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6 descrição e textos descritivos

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44 
Publicidade e Propaganda – 1º sem. 
Leitura e Produção de Textos 
Prof. Lêda Ribeiro 
Módulo 6 
 
 
 
6. DESCRIÇÃO E TEXTOS DESCRITIVOS 
 
 
Associado ao texto narrativo, na literatura, o texto descritivo tinha 
uma função meramente decorativa até o advento do Romantismo (final do 
Séc. XVIII), quando passou a ganhar funções como criar a ilusão do real. 
A explicação de comportamentos, a descrição de ambientes internos e 
externos, a descrição física dos personagens, vestimentas, jóias passaram 
a manifestar a psicologia dos personagens da história. 
A principal diferença entre um texto descritivo e narrativo ocorre 
pela marca da temporalidade. A descrição representa um momento; a 
narração, uma sucessão de fatos e sentimentos no tempo. 
Enquanto a narração é ativa e dinâmica, a descrição é passiva e 
estática. A descrição caracteriza-se por um processo de denominação e 
definição (expansão), ou seja, o relato do que é e como é. Palavras em 
cadeia que formam uma imagem representativa, a sensação de uma 
“fotografia”, na mente do leitor. O escritor, mediante uma atitude 
contemplativa, procura captar e transmitir uma cena, um momento, 
possibilitando ao receptor visualizar aspectos físicos de pessoas, de 
ambientes, de objetos. 
A descrição pede ao leitor que reconheça, associe, classifique, 
hierarquize e atualize o estoque de referências de sua memória. É um 
texto que exige saber e conhecimento para que possa adquirir sentido. 
A denominação refere-se ao tema ou objeto da descrição. A 
expansão refere-se aos subtemas ou classificações desse objeto. 
(Tema: livrarias; Objeto: livros; classificação: didáticos, ficção, filosóficos, 
científicos, técnicos, artísticos etc.). Na descrição há uma relação de todo 
e partes na qual o texto vai se compondo por partes e subpartes. Nos 
enunciados predominam verbos de estado, situação (ser/estar), ou de 
propriedades (ter), atitudes (fazer) e qualidades (ser). Pela expansão, 
estabelecem-se relações entre uma nomenclatura e um grupo de 
predicados (adjetivos) referentes a ela. 
Embora muitos textos combinem narração e descrição, há sempre a 
predominância de elementos que transmitem idéia de fotografia ou de 
movimento, possibilitando a classificação como texto descritivo ou 
narrativo. 
 
 
6.1 A ORGANIZAÇÃO DA DESCRIÇÃO 
 
 A constituição de um texto descritivo é estabelecida através de 
categorias e regras que possibilitam a existência de um modelo construído 
com base na observação dos usos sociais, que podem ser divididas em 
três categorias: 
 45 
 
• Designação: a designação tem como papel nomear, dar a 
conhecer algo. É uma forma de reconhecer os seres do mundo, a 
capacidade de referir-se a algo por meio de uma palavra. 
 
• Definição: a definição determina a extensão de um ser, 
estabelece os limites e informa os atributos essenciais e 
específicos desse ser, de modo que o torne individual, específico, 
característico, inconfundível. É um conjunto de predicados 
seqüenciados à designação. 
 
• Individuação: a individuação compreende particularizar, 
caracterizar, distinguir, especificar, tornar único. Ocorre pela 
enumeração minuciosa de tudo o que o autor vê. 
 
Na estrutura de um texto descritivo, uma das principais 
características é que se pode alterar a ordem do discurso sem afetar sua 
compreensão. Outra característica importante é que não existe alteração 
temporal. O uso de verbos de ação no texto descritivo não transmite a 
idéia de transformação, de mudança de tempo, pois não há dois 
momentos que se sucedem. 
 
Os tipos de textos que utilizam com mais freqüência a descrição são 
os textos de turismo publicados em cadernos de jornais e revistas 
especializadas, os verbetes de enciclopédias e dicionários e os textos 
literários. A descrição parece distinguir os bons dos maus escritores. É a 
grande prova da imaginação de um escritor, e é característica relevante 
em um escritor saber descrever, saber tornar vivo o que viu. 
 
