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RESUMO DE DIREITO EMPRESARIAL 3

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Resumo – Direito Empresarial III
Neste semestre, estudaremos os títulos de crédito, que são institutos extremamente importantes para a atividade empresarial. Diferentemente, contudo, do que aconteceu no curso de Direito Empresarial até então, eles não estão disciplinados no Código Civil. Os títulos de crédito têm uma relação legal muito mais forte com o Direito das Obrigações, a ponto de se chegar a dizer que o que vamos estudar esse semestre são os efeitos de uma obrigação especial, uma obrigação contraída num documento denominado título de crédito. (887 CC).
Na maioria dos casos envolvendo títulos de créditos as respostas estarão em legislações esparsas. É preciso, por isso, ter sempre em mãos algumas leis e decretos, quais sejam:
Cheque – lei 7.357/85.
Nota promissória e letra de câmbio –  anexo I do decreto 57.663/66.
Duplicata – lei 5474/68.
Cédula de crédito bancário – lei 10.931/2004.
Desde já, deve-se ter em mente que o processo devido para títulos de crédito é a EXECUÇÃO. A execução é o meio próprio para se reclamar as quantias devidas em virtude de título de crédito.
A título exemplificativo, imaginemos um cheque. Quando o sujeito abre uma conta corrente num banco, esse sujeito vai custodiar valores junto ao banco. Nessa conta corrente esse sujeito possuirá capital. Uma forma de utilizar esse dinheiro é através do CHEQUE.
Todo cheque nasce de um negócio jurídico. Se A emitiu cheque para B de bola é porque eles ajustaram um negócio jurídico. Ex: compra e venda. B vendeu algo para A, que pagou esse algo com um cheque. O que se espera numa relação de normalidade dessa situação? B pega o cheque e apresenta ao banco do A. B apresenta ao banco e vê se A tem fundos. Banco do Brasil (por exemplo) verifica assinatura e confere o saldo. Havendo fundos, dá o dinheiro para B.
Mas e se B for surpreendido com a seguinte questão, no banco:” B, não vou te pagar, porque A não tem fundos na conta corrente”. B pode até tentar um contato amigável com A no sentido de receber amigavelmente aquela quantia, e, não conseguindo, ele pode, lastreado nesse cheque, uma ação de EXECUÇÃO, executar o A em juízo.
Mas imagine que B recebeu esse cheque no valor de R$ 15.000. Mas B tinha uma dívida exatamente de 15.000 em face de C. Aí B passa o cheque para C. A forma própria de passar um título para frente é através do endosso.
Disso conclui-se que há sempre motivação negocial na EMISSÃO do título de crédito e na CIRCULAÇÃO do título de crédito.
Mas prosseguindo a hipótese…
O banco, entretanto, negou efetuar o pagamento a C, porque ele afirma que o A não tinha fundos. C propõe contra o A uma ação de EXECUÇÃO. Uma vez executado o A contrata um advogado que apresenta a seguinte defesa: olha juiz, o cheque de fato foi assinado pelo A, mas o A emitiu esse cheque para B. A celebrou um negócio jurídico com B que foi INADIMPLIDO, então não vou pagar nada para C. (Ex: na compra e venda inicial, entre B e A, B não entregou o que deveria ter entregado, então foi justamente por isso que eu, A, retirei o dinheiro do banco, para que B não pegasse indevidamente o meu dinheiro). C, em contrapartida, diz que não tem nada com isso, porque o processo de execução é limitado entre exequente e executado, e que C, em realidade, é um terceiro de boa fé em relação àquele negócio jurídico celebrado entre A e B, motivo pelo qual não poderia ser prejudicado.
Como se soluciona essa questão? Acolhe a defesa de A ou prestigia argumento de C?
No art 25 da lei do cheque acharemos resposta para esse problema
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Art . 25 Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.
Diz que o emitente do cheque, que no caso é A, não pode opor contra o PORTADOR, que é o C de casa, AS EXCEÇÕES(defesas) pessoais contra B de bola. A lei prestigia o terceiro de boa fé. Vamos entender o motivo disso.
Trata-se do princípio da inoponibilidade das exceções pessoais. Que que isso significa? Significa que, no caso em questão, A não poderia se defender contra um terceiro de boa fé(C) se valendo da relação contratual da qual ele é terceiro, indiferente.
Se fosse o B executando o A já seria diferente (na hipótese da obrigação inadimplida).
De toda forma, pela via própria, numa outra ação, processada pelo procedimento comum, com ampla dilação probatória, A poderá ingressar contra B para resolver a questão da compra e venda. (PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO – E NÃO PROCESSO DE EXECUÇÃO).
OBS: o art 25 não prestigia o terceiro de MÁ FÉ. Ex: B sabe sabe que se o A não vai pagar, pois inadimpliu com sua obrigação. Ex: B combina com C de fazer um endosso tendo em vista um CONLUIO fraudulento: aí há uma ressalva ao princípio da inoponibilidade das exceções pessoais. OBS2: Má fé não se presume, mas uma vez comprovada ela faz cair, repita-se, a inoponibilidade das exceções pessoais.
Unidade I – Teoria Geral dos Títulos de Crédito
1.1 Noção de Crédito
Por que o legislador foi tão incisivo em proteger o terceiro de boa fé? Tentaremos responder a essa questão.
O significa de crédito é um significado econômico. O crédito, do ponto de vista econômico pode ser traduzido na seguinte frase:crédito é a troca de um bem presente por um bem futuro. O crédito é fundamental para a economia. Uma economia não se desenvolve sem operações de crédito. Isso porque o crédito confere poder de compra a quem momentaneamente não tem. O crédito permite que o sujeito utilize o capital alheio quando não tem disponibilidade. E, como dito, as operações de crédito são fundamentais para a economia. O crédito permite a utilização do capital alheio, ele é o oxigênio do capital alheio. Sem crédito a economia ficaria bastante reduzida.
1.2 Elementos do Crédito
Crédito vem do latir credere, que significa ter confiança. Toda operação de crédito é marcada por confiança. Você vende fiado em quem você confia. E o primeiro elemento das operações de crédito pode ser destacada é a
confiança, que tem um aspecto subjetivo
e um aspecto objetivo.
Subjetivo: nas transações comerciais em que as importâncias e valores são pequenos, como no exemplo de comprar fiado na padaria do seu bairro, normalmente o que é preponderante é o aspecto subjetivo da confiança. Você consegue comprar fiado porque o dono da padaria lhe conhece, conhece seus pais. De uma forma mais clara: pela sua boa fama, pela sua fama de bom pagador.
Objetivo, por outro lado, leva em conta a realidade patrimonial do pretenso devedor. Quando você vai contratar um empréstimo junto ao banco. Você, por exemplo, empresário, precisa de capital de giro pra sua empresa. O banco, por mais que tenha sido uma colega de Colégio desse empresário, a confiança que vai ter em você será OBJETIVA, porque o banco se tiver que executar é preciso ter garantias. O banco pode pedir a declaração de imposto de renda, por ex. Pode exigir uma garantia real(um bem seja dado em garantia, HIPOTEQUE um bem IMÓVEL, ou pode pedir que de em PENHOR um bem MÓVEL). Nessas transações profissionais o aspecto OBJETIVO costuma ser preponderante.
Portanto, toda operação de crédito tem o elemento confiança. Você não empresta dinheiro se você não confia que vai te restituir.
Outro elemento sempre presente nas operações de crédito é o:
tempo
Porque temos operações de crédito em dois contratos, que é o contrato de compra e venda a prazo e o contrato de mútuo. Em todos ele você visualiza o tempo. Você pega a mercadoria hoje para daqui a algum TEMPO pagar a quantia devida. Você pega o dinheiro hoje para restituir ao banco ou a quem emprestou a quantia devida. O tempo, também, é um dos elementos da operação de crédito.
(Discussão doutrinária desnecessária: o cheque, por ser ordem de pagamento À VISTA, seria título de crédito IMPRÓPRIO? Na visão do professor, lógico que não, porque o elemento TEMPO está SIM presente, haja vista a necessidade de o credor ter que DEPOSITARno banco, e não haver imediatismo no recebimento da quantia).
Nota promissória e letra de câmbio são chamados de cambiais. A cambial pode se referir tanto à nota promissória quanto à letra de câmbio.
Os outros títulos de crédito são chamados de cambiariformes. Não são cambiais, mas possuem a forma das cambiais: cheques, duplicata, cédula de crédito bancário.
Sacador é quem cria a letra de câmbio. Sacador dá a ordem de pagamento contra o SACADO(que recebe a ordem de pagamento), que pode eventualmente aceitar a ordem de pagamento por via de seu aceite.
E o tomador ou beneficiário é a quem se dirige a ordem de pagamento. (Ex: banco).
Ex: Entre A e B existe uma relação que, embora não esteja declarada no título, é uma relação causal/fundamental. A relação causal é a relação contrual que remete à origem, à existência do título. Mas entre A e B existe, também, uma relação cartular.
A nota promissória é um papel, que incorpora o direito que B tem contra A(Relação cartular/cambial).
Todavia, B pode passar essa nota para C, através do C(ele vai dizer ‘’endosso para C’’.) Mas se B endossou para C de casa foi por algum motivo negocial. Então entre B e C há, também, uma relação causal, que igualmente não estará declarada no título. Ademais, entre B e C existe também uma relação cartular representada pela cártula. B endossou o título para C. A relação deles está também representada no título. Ok.
