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SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II SERGIO FERRAZ (Coordenador) SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II EDITORA Roberto Antonio Busato Presidente da OAB e Presidente Honorário da OAB EDITORA Jeff«rson U is Kravchychyn Presidente Executivo da OAB EDITORA Francisco José Pereira Editor Rodrigo Pereira Capa e Projeto Gráfico Usina da imagem Diagramação Dado Luiz Osti Revisão Aiine Maciiado Costa Timm Secretária Executiva Conselho Editorial Jefferson Luis Kravchychyn (Presidente) Cesar Luiz PasoW Hermann Assis Baeta Pauio Bonavides Raimundo César Brítto Aragão Sergio Ferraz F381s Ferraz, Sergio (coordenador) Sociedade de Advogados - Volume 111 Sergio Ferraz (coordenador). - Brasília; OAB Editora, 2004, 144 p. 1. Direito, l. Titulo 340 ISBN ■ 85-87260-58-8 EDITORA SAS Quadra 05 • Lote 01 • Bloco M Edifício Sede do Conselho Federal da OAB Brasília, DF • CEP 70070-050 Te). (61)316-9600 www.oab.org.bf e-maíl; oabeditora@oab.org.br jefferson@kravchychyn.com.br ÍNDICE APRESENTAÇÃO_______________________________________________________ Roberto Antonio Busato.....................................................................7 CAPÍTULO I Antônio Corrêa Meyer e Mauro Bardawil Penteado Notfls sobre sociedades de advogados: características, peculiaridades, e a influência do novo Código Civil em seu regime jurídico ................ 9 CAPÍTULO II Waldemar Soares de Lima Júnior Registro das sociedades de advogados..................................................27 CAPÍTULO III Oswaldo Naves Responsabilidade das sociedades de advogados................................... 35 CAPÍTULO IV Manoel Antônio de Oliveira Franco, Ricardo Miner Navarro e Gabriel Placha Contratos de associação.........................................................................47 CAPÍTULO V Clemencia Beatriz Wolthers Sociedades de advogados: administração social.................................. 59 CAPÍTULO VI Sergio Ferraz e Antônio Corrêa Meyer Sociedades de advogados: administração e atos. 0 novo Código C ivil........................................................... CAPÍTULO VII .................69 Orlando Di Giacomo Filho Os consultores estrangeiros.............................................. .................75 CAPÍTULO VIII Eduardo Grebler A denominação das sociedades de advogados.................. .................89 CAPÍTULO IX Oswaldo Naves As comissões de sociedades de advogados........................ ...............103 CAPÍTULO X Sérgio Ferraz Ética profissional e sociedades de advo<^ados.................................. 107 CAPÍTULO XI Alfredo de Assis Gonçalves Neto Sociedade de profissionais liberais e sociedade de advogados 119 SOCIEDADE DE ADVOGADOS VoWme II 7 APRESENTAÇAO Roberto Antonio Busato Presidente do Conselho Federal da O AB astan te opo rtu n a a publicação deste segu n d o volum e d e "Sociedade de A dvogados", o rgan izado pelo em i n en te Conselheiro Sergio Ferraz, que p reside a C om is são de Sociedades de A dvogados d o C onselho Federal da OAB. N ão só p o rq u e o tem a, em si, desperta g rande interesse, mas p rinc ipa lm en te q u an d o se está d ian te das sociedades personifi cadas pelo novo Código Civil. C om o u m tipo societário especial, as sociedades de ad voga dos d ev em se reger p o r lei especial, qual seja, o Estatuto da O r dem , seu R egulam ento G eral e Provim entos. A esse respeito, o C onselho Federal d a OAB aprovou, em o u tubro de 2002, o P ro v im en to n“ 98/2002, que institui o C adastro N acional das Socie d ad es de A dvogados, e o Provim ento n° 99/2002, que cria o C a d as tro N acional de C onsultores e de Sociedade de C onsultores em Direito Estrangeiro, m ed idas que visam o controle e a fiscali zação desses dois segm entos da advocacia. O P ro v im en to n" 98, co m p lem en ta r ao P ro v im en to n" 95, q u e in s t i tu iu o C ad as tro N acional de A d v o g ad o s , exige das so c ied a d e s d e a d v o g a d o s u m a série d e d a d o s cad as tra is , a se rem p e r io d ic am en te a tu a lizad o s . C om esse in s tru m en ta l , a OAB p a ssa rá a ter u m a v isão to tal da advocac ia brasile ira . 8 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II seja e la d e se m p e n h ad a em caráter ind iv idual ou realizada em m oldes associativos. Já o P rov im ento n° 99/2002, que cria o C adastro N acional de C onsu lto res e d e Sociedade de C onsultores em Direito Estran geiro, é o in s trum en to que vai perm itir a fiscalização desse novo segm en to da advocacia, p reven indo abusos e d efendendo a ad vocacia brasileira. O P rovim ento com plem enta o de n° 91/2000, q u e reg u lo u as condições de exercício profissional d o advogado estrangeiro n o Brasil. C om o se vê, esta é um a m atéria em constante aperfe içoam en to, m o tiv ad o p o r estudos e debates, den tre os quais destacaria tam bém a valiosa colaboração do em inente ad v o g ad o Alfredo d e Assis G onçalves Neto. Esperam os que o presen te trabalho seja am p lam en te d ifu n d id o p ara esclarecim entos d as dúv id as que a in d a po ssam pa ira r sobre a adm inistração societária dos advogados. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 9 CAPÍTULO I NOTAS SOBRE SOCIEDADES DE ADVOGADOS: CARACTERÍSTICAS, PECULIARIDADES, E A INFLUÊNCIA DO NOVO CÓDIGO CIVIL EM SEU REGIME JURÍDICO Antônio Corrêa Meyer Mauro Bardawil Penteado 1. Introdução. 2. Peculiaridades das sociedades de advogados. 3. Filiação dogmática do legislador do novo Código Civil. 3.1. A atividade da advocacia em oposição à atividade empresária. 3.2. A sociedade de advogados como tipo especial de sociedade. 1. introdução É sem pre m uito prazeroso analisar e, tan to q u an to for possí vel, s is tem atizar as p rincipais características deste peculiar e fas c inante tipo societário que é a sociedade d e advogados. Peculiar p o rq u e n ão existe, e m nen h u m dos tipos societários reconheci d o s pe la lei brasileira, sociedade que a ela se assem elhe em suas características m ais m arcantes. Fascinante po rque , d ev ido à es cassez d e lite ra tu ra jurídica a respeito d as sociedades d e advo gados, a cada nova reflexão que nos p ropom os a fazer, im p o r tan tes conclusões são alcançadas. Some-se a isso a recente publi cação da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ("novo Código Ci 10 SOCeOfcOE DE WVOGAOOS Volume» vil")/ q u e a lte rou significativam ente o regim e juríd ico das socie d ad es em geral, e se no tará a riqueza e a im portância d o tem a objeto do p resen te trabalho. N o en tan to , d ev ido à limitação na tu ra l d o escopo deste tra balho, não será realizada um a análise de todos os aspectos rele vantes envo lvendo a m atéria. O objetivo do presente es tudo será, n u m p rim eiro m om ento , apon ta r e identificar as principais ca racterísticas das sociedades de advogados, sobretudo aquelas que fazem dela u m tipo societário sui generis, para u sar a feliz ex p ressão d e H ad d o ck Lobo e C osta N e tto ’ . Depois, serão ab o rda dos, d e form a sucinta, os im pactos do novo Código Civil na re gu lam entação d a s sociedades de advogados, no tad am en te em relação à ap licab ilidade das norm as das sociedades sim ples às sociedades de advogados. 2. Peculiaridades das sociedades de advogados A sociedade de ad v ogados foi regu lada pe la prim eira vez de form a ab rangen te e sistem ática pela Lei 4.215/1963, especifica m en te em seus artigos 77 e seguintes. Já nessa o p o rtu n id ad e p od ia-se identificarque a disciplina a ela d ad a a reduzia a u m tipo societário in te iram ente d istin to de todas as dem ais socieda des p rev is tas no d ire ito civil e no direito comercial. O artigo 77 d o d ip lom a d e 1963 determ inava que "os ad v o gados p o d e rão reunir-se, para colaboração profissional recípro ca, em sociedade civil de trabalho, destinada à disciplina do ex p ed ien te e do s resu ltados patrim oniais auferidos na prestação d e serviços de advocacia (art. 1.371 do Código Civil; arts. 1° e 44, § 2", da Lei n° 154, de 25 de novem bro d e 1947)". O parágrafo ' Eugênio R. Haddock Lobo e Francisco Costa Netto, in Comentários ao Estatuto da OAB e às Pegras da Profissão do Advogado. Editora Rio, 1978, pág. 168. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Voljtne II 1 1 prim eiro d o m esm o artigo 77 adicionava que "as ativ idades p ro fissionais que reúnem os sócios em sociedade se exercem indivi dualmente, q u an d o se tra ta r de atos privativos d e advogado , ain d a q u e revertam ao patrim ônio social os honorários respectivos". Da descrição desses d ispositivos, nota-se que as sociedades d e ad v ogados m arcavam -se p o r aspectos próprios, que só a elas d iz iam respeito . As pessoas que delas faziam p arte se restring i am apenas e tão-som ente aos profissionais d o direito , m em bros de u m a classe profissional específica. O objeto social desse tipo societário lim itava-se à adm inistração do expediente e do s re su ltados patrim oniais auferidos na prestação de serviços de ad- vocacia^ Assim , se é correto afirm ar que as sociedades de advogados se assem elham às sociedades de pessoas, m uito em razão das suas características in tu itus personae, não é m enos exata a p a ra doxal confirm ação de que as sociedades de ad v ogados tam bém g u a rd a m im p o rtan tes distinções em relação às sociedades de pessoas, po rque , ao contrário destas, aquelas não são constituí d a s com o fim p rec ípuo de prestação de serviços a terceiros. Ao contrário , o principal m otivo que leva à constituição das socie d ad e s d e ad v ogados é a possib ilidade de seus sócios regularem rec ip ro cam en te suas relações p rofissionais com o advog ad o s , n o tad am en te a v ida adm inistra tiva e financeira d a sociedade^. É m ais u m a sociedade voltada para os p ró p rio s sócios, serv in do-lhes com o gestora do expediente e dos recursos financeiros auferidos na advocacia. ^Nesse sentido, cf. Ruy Azevedo Sodré, in S oc ieda de de A dvog ados . Revista dos Tribunais, São Paulo, 1975. ^Ct. Haddock Lobo e Costa Netto, Com entários.-., pág. 169. í 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II A esse respeito , é sem pre im portan te re lem brar a escorreita lição d e O rlan d o G om es^ , o qual, analisando as sociedades de advogados, pre leciona que "não é a pessoa jurídica q u e exerce a a tiv id ad e profissional m as as pessoas físicas que a in tegram , ca b en d o a estas a prá tica dos atos privativos de advogados". E m ais à frente conclui que "os efeitos p rop riam en te societários do en te criado pelo contrato social restringem -se, lim itam -se, cir cunscrevem -se à d istribuição dos resu ltados obtidos com a re m uneração d o traba lho dos advogados e à disciplina d o exped i en te d o escritório". Do q u e se deflui q u e as sociedades d e ad v ogados são antes u m in s tru m en to p a ra disciplina das relações internas en tre os sócios, q u e u m a clássica sociedade de pessoas em que o serviço e a a tiv idade são p restados a terceiros em nom e d a sociedade. N a v erd ad e , em u m a sociedade de advogados, os sócios exer cem individualm ente suas a tiv idades, um a vez que estas são ati v idades p rivativas de advogados. D aí o m otivo d a afirm ação de O rlan d o G o m es^ para o qual "a sociedade profissional dos ad vogad o s rep resen ta características da 'Innonlschaft' do direito alem ão, a cham ada sociedade in terna em tradução literal. N ão o é, segu ram en te , m as tem traços d e sem elhança p o rq u e socieda d e p ro p riam en te d ita só se m anifesta n a relação do s sócios en tre si, in d o p a ra um a conta com um o resu ltado dos negócios, reali zados pelos sócios na sua ind iv idualidade" , Esses eram os traços m ais m arcantes que a legislação de 1963 conferiu ao institu to d as sociedades de advogados. Em 1994 foi p u b licad o o n o v o E sta tu to d a O rd e m d o s A d v o g ad o s, a Lei * Orlando Gomes, Parecer, in Sociedade de Advogado, publicado por Pinheiro Neto e Cia. - Advogados, São Paulo, 1975, pág. 117. ^Orlando Gomes, Parecer..,, pág. 117. SOaEQADE DE WVQGADOS Volume » 1 3 8.906/1994, a qual, p o r m eio de seus artigos 15 a 17, 21 e 34, II, d iscip linou as sociedades de advogados. Sua disciplina tam bém encon tra g u a r id a nos artigos 37 a 43 do R egulam ento G eral e em d iversos P rovim entos d o Conselho Federal. N ã o obstan te a en trad a em vigor dessa nova regulação, Sér gio Ferraz inform a que as principais características e peculiari d ad es ap o n tad as acim a não foram desfiguradas^ . A o contrário, os p o n to s q u e levaram as sociedades de ad v ogados a serem con sideradas u m tipo especial de sociedade perm anecem subjacen tes, m esm o com a nova regulam entação d ad a à m atéria. M uito em bora a legislação atua l não tenha conceituado as sociedades de advogados com a m esm a precisão técnica d o Es ta tu to de 1963^, o conceito de sociedade de ad v o g ad o s - e as conseq ü en tes p ecu lia rid ad es criadas pelo E sta tu to de 1963 - rem anescem . Veio então o artigo 15 do E statu to v igente d e te r m inar q u e os ad v ogados po d em reunir-se em sociedade civil de p restação de serviço de advocacia, na form a d isc ip linada nesta Lei e n o R egulam ento Geral. O artigo 34, II, d o m esm o Estatuto estabelece que constitui infração disciplinar m an te r sociedade profissional fora d as norm as e preceitos estabelecidos no Esta tu to da OAB. ®Sergio Ferraz, in Sociedade de Advogados: conceito, natureza jurídica, in Sociedade de Advo gados, pág. 18, Malheiros Editores, São Paulo, 2002. ' Sobre a falta de técnica do legislador do atual Estatuto, veja-se o comentário de Alfredo d Assis Gonçalves Neto, in Sociedade de Advogados, Juarez de Oliveira, 2. ed., 2002, pág. tO: “C artigo 15 do atual Estatuto, ao dispor que “os advogados podem reunir-se em sociedade civil de prestação de serviço de advocacia", deixa de declarar, como ocorria no regime anterior, a fun ção a ser por ela preenchida. Pode parecer, à primeira vista, que a sociedade de advogados é constituída para exercer a advocacia - o que não é verdade, pois, sendo a atividade de advo cacia privativa de advogado, certamente essa sociedade não tem por fim exercê-la, mas, permi tir ou facilitar a “colaboração recíproca” entre si dos sócios-advogados e demais advogados a ela vinculados, “para a disciplina do expediente e dos resultados patrimoniais auferidos na pres tação dos serviços’ por eles individualmente realizados para os clientes, como enunciava o art, 77, caput, da Lei 4.215, de 1963" (grifos no original). 2 4 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II É preciso, nesse passo, seguindo a ag u d a observação d e Ser gio Ferraz^, esclarecer que as sociedades de advogados podem , a teo r d o caput d o art. 4" d o P rovim ento 92/2000, pra ticar, em nom e p róp rio , os atos norm ais de sua adm inistração, incluindo a celebração d e "contratos em geral p a ra representação, consul toria, assessoria e defesa de clientes p o r in term édio de ad voga d o sd e seus quadros". N o en tan to , m an ten d o a orientação do Estatuto d e 1963, a a tua l legislação d as sociedades de advogados reforçou a noção d e q u e os atos privativos da advocacia seriam ind iv iduais , exer cidos pelos sócios o u p o r advogados v inculados à sociedade, com o associado ou com o em pregado , m esm o que os resu ltados revertam p ara o patrim ônio social, sendo a inda d e te rm inado que as procurações serão ou to rgadas ind iv idua lm en te aos ad voga dos, com a indicação da sociedade de que façam parte. Essa é a redação d o parágra fo único do art. 4° d o P rovim ento 92/2000, em estre ita consonância com o parágrafo p rim eiro do art. 77 do E statu to anterior. A esta a ltu ra parece claro que as sociedades de advogados constituem u m tipo societário especial; sua disciplina, portan to , d istancia-se do s ou tros tipos societários previstos n o novo C ódi go Civil. C om efeito, d iferen tem ente d as sociedades personifi cadas d o novo C ódigo Civil, a sociedade de ad v ogados som ente adqu ire personalidade jurídica com o registro ap rovado dos seus atos constitu tivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede. A guisa de conclusão, é valido o esforço no sen tido de siste m atizar, n a esteira do que até aqui foi dito e com base n as lições de A lfredo de Assis Gonçalves Neto, as p rincipa is característi- ® Sergio Ferraz, Sociedade..., pág. 18. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 1 5 cas d a s sociedades de advogados. A p rim eira característica é a d e que, ao contrário das dem ais sociedades p restado ras de ser viços, a sociedade de advogados não tem a função p recípua de p re s ta r serviços em nom e próprio ; na verd ad e sua principal fun ção é servir com o u m instrum ento de organização adm in is tra ti va e financeira d as relações internas en tre os sócios que a com põem . A se g u n d a característica reside na exigência de que to dos seus sócios estejam legalm ente habilitados p a ra exercer a profissão de advogado . A terceira característica está no fato de que o único objeto social possível para u m a sociedade de ad v o g a d o s é o b v ia m e n te a d is c ip l in a d o e x p e d ie n te e g e s tão pa trim on ia l a tinentes, exclusivam ente, à p restação de serviços de advocacia, v ed ad as quaisquer o u tras a tiv idades ou serviços concom itantes. A o contrário d o que ocorre em ou tros países, a sociedade m ultid iscip linar não é perm itida no Brasil. A quarta característica desse especial tipo societário está no fato de que elas apenas adq u irem personalidade jurídica com o registro fei to jun to ao C onselho Seccional d a OAB. Por fim, a q u in ta e um a d as p rincipa is características das sociedades de ad v ogados resi d e n o fato de que elas, em n en h u m a hipótese, po d em apresentar form a o u características m ercantis - hoje d itas em presaria is - , à luz do artigo 16 do Estatuto vigente. C om base nesse panoram a legislativo - o qual foi traçado com o especial objetivo de identificar o que torna as sociedades de ad v o g ad o s u m tipo societário tão especial tra tarem os, a se guir, d e ap o n ta r as principais alterações ocorridas no bojo das sociedades de advogados em decorrência da publicação do novo C ódigo Civil, em especial as inovações adv in d as d as norm as re lativas às sociedades sim ples, em oposição à an tiga sociedade civil d o C ódigo Civil de 1916. 16 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume It C um pre-nos, entre tanto , antes da análise específica dos im pactos que as regras sobre as sociedades sim ples terão nas soci edades de ad v o g ad o s traçar, p o r m ais breve que seja, u m h is tórico do s an teceden tes legislativos que levaram o legislador p á tr io a ado ta r a sociedade sim ples com o novo tipo societário, com parando-a , a grosso m odo , à antiga sociedade civil. 3. Filiação dogmática do iegislador do novo Código Civil O s traba lhos legislativos tenden tes a re fo rm ular o Código Civil b rasile iro alicerçaram -se, sem pre, na p rem issa de que a unificação d o d ire ito p rivado , sobre tudo na p arte tocante ao d i re ito d as obrigações, parecia ser a m ed id a m ais ap ropriada , um a vez q u e a m o derna dou trin a civil considerava o d ireito obrigaci- onal u m sistem a uno , que transcendia a condição profissional dos agen tes q u e co m punham a relação^. Em ou tras palavras, à época da elaboração d o novo Código Civil, a tendência d a d o u trina, e p rincipa lm ente do direito com parado, era no sen tido de fazer cessar a d icotom ia formal existente entre d ireito comercial e d ire ito civil, a in d a que fossem preservados seus princíp ios in form adores. Assim , transp lan tan d o a idéia d a unificação d o direito obri- gacional para o cam po d as sociedades em geral, o prob lem a que se p u n h a , nesse passo , foi ag u d am en te d e tec tado p o r Sylvio M arcondes. C om efeito, afirm a o g rande m estre e au to r d o Livro ® Sobre a celeuma a respeito da unificação do direito privado no Brasil e no direito comparado, vide, Oscar Barreto Filho, in Teoria do Estabelecimento Comercial, 1969, Max Limonad, São Paulo, pp. 9 e segs.; Sylvio Marcondes, In Problemas de Direito Mercantil, 1970, Max Limonad, São Paulo, pp. 130 e segs.; Tuilio Ascarelli, In 0 Desenvolvimento Histórico do Direito Comercial e 0 significado da Unificação do Direito Privado, in Revista de Direito Mercantil n® 114, Malheiros, São Paulo, pp. 237 e segs.; Nelson Abrão, in Sociedade Simples; novo tipo societário, Livraria e Editora Universitária de Direito, 1975, São Paulo, pp. 9 e segs. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 17 II da P arte Especial - Direito de E m presa - do novo C ódigo Civil que, no cam po d as sociedades, o que se v is lum brava antes da unificação era, na seara d o direito comercial, u m a regu lam en ta ção p au tad a , prim eiro , em preceitos gerais aplicáveis a todo g ru p o de sociedades e, depois, em preceitos específicos necessários à regu lam entação d e cada um dos tipos societários regulados p e lo C ó d ig o C om erc ia l de 1850. E sse s is tem a , no en tan to , pre leciona a inda Sylvio M arcondes, não foi e nem p oderia ter sido ad o tad o pelo Código Civil de 1916, u m a vez que som ente a sociedade civil foi regulada po r aquele d iplom a. Assim , cu idan d o apenas de u m tipo de sociedade, o Código Civil de 1916 não p od ia d is tin g u ir a aplicação de norm as gerais e específicas, ain d a m ais se fosse considerada a am plitude de suas norm as, que ab rang iam não só as sociedades, m as tam bém as associações'" . "Em conseqüência", afirm a Sylvio M arcondes” , "valendo-se d as sugestões d o código d e obrigações suíço e do código civil italiano'^ - e é sintom ático que, a respeito, este se tenha utiliza d o daq u e le - o anteprojeto coordena os preceitos gerais das soci edades, d o código comercial, com as regras d o código civil, e e s tru tu ra a sociedade simples, com o u m com partim ento com um , d e p o rtas abertas p ara receber e d a r solução às apon tadas ques tões" (itálico no original). Som e-se a isso tu d o a superação d o u ltrapassado conceito de ato do com ércio, que trazia consigo a artificial e questionável Sylvio Marcondes, Problemas... cit., p. 147. " Sylvio Marcondes, Problemas... c it„ p. 147. Rubens Requiâo, in Projeto de Código C ivil-apreciação critica sobre o Livro II (Da atividade negociai), artigo publicado na RT 478, pp. 15; e Nelson Abrão,Soc/edacfe... cit., pp. 12esegs., apontam que não obstante o legislador pátrio ter expressamente indicado os códigos suíço e italiano como fonte de inspiração para criação da sociedade simples, esta, como inserida no direito brasileiro, foi destinada a desempenhar função diversa daquela que lhe foi atribuída nos ordenamentos suíço e italiano. 18 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II distinção en tre ativ idades m ercantis de u m lado, e civis d e ou tro, consagrando-se a m oderna dou trin a focada na em presa e no em presário . D aí conclui-se que, com a unificação obrigacional do direito p rivado, passa a não mais existir a tradicional diferenciação entre sociedades civis e comerciais. C om a unificação, esses dois tipos d e sociedades se u n em como sociedades em presárias, d ep en d en tes da prática da ativ idade econômica. É exatam ente nesse ponto que se insere a sociedade simples que, p o r não depender da p rá ti ca dos atos de em presa, adquire posição de sociedade especial. Assim, na sistemática adotada pelo novo Código Civil, a socie dade simples presta-se justam ente a suprir o espaço deixado pelas sociedades empresárias, além de servir-lhes de substrato nos pon tos em que suas disposições necessitem de regras de caráter geral. N esse sen tido , a sociedade sim ples parece ter sido concebida c o m função dupla. A prim eira , servir de fonte sup letiva às socie d ad es em presárias. Exemplo disso é o artigo 1.053 d o novo Có d igo Civil ao estabelecer que "a sociedade lim itada rege-se, nas om issões deste Capítu lo , pelas norm as da sociedade simples"^^. A seg u n d a função da sociedade sim ples seria albergar as socie d ad es cujo objeto não consista no exercício de a tiv idade p rópria d e em presário sujeita a registro (art. 982 do no v o C ódigo Civil). Dessa form a, a sociedade sim ples foi criada com o objetivo de regu la r e o rgan izar as relações em sociedade das pessoas que não são consideradas em presárias pelo novo Código Civil^^. Daí Rubens Requião, P ro je to . . .ó l , p, 14, critica severamente a função da sociedade simples como substrato às sociedades empresárias. Segundo o mestre, “pelo sistema adotado, a todo instante a doutrina e a jurisprudência seriam chamadas a opinar e decidir sobre quais os princí pios das sociedades simples que lhe são específicos e quais os gerais, para serem aplicados a outros tipos de sociedade". '* A respeito da conceituação da figura do empresário no novo Código Civil, vide item 3.2. infra. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 19 a im portância da sociedade sim ples na es tru tu ra ad o tad a pelo novo C ódigo Civil. Pois som ente a sociedade sim ples é capaz de trazer os benefícios da organização societária às pessoas não con s ideradas em presárias. As vantagens de se o rgan izar um a ativi d a d e não em presária de form a sim ilar às sociedades em presári as são in ú m era s '^ . P odem essas vantagens resu ltar da economia fiscal*^ q u e a form a societária propicia e, a inda , d a separação p a trim on ia l en tre a sociedade e os sócios e sua conseqüente li m itação d e responsabilidade. 3.1. A atividade da advocacia em oposição à atividade empresária O no v o C ódigo Civil d iscip linou a em presa em seu perfil subjetivo ’^ e s t a b e l e c e n d o que "considera-se em presário quem exerce p rofissionalm ente ativ idade econômica o rgan izada para a p ro d u ção ou a circulação de bens o u de serviços". Três, p o r tanto , são as condições que caracterizam o em presário ’*^ , a sa- Luiz Antonio Soares Henlz, in Direito de Empresa no Código Civil de 2002, Juarez de Oliveira, 2002, São Paulo. pp. 163-164, Nesse ponto é interessante notar que a aparição das sociedades de advogados no direito brasileiro foi motivada inicialmente para produzir economias fiscais ao advogados, Antes da entrada em vigor do Estatuto de 1963, grande números de advogados viam-se compelidos a se agruparem em sociedades civis, reguladas pelos artigos 1.371 e seguintes do Código Civil de 1916. Somente num segundo momento as sociedades de advogados foram utilizadas como verdadeiro instrumento de obtenção de escala e eficiência no desempenho da profissão. Sobre os diversos perfis que a empresa apresenta, veja-se o clássico estudo de Alberto Asquini, Profili dell'impresa, in Revista Dei Diritto Commerciale, 1943, v. 4 1 ,1. Note que não obstante o legislador do novo Código Civil ter definido a empresa por meio de seu perfil subjetivo, é sintomático que hoje a doutrina mais abalizada tem encontrado na empre sa, em seu perfil funcional, comparando-a com a atividade, a forma mais correta de sua concei- tuação- Cf., entre outros, Waldiorio Bulgarelti, in Teoria Jurídica da Empresa, pág. M3, Revista dos Tribunais, 1985, São Paulo, Sobre o conceito de empresário, vide: Sylvto Marcondes, in Exposição de Motivos Comple mentar, 1973, pág. 123 e, ainda, Tullio Ascarelli, in 0 Empresário, traduzido por Fábio Konder Comparato, publicado na Revista de Direito Mercantil n® 109, pp. 183-189. 