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1 GEOGRAFIA AGRÁRIA Prof. Dr. Rodrigo César de Vasconcelos dos Santos 2 GEOGRAFIA AGRÁRIA PROF. DR. RODRIGO CÉSAR DE VASCONCELOS DOS SANTOS 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Esp. Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza mendes Leite Maria Eliza P. Campos Prof. Esp. Guilherme Prado Design: Aline De Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Taisser Gustavo Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 GEOGRAFIA AGRÁRIA 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 5 Graduado em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) (2016), Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pelo Centro Universi- tário de Lavras (UNILAVRAS) (2016), Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Fede- ral de Lavras (UFLA) (2016) e Doutor em Recur- sos Hídricos pela Universidade Federal de Pe- lotas (UFPel) (2020). Atualmente, é bolsista de pesquisa no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), atuando no mapeamento e diagnóstico do setor de mineração brasileiro. Participa como membro do Núcleo de Estudos em Educação de Valores Humanos – Pelotas/ RS. RODRIGO CÉSAR DOS SANTOS Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali- ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/6378553120559007 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 Fundamentos Da Geografia Agrária ................................................................................................................................................................................................................................10 1.2 Movimentos Migratórios Do Campo Para A Cidade ..............................................................................................................................................................................................11 1.3 Transformações Em Curso Da Geografia Agrária No Mundo Contemporâneo .................................................................................................................................12 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................13 2.1 Movimentos Sociais No Campo ...........................................................................................................................................................................................................................................17 2.2 Conflitos Marcantes Pela Terra No Brasil .....................................................................................................................................................................................................................21 2.3 Revoluções Na América Latina ..........................................................................................................................................................................................................................................22 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................25 3.1 Concentração De Terras No Brasil ....................................................................................................................................................................................................................................30 3.2 Reforma Agrária Brasileira ....................................................................................................................................................................................................................................................32 3.3 Movimentos Sociais Camponeses Em Minas Gerais ...........................................................................................................................................................................................33 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................38 INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA AGRÁRIA MOVIMENTOS SOCIAIS, CONFLITOS PELA TERRA E REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA GEOGRAFIA AGRÁRIA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS 4.1 Agricultura Convencional ......................................................................................................................................................................................................................................................43 4.2 Agricultura Familiar ..................................................................................................................................................................................................................................................................44 4.3 Agricultura Orgânica ................................................................................................................................................................................................................................................................45 4.4 Agricultura Agroecológica ..................................................................................................................................................................................................................................................46 4.5 Pecuária ...........................................................................................................................................................................................................................................................................................47 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................49AGRICULTURA SOB DIFERENTES MODOS DE PRODUÇÃO 5.1 Tecnologias Adotadas Na Agricultura 4.0 ...................................................................................................................................................................................................................54 5.2 Agricultura De Precisão ..........................................................................................................................................................................................................................................................55 5.3 Pecuária 4.0 ....................................................................................................................................................................................................................................................................................56 5.4 Agro 5.0: O Próximo Passo? .................................................................................................................................................................................................................................................56 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................58 AGRO 4.0 E AGRONEGÓCIO 6.1 Agricultura E Meio Ambiente ..............................................................................................................................................................................................................................................63 6.2 Revolução Verde ..........................................................................................................................................................................................................................................................................65 6.3 Diversidade Sociocultural Do Rural Brasileiro ........................................................................................................................................................................................................67 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................................................................................................................................................................................................69 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................................................................73 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................74 TÓPICOS IMPORTANTES EM GEOGRAFIA AGRÁRIA UNIDADE 5 UNIDADE 6 8 O N FI R A N O L I C V R O UNIDADE 1 A Unidade 1 introduz a geografia agrária, trazendo conceitos básicos sobre o tema. Brevemente mostra alguns problemas ocorridos no campo, os quais acarretaram em movimentos do campo para a cidade. Também retrata as transformações da geografia agrária no mundo contemporâneo. UNIDADE 2 A Unidade 2 explora os movimentos sociais no campo, de seus surgimentos até suas diversas lutas em prol da posse de terras no Brasil e em outras localidades da América Latina. UNIDADE 3 A Unidade 3 mostra a problemática da concentração e divisão de terras no Brasil e, em contrapartida, um dos caminhos para uma maior igualdade, onde trata da Reforma Agrária de forma crítica. Também mostra alguns movimentos camponeses de Minas Gerais. UNIDADE 4 A Unidade 4 apresenta, de forma geral, a agricultura sob diferentes modos de produção, como a convencional, familiar, orgânica, e faz um apanhado sobre a agroecologia e também da pecuária UNIDADE 5 A Unidade 5 trata do agronegócio e também das tecnologias que vem sendo desenvolvida e utilizadas para aumento da quantidade e qualidade da produção no campo. Portanto, fala do agro 4.0, da pecuária 4.0 e do avanço da agricultura 4.0 para a tão almejada 5.0. UNIDADE 6 A Unidade 6 traz diversos temas importantes relacionados à geografia agrária, como o cuidado com o meio ambiente que os produtores rurais devem tomar. Aborda a Revolução Verde e algumas de suas implicações, bem como as mudanças sociais e culturais das atividades agrícolas e camponesas. 