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ARTIGO DE AGRÁRIA

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A PEQUENA PRODUÇÃO CAMPONESA SOB O MODO 
CAPITALISTA DE PRODUÇÃO 
Everson de Oliveira Santos1 
Cirlene Jeane Santos e Santos2 
 
PALAVRAS-CHAVE: Pequena produção. Agroindústria. Tecnologias. Assentamentos 
rurais. 
1 – APRESENTAÇÃO 
 Este trabalho intitulado de “A pequena produção camponesa sob o Modo Capitalista 
de Produção”, aborda um estudo bibliográfico relacionado à pequena produção camponesa, 
enfatizando assim, as transformações que ela vem sofrendo mediante o desenvolvimento do 
capitalismo, tal como a industrialização do campo, as tecnologias, enfim, em termos gerais 
enfatiza os limites e desafios da unidade de produção camponesa. 
 Inicialmente o trabalho faz uma breve abordagem sobre como se deu o surgimento 
do campesinato, começando pela “descoberta” do território brasileiro até a formação 
propriamente dita do campesinato. 
 Um dos grandes aspectos lúdicos desse trabalho consiste no fato de frisar a questão 
da industrialização do campo, através dos complexos agroindustriais, destacando seus 
impactos na pequena produção, bem como sua transformação. E mais, frisar os limites da 
unidade de produção camponesa no que diz respeito ao acesso às tecnologias que vem na 
esteira do desenvolvimento do capitalismo – vale ressaltar que essas transformações são 
econômicas, sociais, políticas e culturais. 
 O artigo também traz um enfoque na espacialização dos Projetos de Assentamentos 
em Alagoas, mais especificamente é dada uma ênfase no Assentamento Dourada localizado 
no município de Viçosa, nesse assentamento foram identificadas de forma criteriosa a sua 
organização interna, sua reprodução, a ação do Estado tanto para a criação do 
assentamento como também sua participação na manutenção e permanência do 
assentamento, além de trazer um breve arcabouço histórico do assentamento. 
 
 
1
 Graduando em Geografia Licenciatura pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL 
2
 Prof(a). Ms. do curso de Geografia na Universidade Federal de Alagoas - UFAL 
 
2 – DA DESCOBERTA PORTUGUESA À FORMAÇÃO DO CAMPESINATO 
NO BRASIL 
 Antes de começar a enfatizar a pequena produção camponesa no Brasil, é 
necessário fazer uma breve abordagem sobre a formação propriamente dita do campesinato 
no Brasil, começando assim pelo seu descobrimento. 
 Em meados do século XVI o território brasileiro testemunha o seu “descobrimento” e 
a sua ocupação, realizado por estrangeiros vindos de Portugal (vale ressaltar que outros 
países, após o “descobrimento” das terras brasileiras, também vieram se apropriar das 
terras anteriormente citadas). Foram várias as motivações que possibilitaram e estimularam 
esse descobrimento, Manuel Correia de Andrade, em seu livro “Questão do território no 
Brasil”, frisa que “os portugueses lançaram-se na rota marítima, em vista de sua excepcional 
situação geográfica – situado na porção mais ocidental da Europa – do desenvolvimento da 
ciência náutica estimulado pela dinastia de Avis que conquistara o poder com o apoio da 
burguesia comercial, do afluxo de especialistas nas ciências de navegação, e de capitais, 
vindos de várias partes da Europa, sobretudo da Itália, que foram aplicados no grande 
empreendimento”. E mais, Andrade ressalta a importância da influência da Revolução 
comercial nesse processo: 
Com a revolução Comercial, a Europa estava sequiosa tanto de 
produtos tropicais como de minerais que estimulavam o movimento 
comercial, a formação de capitais, a expansão da utilização da força 
de trabalho e, conseqüentemente, o desenvolvimento urbano e dos 
transportes. (ANDRADE, pp. 29) 
 Durante as primeiras décadas do século XVI os portugueses demoraram em efetivar 
sua ocupação no território brasileiro o que provocou um clima de disputa com França, 
Inglaterra e Holanda. Respondendo a esse risco a que Portugal estava correndo, os próprios 
portugueses iniciaram o povoamento do território através das Capitanias Hereditárias, para 
fins de exploração e escravidão dos indígenas que ainda ocupavam boa parte das terras.3 
 A partir da quarta década, ainda no século XVI “os colonizadores dividiram o território 
brasileiro em capitanias hereditárias e estimularam os donatários a iniciar o povoamento em 
cada um dos seus lotes”. (ANDRADE, pp. 30) 
 