2 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II ber: (I) o exercício d e a tiv idade econômica, destinada à criação d e riqueza, p o r m eio da p rodução de bens e de serviços p a ra a circulação; (II) a a tiv idade organizada, pela coordenação do s fa tores d e p ro d u ção - trabalho, n a tu reza e capital - em m edida e p roporções diversas; e (III) a habitualidade , o que significa d izer profissionalm ente , o exercício da ativ idade econôm ica em nom e p ró p rio e com ân im o de lucro. T om ando isso em consideração, percebe-se que as socieda des em p resária s serão aquelas fo rm adas pelos em presário s - assim defin idos na form a do artigo 966 do novo C ódigo Civil - em oposição às sociedades sim ples que, com o tipo especial, d es tinam -se às ativ idades executadas po r pessoas não en q u ad rad as n a conceituação de em presário . N esse passo , o novo Código Civil d e te rm inou expressam en te q u e "não se considera em presário quem exerce profissão in te lectual, d e n a tu reza científica, literária ou artística, a inda com o concurso d e auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constitu ir elem ento da em presa". Em sua exposição de motivos, Sylvio M arcondes afirm ou que a "conceituação (de em presário) exclui, en tre tan to , quem exerce profissão intelectual, m esm o com o concurso de auxiliares ou colaboradores, p o r en tender que, não obstante p ro d u z ir servi ços, com o o fazem os cham ados profissionais liberais, ou bens, com o o fazem os artistas, o esforço criador se implanta na própria m ente do autor, de onde resultam, exclusiva e diretamente, o bem ou o serviço, sem interferência exterior de fatores de produção, cuja eventu al ocorrência é, dada a natureza do objeto alcançado, meramente aci dental" (grifamos). A esse respeito , Ascarelli é perfeito ao a ten ta r que as profis sões in telectuais (dentre as quais se inclui a d o advogado) d e SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 2 1 vem ser reg idas p o r norm as especiais, um a vez que se relacio nam ao exercício de ativ idades que, p o r natureza , p o ssuem um a d iversa vaioração social e que, por isso, d em an d am princípios juríd icos diferentes daqueles gerais aplicáveis às ativ idades re g u la d a s p e lo C ó d ig o Civil^", A ssim , em razão dessa d iversa vaioração social, certos tipos especiais d e sociedades sujeitam- se a no rm as q u e levam em consideração, p o r exem plo, o decoro e o ríg ido acesso à profissão, o que, p o r si só, im pedem a aplica ção d ire ta e irrestrita d as norm as gerais estabelecidas no novo C ódigoCivil. Para se ter um a idéia de com o essa especial vaioração social se reflete na legislação específica das sociedades de advogados, b asta m encionar que essas sociedades não p o d em pra ticar o u tras a tiv idades senão aquelas ligadas ao exercício profissional d a advocacia. M ais que isso, o cnput do art. 16 d o Estatu to esta belece expressam ente que não serão adm itidas a registro, nem p o d erão funcionar, as sociedades de advogados que realizarem a tiv idades es tranhas à advocacia. Por esse m otivo, com o já foi d ito neste trabalho, as cham adas sociedades m ultid iscip linares (aquelas q u e conjugam em seu objeto, além da prestação de ser viços jurídicos, o u tras ativ idades com o contabilidade, engenha ria, etc.) não p o d em funcionar no Brasil. A inda em relação às especificidades das sociedades de ad v o gados, questão bastan te interessante d iz respeito à possibilida- “ Tuilio Ascarelli, in Corso di Diritto Commerciale, 3. ed, Giuffrè, Milão, 1962, p, 179, Note-se que as considerações de Ascarelli em nenhuma hipótese devem ser consideradas despiciendas, eis que o Código Civil italiano serviu de base para a elaboração do nosso novo Código Civil, notadamente na parte do Direito de Empresa. Por exemplo, o citado parágrafo único do art. 966 do novo Código Civil deriva, indubitavelmente, do art. 2.238 do Código Civil italiano, in verbis-. “Se 1'esercizio delia prolessione constituisce elemento di um'attivita organizzata in forma d'impresa, si appiicano anche le disposizioni dei titolo I I [2.082 ss.]. In ogni caso, se 1’esercente una prolessione intellecttuale impiega sostituti o ausiiiari, si appiicano le disposizioni delle sezioni II, 111 e IV dei capo I dei titolo II [2.094 ss.). 2 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume I I de de associação en tre sociedades d e advogados. O Provim ento n" 92/2000, em seu art. 6° letra d,e% 3°, expressam ente , autoriza "os ajustes de associação ou de colaboração com ou tras socieda des de advogados" , d esde que averbados à m argem do registro da sociedade. Esclareça-se que a associação é adm itida en tre so ciedades d e ad vogados apenas, sendo im possível a associação en tre um a sociedade de advogados e sociedade com ou tro obje to (por exem plo, auditoria). Essa vedação é decorrência natural d a reg ra d o caput do art. 16, acima citado, estabelecendo que a sociedade de ad vogados não po d e pra ticar ativ idades estranhas à advocacia. N orm alm ente a associação entre escritórios de advocacia ocor re em razão da facilidade e conveniência de dois escritórios se u n irem para presta r um dete rm inado serviço para um cliente específico (num a licitação, por exemplo), ou, com o tam bém com freqüência vem ocorrendo, em razão das facilidades que a asso ciação p o d e lhes trazer no desenvolv im ento de todas as áreas de a tuação d o escritório. N ote que, nesse últim o caso, é im portan te que as sociedades definam com precisão com o se d ará a atuação d o s ad v o g ad o s n o atend im ento dos diversos clientes d as socie dades; isso p a ra que não se configure o conflito de interesses, p rev isto n o § 6" d o art. 15 d o Estatuto que dete rm ina que os só cios de u m a m esm a sociedade não p o d em rep resen ta r em juízo clientes d e interesses opostos^ '. Q uestão tam bém m uito in teressante e que tam bém se insere no bojo dessa d iscussão diz respeito à possib ilidade de um a so c iedade de ad v ogados partic ipar no capital social de outra. A p a r do s p rob lem as de conflito de interesses - em nossa opinião, u m do s p rincipa is problem as desse expediente a partic ipação Cf. Alfredo de Assis Gonçalves Neto, in S ociedãde... c it„ pp. 68, SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 2 3 d e um a sociedade de advogados no capital de outra não é possível, em prim eiro lugar, porque apenas advogados, pessoas naturais, p odem reimir-se em sociedade de advogados (caput, art. 15 do Es tatuto). Em segundo lugar, porque a participação de um a socieda de no capital de outra poderia ser considerada u m ato com carac terísticas m ercantis, o que, como já se deixou claro, não é adm iti d o n as soc iedades d e ad v o g ad o s {caput, art. 16 do Estatuto). Por essas e o u tras razões os advogados, m esm o sendo profis sionais liberais, devem constituir sociedade de acordo com o dis posto no Estatu to de 1994, e não consoante as regras d as socie d ad e s sim ples, tipo societário escolhido pelo legislador d o novo C ódigo Civil p ara a atuação dos dem ais profissionais liberais. Isso po rque , conform e restou am plam en te dem onstrado , a soci e d a d e d e ad v o g ad o s é considerada um tipo societário especial e, com o tal, deve ser regida por um a série de norm as que som en te a ela se aplicam. É o que se dem onstrará no próxim o tópico. 3.2. A sociedade de advogados como tipo especial de sociedade R etom ando p arte d o que até aqui foi exposto, observa-se que, pela sistem ática d o novo Código Civil, existem , de u m lado, re gras específicas para as sociedades em presárias, en tend idas em seu perfil subjetivo com o aquelas que têm n o em presário a p es soa q u e o rgan iza em torno de si todos os elem entos da em presa e, d e outro , as regras das sociedades sim ples destinadas, em p ri m eiro lugar, p ara a disciplina d as sociedades em que o titular não seja o em presário (como os profissionais liberais, po r exem plo) e, em segu n d o lugar, com o fonte de regras gerais suscetí veis de aplicação sup letiva às sociedades em presárias (confor m e p rev is to no artigo 1.053 do novo Código Civil). 24 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II A sociedade de advogados, portanto , po r expressa de te rm i nação do novo C ódigo Civil, não se sujeita às norm as das socie d ad es em presárias, situação que, em tese, a levaria a sujeitar-se às regras d as sociedades simples. O corre, en tre tan to , que as sociedades de ad v ogados são con s id erad as u m tipo societário especial, sujeitas a regras especiais, q u e som en te a elas se aplicam. Interessante destacar que o legis lado r do novo C ódigo Civil, atento à especificidade de certas sociedades, d e te rm inou , p o r m eio do parágra fo único do art. 9 8 3 ^ , que as sociedades que p o r suas características especiais d em a n d are m a constituição de um novo tipo societário não de verão reger-se, em absoluto, pelas regras d o novo C ódigo Civil, o q u e significa dizer, no caso das sociedades de advogados, que as d isposições especiais a elas aplicáveis dev e rão prevalecer q u an d o em confronto com as regras da sociedade simples. Assim , a sociedade de advogados se en quadra perfeitam ente na h ipó tese prev ista pelo parágrafo único d o artigo 983, um a vez que , p o r ser reg u lada p o r lei especial, deve ser constituída seg u n d o tipo societário específico. E com o tipo especial de soci ed ad e d everá reger-se, prim eiro, pelas regras de caráter especial q u e com põem sua disciplina, i.é. Estatuto da O rdem , R egula m en to G eral e Provim ento. Caso as disposições constantes d es sas leis especiais sejam om issas sobre dete rm inada m atéria , en tão aplicar-se-ão, apenas subsidiariam ente, as disposições que regu lam as sociedades sim ples no novo Código Civil. “ Artigo 983, A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1,092; a sociedade simples pode constituir-se de conlormidade com um desses tipos, e, não o fazendo subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágralo único. Ressalvam-se as disposiçõesconcernentes à sociedade em conta de partici pação e á cooperativa, bem com o as constantes de le is especiais que, para o exercício de certas a tividades, imponham a constitu ição da sociedade segundo determ inado tipo. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 2 5 Saliente-se qu e o regim e ado tado pelo novo Código Civil, em se tra tando de sociedades constantes de leis especiais, é o mais aconselhável. Isso po rque não há com o se p re te n d e r disciplinar um a sociedade especialíssim a - com o é o caso d as sociedades de ad v o g ad o s - utilizando-se apenas d as norm as de caráter geral d o no v o C ódigo Civil. Aqui já foi m encionado que a sociedade de ad v o g ad o s não só pode, com o deve ser reg ida p o r norm as especiais q u e im ponham u m regim e diferenciado, pois as ativi d ad es po r ela p ra ticadas possuem um a valoração social diversa d aque las a tiv idades pra ticadas pelas sociedades regu ladas pe los tipos gerais do novo Código Civil. N o en tan to , essa especialidade não im pede a subm issão das sociedades de advogados a certas regras e princíp ios d as socie d ad es sim ples, sem pre que as disposições especiais forem om is sas. Em verdade , com o tipo especial de sociedade, a sociedade de ad v o g ad o s deve, prim eiro , seguir as regras específicas que no rte iam sua disciplina e, posteriorm ente, observar, no que cou ber, as regras gerais aplicáveis às sociedades s im p le s ^ . A penas p a ra citar u m caso no qual as regras das sociedades sim ples de verão ser aplicadas, p o r falta de disciplina específica, d iz respei to à d issolução das sociedades. Com efeito, com o a legislação especial não regula a dissolução d as sociedades de advogados, pela lógica até aqui exposta, deverão ser aplicadas as norm as sobre dissolução constantes do novo Código Civil. À guisa de conclusão, portan to , verifica-se, com o regra geral, que as sociedades de advogados são reg idas pela legislação es pecial que lhe dá guarida . A penas em casos excepcionais, cuja m atéria não foi tratada pela legislação especial, deverão se ap li car as regras d as sociedades simples. Orlando Gomes, Parecer... , pág. 117. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 2 7 CAPÍTULO II REGISTRO DA SOCIEDADE DE ADVOGADOS Comentários aos artigos 16 do Estatuto e 38 a 43 do Regulamento Geral, bem como ao Provimento n ° 92/2000 Waldemar Soares de Lima Júnior Siii generis. C om o já havíam os nos m anifestado em data an te rior, a sociedade de advogados tem com o principal característi ca o fato de som ente p o d e r ser in tegrada p o r ad v ogados e para o exercício d a a tiv id ad e da advocacia. Assim , não p o d e rá dela p a r t i c ip a r p e s s o a n ão r e g u la rm e n te in s c r i ta em u m a d as Seccionais da O rd em dos A dvogados d o Brasil - OAB o u fazer p a rte de sociedade cujos fins sejam distin tos da advocacia. O b servam os que o Estatu to da Advocacia e da OAB, Lei n" 8.906/ 94, art. 16 e parágrafos, p rocurou , regu lam en tado pelo descrito no R egulam ento G eral do EAOAB, ver arts. 37 a 43, e P rovim en to n“ 92 do C onselho Federal da OAB, delim itar o alcance desta característica d as sociedades de advogados. Cabe, neste ponto, descrever o contido no art. 16 do Estatuto, visto que o contido no R egulam ento G eral da OAB e o inteiro teor do P rovim ento n" 92/2000 constam ao final de nossa explanação; "Lei u" 8.906/94 (ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB) SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II Art. 16. Não são adm itidas a registro, nem podem funci onar, as sociedades de advogados que apresentem forma ou características mercantis, que adotem denominação de fantasia, que realizem atividades estranhas à advoca cia, que incluam sócio não inscrito como advogado ou totalmente proibido de advogar. § 1" A razão social deve ter, obrigatoriamente, o nome de, pelo menos, um advogado responsável pela socieda de, podendo permanecer o de sócio falecido, desde que prevista tal possibilidade no ato constitutivo. § 2" O licenciamento do sócio para exercer atividade in compatível com a advocacia em caráter temporário deve ser averbado no registro da sociedade, não alterando sua constituição. § 3" É proibido o registro, nos cartórios de registro civil de pessoas jurídicas e nas juntas comerciais, de socieda de que inclua, entre outras finalidades, a atividade de advocacia." N ão ob stan te a ap a ren te clareza na delim itação d o ponto , p o d em o s concluir, analisando vários pronunciam entos acerca do assun to , no âm bito d o C onselho Federal da OAB, que até hoje p a ira m d ú v id as sobre o alcance dos d ispositivos enfocados. Pro curarem os, em u m prim eiro m om ento, nesse b reve com entário , afastá-las. T en d o em vista o objetivo de sistem atizar o o rdenam en to ju rídico, cabe enfatizar que o atual Código Civil, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, nos apresentou u m a realidade com o con dão de perm itir u m a com preensão m ais larga sobre o alcance das sociedades de advogados. A p a r dos diversos tipos de soci ed ad es q u e estabelece, tan to de índole civil com o comercial, ob servou o legislador, no Livro II, Título II, C apítu lo Único, arts. 982 e 983, particu la rm en te no parágrafo único deste, a situação d aque las sociedades regidas p o r um a legislação especial, com o é o caso d as sociedades d e advogados: SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 29 "Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se em presária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único............................ "Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se se gundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às norm as que são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernen tes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exer cício de certas atividades, im ponham a constituição da ' sociedade segundo determinado tipo." D esta form a, podem os v islum brar que as sociedades de ad vogad o s são reg idas p o r lei especial, Lei 8.906/94, e, p o rtan to, un icam ente a ela estão sujeitas, m otivo pelo qual, p o r não se confund irem com n en h u m a outra e nem estarem regu ladas por n en h u m dispositivo legal alheio ao seu conteúdo, com o antes esclarecido (som ente p o d em ser constitu ídas p o r advogados e p a ra o exercício d a advocacia), é que os seus atos não estão sujei tos a reg is tro p o r n en h u m o u tro órgão que n ão aquele as quais estão v inculadas: a OAB, visto que não são sociedades com erci ais o u civis típicas, cujas regras estão estabelecidas na lei civil. Hoje, com m aior clareza, poderem os afirm ar que as socieda des d e ad vogados não podem apresen tar form a o u característi cas m ercan tis ou ado ta r denom inação de fantasia ou realizar a ti v idades alheias à advocacia, razão pela qual não po d em adm itir em seus q u ad ro s sócios não inscritos na OAB ou to talm ente im p ed id o s d e advogar, tal o com ando exsurg ido do art. 16, caput, d o E statu to d a A dvocacia e da OAB. Portanto , p resen te à legis 3 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u r n e | | lação de regência especial dessas sociedades é que o registro de q u a lq u e r ato relacionado à sua constituição e desenvolvim ento , até final dissolução, deve ser feito peran te o Ó rgão do Conselho Seccional,base territorial cujos sócios tiverem os seus registros profissionais, e não, com o já p ensaram alguns, nos cartórios do reg istro civil ou nas jun tas comerciais. V isando o rien ta r o ad vogado sobre os requisitos m ín im os ind ispensáve is à constituição de um a sociedade d e advogados é nó s ap resen tam o s no livro SOCIEDADE DE ADVOGADOS, sob a coordenação do C onselheiro SERGIO FERRAZ, em capítulo específico, ao qual rem etem os o leitor, um a orientação nesse sen tido, pois com a elaboração de seus atos constitu tivos e o com peten te reg istro no ó rgão específico da OAB é q u e a sociedade passa rá a ter personalidade jurídica e p o derá efetivam ente de- senvolver-se, nos term os da lei. Surge dessa necessidade de registro dos atos constitu tivos e, a p a r tir daí, de qualquer ou tra m odificação ou alteração ocorri da na sociedade de advogados, a necessidade de que, em cada u m a dessas bases territoriais. Conselhos Seccionais, exista um ó rgão p ró p rio para o recebim ento, processam ento e a rqu iv am en to desses atos, p o d en d o presta r o assessoram ento necessário à p reservação de direitos. Esse órgão, com o ocorre em tod o s os setores da v ida com ercial e civil, não po d e ser confund ido ou ter atribuições d istin tas das d e registro d as sociedades de ad voga dos, ten d o em vista a im portância desses atos de registro em relação à verificação aos atos po r elas pra ticados, seja em re la ção às suas finalidades ou aos interesses de terceiros. A possib ilidade d a constituição de u m Ó rgão de Registro, em cada C onselho Seccional, decorre da in terpretação d a d a ao ex p ressam en te p rev isto n o art. 43 do R egulam ento G erai do Esta SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 31 tu to da A dvocacia e da OAB, c /c o d isposto no art. 5'' do Provi m en to n" 92/2000 do C onselho Federal: "Regulamento Geral da OAB Art. 43, O registro da sociedade de advogados observa os requisitos e procedimentos previstos em Provimen to do Conselho Federal. Provimento n" 92/2000 Art. 5". O registro de constituição das sociedades de ad vogados e o arquivamento de suas alterações contratuais devem ser feitos perante o Consellio Seccional da OAB em que forem inscritos seus membros, m ediante prévia deliberação do próprio Conselho ou de órgão a que de legar tais atribuições, na forma do respectivo Regimen to Interno/' Portanto , p o d erá haver, com com petência exclusiva delega da, u m órgão de deliberação sobre os atos de registro e altera ções con tra tua is em cada Conselho Seccional, ao qual caberia, no exercício da função delegada, o a rqu ivam ento dos registros deferidos, no que respeita à constituição, b em com o as altera ções e averbações dos atos ocorridos d u ran te a sua existência, tais com o, den tre ou tros que forem ju lgados convenientes em relação à sociedade e aos seus sócios ou que possam envolver d ireitos d e terceiros: a) a com unicação do falecimento de sócio com ponen te da sociedade, com a respectiva dem onstração; b) a saída de sócio da sociedade; c) os instrum entos de associação d a sociedade com ou tros profissionais d a advocacia ou sociedades de ad v o gados; 3 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II d) os requerim entos d e registro e autenticação de livros e d ocum entos necessários ao desenvolv im ento d as soci edades; e) a com unicação d e abertu ra de filial da sociedade em o u tra U n idade da Federação. R estou reafirm ado no P rovim ento n° 92/2000, em seu art. 8° e § 2®, a im portância da constituição de u m órgão, em cada C on selho Seccional, responsável pelos atos de registro, ao estabele cer que: "Provimento n° 92/2000 Art. 8°. O Setor de Registro das Sociedades de A dvoga dos de cada Conselho Seccional da OAB deve manter um sistema de anotação de todos os atos relativos às so ciedades de advogados que lhe incumba registrar, arqui var ou averbar, controlado por meio de livros ou fichas que lhe perm itam assegurar a veracidade dos lançamen tos que efetuar, bem como a eficiência na prestação de informações e sua publicidade. § 2°. O Conselho Seccional é obrigado a fornecer, a qual quer pessoa, com presteza e independentem ente de des pacho ou autorização, certidões contendo as informações que lhe forem solicitadas, com a indicação dos nomes de advogados que figurarem, por qualquer modo, nesses livros ou fichas de registro." Cabe inform ar, a p a r da necessidade que se p rocurou dem ons tra r d e u m ó rgão com atribuições específicas de registros dos atos d e constitu ição alteração e averbação da sociedade de a d vogados, q u e essa tarefa tende a possibilitar u m a fiscalização sobrem aneira eficiente sobre as sociedades constituídas, ev itan d o a n ão observância d as norm as que regem a espécie, pois este SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 3 3 servirá, inclusive, de referência à com preensão d a n a tu reza jurí dica d a s sociedades sobre as quais exerce as suas ativ idades de registro e ao a tend im ento ao disposto no P rovim ento n° 95/2002 d o C onselho Federal, que estabelece o necessário p ara o cadas tro das sociedades de advogados. T endo em vista as norm as de regência, com o antes salienta do em suas linhas gerais, o estabelecido no Estatuto d a A dvoca cia e da OAB, em seu R egulam ento Geral e no P rovim ento do C onselho Federai, ficam as sociedades de advogados, socieda des especiais, escorreitam ente re sguardadas em term os de re gistro de constituição, desenvolvim ento e térm ino d e sua exis tência, ev itan d o que as facu ldades p rivativas dos ad v ogados sejam deles sub tra ídas em detrim ento d e um a norm alização ci vil e comercial. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 3 5 CAPÍTULO III RESPONSABILIDADE DAS SOCIEDADES DE ADVOGADOS O s w a ld o N a v e s 1. introdução. 2. Da responsabilidade civil do advogado. 3. Da responsabilidade da sociedade, pessoal dos sócios, associa dos e empregados. 4. Da responsabilidade administrativa e é lico-discip linar da sociedade. 5, Do seguro de responsabili dade civil para a sociedade de advogados e sua abrangência. 1. Introdução O assun to sociedades d e advogados e a responsab ilidade por seus atos e om issões é assun to dos m ais interessantes. Sua análi se par te do Estatu to d a Advocacia, passa pelo R egulam ento Ge ral, P rov im ento n “ 92, C ódigo Civil, d e Processo Civil, Código d e Defesa d o C onsum idor e até m esm o pela Consolidação das Leis d o Trabalho. A análise feita neste capítu lo será b reve e objetiva, com enfo que p rá tico e sem pretensões de inovar, apenas reu n in d o o en ten d im en to m ais abalizado existente sobre a m atéria. O en tend im en to m ais acurado da responsab ilidade de advo gados é algo d e extrem a valia p ara os operadores do direito, em especial do s ad v ogados que p re tendem se ag ru p a r em socieda 3 6 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II d es de advogados, m as tam bém para os clientes, p o d e r judiciá rio o u com issões d e arb itragem que venham a analisar a im pró p ria p restação d o serviço d e advocacia. P artin d o d o es tu d o d a responsabilidade civil d o advogado , ana lisarem os m ais deta lhadam en te a responsab ilidade civil das sociedades d e advogados, seu disciplinam ento, distinção en tre os d iversos com ponentes da sociedade e espécies de atos p ra ti cados, responsab ilidade ético-disciplinar da sociedade e seguro d e responsab ilidade civil. 