Mas entre A e C existe relação CAUSAL/fundamental? Houve negócio jurídico acertado entre eles? NÃO. Não existe contrato entre A e C. A relação entre A e C é meramente CARTULAR, é o que está representado na CÁRTULA, na nota promissória. O legislador, à época, separou o que é relação causal e o que é relação cartular, de forma que, SE C executa A, A pode se defender contra C alegando a relação causal que ele, A, tem contra B? Não! A relação de C com A é meramente CARTULAR.Depois que foi desenvolvido esse raciocínio chegaram à conclusão de que deveriam positivar o princípio da inopobilidade das exceções pessoais.
Lembrando que isso não exclui possibilidade de ajuizamento de ação pela VIA COMUM para ressarcimento em face de perdas e danos. (entre A e B)
1.5 Definição e Características Gerais dos Títulos de Crédito
A definição clássica de título de crédito é de um autor italiano chamado VIVANTE: ‘’um documento necessário para o exercício de um direito literal e autônomo nele mencionado’’. Hoje ele está incorporado no art 887 no Código Civil. Antes do CC de 2002 não havia essa definição, mas hoje ela está na lei. Dessa definição conseguimos extrair as características gerais dos títulos de crédito:
documentos formais: cada espécie dos títulos de crédito tem uma lei específica que trata deles. Não existe título de crédito sem lei específica. O documento só produz efeitos quando preenche os requisitos das leis.
Ex: d 57.663/1966, anexo I, art 57 – elementos essenciais
Lei 7357/85 , art 1º – requisitos para chamar um documento de cheque (a rigor o que você carrega é um FORMULÁRIO, porque cheque precisa da assinatura)
O conceito da lei diz o seguinte: o documento só produz efeito quando preenche os requisitos da lei. Se não preenche, NÃO É TÍTULO DE CRÉDITO, e como consequência não circula por via do endosso.  Para você chamar um documento de cheque, por exemplo, ele precisa preencher os documentos no art 1º.
Art . 1º O cheque contêm:
I – a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido;
II – a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III – o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
IV – a indicação do lugar de pagamento;
V – a indicação da data e do lugar de emissão;
VI – a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.
Parágrafo único – A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente.
”Eu tenho na minha bolsa um talão de cheque’’ Não. Tecnicamente, o que você têm são FORMULÁRIOS. Se esses formulários não tiverem preenchidos, não são cheques. Para serem cheques devem estar devidamente preenchidos, nos termos do art. supratranscrito. PARA CADA ESPÉCIE DE TÍTULO DE CRÉDITO há os requisitos especiais. Se não for preenchida gera invalidade do documento enquanto título de crédito. Ver art 1º(letra de câmbio) e 75º(nota promissória) do dec lei 57.663/1966.
Além de serem documentos formais, os títulos de créditos possuem outra característica em comum. Tratam-se de bens moveis. Isso é relevante porque, assim sendo, a propriedade se transfere com a TRADIÇÃO(entrega efetiva do bem). Não basta, portanto, o endosso, sem que tenha havido a TRADIÇÃO(entrega do bem).
A terceira característica geral que merece a destaque é de caráter processual/prático: os principais que vamos tratar esse semestre são exemplos de títulos executivos extrajudiciais.Títulos executivos extrajudiciais são gêneros dos quais títulos de crédito são espécies.
Façamos uma reflexão: para cada direito corresponde uma ação: nosso ordenamento jurídico disponibiliza ação própria para cada direito subjetivo. Quando um sujeito deve a outro uma quantia, por exemplo, há possibilidade de ingressar com ação de cobrança pelo procedimento comum. Existem outras ações para cobrar uma quantia de alguém: ação monitória e execução por quantia certa (são essas as três formas processuais para reclamar de alguém a quantia a você devida). Nos interessa, no momento, distinguir a ação de cobrança pelo procedimento comum da execução por quantia certa. Pois bem.
AÇÃO DE COBRANÇA PELO PROCEDIMENTO COMUM:
Se alguém deve uma quantia e não paga é natural que o credortente, antes de ingressar na justiça, resolver amigavelmente. Não conseguindo, invoca-se a tutela jurisdicional para reclamar o direito subjetivo. Se o caminho é esse, é preciso redigir uma petição inicial para o juiz competente apreciar e julgar essa ação de cobrança. Na petição inicial dessa ação de cobrança para o procedimento comum há a identificação do juízo e a qualificação das partes. O autor tem que convencer o juiz da existência e pertinência do seu direito subjetivo. Ele faz o papel de convencimento do seu juiz. 
Não há nenhuma presunção que milita em favor do autor/credor. Além desse pedido(adimplemento da obrigação) ele requere também a CITAÇÃO do réu(devedor) porque, afinal, tem que dar oportunidade do réu apresentar defesa. Após todo o processo de conhecimento o juiz determina a produção de provas. O processo pelo procedimento comum passa por um longa parte chamada dilação probatória. 
Após essa fase da dilação probatória(em que testemunhas podem ser ouvidas, perícias podem ser feitas, etc), o processo estará maduro para ser feita a sentença. O juiz vai julgar procedente ou improcedente. Suponhamos que o autor tenha obtido sucesso nesta ação. Ainda assim pode ter recursos, etc etc… De toda forma, vai chegar um dia que essa sentença fará coisa julgada. Se tudo der certo, o autor vai ter um título executivo judicial(sentença). Se não houver cumprimento voluntário da sentença, o autor, agora na qualidade de EXEQUENTE requererá a penhora dos bens do devedor(agora na qualidade de EXECUTADO) quantos forem necessários para a satisfação de seu direito. Os bens que sofrerem constrição judicial serão levados a hasta pública (leiloados judicialmente) e o valor irá satisfazer o crédito do credor. Mas há uma questão: e se o devedor não tiver bens? O que acontece se a execução for frustada por inexistência de bens?(Ou forem impenhoráveis, por exemplo: bens de família: requere a suspensão do processo até localizar bens passíveis de penhora. Por isso é importante exigir garantia para assegurar o recebimento.
Perceba-se: existe um lapso temporal muito grande entre a propositura da ação de cobrança pelo procedimento comum e o trânsito em julgado, de modo que ”tem que rezar” para o devedor possuir, àquela altura, bens efetivamentepassíveis de penhora.
Situação bem diferente acontece quando se pode propor, de plano,
EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA:
Para que se possa propor diretamente uma execução contra alguém eu preciso de um título executivo. Quais documentos documentos são títulos executivos? O CPC no art 515 prevê 2 modalidades : a sentença é título executivo judicial. E o art 784traz à tona os títulos executivo extrajudiciais, que são documentos criados fora do juízo que ainda sim confere a prerrogativa de propor execução por quantia certa. Para ter esse poder todo, essa qualidade de título executivo extrajudicial, A LEI TEM QUE DAR, é uma qualidade dada pela lei.
Art. 784.  São títulos executivos extrajudiciais:  (ROL NÃO EXAUSTIVO )
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III – o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV – o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V – o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução;
VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
X – o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI – a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII – todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.
Na execução, não tem que convencer o juiz. O título executivo faz com que a presunção seja de que, quem detenha o título seja CREDOR. Assim, o pedido na execução é para que o juiz determine a citação do executado para efetuar o PAGAMENTO em 3 dias. Não é citado para contestar como no procedimento comum. Com efeito,
Art. 829.  O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação.
Qual a forma PROCESSUAL do executado(devedor) se defender da execução? O CPC prevê, no art 914 a forma do executado se defender.
914.  O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de embargos.
Art. 917.  Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
I – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
II – penhora incorreta ou avaliação errônea;
III – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
IV – retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;
V – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI – qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.
Os embargos são processados em autos apartados, sejam eletrônicos ou físicos, o importante é que geram outro número de controle. Ademais, nos embargos temos a inversão de papeis. O embargante terá uma tarefa difícil. Na petição inicial do embargos à execução terá de DESCONSTITUIR A PRESUNÇÃO DE LIQUIDEZ E CERTEZA do exequente. Os embargos tem AMPLA DILAÇÃO PROBATÓRIA: tem ampla dilação probatória. ‘’Que que adianta propor execução se o executado pode propor embargos’’?
Na ação de cobrança pelo procedimento comum o ônus de provar é do AUTOR.
Nos embargos, já muda: é o DEVEDOR que tem que correr atrás para mostrar que supostamente não deve. O segundo fato que mostra a vantagem da execução. Enquanto os embargos são opostos, a EXECUÇÃO corre nos autos apartados – a execução continua sendo processada. Os embargos, portanto, não suspendem o curso da execução. Como regra! Vejamos:
Art. 919.  Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
Ou seja, a concessão do efeito suspensivo está condicionada a uma penhora suficiente para garantir todo o crédito, COISA QUE NÃO OCORRE NO PROCEDIMENTO COMUM.
OBS:
Art. 798.  Ao propor a execução, incumbe ao exequente:
I – instruir a petição inicial com:
o título executivo extrajudicial;
Se o fizer sem, o juiz extingue o processo por falta de interesse processual, ou seja, inadequabilidade da via processual eleita ao direito subjetivo.