9 INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA AGRÁRIA 10 O aumento populacional e o processo de urbanização propiciam vários problemas, especialmente agrários, como o aumento da produção de alimentos em um mundo desigual e faminto, o que exige expansão territorial do agronegócio frente a um cenário mundial de crise ambiental e à escassez de recursos (solo, água, energia). Isso acarreta conflitos de terras, o que leva à expulsão das comunidades rurais tradicionais de seus territórios e, não em raras ocasiões, levam muitas pessoas a óbito por meio da violência. Mesmo um tema tão necessário e contemporâneo, como é o caso das questões agrárias, muitas pessoas, principalmente os jovens, demonstram muita falta de interesse, visto que estão cada vez mais envoltos à cultura urbana. Dessa forma, se torna imprescindível analisar o processo histórico da realidade. Um debate na Câmara dos Deputados em meados de 2018 frisou que manter os jovens no campo tem sido um dos maiores obstáculos para o crescimento da agricultura familiar no Brasil. O produtor está envelhecendo e não está ha- vendo reposição pelos mais jovens, pois estes não querem mais ficar no cam- po. A agricultura familiar poderá ser fortalecida pela formação de mercados alternativos focados, por exemplo, em produtos artesanais ou no turismo rural. Os seguintes problemas relatados pelos produtores são: assistência técnica in- suficiente, dificuldades na comercialização dos produtos, falta de transporte escolar, existência de estradas sem asfalto, aumento da violência no campo e falta de políticas públicas específicas para as mulheres agricultoras. Disponível em: https://bit.ly/3uokzZx . Acesso em: 05 mar. 2021. VAMOS PENSAR? 1.1 FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA AGRÁRIA A Geografia Agrária é um dos ramos da ciência que estuda as relações sociais, econômicas e ambientais do campo visando o desenvolvimento da agricultura. A Geografia Agrária brasileira tem passado por um processo de transformação no qual a tecnologia é a grande precursora das mudanças. Jovens e adolescentes estão cada vez mais envolvidos em uma cultura essencialmente urbana, há uma falta de interesse sobre a questão agrária. Torna-se imprescindível o envolvimento dos jovens e adolescentes em temas que retratam a vida no campo. Tem ocorrido a expansão do capitalismo no campo, onde quem tem maior poder aquisitivo compram as pequenas parcelas de terras dos agricultores familiares. Isso favorece a concentração de terra nas mãos de poucos e proporciona a ida de muitas pessoas para as cidades. Com isso, há cada vez menos pessoas no campo. Isso ainda causa um agravo social nas cidades, pois muitas dessas pessoas que saem do campo e vão para a cidade acabam tendo sub empregos, moradias precárias e sofrem problemas dos mais diversos. O agravo ocorre com a grande mídia televisiva sempre mostrando que o agronegócio é vantajoso, a qual até tem o slogan “Agro é tech. Agro é pop. Agro é tudo”. 11 1.2 MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS DO CAMPO PARA A CIDADE Podemos notar, na Imagem 1, um aumento expressivo da população urbana, na década de 1872 era de 9.930.478 pulando para 94.508.583 na década de 1970 e 190.755.799 nos anos de 2010. Uma considerável transformação social e mudanças de dinâmicas populacionais importantíssimas, fazendo com que as cidadesbrasileiras cresçam de maneira desordenada. Figura 1: Urbanização da década de 1872 até 2010 Fonte: Disponível em: https://bit.ly/39M2zAt. Acesso em: 05 mar. 2021. No ano de 2010, dos 190 milhões de brasileiros, apenas 29,8 milhões estão no meio rural, ou seja, apenas 15,6% da população brasileira (IBGE, 2010). Segundo dados do IBGE, 2010, entre os anos 2000 e 2010, o êxodo rural diminuiu muito, tanto em número de migrante como em termos de sua influência na urbanização. Pela baixa renda e pelo tamanho de sua população, o Nordeste é a região que tem grande potencial migratório. De maneira geral, o nordeste é a região do Brasil onde mais pessoas migram do campo para as cidades. É complexo avaliar as circunstâncias e decisões individuais para a migração de famílias do rural para o urbano, em geral, esse deslocamento ocorre em busca de oportunidades para melhorar suas condições de vida. A seca, falta de terras férteis, falta de empregos no meio rural e pressões por dívidas são fatores que auxiliam a explicar tal fenômeno. O êxodo rural no Brasil aconteceu basicamente pela industrialização do país e pela me- canização do campo. Nisso, as pessoas vão do campo para as cidades em busca boas oportunidades de trabalho. Mas muitas das vezes acabam se deparando com: segrega- ção urbana, favelização, desempregos, subempregos, acentuada desigualdade social, transportes coletivos sucateados. FIQUE ATENTO 12 1.3 TRANSFORMAÇÕES EM CURSO DA GEOGRAFIA AGRÁRIA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO As atividades agrícolas vêm sofrendo grandes alterações, a cada dia uma nova tecnologia é desenvolvida e, assim, contribui para a melhora da qualidade de vida no meio rural. A manutenção dos jovens no campo é de sua importância para a sociedade e para que esse jovem queira lá permanecer, tecnologias, atrações e incentivos devem chegar até ele. Atualmente, com o avanço da Internet no meio rural, com os equipamentos eletrônicos cada vez mais potentes, a juventude rural, está conectada diretamente com os acontecimentos na cidade. Se o campo não ofertar qualidade de vida, tecnologias, escolas de qualidade, saúde e lazer, esses jovens irão atrás de oportunidades nas grandes cidades. Com isso, continuarão inchando as periferias. O trabalho no campo é de fundamental importância para a manutenção dos alimentos nas cidades e também para a garantia dos recursos naturais ao longo do tempo, quando praticada uma agricultura com foco na sustentabilidade econômica, social e ambiental. Quando um jovem decide permanecer no campo, uma nova oportunidade se abre, com novos pensamentos, novos conceitos e uma visão diferente daquela praticada pelo seu antecessor. A manutenção desse jovem no meio rural é uma importante maneira de fomentar o desenvolvimento social e econômico do país, pois o envelhecimento da mão de obra no campo faz com que as atividades fiquem prejudicadas, naturalmente, pela falta de energia dos adultos com idades mais avançadas. A união entre a experiência daqueles que passaram por grandes dificuldades no passado para produzir alimentos, sobreviver e dar manutenção a sua família, com a juventude e vitalidade dos sucessores pode ser a chave para o desenvolvimento sustentável das atividades agrícolas. O mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Autoria de BUAINAIN, A. M. et al., 2004. Disponível em: https://bit. ly/3mo5mop. Acesso em: 06 mar. 2021. BUSQUE POR MAIS Leia o tópico Evolução da agricultura no mundo e no Brasil (página 169) do livro Geografia II: Geografia Econômica (SANTOS JÚNIOR, W.R. 2016) presen- te na biblioteca da Faculdade Única. Disponível em: https://bit.ly/3rPMPm3. Acesso em: 06 mar. 2021. 13 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Nos países industrializados, a migração campo-cidade tem como causa fundamental a: a) Carência de melhores condições sociais no campo. b) Baixa produtividade agrícola. c) Pressão demográfica no campo. d) Dificuldade de aquisição de terras. e) Substituição de mão de obra pela mecanização. 2. Nas regiões subdesenvolvidas ocorrem dois tipos de êxodo rural: I – aquele provocado pela modernização da agricultura e consequente liberação da mão de obra. II – aquele provocado pela manutenção de formas antiquadas de produção, que detêm como consequência o empobrecimento geral da população. A respeito dos dois tipos de emigração, pode-se dizer que: a) No segundo tipo predomina uma agricultura comercial especulativa que emprega numerosa mão de obra. b) No primeiro tipo há perda de população, mas a produtividade agrícola se eleva. c) Tanto o primeiro como o segundo tipo resultam de processos de inovação da agricultura. d) Só ocorre imigração rural quando as condições de vida da população atingem níveis de pobreza absoluta. e) Tanto um tipo quanto o outro são provocados pelo impacto da industrialização ao atingir a agricultura. 3. Em 2011, cerca de 52,1% da população mundial vivia em áreas urbanas, em 2030 serão 59,9% e em 2050, 67,2%. Nas áreas mais pobres, a população rural é superior a população urbana, sendo que, nas áreas mais ricas e desenvolvidas ocorre o inverso. (SILVA A. C.; OLIC N.B.; LOZANO R. Geografia contextos e redes. V. 2.São Paulo: E. Moderna p.182, 2013). De acordo com o tema em destaque e fatores relacionados ao mesmo, marque (V) para verdadeiro ou (F) para falso, e em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ( ) O Brasil como um país emergente e apresentando cidades povoadas como São Paulo e Rio de Janeiro, caminha para ser um país urbano. ( ) No Paraná é comum observarmos o fenômeno da conurbação, situação típica das regiões metropolitanas de Curitiba, Maringá e Londrina. ( ) A tendência é que as cidades mais populosas do mundo tenham como área de ocorrência os países pobres e emergentes, onde nem sempre se tem investimentos disponíveis. 