3
 Que eram quinze capitanias. 
 Cada donatário cedia parte de “suas” terras para o chamado sesmeiro, era o regime 
de sesmarias, onde esse sesmeiro cultivava a porção de terra que lhe foi confiada, não 
obtendo assim, a posse da terra. Mas vale salientar que esse regime de sesmarias muito 
contribuiu para a concentração fundiária de terras brasileiras e que, por sua vez, atualmente 
ainda ocorre no país. 
Como o Brasil pertencia à ordem de Cristo, ao criar as capitanias 
hereditárias o rei de Portugal estabeleceu nos forais dos donatários 
que eles poderiam reservar para si apenas uma determinada porção 
de terras, devendo doar a pessoas de religião cristã, e com 
capacidade financeira, outras porções em regime de sesmarias. O 
sesmeiro tinha a posse da terra mais não o domínio, pagando um 
dízimo à ordem de Cristo. Os primeiros donatários distribuíram 
sesmarias com alguns dos seus companheiros de aventuras que 
conquistaram terras aos indígenas [...]. (ANDRADE, pp. 54) 
A doação de terras em sesmarias, embora estas não desse o 
domínio mas tão-somente a posse ao seu titular, provocou o 
processo de sua ocupação e apropriação, sob a égide da grande 
propriedade, e definiu um processo de dominação do latifúndio que 
ainda hoje ocorre no país. 
 Ruy Cirne Lima também destaca a relação intrínseca que tem as concessões de 
terras em regime de sesmarias com os latifúndios. 
As concessões de sesmarias, na maioria dos casos, restringiam-se, 
portanto, aos candidatos a latifúndios, que, afeitos ao poder, ou 
ávidos de domínios territoriais, jamais, no entanto, poderiam 
apoderar-se materialmente das terras que desejavam para si. (LIMA, 
pp. 42) 
 E mais, “ao lado do processo legal de apropriação de terra pela doação de 
sesmarias, ocorria também a apropriação por pessoas de menores recursos e prestígio, que 
se instalavam em áreas menos acessíveis, implantando roças e currais – eram os 
chamados posseiros. (ANDRADE, pp. 55) 
 Enfim, para finalizar essa discussão, a abolição das sesmarias em 1822 não inibiu 
que a posse servisse como um novo veículo para o latifúndio, ou seja, a concentração de 
terras. 
 A formação do campesinato no Brasil recebeu várias contribuições em diferentes 
ângulos. Segundo Manuel Correia de Andrade “em uma sociedade patriarcal dos períodos 
colonial e imperial, já se encontrava um germe do campesinato girando em torno da classe 
senhorial e se sobrepondo aos escravos”. (ANDRADE, pp. 68) 
 Andrade destaca que 
Ainda no século XVI, Fernão Cardim, ao descrever a região 
açucareira de Pernambuco, salientava a existência, à sombra dos 
canaviais, de numerosas e diversificadas culturas feitas por homens 
livres em terras alheias ou em pequenas porções de terra próprias 
[...] Eram numerosos os portugueses que chegavam ao Brasil sem 
dispor de recursos de crédito ou de prestígio para montar engenhos, 
passando a viver de pequenas atividades agrícolas em áreas mais 
distantes dos engenhos [...]. (ANDRADE, pp. 69) 
 Estes agricultores citados acima seriam o germe do campesinato na região Nordeste 
do Brasil. Mas, vale que paralelo a estes agricultores havia os chamados moradores; estes 
tinham mo compromisso de prestarem dias de trabalho por semana, isto de serviços, ao 
mesmo tempo em que exploravam com a ajuda da família (mão-de-obra familiar) a porção 
de terrasonde produziam alimentos. Percebe-se que já existiam grandes proprietários de 
terras que comandavam as terras de pequenos camponeses. 
 Como se sabe, existiram expedições de caça aos indígenas que penetravam para o 
interior do território brasileiro, daí então, com os índios afastados das terras que ocupavam, 
vários moradores se direcionaram a esses espaços e desenvolveram práticas agrícolas, 
como também a criação de animais e a confecção de artesanatos. 
 Outra influência para a formação do campesinato no Brasil vem de atividades 
agrícolas que foram desenvolvidas no decorrer do período colonial por escravos. 
No Quilombo de Palmares, o maior deles, autores que na época o 
visitaram, admitem que os escravos desenvolviam roças para suprir 
a alimentação da população aí concentrada, de forma semelhante ao 
que ocorria na África [...] (ANDRADE, pp. 70) 
 Aponta Andrade que “o campesinato ganharia maior importância depois da imigração 
de agricultores para o Brasil, organizada pelo Governo português [...] medida que foi 
seguida pelo Governo imperial, após a independência, visando estimular a ocupação do 
espaço, com a criação de colônias de pequenos proprietários [...]” (ANDRADE, pp. 71) 
 