Questão prática: cheque emitido por A em favor de B. (A comprou um carro de B, suponhamos). B, ao invés de descontar o cheque, tinha um negócio com C e utilizou para resolver esses negócios. C nem conhece o A. C vai procurar o banco pra descontar o cheque. O banco diz: ‘’nào, esse cheque foi sustado’’. C te contratou como advogado e você, lastreado nesse cheque propôs contra A uma execução por quantia certa.
A opõe embargos à execução dizendo o seguinte: eu não devo nada porque celebrei contrato de compra e venda e na verdade era cheque caução para B, que nunca me deu o carro. Por tudo que eu disse, meu requerimento era pra acolher os embargos à execução.
RESPOSTA: Não se pode acolher os embargos à execução por força do princípio da inoponibilidade de exceções pessoais, previsto expressamente no art 25 da lei do cheque, que aduz que: ‘’Art . 25 Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.’’.
Mesmo situação, mas B EM CONLUIO simulou esse endosso com C, justamente para receber. (Suponhamos que cada um, B e C ficassem com 1/2 do valor do cheque).
Aí a situação muda porque entra na exceção do artigo 25: ‘’salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor’’. Não se aplicaria o princípio da inoponibilidade e dever-se-ia acatar os embargos de A.
Unidade I – Teoria Geral dos Títulos de Crédito
1.6 Princípios do Direito Cambiário
CCB, art 887
Cada espécie de título de crédito é regida por uma lei especial. Essas leis especiais têm alguns pontos em comum, e são esses pontos que chamamos de Direito Cambiário. Chamamos de Direito Cambiário a disciplina que estuda título de crédito por conta da origem histórica, em virtude da origem histórica. Da leitura do art. 887 do Código Civil extraímos definição técnica e legal dos títulos de crédito, e, como consequência, a exposição principiológica que rege a temática.
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE OU INCORPORAÇÃO: extrai-se esse princípio na medida em que o conceito fala que sem o documento não se consegue exercer o direito nele mencionado. Cártula é papel. Preciso do papel para exercer o direito estampado no título de crédito. O direito está incorporado no papel. Segue o destino do papel.
No contexto de processo eletrônico que vivemos hoje, é importante mencionar o art 425, §2º do NCPC, que diz que ‘’§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou de documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar seu depósito em cartório ou secretaria.’’ O juiz tem que determinar para evitar que o título circule a um terceiro de boa fé.
Pela cartularidade, responda: se o B contrata advogadopara propor execução lastreada num cheque contra A. O advogado, porém perde esse cheque. E ai? B poderia executar A? O direito acompanha o destino da cártula. Perde-se o direito cambiário. B perdeu o título. Mas B poderia tomar medida judicial contra A? Se o título se perde, ainda subsiste a relação contratual/causal, e B pode propor contra A um procedimento comum  com ampla dilação probatória.
Agora, e se esse título tivesse circulado? Se B tivesse feito endosso para C? C consegue tomar alguma medida judicial contra A? Não! A e C só tem relação CARTULAR. A relação entre C e A é meramente CARTULAR, eles não tem relação CONTRATUAL, motivo pelo qual C não conseguiria ajuizar A nem pela via executiva nem pelo procedimento comum. (Há, todavia, uma relação causal entre C e B, motivo pelo qual há possibilidade de ajuizamento de procedimento comum entre B e C).
PRINCÍPIO DA LITERALIDADE: exercício do direito LITERALnele mencionado. O direito mencionado no título é literal. Não posso exigir nada além do que está escrito no título. Imagine -se que Thales faça um contrato verbal com determinada empreteira no seguinte sentido: você, empreteira, reforma minha casa e eu, Thales, te pago 100.000 daqui a 30 dias. Como faz um contrato de boca o empreteiro falou: tudo bem, aceito, mas só dê uma nota promissória prometendo que vai pagar no prazo de 30 dias a quantia de 100.000. Na hora de preencher essa nota promissória, por má fé ou não, o emitente esquece de um ”0” e emite a nota promissória por 10.000 ao invés de 100.000. Chega 30 dias após e a empreteira procura Thales: ‘’vc tem que me pagar 100.000’’, e Thales insatisfeito com a prestação de serviço, por exemplo, diz que não vai pagar nada. A empreteira resolve ajuizar ação para cobrar quantia do Thales. A empreteira, só aí detecta que era 10.000 e faltou 90.000. Pode executar Thales? Pode, mas a execução será limitada aos 10.000. Pela literalidade não poderia executar nada além do que está escrito. Mas e os outros 90.000? Teria que resolver através do Procedimento comum.
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA: É um negócio jurídico que motivaa criação do título. Todavia, assim que o título nasce, ele se desprende da relação fundamental e passa a ter existência autônoma. Tanto é verdade que há diferença entre petição inicial fundada em título de crédito da petição inicial fundada em procedimento comum. Mas se realmente há autonomia, porque há possibilidade de oponibilidade de exceções pessoais entre o portador do título e o emitente direto, entre os quais há a relação causal? Justificativa: princípio da economia processual. Mesmo que o título tenha existência autônoma e independente, em uma só ação é resolvida por completo a lide nesse caso específico.
A autonomia é facilmente perceptível quando o título circula.
Da autonomia podemos extrair dois subprincípios:
Inoponibilidade das exceções pessoais: só existe em virtude e decorre da autonomia. Tem assento legal no art 17 do dec 57.663/66 e no art 25 da lei do cheque. Senão vejamos:
Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Art . 25 Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.
O legislador cuidou de afastar a inoponibilidade quando há conluio fraudulento: lembrando sempre que má fé não se presume
Independência das obrigações cambiárias: tem assento legal no art 7º do dec 57.663/66 e no art 13 da lei 7357/85(do cheque). Senão vejamos:
Art. 7º. Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem por letras, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que por qualquer outra razão não poderiam obrigar as pessoas que assinaram a letra, ou em nome das quais ela foi assinada, as obrigações dos outros signatários nem por isso deixam de ser válidas
Art . 13 As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes.
Parágrafo único – A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado.
Um título de crédito que contém inúmeras obrigações cambiárias. Se uma delas(mesmo que a criadora) for inválida, ineficaz, inexistente, o título como um todo não fica contaminado, porque as obrigações são independentes.
Ex: uma nota promissória que foi emitida por A em favor de B. B, por sua vez, fez um endosso para C. No vencimento dessa nota, C procura A e descobre que A é um menor, com 15 anos. Um menor com 15 anos não tem capacidade civil. É absolutamente incapaz. A, sendo absolutamente incapaz, todas as obrigações contraídas são nulas(art 166, I, CC). C lhe procura como advogado e diz: e aí, estou perdido? Não consigo executar? Embora não vamos detalhar isso hoje, aquele que endossa título de crédito e assina, é também garante do pagamento. Se C não consegue receber do A, pode ser que consiga receber do B enquanto endossante e garantidor. Essa nota foi criada por pessoa absolutamente incapaz. Mas consegue fazer algo com esse título? Consegue, porque o direito cambiário estanca as invalidades do direito civil. Neste exemplo, C tem a prerrogativa de executar B, na qualidade de endossante. Ele poderia executar aquele que assinou o título validamente. As obrigações permanecem mesmo que haja uma inválida ou inexistente. A lei protege, sempre, o terceiro de boa fé.
1.7 Natureza jurídica da obrigação cambiária
A obrigação cambiária consiste numa assinatura. Não tem outra forma de se obrigar num título de crédito que não seja numa assinatura. Se não puder assinar de próprio punho pode se valer de um contrato de mandato(653 e ss CC). E se a pessoa não consegue assinar? (Deficiência/Analfabeto) Basta outorgar procuração via instrumento público.  (8935/94 art 7º).
Teorias que tentam justificar a natureza da obrigação cambiária, omomento em que assume eficácia:
Teoria da criação: (assinar e o título sai da mão do devedor – contra ou com a sua vontade): se furtei claro que juiz não vai deixar. Mas se furtei e endossei por terceiro, o terceiro vai poder cobrar do emitente. (proteção ao terceiro de boa fé).
Teoria da emissão: (assinatura + entrega voluntária) a eficácia está condicionada à entrega voluntária do título.
Teoria da aparência: para se saber se as obrigações são eficazes e válidas, o que vale é a conjugação de dois parâmetros, quais sejam a boa fé do portador e aparente regularidade do título.Quem recebe título de crédito não é obrigado a verificar se as assinaturas são autênticas. Deve verificar se há cadeia ININTERRUPTA de endosso que justifique a sua propriedade.
Se houver RUPTURA na cadeia de endosso NÃO PODE EXECUTAR!
Por que? Condição da ação: ILEGITIMIDADE ATIVA.
Se tiver assinatura falsa, pela teoria da aparência, poderia executar… (Tem que analisar a teoria da aparência, que conjuga esses dois parâmetros: boa fé do portador e aparente regularidade do título… No caso de ruptura da cadeia de endosso, é notória a irregularidade do título, motivo pelo qual, a despeito da boa fé do portador, não se poderia executar o emitente. ‘’Comeu mosca’’).
Unidade II – Espécies e classificação dos títulos de crédito
2.1 Formulários;
a) Letra de câmbio
Na unidade II o objetivo é visualizar as espécies de título de crédito, os modelos.