Segundo Mário Erbolato, existem três tipos de textos descritivos: o 
pictórico, o topográfico e o cinematográfico: 
 
• Na descrição pictórica, escritor e objeto permanecem parados. 
A situação do escritor assemelha-se a de um pintor, que transpõe 
para tela tudo o que vê. Trata-se de uma posição que permite 
campo de visualização limitado. A luz tem grande influência em 
seu trabalho, pois só pode relatar aquilo que vê. As cores e os 
detalhes são resultados da luminosidade. Ao escritor cabe 
reproduzir com fidelidade o recorte da realidade que traçou. 
 
• Na descrição topográfica, o escritor está em movimento e o 
objeto parado. Essa posição de observação permite ao escritor 
construir um “mapa” em relevo de tudo o que vê. Valorizando a 
massa, tamanho e forma. A descrição perde em objetividade, 
mas ganha em subjetividade, liberdade. 
 
• Na descrição cinematográfica, o escritor permanece parado 
enquanto os objetos e seres aparecem em movimento. Além de 
massa, cores e luz, o escritor ocupa-se também do som, 
descrevendo as cenas quadro a quadro. 
 46 
 
6.2 QUALIDADES DA DESCRIÇÃO 
 
 São qualidades da descrição a unidade, a coerência, a ênfase e a 
disposição dos pormenores. É recomendável estar atento ao fato de 
que descrições de espaço, ambiente, pessoas em relação ao homem e à 
vida animal produzem grande efeito. Quem se põe a escrever pode 
questionar-se de mil modos, associar o fato a outras circunstâncias, ao 
tempo, ao espaço, descrevê-lo, falar das emoções despertadas, reações 
comportamentais, comparações, oposições, causas, conseqüências. 
 
 A observação é condição fundamental para a produção de um texto 
descritivo. É preciso ter algo para dizer, ter idéias para expor, e um dos 
meios de criar idéias é praticar a observação e refletir sobre questões 
como: 
• Que impressão o ambiente/objeto causa? 
• Os fatos provocam admiração? 
• Há motivos para satisfação ou descontentamento? 
• Se assemelha com algo que já conheço? 
 
A observação pode ser direta ou indireta. Nada proporciona 
melhores resultados a uma descrição que a observação direta, no 
próprio local. Não se trata de acumular detalhes, mas de expor os mais 
relevantes e que têm mais força como elementos caracterizadores. 
Quando não se pode valer da observação direta, o escritor pode 
lançar mão da imaginação, da memória. Busca apoiar-se naquilo que viu 
ou recordar tudo o que se relaciona com a cena a ser descrita. Procura a 
proximidade com a verdade, a verossimilhança com a realidade, 
desfazendo qualquer sinal que comprometa e revele ser fato imaginado. É 
necessário transmitir a sensação de que tudo é verdadeiro. 
Uma fonte inesgotável de observação indireta é a leitura. É por meio 
dela que se consegue despertar a sensibilidade e a imaginação, ampliar o 
vocabulário, fortalecer o pensamento. 
 
 
6.3 MODALIDADES DE DESCRIÇÃO 
 
 A descrição é relevante em um texto literário ou jornalístico. Pode 
haver texto descritivo sem a presença de elementos narrativos, mas 
dificilmente um texto narrativo sem a presença de descrição, porque 
qualquer designação de seres e circunstâncias já é o princípio de uma 
descrição. 
Os enunciados, ou seja, os tipos de abordagens descritivas mais 
comuns são: 
 
1. Descrição expressiva ou subjetiva: modalidade em que 
prevalecem a percepção do autor. Há preocupação com os 
detalhes, com a criação de uma nova realidade (impressionista). 
Daí, quanto mais carregada de emoções, mais longe da realidade. 
A subjetividade do autor aparece em suas opiniões sobre a 
 47 
personagem/objeto que descreve. Os recursos de linguagem 
usados são sempre a metáfora, a metonímia, a adjetivação 
exagerada. 
 