2.1 – O CAMPONÊS E O MODO CAPITALISTA DE PRODUÇÃO 
 Nesse primeiro momento o campesinato se caracterizava, primordialmente, pelo 
relativo isolamento em que vivia. Com o desenvolvimento do capitalismo “a necessidade do 
dinheiro aumentar e com isso mais o camponês envolveu-se com a produção para o 
mercado. Transforma-se agora num produtor individual (familiar) de mercadorias”. 
(OLIVEIRA, 2007). São várias as facetas que vão caracterizar o impacto que o Modo de 
Produção Capitalista vai causar, agora, na pequena produção camponesa, nos tópicos 
seguintes veremos alguns das principais transformações que a agricultura a nível familiar 
vem sofrendo. 
 Como a pequena produção camponesa estava voltada para o mercado e havia uma 
aceleração da transformação dos produtos produzidos pelos camponeses em mercadoria, a 
sustentação a esse novo processo, ou seja, de venda direta do produtor aos consumidores 
vai se tornando bastante difícil e até mesmo impossível, pois, como já foi ressaltado, à 
distância e a duração das viagens de onde eles produziam para onde eles teriam que 
vender era enorme e de difícil acesso. Surge então a figura do atravessador que, segundo 
Ariovaldo Umbelino de Oliveira “passa a figurar entre o produtor e o consumidor. Assim, o 
produtor perdia o contato com os consumidores e perdia também a visão do próprio 
mercado”. (OLIVEIRA, 2007, pp. 18) 
3 – A PEQUENA PRODUÇÃO CAMPONESA 
 Não há como falar de pequena produção camponesa sem falar também das grandes 
propriedades. José Graziano Silva, em seu livro “A modernização dolorosa”, define e 
caracteriza a pequena produção como” pequenas áreas com baixas rendas, onde a família 
do produtor direto constitui a unidade básica de produção e consumo, e onde sua 
reprodução se realiza sob precárias condições. A pequena produção é responsável em 
nosso país pela grande parcela da produção de alimentos básicos e também das matérias-
primas de transformação industrial”. (SILVA, 1982) 
 O mesmo autor define também as grandes propriedades enfatizando que elas “estão 
mais voltadas às atividades extrativas (vegetal e/ou florestal) e à pecuária bovina, sendo 
bastante reduzida a sua contribuição na produção de alimentos e da maior parte das 
matérias-primas, com exceção da cana-de-açúcar. Esta pode ser considerada uma cultura 
típica de grandes unidades [...] (SILVA, 1982) 
 Enfim, toda essa abordagem feita anteriormente foi necessário para que se pudesse 
ter uma pequena noção (evidente que não é só isso) do que é a pequena produção e 
grande propriedade, mas o nosso enfoque é a primeira. 
 O que caracteriza primordialmente a estrutura agrária brasileira é o fato de ela haver 
grande concentração de terras ou propriedades, logo, no outro lado da história há um 
número bastante grande de pequenas unidades que disputam pequenas porções de terras, 
terras essas que possuem características que mal possibilitam esses pequenos produtores 
e sua família extrair dela o estritamente necessário ao seu sustento. 
 Como já deu para perceber, pequena produção camponesa “obtém” uma pequena 
porção de terra, onde nela produz alimentos voltados principalmente ao sustento da unidade 
familiar; no Brasil essa pequena produção é responsável pela maior contribuição na 
produção de alimentos, porém, essa possibilidade positiva não tem sido atrativa ao capital. 
 Um dos grandes desafios da pequena produção camponês, através do 
desenvolvimento do Modo Capitalista de Produção, é a chamada “modernização 
conservadora” que, induzida ou amparada pelo Estado faz com que o cabeça da unidade 
familiar tenha que se assalariar temporariamente na cidade (vale ressaltar que esse 
fenômeno não só é induzido pela modernização da agricultura, pois existem vários outros 
fatores, tais como, a desapropriação da sua terra). 
 Na unidade de produção familiar o consumo alimentar é o prioritário, e mais, “é 
significativo destacar que neste tipo de organização social a figura do chefe-de-família é 
fundamental e decisiva na organização do processo produtivo”. (ARAÚJO, 1986) 
 Outro fator extremamente importante e que caracteriza bem a unidade familiar ou 
pequena produção familiar, é frisado por Eduardo Jordão de Araújo, onde ele destaca que, 
Uma das principais características imputadas à pequena produção 
familiar é a autonomia. Este traço revelar-se-ia pela conhecida auto-
suficiência da unidade econômica camponesa. Esta capacidade de 
auto abastecer-se foi muitas vezes insuficientemente interpretada, 
dando origem a conceitos tais como o de economia autárquica. Este 
tipo de economia é definido como aquela que provê e satisfaz 
plenamente todas as necessidades de consumo do grupo doméstico. 
(ARAÚJO, 1986, pp. 27) 
 