Letra de câmbio: é o título de crédito mais completo do ponto de vista acadêmico. Porém, é também o mais complexo e o menos usual. Quem entende a estrutura da letra de câmbio é capaz de entender com muita facilidade todosos demais. A letra de câmbiário, como todo título cambiário, é um documento formal,disciplinado pelo d 57.663/66, do anexo I, art 1º. Pode ser criada na folha do seu caderno, por ex. Só que a redação para o documento valer como letra de câmbio não é livre. Deve seguir os ditames do art 1º. Vejamos:
Art. 1º. A letra contém:
1. a palavra “letra” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título;
2. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
3. o nome daquele que deve pagar (sacado);
4. a época do pagamento;
5. a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
6. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
7. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8. a assinatura de quem passa a letra (sacador).
A letra de câmbio é uma ordem de pagamento. Ex de texto que poderia ser uma letra de câmbio válida.
Todo título de crédito tem a denominação destacada. Ex: Poderíamos ter a seguinte redação:
LETRA DE CÂMBIO.
‘’No dia 30/12/2017, o Sr. José Leal pagará, por via da presente letra de câmbio, a quantia de R$ 100.000,00 ao Sr. Pedro Alcântra na cidade de Belo Horizonte(MG).
Belo Horizonte(MG), 16 de Fevereiro de 2017
Ass Antônio Lisboa
Ou seja, Antônio Lisboa deu ORDEM de pagamento para o José Leal em favor do Pedro Alcântara.
Primeiro detalha que observamos: o tempo verbal. O sr José Leal ”PAGARÁ”. É uma ordem de pagamento que, aquele que cria, no caso, o Antônio Lisboa(SACADOR). Sacador é quem SACA a letra de câmbio.S ACAR corresponde a criar a letra de câmbio. SACADO é quem recebe a ordem de pagamento. BENEFICIÁRIO/TOMADOR é a quem se dirige a ordem de pagamento.
ANTONIO LISBOA: SACADOR (obrigado INDIRETO) – art 9º:Art. 9º. O sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento de letra. O sacador pode exonerar-se da garantia da aceitação; toda e qualquer cláusula pela qual ele se exonere da garantia do pagamento considera-se como não escrita.
SR JOSÉ LEAL: SACADO (se aceitar-assinar- se torna obrigado DIRETO e deixa de ser sacado para ser ACEITANTE): Art. 28. O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra à data do vencimento
SR PEDRO ALCÂNTARA: TOMADOR/BENEFICIÁRIO
30/12/2017: VENCIMENTO
Quem fica na posse do título é o beneficiário, aquele que vai se beneficiar do título. O suposto devedor é o José Leal.
Temos , portanto na letra de câmbio:
o sacador (cria a letra, ele saca o título, dando ordem ao sacado, na qual se consigna o valor a pagar e o dia do vencimento.)
o sacado (é o devedor, aquele que aceitando a letra virá pagá-la na ocasião do vencimento)
o tomador (é o beneficiário, que poderá ser um terceiro ou confundir-se com o próprio sacador)
Como faz para executar OBRIGADOS INDIRETOS?(sacador, eventuais endossantes?): o portador antes de mais nada deve fazer o protesto do título. O que é o protesto do título? Existe um cartório de protesto. Esse cartório tem sua competência definida numa lei própria : 9492/97. O cartório de protestorecepciona documento de dívida: toda vez que um tomador/beneficiário possui uma quantia documentada em um título de crédito, e tenta receber essa quantia amigavelmente sem sucesso, ele tem a prerrogativa de levar esse título no cartório de protesto, que vai expedir uma intimação para o devedor pagar no cartório em tantos dias. Se o devedor(sacador) não paga, o cartório vai lavrar uminstrumento de protesto do título, de que terá posse o tomador/beneficiário.
Para executar os obrigados indiretos(sacador/endossante, por ex), o legislador quer que o tomador/beneficiário tenha uma prova escrita, um instrumento lavrado por quem tem fé pública, de QUE DEU OPORTUNIDADE PARA O sacado pagar, e ele não pagou.
Portanto,
Obrigado indireto: tenho que instruir a petição inicial com instrumento de protesto e o título de crédito (se não o fizer há extinção do processo sem análise do mérito)
Contra o ACEITANTE(sacado que assinou) não tem maiores solenidades, ou seja, nessa hipótese o Pedro Alcantara poderia executar diretamente. Precisaria só da letra de câmbio sem necessidade do instrumento do protesto caso não conseguisse amigavelmente.
O art 44 diz que esse protesto deve ser feito ATÉ DOIS DIAS ÚTEIS posteriores ao vencimento do título.
Art. 44. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento).
O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação ao aceite. Se, no caso previsto na alínea 1ª do artigo 24, a primeira apresentação da letra tiver sido feita no último dia do prazo, pode fazer-se ainda o protesto no dia seguinte.
O protesto por falta de pagamento de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de data ou de vista deve ser feito num dos 2 (dois) dias úteis seguintes àquele em que a letra é pagável.
Portanto, na letra de câmbio temos uma ORDEM de pagamento que o SACADOR dá ao SACADO em favor do TOMADOR. O tomador só pode executar o sacado quando ele aceita, e depoisdo vencimento. Toda obrigação cambiária é representada por uma assinatura. Sabemos também que o sacador, na qualidade de obrigado indireto que é, posso executá-lo, mas antes preciso de tomar providência preliminar que é o protesto.
NOTA PROMISSÓRIA:
Nota promissória também é um título que pode ser criado na folha do seu caderno.
O dec 57.663, anexo I, no art 75 há os elementos que o documento deve preencher para valer como nota promissória. É um título muito mais simples e usual. A jurisprudência é repleta de casos envolvendo nota promissória.
‘’
NOTA PROMISSÓRIA
No dia 30/12/2017, pagarei , por via da presente nota promissória, a quantia de R$ 100.000,00 ao Sr Pedro Alcântara na cidade de Belo Horizonte(MG)
Belo Horizonte, 01/02/2017
ass Antônio Lisboa’’
Conclusões: a nota promissória é uma promessa direta de pagamento que o EMITENTE(ou subscritor/promitente) faz em favor de um beneficiário ou tomador.
O emitente é obrigado DIRETO, que se equipara, na letra de câmbio, ao ACEITANTE(sacado depois de assinar).
O Pedro Alcântara(beneficiário) se não consegue receber esse valor amigavelmente no dia 30/12 ele pode, lastreado nessa nota promissória propor execução contra Antônio(emitente). Não precisa do protesto. O protesto só é necessário para conservar o direito de executar obrigados indiretos. O emitente, como visto, é obrigado direto.
Mas poderia ter obrigado indireto na nota promissória? Sim. O beneficiário Pedro Alcântara, no verso, poderia dizer o seguinte: ‘’endosso para José Leal’’. Ass. Pedro Alcântara.
Na medida em que há o endosso no verso dessa nota promissória, o José Leal passaria a ser o novo portador do título. José Leal seria obrigado a verificar a aparente regularidade. Endossante é garante do pagamento.
Se o Pedro endossa, ele sai da condição de beneficiário para a condição de endossante. O fundamento legal está no art 15º. Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada.
Se é obrigado indireto, preciso do protesto tempestivo(art 44) para executar o garante.
Unidade II – Espécies e Classificação dos Títulos de Crédito
2.1 Formulários;
(c) Duplicata
Lei 5474/68
Letra de câmbio e nota promissória não nasceram e nem se desenvolveram no Brasil. A duplicata por sua vez, nasceu e se desenvolveu no Brasil. Eram realizadas uma série de compras e vendas a prazo e promessas de pagamentos documentadas e papel. Quando um comerciante vendia a prazo, ele relacionava as mercadorias num documento que se chamava ‘’fatura”’(documento no qual se descreviam as mercadorias vendidas). O comerciante fazia a fatura em DUPLICADO (ficava uma via com o freguês e o comerciante ficava com outra via, com a assinatura do freguês, para ter o documento escrito que comprovava a compra e venda).
Foi a partir dessa centenária prática comercial que se desenvolveu aduplicata. Hoje, na realidade, ela costuma ter uma via só. Mas é importante termos em mente que ela está diretamente relacionada ao comércio, à compra e venda mercantil.
É diferente, por exemplo, da letra de câmbio e da nota promissória, que são tíulos cujos negócios jurídicos não tem uma relação fundamental delimitada.
Na duplicata ou ela é originária de 1) contrato de compra e venda mercantil(Art 1º) ou de 2)  contrato de prestação de serviço(art 20º). São esses os contratos que podem motivar a criação de uma duplicata. A doutrina, por isso, costuma chamar a duplicata de título causal, justamente porque a lei pré-determina a causa de sua emissão/origem.
Mas é importante termos em mente: o que é um contrato de compra e venda mercantil? É aquele que tem profissionalismo e habitualidade. Eu vender um carro para um amigo é diferente de uma concessionária vender o mesmo carro.
A duplicata, como todo título de crédito, é um documento formal. O título, para valer como duplicata, tem que preencher os requisitos do art 2º, §1º. Com efeito:
§ 1º A duplicata conterá:
        I – a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem;
        II – o número da fatura;
        III – a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista;
        IV – o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
        V – a importância a pagar, em algarismos e por extenso;
        VI – a praça de pagamento;
        VII – a cláusula à ordem;
        VIII – a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
        IX – a assinatura do emitente.