14 ( ) O crescimento desordenado das cidades aumenta os problemas urbanos ligados a pouca ou a falta de infraestrutura contribuindo para piorar a vida de grande parte dos seus habitantes. ( ) O crescimento urbano sem planejamento é o principal culpado dos problemas de mobilidade urbana vivido nas grandes cidades brasileiras. as cidades médias são as melhores para se morar no século XXI por não apresentarem tal problemática. a) V- V- V- V- V. b) V- F- F- V- V. c) F- V- V- V- V. d) V- V- F- V-F. e) F- V- V- V- F. 4. O gráfico representa a relação entre o tamanho e a totalidade dos imóveis rurais no Brasil. Que característica da estrutura fundiária brasileira está evidenciada no gráfico apresentado? a) A concentração de terras nas mãos de poucos. b) A existência de poucas terras agricultáveis. c) O domínio territorial dos minifúndios. d) A primazia da agricultura familiar. e) A debilidade dos plantations modernos. 5. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estuda a criação de uma rede em torno da cadeia produtiva de alimentos no Brasil para conter o desperdício. O país é considerado um dos dez que mais desperdiçam comida em todo o mundo, com cerca de 30% da produção praticamente jogados fora na fase pós-colheita. Uma ação capaz de solucionar o problema apresentado no texto é a) A diminuição da produção de culturas. b) O melhoramento da rede de distribuição. c) O investimento no comércio externo. d) A redução do consumo interno. 15 e) Aumentar a área de plantio. 6. Leia abaixo o trecho: O processo evidenciado na canção traz como consequência para o campo, no Brasil, o(a): a) Declínio da pecuária leiteira. b) Ampliação dos créditos rurais. c) Redução das áreas de monocultura. d) Aumento da concentração de terras. e) Ampliação da agricultura familiar. 7. Na agricultura, as máquinas, os insumos e as novas técnicas de produção elevam a produtividade do trabalho, permitindo que um número cada vez menor de pessoas produzam a mesma (ou maior) quantidade de mercadorias. A utilização desses recursos tecnológicos na atividade descrita tem como uma de suasconsequências a redução do(a): a) Quantidade de empregos no campo. b) Taxa de lucratividade dos produtos. c) Mercado consumidor interno. d) Carga horária de trabalho. e) Exportação de produtos agrícolas. 8. A modernização do campo, proposta no regime militar, elevou as expectativas de vida e trabalho da sociedade brasileira. Dentre as consequências dessa modernização, é correto afirmar que houve o aumento do/de: a) Qualidade de vida. b) Salário mínimo. c) Êxodo rural. d) Distribuição de terras. e) Exportação de petróleo. “Nosso sítio era pequeno Pelas grandes fazendas cercado Precisamos vender a propriedade Para um grande criador de gado E partimos para a cidade grande A saudade partiu ao meu lado A lavoura virou colonião E acabou-se o meu reino encantado” REIS, V.; MACHADO, V. P. Meu reino encantado. São Paulo: Warner Music Brasil, 2000 (fragmento) 16 MOVIMENTOS SOCIAIS, CONFLITOS PELA TERRA E REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA 17 2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO Começo este texto com uma frase de José de Souza Martins exemplificando de maneira muito peculiar e emblemática o contexto dos escritores de obras, textos e casos à cerca do assunto. O autor exemplifica que muitas obras a respeito desse relevante tema não são escritas por quem realmente vivenciou a realidade das lutas no campo e sentiu na pele as dores da injustiça social e econômica que nascem juntamente com o Brasil desde seus primeiros dias de exploração colonial europeia, e sim por pessoas que vivem a realidade urbana, mesmo aqueles simpatizantes e defensores ferrenhos das causas camponesas. “A história brasileira, mesmo aquela cultivada por alguns setores de esquerda, é uma história urbana — uma história dos que mandam e particularmente uma história dos que participam do pacto político.” (MARTINS, 1981, p. 26) A recuperação das lutas dos camponeses ainda é um grande desafio nos dias atuais. São poucos os registros, sendo que boa parte deles se encontra dispersa e em fragmentos. A própria trajetória desses camponeses, os quais são explorados e subordinados politicamente aos grandes proprietários de terras e muitas vezes excluídos de direitos políticos e sociais essenciais, dificulta a preservação de sua memória social. A imagem que se tem hoje em dia dos trabalhadores rurais é uma versão construída pelos vencedores deste processo histórico. Desse modo, por longos períodos, somos levados a pensar os camponeses como sendo passíveis, submissos e incapazes de formular seus próprios interesses e de lutar por eles. Ainda assim, algumas revoltas contra determinados acontecimentos que prejudicavam suas condições de existência ou mesmo suas lutas em busca de melhores condições de vida e trabalho digno foram registrados ao longo de nossa história. No período compreendido entre 1945 a 1964, surgiram diversos conflitos no campo e com isso se procurou, pela primeira vez, dar-lhes uma articulação maior, através de bandeiras de luta comuns. Nesse período, a sociedade brasileira viveu seu primeiro ensaio democrático, embora marcado por restrições à liberdade de organização partidária, pela presença de um sindicalismo vinculado ao Estado, por sucessivas crises políticas e principalmente pela negação aos trabalhadores do campo do direito de organização e de direitos sociais já há algum tempo conquistados pelos trabalhadores urbanos. Nessa época, o país estava vivendo uma grande industrialização e, portanto, foram colocados A questão da má distribuição da terra é motivadora de questões de conflito no campo. Por não haver uma reforma agrária realmente efetiva, muitas famílias prejudicadas no processo resolvem se unir a movimentos de reivindicações por terras. Nesta unidade serão trabalhados os movimentos sociais no Brasil, alguns conflitos marcantes e históricos pela terra no Brasil e algumas revoluções no campo na América Latina. Os confrontos pela terra são inesgotáveis e denotam um despreparo das políticas públicas, governos e judiciário nessa temática. Vários países do mundo fizeram suas reformas agrárias há muito tempo, porém no Brasil esse assunto se arrasta por décadas, ao passo que indica muito mais medidas para beneficiar alguns interesses do que realmente uma política séria de distribuição mais justa das terras, com a finalidade de diminuir a desigualdade social no país e estabelecer condições de vida mais dignas para famílias sem-terra. 18 em discussão, por diferentes forças sociais, projetos de desenvolvimento para o país, onde tinha lugar de destaque o debate sobre o lugar de uma agricultura considerada atrasada e pouco capaz de responder às necessidades que a indústria colocava. É nesse quadro que as lutas emergiram, politizando determinadas bandeiras e impondo a necessidade do reconhecimento político dos trabalhadores do campo (MEDEIROS, 1989). Ainda de acordo com Medeiros (1989), várias organizações apareceram com várias reivindicações e conquistaram alguns direitos trabalhistas e colocou-se a questão da reforma agrária na ordem do dia. Estes movimentos tiveram como objetivo a extensão dos direitos trabalhistas conquistados na cidade para o campo, cuja vitória foi alcançada no ano de 1963 com o Estatuto do Trabalhador Rural. Esse período, de grande efervescência social e política, encerrou-se com o golpe militar de 1964. O golpe militar de 1964 é um marco importante na luta pela terra, muitos movimentos sociais no campo haviam tomado força nos anos que antecederam o golpe. Com a tomada do poder pelos militares, esses movimentos são fortemente coibidos e combatidos, tornando a luta ainda mais difícil e desigual. A partir dos anos de 1970-80, há o ressurgimento dos novos movimentos sociais. Entre os movimentos que surgiram neste período, muitos ainda estão atuantes até hoje, e o que mais se destaca é o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Estes movimentos sociais passaram também a acontecer nas cidades, o que demonstrava o final dos tempos de repressão e uma maior articulação entre os movimentos rurais e urbanos em defesa da luta pelos direitos dos trabalhadores. As organizações sociais retomaram pelas grandes transformações que ocorreram na forma e nas relações de produção. No campo, consolidou-se uma agricultura moderna, a qual foi responsável pela integração do setor rural na economia internacional. Nisso, os movimentos sociais camponeses contestaram fortemente o processo de modernização da agricultura, bem como sugeriram diferentes práticas e ações agrícolas, um novo modelo de produção, que os tirassem da marginalidade e possibilitasse sua permanência no campo e reconhecimento social (MARTINS, 2020). A Constituição Federal de 1988 trouxe muitos benefícios políticos e sociais para os brasileiros. Porém, muitos desses benefícios ainda permaneciam no papel e seria necessária uma luta incansável para assegurar tais direitos políticos e sociais na prática das pessoas que historicamente foram excluídas. Com isto, aumenta-se as reivindicações dos trabalhadores rurais querendo mais do que a terra, salário e moradias, mas também exigindo educação, saúde, lazer e cultura. O texto Movimentos Sociais no Campo, escrito por Cecilia Maria Pereira Martins, pode ser consultado em: https://bit.ly/3sPoEpj. Acesso em 21 de dez. de 2020. BUSQUE POR MAIS Leia o tópico Movimentos Sociais no Campo (páginas 209 a 224) do livro Geogra- fia Agrária (BERTOLLO, M. et al. 2020) presente na biblioteca da Faculdade Única. Disponível em: https://bit.ly/3wxVa1h. Acesso em 21 de dez. de 2020. 