Ex: “O sexto convidado era um moço de dezessete anos, o 
Sr. Rochinha, que trazia impressa na tez amarrotada, 
nas profundas olheiras e na aridez dos lábios, avelhice 
prematura. Libertino precoce, curvado pela consunção1, 
tinha o orgulho do vício, que estampara nas faces, 
receando talvez que o insultassem pondo em dúvidas os 
seus brasões de nobreza, conquistados com o copo em 
punho nalguma tasca2 imunda. Se fosse pobre, o Sr. 
Rochinha teria fumaças de poeta byroniano; mas ainda 
era rico da herança que esbanjava, e portanto não 
passava de um moço gasto” (José de Alencar, Lucíola). 
 
 
2. Descrição de lugares: neste processo, abrange-se um plano 
maior e, como se fosse uma câmera, detém-se em partes 
relevantes. Suponha-se que o local seja a Praça da Sé, em São 
Paulo. Focalizam-se o movimento de pedestres, os edifícios ao 
redor, as barraquinhas dos vendedores ambulantes. E, no meio 
de tantos elementos diversos, focaliza-se a alegria de um 
vendedor de bilhete de loteria. E como num close, as expressões 
faciais desse indivíduo é que interessam. Enumera-se uma série 
de substantivos, referencia-se, define-se, expande-se a 
referência pela equivalência e hierarquização. 
 
Ex: “As paredes, barradas de azulejos portugueses e, para o 
alto, cobertas de papel pintado, mostravam, nos seus 
desenhos repetidos de assuntos de caça, alguns lugares 
sem tinta, cujas manchas brancacentas traziam à idéia 
joelheiras de calças surradas. Ao lado, dominando a 
mesa de jantar, aprumava-se um velho armário de 
jacarandá polido, muito bem tratado, com as vidraças 
bem limpas, expondo as pratas e as porcelanas de gosto 
moderno; a um canto dormia, esquecida na sua caixa de 
pinho envernizado, uma máquina de costura Wilson, das 
primeiras que chegaram ao Maranhão; nos intervalos 
das portas simetrizavam-se quatro estudos de Julien, 
representando em litografia as estações do ano; 
defronte do guarda-louça um relógio de corrente 
embalava melancolicamente a sua pêndula do tamanho 
de um prato e apontava para as duas horas. Duas horas 
da tarde” (Aluísio de Azevedo, O mulato). 
 
3. Descrição de cena: seu conteúdo é captado mediante 
observação direta dos seres, porém exige também imaginação, 
 
1
 Ato ou efeito de consumir-se. Definhar. 
2
 Taberna 
 48 
invenção, criatividade. Podem-se utilizar adjetivos, desde que não 
banais nem em série interminável que nada acrescenta. Procura-
se não só descrever, mas também externar idéias e emoções. 
Produz uma visão de mundo e das coisas através dos detalhes. 
 
Ex: “Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro 
que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a 
escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o 
corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. 
Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de 
descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o 
sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater 
uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a 
cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo 
entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior 
que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma 
salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o 
telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, 
um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía 
o prestígio” (Machado de Assis, A cartomante). 
 
 
4. Descrição física e psicológica de pessoas: há muitos aspectos 
que identificam uma pessoa. A parte física é talvez a menos 
dotada de pormenores. O caráter, os hábitos, os gostos, o 
temperamento proporcionam maior riqueza. As pessoas não são 
quadros de galeria, nem objetos de museus. É necessário 
penetrar o íntimo delas para captar elementos realmente 
individualizantes, tais como o conjunto de ações que a 
personagem realiza, as palavras que ela profere e, muitas vezes, 
o próprio meio onde se insere, proporcionando seu "retrato" físico 
e psicológico no espaço social no qual se insere, através de sua 
linguagem e comportamento, podendo ser construída a partir da 
análise e identificação dos seguintes aspectos: 
 