Olhando a duplicata de frente ela tem mais ou mais ou menos o seguinte modelo:
Na lateral esquerda temos um espaço para o SACADOR/EMPRESÁRIO assinar.
Na parte superior temos alguns dados relativos à compra e venda mercantil efetuado. Ex: número da Nota Fiscal Fatura. Hoje, a própria natura fiscal já descreve as mercadorias vendidas. O número dessa nota fiscal fatura é declarado na duplicata. Toda duplicata corresponde a uma fatura. Temos também: o vencimento (Ex: 30/12/2017); e o valor RS600.000
No meio temos o SACADO (devedor) . O sacado é a pessoa A QUEM o sacador vendeu mercadorias a prazo. .
E a baixo há uma declaração do sacado dizendo que ele reconhece que essa duplicada é devida, e há espaço para o sacado assinar. O sacado se obriga quando ele lança sua assinatura abaixo dessa declaração ou termo de reconhecimento. No caso da duplicata, também chamamos a assinatura dele de aceite. Na duplicata, diferentemente da letra de câmbio, o SACADOR é o próprio CREDOR. Ele saca a duplicata contra o SACADO, que se obriga quando aceita.
A PRIMEIRA PESSOA APTA A ENDOSSAR A DUPLICATA É O SACADOR. (É com ele que fica o título, com o comerciante).
Na duplicata, há uma peculiaridade interessante. Há possibilidade de SUPRIR a assinatura do SACADO. Com efeito, diz o art 15, II da lei: 
SUPRIMENTO DA AUSÊNCIA DE ACEITE DO SACADO.
Art 15 – A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando se tratar: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
        l – de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
        II – de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente: (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
        a) haja sido protestada; (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977) – PRAZO DE 30 DIAS A PARTIR DO VENCIMENTO
        b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977) A mercadoria é entregue na sua residência. Normalmente quem entrega a mercadoria é uma empresa de transporte que tem o cuidado de colher a assinatura do recebedor, que pode ser o próprio sacado ou um preposto.
        c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
Art 13, §4º prevê o protesto diferenciado no prazo de 30 dias no caso da duplicata:
   § 4º O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo da 30 (trinta) dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas.
OBS:  É muito comum, nas duplicatas, a prática de um crime empresarial, um crime tipificado no CP no art 172.
Art. 172 – Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)
Abuso de incapazes
Uma hipótese clara é quando o banco sugere ao empresário que necessita de capital de giro que antecipe seus recebíveis. Esse empresário diz que possui valores titularizados em duplicatas a receber quando, em realidades, não os tem. ‘’Desesperado”, esse empresário passa a fraudar duplicatas. Percebam: o banco poderá, depois, executar o empresário, pois ele(o empresário) se tornará obrigado indireto, uma vez que terá endossado  as falsas duplicatas com os falsos sacados, ao banco. Bastará, para tanto, ao banco, que realize o protesto em até 30 dias a partir do vencimento. Fora as implicações penais decorrentes em relação a esse empresário/criminoso.
IMPORTANTE RACIOCINAR:
O que é diferente da duplicata na letra de câmbio  –**SACADOR**
NA DUPLICATA O SACADOR É O PRÓPRIO CREDOR   (cria o título e é o credor)
NA LETRA DE CAMBIO O SACADOR DA ORDEM DE PAGAMENTO CONTRA SACADO EM FAVOR DE TERCEIRO QUE É O TOMADOR  (cria o título em favor de terceiro)
Quando vc se depara com problema envolvendo título de crédito, primeira coisa que tem que fazer: identificar a espécie do título. Depois esquematiza o título. Depois tem que ir na lei especial que rege aquele título. Quem é quem? Quem é credor, quem é devedor.
Em todos os que estudamos até agora, SACADO é sempre quem SUPOSTAMENTE deve pagar. Mas só se obriga com seu aceite.
(d) Cheque
Lei 7357/85
A lei do cheque é fruto de uma convenção internacional. O que se estuda em cheque aqui é o que se estuda em vários outros países do mundo. Não se pode dissociar a figura do cheque da do banco. Estão intimamente relacionadas. Após abrir uma conta num banco, dentre várias coisas que são ofertadas, uma delas é um talonário de cheque. Essa distinção é importante porque cheque, mesmo, é só depois de ser devidamente preenchido. Mas, o que é o cheque?
O cheque é uma forma de dar uma ordem de pagamento contra o banco em favor de um terceiro.
Funciona da seguinte forma: O EMITENTE preenche o cheque com valor em favor de um BENEFICIÁRIO. O beneficiário fica com o cheque em mãos e apresenta ao banco. O banco, no cheque, é o SACADO. Se não houver numerário suficiente na conta do emitente, o banco não vai pagar. Se não tiver dinheiro o banco não vai poder reter o cheque. Ele vai bater um carimbo informando o motivo do não pagamento : ‘’insuficiênia de fundos; assinatura não confere’’ e devolve ao beneficiário. De posse desse cheque, o beneficiário pode ajuizar contra o emitente uma execução.
Mas é importante dizer: O BANCO NESSE CASO NÃO POSSUI RELAÇÃO CAMBIÁRIA COM NINGUÉM. Apesar de chamarmos ele de sacado, ele é só um INTERMEDIÁRIO que possibilita o pagamento de cheque de forma extrajudicial.
Obs: Pode ser que tenha obrigado indireto no cheque? Sim, se houver endosso.
‘’Endosso para Dilano. Ass Fulano.’’ Se tenho endosso nesse cheque tenho um obrigado indireto. O endossante é garante do pagamento e obrigado indireto. Dilanopassa a ser legítimo portador desse cheque. Ele vai pegar esse cheque e tentar apresentar ao banco. Se o banco não pagar, Dilano pode fazer o que? Executar o emitente? Sim. O EMITENTE É OBRIGADO DIRETO. Não é necessário protesto nem qualquer outro tipo de formalidade.
Art . 15 O emitente garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa garantia. – o emitente não só garante o pagamento, ele é OBRIGADO DIRETO.
O endossante por sua vez, também pode ser executado. Ele é obrigado indireto. E temos uma formalidade a observar antes de executá-lo. Tratando-se de nota promissória, letra de câmbio e duplicata seria o protesto. A lei do cheque tem uma pequena variação. Para o portador ter o direito de executar os obrigados indiretos, o cheque tem que ter sido apresentado ao banco no prazo de 30 ou 60 dias.
Ex: agência do meu banco é BH. Esse cheque deve ser apresentado pelo portador no prazo de 30 dias. Se, todavia, eu emitir esse cheque cuja agencia é na cidade de BH, lá na cidade de RJ … o prazo é de 60 dias. (lugar de emissão diferente de lugar de pagamento). Tem que provar que fez essa apresentação tempestiva. (Quando vc apresenta o cheque ao banco, o banco bate o carimbo e data o carimbo  – é só ver se aquela data está em 30/60 dias). O carimbo do banco supre o protesto para efeito de executar. Mas se passar 30 ou 60 ja era, não da pra executar.
Diz o art 33:
Art . 33 O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.
OBS: Art . 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer menção em contrário.
Se for cheque ‘’pré-datado’’, não interessa, conta-se para todos os fins a data de emissão.
OBS 2: o art 66 prevê o travelling cheque. ‘’ Travel check é um cheque com valor em moeda exterior, que você pode usar em transações financeiras com quem aceite esse meio para pagamento.’’ Não é título de crédito, mas instrumento de câmbio. Até porque não circula por endosso.
Art . 66 Os vales ou cheques postais, os cheques de poupança ou assemelhados, e os cheques de viagem regem-se pelas disposições especiais a eles referentes.
(d) Cédula de crédito bancário
Lei 10.931(2004) art 26
”A sua criação deu-se em razão da necessidade de se remover algumas barreiras à concessão de financiamentos decorrentes da insegurança e instabilidade das decisões dos tribunais brasileiros, notadamente sobre a força executiva dos contratos de concessão de crédito e sobre a capitalização de juros.
Assim, a Cédula de Crédito Bancário é emitida e assinada pelo tomador do crédito e pela instituição financeira quando é contratada uma operação de crédito, como abertura de crédito rotativo e empréstimos.’’ Qualquer financiamento bancário de crédito pode ensejar a emissão de um título de crédito de cédula de crédito bancário. E os contratos bancários estão em extinção, de modo a que,  gradativamente, dão lugar às cédulas de crédito bancário.
O emitente, portanto, desse título de crédito é o banco. A assinatura do emitente NÃO possui natureza contratual. A natureza das assinaturas é de declaração unilateral de vontade. Assina assumindo o risco de pagar o risco a pagar a uma pessoa indeterminada, porque o título de crédito foi criado para circular.
É um título de crédito que revela uma promessa de pagamento ao banco.  (art 28)
   Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto no § 2o.