2. Da responsabilidade civil do advogado O rig inada no direitorom ano e contida n as O rdenações do R eino , a re s p o n sa b i l id a d e civ il d o a d v o g a d o é su b je tiv a e contratual peran te seus clientes. Existe, tam bém , a não-contratual, deco rren te da infringência da regra geral de não causar d ano a n inguém , sem falar na penal e adm inistra tiva pelos dan o s que causar aos seus clientes ou não, seja p o r dolo, culpa, ação ou om issão. A prev isão está contida nos arts. 17 e 32 d o Estatu to da A dvocacia e d a OAB (Lei 8.906/94), no art. 40 do R egulam ento Geral d o Estatu to da A dvocacia e da OAB, P rovim ento n° 92, no s arts. 186, 389,927 a 954 do Código Civil d e 2002 e no art. 14, § 4° c / c arts. 2° e 3° d o Código de Defesa d o C on su m id o r e m es m o n o art. 462 d a Consolidação d as Leis do Trabalho. P ara b em iniciarm os a análise da responsab ilidade do ad v o gad o é preciso n o ta r que a teoria ado tada p ara os profissionais liberais é a da responsab ilidade subjetiva, que dep en d e de culpa o u dolo, d iferen tem ente dos dem ais p restadores d e serviço, con form e esta tu ído no CDC, ao qual os advogados se subm etem neste particular. N a área contenciosa, devem os advogados utilizarem -se de SOCIEDADE DE ADVOGADOS Vokme I I todos OS m eios e recursos que en tender cabíveis e necessários na defesa d o d ire ito d o seu cliente. N ão se obrigam , po rém , pelo resu ltado , vez q u e não "decidem " a causa. Existem, porém , áreas de atuação da advocacia que, em prin cípio, são caracterizadas com o obrigações de resu ltado , com o na elaboração d e u m contra to ou de um a escritura, no qual o ad v o gad o com prom ete-se, em tese, a u ltim ar o r e s u lta d o '. Esta m atéria , porém , não é pacífica, e a obrigação de inden i zar deve ser ana lisada sob o prism a da necessidade de agir com perícia e diligência, escolhendo o m elhor rem édio processual e in terp retação legal, de form a que não sejam absu rd am en te con trárias à lei. A lém d a responsab ilidade contratual, p o d e responder o ad vo g ad o po r violar o dever de não causar dan o a alguém , como bem lem bra Sérgio Novais^, a q u em rem etem os o leitor que de seje u m a acu rad a análise do tema. O m estre Sílvio Venosa d iz que "É fora d e d ú v id a , porém , q u e a inab ilidade profissional evidente e pa ten te q u e ocasiona p re ju ízos ao cliente gera dever d e indenizar. O erro d o ad voga d o qu e d á m argem à indenização é aquele injustificável, e lem en tar p a ra o ad v o g ad o médio,.. A distinção obrigação de fins e d e m eios gera d iferentes efei tos q u an to à responsabilidade. A p rim eira gera o dev e r de inde n iza r p o r erros grosseiros na elaboração de pareceres, existindo n o caso a cu lpa m odalidades im perícia, im prudênc ia ou negli gência. N a segunda hipótese, o advogado deverá responder qu an do , p o r exem plo, p e rd e r u m prazo e com isto im p ed ir o cliente ' Sílvio de Sálvio Venosa, “Responsabilidade Civil” , em D ire ito C ivil. Atlas, 2003, p. 175. ^Sérgio Novais Dias, R e sp o n sa b ilid a d e C iv il d o A d vo g a d o na P erda de um a Chance. LTr, 1999, ^S ilv iodeS àlv io Venosa. ob. cit.. p, 176. Ò8 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II d e ter seu p ed id o reapreciado, o que a dou trin a e ju risprudência v êm cham ando de perda da chance, tendo Sérgio Novais'* desta cado a necessidade de utilizar-se o advogado de argum entos ju rí dicos que venham ao encontro do que deseja seu cliente, ainda que, pessoalm ente, com o jurista, filie-se a entendim ento distinto. N ão se po d e olvidar, a inda, a necessidade de g u a rd a r segre do dos fatos que tom ar ciência em razão da profissão®, obriga ção esta co m um em ou tros ramos. D escum prido o dever do sigi lo e ad v in d o d an o ao cliente, aparece a obrigação de responder civilm ente. A specto relevante para a m atéria da responsab ilidade civil do ad v o g ad o está contido no art. 14, § 4" d o CDC, que p revê a apu ração da cu lpa para se responsabilizar o profissional liberal, regra esta q u e se aplica à sociedade d e advogados pela natu reza específica d a pessoa jurídica. N o cam po das m ed id as adm inistrativas, p rev istas no CDC nos arts. 18 a 28, as m esm as não se aplicam aos advogados, d i an te d a com petência da OAB, p rev istas no art. 44 do EOAB, II, para "p rom over, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Fede ra tiva d o Brasil", lei posterior e especial. 3. Da responsabilidade da sociedade, pessoal dos sócios, associados e empregados O EOAB prevê, em seus arts. 15 a 17, a possib ilidade d e os 'S érg io Novais Dias, ob. cit. ® É 0 seguinte o teor do art. 7-. XIX, do EOAB: São direitos do advogado: XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autoriza do ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional;” SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II 3 9 ad v o g ad o s se reun irem em sociedades de advogados. De acor do com o C ódigo Civil de 2002, arts. 966, par. ún. e 982^, as soci ed a d es fo rm ad as p o r ad v o g ad o s são sociedades sim ples, em contraposição às em presárias, e a inda segu n d o o CC, art. 983, par. ú n / , as sociedades sim ples p o d em tom ar os tipos aos quais deve subm eter-se a em presária ou o constante em lei especial, com o é obrigatoriam ente o caso d as sociedades de advogados. A lei especial para o caso é o EOAB, e o tipo sociedade d e ad v o g ad o s v em defin ido em seus artigos 15 a 17, no R egulam ento G eral, art. 40, e no P rovim ento n" 92 do Conselho Federal, órgão m áxim o d a advocacia nacional. C om o sociedade de pessoas e de finalidades profissionais, com caráter especial, a sociedade d e advogados não se confundindo com as dem ais sociedades civis. N a visão do m estre Paulo Lôbo®, apo iad o nou tros d o u trinadores d e escol, a sociedade "desenvol ve ativ idades-m eio e não ativ idades-fim da advocacia. É en tida d e coletiva o rganizada, m eio e racionalização, p a ra perm itir a ® É 0 seguinte o teor do art. 966 e 982 do CC: “Art. 966, Considera-se empresário quem exerce protissionalmente atividade econômica orga nizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza cientifica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” “Arf. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto 0 exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e simples, as demais....” ' Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não 0 tazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes á sociedade em conta de partici pação e á cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercido de certas atividades, imponfiam a constituição da sociedade segundo determinado tipo," *Paulo Luiz Netto LÔbo, C om e n tá r io s a o N ovo E sta tu to d a A d vo ca c ia e da O AB. Brasília Jurídi ca. p. 76. 40 SOCIEDADE DEM3V0GAD0S Volume II a tiv idade associativade profissionais, que d istribuem e com par tilham tarefas, receitas e despesas, q u an d o atingem u m nível de com plexidade que u ltrapassa a atuação individual, m esm o q u an d o agregada. D iferen tem ente d as dem ais sociedades de serviços, a finali d a d e d a s sociedades de advogados, com o lem bram H addock Lobo e C osta N eto , é de regular e d isciplinar relações recíprocas en tre advogados, n o que pertine fundam en ta lm en te a v ida a d m in istra tiva e financeira do grupo , ou, com o disse O rlando G o m es p o r eles citado, "a rem uneração dos resu ltados obtidos com a rem uneração d o trabalho dos advogados e disciplina d o expe d ien te d o escritório” . F irm ado o contra to de prestação d e serviço en tre o advogado e cliente, na h ipó tese de dano o advogado responde com base nos arts. 186, 389 e seguintes do CC, além da responsabilidade solidária da sociedade que integra na qualidade de sócio, em p re g a d o ou associado. N a hipótese do contra to de p restação de serviço ser firm ado en tre sociedade de advogados, A lfredo G on çalves preleciona: "se o cliente celebrou contrato de prestação d e serviços com sociedade de advogados, pela qual ela assum iu a obrigação d e prestá-los p o r m eio dos advogados d e seu q u a d ro , re sp o n d e ela, d iretam ente, p o r descum prim ento dessa p ro m essa d e fa to d e terceiro (art. 929 d o Código Civil de 1916; arts. 439 e 440 do novo Código)"*^. O art. 15, § 3° do EOAB"^ estabelece que ao se contra tar ad v o gados sócios, associados ou em pregados de um a sociedade, deve ® Alfredo de Assis Gonçalves Neto, Sociedades c/e A dvog ados . 2. ed. Juarez de Oliveira, p. 44, Dicção do art. 15, § 3 - do EOAB; “As procurações devem ser outorgadas individualmente aos advogados e indicar a sociedade de que façam parte” . SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 4 2 constar n a p rocuração o nom e d a sociedade q u e integram . Im porta destacar as d u as ordens de responsab ilidade civil às quais a sociedade d e advogados está subm etida: a p rim eira d e corren te d e atos e om issões no exercício da profissão pelos a d vogad o s q u e a in tegram ; a segunda em razão dos seus atos como pessoa jurídica, e nesta respondem subsidiária e ilim itadam ente os sócios, vez que ao caso se aplicam as regras com uns às socie dades, p rev istas nos arts. 1.023 e seguintes do CC e 748 do CPC. T em a com a lgum a controvérsia, o art. 17 d o EOAB prevê que, "A lém d a sociedade, o sócio responde subsid iária e ilim itada m en te pelos danos causados aos clientes p o r ação o u om issão no exercício da advocacia, sem prejuízo da responsab ilidade disci p lin a r em q u e possa incorrer"'. À in terpretação de que apenas o sócio causador do d an o responde estão filiados Sérgio N ovais e A ssis Gonçalves, com am paro nos arts. 265” , que em conjunto com os arts. 990, 1.039,1.045, todos d o CC, explicitam que deve ser expressa a solidariedade. Este destaque é im portan te devido à in te rp re tação ex isten te’^, com base no P rov im ento n '’ 92, da re sponsab ilidade n ão se ater ao sócio causador, m as a todos os sócios, en ten d im en to de P aulo Lôbo. A insubsistência deste en tend im en to , d a ta vênia, aflora p o r sua contraposição ao texto legal que visa regular, pois u ltrapassa a com petência colocada n o art. 54, V e XVIII d o EOAB, q u an d o am plia prev isão de res p o nsab ilidade civil não existente na lei regu lada, p ad ecendo de vício m aterial, d ian te da necessidade d e prev isão da solidarie d ad e nos term os que d ispõe através de lei federal. " 0 que diz o art. 265 do CC: “A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes” . 0 ilustríssimo Paulo Lôbo entende ser solidária e ilimitada a responsabilidade de todos os sócios, ob. cit. Aliredo de Assis Gonçalves Neto, ob. cit. 4 2 SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II A lfredo de Assis’-* lem bra que no contrato social poderão os sócios p rev er a responsabilidade solidária, ou m esm o a lim ita ção até certo valor para algum sócio. A segunda hipótese não terá eficácia em relação a terceiros. Porém , q u an d o a sociedade responde p o r atos ou om issões cu lposas o u dolosas em detrim ento dos clientes, todos os sócios, p ro p o rc io n a lm en te a sua partic ipação societária, acabam por arcar com a reparação do dano. Sem em bargo, p o d erão se res sarcir jun to ao sócio, associado ou advogado em pregado causa d o r via ação regressiva, vez que não partic iparam do a to /o m is são d an o so /cu lp o so . N a h ipótese ind icada no art. 990 d o CC, sociedade d e fato, se estabelece a responsab ilidade ilim itada e solidária de todos os sócios, associados e advogados em pregados pelos d anos causa dos aos clientes, incid indo a regra geral p ara sociedades que não estão form alm ente constituídas. N a linha de en tend im ento d a so lidariedade expressa em lei ou contra to , contida no art. 265 do CC, p o derá ser pac tuado no contra to d e prestação de serviço que todos os sócios são so lida riam ente responsáveis, prevalecendo, no caso d e existir apenas in s tru m en to de procuração, sem contrato escrito, a responsabili d a d e apenas d a sociedade e do sócio causador do dano. N ão se deve, entre tanto , o lvidar a necessária p roteção ao cli ente, d e resto base da confiança em toda a classe dos advogados. N os casos em que não seja possível identificar o responsável, com o b em lem bra Sérgio N ovais, o cliente terá a opção de acio n a r todos q u e constem na publicação ou procuração, ou alguns deles, m an tid a a possib ilidade de ação regressiva, com o exposto acima, com base na divisão in terna d o serviço. A paren te antinom ia surge en tre as norm as contidas no art. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 4 3 14, § 4° do CDC e a existência d e p ersonalidade jurídica, que faria a sociedade de advogados se subm eter, para verificação da responsab ilidade civil, à teoria da responsabilidade objetiva. A análise u m pouco m ais detida faz sup era r a aparen te con trad i ção pela constatação de que a pessoalidade intrínseca ao traba lho do advogado , m esm o in tegrante de es tru tu ra presen te em g ran d es bancas, em regra com grande nú m ero de sócios, associ ados e em p reg ad o s advogados, não se configura em elem ento d e em presa , não fazendo sentido, nu m a sociedade de pessoas e d e finalidades profissionais a aplicação de regra d istin ta da que regu la seus in tegrantes, m esm o na qualid ad e d e em pregados, na h ipó tese de d anos a clientes, sendo sem pre subjetiva. Desta m a n e ir a e n te n d e m o p ro fe s s o r S érg io N o v a is '^ e A n tôn io L in d b erg h C. M o n tenegro ’^ p rev en d o este ú ltim o um a única p o ssib ilidade p ara a responsabilidade objetiva, a de falta não im p u ta d a pessoa lm ente ao profissional liberal. N o q u e d iz respeito à responsabilidade civil p o r atos não p r i vativos da advocacia, o art. 1.023 e seguintes do CC, em conjun to com o art. 748 d o CPC, d iscip linam a m atéria , sen d o re sp o n sáveis subsid iária e ilim itadam ente os sócios na p roporção da partic ipação no capital social ou, d ispondo o contrato , subsidia- riam en te à sociedade e solidária en tre os sócios. 4. Da responsabilidade administrativa e ético-discipiinar da sociedade N este capítu lo já m encionam os a não-subm issâo dos ad v o gados ou d as sociedades de advogados às sanções adm in istra ti vas do CDC, poisa OAB trata da m atéria com exclusiv idade nos "S e rg io Ferraz, ob. cit. Aritônio Lindbergh C. Monlenegro, Ressarcimento de D anos. Lumen Juris, 5. ed,. 1998. 44 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II arts. 34 a 44 d o seu Estatuto. Por estas regras d o EOAB, quando a sociedade com ete infração, a sua punição se dá via sócio-ge- ren te que pra ticou o ato agindo pela sociedade, sem pre deste ou d e todos os sócios que participarem d o ato infrator, p o r entender- se que a sociedade não po d e pra ticar infração ético-disciplinar. 5. Do seguro de responsabilidade civil das sociedades de advogado e sua abrangência O seguro d e responsabilidade civil profissional de socieda d es d e ad v o g ad o s foi criado no Brasil em 1994, desenvolv ido e exclusivo pa ra os associados do C entro de E studos d as Socieda des d e A dvo g ad o s (CESA) até o ano de 2001, sendo m entores os Drs. L uiz R oberto N ovaes e o corretor F ernando Coelho, sob a liderança do Dr. O rlando Giácomo, presiden te do CESA. Inicial m ente com três bancas contratantes, hoje m ais de oitenta escri tórios contam com o seguro, em constante evolução. O objetivo do seguro de responsabilidade civil é garan tir a p ro teção d o cliente e d a sociedade de advogados, sendo obriga tó ria sua contra tação em países com o a Inglaterra, A lem anha e Á ustria. N a E spanha ocorre a contratação de cobertura pelo Co légio de A dvogados, que oferece um seguro a todos os seus as sociados pessoas físicas, sem elhante ao m odelo p roposto ao C on selho Federal d a OAB, no qual tram ita processo sobre o assunto. N os Estados U nidos, em bora não obrigatória , na m aioria dos estados existe a obrigação dos advogados d ivu lgarem a seus cli entes se p o ssuem o u não a apólice. A firm a o Dr. F ernando Coelho, fo rm ulador da apólice ju n ta m en te com o CESA, que na Inglaterra a sociedade de advogados deve co n tra ta r no m ercado aberto e, caso não consiga, d eve re correr a u m pool de seguradoras po r u m p eríodo m áxim o de dois SOOeOADE DE AAVOGA.DOS Volume 4 5 anos a té ser aceito novam en te nas corretoras hab ilitadas pelo The Law Society . U ltra p a s sa d o esse p ra z o sem ace itação de con tra tação n o m ercado aberto, dá ensejo à liqu idação com pul sória d a sociedade de advogados. Por certo o n ú m ero de ações contra ad v ogados ou sociedades d e ad vogados não é ainda expressivo, m as a apólice de respon sab ilidade civil já serviu de apoio a escritórios que se v iram na situação d e resp o n d er pela im própria prestação do serviço como, p o r exem plo, no caso da não-assinatura de recurso para T ribu nal Superior, m as poderia ser tam bém a p e rd a de u m prazo , a tu ação com desconhecim ento d e texto legal v igente e ou tras s itua ções de cu lpa configurada pelo não-cum prim ento da obrigação de m eios, com o visto acima. A apólice do CESA abrange ad v ogados sócios, associados, ad v o g ad o s em pregados, estagiários e dem ais funcionários en q u an to ag indo em suas respectivas funções e com petências, co b rin d o tam bém indenizações p o r dan o m oral, p o r perda , extra vio, roubo ou furto de docum entos de clientes em posse do se g u rad o p ara trabalhos. D entre os riscos excluídos po d em o s citar os atos dolosos e quebra do sigilo profissional e a perda , extra vio, ro ubo o u fu rto de d inheiro e / o u docum entos de crédito. D entre as inovações recentes da apólice d e seguro do CESA está um a cláusula que cobra a indenização d o d ano pun itivo ou exem plar, algo existente em países com o os Estados U nidos, d en tre outros, m as que atende à necessidade de um a apólice global. É objetivo d o seguro de responsab ilidade civil, en tre outros, ev itar ações judiciais en tre clientes de sociedades d e advogados, algo que teria im plicações n ão só éticas, m as v iria ao encontro m esm o a u m a ráp id a reparação ao cliente d o escritório, d a í p o r q u e já consta d a apólice de seguro a possib ilidade de recorrer à 4 6 SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II m ediação e à arb itragem para solução dos casos em ergentes, re correndo-se às C âm aras ligadas ao Conselho d as Instituições de M ediação e A rb itragem m ais a C âm ara da F undação Getúlio V argas de SP (CONIMA). M erece atenção a correta utilização do seguro existente, evi tan d o a utilização p o r clientes d e má-fé ten tando encobrir erros seus a través d o profissional da advocacia, causando danos p o r vezes irreversíveis para a reputação do advogado. SOOEOAOE DE ADVOGADOS V o l u m e i l 4 7 CAPÍTULO IV CONTRATOS DE ASSOCIAÇÃO Com entários ao artigo 39 do Regulam ento G eral do Estatuto da Advocacia e da OAB Manoel Antonio de Oliveira Yranco Kicarào Miner Navarro Gabriel Placha 1. Introdução N estes tem pos em que a advocacia exercida ind iv idualm ente deixa d e ser a reg ra p a ra tornar-se a exceção, d an d o lu g a r às g ran d es b ancas de advocacia com postas d e dezenas ou até cen tenas d e advogados, com filiais p o r todo o país, o institu to da associação en tre sociedades o u en tre estas e ad v ogados au tôno m os é cada vez m ais com um . A advocacia m o derna exige do profissional alto g rau de es pecialização, to rn an d o p ra ticam en te im possível ao ad vogado a tender, ind iv idua lm ente , a todos os interesses de seus clientes, em todas as áreas do direito , com qualidade e com petência. O u tro obstáculo enfren tado pelos ad v ogados a tua lm en te é que, com o acúm ulo de audiências, p razos, reuniões, estudos e pesquisas, todas as ho ras do dia são insuficientes p a ra o esgota m ento da agenda. A lém disso, os altos custos de instalação e m anu tenção de u m escritório com em pregados com petentes, m odern o s equ ipa 48 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II m entos d e telefonia e inform ática, biblioteca a tua lizada e outros, to rna a advocacia "artesanal" p ra ticam ente inviável. A colaboração recíproca en tre profissionais e sociedades, em q ue se p a rtilh am responsabilidades e resultados, tem sido a so lução en co n trad a p ara a m elhor organização d a a tiv idade da advocacia. 2. Associação e sociedade - diferenças im p o rtan te , d esde já, apon ta r as principais diferenças entre associação e sociedade’ . A sociedade é u m a en tidade complexa, com personalidade juríd ica d istin ta de seus m em bros, patrim ônio p ró p rio e razão social, o q u e lhe perm ite pra ticar atos de adm inistração em seu p ró p rio nom e^. Essencial a presença da affectio societatis, v o n ta de de subm eter-se ao regim e societário. A von tade social deve prevalecer. ’ Para Paulo Luiz Netto Lóbo “0 regulamento geral introduziu a disciplina de um tipo intermedi ário entre o sócio da sociedade e o advogado empregado. É o advogado associado, muito co mum nos costumes dos escritórios de advocacia brasileiros” (LÔBO, Paulo Luiz Netto, C o m e n tá r ios a o E s ta tu to da A d vo ca c ia e da OAB. 3. ed. São Paulo; Saraiva, 2002. p. 114), 2 A sociedade de advogados somente pratica atos de administração. A advocacia, por imposi ção legal, somente pode ser exercida por pessoas naturais. Assis Gonçalves esclarece que “Pode parecer, à primeira vista que a sociedade de advogados é constituída para exercer a advocacia - o que não é verdade, pois, sendo a atividade de advocacia privativa de advogado, certamente essa sociedade não tem por fim exercê-la, mas, permitir ou facilitar a 'colaboração reciproca’ entre si dos sócíos-advogadose dos demais advogados a ela vinculados, ‘para a disciplina do expediente e dos resultados patrimoniais auferidos na prestação dos serviços’ por eles individualmente realizados para os clientes, como enunciava o art. 77, caput, da Lei n® 4.215, de 1963" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. S o c ieda de d e A dvog ados . 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 10/11). 0 tema é bem definido no art. 4- do Provimento n- 92/ 2000 do Conselho Federal da OAB: A ri. 4 ^ - A s so c ie d a d e s d e ad vogados, n o e xe rc íc io d e sua s a tiv id a d e s , so rrien te p o d e m p ra t ic a r os a to s ind isp ensáve is às sua s fina lid ades, a s s im c o m p re en d idos, d e n tre ou iro s . o s d e sua ad m in is tra çã o regular, a ce le b ra çã o d e co n tra to s e m g e ra l p a ra re p rese n taçã o , con su lto ria , asse sso ria e de fesa de c lie n te s p o r in te rm é d io d e a d vogad os d e s e u s qu adro s. P a rá g ra fo ún ico. O s a to s p r iva tivo s de a d vo g a d o d e ve m s e r exe rc id o s pe lo s sóc ios o u p o r a d vogad os vincu lados à sociedade, com o associados ou co m o em pregados, m esm o q u e o s re su lta d o s re ve rta m pa ra o p a tr im ô n io socia l. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 4 9 }á a associação é apenas a aproxim ação de interesses com uns. N ão existe p e rsonalidade jurídica d istin ta d e seus m em bros. A in d ependência é a sua m aior característica^. É u m contra to civil, regido, portan to , pelo Código Civil e pelas norm as especiais que lhe são aplicáveis'’ . 3. Previsão legal O contra to de associação po d e ser firm ado en tre advogados au tônom os, en tre sociedades de advogados ou, ainda, en tre so c iedades e advogados. O contrato de associação firm ado entre ad v o g ad o s au tônom os é m ais raro e não causa m aior polêmica. O contrato de associação entre sociedades será abordado adiante. Já o con tra to d e associação entre ad vogado au tô n o m o e soci ed ad e de ad v o g ad o s m erece m elhor atenção. C om a prolifera ção d as sociedades de advogados a partir d as décadas de 80 e 90, este tipo de contrato tornou-se corriqueiro, causando, para alguns, a falsa im pressão de que se tratava de um a b u rla ao con tra to de trabalho. V isando dem onstra r a legalidade d o institu to , esta m odali d a d e de contra to de associação foi no rm atizada pelo Regulam en to G eral d a A dvocacia e da OAB que, em seu artigo 39, dispõe: "Art. 39 - A sociedade de advogados pode associar-se com advogados, sem vínculo de emprego, para partici pação nos resultados. ^Segundo Gisela Gondin Ramos, "A finalidade é de ordem prática. Por este meio, permite-se que a sociedade estabeleça uma relação profissional com advogados nas várias especialidades da atividade da advocacia, sem que haja necessidade de incluí-los como sócios. (RAMOS, Gisela Gondin. E sta tu to da A d vo ca c ia - C om e n tá rios e Ju r isp ru d ê n c ia S e lec ion ada . Florianó polis: OAB/SC, Editora, 2® ed„ 1999, p. 225.) ‘ Destaca-se que o contrato de associação deverá obedecer aos princípios da t)oa-fé objetiva e da lunção social do contrato (artigos 421 e 422 do Código Civil Brasileiro). 5 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume I I Parágrafo único. Os contratos referidos neste artigo são averbados no registro da sociedade de advogados"’ . A norm atização não criou o instituto, apenas p rev iu a possi b ilidade d e sua utilização. O Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei 8.906, d e 4 de ju lho de 1994) é ex trem am ente rígido, p ro i b indo , expressam ente , a "m ercantilizaçâo" da advocacia. A so c iedade de advogados, com o vim os, é adm itida apenas como ins tru m en to de facilitação do exercício d a advocacia pelos seus co m ponen tes ou ad v o g ad o s v inculados. Assim , se em algum m om ento , talvez tenha su rg ido d ú v ida quan to à legalidade d es te tipo d e associação, o R egulam ento Geral acabou com qual quer d ú v id a^ . 4. Forma e conteúdo A norm a d o artigo 39 d o R egulam ento G eral apenas estabe lece q u e o contra to deve ser averbado no registro da sociedade, e a d o § T , do artigo 6" do P rovim ento n® 92/2000, que os contra tos de associação deverão ser ap resen tados para averbação em três vias. Logo, os contra tos d e associação en tre sociedade d e ad voga d o s e ad v o g ad o s au tônom os devem ser obrigatoriam ente escri tos e lav rados, ao m enos, em três vias. N o mais, a form a é livre. Pode ser p o r escritura pública ou p o r in strum en to particular, e seu con teúdo é livrem ente pac tuado en tre as partes, d e acordo ^0 Provimento n- 92/2000 do Conselho Federal trata brevemente no parágrafo segundo do seu artigo 6- sobre a averbação do contrato de associação. ® Assis Gonçalves explica que “Não padece a regra regulamentar de qualquer vicio de ilegalida de, porque não está a criar nova figura jurídica, mas simplesmente a contemplar uma possibili dade concreta, dentre as várias possiveis, de contratação de serviços de advocacia pela socie dade. Ou seja, com ou sem a norma regulamentar, nada impediria que a sociedade de advoga dos celebrasse contratos de associação com advogados autônomos” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. c it„ p. 59). SOCIEDADE DE ADVOGAMS V o l u m e I I 51 com os seus interesses, recom endando-se, en tre tan to , que nele sejam d ispostas todas as condições d o pacto^. C abe ressaltar que cada Conselho Seccional poderá , através do órgão responsável pela averbação, regu lam entar m in im am en te a form a e o conteúdo dos contratos de associação apresen ta dos, v isando estabelecer u m p adrão m ínim o que a tenda às ne cessidades organizacionais d o p róprio órgão, com o microfilma- g e m /d ig i ta l iz a ç ã o , encadernação , a rm a zen am en to , controle , d en tre ou tros^ . A lém disso, p a ra cada ad vogado associado, d e verá ser ap resen tado u m contrato em separado , sendo v ed ad a a ap resen tação de contratação coletiva. 5. Averbação A averbação do contrato de associação é feita junto ao registro da sociedade de advogados, m ediante requerim ento dirigido ao Presidente do Conselho Seccional. O contrato deverá ser apresen tado em três vias, sendo que um a ficará arquivada no Conselho Seccional e as outras d u as serão devolvidas para as partes. Im portan te ressaltar que o advogado associado deverá ter, obrigatoriam ente, inscrição no Conselho Seccional on d e será feito 0 registro. D everão ser observadas, ainda, as norm as im postas pelo C on selho Seccional e pagos os preços devidos. ■ Para Assis Gonçalves “esse contrato deve ser detalhado na determinação, não só (i) dos vincules dele decorrentes, como (ii) das atividades contratadas, (iii) das responsabilidades as sumidas, tanto pelo advogado associado como pela sociedade, (iv) a forma, cálculo ou critério de remuneração, (v) da oportunidade de pagamento etc. Enfim, devem ser estabelecidas 'todas as cláusulas que irão reger as relações e condições da associação estabelecida pelas partes’" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit., p. 61). ® É 0 caso, por exemplo, do Conselho Seccional do Paraná, que, através de sua Comissão de Sociedade de Advogados, editou a Instrução Normativa n® 01/2002, que trata, entre outros as suntos, da forma e do conteúdo mínimo dos contratos de associação. 