dos horistas não é feita “por pares”, ou seja, pelos assalariados na mesma po- 23 Ibid., p. 102. 24 Ibid., loc. cit. C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 547 Geraldo Augusto Pinto sição: é uma atribuição dos seus supervisores, apenas. É curiosa a observação do gerente de Recursos Humanos a respeito: A gente considera que o pessoal horista ainda não tem maturidade suficiente para fazer uma autoavaliação, e isso geraria um dispêndio de tempo muito grande por parte do funcionário, porparte dos supervisores e um resultado que não seria muito efetivo.25 De fato, poderia “custar caro” às gerências intervir na lei de bronze do controle horizontalizado da gestão flexível. Afinal, permitir uma avalia- ção por pares dentro das equipes no interior das células liquidaria com a tão almejada “imparcia- lidade saudável” nas relações pessoais entre os seus membros, ou seja: a ilusória autorização de um trabalhador em responsabilizar o seu colega de equipe pelo cumprimento das metas gerenciais seria perigosamente dissuadida, emergindo, em seu lugar, uma coletividade potencialmente ofen- siva às gerências e que lhes ofuscaria a visão, tirando-lhes, por conseguinte, o poder de ação por vias “fluidas” e obrigando-as a um retroces- so ao inferno taylorista. Por fim, a avaliação por pares liquidaria também com a competitividade entre as células. As gerências, então, concentram o poder de avaliar e afastam, nessa avaliação, o foco dos postos individuais de trabalho em direção ao âmbito coletivo das células e setores, conside- rando-os todos como grandes “times” de traba- lhadores polivalentes, competitivos e autônomos, não apenas pela assunção de múltiplas tarefas operacionais (mesmo que simplificadas e repetitivas em si), mas pela supervisão restrita dos próprios colegas, com base em índices que abran- gem desde o tempo gasto em tarefas cronometradas, falhas e necessidade de retrabalho, chegando-se a indicadores de absenteísmo e até mesmo de aciden- tes de trabalho. Em todas as avaliações, tanto para os horistas como para os mensalistas, os avaliados são cha- mados ao final para discutir os resultados com os avaliadores, com vistas a chegarem a um consen- so, após o que ambos devem assinar a avaliação. Nas palavras do gerente de Recursos Humanos: Ele [o avaliador] vai falar: ’Olha, tem um problema aqui que eu estou vendo, sempre no seu departa- mento tem um problema de devolução, que é um problema de qualidade, então eu vou colocar você para fazer um curso’. Ou então: ‘Você tem que me- lhorar: você já fez três cursos e continua dando pro- blema, o que está acontecendo?’ Ou: ‘Você é uma pessoa não muito assídua, constantemente eu vejo que você tem faltas’. Ou: ‘Olha, a empresa deu dez cursos, ela ofereceu e você fez um: por que você não está fazendo os cursos que a empresa oferece? Algum problema, alguma coisa?’26 Cabe destacar que, durante o processo de avaliação, esses trabalhadores não são confron- tados apenas com os colegas e com as gerências: a favor delas e ao lado do apelo ao trabalho mais qualificado e do culto às novas tecnologias, es- tão as ameaças como os baixíssimos custos dos produtos industrializados de economias capita- listas periféricas como a China. Nas próprias pa- lavras da gerência de Recursos Humanos: Eu diria para você que, com a globalização, a aber- tura que houve em 1990, hoje nós não somos mais um fornecedor em nível de Brasil, somos um for- necedor em nível mundial, estamos aptos a for- necer para qualquer empresa em qualquer lugar do mundo. Então, se nós temos capacidade para fazer isso, temos de estar à altura em todos os requisitos: seja em equipamentos, seja em mão de obra, seja quanto às práticas de gerenciamento. Tudo isso tem de estar de acordo com o que se faz lá fora. Porque senão nós começamos a per- der mercado, por exemplo, para a China, ou para os Tigres Asiáticos, que têm uma mão de obra superbarata.27 Essa preocupação com o emprego, vincula- da ao comprometimento com os resultados da em- presa no mercado, está expressa, igualmente, na fala dos trabalhadores. Indagado sobre quais foram os objetivos das gerências da American Company do Brasil ao implantarem as técnicas de gestão flexível no trabalho, um operário nos respondeu: 25 RIBEIRO, Jorge. Depoimento (Pinto, 2007b, p. 208). 26 RIBEIRO, Jorge. Depoimento. (Pinto, 2011, p. 103). 27 Ibid., p. 106. C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 548 O TOYOTISMO E A MERCANTILIZAÇÃO ... Diminuir o quadro de funcionários e o gasto. Para poder vender um produto mais barato e para você se manter no mercado. Não adianta você ter mil funcionários aí e seu rendimento ser pequenini- nho, se você não consegue vender por um preço bom lá fora [no mercado internacional]. Então, você vai acabar o quê? Vai acabar ’morrendo’. Eu creio que foi um caminho do grupo para se man- ter no mercado.28 Apesar de o atual custo da força de traba- lho na indústria automotiva brasileira estar en- tre os menores do mundo,29 as esperanças dos grupos industriais oligopólicos em ampliarem as suas taxas de acumulação de capital locais, pelo que demonstra nosso estudo de caso no setor de autopeças em Campinas, continuam assentadas na fluidez dos componentes comportamentais dos critérios de contratação e promoção de tra- balhadores em todas as esferas de trabalho. Uma fluidez que consolida uma organização do trabalho fundada na polivalência dos trabalha- dores, pois, em tudo e por tudo, ela explicita a ne- cessidade, existente na empresa, de um forte com- prometimento dos níveis hierárquicos entre si. Explicita também a fluidez crescente da divisão de tarefas nas