§ 2o Sempre que necessário, a apuração do valor exato da obrigação, ou de seu saldo devedor, representado pela Cédula de Crédito Bancário, será feita pelo credor, por meio de planilha de cálculo e, quando for o caso, de extrato emitido pela instituição financeira, em favor da qual a Cédula de Crédito Bancário foi originalmente emitida, documentos esses que integrarão a Cédula, observado que:
        I – os cálculos realizados deverão evidenciar de modo claro, preciso e de fácil entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e despesas contratuais devidos, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela de atualização monetária ou cambial, a parcela correspondente a multas e demais penalidades contratuais, as despesas de cobrança e de honorários advocatícios devidos até a data do cálculo e, por fim, o valor total da dívida; e
        II – a Cédula de Crédito Bancário representativa de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário em conta corrente será emitida pelo valor total do crédito posto à disposição do emitente, competindo ao credor, nos termos deste parágrafo, discriminar nos extratos da conta corrente ou nas planilhas de cálculo, que serão anexados à Cédula, as parcelas utilizadas do crédito aberto, os aumentos do limite do crédito inicialmente concedido, as eventuais amortizações da dívida e a incidência dos encargos nos vários períodos de utilização do crédito aberto.
Por que cédula de crédito bancário e não contrato assinado por duas testemunhas, que também possui força executiva? PELA FÁCIL TRANSFERÊNCIA DA CÉDULA, VIA ENDOSSO.
Temos a cédula de crédito industrial, cédula de crédito rural, comercial: são títulos também que tem como beneficiário os bancos.
Qual a causa de emissão da industrial? Financiamento bancário da atividade industrial.
Causa de emissão da Rural? financiamento bancário da atividade rural.
São títulos que seguem a lógica da cédula de crédito bancário.
Importante: art 44.
Art. 44. Aplica-se às Cédulas de Crédito Bancário, no que não contrariar o disposto nesta Lei, a legislação cambial, dispensado o protesto para garantir o direito de cobrança contra endossantes, seus avalistas e terceiros garantidores.
Ou seja, aplica-se a LUG subsidiariamente. Todavia, NÃO PRECISA DE PROTESTO para executar obrigados indiretos.
2.2 Classificação
Título de crédito a rigor é um documento, sobretudo, que a transferência é por via do endosso. Se não for endossável, não é título de crédito.
Nosso objetivo é agrupar os títulos de crédito de acordo com certas características comuns.
1º critério – quanto à causa de emissão:
1.1há títulos abstratos : aqueles que as respectivas leis não preveem a causa de emissão.
1)Letra de câmbio, 2)nota promissória, 3)cheque. (Posso usar pra pagar empréstimo, compra e venda, o que for… ) São títulos que podem ser criados em virtude de qualquer contrato.
1.2há títulos causais : aqueles cujas respectivas leis especiais pré-determinam a causa de emissão.
1)Duplicata(art 1º prestação de serviço ou compra e venda mercantil) ; 2)cédula de crédito bancário(título que nasce de uma operação de crédito feita junto a banco) ; 2)cédula de crédito rural(dl 167/67) ; 2)cédula de crédito industrial (dl 413/69) ; 3) cédula de crédito comercial lei 6840/80. (Cada qual com o propósito de instrumentalizar um financiamento específico, seja da atividade rural, industrial ou comercial: e a verdade é que temos um certo desuso dessas últimas 3, e o uso maior é da cédula bancário, que é a lei mais utilizada).
Conhecimento de depósito e warrant: são classificados como título de crédito pela forma de transferência. Decreto 1102/1903: esses títulos estão diretamente relacionados ao contrato de depósitos em armanzéms gerais. O fato de o documento serem endossáveis faz com que a doutrina diga que eles são título de créditos, impróprios, mas são.
Armazéns gerais: São Estabelecimentos especializados para depósito e armazenagem de mercadorias e produtos. Vários são os motivos que levam produtores a utilizarem esses estabelecimentos: Falta de espaço em seus próprios depósitos, falta de estrutura própria para estocagem, ou mesmo necessidade de deixá-los guardados para, no futuro, obterem melhores preçospara negociação.
Conhecimento de depósito: Ao depositar suas mercadorias, o proprietário (depositante) pode solicitar a emissão do Conhecimento de Depósito, que nasce junto com o Warrant. O Conhecimento de Depósito nada mais é que um documento, através do qual, o Armazém Geral garante e descreve pormenorizadamente, que determinada mercadoria se encontra em seu poder.De posse deste documento o proprietário pode negociar sua mercadoria com terceiros, sem que precise transportá-la para apresentar ao interessado. Por isso é considerado um Título de Crédito, pois o portador do Conhecimento de Depósito passa a ser o proprietário da mercadoria, pelo fato de poderem circular, são títulos à ordem.
Warrant: A partir do depósito da mercadoria no armazém, o proprietário pode solicitar que seja emitido o Conhecimento de Depósito e o Warrant. Os dois títulos nascem juntos, mas podem ser utilizados separadamente.
Se o Conhecimento de Depósito permite que o proprietário da mercadoria a negocie, mediante endosso, enquanto ela estiver no armazém.
O Warrant, por sua vez, permite que o proprietário a utilize (a mercadoria) como garantia de determinada operação financeira, que também se dá mediante endosso.
2º critério – quanto à natureza do título
há títulos próprios: que se enquadra perfeitamente na Teoria Geral dos Títulos de crédito e representam quantia em dinheiro. São todos os exemplos com exceção dos títulos impróprios
há títulos impróprios : conhecimento depósito e warrant; e travelling cheques(cheques de viagem).
Acabamos de falar de títulos causais. Imagine que na qualidade de sacador, Thales simule compra e venda mercantil para Carla. Se ele sacador pega essa duplicata simulada e endossa para terceiro, para o banco. Essa duplicata é nula? O princípio da inoponibilidade de exceções pessoais vigora para todos os títulos: se circulou, acabou essa discussão. Essa discussão é pertinente tão só se o título não circula, porque além da relação circular vou ter a relação causal.
Unidade III: legislações aplicáveis aos títulos de crédito.
No ano de 1930 ocorreu em Genebra, na Suíça, uma Conferência Internacional da qual vários países participaram, dentre eles o Brasil. Eles convencionaram adotar uma Lei Uniforme de regência das cambiais- quais sejam: letra de câmbio e notas promissórias- nos vários países em que esses títulos circulam. O objetivo, era, claro: fortalecer e fomentar o comércio internacional.
Dessa conferência resultaram 3 Convenções:
Convenção destinada a eliminar o chamado imposto do selo.
Lei Uniforme de Genebra
Legislações subjacentes : convenção destinada a eliminar certos conflitos de lei.
OBS: OS EUA e Inglaterra participaram da Conferência, mas não quiseram assinar a Lei Uniforme. Na prática a lei deles é muito parecida. A Inglaterra, assinou, TODAVIA, a convenção destinada a eliminar o imposto do selo. Isso pode parecer nota de rodapés mas já caiu em concursos.
Esta convenção(LUG) foi recepcionada no Brasil só em 1966, por via do decreto 57663/1966. É uma legislação complexa, porque foi redigida em língua estrangeira.
Os 11 primeiros artigos são cláusulas contratuais.
O Anexo II tem o texto das RESERVAS: são 23 artigos que são, na verdade, hipóteses que os Países signatários poderiam, se quisessem, criar regras de exceção.
O Brasil adotou uma série de reservas:
Com efeito, logo no preâmbulo do decreto, podemos encontrá-las:
1ª) Convenção para adoção de uma Lei Uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias, anexos e protocolo, com reservas aos artigos 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 15, 16, 17, 19 e 20 do Anexo II;
Vamos nos debruçar, no momento, em uma reserva em especial. A reserva feita ao art 9º do Anexo II:
Art. 9º. Por derrogação da alínea terceira do artigo 44 da Lei Uniforme, qualquer das Altas Partes Contratantes tem a faculdade de determinar que o protesto por falta de pagamento deve ser feito no dia em que a letra é pagável ou num dos 2 (dois) dias úteis seguintes.
Numa convenção, chama-se de ‘’alínea” todos os parágrafos. Se o Brasil fez RESERVA a esse artigo do Anexo II, temos que raciocinar à luz do art 44 do anexo I:
Art. 44. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento).
O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação ao aceite. Se, no caso previsto na alínea 1ª do artigo 24, a primeira apresentação da letra tiver sido feita no último dia do prazo, pode fazer-se ainda o protesto no dia seguinte.
O protesto por falta de pagamento de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de data ou de vista deve ser feito num dos 2 (dois) dias úteis seguintes àquele em que a letra é pagável. Se se trata de uma letra pagável à vista, o protesto deve ser feito nas condições indicadas na alínea precedente para o protesto por falta de aceite.
Pois bem. Foi feita a reserva a alínea terceira(parágrafo terceiro) deste artigo 44. E agora? Em tese, deveria haver uma legislação nacional posterior regulamentando o tema. Mas não há. Há, todavia, uma legislação nacional anterior que o faz.  Trata-se do decreto 2044/1908. É a famosa lei cambial brasileira, também conhecida também como Lei Saraiva. E aí a Lei Saraiva, no seu art 28 diz que o protesto, se seu objetivo é execução de obrigados indiretos, tem que ser providenciado no dia ÚTIL seguinte ao vencimento.
        Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pagamento deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo protesto, tirado dentro de três dias úteis.
(Se venceu hoje quinta-feira 23 de fevereiro, tem que protestar até amanhã, dia 24 de fevereiro).
/\ Polêmica sobre a qual havíamos debatido, que seria no máximo UM, e não DOIS dias úteis para protestar OBRIGADOS INDIRETOS.
