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Tomás Antônio Gonzaga Cartas Chilenas

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PROVA
A pesquisadora Melânia Silva de Aguiar, no artigo “Ideologias cruzadas em poetas do setecentos em Minas Gerais” (2011), apresenta um conjunto de ideais que diz respeito ao modo como Tomás Antônio Gonzaga, junto a outros poetas mineiros do setecentos, se utilizou de mecanismos de construção poética para fugir à controvérsia política e à repressão da coroa portuguesa. Deste modo, tomando como base a 1ª Carta de seu poema Cartas chilenas, apresente quais são os recursos utilizados por Gonzaga para “burlar” esta repressão, utilizando-se de referências ao texto poético para caracterizá-los. 
As Cartas Chilenas do poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga constitui-se em forma de versos onde Critilo descreve ao seu amigo Doroteu a corrupção e crueldade existentes na fictícia capitania de Chile. A estratégia utilizada pelo autor é de camuflar a autoria do texto, bem como, camuflar as figuras histórias ao qual se remete o texto e para tanto, Gonzaga usa comentários satíricos contra o governo posto na época em que ele nomeia em seu texto de Fanfarrão Minésio, criticando e descrevendo de forma irônica os mandos e desmandos ocorridos em Minas Gerais.
Gonzaga procurou se esconder atrás de outras máscaras ou como Aguiar (2011) afirma de “personae discursivas”. Nisso, o autor das Cartas Chilenas, se utiliza de recursos como o despiste e até mesmo de pseudônimos para designar autoria quanto a sua obra, como no caso do personagem Critilo e a adoção de vários criptônimos para escamotear e/ou atacar várias figuras históricas, como no caso do Governador Luís da Cunha Pacheco Menezes – Minésio. Além disso, o autor do livro faz um deslocamento do cenário das ações, aloca a ação do poema no Chile, transpondo acontecimentos e ações que se permeia em Minas Gerais – Vila Rica. 
É de suma importância frisar, que a crítica apontada pelo autor na obra, condiz com a violação da justiça constituída na época, ao abuso de poder, a corrupção e exploração palaciana feita pela coroa portuguesa e aos desmandos apoiados na militarização do governo. Logo, os poetas inconfidentes como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e José de Alvarenga Peixoto, se valeram do discurso de pessoas que tentaram defender a sua terra, velando de algum modo suas verdadeiras crenças e intenções e privilegiando o discurso que contrapõe a ideologia da coroa portuguesa, porém diante disso, se remonta os vários discursos de uma maneira em que o leitor não apreenda de forma clara e concisa os argumentos que estão em detrimento e que a ambiguidade permitiu com que essas ideias controversas fossem expressadas na qual ressalta Aguiar (2011): 
Vivendo sob regime autoritário, o poeta setecentista administra frequentemente em seu texto, ambíguo por excelência, uma orquestração de vozes, sem que a “sua” possa ser ouvida com clareza. É como se elas significassem ao mesmo tempo, numa fusão simultânea de sentidos plurais. (p. 176)
	Durante toda a 1ª carta, o leitor é devidamente apresentado ao Fanfarrão Minésio, na onde se pode perceber o quão é inadequado para governar as Minas Gerais. A 1ª carta como as outras 12 (doze) cartas serão endereçadas a seu amigo Doroteu chamando a sua atenção para ouvir e comentar as inúmeras atrocidades que foram cometidas pelo Fanfarrão, sendo que a 1ª carta se ligará em torno da chegada do mesmo em Santiago do Chile (Vila Rica - MG) e a sua prepotência e a humilhação ao tratar as pessoas e as autoridades da região declarado nos fragmentos abaixo:
Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços,
E limpa das pestanas carregadas
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha.
Acorda, se ouvir queres coisas raras. (GONZAGA, p. 25 pdf)
Que abraçando os navios com as longas,
Robustas barbatanas, os suspendem,
Inda que o vento, que d’alheta sopra,
Lhes inche os soltos, desrizados panos?
Não queres que te informe dos costumes
Dos incultos gentios? Não perguntas,
Se entre eles há nações, que os beiços furam?
E outras que matam, com piedade falsa,
Os pais, que afrouxam ao poder dos anos?
Pois se queres ouvir notícias velhas,
Dispersas por imensos alfarrábios,
Escuta a história de um moderno chefe,
Que acaba de reger a nossa Chile,
Ilustre imitador a Sancho Pança.
E quem dissera, amigo, que podia
Gerar segundo Sancho a nossa Espanha!
Não penses, Doroteu, que vou contar-te
Por verdadeira história uma novela
Da classe das patranhas, que nos contam
Verbosos navegantes, que já deram
Ao globo deste mundo volta inteira:
Uma velha madrasta me persiga,
Uma mulher zelosa me atormente,
E tenha um bando de gatunos filhos,
Que um chavo não me deixem, se este chefe
Não fez ainda mais, do que eu refiro. (P. 26/27 pdf)
	Neste último fragmento, podemos constatar que há um convite endereçado à Doroteu e aos leitores, pois Gonzaga faz um questionamento acerca dos que querem conhecer os costumes dos “incultos gentios”, fazendo uma referência para aqueles que não podemos confiar e aqueles que são capazes de qualquer coisa para conseguirem o que tanto almejam. Nisso e a partir dessa referência, o autor nos convida a ouvir a história de um moderno chefe que governou o chile e que o autor associa a Sancho Pança por haver uma certa semelhança de ideais, ou seja, na forma como ambos queriam governar e naquilo que achavam correto para se governar. Para Aguiar (2011) esse tipo de mecanismo é caracterizado pela intertextualidade na qual ela revela que “fundidas no texto, não se pode dizer que estas crenças e intenções se isolem um ‘isto ou aquilo’, mas, sim, num ‘isto e aquilo’, responsável pelo caráter de ambiguidade da mensagem.”