4.1 Aparência física 
4.2 Caracterização pela fala 
4.3 Espaço e ambientação 
4.4 Características psicológicas 
4.5 Perfil ideológico 
 
Cada um desses aspectos possui diversos itens que podem 
ser analisados e ressaltados na construção de um perfil, conforme 
veremos: 
 
4.1 Aparência física: descrição dos traços mais salientes e mais 
singulares do personagem ou dos objetos (paisagem) que o 
cercam. Não se trata de descrever o maior número possível de 
detalhes, e sim, selecionar os aspectos que mais impressionam 
os sentidos, restringindo-se ao essencial. 
 49 
 
Ex: Grandalhão, de bigodes, barrigudo (...) 
 
 (...) um homem alto, forte e meio narigudo. 
 
 Franzino, as mãos pequenas, como as de um menino de 10 ou 
12 anos, com pouco mais de um metro e meio de altura, 57 
anos de idade. 
 
4.2 Caracterização pela fala: as palavras pronunciadas por uma 
personagem não transmitem apenas aquilo que significam 
literalmente, pois além do sentido semântico elas também são 
impregnadas por valores sócio-contextuais. Situações que dizem 
respeito à região de onde procedem as personagens ou em que 
vivem, à sua idade, área de atividade profissional (esporte, 
policial, economia), posição social ou grau de escolaridade. 
 
Ex: - Cê taí, sô? 
- Tô - respondi no falar da terra. 
- Sentaí que eu já vô. 
 
(...) essa gente vai ter de entender que defesa de mercado é 
defesa de mercado mesmo. Os investidores externos pedem 
regras definidas e uma lei antitruste. 
 
No Brasil, eu era um cara muito preguiçoso, acomodado. Casa 
de mamãe... e tal. (...) Agora tem aquela hora do rango que a 
mãe não tá, e tenho que me virar sozinho. 
 
Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da 
coitadinha resolvi esquiar e caçar uma outra cabrocha que 
preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão. 
(...) 
 
Tonho, você está outra veiz se enleando com rabo de saia, 
num tá? Já andei sabendo disso. Deixa de molecagem, tu já é 
homem de ter vergonha. A cumade Maria veio queixá que ocê 
tá botando cas pra outra muié, e isso num se faiz. 
 
 
4.3 Espaço e ambientação: geralmente, entre a ação de uma 
personagem e o espaço onde ela se insere há uma fusão, uma 
harmonização. As características, os traços, as qualidades de 
uma personagem podem estar projetados no seu espaço, através 
das características ambientais, decoração ou objetos. 
 
Ex: A casa fica a uns cem metros da rua, à qual se chega por um 
caminho de pedra, descendo sempre (...) A casa do 
candomblé tem na frente o terreiro, isto é, um grande salão 
de oito metros por seis. (...) 
 50 
 
 O rancho é modesto. Uma mesa, um banco, uma estante de 
livros, a moringa, um espelho e uma pia. Num canto sua rede 
branca. (...) 
 
 (...) a sala de consultas é pequena, apenas uma janela e a 
porta. Sobre a mesinha de canto, há um Cristo colorido, ao 
lado alguns retratos: Allan Kardec, Chico Xavier, Bezerra de 
Menezes - teóricos e médiuns espíritas. (...) 
 
 A máquina de calcular é sua companheira preferida. Ele a usa 
em todas as operações, mesmo para somar cinco mais cinco, 
e segue com carinho e ansiedade o seu solene matraquear. 
Enquanto conversa, não a abandona: sua mão direita está 
sempre acariciando a tecla. (...) 
 