Unidade III – Legislação Aplicável aos Títulos de Crédito
3.1) Normas aplicáveis às cambiais
Quando nos deparamos com um problema envolvendo letra de câmbio e notas promissórias sabemos que a fonte primária é a Lei Uniforme de Genebra, mas devemos saber se o Brasil adotou ou não alguma reserva. Na aula passada fizemos essa exercício. Se o Brasil adotou uma reserva, prevalece a regra nacional ,e é nesse momento que entra a Lei Saraiva. O decreto 2044 vai ter aplicabilidade nessas hipóteses (em que adotamos as reservas), e nas hipóteses em que a Lei Uniforme for OMISSA. Se a Lei Uniforme não trata, portanto, há a aplicabilidade daLei Saraiva. E se a Lei Saravai também for omissa, busca-se a solução no Código Civil.
3.2) Normas aplicáveis aos cheques
Também houve uma conferência internacional com o propósito de uniformizar as regras relativas aos cheques, tal qual ocorreu para as cambiais. Mas quando se trata de cheque nossa vida é mais fácil pois no ano de 1985, o legislador entendeu por bem UNIFICAR a lei do cheque, de forma que a lei 7357 unificou os anexos I e II num texto legislativo único.
3.3) Normas aplicáveis às duplicatas (lei 5474/68)
A duplicata é um título brasileiro. É importante ressaltar uma tendência que é comum em todas as outras legislações. Os demais títulos de crédito sempre utilizam como normas supletivas as normas aplicáveis às cambiais: isso é, naquilo em que a lei de duplicatas for omissa, vou aplicar as normas das cambiais. O art 25 da lei das duplicatas nos traz esse comando. Quais são as normas das cambiais?(LUG, na omissão a Lei Saraiva e depois Código Civil).
Todos os títulos de forma geral, com exceção do cheque, adotam como norma supletiva, as cambiais.
Unidade IV – Criação do título de crédito
Tratamos, até então, de questões básicas relativas ao nosso programa de títulos de crédito. Vimos, de modo geral, as questões mais importantes do programa. Agora vamos aprofundar nessas questões, destrinchando-as em temas específicos.
4.1 Criação e emissão
A criação do título se dá com a assinatura de alguém. Esse alguém é o sacador ou emitente. Normalmente, utilizar o verbo SACAR paradesignar criação de letra de câmbio e duplicata. O verbo EMITIR utilizamos para os outros títulos (cheque, nota promissória, cédula de crédito bancário).
sacar: letra de câmbio e duplicata
emitir: cheque, nota promissória, cédula de crédito bancário
De toda forma o saque e a emissão são declarações cambiárias originárias. Todo aquele que assina o título profere, na verdade, uma declaração unilateral de vontade. Com efeito, os vínculos cambiários não tem natureza contratual. Quando o sujeito assina o título ele assume o risco de pagar uma quantia a quem desconhece: porque é da essência dos títulos de créditos que eles circulem. O sacador/emitente, assim, vincula-se a uma pessoa INCERTA, que será o portador.
O saque e emissão são as declarações cambiárias originárias:marcam a origem do título, a criação do título. Não existe um título que não tenha uma assinatura que tenha lhe dado origem. São também declarações essenciais: é a única assinatura que não pode faltar no título.
É possível ter um título que não tenha circulado por endosso, é possível ter um título que não tenha garantia do aval, mas não é possível ter um título que não tenha sido sacado ou emitido.
Uma observação importante a ser feita é que essa assinatura tem que ser de próprio punho. Se o sujeito estiver impossibilitado de assinar de próprio punho, a solução é constituir um procuradorque assine em seu nome. Não existe título de crédito emitido com digital(ex: analfabeto).
Mas imagine a seguinte situação: B te procura como advogado e diz. Dr, eu recebi essa nota promissória em pagamento a uma venda que fiz para o A e quem assinou foi o procurador do A, Fulano. Mas hoje fui procurar o A pra receber e fiquei sabendo que Fulano não é seu procurador. A está dizendo que Fulano é seu falso mandatário, que esse instrumento de procuração é um instrumento falso. E agora?
LUG, art 8º.
‘’Aquele que apuser sua assinatura na condição de falso mandatário, de falso representante, se obriga pessoalmente, inclusive se pagar tem os mesmos direitos do que pagou. A mesma regra se aplica quando há excesso de mandato’’.  / Art 14 Lei do Cheque.
Com base nesta nota promissória, B de bola consegue executar o Fulano.
E aí vai poder executar como se obrigado direto fosse, de modo que não vai ter necessidade de protesto. (detalhe importante!).
Art. 9º. O sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento de letra. O sacador pode exonerar-se da garantia da aceitação; toda e qualquer cláusula pela qual ele se exonere da garantia do pagamento considera-se como não escrita.
Importante diferenciar PAGAMENTO de ACEITE. O pagamento acontece depois do VENCIMENTO, já o ACEITE pode acontecer a qualquer momento.
O sacador não tem escapatória: ele é e continua sendo garante o pagamento. Se ele declarar que não garante, essa declaração é nula. Ele não pode excluir sua condição de garantidor do pagamento. Mas a alínea 2º permite que ele se exonere da garantia do ACEITE. Poderia dizer ao sacado: ‘’não garanto o aceite’’. Aí que vem a pergunta: ‘’o que ele ganha dizendo que não garante o aceite?’’. FORMA DE EVITAR VENCIMENTO ANTECIPADO.
Vejamos o art 43:
Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados: no vencimento; se o pagamento não foi efetuado; mesmo antes do vencimento:
1º) se houve recusa total ou parcial de aceite;
2º) nos casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens;
3º) nos casos de falência do sacador de uma letra não aceitável.
O art 43 traz situação de aplicabilidade da recusa do aceite. Se houve recusa do aceite, abre espaço para o chamado vencimento antecipado. Mas tem que provar que houve essa recusa. Como provaria? Tem forma prescrita em lei. O art 44 da LUG prescreve a forma ÚNICA de se provar recusa do aceite. A recusa do aceite deve ser comprovada com protesto especial que se chama protesto por falta de aceite.
Art. 44. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento).
OBS: Havendo o protesto por falta de aceite, a lei dispensa o portador de fazer um segundo protesto. Já pode executar os obrigados indiretos.
OBS2: Tem a cláusula ‘’não garante o aceite ‘’ – ainda assim poderia PROTESTAR por falta de aceite? Sim, até para se resguardar de ter que fazer o protesto ‘’tradicional’’.
Portanto, tem que tomar cuidado. Caso não haja o ‘’não garante o aceite’’ junto à assinatura do sacador, além de criar a letra de câmbio, o saque faz com que o sacador se torne obrigado INDIRETO na letra de câmbio, e pode, com isso, sofrer execução ANTECIPADA. E o pré requisito é RECUSA DO ACEITE, e tenho que provar protesto por falta de aceite. (Resumo do art 9º c/c com art 43 e 44). Caso haja, inviabiliza apenas a execução antecipada, mas ele continua sendo garantidor do pagamento a partir do momento do vencimento, e manter-se-ia possível a possibilidade ao portador de realizar o protesto por falta de aceite nos termos do art 44.
4.2) Requisitos de validade de um título de crédito
Toda obrigação, para ser válida tem que preencher os requisitos do art 104 do CC, que são os requisitos de validade para todo e qualquer negócio jurídico. A doutrina diz o seguinte: é preciso que preocupar com os requisitos intrínsecos(que estão dentro), que dizem respeito às obrigações constantes no título. Os requisitos intrínsecos são os da lei civil, do código civil. Se tenho assinatura de um absolutamente incapaz no título, isso tem efeito pra mim: não poderia executá-lo. Aquela obrigação em si, e tão somente ela, é inválida.
Entretanto, sabemos que o fato de ter uma ou várias obrigações inválidas dentro do título(intrínsecas), não quer dizer que o título inteiro seja inválido. Porque para o título, o que vale são os requisitos EXTRÍNSECOS. O título só vai ser inválido se não preencher os requisitos EXTRÍNSECOS, que são os requisitos que as leis especiais impõe para um documento valer como título de crédito.
Como faço para saber quais os requisitos extrínsecos de validade? Pega a lei especial.
—> Cheque
Lei 7357/85, art. 1º (Ex: traz os requisitos, dentre os quais assinaturas do emitente. (Se eu emitir um título com a minha digital, e ele foi endossado várias vezes… O G consegue executar alguém? NÃO! Porque o título inteiro é inválido! E se a assinatura ao invés de digital fosse falsa? Aí aproveita, pela aparente regularidade, porque preenche a forma prescrita em lei).
—> Duplicata
Lei 5474/68, art 2º, §1º –
—> Cédula de crédito bancário
Lei 10.931/2004, art 29 – tem que tomar cuidado danado porque quando pegamos os modelos, os formulários são disponibilizados por banco, e aí dá a falsa impressão que a Cédula de Crédito Bancário é CRIADA pelo Banco. Mas quem CRIA é o EMITENTE. A emissão é que marca a criação do título de crédito, e como é uma promessa de pagamento que se faz em favor de banco, e o autor é o emitente, o devedor do banco, ele é o criador da cédula de crédito bancário. Muitas vezes erra porque pega o formulário, com o timbre do banco, e não é: quem cria é quem assina.