52 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II Para Assis Gonçalves, o não-cum prim ento da fo rm alidade da averbação n ão invalida o ato, m as ocasiona infração disciplinar'^. É im p o rtan te a averbação dos pactos d e associação no Conse lho Seccional p ara que este tenhao controle d as relações en tre p rofissionais e sociedades, não p erm itindo que u m advogado associe-se a m ais de um a sociedade ou, sendo sócio de um a soci edade , associe-se a o u tra" '. 6. Responsabilidade do advogado associado O tem a d a responsabilidade é assun to do C apítu lo III desta obra. N o en tan to , cabe aqui fazer a lgum as considerações. O artigo 40 d o R egulam ento G eral estabelece que: "Art. 40 - Os advogados sócios e os associados respon dem subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados diretamente ao cliente, nas hipóteses de dolo ou culpa e por ação ou omissão, no exercício dos atos privativos da advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer." * “A ausência deste último pressuposto, no entanto, não prejudica a conclusão antes exposta, pois a função da averbação é a de dar publicidade ao pacto (para que a clientela possa conhe cer a extensão dos vínculos da associação e suas implicações relativamente aos seus interes ses e para controle da OAB), não sendo possiveS atribuir-lhe natureza constitutiva. Em outras palavras, o descumprimento dessa exigência não invalida o ajuste, podendo a omissão ocasio nar, porém, infração disciplinar, passível de advertência ou censura” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. c it.,p . 61), Assis Gonçalves ensina que “por interpretação extensiva do art, 15, § 4- do Estatuto, o advo gado não se pode associar a mais de uma sociedade de advogados nem ser sócio de uma e se associar a outra dentre as registradas no mesmo Conselho Seccional" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit,, p. 62). No mesmo sentido, Gisela Gondin Ramos afirma que “0 cerne do problema, aqui, está em definir se o advogado associado integra ou não a sociedade à qual se associa, frente à restrição consignada no parágrafo quarto do art, 15 do Estatuto. Após aná lise da questão, concluímos, d a ta ven ia , que o contrato de associação, efetivamente, tem o condão de tornar o advogado associado elemento Integrante da sociedade, o que se evidencia pela redação do art. 40 do Regulamento Geral, que ao mesmo faz referência expressa. Desta tonna entendemos que a associação, nestes termos, não è possível” {RAMOS, Gisela Gondin, Ob. cit., p. 225). SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 5 3 O artigo trata apenas da responsabilidade pelos danos cau sados diretamente ao cliente, não abrangendo a responsabili d ad e social, ou seja, não responde o ad vogado associado pelas obrigações assum idas pela sociedade" . A responsab ilidade civil p o r danos causados ao cliente, é, de acordo com o artigo citado, subsidiária. N o en tan to , A lfredo de Assis G onçalves N eto d iscorda da possib ilidade d a caracteriza ção d e responsabilidade subsidiária do advogado associado por atos p o r si praticados, entendendo, neste caso, ser a responsabili d ad e solidária'^, posição que encontra os m elhores argum entos. A responsab ilidade disciplinar, p o r óbvio, som ente po d e ser a tribu ída ao ad vogado ou advogados que com eteram a infra ção, seja p o r ação ou omissão. N o caso concreto, deverá ser a p u rada a extensão do envolvim ento de cada ad v o g ad o '^ . " Para Paulo Luiz Netto Lôbo “(0 associado) Pode utilizar as instalações da sociedade, mas não assume qualquer responsabilidade social" (LÔBO, Paulo Luiz Netto, Ob, cit,, p. 114). Neste sentido, Assis Gonçalves: “0 advogado associado, não sendo sócio, não responde pelas obri gações assumidas pela sociedade, nem mesmo em caráter subsidiário" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit., p. 62). “Reafirmo essas conclusões apesar de o art. 40 do Regulamento Geral falar em responsabi lidade subsidiária do advogado associado, pois não vejo como caracterizá-la. É que, (i) ou bem 0 advogado associado agiu ou deixou de agir causando o dano, por culpa ou dolo a si imputá- veis e sua responsabilidade é pessoal e direta (art. 32 do EAOAB), (ii) ou bem nada fez e quem agiu ou deixou de agir foi outro advogado, integrante da sociedade. Nessa última hipótese, não fiá norma legal que atribua qualquer responsabilidade ao advogado associado - rectius, ao advogado não sócio - por conta de atos de outro advogado que atuou pela sociedade associa da. Já na primeira hipótese, não pode o pacto associativo ser empecilho para que o cliente aja diretamente contra o advogado que o prejudicou; a seu turno, a sociedade, em razão do contrato de associação 'para participação nos resultados’, vincula-se ao cliente em caráter solidário, por força dessa convenção que atribui a ambos o proveito patrimonial da atuação associada” (GON ÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit., p. 62). Para Assis Gonçalves, “A responsabilidade por infrações ético-disciplinares é dos advogados que as tenham cometido, ainda que atuem sob o manto de uma sociedade de advogados. Em outras palavras, se um advogado vinculado à sociedade por laços societários, trabalhistas ou associativos, comete alguma infração disciplinar no exercido da advocacia, é ele quem deve responder ao processo disciplinar; não o é a sociedade nem os demais advogados integrantes do seu quadro, A falta cometida por um não contamina o conjunto nem os indivíduos desse conjunto, singularmente considerados" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob, cit., p. 51). 54 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 7. Aspectos tributários A dvogado associado é advogado au tônom o, p o r isso, deve cu m p rir com as obrigações tributárias incidentes sobre sua ati v idade. O contra to d e associação deve d ispor sobre a form a de rem u neração. Se o ad v o g ad o associado receber seus honorários d ire tam ente d o cliente, a sociedade nada tem a fazer em relação àque le m on tan te recebido pelo advogado. Por ou tro lado, se os hono rários forem pagos pelo cliente à sociedade, p ara som ente d e pois ser repassada a parte que couber ao ad vogado associado, deverá, a sociedade, observar todas as im plicações tributárias decorren tes desta o p e ra ç ã o " . O ad v o g ad o associado, a seu turno , não terá n en h u m a res ponsab ilidade pelos tributos dev idos pela sociedade, da m esm a form a com o não tem p or n enhum a outra obrigação social, com o visto acima. 8. Aspectos trabalhistas Já m encionam os que o contrato d e associação en tre socieda d e d e ad v o g a d o s e ad v o g ad o s au tô n o m o s não é u m a form a d isfarçada d e contra to d e trabalho. P ara q u e seja caracterizada a relação d e em prego é preciso q u e estejam presentes todos os requisitos d o art. 3°, da C onsoli dação das Leis do Trabalho: (I) onerosidade; (II) não-eventuali- dade; (III) pessoalidade; e (IV) subordinação. A subord inação é o elem ento chave da relação aqui estuda- " Assis Gonçalves lembra que “Muitas sociedades de advogados lém preferido que o advogado a elas associado constitua outra sociedade de advogados a fim de que os pagamentos a ele efetuados não sejam onerados com tributação mais gravosa (percentual bem mais elevado de retenção de imposto de renda na ionle e contribuição previdenciària incidente sobre o valor pago ao autônomo)" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis, Ob. cit., p. 68). SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 5 5 da. Pois não há subord inação entre o ad vogado associado e a sociedade d e advogados, logo não há relação de em prego '^ , mas tão-som ente um a relação de trabalho. O p ró p r io artigo 40 do R egulam ento Geral não deixa dúv ida ao defin ir q u e "A sociedade de advogados pode nssociar-sc com advo gados, sem v ín c u lo de em prego, para participação nos resultados". O R egulam ento Geral, saliente-se, não confronta com a legisla ção trabalhista, pois se trata de um a forma de prestaçãode servi ços do advogado associado para com a sociedade de advogados, na qual perm anecem garantidos os direitos fundam entais. O q u e caracteriza a relação en tre a sociedade d e advogados e o ad v o g ad o associado é a conveniência. N em o ad v o g ad o au tô nom o, nem a sociedade de advogados firm arão u m pacto cujos term os não lhes sejam convenientes'^. 9. Sociedades associadas A associação en tre sociedades de advogados foi expressam en te adm itid a pelo P rovim ento n" 92/2000 do C onselho Federal*^. Paulo Luiz Netto Lõbo afirma que “0 advogado associado não estabelece qualquer vínculo de subordinação ou de relação de emprego com a sociedade ou com os sócios dela" (LÕBO, Paulo Luiz Netto. Ob. cit., p. 114). No mesmo sentido, Assis Gonçalves esclarece que “Mesmo traba lhando sob 0 mesmo teto e usufruindo a estrutura organizacional da sociedade de advogados, o advogado associado mantém sua independência. Não se subordina às ordens e determinações dos administradores da sociedade, não recebe salário e seu vinculo é relativo aos casos ou trabalhos que são confiados à sua execução (pareceres, elaboração de peças processuais, atendimento a determinado cliente, fornecimento de consultas etc). A sociedade não interfere minimamente em sua atuação, trabalhando ele segundo seu modo de agir e sua convicção". (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. Cit., p, 60). Gisela Gondin Ramos ensina que “0 objetivo da norma, esclareça-se, não é permitir a contratação de advogados, isentando a sociedade do vínculo empregatício dai conseqüente . 0 caso em tela é distinto. Trata, exclusivamente, daquelas situações em que interessa, tanto à sociedade, quanto ao advogado, unirem-se para a prestação de determinados serviços profissi onais, em geral, mas não necessariamente, limitados pela especialização técnica do associado” (RAMOS, Gisela Gondin. Ob. cit., p. 225). A letra “d" do artigo 6- do Provimento n- 92/2000 do Conselho Federal dispõe que serão averbados à margem do registro da sociedade "os a ju s te s de a s s o c ia ç ã o o u d e co la b o ra çã o 5 6 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II O bserve que som ente é possível a associação en tre socieda des d e advogados, não se adm itindo a associação de um a socie d a d e d e ad v o g ad o s e u m a sociedade de objeto diverso'®. O u tro aspecto in teressante é que a associação não p o d e ser co n d u z id a de form a que u m a sociedade passe a ser sócia d a ou tra, pois, vale lem brar, som ente pessoas na tu ra is p o d em consti tu ir sociedades de ad v ogados ’^ . Q uan to à form a, conteúdo e registro, os contra tos de associa ção en tre sociedades d e advogados obedecem às m esm as n o r m as im postas às associações en tre sociedade de ad vogado e a d vogado au tônom o. A lfredo de Assis Gonçalves N eto d ivide as associações entre sociedades de advogados em d u as categorias: "(I) am pla , envol v en d o todas as ativ idades desenvolvidas pelas sociedades asso ciadas, ou (II) restrita , quan d o celebrada para um a área dete r m in ad a ou ram o do direito, para o a tend im ento de certo cliente, para a partic ipação em licitações relativas à prestação de servi ços d e advocacia etc."^". c o m o u tra s so c ie d a d e s d e a d v o g a d o s ” e o § 3- do mesmo artigo que “A s asso c ia çõ e s en tre so c ie d a d e s d e a d v o g a d o s não p o d e m co n d u z ir a q u e m a p a s s e a s e r sóc ia d a ou tra , c u m p rin d o -lh e s re s p e ita ra reg ra d e q u e s o m e n ie advogados, p e sso a s na tu ra is , p o d e m c o n s titu ir so c ie d a d e d e a d vo g a d o s .'. Assis Gonçalves lembra que “É preciso esclarecer que essa faculdade de associação só tem lugar entre sociedades de advogados. Se se admitisse a associação entre uma sociedade de advogados e uma outra, dedicada a atividade estranha à advocacia, estaria sendo desrespeita da, por via oblíqua - ou melhor dizendo, burlada - , a proibição contida no art. 16, caput, do EAOAB" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. c it„ p, 68). '8 Na lição de Assis Gonçalves: “também não é possível, a teor do que estatui o art, 6-, § 3®, do Provimento n- 92, que dessa associação resulte a participação de uma das sociedades no capi tal da outra, dada a ex igêm a de que somente advogados pessoas naturais irrscritas na OAB, podem fazer parte do quadro social de uma sociedade de advogados. As figuras de sociedades controladas ou coligadas são incompatíveis com as sociedades de advogados" (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. c it„ p, 68), GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis, Ob. cit,, p, 69, SOCIEDADE DE ADVOQADOS Volume II 5 7 N as relações de associação en tre sociedades de ad v ogados a questão d a responsabilidade é m uito próxim a do q u e ocorre na associação en tre sociedade de advogado e ad v o g ad o autônom o. N as obrigações sociais, cada sociedade responde pelas obriga ções p o r si assum idas. A responsabilidade d iscip linar será atri b u íd a ao efetivo infra tor (advogado). Já a responsab ilidade civil p o r d an o s causados ao cliente possu i um a disciplina m ais com plexa. O ad v o g ad o causador do dan o responde solidariam ente com a sociedade a que está d ire tam ente v inculado , en q u an to a sociedade associada possu i responsabilidade subsid iá ria^ '. C o n siderando que a associação de sociedades não cria um a no v a pessoa jurídica, cada sociedade deverá recoliier seus tribu tos ind iv idualm ente. H á, a inda , os pactos de colaboração, p rev istos no P rovim en to n" 92/2000 do C onselho Federal (artigo 6”, letra d)^^. Trata-se de um a form a d e aproxim ação de sociedades d e advogados mais sutil. N as palavras de Assis Gonçalves, "N ão v isam à atuação conjunta, à in tegração de ativ idades, m as, sim plesm ente, o esta belecim ento d e u m a form a de cooperação en tre d u as ou mais dessas so c ie d a d e s"^ . N ão existe vínculo d e responsabilidade de n en h u m a espécie. As form alidades para registro devem ser ob servadas, com as dev idas adaptações. 10. Considerações finais O s pactos d e associação en tre sociedades de ad v ogados e en- Assis Gonçalves ressalva que "É evidente que, se a associação celebrada é restrita e não engloba o ramo de advocacia de que decorreu o fato danoso, não há responsabilidade alguma da sociedade associada. Sua responsabilidade circunscreve-se às atividades de advocacia com preendidas no ajuste dessa associação (restrita)” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. cit-, p.70). d) os a ju s te s d e a sso c ia çã o o u d e co lab o ra ção com ou tras so c ie d a d e s de ad vogados. (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Ob. d l . p. 70/71], 58 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I tre soc ied ad e d e ad v o g ad o s e ad v o g a d o au tô n o m o , po r sua p ra tic idade e conveniência, são utilizados com freqüência e, por isso, m ereceram regulam entação p o r parte d a OAB. E m bora os pactos não deixem de ter va lidade p o r falta de reg istro , incorrem os pac tuan tes em infração d isc ip linar pela om issão. A dem ais, d ian te d as repercussões tributárias, trabalhis tas, de responsab ilidade civil, en tre outras, im portan te o regis tro do do cu m en to para garan tir a harm onia da relação e publici d a d e do ato. O bservadas as norm as que incidem sobre o instituto , e sendo ele bem u tilizado , o contrato de associação é instrum ento a ser viço dos ad v ogados e suas sociedades, contribu indo para o exer cício conjunto d a advocacia d e form a o rgan izada e racional. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume H 5 9 CAPÍTULO V SOCIEDADES DE ADVOGADOS- ADMINISTRAÇÃO SOCIAL Clemencia Beatriz Wolthers Art. 41 do RGEAOAB: "As sociedades de advogados podem adotar qualquer forma de administração social, permitida a existência de sócios-gerentes, com indicação dos poderes atribuídos." Art. 3" do Provimento n” 92/2000: "A administração so cial pode adotar qualquer forma e, se convier aos sócios, ser orientada ou fiscalizada por órgão colegiado, integra do por um certo núm ero deles." C om estes dois sim ples dispositivos, a legislação aplicável às sociedades d e ad v ogados estabelece a form a de adm inistração dessas sociedades, perm itindo que elas possam ado ta r qualquer tipo de adm inistração , m as exigindo que a m esm a seja exercida p o r u m ou m ais sócios. Logo, po r advogado , ou m elhor, por ad v o g ad o s sócios. Essa regra já estava explícita n o P rovim ento an terio r, n' ^ 2 3 /65 , o qual estabelecia q u e "som en te os sócios p o d e rão exercer as funções de d iretoria e gerência da sociedade d e advogados". N o sistem a d o novo C ódigo Civil, a adm in istração das socie d ad es sim ples, po d e ser conferida a não sócio, p o rém essa regra não se aplica às Sociedades de A dvogados. Logo, cabe exclusi- 6 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume li v ãm en te ao sócio, ou sócios da sociedade d e ad v o g ad o s seu gerenciam ento . Isso não significa que não possa o sócio ad m i n is trad o r delegar poderes a terceiro para que exerça a adm in is tração com o seu m andatário . Trata-se, nesse caso, da gestão por procuração , ficando o m andan te responsável pelos atos d o seu m an d a tá r io e ten d o que averbar na OAB esse in strum en to , à m arg em do contra to social. N ad a im p ed e que a adm inistração seja m ais sofisticada, com a criação de órgãos colegiados, para as deliberações m ais im por tantes, não só d as contas e do s assun tos financeiros, m as tam b ém da q u a lid a d e dos serviços prestados. Seria u m a espécie de im itação d a e s tru tu ra adm in is tra tiva das sociedades com er ciais, q u e não en co n tra q u a lq u e r obstáculo n a n o rm a q u e nào p e rm ite a adoção d e características m ercantis. Essa es tru tu ra p o d e ser a té necessária para as sociedades de g ran d e porte , com n ú m ero significativo de ad v o g ad o s sócios, associados e em p re gados, cuja e s tru tu ra organizacional exige um a adm inistração m ais complexa. A sociedade d e advogados tem , efetivam ente, características m u ito especiais, com requisitos legais específicos, que estão tra tad o s n o s artigos 15 a 17 do EAOAB e nos artigos 37 a 43 do RGEAOAB, além d o d isposto em vários Provim entos d o C onse lho Federal da OAB. E um a sociedade sim ples, de acordo com o novo C ódigo Civil, po rém regida p o r lei especial, aplicando-se o C ódigo Civil subsid iariam ente , no que couber, m an ten d o in te g ra lm ente as no rm as do EAOAB. A lém dessas características legais especiais, que são bem d i ferentes d as de o u tras sociedades de prestação de serviços p ro fissionais, as sociedades d e advogados a inda têm o u tras carac terísticas essenciais e d e caráter mais filosófico e cultural, que SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 61 d e te rm in a m u m a atenção toda especial em sua e s tru tu ração e em sua ad m in is tração e n as d ire tr izes operacionais. A convi vência de vários profissionais, so m an d o conhecim entos, ta len tos, experiênc ias e especia lidades d iversas, en riquece e ap r i m ora co n stan tem en te os ad v o g ad o s que de la p a rtic ip am e, p o r c o n se q ü ên c ia , q u a lif ic a m a p ró p r ia p re s ta ç ã o d o s serv iços advocatícios, em benefício do s clientes e n a p ro cu ra constan te d a sua satisfação. Toda essa com plexidade no exercício da advocacia especializa da e pro je tada em dim ensões em presariais, exige u m a estru tu ra in terna igualm ente com plexa, que po d e chegar a sofisticações m aiores o u m enores, de acordo com o tam anho da sociedade, dos seus ram os de especialização, dos seus clientes e dos casos em que p re ten d a atuar. N essa d im ensão, pod em o s considerar três tipos, ou três n íveis de adm inistração, ou gestão adm in is trativa, nas sociedades de advogados: • adm in istração funcional ou estrutural; • adm in is tração profissional; e • adm in istração estratégica. V am os ten tar d istingu ir os conceitos, as atribuições e com pe tências de cada u m a delas. ADMINISTRAÇÃO FUNCIONAL - ESTRUTURAL É a m ais fácil de identificar, porque ela não difere da es tru tu ra de apo io e su p o rte que qualquer o u tra sociedade de p res ta ção de serviços precisa m an ter para atingir seus objetivos e con segu ir a ten d er à clientela que a procura e contrata seus serviços. Estão nessa classificação todos os serviços de ca rá te r interno. 6 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II adm in is tra tivos e financeiros, exigidos pela p ró p ria o rgan iza ção d a sociedade e pela legislação aplicável, em especial a fiscal, trabalhista e previdenciária , tais como: C ontro ladoria: contabilidade, tesouraria; F aturam ento : lançam entos, faturas, cobranças; R ecursos h u m an o s: folha de salários, encargos, benefícios sociais, prev idência pública ou privada; C om unicações: telefonia, fax, recepção, postagem ; S uprim en to de materiais: com pras, estoques; P rocessam ento de d ados e textos; Secretariado e atend im ento em geral. N ão h á necessidade de en trar em deta lhes a respeito desses serviços pp . d itos, pois não são exclusivos nem específicos de u m a sociedade de advogados. M as, vale destacar a im portância que tem a correta adm inistração e o controle desses serviços, p o rq u e p o d em ser o g rande diferencial no g rau de eficiência e de eficácia na execução d a atividade-fim dessa sociedade, ou seja, o serviço juríd ico p restado e a sem pre p rocu rada satisfação dos clientes. A inda den tro da adm inistração funcional, dois im portan tes d ep a rtam en to s e / o u serviços, que já têm características b em es peciais e p ró p ria s nas sociedades de advogados, que são: • O A R Q U IV O e A BIBLIOTECA. T ratando-se de um a p ro fissão em inen tem ente formal e intelectual, essas d u as funções p ra ticam en te se incorporam na atividade-fim do advogado , exi g indo recursos, m étodos e sistem as de busca, pesquisa e contro les que os to rnam significativam ente especiais e im portan tes na SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume I I 6 3 es tru tu ra organizacional de u m a sociedade de advogados. Es sas d u as funções o u serviços especializados e com plem entares cos tum am ser identificadas com o GERENCIAM ENTO DE D O CUM ENTOS. A m bas utilizam a m esm a base, o docum ento , de q ualque r tipo e espécie e tra tam dele sob enfoques totalm ente d istintos: • N O ARQUIVO, o docum ento é p ar te de u m caso, d e um processo, d e u m cliente. Tem nom e, data , form a, núm ero , p a r tes, a u to r etc. e é tra tado e classificado sob essas características. • N A BIBLIOTECA, esse m esm o docum ento tem conteúdo, tem assunto , tem referências, e é tra tado e classificado sob esses aspectos. Para am bos d epartam en tos o desafio é o m esm o, ou seja, que o d o cu m en to in tegre u m todo, seja um a pasta de u m caso ou processo, seja um a pasta de u m assunto, e possa ser im ediata m en te localizado e u tilizado para o fim ao qual o profissional ad v o g ad o se propõe , naquele exato m om ento . Trata-se, em li n h as gerais, da cham ada a tiv idad e -m eio . ADMINISTRAÇÃO PROFISSIONAL A brange toda a es tru tu ra profissional, ou seja, a es tru tu ra ju rídica, única responsável pelo atend im ento ao cliente nas ques tões juríd icas para que foi contratado. Essa sim é a a tiv idade- fim , a q u e justifica a p rópria existência e a perm anência da soci ed ad e de ad vogados n o cam po de trabalho. Essa e s tru tu ra ju rí dica po d e ser de po rte pequeno, m édio ou grande, não im porta, m as sem pre contará com um a equipe com posta de advogados sócios, ad v o g ad o s associados, ou contra tados, consultores, esta giários de direito, paralegals e assistentes jurídicos. A estru tu ra 6 4 SOCreOADE DE ADVOGADOS Vctame 11 profissional, com níveis de conhecim ento e d e experiência, reu n in d o os ad v ogados e g rupos, que a tu am em dete rm in ad a área ou especialidade, sob a responsabilidade e orientação do sócio. N essa equipe, o trabalho jurídico se d istingue de acordo com a com plex idade d o assun to e a fase do caso ou processo. O traba lho em equ ipe é um a d as características d a sociedade de a d v o gados. É a m ola p ropu lso ra do seu crescim ento e da consolida ção e fortalecim ento no m ercado. N u m traba lho em equipe, os advogados se substituem , so m am seus conhecim entos, a tendem às causas e clientes d e for m a in tegral, constan te e in in terrupta . C ada m em bro da equipe executa p arte do trabalho, m aior ou m enor, sim ples ou com ple xa, fo rm ando u m todo d e m aior qualidade e eficiência. A equipe perm ite e incentiva o aprim oram ento dos m ais jovens, pela con vivência e partic ipação no s casos e questões atendidas. Desse ap rim o ram en to su rgem o crescimento, as o p ortun idades, a for m ação de novas equipes, a subdivisão de áreas d e especializa ção e, p o r conseqüência, o crescim ento e a consolidação da p ró p ria sociedade. A form ação, contratação e m anutenção dessa equipe, a d iv i são d o trabalho , o controle, o cum prim ento de p razos, o tre ina m ento , o ap roveitam ento de conhecim entos e talentos, o p lano d e carreira, a m otivação dos profissionais, o ap rim oram en to em novas áreas de especialização, a discussão de tem as e a em issão d e op in iões legais, a apresentação dos trabalhos e, p rinc ipa lm en te, A QUA LIDADE do serviço p restado e o decorren te C O N TR O LE DE Q U A LID A D E são atribuições da cham ada ad m i nistração profissional, no rm alm ente exercida pelos sócios p r in cipais da sociedade de advogados, responsáveis pelo prestíg io e pela repu tação alcançada, fru to de m uitos anos de trabalho, de SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I 6 5 dicação e recoiihecim ento pelos clientes. Este é o b em m aior de um a sociedade de advogados e p o r isso deve ser m u ito bem cui d a d o e constan tem ente zelado pelos seus responsáveis maiores. ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA C hegam os ao nível m ais alto da adm in is tração d e um a soci ed a d e d e advog ad o s . Esta é a função principa l d o advogado- sóc io -em p reen d ed o r, q u e tenha com o objetivo d esenvo lve r e d ir ig ir u m a soc iedade de serviços juríd icos, com caracterís ti cas em presárias, m as sem p e rd e r as características personalistas ex ig idas pe la p ró p r ia profissão. Q ue saiba en co n tra r o pon to de equ ilíb rio en tre o exigido pelo cam po d e traba lho e o p e rm i tid o , re sp e itan d o as restrições legais e os p rinc íp ios éticos vi gentes. E n a adm in is tração estratégica que os sócios responsáveis identificam e desenvolvem novas áreas d e especialização, que im p lan tam novos m étodos de trabalho, que inovam na form a de a ten d e r o cliente e de defender seus interesses legítimos, que lu tam pela m anu tenção de opiniões jurídicas fu n d am en tad as e q ue usam toda a força do seu conhecim ento juríd ico p a ra fazer prevalecer suas teses inovadoras, to rnando-os especiais e dife renciados. A sociedade de advogados sem um a adm inistração estratégica defin ida, certam ente, não vai sobreviver m uito tem p o n u m m u n d o globalizado e com petitivo com o o que estam os v ivendo n o m om ento atual. É n a adm in istração estratégica que o sócio, o u o colegiado de sócios, dec ide suas d iretrizes de contratações, d e abertu ra de fi liais, d e negociação de parcerias e associações com o u tras socie d ad es d e advogados. As a tiv idades institucionais e de caráter social desenvolvidas 66 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Vohme II pelas sociedades de advogados, tam bém fazem p a r te d a ad m i nistração estratégica, que define as diretrizes a serem seguidas e cum p rid as pelos sócios. O estabelecim ento da política de d ivulgação das ativ idades pela sociedade de advogados é u m dos pon tos m ais sensíveis da adm in is tração estratégica, principalm ente nos dias de hoje, nos quais a pub lic id ad e precisa ser m an tida den tro do s limites esta belecidos pelo C ódigo d e Ética e Disciplina d a OAB. S om ente o ad v o g ad o sócio, seja sócio-gerente, seja colegiado d e sócios, incum bidos da direção e adm inistração da sociedade d e ad v o g ad o s é capaz d e in terp retar e conciliar as no rm as ap a ren tem en te ríg idas d o Código de Ética com a tendência e a im p o rtânc ia cada vez m aior que a sociedade d á à "p ro p ag an d a" ou ao ch am ad o "m arketing jurídico". Som ente u m advogado sócio consegue perceber que a m aior divulgação que po d e espe ra r e alm ejar, é o reconhecim ento da sua capacidade profissio nal, da sua qualid ad e no serviço prestado , da sua conduta , da seriedade e profissionalism o no atend im ento d as questões soli citadas pelos clientes. C abe aos sócios d irigentes solidificar esses conceitos e fixar esses princíp ios de condu ta com o sendo um a d as p rincipa is ca racterísticas d a sociedade de advogados que dirige. É esse dife rencial que a to rna especial e substitu i qualquer tipo de "p ro p a ganda". O § 2“ d o artigo 15 d o EAOAB determ ina: "Aplica-se à Socie d a d e de A dvo g ad o s o Código de Ética e Disciplina, no qu e cou ber". O cum prim en to desse dispositivo é d a in teira responsabi lidade do s sócios e, portan to , parte in tegrante da adm inistração profissional e estratégica da sociedade. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 6 7 CONCLUSÃO D efinidos os três n íveis de adm inistração, p o d em o s re tornar aos d ispositivos legais m encionados no início deste artigo e con cluir que apenas a adm inistração funcional ou estru tu ra l é que p o d eria ser delegada, p o r procuração a u m profissional não só cio e, p o rtan to , não advogado. C ertam ente, a u m adm in is trado r d e em presas que, com seus conhecim entos dirig idos p ara as áre as adm in is tra tivas , saberá, até m elhor que u m advogado , dirigir e coo rdenar essas funções, tendo sob sua responsab ilidade to d o s os em pregados-funcionários, não advogados, que executam as funções não jurídicas, já m encionadas. O m esm o não ocorre com a adm inistração profissional e com a adm in is tração estratégica, que deverão ficar sem pre nas m ãos do s sócios p rincipa is d as sociedades de advogados, pois são es tas funções q u e definem a id en tidade e a condu ta profissional do s m em bros in tegran tes d a p rópria sociedade. É um a função indelegável, p o r princípio e p o r preceito legal. T odos estes conceitos e níveis de com petência assum em um a im portância significativa, na m edida em que a sociedade de a d vogadosque a tu a em questões em presaria is acaba sen d o obri g ada e exigida a com portar-se e estru turar-se tam bém de forma em presaria l, pa ra conseguir com petir e colocar-se em igualdade d e condições técnicas e jurídicas com os concorrentes, sejam n a cionais o u estrangeiros. N u m m ercado de traba lho com petitivo e g lobalizado, com negociações nacionais e internacionais acontecendo e d em an d an do orientação jurídica das partes contratantes, m u itas vezes de p a íses d is tin tos , os ad v ogados e as sociedades d e advogados enfren tam constan tem ente essa concorrência d e profissionais de o u tras áreas e nacionalidades, que u ltrapassam os lim ites e avan 68 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II çam n as a tiv idades p rivativas dos advogados, c laram ente defi n idas no artigo 1” d o Estatu to d a A dvocacia, re lacionando quais são os atos p rivativos que apenas os advogados legalm ente ins critos n a OAB p o d em praticar, sob pena de exercício ilegal d a profissão. N em sem pre o cliente percebe essa invasão do cam po profissional e nem tem conhecim ento que, de acordo com o ar ti go 4° d o E statu to da Advocacia, são nu los os atos privativos de ad v o g ad o p ra ticados p o r pessoa não inscrita na OAB. M as, não basta que o advogado e a sociedade de advogados se s in tam p ro teg idos p o r esses dispositivos legais e não se p re p arem profissional e es tru tu ra lm ente para com petir e vencer essa concorrência pelo m érito , pela qua lidade d o serviço, pelo conhecim ento juríd ico e, ta m b é m , pela es tru tu ra adm inistrativa e funcional q u e perm ita colocar to d o esse esforço e capacidade a serviço d o cliente e da causa que esta sob sua in teira responsa b ilidade, h o n ra n d o o artigo 133 da C onstituição Federal^que diz: "O ad v o g ad o é ind ispensável à adm inistração da justiça, sendo inviolável p o r seus atos e m anifestações no exercício da profis são, nos lim ites da lei” . D ispositivo esse re ite rado e consagrado n o C ódigo de Ética e Disciplina d a OAB (artigo 2") "O ad voga do, ind ispensável na adm inistração da justiça, é defensor d o es tado dem ocrático de direito, da cidadania, da m ora lidade púb li ca, da justiça e da p az social, su b ord inando a a tiv idade d o seu M inistério P rivado à elevada função pública que exerce". SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II 6 9 CAPÍTULO VI SOCIEDADES DE ADVOGADOS: ADMINISTRAÇÃO E ATOS. O NOVO CÓDIGO CIVIL Sergío Ferraz Antônio Corrêa Meyer A n o rm ativ id ad e legal, regu lam entar e p rov im ental dos te m as v ersados neste C apítu lo , é extrem am ente rarefeita. N em por isso p o d e a m atéria restar intocada, n u m trabalho q u e se p ro p o n h a a u m exam e m ultifacetado d as sociedades d e advogados. É sab ido q u e o novo Código Civil a lterou significativam ente a legislação atinen te às sociedades em geral, criando inclusive cap ítu lo p ró p rio para a disciplina do cham ado "d ireito de em presa". R esum idam ente , observa-se, pela sistem ática d o novo C ódigo Civil, observa-se, existem, de u m lado, reg ras específi cas p a ra as sociedades em presárias, en ten d id as em seu perfil subjetivo com o aquelas que têm no em presário a pessoa que or ganiza em to rno d e si todos os elem entos d a em presa; e, de ou tro , as sociedades simples, destinadas, em prim eiro lugar, à d is ciplina d as sociedades nas quais o titu lar não seja o em presário (como é o caso dos profissionais liberais, p o r exem plo) e, em seg u n d o lugar, com o fonte d e regras gerais suscetíveis de ap li cação tam b ém às sociedades em presárias {conforme previsto no artigo 1.053 d o novo C ódigo Civil). 7 0 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II O ad v o g ad o , p o r expressa dete rm inação do p arág ra fo ú n i co d o art. 966 d o no v o C ódigo Civil, não se sujeita às no rm as d a s soc iedades em presárias, m as, sim, às regras d as socieda d es sim ples. O corre, en tre tan to , que as sociedades d e advogados são d is c ip linadas p o r um a série de norm ativas de caráter especial, e som ente a elas se aplica. Assim, as sociedades d e ad v ogados são d isc ip linadas pelos artigos 15 a 17, 21 e 34, II, d o Estatuto da O rdem dos A dvogados do Brasil (Lei n° 8.906, d e 04.07.1994), pelos artigos 37 a 43 do R egulam ento Geral, e po r vários P rovi m entos, especialm ente o de n° 92/2000. N esse sen tid o , im p o rta n te d es tac ar q u e a esp ec ia lid ad e le g is la tiv a d e certos tipos de a tiv id ad e s - com o as do s a d v o g a d o s - é ex p ressam en te reconhec ida p e lo no v o C ód igo Civil. C om efeito , d e aco rd o com o p a rág ra fo ún ico d o art. 983 do no v o C ó d ig o C ivil, ficam ressa lv ad as d e suas d isposições as so c ied ad es co n s tan te s d e lei especial que , p a ra o exercício de ce rtas a t iv id ad e s , im p o n h a m a constitu ição d e soc ied ad es se g u n d o u m t ip o soc ie tá rio especia l (caso d a s so c ied ad es de ad v o g a d o s) . Em o u tra s p a lav ras , q u a n d o se está d ian te d e um d e te rm in a d o tipo de a tiv id ad e que, p o r ex p ressa d isposição legal, su je ita-se a n o rm as especiais, a ap licação do n o v o C ó d i go C ivil se rá ap e n as su bsid iá ria . Em ú ltim a in stância , isso sig n ifica d iz e r q u e as n o rm as q u e reg u lam as d ita s soc iedades e sp ec ia is d e v e rã o p re v a lec e r q u a n d o em co n fro n to com as re g ra s d a so c ied ad e sim ples. Por essa razão, a sociedade de advogados é tida com o socie d a d e profissional d e caráter au tônom o e especial. Essas socieda des, é fato notório, têm base pessoal e, nas suas relações in ter n a s , é ca rac te r ís t ico o " in tu i tu s personae". A esse re sp e ito . SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II Ascarelli’ já ap o n tav a que as profissões intelectuais (dentre as quais se inclui a d o advogado) devem ser reg idas po r norm as especiais, p o rq u e se relacionam ao exercício de ativ idades que, p o r n a tu reza , p o ssuem um a diversa valoração social e, p o r isso, d em a n d a m princíp ios jurídicos d iferentes daque les gerais ap li cáveis às ativ idades reguladas pelo Código Civil. Assim, em ra zão dessa d iversa valoração social, certos tipos especiais de soci ed ad es sujeitam -se a norm as que levam em consideração, por exem plo, o decoro e o rígido acesso à profissão, o que, p o r si só, im p ed e a aplicação d ireta e irrestrita das norm as gerais estabe lecidas no no v o C ódigo Civil. N o en tan to , saliente-se, essa especialidade não im p ed e a su b m issão d a s sociedades de advogados às regras e princíp ios das sociedades sim ples, sem pre que as disposições especiais forem om issas . Em verdade , com o tipo au tônom o de sociedade, a soci ed ad e d e ad v o g ad o s deve, prim eiro, seguir as regras específicas q ue no rte iam sua disciplina e, posteriorm ente , observar, no que couber, as regras gerais aplicáveis às sociedades simples. A am pla m arg em de liberdade conferida ju rid icam en te às sociedades de advogados, na form a d as considerações p roceden tes, atra í u m pap e l fundam en ta l para o contra to social e p a ra os P rovim entos d o C onselho Federal, na conform ação d e seu m o delo adm inistrativo . A regra é, pois, já da liberdade conferida à sociedade, que aten tará un icam ente a suas conveniências e pre- ' Tuilio Ascarellí. i n “ C o r s o d iD ir í t toC o m m e rc ia l^ , 3. ed, Giuffrè, Milão, 1962, p. 179. Note-se que as considerações de Ascarellí em nenhuma hipótese devem ser consideradas despiciendas, eis que o Código Civil italiano serviu de base para a elaboração do nosso novo Código Civil, notadamente na parte do Direito de Empresa. Por exemplo, o citado parágrafo único do art. 966 do novo Código Civil deriva, indubitavelmente, do ari. 2,238 do Código Civil italiano, in v e it is : “S e 1'esercizio de lia p ro fess ion e constitu isce e lem ento d i un 'a ttiv ità o rgan izza ta in fo m ia d ’impresa. s i a p p io c a n o a n c h e ie d isp o s iz io n i d e i t i to b It í20S2ss.J. In ogni caso, se /'esecente di una p ro fe s s io n e in te lle c ttu a le im p ie g a so s tu tu ti o ausilia ri. s i a p p iica n o le d is p o s iz io n i de lie se z io n i II, I I I e IV d e i ca p o tito lo I I [2 .0 9 4 ss .j. 7 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II ferências, tendo com o limite único a não-infringência à lei (e ao o rd en am en to jurídico em geral). Assim, tan to po d e ser ela ad m in is trada singu lar com o colegiadam ente (mas sem pre p o r ad- vogado), com o u sem superposição de órgãos coletivos de ori en tação e / o u fiscalização (sem pre in tegrados apenas p o r ad v o gados). N ão se po d e d ispensar que a indicação d o sócio ou sóci os- geren tes conste d o contra to social, com a identificação dos respectivos p oderes e atribuições. Sem pre se tenha em m ente q u e constitu i infração disciplinar provocadas a sociedade fora d a s n o rm as e preceitos aplicáveis (EOAB, art. 34, II). V árias o u tras m anifestações concretas da adm inistração da sociedade ficam tam bém subm etidas, no que diz respeito a sua efetivação, à descrição dos sócios, m anifestada sob re tudo (mas não só) no contra to social, m erecendo destaque, no particular: — fixação do s critérios d e d istribuição dos resu ltados e p re juízos d o exercício; — cálculo e form a de pagam ento dos haveres e de eventuais honorários penden tes , do sócio falecido, do que se re tirar da so c iedade o u do que dela for excluído; — alteração d o contra to social (que p o d em ser dec id idas por m aioria sim ples (salvo se o contrário estipu lar o contrato), a p u rad a d e acordo com o valor das quotas de cada sócio (ressalvada d isposição em contrário , do contra to social); — to m ad a d e deliberações em geral (por m aioria sim ples, sal vo o u tra operação, d o contra to social); — substitu ição do s sócios-gerentes, ou redefinição d as a tri buições e p oderes deles; — cessão d e quotas; — exclusão d e sócios, deliberada pela m aioria destes (salvo d isposição diversa, d o contra to social). SOCIEDADE DE ADVOGADOS VoJurr» II 7 3 C onstituem atos de adm inistração regu lar da sociedade aque les necessários à m anutenção de sua existência regu lar e ao cum p rim en to d as finalidades d a sociedade (desde que não se trata de ato p rivativo de advogado), den tre eles com preendidos, exem- plificativam ente: — celebração de contratos em geral, inclu indo locações, ad m issão de pessoal etc. — celebração de contra tos p ara representação, consultoria, assessoria e defesa de clientes, ativ idades essas a serem exercidas pessoa lm en te p o r advogados de seus quadros; — registro e averbação dos atos societários jun to à OAB, quan d o e n a form a p o r este exigida. De n o tar que, em todos os atos celebrados pela sociedade, d ev e rá constar o n ú m ero d e seu registro. H á u m fluxo considerável d e atos legalm ente v ed ad o s às so c iedades. N ão p o d em contra tar a representação d e clientes com in te resses opostos. Tam pouco se adm ite que ado tem denom inação d e fantasia, q u e realizem ativ idades estranhar à advocacia (so b re tu d o as de cunho tipicam ente m ercantil), que incluam sócio n ão inscrito com o advogado ou to talm ente p ro ib ido d e ad v o gar. Em con trapartida , várias ou tras gam as de atos, tip icam ente societários, lhes são ensejados. D estacadam ente a elaboração de contra tos de associação com advogados (sem vínculo em prega- tício com a contra tante) ou m esm o com o u tras sociedades de ad v ogados (sem transferência das responsabilidades da contra tante, peran te o cliente). A qui tam bém , enfim , com o em tu d o que diz respeito às soci edades de advogados, p res ide a regra do que tudo , não sendo expressam ente vedado , pela lei (é dizer, o Estatu to , seu Regula- 7 4 SOaEDADE DE ADVOGADOS Volume II m ento Geral, o C ódigo de Ética e Disciplina e os Provim entos do C onselho Federal) ou pelo contra to social, é facultado às socie d ad es de advogados. SOCIEDADE DE M3VOGA.OOS Volume II 7 5 CAPÍTULO VII OS CONSULTORES ESTRANGEIROS Comentários ao Provimento n" 91/2000 do Conselho Federal da OAB Orlando Di Giacomo Filho HISTÓRICO O s ad vogados m ilitantes não m uito jovens, q u e é o caso do subscrito r deste artigo presenciaram , d u ran te sua atuação, as s is tindo a clientes m ultinacionais, a p resença, a distância, dos ad v o g ad o s "d a m atriz" , assim cham ados na época. Em escritó rios e sociedades de ad v o g ad o s essencialm ente n a c io n a is , p o r o c a s iã o d e o p e ra ç õ e s d e s e u c l ie n te a q u i dom iciliado , não só em alterações d e contra tos sociais, associa ções, licenciam entos, m as tam bém em casos d e aquisições im o b iliárias, n a m ais d as vezes, as m in u tas e ram en d e reçad as à m atriz , no exterior, para o " re fe ren d u m " ou o "d e aco rdo" , seja d o seu ju ríd ico " in te rno" ou do s seus assessores, ju ríd icos ex te rnos , estes, escritórios de advocacia, de g ran d e porte , lá esta belecidos. C om isso, nós já estávam os, po r assim dizer, "fam iliarizados" com os colegas do exterior, C ontudo, eles LÁ e nós A Q U I, sem quaisq u er invasões de prá ticas jurídicas. O corre que o m u n d o m u d o u e o nosso BRASIL tam bém e para m elhor ao que se tem. 7 6 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II A econom ia brasileira, p o r volta de 1990, com eçou a m ostrar u m aceleram ento n o cenário m undia l, com d ad o s positivos, tais como: inflação sob controle, governo com cred ib ilidade ju n to aos investido res estrangeiros. Surgiam , pouco a p ouco , as p riv a tiza ções e, conseqüen tem ente , o fluxo razoave lm en te g ra n d e d e in vestim entos diretos. Facilitou-se o acesso a c réd ito n o m ercado d e capitais. Se tu d o isso ocorria no território nacional, no exterior já se p ro n u n c iav a u m princíp io d e crise, que logo depo is se apressou , chegando a u m "quase" clímax em 1999. O q u e fazer? N ão h av ia dú v id a . O s nossos colegas d o exterior, localizados n o hem isfério N orte , já referidos - dos "g randes escritórios" -, q u e conosco conviv iam re ferendando nossas operações legais, p assa ram a ver o Brasil com ou tros olhos, isto é, o lhos g randes em cim a d e u m bom m ercado , d iferen te d o deles que, com o v is to, enfraquecia. A rru m ara m as m alas e v ieram p a ra cá. P odiam ? Eis a questão . DA PRÁTICA JURÍDICA NO BRASIL C om a chegada, então, dos colegas d o exterior e, p o r assim dizer, a invasão d o nosso cam po d e atuação, nosso ó rgão m aior, a O R D E M D O S A D V O G A D O S D O BRASIL, com eçou a se p re o c u p a r com o assunto. Por quê? Porque, ev iden tem ente , som ente p o d e m "ad v o g ar" , no Bra sil: SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 7 7I) OS ad v o g ad o s q u e se bachare laram em cursos regu la res por facu ldades brasileiras; e II) estrangeiros d ip lom ados n o exterior, q u e revalidassem seus d ip lom as, após cursos de adap tação , em facu ldades brasileiras. E m am b o s os casos, d e sd e que ap ro v ad o s no Exam e d e O r d e m e p o r tad o re s d a respec tiva carteira d e hab ilitação p ro fis sional. É reg ra m áx im a do nosso E STA TU TO D A A D V O C A C IA (Lei n “ 8.906, de 4 de ju lh o de 1994) "Art 3'*. O exercício da atividade de advocacia no território nacional e a denominação de advogado são privativos dos inscritos na O rdem dos A dvogados do Brasil - OAB. Art. 4" São nulos os atos privativos de advogado pra ticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuí zo das sanções civis, penais e adm inistrativas O n d e ficavam os estrangeiros? Foi en tão , na profícua gestão d o Dr. R E G IN A L D O O SC A R DE C A ST R O , na P residência d o C o n se lh o F edera l da O rd e m do s A d v o g ad o s d o B rasil, que, p o r m eio d a com issão d a s socie d ad e s d e advog ad o s , p o r ele instalada, foi e lab o rad o o prim eiro esboço de u m P rovim ento , p ara alcançar tais h ipó teses , o u seja, d o estrangeiro a tu a n d o n o Brasil. A pós m u ita e acalorada discussão dos com ponen tes d a refe rid a com issão, foi ap ro v ad o pelo D r. R E G IN A L D O O S C A R DE C A ST R O o texto defin itivo , no ano d e 2000, ten d o com o Relator o C onselheiro Federal D r. SE R G IO FERRAZ, conform e segue abaixo, p o r com pleto: SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II "PROVIMENTO N° 91, DE 13 DE MARÇO DE 2000 Dispõe sobre o exercício da atividade de consultores e socie dades de consultores em direito estrangeiro no Brasil. 0 CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 54, V, da Lei n" 8.906/94, e tendo em vista o constan te do Processo 4467/1999/COP, RESOLVE: Art. 1“. O estrangeiro profissional em direito, regularm ente adm itido em seu país a exercer a advocacia, som ente poderá prestar tais serviços no Brasil depois de autorizado pela Or dem dos A dvogados do Brasil, na forma deste Provimento. § 1°. A autorização da O rdem dos A dvogados do Brasil, sem pre concedida a título precário, ensejará exclusivamente a prática de consultoria no direito estrangeiro correspondente ao país ou estado de origem do profissional interessado, ve dados expressamente, mesmo com o concurso de advogados ou sociedades de advogados nacionais, regularm ente inscri tos ou registrados na OAB: 1 — o exercício do procuratório judicial; II — a consultoria ou assessoria em direito brasileiro. §2 ° . As sociedades de consultores e os consultores em direi to estrangeiro não poderão aceitar procuração, ainda quando restrita ao poder de substabelecer a outro advogado. Art. 2 ° . A autorização para o desem penho da atividade de consultor em direito estrangeiro será requerida ao Conselho SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 79 Seccional da OAB do local onde for exercer sua atividade pro fissional, observado no que couber o disposto nos arts. 8", incisos í, V, VI e VII e 10, da Lei n" 8.906, de 1994, exigindo-se do requerente: I — prova de ser portador de visto de residência no Brasil; II — prova de estar habilitado a exercer a advocacia e /o u de estar inscrito nos quadros da O rdem dos A dvogados ou ór gão equivalente do país ou estado de origem; a perda, a qual quer tempo, desses requisitos im portará na cassação da auto rização de que cuida este artigo; III — prova de boas conduta e reputação, atestadas em docu m ento firmado pela instituição de origem e po r 3 (três) advo gados brasileiros regularm ente inscritos nos quadros do Con selho Seccional da OAB em que pretender atuar; IV — prova de não ter sofrido punição disciplinar, m ediante certidão negativa de infrações disciplinares emitida pela O r dem dos A dvogados ou órgão equivalente do país ou estado em que estiver adm itido a exercer a advocacia ou, na sua fal ta, m ediante declaração de que jamais foi pu n id o por infra ção disciplinar; a superveniência com provada de punição dis ciplinar, no país ou estado de origem, em qualquer outro país, ou no Brasil, im portará na cassação da autorização de que cuida este artigo; V — prova de que não foi condenado p o r sentença transitada em julgado em processo criminal, no local de origem do exte rior e na cidade onde pretende prestar consultoria em direito estrangeiro no Brasil; a superveniência com provada d e con denação criminal, transitada em julgado, no país ou estado de origem, em qualquer outro país, ou no Brasil, im portará na cassação da autorização de que cuida este artigo; SOCtEDADE DE ADVOGADOS Volume » VI — prova de reciprocidade no tratamento dos advogados brasileiros no país ou estado de origem do candidato. § 1”. A O rdem dos A dvogados do Brasil poderá solicitar o u tros docum entos que entender necessários, devendo os docu m entos em língua estrangeira ser traduzidos para o vernácu lo po r tradu tor público juramentado. § 2°. A O rdem dos Advogados do Brasil deverá m anter cola boração estreita com os órgãos e autoridades com petentes, do país ou estado de origem do requerente, a fim de estar permanentemente informada quanto aos requisitos dos incisos IV, V e VI deste artigo. § 3°. Deferida a autorização, o consultor estrangeiro prestará o seguinte compromisso, perante o Conselho Seccional: "Prom eto exercer exclusivamente a consultoria em direito do país onde estou originariamente habilitado a praticar a advo cacia, a tuando com dignidade e independência, observando a ética, os deveres e prerrogativas profissionais, e respeitan do a Constituição Federal, a ordem jurídica do Estado Demo crático Brasileiro e os Direitos Hum anos." Art. 3®. Os consultores em direito estrangeiro, regularm ente autorizados, poderão reunir-se em sociedade de trabalho, com 0 fim único e exclusivo de prestar consultoria em direito es trangeiro, observando-se para tanto o seguinte: 1 — a sociedade deverá ser constituída e organizada de acor do com as leis brasileiras, com sede no Brasil e objeto social exclusivo de prestação de serviços de consultoria em direito estrangeiro; II — os seus atos constitutivos e alterações posteriores serão aprovados e arquivados, sem pre a título precário, na Seccio SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I 81 nal da OAB de sua sede social e, se for o caso, na de suas filiais, não tendo eficácia qualquer outro registro eventual m ente obtido pela interessada; III — a sociedade deverá ser integrada exclusivamente por consultores em direito estrangeiro, os quais deverão estar devidam ente autorizados pela Seccional da OAB com peten te, na forma deste Provimento. Art. 4°. A sociedade poderá usar o nom e que internacional m ente adote, desde que com provadam ente autorizada pela sociedade do país ou estado de origem. Parágrafo único. Ao nome da sociedade se acrescentará obriga toriamente a expressão "Consultores em Direito Estrangeiro". Art. 5°. A sociedade comunicará à Seccional com petente da OAB o nom e e a identificação completa de seus consultores estrangeiros, bem como qualquer alteração nesse quadro. Art. 6°. O consultor em direito estrangeiro autorizado e a so ciedade de consultores em direito estrangeiro cujos atos cons titutivos hajam sido arquivados na O rdem dos Advogados do Brasil devem, respectivamente, observar e respeitar as re gras de conduta e os preceitos éticos aplicáveis aos advoga dos e às sociedades de advogados no Brasil e estão sujeitos à periódica renovação de sua autorização ou arquivam ento pelaOAB. Art. 7®. A autorização concedida a consultor em direito es trangeiro e o arquivam ento dos atos constitutivos da socieda de de consultores em direito estrangeiro, concedidos pela SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II OAB, deverão ser renovados a cada três anos, com a atualiza ção da documentação pertinente. § 1®. As Seccionais m anterão quadros específicos e separados para anotação da autorização e do arquivam ento dos atos constitutivos, originário e suplem entar, dos consultores e so ciedades a que se refere