19 No Brasil, os movimentos camponeses se formaram por meio de duas frentes principais, sendo elas: as Ligas Camponesas, entre as décadas de 1940 e 1960, e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), criado na década de 1980. Tais movimentos foram fortemente afrontados durante o período militar, porém voltaram-se durante o processo de redemocratização, voltando às lutas camponesas e reivindicando uma reforma agrária para todo o território brasileiro.Dessa forma, no ano 1984, em Cascavel, no Paraná, diversos camponeses e trabalhadores rurais se uniram e deram início ao MST. Então, a partir da década de 1980, muitos outros movimentos se estabeleceram no campo e lutaram em prol da reforma agrária e pelos direitos da população camponesa. Dentre os mais notáveis, pode-se citar: o Movimento das Mulheres Camponesas, o Movimento Camponês Popular e o Movimento dos Pequenos Agricultores. Também tiveram os movimentos pautados na religião, tais como a Caritas Brasileira, o Conselho Indigenista Missionário e a Comissão Pastoral da Terra. Tiveram também os movimentos com viés de trabalho e sindicalismo rural, a exemplo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura e da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil. O Movimento dos Atingidos por Barragens e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil também estão na luta reivindicando seus direitos. Atualmente, o principal movimento social relacionado às questões agrárias é o MST, representado em todas as regiões brasileiras e com importantes exemplos de atuação no campo, como podemos citar o arroz Terra Livre, no quadro abaixo: “O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) faz o contraponto ao investir na agroecologia e colocar o país na posição de um dos maiores produtores de arroz orgânico. Conquista é fruto do trabalho das famílias assentadas, que estimam colher este ano mais de 300 mil sacas do alimento”. De acordo com Celso Alves, coordenador do Setor de Grãos da Cootap, na safra 2019/2020, os camponeses estimam colher 312 mil sacas de arroz orgâ- nico em 3.215 hectares. A produção é de 364 famílias, de 14 assentamentos, situadas em 11 municípios gaúchos. O alimento é produzido nas regiões Sul, Centro-Sul, Metropolitana e Fronteira Oeste. VAMOS PENSAR? 20 Figura 2: Trabalhador Rural Sem-Terra em atividade de colheita da cultura do arroz. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3fMeiTy. Acesso em: 05 mar. 2021. Você já ouviu falar na Marcha das Margaridas, muitas vezes noticiada em pe- riódicos da mídia nacional? É uma manifestação realizada desde 2000 por mulheres trabalhadoras rurais do Brasil. A ação acontece sempre no dia 12 de agosto (para lembrar a morte da trabalhadora rural e líder sindicalista Margari- da Maria Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983, quando lutava pelos direi- tos dos trabalhadores na Paraíba). É organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e acontece sempre em Brasília-DF. Em 2000, aconteceu a primeira edição, reunindo cerca de 20 mil agricultoras, quilombolas, indígenas, pescadoras e extrativistas de todo o Brasil. Mais infor- mações podem ser consultadas em: https://bit.ly/3fM0dp5 . Acesso em 05 mar. 2021. FIQUE ATENTO Figura 3: Frente da primeira Marcha das Margaridas, em 2000 Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3cVNf6u . Acesso em 17 mar. 2021. 21 2.2 CONFLITOS MARCANTES PELA TERRA NO BRASIL No dia 17 de abril de 1996, aconteceu o Massacre de Eldorado dos Carajás, onde foram assassinados 21 trabalhadores rurais. Nas Figuras 3 e 4, podem-se observar o tamanho do ocorrido. Alguns meses antes deste triste e violento massacre, aproximadamente 3.500 famílias prepararam seus acampamentos às margens da Rodovia PA-150, na cidade de Eldorado dos Carajás, sudeste do estado Pará. Nas proximidades da Fazenda Macaxeira, os trabalhadores demandavam aquelas terras, as quais eram consideradas como improdutivas pelos fazendeiros. Depois desse massacre, o dia 17 de abril passou a ser considerado o Dia Mundial da Luta pela Terra e ocorreu a desapropriação da fazenda Macaxeira, a qual se tornou o assentamento 17 de Abril. Hoje, o palco deste massacre passou a ser sagrado pelo movimento dos trabalhadores. Figura 4: Velório das vítimas do Massacre de Eldorado dos Carajás em 1996 Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3mp6gkK . Acesso em: 10 mar. 2021. Figura 5: Notícia vinculada ao jornal do Brasil referente ao Massacre de Eldorado de Carajás. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3ukP8iK. Acesso em: 10 mar. 2021. Na madrugada do dia 9 de agosto de 1995, ocorreu o massacre dos camponeses em Corumbiara, no estado de Rondônia. Conforme Mesquita (2002), centenas de famílias de camponeses ocuparam uma pequena parcela da fazenda Santa Elina no município de Corumbiara. Os camponeses, durante 25 dias, permaneceram esperançosos com a 22 terra prometida, porém, repentinamente, se depararam com uma violência descomunal, onde homens foram assassinados a sangue frio, mulheres foram usadas como escudos humanos por policiais e por jagunços; pessoas foram torturadas por muitas horas e o acampamento foi destruído e incendiado. Segundo a CPT (2000), foram constatados pela perícia execuções entre os mortos e de espancamento entre as pessoas que conseguiram sobreviver. Narrativas dos camponeses mostram que as pessoas foram arrastadas, pisoteadas e torturadas, além de receberem tiros na orelha e em outras partes do corpo, até mesmo as pessoas que apresentavam necessidades especiais. Até o final da década foram intensas as mobilizações pelo julgamento e para que o massacre de Corumbiara não fosse esquecido. No dia 12 de fevereiro de 2005, foi assassinada a Irmã Dorothy Stang, da Comis- são Pastoral da Terra (CPT), em Anapu, na Prelazia do Xingu, no Pará. Missionária estadunidense, da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, naturali- zada brasileira, foi pioneira da Pastoral da Terra nos anos 1970, dedicada de cor- po e alma aos camponeses na luta por um modo de vida em convivência com o bioma amazônico. Por isso foi morta, por contrariar poderosos interesses na devastação da floresta e expulsão de suas gentes tradicionais. Mais informações podem ser obtidas em: https://bit.ly/3fNbMfQ . Acesso em: 11 mar. 2021. VAMOS PENSAR? Figura 6: Missionária Irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005 Fonte: Disponível em: https://bit.ly/2PVGxnQ . Acesso em: 11 mar. 2020. 2.3 REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA A história da América Latina e Caribe, arrasada através do memoricídio, genocídio e etnocídio, tomada pelos colonizadores e mais tarde construída em muitas fases de exploração e espoliação, nos nega uma aproximação real à complexidade presente ao longo do processo histórico (BAEZ, 2010). Nesse item da unidade, iremos abordar, basicamente, a Revolução Mexicana e a Revolução Cubana, ambas não são totalmente camponesas, mas utilizam de seu apoio para serem levadas adiante. Em 1910, o México era comandado politicamente por Porfírio Díaz, que instituiu uma ditadura militar entre os anos 1876 e 1880 e também 1884 a 1911, ficando, portanto, por mais de 30 anos no poder. A Revolução Mexicana ocorreu no ano de 1910, iniciada no sul do México e liderada pelo Exército Libertador do Sul contra os latifundiários que 23 monopolizavam as terras e os recursos hídricos para produção da cana-de-açúcar. Foi liderada por Emiliano Zapata e Pancho Villa, líderes revolucionários mexicanos e até hoje considerados heróis para muitas pessoas do México. O zapatismo chamou muita atenção e despertou solidariedade dos operários, dos grupos revolucionários, dos sindicalistas, dos anarcosindicalistas e dos socialistas, que inclusive viviam fora das fronteiras do México. A Revolução Mexicana venceu a hegemonia da oligarquia, sucedendo-a por uma burguesia agrária, proporcionando mudanças relevantes na economia, na política, na diplomacia, nos campos social e cultural e nas relações entre Estado e Igreja. Dessa maneira, o alcance da Revolução Mexicana ultrapassou, de longe, as suas fronteiras físicas. Emiliano Zapata: 101 anos do cruel assassinato de um dos mais importantes he- róis mexicanos. Foi uma das figuras mais marcantes e centrais do processo re- volucionário pelo qual seu país passou, em 1910. Disponível em: https://bit.ly/3rW- m7IF. Acesso em:11 mar. 2021. BUSQUE POR MAIS Figura 7: Emiliano Zapata vestindo seu traje típico Fonte: Disponívelem: https://bit.ly/2Ram6nQ . Acesso em: 11 mar. 2021. O significado da Revolução Cubana para a América Latina tem sido avaliado das mais diferentes formas. É evidente que o impacto da revolução incidiu de maneira mais direta nos segmentos sociais de esquerda, sobretudo entre os comunistas. Entretanto, o fato do exemplo de Cuba ter adquirido grande notabilidade no interior dos círculos marxistas latino-americanos não implica em dizer que foi apenas nesses meios de esquerda que incorreram os desdobramentos do processo revolucionário cubano 24 (FERREIRA, 2009). A Revolução Cubana, ocorrida em 1959, foi um movimento guerrilheiro que derrubou o governo ditatorial de Batista. Implementou em Cuba o regime socialista e vinculou a ilha caribenha, política e economicamente, à União Soviética. Fidel Castro estava no México quando organizou um grupo de guerrilheiros com o apoio de revolucionários como: Ernesto “Che” Guevara, Camilo Cienfuegos e do seu irmão Raul Castro. A Revolução Cubana modificou o cenário agrário de Cuba, 150 mil famílias tornaram-se proprietárias com a reforma agrária proclamada por Fidel em 17 de maio de 1959. Por meio modelo socialista cubado, diversas intervenções foram feitas no âmbito da saúde e da educação do país, as quais são consideradas referências hoje em dia. Mas o modelo cubano também sofre muitas críticas pela falta de liberdade de expressão e pelas condições de pobreza que muitos cubanos estão submetidos. Pronunciamento de Fidel Castro em 1962: “Não pretendemos que A História me absolverá seja uma obra clássica do marxismo. Ela é expressão de um pensamento avançado, de um pensamento revolucionário ainda em evolução. Não é manifestação de um marxista, mas de um jovem que se encaminha para o marxismo e começa a atuar como marxista. Mais do que o valor teórico, tanto do ponto de vista econômico como político, seu valor permanente reside na denúncia viva de todos os horrores e crimes da tirania, em ter posto a nu o regime de Batista, cruel e covarde, tirâ- nico e assassino” (CASTRO, 1986). VAMOS PENSAR? 