3.1 – TECNOLOGIAS E PEQUENA PRODUÇÃO 
 São várias as inovações que o desenvolvimento do Modo Capitalista de Produção 
traz para a agricultura, dentre elas, será destacado nesse subtópico a questão da 
tecnologia. 
 O roçado familiar tem se constituído historicamente, no que diz respeito às técnicas 
de plantio, através da clássica prática de rotação de terras, ou seja, o pousio; nesse sistema 
a unidade familiar camponesa não dispunha de produtos químicos (fertilizantes) para tornar 
a terra fértil e os instrumentos de trabalho utilizados eram bastante simples. 
À medida em que as terras boas, virgens e restauradas foram se 
tornando escassas para a pequena produção, em razão da expansão 
do latifúndio, grilagem e recentemente pela especulação imobiliária, 
os produtores foram paulatinamente forçados a abandonar a prática 
de rotação de terras. (ARAÚJO, 1986, pp. 29) 
 À medida que o capitalismo traz inovações tecnológicas, tais como fertilizantes, 
insumos, tratores para arar a terra, com o objetivo de acelerar e intensificar a produção, 
melhorá-la, faz-se necessário também o pequeno produtor adotar e incorporar essas 
inovações tecnológicas à sua produção, pois isso traz a possibilidade de todas as porções 
de terras serem cultiváveis. Mas, nesse processo o que vai falar mais alto é a condição 
financeira desse produtor, que na maioria das vezes é paupérrima e que lhe impede que 
haja uma conservação ou retificação do solo. 
[...] os produtores, por desconhecer ou por falta de recursos 
financeiros, não incorporaram ao processo produtivo técnicas de 
conservação e/ou recuperação de solos. Esta situação impõe aos 
produtores o problema da redução progressiva da produtividade dos 
solos e, em alguns casos, a perda total da fertilidade. (ARAÚJO, 
1986, pp. 29)[...] a não adoção de uma tecnologia apropriada de produção é em 
grande parte responsável pelo desmantelamento da economia 
familiar a nível micro. (ARAÚJO, 1986, pp.29) 
 Para Eduardo Araújo, “o capital tem sempre em vista o crescimento da produtividade 
do trabalho [...] tem por natureza um interesse especial pela tecnologia e ele estará sempre 
em busca daquela que lhe traga uma maior valorização, um maior lucro médio e maiores 
possibilidades de se reproduzir”. (ARAÚJO, 1986, pp. 30) 
Nessas últimas duas décadas a agricultura brasileira vem passando por um processo 
de modernização, ou seja, praticamente consiste na substituição do trabalho humano por 
modernas máquinas, ou, utilizando as palavras de Eduardo Araújo, “este processo tem sido 
caracterizado por uma crescente tecnificação do processo de produção e uma massiva 
substituição dos insumos tradicionais por insumos industriais”. (ARAÚJO, 1986) 
Além dessas transformações tecnológicas que o capitalismo está trazendo para o 
campo (especificamente a pequena produção camponesa, já que é o enfoque do nosso 
trabalho) e da pequena produção camponesa está na maioria das vezes negligenciada 
dessa inovação, essa transformações não são homogêneas no território brasileiro, ficando 
assim algumas regiões menosprezadas, valendo aqui salientar que essa participação tímida 
no processo de transformações tecnológicas de algumas regiões não está relacionada ao 
fato de não aceitar, e sim as condições econômicas, políticas, sociais dessa região, se 
referindo principalmente à pequena unidade camponesa. 
No caso do Nordeste brasileiro, as transformações tecnológicas 
forma ainda menos presentes. (ARAÚJO, 1986, pp. 30 e 31) 
Um dos grandes impactos que essa modernização tecnológica provocou na pequena 
produção do camponês foi o fato de haver ocorrido a redução da produção de alimentos, 
mais que isso, foi a “perda” da principal característica dessa unidade de produção e a 
facilidade de haver a reconcentração de terras. Tanto a pequena produção como a grande 
produção estabelecem relações com o capitalismo, porém a segunda se dá muito melhor 
que a primeira. 
[...] a tecnologia adotada na modernização da agricultura veio 
atender ao desenvolvimento do capitalismo, criando novas formas de 
dependência entre o capital e a pequena produção, bem como 
reestimulando e recriando antigas formas de relação de trabalho 
quando foi mais conveniente. (ARAÚJO, 1986, pp. 32) 
No que diz respeito à relação existente entre o capital e a pequena produção, vale 
destacar aqui, antes de terminar essa discussão, que a escolha de um padrão ou opção 
tecnológico está intrinsecamente relacionada à condição econômica desse pequeno 
produtor. 
3.2 – AGROINDÚSTRIA E PEQUENA PRODUÇÃO 
 Outra transformação que o desenvolvimento do Modo Capitalista de Produção 