diferentes esferas, setores e células de trabalho. E, por fim, deixa clara a tão esperada “le- aldade”, tanto das gerências quanto dos níveis operacionais e, em especial, dos mais jovens, com os objetivos maiores do comando administrativo da empresa nos EUA, ou seja, com a sua acumula- ção de capital. Uma “lealdade” que deve levar os trabalhadores a se qualificarem por conta própria e a galgarem, a todo custo, postos cada vez mais altos, não necessariamente pela sua escolaridade ou perfil técnico, mas pelo seu perfil pessoal e, sobretudo, político, nas relações que constroem com os demais trabalhadores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na análise realizada nas seções anteriores, podemos ousar expor aqui alguns pontos cruciais acerca do sistema de Ohno (o toyotista) e seu grande salto em relação à Ford. Enquanto o pai da indústria de massa, no início do século XX, almejou servilizar o seu corpo de trabalhadores, transformando-os, supostamen- te, em potenciais consumidores dos seus própri- os produtos, o pai da gestão flexível, ao final daquele século, distinguiu-se por tentar servilizá- los, transformando-os, supostamente, em poten- ciais sócios das empresas em que trabalham. Tudo isso, contudo, jamais passou de mera su- posição, pois mesmo Ford já contrapunha aos elementos rígidos da gestão do trabalho os ele- mentos fluidos e toda a individualização deles decorrentes no comportamento dos trabalhado- res: “vestir a camisa da empresa” foi tão comum em Detroit até meados do século XX, como no ABC paulista, a partir dos anos 1950.30 É claro que os tempos que elegeram o sis- tema de Ohno já eram outros. O capital finan- ceiro e uma nova classe de acionistas poderosos sobrepujaram as gerências industriais. O consu- mo de massa já não alimentava mais as aristo- cracias operárias, e o poder do sindicalismo corporativo tampouco contornava a insatisfação dos setores classistas mais combativos ou apresentava soluções aos setores excluídos como os desempre- gados e precarizados – que, após os anos 1970, proliferaram enormemente. A microeletrônica e a informática acirraram, de forma colossal, a con- corrência aberta pela derrubada das muralhas protecionistas nacionais, ao tempo em que os próprios Estados parecem ter sucumbido, junto das burguesias locais que protegiam, frente ao poder de corporações que operam globalmente. As leis da acumulação de capital têm, por- tanto, avançado sobre todas as trincheiras que en- contram pela frente na vida social. E um fato gritan- 28 CARLOS, Antônio. Depoimento [entrevista realizada com trabalhador da esfera da Produção]. (Pinto, 2011, p.107). 29 A consultoria CSM / Worldwide classifica o mundo da produção automotiva em três níveis de custos: alto, baixo e ultrabaixo. A média do custo da força de trabalho, inclu- indo benefícios, na indústria automotiva de países como Alemanha, EUA e Japão, é de US$ 23,00 a US$ 27,00 por hora. Em regiões como Taiwan e Coreia do Sul, a média cai para US$ 10,00 a US$ 11,00. O Brasil se enquadra, segundo a consultoria, na terceira categoria, em que a mé- dia chega a US$ 3,00 por hora (Olmos, 2005). 30 Ver a respeito do caso estadunidense Gramsci (1990) e do caso brasileiro Negro (2004), este com suas passagens so- bre a “família Willys”. C A D ER N O C R H , S al va do r, v. 2 5, n . 6 6, p . 5 35 -5 52 , S et ./D ez . 2 01 2 549 Geraldo Augusto Pinto te é a transposição, cada vez mais clara, de aspectos ora restritos às relações entre as empresas (clientes e suas fornecedoras, matrizes e suas filiais) no pla- no do comércio globalizado, para as relações entre os próprios assalariados, no plano produtivo local das plantas: da polivalência aos mercados internos de trabalho, percebe-se, hoje, a existência de um mecanismo nas empresas que promove nos traba- lhadores uma atitude autoexploratória, em função de uma relação, a acumulação de capital, que, embora os atravesse, paira acima deles. Tal como sob o sistema taylorista-fordista, os trabalhadores permanecem subsumidos como engrenagens semoventes dessa acumulação de capital, mas num grau de complexidade muito maior, pois não estão subordinados a esse pro- cesso por formas coercitivas (físicas ou intelec- tuais) impostas por uma organização que se lhes defronta objetivamente e com regras frias e racionalistas. Mais do que regras claras, certa- mente ainda presentes, o que a gestão flexível, em especial a toyotista, impõe aos trabalhadores são transmutações de seus costumes, de suas paixões e de seus caracteres mais profundos, mediante uma introjeção subjetiva de princípi- os de conduta moral, de um ethos. Trata-se de um sistema de gestão que cons- titui, nesse sentido, muito mais do que uma metodologia de organização técnica do trabalho – o grande sonho de Taylor –, mas uma etognosia, estando suas formulações práticas não apenas limitadas a uma forma específica de cooperação no trabalho, mas edificadas na forma de um “go- verno”, de uma etocracia, na qual tanto operári- os quanto gerentes assalariados estão servilmen- te prostrados a um só soberano: o capital. Texto recebido em 9 de dezembro de 2011 Aceito em 6 de fevereiro de 2012 REFERÊNCIAS ABREU, Alice R. et al. Produção flexível e relações interfirmas: a indústria de autopeças em três regiões do Bra- sil. In: ABREU, Alice R. de P. (Org.). Produção flexível e novas institucionalidades na América Latina. Rio de Ja- neiro: Ed. da UFRJ, 2000. p. 27-73. ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do traba- lho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2000. AMERICAN COMPANY DO BRASIL. 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