25 FIXANDO O CONTEÚDO 1. “Trabalhadores rurais ligados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e à Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (Fetraf) fazem uma manifestação na Esplanada dos Ministérios desde as 9h30 desta quarta-feira (20). Eles reivindicam a implementação da reforma agrária e de melhorias no campo. (…) O secretário de formação e organização social da Contag, Jurassi Souto, afirmou que os trabalhadores rurais lutam também pela segurança no trabalho, pela geração de emprego no campo e a fiscalização nas empresas. "A reforma agrária no Brasil é fundamental para a geração de empregos e na venda e produção de alimentos", disse. "Precisamos avançar e não retroceder." G1 – Distrito Federal, 20 mai. 2015. Adaptado O argumento em favor da reforma agrária associa a sua implementação ao aumento da produção de alimentos por intermédio: a) Da ocupação de latifúndios não produtivos. b) Do controle do Estado sobre a produção agrícola. c) Da redução da produção para o mercado externo. d) Da obrigatoriedade em produzir grãos em terras doadas. e) Do combate ao desperdício em propriedades rurais. 2. Sabemos que a Reforma Agrária no Brasil tem sido alvo de grandes manifestações a favor de agricultores desprovidos de terras para plantar. Entre essas manifestações, muitas delas são promovidas por movimentos que se agrupam para reivindicar terras ao Governo. Assinale a alternativa abaixo que indica um movimento criado com o propósito de reivindicar terras para agricultores que não tem onde plantar. a) Movimento dos Sem Teto. b) Movimento dos Sem Terras. c) Movimento dos Sem Emprego. d) Movimento de Libertação dos Sem Terras. e) Movimento dos Agricultores Aposentados. 3. Sobre concentração fundiária, reforma agrária e lutas sociais no campo brasileiro, analise as assertivas abaixo: I. Os camponeses se organizam como uma forma de resposta à expansão capitalista sobre o seu território. II. Os sem-terra surgem como um novo sujeito social e organizado. III. A luta pela terra desemboca na ocupação de minifúndios. IV. A emergência dos conflitos no campo brasileiro indica que os camponeses não estão inseridos nas políticas governamentais. 26 V. A luta pela terra e a criação de assentamentos de sem-terra interferem na organização espacial e na reconfiguração regional. Quais estão corretas? a) Apenas I e II. b) Apenas IV e V. c) Apenas I, II e V. d) Apenas II, III, IV e V. e) I, II, III, IV e V. 4. Acerca do Movimento dos Sem-Terra (MST) e da Reforma Agrária no Brasil, é CORRETO afirmar que a) O MST não recebe o apoio da Igreja e da Pastoral da Terra por invadir e destruir laboratórios de pesquisa de empresas reflorestadoras e áreas produtivas. b) Organismos de países capitalistas avançados se opõem ao financiamento das marchas do MST em função dos interesses ligados ao Fundo Monetário Internacional. c) A imprensa e a mídia brasileira em geral não divulgam as invasões, confrontos e mortes ligados à luta pela terra, temendo alarmar o público. d) A Constituição de 1988 estabeleceu ser obrigação do governo realizar a reforma agrária e, diante da inoperância governamental, o MST articulou ações de ocupação de terras. e) De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, cabe à população realizar a reforma agrária 5. Visualize com atenção a imagem do chargista Latuff e analise as proposições. Disponível em: https://bit.ly/3dCEFIN. Acesso em: 16 dez. 2020. I. A igualdade de forças entre os dois personagens da imagem está bem demarcada pela enxada na mão da mulher e a arma de fogo apontada pelo jagunço. II. A presença da balança na mão do atirador representa de que lado a justiça pende diante dos confrontos entre latifundiários e movimentos sociais de luta pela terra. III. A presença feminina, na charge, faz jus à histórica participação das mulheres nos movimentos sociais de ocupação pela terra. IV. A justiça está representada com uma venda no olho, indicando sua imparcialidade diante dos problemas de disputas de terra no Brasil; ela atua sempre do lado da legalidade, nesse caso, a favor da concentração de riqueza e de propriedade nas mãos 27 de uns poucos. V. O chapéu representando o latifúndio simboliza os movimentos sociais que incluíram a questão da terra como pauta de luta. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. b) Todas as afirmativas são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras. e) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. 6. (ESA) Quanto aos trabalhadores do campo, os posseiros são ocupantes de terras a) Devolutas ou propriedades inexploradas. b) De outros mediante o pagamento de uma renda em dinheiro. c) De outros mediante o pagamento de uma renda em produto. d) Das quais são proprietários formais. e) Pertencentes ao Governo Federal e que são exploradas mediante contratos com o Ministério da Agricultura. 7. (UFRB-2014) Os movimentos sociais se manifestaram/manifestam em diversos espaços e escalas, seja no campo ou na cidade, seja nos pequenos grupos locais ou nas grandes articulações sociais. Os movimentos sociais, enquanto sujeitos políticos coletivos, buscam nas suas atuais formas de atuação: a) Agir como forma de resistência à exclusão historicamente imposta, buscando em suas lutas a inclusão social em sua diversidade e a construção de outro projeto de sociedade. b) Colaborar com o sistema capitalista, defendendo a construção de projeto políticos excludentes e concentradores. c) Agir de forma individualista, em prol dos interesses de particulares. d) Contribuir para a degradação do meio ambiente, com atividades e ações consideradas não sustentáveis. e) No caso dos movimentos sociais do campo, estes têm agido como forma de aumentar a invisibilidade histórica que lhes negou o acesso à terra, a educação,a saúde, os meios de trabalho etc. 8. (UFRB -2014) A Educação do Campo nasceu no âmbito da luta dos movimentos sociais pela terra e pela Reforma Agrária. Trata-se de uma política de campo e de educação na qual as escolas, além de situadas no campo, possam se constituir enquanto projetos pensados, construídos e executados pelos camponeses. A luta pela Educação do Campo configura a luta desses movimentos sociais pelos territórios materiais e imateriais, ao qual foram historicamente excluídos. São caracterizadas enquanto ações da Educação do Campo: a) Desvalorização da cultura camponesa. b) Escolas criadas seguindo os padrões urbanos, com currículos e atividades voltadas à 28 vida na cidade. c) A construção de projetos políticos pedagógicos coerentes com a realidade das discussões realizadas e necessárias ao campo. d) Incentivo ao fechamento das escolas do campo e deslocamento dos camponeses às escolas situadas na cidade. e) Desenvolvimento de uma formação escolar voltada à formação de mão de obra para o agronegócio. 29 EOGRAFIA AGRÁRIA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS 30 O estuda da geografia não está limitado ao estudo do espaço entendido como o local de atuação da sociedade, mas também possui conotação temporal, que imprime uma configuração diferenciada, no decorrer do tempo, a cada evento geográfico, seja ele um rio, uma fábrica, uma propriedade agrícola, uma cidade. Entender e caracterizar os eventos geográficos também variou no tempo e as mudanças nas formas de interpretar o espaço e as distribuições espaciais determinaram conjuntos de procedimentos e de temáticas distintos (FERREIRA, 2001). Dessa forma, a geografia agrária possui uma história muito característica, como: entender a superfície terrestre e identificar as formas de sua exploração (cultivos, técnicas, tecnologias, etc.) surge como a primeira forma de explorar a agricultura. Conceituada como uma atividade econômica que é praticada pelo homem e que tem o intuito de produzir alimentos e matéria-prima. Da mesma forma que o extrativismo vegetal e a pesca, a agricultura é tema muito longevo e comum da geografia. Existem muitas polêmicas quando o assunto é concentração de terras no Brasil, reforma agrária brasileira, desigualdades sociais no campo, conflitos agrários, movimentos sociais no campo, etc. Quando trabalhados na educação básica, costumam gerar discussões mais acirradas, julgamentos com apropriação de causa, críticas embasadas e também sem embasamento. Isso causa afrontas e deve ser trabalhado com cautela e empatia. Como futuro(a) professor(a), você poderá ser alvo de crítica e julgamentos ao tratar de temas como esses, visto que estarás na linha de frente na construção do conhecimento e de argumentos à cerca destes assuntos. Alunos, responsáveis pelos alunos e colegas de trabalho, munidos de informações infundadas como as que podem ser veiculadas em jornais, revistas, sites com algum viés político de uma ou outra corrente ideológica, podem dificultar a abordagem em sala de aula, visto que algumas mensagens de ordem não científica ou até mesmo com veracidade duvidosa podem tornar a discussão argumentativa entre os alunos em uma troca de farpas de viés ideológico e com pouca abordagem com base em fatos histórico, dados e ciência. Porém, o debate, mesmo que difícil, deve ser conduzido da melhor forma possível, buscando informações a respeito da história brasileira, impactos sociais de uma ou outra tomada de decisão, desigualdades sociais e econômicas, buscando a construção do conhecimento coletivo, com argumentações variadas, respeitando as opiniões e os posicionamentos individuais. A problemática de divisão de terras no Brasil é histórica, perturbada e marcada por infinitos conflitos no âmbito político, social, ambiental e jurídico, inclusive com inúmeros crimes e assassinatos. A conquista, disputa e luta pela terra evidencia um cenário de terror, despreparo e denota falta de tomada de decisões históricas à cerca do assunto no território brasileiro. Não é exagerado dizer que o país apresenta uma das mais injustas estruturas fundiárias do mundo. Áreas de grandes extensões estão nas mãos de poucas pessoas, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. 