também trouxe para o campo foi a agroindústria. Segundo Davis & Goldberg a agroindústria 
é definida como a “soma de todas as operações envolvidas no processamento e distribuição 
dos insumos agropecuários, as operações de produção na fazenda; e o armazenamento, 
processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e seus derivados”. (DAVIS & 
GOLDBERG, 1957 apud SILVA, 1990) 
 Logo, segundo Bernad Sorj e John Wilkinson, “esta expansão da produção nos 
países centrais teve na agroindústria de insumos e maquinaria agrícola seu carro-chefe. 
Esta tinha como tripé fundamental a indústria de tratores e maquinarias agrícolas, a indústria 
química (fertilizantes e pesticidas) e a produção de sementes e matrizes animais em centros 
avançados de pesquisa genética”. (SORJ & WILKINSON, 1980, pp. 165) 
 No caso do Brasil só foi possível a geração de um complexo agroindustrial moderno 
quando ocorreu a implantação de indústrias de automóvel e indústrias siderúrgicas. Este 
processo de geração da agroindústria “surge no bojo de um processo industrializador 
liderado pela empresa internacional [...]” (SORJ & WILKINSON, 1980, pp. 166) 
Dentro dos países periféricos, o Brasil, é possivelmente, hoje, o país 
com o parque agroindustrial mais avançado e diversificado, sendo 
desenvolvido particularmente a partir do fim da década de sessenta 
sob a proteção e promoção do Estado autoritário. (SORJ & 
WILKINSON, 1980, pp. 166) 
 A pequena produção camponesa, diante dessas transformações luta para se manter, 
como os autores citados anteriormente nomenclatura, “economicamente viável”, mas 
infelizmente a produção familiar tem que “aceitar” as determinações do sistema 
agroindustrial, e isso faz com que haja modificações nas “bases de seu funcionamento”, na 
sua especificidade histórica e cultural, etc. 
 O produtor familiar, quando integrado a agroindústria se vê impossibilitado de optar 
entre o autoconsumo (característica que lhe é peculiar) e o mercado, pois esse poder de 
escolha não lhe é conferido. A base econômica da unidade familiar, com a agroindústria, 
passa a depender da tecnologia para os seus processos produtivos serem mais 
intensificados (vale frisar que essa dependência é determinada pela sua capacidade 
econômica de obter essa tecnologia). 
No caso do produtor familiar integrado ao complexo agroindustrial, a 
possibilidade de escolher entre autoconsumo e a mercantilização da 
sua produção não mais existe, na medida em que a base de seus 
processos produtivos e as condições de sua futura reprodução se 
encontram totalmente monetarizadas. (SORJ & WILKINSON, 1980, 
pp. 172) 
3.2.1 – IMPACTOS DA AGROINDÚTRIA NA UNIDADE DE PRODUÇÃO FAMILIAR 
 São vários os impactos que os complexos agroindustriais provocam na pequena 
produção. Aqui faremos uma breve exposição de alguns dos principais problemas. 
 Com a industrialização do campo “não somente o conhecimento é substituído ao 
produtor, como seu ritmo de trabalho passa a ser determinado pelas prescrições técnicas da 
agroindústria” (SORJ & WILKINSON, 1980, pp. 173 e 174). Uma vez integrada à 
agroindústria, não há como haver um retorno ao seu antigo estágio de autoconsumo. 
 Outro fator consiste no fato de como conseqüência do processo de industrialização 
da agricultura, o trabalho assalariado temporário se converte na forma mais importante de 
trabalho rural no Brasil, dentre outros aspectos. 
4 – ESPACIALIZAÇÃO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO DOURADA 
 O estado de Alagoas, segundo o INCRA através da Superintendência Regional de 
Alagoas, quando realizou em janeiro de 2009 o processo de Georeferenciamento dos 
projetos de assentamento identificou um total de 155 assentamentos distribuídos no 
território alagoano (porém com certa concentração de assentamentos em algumas áreas). 
Este tópico com enfatizará com especificidade o Assentamento Dourada localizado no 
município de Viçosa.4 
 Ariovaldo Umbelino de Oliveira frisa que “a propriedade e a concentração da terra no 
capitalismo cosntituem-se em mecanismos de produção do capital” (OLIVEIRA, 2007, pp. 
66). No caso de Alagoas, a nível geral, o que faz com que haja a produção do capital é a 
cana-de-açúcar, pois grande parte da economia do estado fira em torno dessa monocultura. 
Alagoas é um dos estados brasileiros com mais concentração de terras, e no caso 
alagoano, é um vasto latifúndio nas mãos de poucas famílias, estas geralmente são 
constituídas por usineiros. “Alagoas tem 102 municípios. Destes, 54 plantam cana pra 
produção de açúcar e etanol. São mais de 410 mil hectares de terra com esse monocultivo. 
Isto representa 64% da área agriculturável do estado”. (CARLOS LIMA, 2009) 
 