	Logo, nas últimas linhas do fragmento, o poeta faz jus a veracidade dos fatos que se desencadeará ao longo das narrativas, pedindo que seja perseguido por uma velha madrasta, uma mulher zelosa e que os filhos roubem tudo o que ele tem, se o general chileno na qual ela mencionara não o tenho feito ainda muito mais de tudo aquilo que ele presenciou e assim o poeta Tomás Antônio Gonzaga inicia a sua narrativa, satirizando a corrupção que assolou Vila Rica por cinco anos.
Para Antonio Candido (2000), Cartas chilenas pode ser lido como um poema épico no qual a referência à biografia de seu autor pode ter relevância para sua interpretação. Nesse sentido, e pensando na disputa sobre a autoria do poema, apresente os argumentos que fazem Candido apontar que Tomás Antônio Gonzaga seja seu provável autor, principalmente em relação ao caráter psicológico daquela épica. 
O estudioso da literatura brasileira e estrangeira Antonio Candido (2000) não faz um estudo estilístico, mas um estudo que relaciona o texto e o contexto histórico e político da época. No que se refere na disputa sobre a autoria do poema Cartas Chilenas, Candido dá o seu ponto de vista afirmando que a relevância referente ao poema supra citado é de autoria de Gonzaga, porém ele admite “sem recusar a possibilidade de colaboração acessórica de Cláudio Manuel, e quem sabe, algum reparo de alvarenga.” (CANDIDO, p. 157 pdf)
Muito se debateu sobre a autoria das Cartas Chilenas, sobre quem realmente teria escrito a epistola, mas Candido envolve três possíveis autores e que entre eles, Critilo está na lista, o qual devia ser magistrado, namorado e poeta, ou seja, coadjuvante pelos outros dois a realizar o poema e que segundo o estudioso, o poeta Cláudio não foi o provável autor da obra e pondera o que se segue: “Há poucos versos dele que podem ser considerados posteriores a 1780, sendo que a sua produção depois de 1770 é de qualidade inferior, circunstancial e prosaica, inclusive o Vila Rica” (CANDIDO, 154 pdf), ressaltando que são de qualidade inferior as Cartas Chilenas, escrito por Tomás Antônio Gonzaga, por ser um poema vibrante, firme, limpidamente escrito com seu estilo arcaico, exuberante e elevado.
Candido (2000) questiona sobre a possível autoria das Cartas Chilenas e quem teria sido Critilo. Um ponto positivo abordado sobre essa autoria sedá a um residente de Vila Rica, Luís Saturnino da Veiga, na qual o próprio afirmava ser pseudônimo de Gonzaga. Para Candido, esta era a prova mais segura, provável e verossímil. Já, Joaquim Norberto, não acreditava que a autoria poderia ser de Gonzaga, pois a partir de seu trecho descrito, o mesmo se refere a um escândalo referente a arrematação do contrato de entradas no triênio de 1785 a 1787, ao passo que Gonzaga e Monteiro Bandeira protegiam o Capitão Antônio Ferreira da Silva e o Capitão José Pereira Marques, sob o criptônimo de Marquésio mereceu a proteção do Governador Luís da Cunha Menezes. Logo, Luís Camilo de Oliveira, estando em Portugal, estava a par da briga entre Gonzaga e o Capitão-General, que favoreceu o seu protegido contra o interesse da coroa portuguesa e as normas-administrativas tirando toda a autonomia da junta competente.
Uma outra prova, se refere ao estilo e vestígios sobre os personagens, fatos e traços morais, apontados por Silvio de Almeida e Lindolfo Gomes, que concluíram pela autoria de Cláudio, e que posteriormente também foi defendida por Caio de Mello Franco. Os autores Varnhagen e Sílvio Romero, não defendeu a hipótese de autoria de Alvarenga Peixoto, simplesmente pela falta de indicações históricas e a escassez de sua obra que impossibilitaria fazer a comparação de estilo. Outro autor que tenta buscar a resposta para essa autoria é Pereira da Silva, ele faz a hipótese de autoria tríplice (Cláudio, Gonzaga, Alvarenga), dentre eles deixando de dar importância ao terceiro. Conjetura interessante foi o que sugeriu Joaquim Norberto e Lívio de Castro, dizendo que Critilo teria e poderia ser um outro poeta, anônimo por exemplo. Logo, Cecília Meireles, ressalta que as conjeturas não deve ser aplicada a nenhum dos três poetas abordados na tríplice, pois segundo e conforme a autora, Antônio Diniz da Cruz e Silva, era o único satírico na literatura luso-brasileira da segunda metade do século XVIII, que estaria adequado para a autoria das Cartas.
Mesmo que o autor tenha comprovadas capacidades poéticas, o tom panfletário prevalece para satisfazer os (res)sentimentos pessoais, e, dessa forma, se revelam explicitamente alguns traços da personalidade dele. Através das cartas denota-se também a sua familiaridade com as normas jurídicas, em respeito às quais demonstra grande apego, revelando ser um profissional do ramo.
A sátira de Critilo, homem “bem-pensante e honrado”, nos diz Candido (p. 157 pdf), desvendava através da sua obra “as iniquidades potenciais do sistema”, tornando-se assim um poema de valor político e também um espelho da época. O poema foi para o autor, de um lado, uma vingança de um homem humilhado, e de outro, uma denúncia ao abuso de poder do Governador-Fanfarrão. Candido, no último trecho chama o autor de Critilo-Gonzaga, confirmando de maneira ainda mais explícita as suas conclusões sobre qual seria o mais provável autor das Cartas Chilenas.

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