3.1 CONCENTRAÇÃO DE TERRAS NO BRASIL 31 Sobre a concentração de Terras no Brasil, ver o texto: ALMEIDA, A. C.S.; SERRA, E. Concentração de terras no brasil – um olhar acadê- mico sobre o processo. Universidade Federal de Uberlândia. 2012 Para mais infor- mações leia o texto em: https://bit.ly/3sVVqoS . Acesso em 16 fev. de 2021. BUSQUE POR MAIS Em resumo, a grande quantidade de terras e os objetivos da colonização definiram a forma de adaptação de uma legislação feita para a metrópole para ser aplicada à colônia e levaram ao estabelecimento de grandes unidades produtivas e grandes latifúndios improdutivos na forma de posses ou sesmarias. Mesmo com uma cláusula explícita de cultivo, proporcionar à administração colonial os poderes de retomar as terras incultas apropriadas, a parte da legislação que coibia o latifúndio improdutivo nunca foi cumprida. Ainda que possuindo suas origens no sistema sesmarial, seria injusto responsabilizar a ele a causa da persistência do latifúndio improdutivo em épocas subsequentes. Ao finalizar aquele período, somente uma parcela pequena do território nacional estava apropriada e restavam grandes quantidades de terras devolutas (SILVA, 1997). A Lei de Sesmarias previa a atribuição de terras incultas (seja por terem sido abandona- das, seja por nunca terem sido cultivadas) a determinada pessoa, que adquiria o encargo de aproveitá-las dentro do prazo fixado pela lei ou pela carta de adjudicação (VARELA, p. 24). Quem era agraciado com uma sesmaria adquiria um direito perpétuo, mas disponível (o sesmeiro podia celebrar contratos agrários e relações jurídicas reais diversas), sendo que as rendas sobre a terra dada variavam. Direito, aqui, deve ser lido não como direito subjetivo, noção eminentemente contemporânea, mas como privilégio, graça concedida pelo rei à espera de retribuições (VARELA, p. 26). FIQUE ATENTO A ausência de uma legislação que normalizasse o acesso à terra durante o tempo que decorreu até 1850 e a continuidade do padrão de exploração colonial (agricultura predatória e trabalho escravo) resultou na frutificação, sem qualquer controle, do apossamento e multiplicaram-se os latifúndios improdutivos. Em 1850 surgiu a Lei de Terras, após muitos anos sem nenhuma legislação de acesso à terra. Foi estabelecido com a lei que a aquisição de terras no Brasil seria possível somente por intermédio da compra. Importante ressaltar que essa lei foi elaborada pelos grandes latifundiários da época com o objetivo de dificultar o acesso às terras pelos negros e pelos imigrantes. Esse fato refletiu não somente no período em questão, mas em todo o contexto atual do Brasil. Em resumo, a apropriação da terra no Brasil, parte integrante do processo de formação do território brasileiro, teve como fato marcante a delimitação das capitanias hereditárias e a demarcação de sesmarias, das quais, mais tarde, formaram-se os latifúndios. 32 3.2 REFORMA AGRÁRIA BRASILEIRA O Brasil é um país cuja história é marcada pela desigualdade na distribuição de recursos produtivos. Os altos índices de concentração de terras refletem a estrutura agrária criada pela Corte portuguesa e a orientação das políticas dos governos brasileiros, que optaram pela modernização conservadora da agricultura ao invés de realizar um amplo programa de reestruturação fundiária como estratégia de desenvolvimento rural (NEUMANN; DALBIANCO, 2012). De acordo com o Estatuto da Terra, a Reforma Agrária é o conjunto de medidas conduzidas pelo Poder Público com o intuito de propiciar a distribuição de terras entre trabalhadores rurais por meio de alterações no regime de posse e uso, atendendo aos princípios de justiça social e aumento da produtividade, conforme preconizaa Lei nº 4.504/64. O governo de Castelo Branco criou, em 1970, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ligado ao Ministério da Agricultura. Um dos objetivos buscados com a criação do Incra foi o de estimular a consolidação de unidades de produção por meio da organização social e econômicas das comunidades. Com essas medidas, o governo pretendia integrar as populações marginalizadas ao processo de desenvolvimento em curso, utilizando nesse processo da assistência técnica e extensão rural. Para Pimentel (2007), embora fossem criadas instituições de apoio à reforma agrária e estabelecidas orientações normativas para sua atuação, o serviço de assistência técnica preconizado para os assentados durante os governos militares não saiu do papel, tendo ficado restrito a ações pontuais, muitas vezes desarticuladas e executadas pelas entidades locais ou regionais. Na década de 1980, com o fortalecimento da organização popular e com a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), voltaram às pautas as reivindicações de políticas públicas destinadas a atender os agricultores(as) sem-terra e os assentados que já viviam em assentamentos da reforma agrária, embora não tenha sido realizada uma reforma agrária de fato (NEUMANN; DALBIANCO, 2012). No ano de 1985, no auge da abertura democrática do país, foi substituído o presidente da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e as novas orientações propostas pareciam contemplar as reivindicações dos sem- terra e assentados. Porém, essa proposta de mudança de orientação das políticas governamentais de assistência técnica e extensão rural tiveram poucas repercussões. A partir das crises econômicas e políticas do governo Sarney e da extinção da Embrater em 1990, pelo governo de Fernando Collor de Mello, a responsabilidade pela oferta dos serviços de assistência técnica e extensão rural aos agricultores foram repassadas aos governos estaduais e municipais e às empresas privadas. Embora na Constituição Federal de 1988 tenha a determinação da função social da pro- priedade, tem-se, em outro lado, a adoção de medidas de rigidez por parte do Estado, bem como as alianças com a burguesia agrária, com vistas ao avanço do agronegócio para atender à lógica do capital. Considerando que os processos são históricos e transitórios, FIQUE ATENTO 33 torna-se, desse modo, importante elevar o nível de organização coletiva e de consciência da classe trabalhadora. Por isso, acredita-se que as ações coletivas/ocupações são funda- mentais para impedir mais retrocessos. Segundo Delgado (2010), há uma orquestração nacional em defesa do modelo primário- -exportador. Contra esta visão, tudo é colocado como atraso. Mas o atraso é justamente esse modelo, essa aliança do grande capital com os grandes latifúndios. O atraso é priori- zá-lo em detrimento do crescimento industrial, do setor de serviços, da agricultura susten- tável, da participação familiar. Sendo assim, a atuação estatal tem se mantido a favor das exigências dos organismos internacionais e do mercado financeiro, com ênfase em ações para os povos campesinos que não levam em conta a redistribuição e desapropriação de terras pelo Estado. Figura 8: Charge ilustrativa da concentração de terras no Brasil e ausente de Reforma Agrária. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3mnTsuU Acesso em: 17 dez. 2020. A luta pela reforma agrária é de grande relevância para a soberania alimentar e para o acesso ao trabalho, da mesma forma que tem o propósito de estender a agricultura familiar, com desígnios à efetivação de serviços e direitos sociais ao povo do camponês (SPERB, 2017). 