4
 Há outro assentamento no município, chamado de Quinta de Serra, mas o presente artigo se delimita apenas 
ao assentamento Dourada. 
 Mas, no que diz respeito à questãoagrária no estado, focalizaremos a fundação dos 
Projetos de Assentamentos, começando a falar um pouco sobre o que é Reforma Agrária. 
Oliveira define Reforma Agrária como: 
A reforma agrária constitui-se, portanto, em um conjunto de ações 
governamentais realizadas pelos países capitalistas visando 
modificar a estrutura fundiária de uma região ou de um país todo. Ela 
é feita através de mudanças na distribuição da propriedade ou posse 
da terra e dar renda com vista a assegurar melhoras nos ganhos 
sociais, políticos, culturais, técnicos, econômicos (crescimento da 
produção agrícola) e de reordenação do território. (OLIVEIRA, 2007, 
pp. 68) 
Na verdade, no caso brasileiro a reforma agrária está mais para um mecanismo do 
Estado para conter os movimentos sociais, do que para combater o latifúndio, mais 
especificamente com a criação de Projetos de Assentamentos, que depois de algum tempo 
não receberá mais o apoio do Estado para a reprodução da pequena produção. 
A intervenção do Estado, através dos projetos de assentamento, se 
desenvolve de forma distinta, tanto com relação ao período de tempo 
em que são realizados, como em função dos distintos mecanismos 
de implantação de sua política agrária. (GERMANI, 1998, pp. 08) 
 Quando os trabalhadores rurais se inserem em um Assentamento, tendo assim 
acesso a terra, eles têm que enfrentar um novo desafio: garantir sua permanência, 
reprodução e condições propícias e dignas de vida, pois “a seleção das áreas para 
instalação de projetos de assentamento é um ponto de uma importância para a 
determinação dos resultados futuros em qualquer modalidade”. (GERMANI, 1998, pp. 10) 
 No dia 20 de Junho de 1997 o INCRA fundou o Assentamento Dourada no município 
de Viçosa – Alagoas, nomeada como “Agrovila Senador Teotônio Vilela (o menestrel)”. 
 Antes da instalação do assentamento, na Fazenda Dourada (como é conhecida hoje) 
estava instalada a Usina Brasileira que, após ter ido à falência, os proprietários das terras 
arrendaram-nas para 54 rendeiros.5 
 Para resolver o problema, segundo o ex-tesoureiro do centro comunitário do 
assentamento, o ex-prefeito Flavius Flaubert Pimentel Torres levou a proposta para o 
INCRA em Brasília-DF, onde no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi 
 