este artigo. § 2°. A cada consultor ou sociedade de consultores será atri bu ído um núm ero im utável, a que se acrescentará a letra S, quando se tratar de autorização ou arquivam ento suplem en tar. § 3®. Haverá, em cada Seccional, um a comissão de sociedades de advogados à qual caberá, na forma do que dispuser seu ato de criação e o Regimento Interno da Seccional, exercer a totalidade ou algum as das competências previstas neste Pro vimento. Nas Seccionais em que inexista tal comissão, deverá ser ela criada e instalada no prazo de 30 (trinta) dias, conta dos da publicação deste Provimento. Art. 8°. Aplicam-se às sociedades de consultoria em direito estrangeiro e aos consultores em direito estrangeiro as dispo sições da Lei Federal n" 8.906, de 4 de julho de 1994, o Regula m ento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, o Código de Ética e Disciplina da OAB, os Regimentos Internos das Seccionais, as Resoluções e os Provimentos da OAB, em espe cial este Provimento, podendo a autorização e o arquivam en to ser suspensos ou cancelados em caso de inobservância, res peitado o devido processo legal. Art. 9°. A O rdem dos Advogados do Brasil adotará, de ofício ou m ediante representação, as m edidas legais cabíveis, admi- SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume nistrativas e /o u judiciais, sem pre que tenha ciência de con dutas infringentes às regras deste Provimento. Ali. 10. Os consultores e as sociedades constituídas na forma do presente Provimento estão sujeitos às m esm as anuidades e taxas aplicáveis aos nacionais. Art. 11. Deferida a autorização ao consultor em direito estran geiro, ou arquivados os atos constitutivos da sociedade de consultores em direito estrangeiro, deverá a Seccional da OAB, em 30 (trinta) dias, comunicar tais atos ao Conselho Federal, que m anterá um cadastro nacional desses consultores e socie dades de consultores. Art. 12. O presente Provimento entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário. Brasília, 13 de março de 2000 R eginaldo Oscar de Castro Presidente Sergio Ferraz Relator" M ister se faz consignar que a O R D E M D O S A D V O G A D O S D O BRASIL não p re ten d eu , ao ed ita r o texto legal su p ra , q ual qu er reserva de m ercado. A idéia ou in tenção n ão foi PR O IB IR a a tiv idade do s ad v o g ad o s estrangeiros n o Brasil, m as sim dar 84 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II T R A N S P A R Ê N C IA a essas a tiv idades, ou seja, possib ilitar o reg istro desses ad v o g ad o s e a fiscalização d a s suas ativ idades. O P R O V IM E N T O criou a figura n ão só do C O N S U L T O R em d ire ito estrangeiro , no caso de pessoa física, m as tam b ém da S O C IE D A D E DE C O N SU L T O R E S em dire ito estrangeiro , no caso d e pessoa jurídica. E m resum o: venham , con tudo , ven h am LEG A LIZA D O S. Passam os, com o d e te rm in a o títu lo deste traba lho , a tecer a l g u m as considerações sobre o referido texto legal. I) conform e se infere d o art. 2°, a au to rização se re su m e tão- som en te em p ro v as docum enta is, ou seja, p rovas, v in d as d o lo cal o n d e o p re ten d en te se bacharelou, d em o n s tra n d o conclusão d o curso , boa co n d u ta e reputação , não ter so frido p u n ição d is c ip linar n em condenação em processo crim inal, bem com o p ro va d e " rec ip roc idade" , isto é, q u e o seu país d e o rigem , recebe, n as m esm as condições, o ad v o g ad o brasileiro. II) a sociedade de consultores em dire ito estrangeiro , n o seu objeto social d everá fazer constar q u e p res ta rá serviços som ente em dire ito estrangeiro , do país on d e seus in teg ran tes fo ram h a bilitados. III) u m g ran d e perm issivo legal foi d a d o à e n t id a d e /so c ie d a d e d e consu lto res em d ire ito estrangeiro , a saber: "poderá usar o nom e que internacionalm ente ado te, desde que com provadam ente autorizada pela sociedade do país de origem" Esse perm issivo é de g ran d e alcance, p o rq u a n to a "m arca" , p o r assim d izer, constru ída n o decorrer do s anos e in ternacio n a lm en te conhecida, p o d erá se r tra z ida p a ra o Brasil. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 85 IV) a au to rização concedida, com o reza o art. T , d everá ser re n o v ad a a cada 3 (três) anos. Este m ecan ism o possib ilitará à O rd em do s A dvo g ad o s do Brasil verificar a c o n d u ta do req u e ren te nos 3 (três) ú ltim os anos. V) ao consu lto r em d ire ito estrangeiro e à soc iedade de con su ltores em dire ito estrangeiro são aplicáveis n ão só o ESTATU TO DA ADV OCA CIA, m as tam bém o REGULAM EN TO GERAL D O ESTATUTO DA ADV OCA CIA e, o m ais im p o rtan te , o C Ó D IG O DE ÉTICA E DISCIPLINA DA ORDEM DOS A D V O G A DOS D O BRASIL. * * * 0 PROVIMENTO E SUA EFETIVAÇÃO DO PONTO DE VISTA PRÁTICO Em razão d e n o ssas funções ju n to à O R D E M D O S A D V O G A D O S D O BRA SIL, não só n o C onselho d a O A B /S Ã O PA U LO, m as tam b ém com o P res id en te da C om issão d a s Socieda des de A d v o g a d o s da referida Seccional, tiv em o s a o p o r tu n i d a d e de te s tem u n h a r o a n d a m en to do assu n to d o p o n to de v is ta p rá tico A ssim q u e ed itad o o P rov im en to , os p rim eiros consultores, pessoas físicas, com eçaram a pro toco lar seus p ed id o s , d ev id a m en te do cu m en tad o s , jun to a nossa Seccional d e São Paulo. Em segu ida , em m en o r núm ero , a lg u m as sociedades de con su lto res em dire ito estrangeiro tam bém assim p rocederam . Por quê? E v id en tem en te , os escritórios es tran g e iro s , no início deste artigo referidos, em sua m aioria com filiais em várias p ar te s do m u n d o , gozam d e repu tação ilibada e, ev iden tem en te , querem se en q u a d ra r d en tro dos lim ites da Lei N acional. 86 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II Em conseqüência , não p re ten d em a tu a r ILEGALMENTE no Brasil, o q u e re d u n d a ria em g rande preju ízo p a ra a sua im agem ínternacionaL A ssim , a lg u m as delas ap resen ta ram seus ped idos. A lguns já deferidos. O u tros sob análise. E os q u e não se ad a p ta ram ao P rov im ento? Foram poucos, m as de g rande envergadura . O q u e vem sendo feito pela OAB? N a Seccional d e São Paulo, o DD. Presidente, a través da sua C om issão de S ocied ad es de A dvogados, p o r "carta -convite" , vem p e d in d o esclarecim entos às referidas sociedades es trangei ras, n u m total d e 13 (treze). A m aioria delas ou, quase todas, p o r assim d izer, a tendeu . O s p rocessos encontram -se , hoje, com os re la tores d esigna d o s pelo P residen te da referida com issão para apreciação e p e d id o s de m ais docum en tos , em a lguns casos. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS COLEGAS ESTRANGEIROS E CONCLUSÃO A p a r tir do ano 2000 a m íd ia com eçou a veicu lar vasta m a té ria sobre a "chegada dos estrangeiros no Brasil” . A lg u m as con s id eran d o esta chegada com o u m a invasão total na advocacia nacional e, ou tras , pontificando que esta "chegada" tão -som en te traria u m a m elhora para a advocacia brasile ira, p o rq u e estari- am trazen d o u m a bagagem enorm e de conhecim entos d o pon to d e v ista p rá tico n o q u e d iz respeito à inform ática, em geral, e, tam bém , q u an to à adm in is tração dos escritórios e d as socieda des d e advogados. P odem os afirm ar: nem tan to o céu e nem tan to a terra. A v in d a do s escritórios d o exterior, ev iden tem en te , p o d e rá SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I 87 trazer, com o sem pre ocorre, um som atório de conhecim entos e u m a boa troca de inform ações. C ontudo, não po d em o s dizer que não tem os, hoje, esse tipo de experiência. Tem os sim, e não pouca. D esde m uito , contam os com sociedades de advogados, com existência de m ais de 60 anos, que, em suas instalações, p o ssu em equ ip am en to s com paráveis a qualquer organização d o cha m ad o p rim eiro m u n d o , m as a troca de inform ações e experiên cias som ente acresce e m elhora os níveis de desenvolvim ento profissional, em qualquer lugar do m undo . Isso tem ocorrido e sem pre ocorrerá, não só nesse segm ento, m as em quaisq u er outros. O u tro pon to que a m ídia tem p or vezes feito a lgum a confu são é considerar que en tid ad es in ternac ionais que aglom eram vários escritórios de advocacia, no m u n d o todo, seriam parcei ras o u associadas de en tidades /e scritó rio s nacionais. N ão é verdade. Não corresponde à realidade. N esses casos, não se trata de "associações d e escritórios", como em várias o p o r tu n id ad e s tem os nos m anifestado , m as sim. de e n tid a d e s in tern ac io n a is , às quais os escritórios se filiam não só com a finalidade de trocarem inform ações jurídicas e técnicas, m as tam bém e, principalm ente , conviverem , q u an d o da realiza ção d e reuniões e indicar clientes nos respectivos países. N o dia- a-dia são cham adas de "clubes". As reun iões são prom ovidas, no rm alm ente , a cada ano ou sem estra lm ente , em diferentes países, com palestras e eventos sociais. N o Brasil, m u itas das nossas sociedades de advogados são filiadas a essas entidades. Por exem plo, podem os citar; Lex M undi, Interlex, C lube de 88 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II A bogados, W orld Law G roup, Terralex etc. O im portan te , com o observam os, é não confund ir essas enti d ad es (internacionais) com advogados estrangeiros, a tu an d o no Brasil, p o n to ora tra tad o neste artigo. Por d e rrade iro , gostaríam os d e frisar que tu d o isso se deve a tão decan tada GLOBALIZAÇÃO, que alcançou todos os segm en tos d o m u n d o m od ern o e o to rnou pequeno. Existe e existirá lu g a r para T O D O S, d esd e q u e sob a d isc i p l in a da Lei. SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I 89 CAPÍTULO VIII A DENOMINAÇÃO DAS SOCIEDADES DE ADVOGADOS Eduardo Grebler Denominação das sociedades no novo Código Civil A sociedade de advogados é conhecida p o r u m nom e d istin tivo que a d iferencia das dem ais pessoas juríd icas e que deve acom panhá-la d esde o nascim ento. Tal condição é exigida pelo n o v o C ódigo Civil à generalidade d as pessoas jurídicas, p o r oca sião d o respectivo registro no órgão c o m p e te n te '. O nom e da sociedade de advogados é u m direito da p ersona lidade^ , p ro teg ido pelo novo diplom a civil contra o uso indevido p o r p ar te d e terceiros. Sendo a sociedade de ad v ogados um a sociedade sim ples - em bora su i generis - para os efeitos da p ro teção ao nom e, aplicam -se-lhe tam bém as no rm as do novo Có digo Civil concernentes ao nom e em presarial, norm as estas que alcançam indistin tam ente as sociedades em presárias, as simples, as associações e as fu n d açõ es \ ' “Art. 4 6 .0 registro declarará: I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;’ (CCiv), ^ “Art, 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome’ (CCiv). ' “Art. 1.155............... Parágrafo Único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a deno minação das sociedades simples, associações e fundações" (CCiv). 90 SOCIEDADE DE ADVOGADOS VoUme II Da pro teção ao nom e da pessoa - inclusive a jurídica'* - d e corre que o m esm o não po d e ser em pregado em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda qu an do não haja in tenção difam atória^, e que, sem autorização, não p o d e ser u sad o em p ro p a g an d a c o m e rc ia i . Denominação das sociedades de advogados na lei e nos regulamentos especiais O reg ram en to específico da sociedade de ad v ogados advém d o Estatu to d a A dvocacia e da OAB (EAOAB)% lei especial que, no caso de sociedades que envolvam o exercício de certas ativi d ades , o no v o C ódigo Civil consagrou com o fonte legislativa p rim ária". A denom inação da sociedade de advogados tem m erecido a té agora escassa norm atização. Pouco d iz o Estatuto da A dvo cacia e da OAB a respeito deste aspecto da v ida da sociedade de advogados, lim itando-se a exigir que a razão social contenha, obrigatoriam ente, o nom e de pelo m enos u m ad vogado respon sável pela sociedade, p o d en d o perm anecer o d e sócio falecido, * “Art. 52, Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalida de" (CCiv). ^ “A rt-1 7 .0 nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou represen tações que a exponham ao desprezo pút>lico, ainda quando não haja intenção ditamatória." ^“Art. 18, Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial” (CCiv). ' "Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade civil de prestação de serviço de advo cacia, na forma disciplinada nesta Lei e no Regulamento Geral. § r , A sociedade de advogados adquire personalidade juridica com o registro de seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede” (Lei n® 8.906, de 4/7/94). 8 "Art. 983................. Parágralo Único, flessalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de partici pação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo um determinado tipo" (CCiv). SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume It 91 desd e que prev ista tal possib ilidade no ato constitutivo*^. O Re gu lam en to G eral da A dvocacia, igualm ente, dedicou a este tem a apenas u m a breve referência, lim itando-se a rep ro d u z ir a n o r m a já encon trada no EAOAB"'. A lgum regram ento adicional foi p roporcionado pelo ato do C onselho Federal que dispõe sobre o registro e atos correlatos d a s sociedades de advogados, po r meio do P rovim ento n® 92, de 10 /4 /2000 . N esse instrum ento , acha-se tam bém rep ro d u z id a a exigência de que o contrato da sociedade de ad vogados conte nha a razão social, designada pelo nom e com pleto o u abreviado d o s sócios ou, pelo m enos, de u m deles, responsável pela ad m i n istração, assim com o a prev isão de sua alteração, o u m an u ten ção, po r falecim ento d e sócio que lhe tenha d ad o o n o m e” . Indo u m pouco além , estabeleceu-se tam bém que, na com posição da razão social, não p o d em ser ado tadas siglas ou expressões de fantasia o u de características mercantis'^. ' “Ari. 16................. § r . A razão social deve ter, obrigatoriamente,o nome de, pelo menos, um advogado responsá vel pela sociedade, podendo permanecer o de sócio falecido, desde que prevista tal possibilida de no ato constitutivo" (EAOAB). “Art. 3 8 .0 nome completo ou abreviado de, no mínimo, um advogado responsável pela soci edade consta (sic) obrigatofiamente da razão social, podendo permanecer o nome de sócio falecido se, no ato constitutivo ou na alteração contratual em vigor, essa possibilidade tiver sido prevista" (RGA). " “Art. 2°. Vedada a adoção de qualquer das espécies de sociedade mercantil, o contrato social, celebrado por instrumento público ou particular, deve conter: VI - a razão social designada pelo nome completo ou abreviado dos sócios ou. pelo menos, de um deles, responsável pela administração, assim como a previsão de sua alteração, ou manu tenção, por falecimento de sócio que lhe tenfia dado o nome’ (Provimento n* 92/2000}. “Art. 2“ ................ § r . Na composição da razão social, não podem ser adotadas siglas ou expressões de fantasia ou de características mercantis” (Provimento n° 92/2000}. 9 2 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Voijme II Homonímía entre sociedades de advogados O notável crescim ento do n ú m ero de sociedades de advoga dos em todo o país suscitou preocupações com relação à hom o- n ím ia e n t r e so c ie d a d e s in sc r i ta s em d ife re n te s C o n se lh o s Seccionais. N os d ias atuais, a reputação d as sociedades de ad v o g ados transpõe os limites territoriais dos Estados da Federação em q u e estão sediadas, tornando-se conhecidas em todo o terri tório nacional, p o r efeito da com petência e experiência de seus profissionais. N essas circunstâncias, torna-se m ais freqüente a coincidência en tre nom es de sociedades inscritas em diferentes C onselhos Seccionais, p o d en d o d a r origem à confusão en tre as m esm as. Esta questão adq u iriu m aior relevância tam bém pelo fato de q u e sociedades d e ad v ogados reg istradas orig inalm ente em um do s C onselhos Seccionais estaduais passaram a estabelecer-se em ou tros Estados da Federação, em cujos C onselhos Seccionais es tão tam bém obrigadas a se inscrever. C onquan to o registro de sociedades de ad v ogados seja de com petência do C onselho Sec cional da respectiva sede '^ , não se poderia conceber que socie d ad e reg is trada em u m dos Estados da Federação fosse im p ed i da de se reg istra r peran te ou tro Conselho Seccional, seja na for m a d e filial, seja com o nova sociedade form ada, no todo ou em parte , pelos m esm os sócios. Tal discrim inação, se ocorresse, v io laria no rm as e princíp ios constitucionais que asseguram a todos os brasile iros e aos estrangeiros residentes no País - pessoas n a tu ra is e juríd icas - a liberdade d e traba lhar e de se associar em to d o o territó rio nacionaP^. Ao se su bm eter a registro, um a sociedade de ad v ogados pode Ari. 15,§r,EA0AB. " Constituição Federal, art. 5°, incisos XIII e XVII. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume It 9 3 encon trar sociedade de advogados hom ônim a p rev iam en te re g istrada n o C onselho Seccional, caso em que a coincidência de nom es p o d e ocasionar problem as diversos, seja en tre as p ró p ri as sociedades, seja em relação a seus respectivos clientes. C om vistas a resolver as situações já existentes, bem com o a preven ir o su rg im en to de outras, o C onselho Federal d a OAB ed itou o P rov im ento n° 98, de 15/10/2002, criando o C adastro N acional de Sociedades de A dvogados, a ser p o r ele m antido, con tendo todos os d ad o s d as sociedades de ad v ogados existen tes no País. P or ocasião do respectivo p ed ido d e registro d e nova socie d a d e de advogados, o C onselho Seccional envolv ido fica obri g ad o a realizar consulta formal ao C onselho Federal quan to à razão social p re tend ida , cabendo a este responder à consulta em d ez dias. D etectada a existência de sociedade de advogados re g is trada p receden tem ente com a m esm a razão social p re ten d i d a o u com razão sem elhante , o C onselho Federal responderá n ega tivam en te à possib ilidade de registro, ap o n tan d o a iden ti d a d e ou a sem elhança, caso cujo respectivo C onselho Seccional d everá d e te rm in a r aos requerentes para p rovidenciarem outra razão social, que será subm etida à nova consulta. Em relação às sociedades já existentes, d ispõe o norm ativo que, se for de tectada a existência de iden tidade o u sem elhança en tre as razõ es sociais das soc iedades cujos re g is tro s forem efetuados an terio rm ente à im plem entação d o C adastro N acio nal, o C onselho Federal deverá, po r in term édio d o C onselho Sec cional d e te n to r do reg istro posterior, d e te rm in a r à sociedade respectiva que, no p razo de 60 (sessenta) dias, p ro m o v a a com peten te alteração contra tual, seja ap resen tando n ova razão, seja acrescen tando o u excluindo d ados de m aneira a fazer a distin 9 4 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I ção en tre ela e a ou tra registrada precedentem ente. N essa h ipó tese, o C onselho Seccional efetuará consulta formal ao Conselho Federal, ev itando-se a ocorrência de nova iden tidade ou seme- lh a n ç a '\ Outros princípios aplicáveis à denominação das sociedades de advogados Do p o n to d e vista da regra positiva, pois, impÕe-se apenas que, p o r ocasião do registro d a sociedade de advogados na Sec cional d a OAB, o respectivo contrato social contenha dispositi v o sobre: a) a razào social, constando o nom e de pelo m enos um do s sócios responsáveis p o r ela; b) se os contra tan tes assim d e sejarem , a au torização p a ra que o nom e do sócio que vier a fale cer perm aneça na razão social. A lém disso, a razão social não po d erá conter siglas ou expressões de fantasia ou de caracterís ticas m ercantis, nem p o derá ser idêntica ou sem elhante à razão “Art. 4°. Os Conselhos Seccionais ficam obrigados a repassar ao Conselho Federal, no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da publicação deste Provimento, todos os dados necessários à implementação do Cadastro Nacional. § 1 Implementado o Cadastro Nacional com a consumação do repasse desses dados, durante a tramitação dos novos pedidos de registro de sociedades, os Conselhos Seccionais ficam obri gados a realizar consulta formal ao Conselho Federal, quanto à razão sociai preterydida. § 2°. 0 Conseitto Federal responderá à consulta em 10 (dez) dias. sendo que, detectada a existência de sociedade de advogados registrada precedentemente com a mesma razão social pretendida ou com razão social semelhante, apontando a identidade ou a semelhança, respon derá negativamente à possibilidade de registro, devendo o Conselho Seccional consulenfe de terminar aos requerentes que providenciem outra razão social, que será submetida a nova con sulta.” § 3°. Se, do confronto das razões sociais das sociedades cujos registros foram efetuados ante riormente à implementação do Cadastro Nacional, o Conselho Federal detectar a existência de identidade ou semelhança, deverá, por intermédio do Conselho Seccional detentor do registro posterior, determinar à sociedade respectiva que, no prazo de 60 (sessenta) dias, promova a competente alteração contratual, seja apresentando nova razão, seja acrescentando ou excluin do dados que a distingam da sociedade registrada precedentemente. § 4°. Na hipótese do parágrafo anterior, o Conselho Seccional efetuará consulta formal ao Con selho Federal, evitando-se a ocorrência de nova identidade ou semelhança” (Provimento n“ 98/ 2002). SOCIEDADE DE ADVOGADOS VcXuine II 9 5 social d e o u tra sociedadejá existente, m esm o q u e reg istrada peran te o u tro C onselho Seccional. E m bora as disposições da lei e de seus regu lam entos sejam re la tiv am en te lacônicas, certos princíp ios desen v o lv id o s pela d o u tr in a sobre o nom e d as sociedades em geral são tam bém aplicáveis à razão social da sociedade de advogados. ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO assinala que v igem na socieda de d e ad v ogados os princípios da veracidade, d a originalidade e da unicidade, significando, respectivam ente, que o nom e social deve refletir a v e rdadeira com posição societária, ser d istin to de o u tros já existentes e ser único para cada sociedade '^ . N esse sentido, em bora os d ispositivos acim a m encionados n ad a d igam sobre ou tros vocábulos ou expressões, na razão so cial, além d o nom e de pelo m enos u m dos sócios responsáveis, tem -se en ten d id o que a denom inação da sociedade d e ad voga do s não p o d e referir-se a ativ idades que não sejam dire tam ente conexas ao exercício d a advocacia. C om efeito, som ente será ve- raz o nom e social que revelar o objeto da sociedade, para o que é m ister que dele conste, p o r exem plo, expressão com o "advoca cia", "ad vogados" , "consultores legais", "consultores jurídicos", "escritório d e advocacia", "sociedade de advogados" ou asse m elhada , d e m odo que o público saiba tratar-se de sociedade d isc ip linada pelo E statu to da A dvocacia e da OAB'’ . Para conform ar-se a esse m esm o princípio da veracidade, a razão social não deve conter outros vocábulos que in d u zam à confusão ou à concom itância com ou tras a tiv idades profissio nais. T endo em conta que à sociedade de ad v ogados é vedado GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Sociedade de Advogados. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p, 32. SODRÉ, Ruy de Azevedo. Sociedade de Advogados. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. p. 16. 96 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o h j m e I I exercer q u a lq u e r o u tra a tiv id ad e profissional além d a advoca- cia^®, m enc ionar na razão social expressões q u e d en o tem o u tras especialidades, ainda que a sociedade de advogados não as exerça d e fato, feriria a co rrespondência exigida en tre o n o m e e objeto social. O m esm o se p o d e dizer q u an to ao uso d e no m es d e pessoas q u e n ão sejam partíc ipes da sociedade. C on q u an to as d isposi ções reg u lam en ta res estabeleçam apenas que a razão social deve con ter o no m e de pelo m enos u m ad v o g ad o responsável pela sociedade - n a d a an o tan d o sobre nom es d e o u tras pessoas além deste - , a boa exegese dessa no rm a, sob a ég ide d o p rincíp io da veracidade, leva à conclusão de que som ente p o d em constar da razão social os nom es dos advogados que dela façam p a r te na qu alid ad e de sócios. Conspícua exceção a esta regra, expressa m ente contem plada n o Estatuto da Advocacia e da OAB, autoriza que perm aneça na razão social o nom e de ad vogado que tenha falecido na condição de sócio da sociedade, d esde q u e tal possibi lidade tenha sido prevista no ato constitutivo - ou, naturalm ente, em alterações contratuais antecedentes ao falecimento''^. Prenome, sobrenome e alcunha A lgum a controvérsia já se ap resen tou sobre a in terp re tação e alcance d a s n o rm as em relação ao nom e d as sociedades d e a d vogados. A casuística conhecida reg istra d ú v id as su rg id as p o r ocasião d o reg is tro d e contra tos de sociedades de advogados, sobre se seria necessário m enc ionar os no m es com ple tos do s “Art. 16. Não são admitidas a registro, nem podem funcionar, as sociedades de advogados que apresentem forma ou características mercantis, que adotem denominação de fantasia, que realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam sócio não inscrito como advogado ou totalmente proibido de advogar" (EAOAB), '®Ver Nota n° 9 supra. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 9 7 ad v o g ad o s que in tegram a sociedade (p renom e e sobrenom e ju n tos) o u se, ao contrário , adm itir-se-iam os no m es ou sobrenom es iso ladam ente . É certo q u e o novo C ódigo Civil refere-se a nome com o com p re en d en d o o prenome e o sobrenome^'^; p o r seu tu rn o , foi flexível a in terp retação do art. 16, § 1° d o EAOAB, d a d a p e lo R egula m en to G eraP ' e pelo P rovim ento n° 92/2000^^, ad m itin d o q u e a razão social contenha o nome completo ou abreviado, d a í concluir- se ser possível m encionar apenas u m a p arte d o n o m e do ad v o g ad o in teg ran te d a sociedade. M as q u e p arte d o no m e deve constar d a razão social: o p re no m e ou o sobrenom e? O direito brasileiro, seg u in d o a sis tem á tica do s d ire itos eu ropeus , priv ilegia o patroním ico , ou no m e de família, com o a p ar te principal do nom e, que confere à pessoa na tu ra l sua ind iv idualizaçâo em relação às d em ais pessoas. Por isto, tem -se en ten d id o que, p ara com por a razão social d a socie d ad e de advogados, adm ite-se o uso apenas d o sob renom e do ad v o g ad o sócio-’ . PA U LO LUIZ NETTO LÔBO lem bra q u e o Conselho Federal da O A B , antes do novo Estatuto, jâ decidira que a sociedade de advoga dos podia ser identificada ou pelo nome completo de um de seus advo gados ou pelo sobrenome, pelo menos, de qualquer um deles^^. H á ex ceções, co n tu d o , u m a d as quais no tic iada p o r ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO, q u an d o o p re n o m e seja particu la r m en te d is tin tivo d e m o d o a bem identificar o ad v o g ad o inte- ® Ver Nota n° 2 supra. Ver Nota n° 10 supra. “ Ver Nota n° 11 supra. " GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Obra citada, p. 35. LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB. Brasília: Brasília Jurídica, 1994, p. 79. 