 
4.4 Características psicológicas: num texto literário ou jornalístico 
sobre uma pessoa, poderá haver um conjunto formado pelas 
ações e reações atribuídas a essa pessoa. Tal conjunto pode 
induzir o leitor a concluir que essa pessoa tem um determinado 
tipo de caráter e de temperamento. Os indícios estão espalhados 
ao longo do texto, através de manifestações verbais e não-
verbais, e vão se acumulando à medida que ele transcorre, 
caracterizando a personagem com adjetivos de personalidade e 
comportamento contrastados de forma binária: generoso/ 
mesquinho, calmo/agitado,deprimido/eufórico, amoroso/hostil, 
exibicionista/discreto, sensível/insensível, vaidoso/modesto, 
otimista/pessimista, seguro/inseguro, sonhador/cético e inúmeros 
outros, proporcionando ao leitor elementos para suas próprias 
conclusões sobre o caráter e temperamento da personagem. As 
características psicológicas podem ser observadas e interpretadas 
através das seguintes manifestações: 
 
a) Paralinguagem: intensidade, tom e velocidade da voz, 
caracterização do sotaque ou do idioma, ruídos vocálicos 
(hum, ah...), grito, cochicho, choro, pigarro, bocejo e suspiro. 
 
Ex: - E não sente nenhum ponto de contato com os 
italianos? 
- Ponto de contato? Nãooo! 
 
Tinha o "erre" frouxo, mas tão frouxo que lá pelas tantas 
deixava de ser frouxo para não mais existir. (...) 
 
A cada pergunta, os presentes ondulavam, cochichavam, 
suspiravam. (...). 
 
 
b) Gestos: descrição no texto dos gestos feitos pela personagem. 
 51 
 
Ex: (...) tinha até os gestos lentos, seguros. 
 
 Fez um sinal com a mão longa, de pianista. Logo o 
garçom trouxe dois drinks (...) 
 
 - E ele? Apontou para o fotógrafo. 
 
 
c) Postura: descrição da postura corporal assumida pelo 
personagem (tenso, relaxado, formal, informal etc.) 
 
Ex: (...) estava ali imóvel, inexpressivo, vestido de cinza... 
Nem sequer se levantou. 
 
 (...) conversava com os braços cruzados sobre a mesa 
onde a família faz as refeições nas ocasiões mais 
importantes (...) 
 
 
d) Expressão facial: descrição dos sentimentos manifestados no 
rosto do personagem através de descrição ou comparação. 
 
Ex: (...) e o seu rosto pobre, bondoso, torcia-se de angústia: 
sua boca triste apertava-se de medo. 
 
 Seu rosto impressiona: redondo como a lua cheia, 
inexpresivo como uma bola, com dois olhinhos invisíveis 
e enterrados na gordura. 
 
 
e) Olhar: descrição da percepção do narrador sobre a expressão 
dos olhos da personagem. 
 
Ex: Voltou para os ministros um olhar incrédulo, 
interrogativo, perdido (...) 
 
 O rosto parecia imóvel e os olhos nada exprimiam. Nem 
surpresa, nem medo, muito menos vontade de chorar 
(...) 
 
f) Riso: o riso ou o sorriso do personagem podem expressar 
emoções como prazer, alegria, sarcasmo, desdém, satisfação, 
aceitação, que podem ser usadas para compor o estado de 
espírito da personagem. 
 
Ex: A entrevista, de fato, começou com gargalhadas e entre 
gargalhadas prosseguiu por uma boa meia hora. (...) 
 
 52 
 O sorriso e o aceno que dirigiu às pessoas que gritavam 
seu nome foi tímido, inseguro, quase aflito (...) 
 
 
g) Silêncio: o silêncio do personagem pode ser rico de 
significados, se bem interpretado pelo escritor. 
 
Ex: (...) Seguiu-se um silêncio de pedra. 
 
(...) estava ali imóvel, inexpressivo, vestido de cinza. 
Não disse nada. Nem sequer se levantou. 
 
h) Distância: o relato da distância física mantida pelo 
entrevistado também pode ser carregado de significados, 
ligando-se a outros elementos da comunicação não-verbal 
como a postura, o toque, os movimentos dos olhos, o calor 
dos corpos, as sensações olfativas etc. 
 
Ex: (...) manteve-se sentado atrás da mesa, sem esboçar 
nenhuma reação à minha chegada. 
 