5
 Essa antiga usina é conhecida hoje como Engenho Velho 
determinado a divisão das terras em lotes da fazenda. Nota-se que o estabelecimento desse 
assentamento não foi derivado de uma escolha propriamente dita do INCRA, pois ele só fez 
aprovar a fundação do Projeto de Assentamento e dividir os lotes para os camponeses. 
4.1 – CARACTERÍSTICAS ATUAIS DO ASSENTAMENTO DOURADA 
 O assentamento é constituído tanto por uma agrovila com também por casas nos 
próprios lotes. No caso desta pesquisa, ela está focada na agrovila. 
 
FIG. 1 - VISTA DA AGROVILA DO ASSENTAMENTO DOURADA 
Foi verificado que há no assentamento uma “Casa de farinha” (ver figura 2 abaixo), 
onde todos os pequenos produtores plantam mandioca e depois de retirada da terra são 
destinadas a esse espaço para a produção da farinha, depois são vendidas na própria feira 
livre de Viçosa pelos produtores ou são vendidos a outros feirantes que não participaram do 
processo de produção. É como se funcionasse como uma cooperativa. Mas, vale salientar 
que, segundo os moradores do assentamento no início ela funcionava freqüentemente, 
depois mal é aberta para a produção de farinha, isso se deve ao fato dos pequenos 
produtores não se unirem mais para esse tipo de atividade – o que antes simbolizava uma 
associação de pequenos produtores, hoje simboliza um individualismo, e isso é um dos 
fatores que tem provocado, muitas vezes, o fracasso de assentamentos. 
 
FIG. 2 – CASA DE FARINHA 
[...] estabelece-se que a unidade familiar passa a ser a unidade de 
produção e, ao invés de se considerar o projeto de forma unitária, ele 
é fracionado em sua totalidade, desconsiderando-se a unidade do 
projeto. (GERMANI, 1998, pp. 15) 
 Dentre os produtos agrícolas verificou-se a plantação de milho, feijão, inhame, 
macaxeira, mandioca, bananeiras, batata-doce, etc. Esses produtos são comercializados na 
própria feira livre de Viçosa, que por sua vez, é a maior em relação às outras das cidades 
adjacentes, e isso reflete um aspecto positivo para o Assentamento Dourada. Essa 
comercialização ocorre de duas formas distintas: o próprio produtor vende na feira ou o 
produtor vende a um feirante que não participou das etapas do processo produtivo do 
produto agrícola. 
 No aspecto da saúde e educação evidenciou-se que, muito tem melhorado, pois há 
instalação de um posto de saúde (Posto de Saúde Caminho da Roça) e uma Agente de 
Saúde do PSF especialmente para o assentamento – no que diz refere à água potável, há 
uma caixa enorme que armazena água vinda de poços artesianos da cidade para da 
assistência aos assentados; até os que moram nos próprios lotes recebem água portável em 
suas casas. Há uma escola e uma creche no assentamento. Os filhos dos camponeses que 
estão mais “avançados” em termos de séries escolares são contemplados com um ônibus 
da prefeitura de Viçosa, todos os dias para irem à cidade. Vale ressaltar que o 
assentamento não é tão distante da zona urbana. 
 