—> Letra de câmbio
LUG, art 1º
Os requisitos extrínsecos da letra de câmbio estão no art 1º. A letra de câmbio é uma espécie de título que pode ser criada na folha de um caderno. Para ser válida tem tão só que preencher os requisitos do art 1º. Que diz o seguinte:
Art. 1º. A letra contém:
a palavra “letra” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título;
O documento, para valer como letra, tem que ter a palavra LETRA inserida no seu texto. ‘’Mas não seria a locução ‘’letra de câmbio’’?’’Seria!!! Mas ao traduzir engoliu o ‘’de câmbio’’. Há um entendimento de que embora a lei uniforme exija tão só a palavra letra, a Lei Saraiva exige que além da palavra letra se complete a expressão com o ‘’de câmbio’’. (2044/1908 – art 1º). O legisladorentendeu ser essencial, que a pessoal saiba de que está assinando uma letra de câmbio, dadas as consequências de sua assinatura. Por isso que a palavra LETRA deve ser redigida NA MESMA LÍNGUA.
2. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
MANDADO ao invés de MANDATO(erro de tradução).  (‘’No dia X, o sacado pagará ao tomador, se este último receber 3kg de arroz) – A ORDEM DEVE SER PURA E SIMPLES, dissociada de qualquer condição. Colocou condição, invalidará o título de crédito. É nulo o título que esteja condicionado.
Essa quantia só pode ser expressa em dinheiro. Quem completa isso é a lei saraiva.
osso trazer no corpo do próprio título a correção monetária? Sim. Quem não paga no vencimento tem que arcar com o principal MAIS correção monetária, que é sempre devida após o vencimento. Posso, no próprio corpo da letra de câmbio, tratar da correção monetária, dizendo: ‘’quantia determinada que poderá ser determinada monetariamente.’’. Pode fazer isso? Sim.
Não vou indeterminar a quantia se precisar de fazer simples cálculos aritméticos para saber a nova quantia. Quantia indeterminada seria aquela sem parâmetros para os quais se conseguisse defini-las.
Juros de mora é o que chamamos de encargo do inadimplemento, isto é: se você não paga uma dívida no vencimento, terá que pagar juros de mora: é uma penalidade. O Código Civil, no art 406, diz que a taxa de juro de mora no Brasil é variável. Tratando-se de título de crédito, a LUG, no art 48, diz que esses juros seriam de 6% ao ano daria 0,5% ao mês. Prevalece-se a taxa de juros de mora da Lei Uniforme? (Aqui tem reserva!!!!).
Quando os juros de mora não estão previstos no título, não tem problema. Se não há o pagamento no vencimento, ainda assim eles são devidos, vou observar a taxa na lei.
Mas será que eu poderia pegar uma letra de cambio, nota promissória, e estipular uma taxa de juros MORATÓRIOS diferente? Quero poder escrever o seguinte: o não pagamento no vencimento fará com que o devedor arque com juros de mora de 2% ao mês. Posso estabelecer uma taxa de juros de mora diferente da taxa legal? O art 406 diz: quando, a taxa de juros de mora não estiver ajustada, era será a da SELIC. Mas não se tem liberdade negocial para estabelecer taxa de juros de mora ao bel prazer, de forma livre. Não poderia estabelecer taxa de juros de mora de 5% ao mês. Temos o decreto(lei da usura), uma lei que combate a cobrança de juros que ultrapassam os limites da aceitabilidade.
1º ‘’Sob pena de nulidade, a taxa de juros não pode ultrapassar o dobro de 1% ‘’ – então o limite contratual é 2%. Se colocar 3% os EXCESSOS são decotados, eliminados, de forma a preservar o  LIMITE LEGAL.
Se o título for omisso: observa a taxa legal.  (1%)
Se for excessivo: observa até o dobro da taxa legal.  (2%)
Todo o título de crédito, com exceção do cheque, posso estipular taxa de juro de mora, diferente da legal…
Se eu apresento o cheque hoje, o banco me devolve com insuficiência de fundos, daqui a 3 meses vou cobrar, posso cobrar juros? POSSO. O que não posso é ESTIPULAR no corpo do próprio título, como estávamos falando.
Resumo:
hipótese de incidência dos juros de mora: ele incide após o vencimento.
taxa: não precisa estar prevista no título, (406)
limite que estou adstrito (2%)
exceção: cheque
juros remuneratórios/compensatórios são juros que tem por propósito não penalizar alguém, mas remunerar o capital alheio. Você pega dinheiro emprestado do banco, e ele quer receber uma remuneração por permitir que você utilize o capital que é dele. Os juros remuneratórios: você pega dinheiro do banco hoje, vai pagar lá no final do ano, ele vai querer receber A GORDURA, a remuneração para valer a pena: portanto, incidem ANTES do vencimento das obrigações.
Art 591 do CC: os juros remuneratórios não podem ultrapassar a taxa prevista no art 406
Os bancos dizem que somente o Conselho Monetário Nacional, quando necessário, pode limitar taxa de juros de banco, em caso de necessidade. O Banco diz: Código Civil não tem força para limitar o juros cobrado por nós bancos, a competência seria do Conselho Monetário Nacional. Tem lei especial que rege a atividade dos bancos. Este raciocínio dos bancos tem um defeito: esta lei especial dos bancos é de 1964. Mas a CF de 1988 introduziu no nosso ordenamento um paradigma diferente do que até então nós tínhamos, porque o poder emana do povo e o povo é representado pelo Congresso. Víamos de uma longa de Ditadura. Uma série de normas de adaptação tiveram que ser pensadas.
Art 25 ADCT : 180 dias após a promulgação, o Congresso deveria referendar aquela disposição.
STF entendeu o seguinte: a CF diz que o sistema financeiro nacional será disciplinado por LC. Só lei complementar teria faculdade de disciplinar faculdade das instituições financeiras. (art 192 CF). Aí a 2º parte do STF: A lei 4595/1964 seria a lei complementar existente para disciplinar a atividade dos bancos, e iria se sobrepor à atividade dos bancos.
Os bancos, baseados nessa jurisprudência do STF, continuam cobrando juros remuneratórios muito superiores a 1% ao mês, com respaldo jurisprudencial.
É possível estipular juros remuneratórios em título de crédito ? Sim. Ex: cédula de crédito bancário, que sempre decorre de mútuo bancário(financiamento). Exceção: Art 10 da lei do cheque não permite que estabeleça nenhuma taxa no seu corpo.
LUG: Art. 5º. Numa letra pagável à vista ou a um certo termo de vista, pode o sacador estipular que a sua importância vencerá juros. Em qualquer outra espécie de letra a estipulação de juros será considerada como não escrita. A taxa de juros deve ser indicada na letra; na falta de indicação, a cláusula de juros é considerada como não escrita. Os juros contam-se da data da letra, se outra data não for indicada.
Esse art 5º  refere-se exclusivamente a juros remuneratórios. Os juros remuneratórios são distintos dos moratórios, como se viu. A taxa deve ser estabelecida no título; se não for, NULA: a cláusula não vale. Tem limite? Depende, se o beneficiário for banco, NÃO. Se for, TEM: Código Civil: 1%. Se ultrapassar 1%, decota o excesso.
Pelo art 5º apenas duas modalidades comportam a estipulação de juros remuneratórios: letra à vista ou a um certo tempo de vista.
LUG 33
Art. 33. Uma letra pode ser sacada:
à vista;
a um certo termo de vista;
a um certo termo de data;
pagável num dia fixado.
As letras, quer com vencimentos diferentes, quer com vencimentos sucessivos, são nulas.
Há, portanto, 4 modalidades de letra de câmbio, cada qual possui uma particularidade quanto ao VENCIMENTO. Os exemplos que trabalhamos até agora, todos eles, começamos a letra pela data do vencimento.
‘’no dia 30/12’’. Essa é apenas uma modalidade, a letra de câmbio pagável em dia certo, aquela que tem o dia certo de vencimento. Nesta letra de câmbio posso estabelecer juros remuneratórios? NÃO. Esta modalidade não comporta a estipulaçao de juros remuneratórios. Se estabelecer A CLÁUSULA -e não a letra inteira – É NULA. (art 5º da LUG).
Qual modalidade da letra de câmbio incidiriam os juros remuneratórios?
1 º Letra de câmbio à vista: essa já é uma letra de cambio que comporta a taxa de juros remuneratórios. A partir da data de saque incidirão 1% ao mês. Essa cláusula é válida. A letra à vista tão logo o tomador apresente esta letra de câmbio ao sacado. Quando ela é feita, o propósito é que o sacado já faça o pagamento.
2 º Letra a um certo termo de vista : o vencimento começará a fluir a partir do dia que o tomador exibir o título para o sacado. Suponhamos que hoje o tomador procure o sacado, e diga: pague daqui a um mês. Ai o sacado diz : ‘’aceitei’’. Decidiu hoje que o sacado(agora aceitante) aceitou e o vencimento é o dia correspondente do mês subsequente. Nela, o art 5º permite também a estipulação de juros remuneratórios.
Quem insere os juros na letra de câmbio? O SACADOR, que é quem CRIA o título.
Vamos explorar a questão da quantia determinada: quando há duas quantias lançadas no título, uma em algarismo e a outra por extenso, prevalece a por

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