(...) Nós Americanos, de fato, somos relutantes em 
cheirar uns aos outros. Vivemos com medo do mau 
hálito, do suor, dos cheiros domésticos, dos odores 
genitais. 
 
i) Toques: a forma como o personagem toca seus interlocutores 
pode trazer indícios de sexualidade, poder, afeição, podendo 
ter o significado afetado por fatores como: a parte do corpo 
que se toca, a duração do contato, a pressão empregada, os 
movimentos após o toque, a presença de outras pessoas e a 
situação do momento. 
 
Ex: Os dois são altamente sensuais e manifestam sua 
sensualidade tocando o interlocutor, mulher ou homem. 
Diferença: Maluf gosta de abraçar e com a mão direita 
mete um cafuné na nuca do abraçado; Covas corre a 
mão pelo braço do interlocutor. 
 
 
4.5 Perfil ideológico: o comportamento de uma pessoa é 
influenciado pelas idéias que ela tem sobre si própria, sobre as 
outras pessoas e sobre o mundo de uma forma geral. O 
comportamento pode revelar novos valores sociais ou apego às 
idéias consideradas arcaicas. 
 
Ex: Suas roupas são coloridas, vistosas. Começou com 
ternos parecidos aos dos Beatles, paletó sem gola, 
bolsos diagonais. Depois, passou a desenhar o que iria 
vestir: camisas vermelhas, cor-de-rosa, folgadas, punhos 
 53 
largos, cordões cruzados no peito, à moda dos cowboys 
americanos; calças colantes, cintos de cores berrantes, 
botinhas de várias cores. Ele diz que é necessário que 
suas roupas sejam agressivas, mas nunca de mau gosto. 
 
 
Exemplo descrição física: 
 
 “Rui era, fisicamente, parecido com o pai João José: de 
estatura baixa, um metro e cinqüenta e oito 
centímetros; corpo de adolescente, franzino e 
ligeiramente encurvado, 48 quilos de peso; 
circunferência torácica de 84cm, circunferência do 
abdômen de 72 cm; cabeça grande de poucos e lisos 
cabelos em desacordo com o corpo; media 57 cm e 
parecia maior pela conformação; orelhas grandes, fronte 
espaçosa, largas entradas laterais, rosto oval, nariz 
médio e quase grego; boca bem traçada, bigodes 
grossos caindo pelos cantos da boca, lábio inferior 
saliente num prognatismo visível; olhos vivos de 
hipermetrope, pescoço longo, colarinho de 36 cm; bem 
proporcionado de membros; tez morena de sertanejo” 
(Rejane Magalhães. Rui Barbosa na Vila Maria Augusta). 
 
 
Exemplo descrição psicológica: 
 
 “Também ele, em criança, e ainda depois, foi 
supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices que a 
mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No 
dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e 
ficou só com o tronco da religião, ele, como tivesse 
recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na 
mesma dúvida, e depois em uma só negação total. 
Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia 
dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a 
negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e 
ele nào formulava a incredulidade; diante do mistério, 
contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.” 
(Machado de Assis, A cartomante). 
 
 
5. Descrição de objetos: a descrição de um objeto tem como base 
uma observação rigorosa. Apesar da proximidade e dos detalhes 
individualizantes serem fundamentais, não são garantia de uma 
observação consistente e eficaz. Deve-se fugir à vaguidade. 
Procura-se descrever segundo uma ordem, como, por exemplo, 
de fora para dentro, da direita para a esquerda, percebendo 
pouco a pouco o que há de mais característico no objeto - 
características sensoriais: gustativas, auditivas, olfativas, táteis, 
 54 
visuais. Porém, não se percebe somente por meio dos sentidos. A 
descrição consistente é mais que uma fotografia, ela estimula, 
instiga, desperta o interesse. 
 