FIG. 3 – POSTO DE SAÚDE CAMINHO DA ROÇA 
 
FIG. 4 – CRECHE E ESCOLA 
 Na própria agrovila há a presença de vendas dentro do próprio assentamento para 
atender as necessidades básicas dos próprios assentados, evitando que os moradores 
tenham que ir À cidade para comprar produtos necessários básicos para seu dia-a-dia, tais 
como: higiênicos, alimentos (só os básicos). No momento da visita ao assentamento havia a 
construção de um mercadinho por um microempresário da cidade.6 É extremamente 
importante destacar que a agrovila não só é constituída por camponeses, como também por 
pessoas que nunca trabalharam em uma terra, e isso faz com que o assentamento perca, 
em se tratando dos assentados, uma de suas especificidades. 
[...] a definição de um modelo de produção agrícola para o projeto, a 
definição de cultivos rentáveis e adaptados às condições existentes, 
Às limitações em termos de recursos naturais, de recursos 
tecnológicos e financeiros se convertem em aspectos da maior 
importância para a trajetória e o resultado dos assentamentos. 
(GERMANI, 1998, pp. 19) 
 No caso do Assentamento Dourada, segundo o ex-tesoureiro do Centro Comunitário 
Flaubert Torres, o INCRA tinha disponibilizado um trato para os pequenos produtores, mas 
depois e um bom tempo esse recursos tecnológico extremamente importante veio a quebrar, 
e o Estado nunca se preocupou em concertá-lo, e os camponeses não têm recursos 
financeiros propícios ao concerto da máquina. Não só basta ao Estado ceder à posse das 
terras, é necessário dá apoio e suporte financeiro/crédito para que a organização espacial 
interna dos projetos possa se manter, isso no que diz respeito à compra de insumos, 
sementes, pesticidas, etc. Só desta maneira a verdadeira essência histórica do camponês 
será mantida, ou seja, ter a sua porção de terra para trabalhar tendo o direito de acesso às 
 
6
 Esse microempresário nunca morou no assentamento e nunca foi um camponês. 
inovações tecnológicas, por exemplo, para sua melhor posição no mercado deixando assim 
de ser explorado de forma exorbitante pelo capital. 
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Pudemos ver uma abordagem histórica breve e didática da formação do 
campesinato, isso desde a polêmica “descoberta” do território brasileiro até a formação 
propriamente dita do campesinato, enfatizando assim, as várias contribuiçõesvindas de 
diferentes ângulos para a formação desse grupo social. 
 Este trabalho muito contribuiu para um estudo na perspectiva do conhecimento da 
organização interna dos assentamentos (é óbvio que cada assentamento possui sua 
particularidade). Nesse estudo vimos os aspectos econômicos, sociais, políticos, e 
ideológicos dos assentamentos, bem como a “participação” do Estado na fundação e 
manutenção do Assentamento Dourada, frisando também os desafios e os limites dos 
assentados. Nessa outra parte do trabalho, vale salientar que as informações são muito 
poucas devido ao tempo de duração da pesquisa, pois um conhecimento mais apurado da 
organização espacial e interna dos projetos de assentamentos é adquirido com muito 
campo. 
 E por fim, esse trabalho muito contribui para que alunos da disciplina de Geografia 
Agrária pudessem ter contato com uma das realidades a que o pequeno produtor está 
submetido por causa do desenvolvimento do Modo Capitalista de Produção. 
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
SILVA, José Graziano. A questão agrária no Brasil. In. SILVA, José Graziano. A 
modernização dolorosa. Rio de Janeiro. Zahar, 1982. 
SORJ, Bernardo; WILKINSON, John. Processos sociais e formas de produção na agricultura 
brasileira. In. SORJ, Bernardo; ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. Sociedade e Política 
no Brasil Pós-64. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. 
SILVA, José Graziano da. Complexos Agroindustriais e outros complexos. In. SILVA, José 
Graziano da. Nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas (SP): UNICAMP, 1996. 
ARAUJO, Eduardo Jordão. Pequena produção e tecnologia socialmente apropriada. In. 
Cadernos do CEAS, v 0, n 113, 1988. 
GERMANI, Guiomar Inez. A geografia (e) (da) reforma agrária. Trabalho apresentado no 
Encontro de Técnicos e Dirigentes de Cooperativas e Associações do MST, organizado pelo 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Direção Estadual da Bahia, em Salvador 
[BA], 11.01.98. 
MEDEIROS, Leonildes; LEITE, Sérgio. Perspectivas para a análise das relações entre 
assentamentos rurais e região. In. TEIXEIRA, F. C.; COSTA, L. F>; SANTOS, R. N. (Orgs.). 
Mundo rural e política. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 
ANDRADE, M. C. Questão do território no Brasil. Ed. Hucitec. 
LIMA, R. C. Pequena história territorial do Brasil: sesmarias e terras devolutas. Ed. UFG. 
OLIVEIRA, A. U. Modo Capitalista de Produção, agricultura e Reforma Agrária. 1ª edição. 
Ed. Labur. São Paulo, 2007. 
Jornal da CPT. Alagoas tem maior índice de trabalho escravo no NE. Tópico: trabalho 
escravo. Alagoas, 2009. 
7 – ANEXO (próxima lauda)

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