98 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I gran te d a sociedade. O bserva GLAD STO N M AM EDE, en tre tan to, restrição à utilização de a lcunha o u p seu d ô n im o na razão social, salvo se in co rpo rada ao nom e do ad v o g ad o em deco rrên cia d e retificação de seu registro civiP^. Denominação de fantasia ou de características mercantis C om certa freqüência tem -se colocado a q uestão d o q u e se deva en ten d e r p o r denominação de fantasia, p a ra os fins d o art. 16 d o E statu to d a A dvocacia e da OAB, ou siglas ou expressões de fantasia ou de características mercantis, p a ra os efeitos do art. 2°, § 1° do P ro v im en to n° 92/2000. Acim a já se co m en to u so b re a necessidade de q u e a razão social trad u za a v e rd ad e ira com po sição e objeto da sociedade, com o form a d e d a r ao púb lico a cor re ta in form ação a respeito d as pessoas que a in teg ram e d a s a ti v id ad es q u e d esem penha . E p o r força desse m esm o princíp io que n ão se p e rm ite à sociedade de ad v o g ad o s ad o ta r q ualque r d enom in ação q u e vá além de sua razão social, po is fazê-lo im p licaria ap a rta r-se da estrita co rrespondência q u e d ev e haver e n tre os e lem entos fáticos e a noção levada ao conhecim ento público p o r in term éd io d o no m e social. Q u an to às expressões de características mercantis, parece ter h a v ido certa red u n d â n c ia n a no rm a q u e a im p ed e (art. 2°, § 1®, P rov im en to n° 92/2000)'^. N a realidade, veda-se à sociedade de ad v o g ad o s conter em seu n o m e quaiscjuer expressões qu e n ão cor re sp o n d a m à sua v e rd ad e ira n a tu reza , com posição o u objetosocial - n ão apenas as q u e tenham características m ercantis. As- ^^MAMEDE, Gladston. A Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. Porto Alegre: Síntese, 1999. p. 129. “ Ver Nota n" 12 supra. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 99 sim, sen d o a sociedade d e ad v o g ad o s im p ed id a d e revestir a form a ou características m ercantis (art. 16, EAOAB) - na te rm i nologia do novo C ódigo C iv ú , form a ou características empresárias n ão lhe seria lícito utilizar, em sua razão social, vocábulos ou ab rev ia tu ra s p ró p r ia s d as sociedades m ercan tis - a tu a lm en te sociedades empresárias - , tais com o limitada, companhia, sociedade anônima o u suas respectivas abreviações. C uriosa questão , d iversas vezes suscitada em d iferen tes C on selhos Seccionais da OAB, d iz respeito ao uso d o sinal com o conectivo do s nom es que in tegram a razão social, t ido p o r al g u n s com o expressão d e características m ercantis. C on q u an to haja, de fato, tradic ional uso desse sinal em conjunto com o vo cábulo companhia, a d esignar as sociedades m ercan tis - hoje em p resárias - em q u e haja sócios de re sp onsab ilidade ilim itada, o sinal & n a d a m ais é d o que a estilização do conectivo latino “et", incapaz, p o r si só, de conferir características m ercan tis - o u em p resá rias - à sociedade em cuja razão social figurar. N ão há, pois, m otivo justo p a ra que se vede a utilização desse sinal com o in te g ran te d a razão social das sociedades de advogados. E m bora não se inclua p rop riam en te na questão d o n o m e da sociedade de advogados, tem certa relação com ela a p rá tica - hoje corren te - d e estilização gráfica d o n o m e d a sociedade para fo rm ar u m a logom arca, ora agregando-se ao n o m e certos ele m entos gráficos - sím bolos, acrônim os, linhas, cores etc. - , ora d o tan d o -o de características d is tin tivas p ró p ria s , capazes d e lhe conferir o rig ina lidade visual. N ão se encon tra vedação expressa a esse respeito n as no rm as regu lam en ta res da profissão, q u er no tocante ao ad v o g a d o in d i v id u a lm en te considerado , quer no tocante às sociedades de ad vogados. H á, con tudo , no C ódigo d e Ética e D isciplina d a OAB, 100 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I recom endação no sen tido d e q u e a p u b lic id ad e do ad v o g ad o d eva ser feita com discrição e m oderação , e q u e o anúnc io não d ev a con te r fo tografias, ilustrações, cores, f igu ras , d esenhos , logotipos, m arcas o u sím bolos incom patíveis com a sob riedade d a advocacia^^. In teg rando-se a lacuna norm ativa com recu rso à analogia , é razoável concluir que a utilização de efeitos v isuais associados ao n o m e d a sociedade d e ad vogados deva, igualm ente , p au ta r- se pe la d iscrição e com patib ilidade com a sob ried ad e d a a d v o cacia. O g ra n d e elastério destes conceitos perm ite q u e as socie d ad e s d e ad v o g ad o s façam uso dos recursos da m o d e rn a co m u nicação, observando-se, no en tan to , q u e a a tiv id ad e advocatícia não é com patíve l com excessivos im pactos visuais, n em com a exploração com ercial d e marcas. Conclusão O tra tam en to legal e regu lam en ta r d a denom in ação social d a sociedade de ad v o g ad o s obedece a regras e p rincíp ios ap licá veis à gen e ra lid ad e d a s sociedades, na óptica d o C ódigo Civil. P au ta-se tam bém , n o en tan to , p o r certos d ispositivos legais e regu lam en ta res que, em bora poucos, es tabeleceram a d iscip lina específica d a denom inação d este tipo p a r ticu la r d e sociedade sim ples. Busca-se, com os lim ites im postos à denom inação d a s socie d ad e s de advog ad o s , q u e estas não percam , p e ran te o público, ^ "Art, 2 8 .0 advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, individual ou coletivamen te, com discrição e moderação, para finalidade exclusivamente informativa, vedada a divulga ção em conjunto com outra atividade." “Art. 3 1 .0 anúncio não deve conter fotografias, ilustrações, cores, figuras, desenhos, logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis com a sobriedade da advocacia, sendo proibido o uso dos símbolos oficiais e dos que sejam utilizados pela Ordem dos Advogados do Brasil" (Código de Ética e Disciplina da OAB). SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I 101 suas características essenciais, q u e as fazem dis tingu ir-se do gê n e ro p a r a c o n s t i tu í re m esp éc ie su i g eneris , com traç o s q u e O R L A N D O GOM ES identificou com o de u m a sociedade interna^ . Em decorrência dessas limitações, a sociedade d e ad v o g ad o s só p o d e ter com o denom inação os nom es com pletos ou os so b renom es d e u m ou m ais de seus sócios atuais (excepcionalm ente tam b ém d e sócio falecido, se assim h o u v er co n stad o d o contra to social). A o no m e ou aos nom es d e seus sócios d ev e rá es ta r ap o s ta a expressão indicativa d e tratar-se d e u m a reu n ião d e profis sionais d a advocacia , em a lgum a d as varian tes q u e incluem as designações escritório de advocacia, advogados, advocacia, consulto res jurídicos etc. A dm ite-se o uso m o d erad o d e elem entos gráficos distin tivos, que, todav ia , n ão são passíveis de reg istro no C onse lho Seccio nal d a OAB, n em tam pouco de p ro teção m arcaria , p o r caracteri z a r tal reg is tro a exploração d e m arca de ind ú stria e comércio. * * “ GOMES, 0 liando. Parecer, in Sociedade de Advogados. São Paulo: Pinheiro Neto Advoga dos, 1975. p. 117 e 118, apt/d FERRAZ, Sergio e l al, Sociedades de Advogados. São Paulo; Malheiros Editores, 2002, p, 17. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume I I 203 CAPÍTULO IX AS COMISSÕES DE SOCIEDADES DE ADVOGADOS O sw aldo Naves N o E sta tu to da O rd em dos A dvogados d o Brasil, art.64, está a base e o fu n d am en to da criação d as com issões tem áticas para auxiliar o C onselho Federal a d esem p en h ar suas a tiv idades e la b o ran d o pareceres, p ro m o v en d o pesquisas, sem inários, acom p a n h a n d o a tram itação de projetos d e lei e p ro p o n d o m ud an ças legislativas. As sociedades de ad v ogados têm n ecessidades es pecíficas, d iferen tes d as enfren tadas pelos ad v o g ad o s q u e a tu am iso ladam en te ou do s in tegrantes da advocacia pública, acen tu ad a s pelo crescim ento do n ú m ero d e escritórios e do s re su lta d o s d a g lobalização na prestação dos serviços jurídicos. O C o n selho Federal, en ten d en d o a necessidade de m elh o r d ese m p e n h a r suas a tiv idades referentes ao tem a, ap resen tan d o es tu d o s e p ro p o s ta s com a fina lidade de m elho ra r o re su ltad o au ferido pelos escritórios d e advocacia , invasão d o cam po profissional e ou tros tem as afetos, criou, em 18 de agosto d e 1997, a C om issão d e Sociedades de A dvo g ad o s (CSAD). A CSAD, com issão p erm anen te e com reg im en to com u m às d em ais com issões do C onselho Federal, tem p o r objeto "p ro p o r a adoção d e m ed id as necessárias ao ap r im o ram en to d as socie d ad e s d e ad v o g ad o s e à m elhoria do s re su ltados pe las m esm as 104 SOOEDAOE DE ADVOGADOS Volume II auferidos, iden tificando invasões d o cam po profissional d as re feridas sociedades p o r categorias o u profissionais não habilita dos". O C onselheiro Federal pelo Acre, Dr. Sérgio Ferraz, é o a tu a lp re s id e n te d a com issão , q u e co n ta com m em b ro s sócios d e esc ritó rio s com re p resen tação , d e n tre o u tra s , em c id ad es com o Rio d e Jane iro , São Paulo , B rasília, Recife, S a lv ad o r e F orta leza . As Seccionais d a O rd e m d o s A dvogados d o Brasil, a exem p lo d e São P aulo e Pernam buco, criaram suas com issões d e soci ed ad es d e advogados, possib ilitando que a apreciação d e tem as com o o reg is tro d e sociedades se processem com a análise p ré via d e com issão especializada, d e a lgum a form a em p res tan d o ce leridade ao trabalho, e ana lisando tem as d e in teresse localiza do da Seccional. A com issão d e sociedades, den tre as várias a tiv idades d esde a sua criação, a tu o u n a regulação d a a tuação d o consu lto r em d ire ito estrangeiro , tem a d o P rov im ento n'' 91/2000, m atéria d e destacad a com plexidade, já que in terage com reg ras hoje em d is cussão na O rgan ização M undial d o Com ércio (OMC), na fo rm u lação do con tra to d e associação en tre sociedades de ad v ogados e d estas com advogados, P rovim ento 92/2000, e partic ip o u de aud iência pública na C âm ara dos D ep u tad o s sobre a tr ib u ta ção d e sociedades p res tad o ras de serviço e ap o iou sem inários com o o q u e d iscu tiu a m u ltid isc ip linariedade , g lobalização e liberalização d a profissão jurídica n o âm bito d a O M C, CATS, ALCA, M ercosul e U nião Européia. C om o adv en to de novas leis e m esm o na d iscussão delas, ap o ia d a pe la assessoria p a r lam en ta r d a O rd e m e a trav és dos m em bros d a com issão, a CSAD se dedica a tem as com o o cu id a d o so trab a lh o d e a tua lizar o P rov im ento q u e tra ta d a s socieda SOCIEDADE OE ADVOGADOS V o l u m e II 105 des d e ad v o g ad o s p a ra harm onizá-lo às reg ras d o n o v o C ódigo C ivil. M ais re c e n te m e n te , te n d o p o r r e la to r o D r. O r la n d o G iacom o, en cam inhou à Escola S uperior d a A dvocacia o p ro g ram a d o C u rso sobre a A dm in istração d e Escritórios de A d v o cac ia /S o c ied ad es de A dvo g ad o s e D epartam en tos Jurídicos. Em razão da especia lidade d o objeto d a CSAD, nos ú ltim os m eses ela vem se institucionalizando com o in terlocu to ra junto ao M inistério d e Relações Exteriores para assu n to s re lacionados ao com ércio de serviços, ten d o som ado esforços com o u tra s ins titu ições p a ra o d esen v o lv im en to de e s tu d o s e re la tó rio s nas negociações no tabuleiro internacional. Im p o rtan te p o r sua p e rm an en te a tuação em favor do s escri tórios d e advocacia , a com issão está d ispon ível p a ra consu ltas e sugestões a través d o correio eletrônico do C onselho Federal, car ta, fax o u ofício, ana lisando m atérias d e âm bito nacional d e com petência da OAB. SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 107 CAPÍTULO X ÉTICA PROFISSIONAL E SOCIEDADE DE ADVOGADOS Sergio Ferraz 1. A infração ético-disciplinar e os novos desafios. 2. A dissemi nação das sociedades de advogados e seus efeitos. Uma pri meira etapa histórica. 3. O Estatuto de 1963 (Lei n- 4.215). 4. O Estatuto de 1994 e sua preocupação com a responsabilidade disciplinar das sociedades de advogados: 4 .1 .0 tratamento do tema, antes de 1994; 4.2. O Estatuto de 1994; 4.2.1. Seu artigo 15; 4.2.2, Seu artigo 17, 5. Os pressupostos da responsabiliza ção disciplinar das sociedades de advogados. 6. Conclusões. 1. A infração ético-díscíplínar e os novos desafios A s sem elhanças de natu reza , en tre as infrações d iscip linares e as penais, são m uitas e têm sido, ao longo d o tem po, m ais e m ais en fatizadas n a legislação e na d ou trina . Essa aproxim ação etiológica tem feito com que igua lm en te se aprox im em , dia-a- d ia , os respectivos regim es jurídicos repressivos. A sorte de considerações, acim a perfu n c to riam en te {até p o r q u e axiom áticas) enunciadas, p ropõe , concretam ente , ao analis ta d o tem a a ser aqui versado , um a indagação que, adem ais de ser retórica, já carrega em si u m instrum en ta l m etodológico: se a 108 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II lei penal — de reg ra a m ais severa d a s reações sociais aos com portam en to s desv iad o s — já adm ite, com tendência inclusive ao a la rgam en to d e suas fronteiras de incidência, a responsab iliza ção crim inal d a pessoa juríd ica, p o r que a n o rm a tiv id ad e ético- d isc ip linar fugiria dessa questão? A resposta só p o d e ser um a: tal escap ism o não tem razão de ser, q u er no p lan o da causa lida de, q u er no d a conveniência, quer, enfim , n o da razoabilidade. Por isso, an tes de orig inar estranheza , ap lausos m erece o o rd e n am en to ju ríd ico da advocacia brasileira, ao d e te rm in a r a ap li cação de sua m alha ético-disciplinar às sociedades de ad v o g a dos. Aliás, a d issem inação dessa m o d alid ad e d e exercício advo- catício p o d eria a té en g en d ra r graves deform ações na p ra g m á ti ca d a profissão , d o p o n to de vista ético, n ão tivesse nosso legis lado r p ru d e n te m en te cu id ad o d a m atéria. 2. A disseminação das sociedades de advogados e seus efeitos. Uma primeira etapa histórica Bom é q u e fique gizado: o tem a em deba te não é u m a n o v id a d e d a Lei 8.906/94. M as tam pouco sua consideração é assun to vetusto . Em v erd ad e , de sociedades d e ad v o g ad o s cogitou, se q u e r d e longe, o antigo R egulam ento da OAB (seja na versão orig inal. Decreto n" 20.784, de 14.12.31, seja na versão "consoli d ad a " , veicu lada n o Decreto 22.478, de 20.02.33). M as inexiste razão p a ra estranhezas: na década de 30, d o século passado , a v isão d a advocacia era exclusivam ente a d o exercício in d iv id u al, solitário, a rtesanal até. C oube à Lei 4.215, de 27.04.63, a p rim az ia na d iscip lina do a s s u n to . C o lh e - s e co m fa c i l id a d e , n ã o só d o s t r a b a lh o s legislativos qu e an tecederam a edição d o Estatu to , m as a in d a da p o n d eração do u trin ár ia qu e seqüenciou sua p rom ulgação , a ins- SOCIEDADE OE ADVOGADOS Volume II 2 0 9 ■Lpiração q u e conduz iu à inovação. £ aí nos d ep a ram o s com a com p lex id ad e crescente do o rd en am en to juríd ico , a expansão dos cam pos m ateria is da ciência jurídica, a proliferação legislativa incontrolável, o d inam ism o sem pre e sem pre m ais vertig inoso d as relações sociais, a globalização da econom ia etc. De fato, hoje é p ra ticam en te im possível d e tenha o ad v o g ad o conhecim ento enciclopédico d o direito , até m esm o do d ire ito d o seu país. O traba lho d e equ ipe , q u a lq u e r que seja o figurino ad o tad o , é q u a se inevitável no p resen te (e no fu turo , p o r certo), d a advocacia. D aí o su rg im en to d a s sociedades d e advogados. S ociedade de novos conto rnos, p o r certo, a té p o rq u e não vo ltad as p recipua- m en te à es tru tu ração d as prestações de serviços a terceiros, m as sim à discip lina d a s relações recíprocas en tre os ad v o g ad o s sóci os, q u an to a seus liam es adm in is tra tivos e a regu lação da s ap ro p riaçõ es d o s re su lta d o s p a tr im o n ia is au fe r id o s . N o en tan to , em bora novas, sociedades exclusivam ente d e advog ad o s , neces sariam en te in form adas, pois, de todas as p ecu lia rid ad es e no b rezas ad s tr itas ao desem p en h o daadvocacia. E é essa circuns tância n o d a l q u e vai estar a em basar o núcleo d es te trabalho, consoante m ais ad ian te se explicitará. M as n ão se constró i u m arcabouço cultura l, fechando os olhos ao passado . Assim , com o prim eiro passo , im p en d e considerar com o o leg islador d e 1963, d ire tam en te in fluenciado pelos tra balhos d o C onselho Federal d a OAB, voltou seus o lhos a esse cam po até en tão v irgem en tre nós. E com o chegou à discip lina do assu n to alvo d este trabalho. 3. O Estatuto de 1963 (Lei 4.215) Em 1956, o C onselho Federal da O rd em do s A d v o g ad o s do Brasil rem eteu , ao C ongresso N acional, o A ntepro je to q u e viria. 110 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume « p o r fim, em 27 d e abril de 1963, a ser o E statu to legal (em senso estrito) da profissão advocatícia: a Lei 4.215. Ao fazê-lo, a OAB inseria, d en tre as g ran d es nov idades da iniciativa, a sociedade d e advogados. E dizia-se a tan to in sp irad o não só em m atrizes n o rm ativas q u e nesse sen tido apo n tav am (v.g., artigo 1.371 do en tão v igen te C ódigo Civil, artigos 1° e 4° da Lei de Im posto de R enda da época — Lei n“ 154, de 25.11.47), com o a in d a na cres cente d ifu são do m odelo , na E uropa (particu larm ente . França e Inglaterra) e nos Estados Unidos. M as não fa lta ram vozes d iv er gentes, as q uais en fatizavam , com o fulcro das objeções, a rg u m en tos que iam d o risco da m ercantilização d a profissão, a té o inevitável esgarçam ento d o sigilo e da confiança pessoal, m a tr i ciais na relação advogado-cliente . C on q u an to a resistência v ies se a ser afinal vencida, no curso do tem po, v e rd ad e é que, m es m o na Lei 4.215, m esm o após o início de sua vigência, a socieda d e d e ad v o g ad o s perm aneceu sendo, d u ran te m u ito tem po , fon te d e es tranheza e, a té m esm o p a ra alguns, d e desconforto . N o ân gu lo d o re lacionam ento en tre o n o v o m odelo d e a tu a ção e os im pera tivos éticos d a profissão, a es tranheza e o d e s conforto m enc ionados aparecem com nitidez: efetivam ente, con q u an to sem pre se tivesse p o r pacífico que os "m em bros d a soci ed ad e estão sujeitos a todas as regras éticas, e p o r elas re sp o n d e m em casos de transgressão, ind iv idua lm en te" ("Ética Profis sional e Estatu to do A dvogado", Ruy Sodré, LTr, pág . 479), a sujeição ética da sociedade m esm a só foi tim idam en te tangenci- ada q u an d o , n o p a rág ra fo 5" do artigo 77, se assen tou que “Aplicam-sc à sociedade de advogados as regras da ética profissional que disciplinam a propaganda e publicidade". SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 1 1 1 E tão-só! M as, m esm o nessa ap e rtad a sujeição, a p erp lex id a d e grassou. D em onstra-o sobejam ente o silêncio, sobre a in teli gência q u e o preceito deveria m erecer, dos m ais au to rizad o s co m en tad o res d o Estatu to , serv indo aqui d e exem plos em blem áti cos os no m es de R uy de A zevedo Sodré (na obra clássica, mais acim a, citada) e d a d u p la H addock L obo /F ranc isco Costa N eto ("C om entários ao Estatu to da OAB", Rio, 1978). 4. O Estatuto de 1994 e sua preocupação com a responsabilidade disciplinar das sociedades de advogados Já bem d iversa era a vivência da advocacia em sociedade, q u a n d o da elaboração da Lei 8.906. P resen tem ente a advocacia de g ra n d e e m éd io p o rte (seja no que d iz respeito aos valores econôm icos d o s interesses patroc inados, seja no ân gu lo do n ú m ero d e clientes que com põem a carteira d o escritório) é p re d o m in an tem en te a tu ad a p o r sociedades d e advogados. E, p o r isso, a subm issão da sociedade ao Código de Ética e D isciplina é in te g ra l (a r t ig o 15, § 2", d a Lei 8 .9 0 6 /9 4 ) , a e la se im p o n d o , co rresponden tem en te , responsab ilidade d isc ip linar (Lei 8.906/ 94, artigo 17), in d ep en d en tem en te da do sócio. C laro está q u e os preceitos legais, agora traz idos à colação, não são d e sim ples e au tom ática intelecção. N em p o r isso é dad o ao in térprete , ou ao aplicador, desistir da labu ta exegética. 4.1. O tratamento do tema, antes de 1994 N a d im ensão m ais restrita — no ponto de que estam os a tratar apenas — d a Lei 4.215, apesar m esm o dos pressupostos conceituais m a is co n tid o s en tão v igen tes, p a ra a re sp o n sab iliz ação não- patrim onial d as sociedades, não houve escapism o científico. 222 SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II C o nfron tado com as d ificu ldades d o p arág ra fo 5°, artigo 77, do E statu to d e 1963, Ruy Sodré (op. cit., págs. 479/480) postou- se com o corajoso h erm eneu ta q u e era. E propôs: a) os m em bros da sociedade estão sujeitos a todas as re g ras éticas, e p o r elas resp o n d em em caso de transg res são, ind iv idualm ente; b) na ocorrência de infração ética, de p ar te da sociedade, em ato p o r ela pra ticado com o uso d a denom inação social — o q u e ocorreria, com o se viu, no s casos d e ex cesso o u im p ro p ried ad e na p ro p a g an d a e / o u na p u b li c idade — , responderia o responsável pela sociedade, "com o se fosse ele, ind iv idua lm ente , o au to r da tran s gressão, caso este não seja ap o n tad o " . E m bora n ão v is lum brem os a razão d a subsid iariedade, abraçada n o co m en tá r io d e Ruy Sodré, revela-se, d e sua p a r te , u m d e d ic a d o esforço n o en fren tam e n to d a in o v ação da n o rm a tiv id ad e , com as d if icu ld ad es a ela ineren tes. N ossa rejeição à su bsid ia riedade em q uestão assenta- se em n o ssa p ercepção de q u e a re sp o n sab ilização , es ta tu ída no dispositivo legal em referência, t inha com o alvo p rec ípuo a sociedade (ou, q u an d o m enos, aquele que p o r ela responsável), sendo então secundária a iden tificação d o au to r d a transgressão (a não ser que fosse ele tam bém o responsável pe la sociedade). 4.2. 0 Estatuto de 1994 Do leitor d a Lei 8.906 não se p o d e esperar a tenção e d ed ica ção inferiores. Já agora, dois são os m an d am en to s no rm ativos d e sujeição das sociedades d e advogados aos im perativos ético-disciplinares. SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e II 1 1 3 4.2.1. Seu artigo 15 O p rim eiro deles é localizado no p arág ra fo T , d o artigo 15. N essa passagem , o legislador, re to rn an d o à tem ática do p a rá grafo 5° do artigo 77, da Lei 4.215, am pliou , en tre tan to , no tav e l m en te o âm bito da aplicabilidade d o C ódigo d e Ética e Discipli na: agora , não só às sociedades se com pele a observância das regras deonto lógicas alusivas à pub lic idade e à p ro p a g a n d a — atua lm en te , é todo o C ódigo de Ética e D isciplina q u e há d e ser p o r elas fielm ente observado. A cláusula ' 'n o q u e couber", com q u e a rrem a tad o o parágra fo 2" d o artigo 15 d o Estatu to , só po d e ser en ten d id a de u m a forma: apenas não se ap licam as regras ético-disciplinares às sociedades, q u an d o tenham aque las com o únicas destinatárias possíveis o advogado , in d iv id u a lm en te con s iderado . É o q u e se dá, p o r exem plo, q u a n d o o C ódigo de Ética e D isciplina d ita ao ad v o g ad o que vele “p o r sua repu tação pes soal" (art. T , parágra fo único, III), ou q u an d o lhe com ina o d e ver d o es tu d o e d o ap rim o ram en to (artigo 2", p a rág ra fo único, inciso IV); o u q u an d o o ad vogadoincorre na falta d iscip linar consistente na inépcia profissional (Estatuto, artigo 34, XXIV). 4.2.2. Seu artigo 17 M as a lém d o artigo 15 esta tu tário tam b ém cabe enfatizar, em nossa lei básica da advocacia, seu artigo 17, assim redigido: "Além da sociedade, o sócio responde subsidiária e ilim itadamente pelos danos causados aos clientes por ação ou omissão no exercício da advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que possa incorrer". 114 SOCIEDADE DE ADVOGADOS V o l u m e I I Da conjugação d o transcrito preceito, com o q u e veicu lado no artigo 15, p a rág ra fo 2‘\ deixando agora de lado a figura do sócio in d iv id u a lm e n te considerado , decan ta-se d a n o rm a em análise q u e as sociedades de advogados, além de resp o n d erem p a trim o n ia lm en te pelos dan o s que causem aos clientes, p o r es ses fatos danosos re sp o n d em a inda d iscip linarm ente . M as com o se configura u m a responsabilização societária, e, adem ais , com o funciona en tão o m ecanism o sancionatório? 5. Os pressupostos da responsabilização disciplinar das sociedades de advogados A p edra-de-toque , conducen te à resposta a essas indagações, repousa , n o rm a tiv am e n te . nos artigos 15 e 17 esta tu tários, aci m a referidos. E, factualm ente, na prática d e atos d as sociedades de advogados, infringentes ao o rd en am en to jurídico. O R egu lam ento G eral d o Estatu to d a A dvocacia e da OAB faculta, no artigo 42, às sociedades de advogados a prática d e atos próprios, com o tais devendo ser en tendidos aqueles desem p en h a d o s com o uso d a razão social, in d isp en sáv e is às fina lidades societárias e que não sejam legalm ente reservados com exclusivi d a d e aos advogados ind iv idualm ente tom ados em consideração. Tais atos N Ã O se lim itam a prá ticas de cu n h o un icam ente adm in is tra tivo , "com o a contratação de em p reg ad o s , a locação de im óveis , a aquisição d e bens e utensílios, a m an u ten ção de serviços d e inform ática, de eq u ipam en tos d e ar-cond icionado e tc ." (S erg io N o v a is D ias, in " S o c ie d a d e d e A d v o g a d o s " , M alheiros Ed., 2002, pág. 96). A lém desses com etim entos, que não são, aliás, exclusivos das sociedades d e advogados, m uitos o u tros há, concernentes a essas sociedades, q u e não se encartam n as a tiv idades p rivativas do ad vogado — ind iv íd u o , m as são SOCIEDADE DE ADVOGADOS Volume II 2 3 5 alvo de nosso Estatuto e d izem respeito ao exercício da advoca cia. É o q u e se dá, p o r exem plo, com a pub lic id ad e im oderada ou enganosa d a sociedade, a captação de clientela m ed ian te d is tribuição de "folders” e utilização d e "m alas d ire ta s" e corres pondên c ias eletrônicas, o seu patrocín io de e m p reen d im en to de cu n h o d u v id o so ou a ten ta tório aos princíp ios d o artigo 2" do C ódigo de Ética e Disciplina {v.g., apo iar a sociedade u m sem i nário juríd ico q u e se p ro p o n h a à susten tação de alternativas que im portem em redução ou exclusão da im p era tiv id ad e d o p a tro cínio advocatício), a violação coletiva (i.