Ex: “Era uma tela desbotada de tom defumado, onde uns 
restos de face avermelhada, com uma cabeleira em 
cachos, sobressaíam vagamente sobre um fundo 
sombrio. Um vermelhão baço indicava o veludo de uma 
casaca de corte; a pança saliente e ostentosa enchia um 
colete esverdeado. E a parte mais conservada da tela 
era, ao lado sobre um coxim, a coroa real – que o artista 
trabalhava com uma minuciosidade entusiasta, ou por 
preocupação de idiota, ou por adulação de cortesão” 
(Eça de Queiroz, A relíquia). 
 
 
6. Descrição objetiva (relatórios): é a descrição exata, sem 
floreios, que não busca a emoção estética e trabalha com a 
função referencial da linguagem. Deixa de lado o aspecto 
artístico, preocupando-se com a eficácia e a exatidão da 
comunicação. O vocabulário é preciso, os pormenores são exatos 
e a linguagem sóbria. Seu objetivo é esclarecer, informar, 
comunicar.Ex: Relatórios administrativos e científicos. 
 
 
7. Descrição de funcionamento: também conhecida como 
descrição de processo, é utilizada em folhetos informativos que 
acompanham eletrodomésticos, máquinas, aparelhos eletrônicos. 
Tem como propósito mostrar o funcionamento do aparelho, os 
mecanismos de funcionamento, assistência técnica etc. Suas 
características são: 
 
• Exposição em ordem cronológica, esclarecendo-se as 
diversas etapas do funcionamento. 
• Objetividade: não usa linguagem abstrata ou afetiva. 
• Ênfase nos pormenores de funcionamento do aparelho. 
• Indicação dos diferentes estágios de funcionamento. 
• Ausência de suspense. 
• Normas necessárias ao uso do aparelho. 
 
Esse tipo de descrição exige conhecimento detalhado do 
assunto e espírito de observação aguçado. É mais que uma 
descrição, é um manual. 
 
 
 55 
6.4 EXEMPLOS DE TEXTOS DESCRITIVOS 
 
 
MÚSICA 
 
FALTANDO UM PEDAÇO 
 
(Djavan) 
 
O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha 
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha 
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha: 
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha 
 
O amor é como um raio galopando em desafio 
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios 
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho 
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho 
 
O amor e a agonia cerraram fogo no espaço 
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço 
E o coração de que ama fica faltando um pedaço 
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços 
 
 
 
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JORNALISMO 
 
 
Sem espelho falante 
 
(Veja, 5 de jan. 1994) 
 