3.3 MOVIMENTOS SOCIAIS CAMPONESES EM MINAS GERAIS A redemocratização brasileira no ano de 1945 foi acompanhada por referências mais organizadas, na imprensa, a lutas no campo e com o início de uma organização dos camponeses. Tem-se dificuldades em certificar se é nesse processo que as lutas perduraram ou se em consequência de uma conjuntura política mais favorável que elas tornaram-se mais populares e, então, aumentaram suas possibilidades. A realidade é que no meio da década dos anos 40 apareceram algumas entidades de representação camponesa nos estados: Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (MEDEIROS, 1989). Por meio de esforços contrários aos aumentos das taxas de arrendamento que nasceram as primeiras ligas camponesas no estado de Goiás e também no Triângulo Mineiro. O primeiro confronto mais sério relacionado a essas questões que se tem notícias aconteceu na década de 1950, na cidade de Orizona, estado goiano. Resguardados de 34 dispositivo da Constituição do Estado que determinava o limite da taxa de arrendamento em 20%, os trabalhadores rejeitaram-se a pagar os 50% até então estabelecido pelos donos das propriedades rurais e acabaram saindo vitoriosos. No ano sequente, os proprietários das terras se organizaram e, no período de plantar, recusaram em dar trabalho aos que teriam participado do movimento. Ainda nos anos de 1950, foi verificada uma luta com características parecidas em Canápolis (MG), na fazenda do Frigorífico Anglo. Logo após, foi a vez da fazenda Gariroba, em Américo de Campos, São Paulo, envolvendo 400 famílias de arrendatários. Nessas ocasiões, as lutas contrárias à expulsão se tornaram lutas pela posse da terra. Porém, o que todas têm em comum é que houveram intensas repressões. Se o Congresso de Belo Horizonte é considerado um divisor de águas entre as correntes que disputavam a hegemonia da condução das lutas dos trabalhadores rurais, ele guarda outros significados também. Antes de mais nada, ele marcou como nenhum outro evento o reconhecimento social e político da categoria “camponês”, sintetizando um conjunto de forças heterogêneas que lutavam no campo. A presença no encontro de personalidades como o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, do primeiro- ministro, Tancredo Neves e do próprio presidente da República, João Goulart, foi destaque em toda a imprensa, sendo portanto um fato político relevante e um termômetro da gravidade que a questão agrária assumia. A representatividade das delegações, a diversidade de situações representadas, o caráter das reivindicações levantadas e o clima do encontro indicavam que não era mais possível tratar a questão agrária com medidas locais, seja de caráter repressivo, seja através de soluções parciais negociadas. Realizar transformações profundas na estrutura agrária aparecia como uma questão essencial do desenvolvimento nacional. Por outro lado, ele deu um novo impulso às lutas no meio rural (MEDEIROS, 1989). Se houve um fortalecimento das organizações dos trabalhadores, o período também assistiu a uma revitalização das entidades representativas dos interesses dos proprietários de terra. Multiplicaram-se as associações de nível municipal, as federações estaduais e já no início dos anos 50 surgiu a Confederação Rural Brasileira. Essas agremiações, longe de ter um papel decorativo, constituíram-se, pelo menos em alguns estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, em pólos de debate e de geração de propostas para a agricultura, procurando contestar a imagem de atraso que era atribuída a seus associados. O CONGRESSO CAMPONES DE BELO HORIZONTE A década de 1960 se abriu no Brasil com uma crise econômica, política e social de grande envergadura, onde as lutas no campo tiveram um papel significativo na medida em que aqueceram a bandeira das reformas e transformaram a reforma agrária numa canden- te questão nacional. Em novembro de 1961, ainda sob o peso da crise política institucional gerada com a renúncia do presidente Jânio Quadros, realizou-se um congresso campo- nês em Belo Horizonte, convocado pela União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB), mas que contou com a participação de outras forças políticas que atuavam no campo, como era o caso das Ligas Camponesas e do Movimento dos Agri- cultoresSem Terra (Master), recém constituídas no Rio Grande do Sul. FIQUE ATENTO 35 Participaram um total de 1.600 delegados, de diversos pontos do país, para discutir os seguintes temas propostos pela entidade que organizou o encontro: soluções para o problema da propriedade e do uso da terra no Brasil; medidas imediatas e parciais de reforma agrária; formas de arrendamento e parceria; direitos dos pequenos e médios proprietários rurais; ajuda aos cultivadores agrícolas, assalariados e semi-assalariados rurais; organização das massas trabalhadoras do campo; e reivindicações democráticas e sociais. No geral, os estudos sobre os movimentos camponeses nos anos 50/60 conside- ram o Congresso de Belo Horizonte como um marco das lutas, ressaltando dois aspectos principais: a proposta de reforma agrária radical, “na lei ou na marra”, e as divergências entre Francisco Julião e o Partido Comunista Brasileiro, em torno da validade da luta por medidas parciais de reforma agrária. Figura 9: Capa do Jornal Novos Rumos noticiando em destaque o Congresso de Belo Horizonte, ano de 1961. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3sYySUg. Acesso em: 17 mar. 2021. Já em 1980 surgiram outras experiências de greves, mais localizadas, como foi o caso dos apanhadores de café da Bahia e dos canavieiros de Passos, em Minas Gerais. Mas foi nas áreas de cana do Nordeste que se concentraram os esforços no sentido de aplicar o modelo que se constituía em Pernambuco. Em outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, a movimentação dos trabalhadores ultrapassou os passos legais e, em algumas situações, adiantou-se aos próprios sindicatos. No interior do sindicalismo criavam-se, assim, novos fatos políticos, que levavam ao questionamento de um modelo que muitos viam como ritualizador e burocratizador das greves. Com eles, surgiram padrões distintos de ação sindical que, mais do que uma adaptação local de um modelo geral, constituíram-se em uma nova concepção sobre o que significava a luta sindical. A partir de agora iremos trabalhar alguns dados sobre os movimentos socioterritoriais 36 no estado de Minas Gerais. Vamos entender por movimentos socioterritoriais, aqueles movimentos produtores e construtores de espaços e transformadores de espaços em territórios (FERNANDES, 2005). Na Tabela 2, podemos observar, em ordem crescente, os movimentos sociais mais atuantes no período de 2000 a 2007 no estado de Minas Gerais, totalizando 319 ocupações com mais de 36 mil famílias envolvidas em 164 municípios. O movimento mais atuante foi o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com 172 ocupações, equivalendo a 54% do total de ocupações, seguido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), com 64 ocupações, e o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), com 21 ocupações. Figura 10: Movimentos socioterritoriais mais atuantes em Minas Gerais por número de ocupações entre 2000 e 2007. Fonte: GONZAGA (2009). Os dois movimentos com mais ocupações de terras, o MST e a CONTAG, possuíram atuações concentradas em mais de três mesorregiões mineiras, demonstrando a força quanto a sua representatividade e potencial de mobilização (Figura 9). Podemos observar que a região sul de Minas Gerais apresenta menores números de ocupações, ao passo que a região norte e noroeste apresentam maior número de ocupações, com ampla atuação do MST e CONTAG, evidenciando a força desses movimentos organizados em relação à totalidade de movimentos atuantes no estado. Figura 11: Minas Gerais: espacialização municipal dos movimentos socioterritoriais com mais ocupações de 2000 a 2007. Fonte: GONZAGA (2009). 37 No que tange à realidade espacial das ocupações de terra, Minas Gerais é considerado um dos maiores estados da Federação em número de ocupações de terras e, evidentemente, apresenta elevada atuação dos movimentos socioterritoriais, tanto que, de 1988 a 2007, o estado foi o 4º colocado com maior número de ocupações, diante dos outros estados brasileiros (Figura 10), ficando atrás de São Paulo, Pernambuco e Paraná. Figura 12: Os 10 maiores estados em ocupações de terra entre os anos de 1988 e 2007. Fonte: GONZAGA (2009). Uma compreensão da luta pela terra no estado de Minas Gerais a partir do ban- co de dados da luta pela terra – dataluta entre 1988 e 2007. Disponível em: https:// bit.ly/3wvSh1c. Acesso em: 21 dez. 2020 BUSQUE POR MAIS 38 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Leia o trecho abaixo: “Não queremos viver na escravidão Nem deixar o campo onde nascemos Pela terra, pela paz e pelo pão: Companheiros, unidos venceremos. Hoje somos milhões de oprimidos Sob o peso terrível do cambão Lutando, nós seremos redimidos. A Reforma Agrária é a solução”. Hino do Camponês, fins da década de 1950, apud MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. História dos movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro: FASE, 1989, p. 70. Art. 16. Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio. Parágrafo único. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será o órgão competente para promover e coordenar a execução dessa reforma, observadas as normas gerais da presente Lei e do seu regulamento. Lei no 4.504, Estatuto da Terra, de 30 de novembro de 1964. Considerando as duas fontes, analise as afirmações a seguir: I. A política de redistribuição de terras, definida no Estatuto da Terra, equacionou os conflitos no mundo rural. II. O Estatuto da Terra era um projeto de Estado, que compartilhava a responsabilidade sobre a reforma agrária com os atores do campo. III. A luta pela reforma agrária, entre os anos 1940 e 1960, contribuiu para a afirmação do trabalhador rural como ator político. IV. O Hino do Camponês expressa a luta contra o domínio dos latifundiários, caracterizado pela superexploração do trabalho no campo. Estão corretas APENAS as afirmações a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) III e IV. e) I, II e IV. 2. Sobre o conceito de reforma agrária, é correto afirmar que 39 a) A reforma agrária é o processo de redistribuição das propriedades produtivas de um determinado país ou região. b) a reforma agrária é o processo de redistribuição das propriedades rurais improdutivas para camponeses que não possuem terras. c) É uma política de incentivo à produção agrária vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. d) A reforma agrária é o processo de redistribuição das propriedades rurais improdutivas que só atende que tem condições para produzir na terra. e) A reforma agrária é o processo de doação de terras para o Governo, que produzirá alimentos para os mais carentes. Muitos fazendeiros realizam essa prática em troca de isenção de impostos. 3. “Não deixa de causar certo desconforto, entre aqueles que têm se dedicado ao estudo das transformações no mundo rural, estarmos aqui reunidos, em pleno século XXI, para falar de reforma agrária, uma questão que já deveria ter sido resolvida no Brasil desde a segunda metade do século XIX. Entretanto, por fazer parte da realidade atual, como uma questão importante a ser tratada – embora, muitos dos que a defendiam no passado recente não mais pensem assim – não podemos e nem temos o direito de ignorá-la, pelo significado que ela encerra, seja do ponto de vista sócio-econômico, seja da dimensão política que lhe é inerente”. (LOPES, E. S. A. A Reforma Agrária no Brasil: um velho problema, esperando uma solução que nunca chega? Fundação Joaquim Nabuco. Acesso em: 22 maio de 2015.) A justificativa principal para a defesa da reforma agrária no Brasil assenta-se na existência, no espaço rural do país, a) Da defasagem dos impostos rurais. b) Do declínio no êxodo rural atual. c) Da concentração fundiária. d) Do decréscimo produtivo agrícola. e) Da importância dos movimentos sociais do campo. 4.Entre os efeitos de uma eventual realização da reforma agrária no espaço geográfico brasileiro, podemos assinalar corretamente a) Concentração das posses rurais. b) Favorecimento do êxodo rural. c) Aumento da agricultura familiar. d) Extinção dos minifúndios. e) Cultivo de monocultura. 5. No que se refere à desapropriação para reforma agrária pelo interesse social, pode-se afirmar que a) Haverá prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão. 40 b) Cabe a lei ordinária estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. c) Não estão isentas de impostos federais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. d) As benfeitorias necessária serão indenizadas em dinheiro, ao passo que as úteis não serão indenizadas. e) Haverá orçamento semestral para fixar o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agraria no exercício. 6. Baseando-se em seus conhecimentos sobre a questão agrária no Brasil, leia atentamente as afirmações a seguir: I. Os movimentos pela reforma agrária ganham força no Brasil a partir dos anos de 1950, com a formação das Ligas Camponesas. II. A reforma agrária é uma política de reestruturação fundiária, ou seja, de definição de regras para a posse da terra, com a finalidade de atender sua função social. III. No Brasil, os latifúndios (grandes propriedades rurais) são heranças das plantations do Brasil colônia. Podemos considerar corretas a(s) afirmativa(s): a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas l e lll e) Todas estão corretas. 7. A Constituição Federal de 1988 legitimou a realização da reforma agrária no Brasil. Porém, essa determinação gerou muitos conflitos em virtude da a) Falha no artigo da Constituição ao não determinar o que é considerado propriedade improdutiva, dando margem para diversas interpretações, tanto a favor da reforma agrária quanto contra. b) Falha na execução da lei, uma vez que muitas propriedades produtivas são redistribuídas para os camponeses. c) Falha na execução da lei, já que muitas propriedades improdutivas são redistribuídas para grandes latifundiários em vez de serem repassadas para trabalhadores sem-terra. d) Falha no artigo da Constituição, que determina que todas as propriedades agrárias estão sujeitas a serem redistribuídas de acordo com a vontade do poder público. e) Falha na execução da lei, que não prevê indenizações para os proprietários das terras desapropriadas, causando, assim, muitos conflitos. 8. No Brasil, a reforma agrária nunca foi plenamente realizada. Um dos principais fatores que impedem a sua realização no país é 41 a) A falta de interesse dos camponeses em adquirir propriedades, já que o Brasil possui diversas propriedades disponíveis para a redistribuição de terras. b) O baixo preço pago pelo Governo pelas propriedades desapropriadas desincentiva os fazendeiros a entregarem suas terras para a redistribuição promovida pela reforma agrária. c) A grande corrupção dos movimentos que lutam em prol da reforma agrária, o que acaba resultando na não redistribuição das terras conquistadas. d) O custo de manutenção dos assentados, pois, mais do que apenas desapropriar e redistribuir terras, a reforma agrária tem que dar condições para o camponês produzir nas terras adquiridas. e) O pequeno número de terras improdutivas no país faz com que não seja possível realizar nenhuma redistribuição, já que, segundo a constituição de 1988, somente as terras improdutivas podem ser redistribuídas. 42 AGRICULTURA SOB DIFERENTES MODOS DE PRODUÇÃO 43 O Brasil com sua dimensão continental, influenciado por diferentes povos e culturas, se torna um país heterogênio na sua constituição básica dos conceitos de produção rural de alimentos, produtos não alimentícios e pecuária no campo. A ideia de produtor rural varia de pessoa para pessoa, nas diferentes regiões do país. O campo brasileiro é diversificado em pensamentos, ideias, construção coletiva ou individual, culturais e econômicas e todos esses aspectos influenciam no sistema de produção adotado pelos produtores(as) rurais, trabalhadores(as) rurais, homens e mulheres do campo. Do Arroio Chuí, no extremo Sul do Rio Grande do Sul, ao Monte Caburai em Roraima, no extremo Norte do Brasil, passando pela Serra da Contamana no Acre, extremo Oeste, e pela Ponta do Seixas na Paraiba, ponto mais extremo ao Leste, observamos povos com diferentes influências culturais, econômicas, de saberes e princípios. Não podemos colocar tudo isso no mesmo bolo e padronizar a agricultura e as formas de viver no campo, criando um modelo de produtor(a) rural. Devemos respeitar suas peculiaridades e trabalhar a agricultura e a pecuária nessas diferentes abordagens. No mercado tem se notado um aumento na procura por alimentos com menos cargas de agrotóxicos por parte do consumidor final, pensando principalmente na sua saúde, meio ambiente e estilo de vida. Com isso, muitos produtores(as) se mostram dispostos a produzir de maneira menos agressiva ao meio ambiente, lembrando que as motivações dos agricultores(as) para ingressar nesse processo podem ser outras, como: vontade pessoal, insatisfação com o modelo convencional, saúde da família envolvida na produção, qualidade de vida, manutenção da natureza, não depender de insumos externos, maior autonomia de gestão e produtiva, atender a um público do mercado, não perder clientes, qualidade nutricional do alimento, etc. Levando em consideração os aspectos abordados acima, podemos citar algumas abordagens, modelos, formas e maneiras de fazer e viver a agricultura: agricultura convencional, agricultura orgânica, agroecologia, agricultura biodinâmica, agricultura natural, extrativismo, pecuária convencional, pecuária orgânica, entre outros. Obviamente que existem alguns que sobressaem em termos de área e número de pessoas envolvidas e outros que estão ganhando espaço nas últimas décadas. 4.1 AGRICULTURA CONVENCIONAL Terminada a Segunda Guerra Mundial, a indústria mundial tem em mãos muitos produtos que sobraram e novos produtos descobertos no período. O que fazer com tais produtos? Eles começam a ser utilizados e testados na agricultura, culminando, assim, no que chamamos de “Revolução Verde”, que teve início no México, na década de 1950, e é o termo adotado para contemplar o conjunto de práticas, eventos e tecnologias que modificaram o panorama e contexto da agricultura mundial, elevando drasticamente seus níveis de produtividade para patamares jamais vistos até então. É o modelo de agricultura predominante no país, a grande maioria dos produtos agropecuários nacionais é produzida nesta forma, logo, a maior parte dos alimentos que chegam à mesa das famílias brasileiras também é produzida desta maneira. Está relacionado principalmente com produções de larga escala, levando em consideração primária a produtividade do sistema e, para isso, se faz uso de fertilizantes químicos, agrotóxicos, sementes transgênicas, máquinas agrícolas de diferentes tecnologias e tamanhos. De maneira geral, a preocupação ambiental se torna baixa ou secundária 44 nesse processo. Ela se baseia no aumento da sua produção à medida em que se incrementa tecnologias. Isso nos conduz ao importante conceito de produtividade agrícola, relação entre a produção total e a área cultivada. Por exemplo, se produzimos 350 toneladas de soja em 100 hectares, a produtividade do nosso empreendimento agrícola é de 3.500 kg/ ha. A produtividade está sempre relacionada a uma unidade de área. Quando falamos de produção agrícola, podemos aumentar a produtividade sem aumentar a área plantada, logo, teremos uma produção total maior, tornando a área utilizada mais rentável. Deve-se sempre levar em conta se as tecnologias
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