 
A vida em Estouros, povoado a 290 km de Belo Horizonte, segue um ritmo 
que parece eterno. Não é necessário relógio. Acorda-se com o raiar do Sol e 
dorme-se quando as estrelas começam a surgir. Os homens trabalham a terra e 
as mulheres cuidam da casa e dos filhos. Nas refeições, as famílias se alimentam 
daquilo que a terra lhes devolve. Os jornais só aparecem para 
embrulhar encomenda. Estouros é um lugar sem aquele eletrodoméstico que 
ocupa o lugar central na residência da maioria dos brasileiros — um aparelho de 
TV. O que é a TV? 
O menino Carlos, 10 anos, sete irmãos criados por um lavrador, que todos 
os dias caminha 12 km para ir à escola e voltar, explica: “É uma caixa de som 
com um espelho na frente.” O irmão mais velho, Wilson, já viu TV nas 
redondezas. Mas, se pudesse, Wilson não compraria um aparelho. Uma égua de 
3 anos teria maior utilidade: “Eu descansaria das pernas. A gente anda sempre a 
pé ou no caminhão do leite.” Wilson assistiu à exibição de um programa de 
reportagens ao vivo e ficou de olhos esbugalhados. Não se conforma até hoje: “A 
gente vê batida de carro, roubo”, espanta-se. “Aqui não tem nada disso. Tem 
bandido que mata a pessoa à toa. Aqui a gente mata porco. E para comer.” 
Economia de troca - É mesmo estranha a vida sem o espelho falante do 
pequeno morador. Serra Velha, em Santa Catarina, com 300 habitantes e 60 
casas, é um povoado encravado em uma montanha e seu acesso é restrito a uma 
única estrada. Ali nunca se ouviu falar do pacote do ministro da Fazenda. 
Tampouco de Roberto Carlos ou Pelé. O ídolo naquelas paragens é o professor 
Santanor, único na região, proprietário de uma caminhonete que faz 30 km por 
hora como velocidade máxima. Pessoa mais bem informada da cidade, o 
professor não sabe o nome do cidadão que exerce o cargo de presidente da 
República. 
Esse país indiferente à passagem do tempo, mais pobre e menos 
confortável, mas pacífico, integra uma das mais bem-sucedidas utopias 
nacionais. A do Brasil rural, de pessoas simples e valores estabelecidos, de 
pequenos heróis e pequenos vilões naturais em qualquer parte. É um país 
delicioso de ver e explorar, como de s cobriram as novelas rurais que a TV 
produz e eles não vêem. Mas é uma utopia urbana achar que o povo desses 
lugares quer ficar assim. TV é eletricidade, eletricidade é progresso e não há 
como preferir um lampião de querosene a uma lâmpada, nem é possível achar 
que o cidadão que não sabe o nome do presidente é mais feliz do que aquele 
capaz de recitar a lista de todos os ocupantes do Planalto de 1964 para cá. 
Há seis meses, em Lagoa do Oscar, lugarejo do interior de Minas, correu o 
boato de que, enfim, os postes de luz chegariam ao local. Foi um alvoroço. O 
roceiro Domingos, um senhor já de meia-idade, percorreu 110 km apenas para 
fazer uma troca. Entregou uma espingarda nova para um muambeiro, que lhe 
deu uma TV portátil trazida do Paraguai. O roceiro aguardou quatro meses pela 
luz. Como ela não veio, vendeu a TV para um caminhoneiro. Mas não desistiu. 
“As crianças só falam do dia em que terão uma TV em casa”, diz. 
Com 3.000 moradores, a 700 km de Salvador, Muquém é outro exemplo. 
Ali não existe luz elétrica, água encanada nem rede de esgoto. Mas tem TV. Um 
aparelho, de propriedade da prefeitura, ligado a um gerador a óleo diesel. Todos 
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os dias, um funcionário pega o televisor de 20 polegadas em um barraco onde 
ele fica trancado e o transporta até a praça da cidade. Ali, cercada com arames 
farpados, a TV fica ligada das 6 da tarde até às 11 da noite. Até o prefeito acha 
um absurdo. “É um luxo gastar dinheiro com isso”, reconhece. Mas não há 
alternativa. Desde que a TV foi instalada, no final de 1991, é sucesso absoluto. 
Nos dias normais, reúne trinta pessoas na praça. Em grandes momentos, passa 
de oitenta. 
 
 
PROPAGANDA 
 
 
 
 
 
 
 
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ATIVIDADE INDIVIDUAL EXTRA: 
 
1. Escolha uma personalidade célebre: um político, um jogador de 
futebol, uma artista, um cantor ou uma cantora popular ou 
qualquer outra pessoa famosa que você admire (ou não suporte). 
Observe atentamente essa figura e elabore um texto descritivo, 
procurando caracteriza-la física e psicologicamente. É 
importante que em seu texto não seja mencionado o nome da 
pessoa. 
 
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BIBLIOGRAFIA DE APOIO: 
 
 
ANDRADE, Maria Margarida, MEDEIROS, João Bosco. Curso de língua 
portuguesa para a área de humanas – Enfoque no uso da linguagem 
jornalística, literária, publicitária. São Paulo: Atlas, 1997. 
 
FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender o texto: leitura e 
redação. São Paulo: Ática, 1990. 
 
INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto – Curso prático de leitura e redação. 
São Paulo: Scipione, 1998. 
 
SILVEIRA, Regina Célia. A gramática portuguesa na pesquisa e no ensino: 
ensino de gramática a partir do texto. São Paulo: Cortez, 1990. 
 
VILASBOAS, Sérgio. Perfis e como escreve-los. São Paulo: Summus,2003.

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