é, com o uso da razão social) ao sigilo profissional etc. Em todas as situações, aqui aven tadas, o que se tem é a p rá ti ca, pela sociedade d e advogados, com a utilização d e seu nom e, de atos ofensivos ao p ad rão ético-disciplinar da advocacia. N ão é possível, destarte , afastar aprioristicam ente a possib ilidade , em tese, de as sociedades de ad v ogados com ete rem ilícitos ético- discip linares. E é bom que assim se en tenda , sob p en a de, cedo ou ta rde , a tra irm os p a ra o cam po da advocacia, pelos eventuais lesados, a aplicação d o Código de Defesa d o C o n su m id o r e da a tuação do s PRO CO N s e CO D ECO N s, o que, defin itivam ente , o artigo 44 do Estatu to alm ejou im possibilitar. Im porta registrar, p o r lea ldade, que nossa posição conflita com a d e a lg u n s em i nen tes h erm eneu tas , q u e susten tam a inv iab ilidade juríd ica de responsabilização d iscip linar d as sociedades d e ad v o g ad o s (por exem plo: A lfredo de Assis G onçalves N eto, "Sociedade d e A d vogados" , 2. ed. Juarez de Oliveira, págs. 50/55; Paulo Luiz N etto Lôbo, "C om entários ao Estatu to d a A dvocacia", 2. ed. Brasília Jurídica, pág. 96; Gisela G ond in Ramos, "E sta tu to d a A dvoca cia", O A B /S C Ed., pág. 224). Posição q u e rejeitam os, pelos fu n d am en to s an tes esposados. 116 S O C I E D A D E O E A D V O G A D O S V o l u m e I I 6. Conclusões Enfim, d a nossa leitura d o artigo 17 esta tu tário , ex tra ím os o corolário d e que, pelos atos típicos da sociedade, com o uso de sua razão , contrários às reg ras ético-disciplinares, re sp o n d e a sociedade m esm a (por conseqüência, as responsab ilidades su b sid iária / so lidária do s sócios, p rev istas no artigo 17 d o Estatu to e 2^ inciso X, d o P rov im ento n° 92/2000, são patrim oniais , civis exclusivam ente). D o u tra parte , com o sujeitas que estão as sociedades, p o r ex pressa d isposição legal já referida, aos preceitos ético-discipli- nares da advocacia , tem -se que, com o co n trapartida , a lcançadas pelos p er tinen tes com andos sancionatórios do s artigos 34 e se gu in tes do Estatu to , ev iden tem en te n o q u e com patíve l com a n a tu re za d e en te ideal. N esse ângu lo , facilm ente se p o d e d e tec tar, nos a rticu lados 34 e subseqüentes, vários que cabem nas a ti v id ad es da pessoa jurídica; s irvam de exem plo os incisos IV, VII, XIII, XVI, XXI e XXIII, do artigo 34 estatu tário . E, p o r consegu in te, expõem -se elas às facu ldades d e censura , su sp en são d a s ati v idades, cassação de registro (no caso d e ser p u n id a , p o r três vezes, com su sp en são — art. 3 8 ,1) e m ulta . O esforço m aior, deste ensaio, radica-se pois na susten tação d e q u e o velho, m as inafastável, b rocardo seg u n d o o q u a l não há crim es o u pen a , sem lei que p rev iam ente o estabeleça, em n ad a se conflita com a tese, aqu i esposada, d e responsab ilização e apenação discip linares d as sociedades de advogados. T anto m ais conven ien te a n ó s se afigura o em p en h o d o u trin á rio ora in ten ta do, q u an d o se tem em vista o cenário pato lógico cada vez m ais d ifu n d id o en tre nós: escritórios alienígenas su focando a ad v o cacia brasile ira, sem atenção às norm as qu e disc ip linam su a p re sença n o país; g ran d es escritórios, inclusive brasile iros, iançan- S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e ( I 117 do-se à com petição p red ató ria e à conquista agressiva d a clien tela, m ed ian te oferecim ento d e serviços em a tro p e lo a p ro ced en tes relações profissionais estabelecidas (m uitas vezes, p ro p o n d o honorá rio s irrisórios — até m esm o zero — p o r a lg u n s meses, p a ra a tra ir o interessado); a exploração ex trem a d o jovem a d v o gad o e d o estagiário , sem p aga condigna e sem lim ites de jo rna d a s ; a s u b m issã o d o s in te re sse s n ac io n a is ao s d a s g ra n d e s corporações in ternacionais, inclusive com a prá tica d esab rid a de lobby. Enfim , toda u m a m acro -delinqüênc ia ético -d isc ip linar, tipificada m uito m ais n a a tuação d as sociedades advocatícias, que n a d o s ad v o g ad o s com o indivíduos. Sabem os d o desafio conceituai e do incôm odo d a n o v id ad e q u e este traba lhop o d e vir a suscitar. M as ad vogar, criar e sus ten tar conceitos jam ais foram opções com odistas. S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 119 CAPÍTULO X SOCIEDADE DE PROFISSIONAIS LIBERAIS E SOCIEDADE DE ADVOGADOS Alfredo de A ssis Gonçalves Neto 1. Introdução U m a q uestão in teressante, q u e tem p re o cu p ad o os países in tegran tes da U nião Européia, d iz respeito às p ro fissõ es in te lec tu a is p ro teg id a s (aqui conhecidas com o regu lam en tad as) , isto é, àque las cujo exercício é su b o rd in ad o à aprovação em u m exam e de habilitação, com obriga to riedade d e reg istro p o s te rio r n o res pectivo ó rgão d e classe, reg u lam en tad o r d a ativ idade . Discute- se a respeito d e um a flexibilidade m aior n o q u e toca ao seu exer cício sob form a societária e sobre o seu fu tu ro n u m a d im ensão transnacional. O assun to passou a assum ir m aio r re levo com o fenôm eno da globalização, que acentuou a tendência, ao que tu d o indica irreversível, d a necessidade, cada vez m ais freqüen te , do exercício, não só em colaboração, m as em co m u m o u em co-par- ticipação de pessoas no desenvolv im ento dessa espécie de ativ i d a d e profissional. Para ap im entá-lo , re la tivam ente a um a dessas profissões, o P arlam ento E u ro p eu e o C onselho d a U nião E uropéia ap ro v a ram , em 16 de fevereiro de 1998, a D iretiva 9 8 /5 /C E , " tenden te a facilitar o exercício p e rm an en te da profissão de ad v o g a d o n u m E stado-m em bro d iferen te daq u e le em qu e foi ad q u ir id a a quali 120 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S volume II ficação profissional" . Essa D ire tiva q u ebra u m a série d e e n tra ves e preconceitos existentes nas d iversas legislações d o s Esta- d o s-m em b ro s e finaliza sancionando a facu ldade d e exercício em com um , inclusive sob form a associativa, da p rofissão d e ad vogado , p o r se ter to rn ad o um a realidade, e a lib e rd ad e de es ta belecim ento do s ad v o g ad o s cidadãos d e seus E stados-m em bros p ara , com as condicionantes que estabelece, perm itir-lhes a tu a r p ro fissionalm ente em qualq u e r deles. Exceção feita à Ing la terra e d em ais países segu idores d o sistem a da common law, houve, aí, u m a g u in ad a su rp reen d en te em relação à legislação d a m aioria d o s E stados-m em bros in tegrantes dessa com u n id ad e , o n d e a in d a grassa m uita polêmica a respeito (I) da licitude d o exercício das profissões intelectuais regulam entadas sob forma de associação ou d e sociedade e (11) da possib ilidade de conferir aos advogados perm issão para um a atuação transnacional, aparen tem ente incom patível com a d iversidade de seus o rdenam entos jurídicos. Esses países, n u m a visão geral, sem pre b u sca ram tra ta r de m o d o diferencia l o exercício em co m u m d as profissões intelec tua is reg u lam en tad as , criando um a série d e restrições ao seu exercício sob form a societária e, no q u e toca ao exercício d a a d vocacia, p ra ticam en te todos lim itando-a às fron te iras d e seus respectivos territórios. Sem p re te n d e r ser exaustivo, acho in teressan te p e rco rre r ra p id am en te a lgum as legislações do sistem a europeu-con tinen ta l, q u e fo rm am a base d o nosso sistem a jurídico, com o in tu ito de p ro v o car o d eb a te d o assun to no Brasil, p rin c ip a lm en te em v ir tu d e d as no rm as q u e aqu i v ieram a ser recen tem ente in tro d u z i d a s pelo C ódigo Civil d e 2002, d as d iscussões q u e têm aflo rado q u an to ao exercício dessas profissões em form a societária e, n o m ead am en te , da advocacia n o âm bito d o M ercosul. S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 121 2. As sociedades de profissões protegidas no ordenamento francês N a França, as pessoas que exercem profissão liberal p o d em constitu ir so c ied ad es civis p ro f iss io n a is (sociétés civiles professi- onnelles), d isc ip linadas pela Lei n. 66-879, de 29 d e n o v em b ro d e 1966, qu e estabelece os critérios e as condições gerais em que são adm itidas . S egundo essa lei, tais sociedades d ev em ser constitu ídas, exclusivam ente, p o r pessoas físicas q u e exerçam a m esm a profissão liberal, subm etida a u m esta tu to ou reg u lam en to ou cujo títu lo seja p ro teg ido . É v ed ad a a partic ipação d e pessoas jurídicas e de qualquer ou tra que não possua a habilitação exigida p a ra a ten d im en to do objeto social. Do m esm o m odo , é preciso que 05 sócios d a sociedade civil profissional exerçam efetiva e reg u la rm en te a profissão, d e acordo com as leis e regu lam en tos q u e a d isc ip l in a m '. Inicialm ente, só pod iam ser constitu ídas soc iedades civis para o exercício d as profissões liberais, tam bém ch am ad as profissões in telectuais pro teg idas. A g ra n d e n o v id ad e su rg iu com a Lei n" 90-L258, de 31 d e dezem b ro de 1990, q u e possib ilitou o d esen v o lv im en to dessas a tiv idades, tam bém , a través d e sociedades trad ic iona lm ente com erciais ou, m ais p recisam ente, da s sociétés p ro fe s s io n n e lle s co m m erc ia le s ou so c ié té s d 'exerc ise liheraP - p assan d o a ser perm itida , então, a constitu ição, p a ra tal fim, "de sociedades d e responsab ilidade lim itada, d e sociedades anôni- ' A aplicação dessa lei a cada profissão é detalhada por decretos do C o n s e il d ’E ta it. Especifica mente no que respeita à advocacia, as condições para seu exercício em sociedade foram fixa das pelo Decreto n- 92-680, de 20 de julho de 1992, complementado, posteriormente, pelo De creto n® 93.492, de 25 de março de 1993. ^As condições de aplicação das disposições referentes às ditas sociedades profissionais co merciais a cada profissão também dependem de decreto específico do Conselho de Estado. Sua aplicação à profissão de advogado foi regulada, posteriormente, pelo Decreto n- 93-492, de 25 de março de 1993. 122 S O C I E D A D E O E A D V O G A D O S V o l u m e I I m as ou, m esm o, de sociedades em com andita p o r ações, reg idas pela Lei de 24 d e ju lho d e 1996, sobre sociedades com erciais, sob as reservas qu e a m esm a lei estabeleceu"^. O fato su rp re en d e u a do u tr in a pela ap a ren te q u eb ra do sistem a, em v ir tu d e d e regras h íb ridas q u e ap rox im am essas sociedades d as sociedades com er ciais e, ao m esm o tem po, p reservam -lhes o reg im e civil, no tada- m en te no tocante à jurisdição. O btem pera , p o r isso, o respeitado PAUL DIDIER, Professor da U nivers idade d e Paris II, que, em bora se tenha hesitação em adm itir um a n a tu reza m ercantil para essas sociedades, parece correto considerá-las com o u m a varia ção d a em p resa m ercantil e não com o u m a en tid ad e específica^. A p a r tir dessa lei, sem pre ju ízo da p o ssib ilidade d e opção pela constitu ição de sociedades civis profissionais, p rev is tas na lei de 1966, as nov as espécies p o d em ser criadas sob as d en o m i nações de "soc iedades de exercício liberal d e responsab ilidade lim itada (S.E.L.A.R.L.), sociedade de exercício liberal em form a a n ô n im a (S.E.L.A.F.A .) e so c ied a d e d e exerc íc io l ib e ra l em com and ita p o r ações (S.E.L.C. A .)"^ com estas p rincipa is p a r ti cu laridades: a. a sociedade não p o d e exercer a ou as profissões q u e constitu am seu objeto social senão após a licençad a au to r id a d e ou d a s au to rid ad es com petentes ou a inscrição na lista ou listas d o cadastro d as respectivas o rdens profissionais; b. q u a n d o se tra ta r d e sociedade anôn im a d eve haver, u m n ú m ero m ínim o de três associados, não sendo perm itido o voto ^JAUFFRET, Alfred. D roit com mercial. 21, ed „ atualizada por Jacques MESTRE. Paris: Libraire Générale de Droil et de Jurisprudence, 1993, n- 506, p. 329. 'DIDIER, Paul. Droit com mercial - {'enterpriseem société. 2. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1997, p. 40. ^JAUFFRET, Alfred, op. loc. cit. S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 1 2 3 plural para q u em não seja profissional em exercício na socie d ad e e, sen d o criadas ações preferenciais sem d ire ito d e voto, elas n ão deverão pertencer aos profissionais q u e a tu a m na sociedade; c. m ais d a m e tad e do capital social e dos d ire itos d e voto deve ser de tido , d iretam ente, ou po r in term édio d e sociedade cons titu ída pelos assalariados profissionais em exercício na socie dade; d. cada associado re sp o n d e com a to ta lidade de seu p a trim ôn io pelos atos profissionais q u e praticar, sen d o a sociedade com ele so lidariam en te responsável; e. na sociedade d e exercício liberal em com and ita p o r ações os sócios com an d itad o s (adm inistradores) n ão p o d e m p o ssu ir a q u a lid ad e de com erciantes, resp o n d en d o , po rém , ilim itada e so lidariam ente pelas d ív idas sociais; f. os geren tes, adm in is tradores em geral, p res id en tes d e órgãos de adm in is tração e, pelo m enos, dois terços d o s m em bros de conselho de adm in is tração ou d o conselho fiscal d ev em ser sócios exercendo sua profissão na sociedade; g. a ju risd ição p a ra questões em que um a d as p a r te s seja um a dessas sociedades é civil e não com ercial, p o d e n d o os sócios, m ed ian te convenção, subm eter suas d ivergências a árb itros p o r eles escolhidos. Sem as vestes d e u m a sociedade p ro p r iam en te d ita o u - na linguagem d o C ódigo Civil brasile iro - com o sociedade n ão p e r sonificada^, o art. 22 d a m esm a Lei n" 90-1.258 p rev ê a possib ili d a d e d e ser igualm en te ajustada, en tre pessoas físicas q u e exer- ® Sobre o assunto, ver minhas Lições de D ireito Societário, 2. ed. São Paulo: Juarez de Olivei ra. 2004, n®71,pp, 177-184. 124 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S Volume II çam profissão liberal su b m etid a a u m esta tu to legislativo o u re g u lam en ta r em q u e o título seja pro teg ido , u m a sociedade em conta de participação, d esp rov ida d e p erso n a lid ad e juríd ica, na qual os sócios são considerados solidária e ilim itadam en te res ponsáveis pe ran te terceiros pelas obrigações assu m id as p o r q ual qu er deles na q u a lid ad e de sócios. N o que se relaciona com a atuação de advogados em grupo h av ia p rev isão expressa n a respectiva lei d e regência (art. 8° da Lei r f 71-1.130, d e 31 d e dezem bro de 1971)^, ad m itin d o o exer cício d a advocacia em conjunto seg u n d o estas variantes: em es critório com um , a través d e um a associação o u d e u m a socieda de civil profissional, ou, a inda, p o r contratos de participação en tre ad v o g ad o s o u g ru p o de advogados. S egundo o reg im e ju rídico p rev is to nessa lei, m esm o sem associar-se, os ad v ogados p o d e m ter suas salas d e trabalho em u m m esm o escritório. Tal s ituação é regu lam en tad a , de sorte q u e esse escritório coletivo tem d e o b ter au to rização p ara funcionar ju n to ao C onselho da O rd e m d o s A dvogados, sem que o com partilh am en to d e e sp a ços caracterize um verdad e iro exercício da profissão em g rupo , p o r p erm anecer individual. Por o u tro lado, era e continua sen d o p e rm itid o aos a d v o g a dos q u e se u tilizem d a sociedade de m eios p ara o exercício de sua p rofissão (art. 36 da Lei n" 879, de 29 d e no v em b ro de 1966), ou seja, q u e celebrem u m contra to societário p a ra ter seus escri tórios ag ru p ad o s com o fim de utilização, em com um , d o s ele m en tos e e s tru tu ra s ú te is o u necessárias ao exercício d a advoca cia, sem q u e a sociedade p o r eles assim constitu ída possa , ela m esm a, exercê-la. E, p o r não exercer u m a d e te rm in a d a pro fis são, a sociedade d e m eios pode , perfeitam ente , ser in teg rad a p o r ' Regulamentada pelo Decreto n- 72-486, de 9 de junho de 1972. S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 125 sócios d e profissões diferentes, já que cada q ual age iso ladam ente no atendim ento de sua própria e particular clientela, não lhes sen do vedado, nem m esm o, possuir clientes com interesses opostos. A m atéria relativa à sociedade d e ad v o g ad o s veio regu lada, posterio rm ente , pelos Decretos n “ 92-680, d e 20 d e ju lho d e 1992, e n^ ’ 93-492, d e 25 de m arço de 1993, estabelecendo-se neste a p o ssib ilidade de sua constituição sob form a de so c ied ad e de re s p o n sa b i l id a d e lim itad a , an ô n im a ou co m an d ita p o r ações, com as p articu la rid ad es acim a ind icadas e sob as reservas contidas neste ú ltim o Decreto. Essa sociedade p o d e ser constitu ída en tre ad v o g ad o s inscritos ou estagiários, pertencen tes à circunscrição d a m esm a C orte de A pelação na qual tiver sua sed e e naque las em q u e for inscrito um ou m ais do s sócios q u e exercerem a p ro fissão no seio da sociedade, cabendo ao C onselho d a O rd e m dos A dvo g ad o s ap ro v a r o ato de sua criação e arqu ivá-lo (recebê-lo em depósito). A transferência de quo tas, ações ou p a r te s sociais é p e rm itid a com a condição suspensiva da aprovação d e sua ins crição; as no rm as relativas ao exercício profissional são aplicá veis à sociedade, aos sócios e even tuais associados etc. De todo m odo , a sociedade só ad q u ire p e rso n a lid ad e ju ríd ica com sua m atrícu la no Registro d o Com ércio e d e Sociedades. A ssim , os ad v o g ad o s franceses hoje tan to p o d e m o p ta r pelo m odelo d a s sociedades d e meios, com o, igualm ente , lançar m ão das so c ied ad es civ is p ro f iss io n a is (inclusive n a s m o d a lid ad es lim itada , an ô n im a o u em com andita p o r ações, acim a referidas), v isan d o à p restação d e serviços coletivos, n isso perm itindo-se u m ajuste q u e se afasta da a tiv idade profissional clássica. N essa ú ltim a espécie de sociedade, com o dizem HAM ELIN e DAMIEN, o cliente não possu i v ínculo com u m ad v o g ad o , com atuação in d iv id u a l o u em conjunto com u m o u m ais colegas, eis q u e con 3 2 6 S O C t E D A O E D E A D V O G A D O S V o l u m e 1 1 tra ta com a sociedade, tendo-a na q u a lid ad e de seu advogado . O s ad v o g ad o s in tegran tes dessa sociedade ficam em seg u n d o p lano , com sua in d iv id u a lid ad e su p e rad a pela d a sociedade. O objeto d e tal sociedade é o exercício em co m um da advocacia, consistindo seu negócio em propiciar o trabalho coletivo, em troca do pessoal, e d iv id ir os resu ltados desse traba lho en tre os p ro fissionais p o r ela reun idos* . N o q u e se refere à m atéria relativa à a tuação d e ad v o g ad o s estrangeiros, d ip lo m ad o s e inscritos em o u tros E stados-m em - b ros d a U nião Européia, as norm as da D iretiva n"" 9 8 /5 /C Ees tão genericam ente con tem pladas nos artigos 200 a 204 d o D ecre to 191-1.197, de 27 de novem bro de 1991, e posterio res a lte ra ções, sendo-lhes p e rm itid o exercer liv rem ente a p ro fissão em territó rio francês, seg u n d o as condicionantes ali p rev istas. H á a identificação d a titulação que cada q ual deve p o ssu ir em seus p a íses d e o rigem , exigência d e inscrição, subm issão às n o rm as a que estão sujeitos os ad v ogados franceses etc. 3, A legislação alemã A a tiv id ad e sob form a de sociedade d e p rofissionais liberais é d isc ip linada, n a A lem anha, pela Lei d e S ociedades d e 1"^ de ju lho de 1995, que, para tanto , cria um a nova form a d e socieda d e (um a espécie de sociedade sim ples), a lternativa àque las tra dicionais, a P a r tn e r sc h a f t ou, no vernáculo , a Sociedade d e P ar ceria (um a sociedade d e pessoas, à sem elhança da parhiership do d ire ito inglês). N esse tip o societário, tam bém só p o d em se associar pessoas físicas q u e exerçam profissão liberal, v ed ad a a partic ipação de ^Sobre o assunto, MAMELIN, Jacques, e DAMIEN. André. Les regies de Ia nouvelle profession d ’advocat. 4. ed. Paris: Daloz, 1981, pp. 46-66. S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o W m e I I 127 pessoas jurídicas, m esm o congêneres, e d e q u em m ais n ão tiver a necessária habilitação. O exercício da a tiv idade profissional está cond ic ionado aos regu lam en tos específicos de cada profissão. A responsab ilidade dos sócios pelas d ív idas sociais é ilim itada, o q u e a caracteriza com o sociedade de pessoas, d esp ida de p e rso n a lid ad e jurídica. É possível, po rém , lim itar-se a resp o n sab ilid ad e d o sócio p o r d an o s deco rren tes de erro profissional. E m relação à soc iedade d e advog ad o s , especificam ente, já in sp irada na D ire tiva d o Parlam ento E uro p eu n"" 9 8 /5 /C E , foi ed itada , em 31 de agosto d e 1998, lei q u e altera as no rm as refe ren tes à profissão de advogado , criando a poss ib ilid ad e d o exer cício da advocacia na form a d e um a sociedade de responsabili dade limitada. Trata-se d a prim eira sociedade de capita l reco nhec ida na A lem anha para o exercício de p rofissão liberal. N o en tan to , em consideração às especificidades da profissão de ad v o g ad o , referida lei buscou a ten u ar os efeitos da socieda de de capital. S egundo suas disposições, a m aioria d a s quotas sociais e, conseqüen tem ente , dos votos d ev em perten ce r a ad v o gados, aos quais tam bém incum be a adm in is tração da socieda de. Aos sócios, po rém , não é perm itida a partic ipação em outra sociedade d e profissionais. In tegrada p o r ad v o g ad o s q u e efeti vam en te estejam au to rizados ao exercício d a profissão, a socie d a d e não p o d e ter po r sócios pessoas exclusivam ente p restadoras de capital, a in d a que habilitadas p ara a advocacia , ev itando , com isso, a exploração d o exercício da profissão, q u e d ev e p e rm a n e cer, m esm o em sociedade, com o cunho de p restação ind iv idua l e v inculativa d a s pessoas do s ad v ogados sócios o u d o s ad v o g a dos p a ra tan to contratados. 128 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 4. 0 sistema italiano Para bem en ten d e r com o a m atéria re la tiva às sociedades de "profissões p ro teg id as" é hoje tra tada no d ire ito italiano, con v ém re tro ced e r ao p eríodo d e edição do C ódigo Civil d e 1942. C om o se sabe, esse d ip lom a foi ed itad o p o r partes, a p a r tir de 1938. A ntes d a publicação d o Livro Del Lavoro (que tra ta ria do traba lho au tônom o, n o qual foi inserida a a tiv idade intelectual, ap a rtad a da noção d e em presa), m as já d u ra n te os traba lhos de sua elaboração, foi p ro m u lg ad a a Lei n® 1.815, d e n o v em b ro de 1939, q u e vetava o exercício d a s profissões intelectuais em for m a societária. Ela perm itia , p o rém , a associação p rofissional, identificada p o r denom inação com a dicção "escritório técnico, legal, com ercial, contábil, adm in is tra tivo ou trib u tá rio " , segu i d o d o n o m e e sobrenom e, bem com o dos títu los profissionais dos associados individuais. A d o u tr in a e a ju r isp ru d ê n c ia ita lianas , p o s te r io rm e n te , in t ro d u z i r a m a d is t in ção e n tre soc ied ad es de p ro f iss io n a is e so c ied a d es de m eios , e en tre p rofissões p roteg idas e p ro fis s õ e s não protegidas. "Em p a r tic u la r , a C o rte d ^ C assação t i n h a e x p re s sa m e n te in d icad o q u e a m esm a ra z ã o q u e p re s c re v e u m a m o d a l id a d e p a r tic u la r p a ra as assoc iações d e p ro f is s ionais , v e ta q u e u m a em p re sa com erc ia l p o ssa d e se n v o lv e r u m a a t iv id a d e p ro f iss io n a l p ro te g id a deb a ix o d e u m a firm a in d iv id u a l e cujo ti tu la r n ão se id en tif iq u e co m o u m p ro f is s i o n a l h a b il i ta d o (sent. n. 3441/93). N ão era ex c lu ída , p o ré m , s e g u n d o a S u p re m a C orte , a co n stitu ição d e so c ied a d e , n o c ir c u n sc rito âm b ito d a a t iv id a d e re la tiv a à sa ú d e , p o rq u e sua co n s ti tu ição p o d e r ia ter p o r fim a o ferta d e u m p ro d u to o u se rv iço d iv e rso e m ais com p lex o re la t iv a m e n te ao trab a lh o d o p ro f is s io n a l in d iv id u a lm e n te co n s id e rad o , o u a g es tão do s S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 129 m eio s in s tru m e n ta is p a ra o exercício d e u m a a t iv id a d e p ro te - A ssim , u m a sociedade en tre pessoas de profissões reg u lam en tad as era perm itida som ente q u an d o a) o objeto social p revisse u m p ro d u to o u u m serviço d i verso , e certam ente m ais com plexo, em re lação ao t ra b a lh o p re s ta d o pela pessoa n a tu ra l h ab ilitad a , com o seria o caso de u m a sociedade d e en genharia re la tiva m en te à p restação de u m engenheiro , o u a in d a o da a tiv id ad e de u m hospital em relação à p restação d e u m m édico; e b) n o caso de a sociedade ter p o r objeto a realização da gestão d o s m eios in strum en ta is p a ra o exercício d e um a a tiv id ad e profissional p ro teg ida , q u e fosse, n o en tan to , d is tin ta d a organização dos bens d e q u e se utilizasse. De todo m odo, a referida Lei n^ * 1.815 não excluiu a possibili d a d e d e exercício em form a associativa (não societária), quan d o tal associação fosse constituída entre pessoas habilitadas o u au to rizadas ao exercício d e u m a m esm a e única ativ idade intelectual. Era freqüen te , na Itália, a estipulação de con tra tos pelos quais u m a d e te rm in ad a sociedade de m eios e serviços obrigava-se a fornecer ao profissional todos os bens in s tru m en ta is e serviços d o s q uais ele necessitava e este, de sua vez, a co n trib u ir com a lg u m recu rso em d inheiro ou em bens in natiira p a ra a socieda de: desse m o d o n ão ficava co m prom etido o ca rá te r fiduciário típico da p restação d o profissional, q u e perm anec ia o ún ico su jeito a m an te r relação com sua p ró p r ia clientela. ^DISEGNI, Giuíio. Socifità tra profession istí: qua le fu tu ro? ConsígIíoNazionale dei Ragíonierí Commercialisti - Summa 183, /2002/novembre/p. 46-50. 130 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I ITratava-se, com o indicado , de sociedade d e m eios o u servi ços, caracterizada pela ausência de u m a a tiv id ad e profissional conjunta o u co m u m peran te a clientela, sem q u e se fizesse p re sente, aí, o p ressu p o sto da colaboração en tre os sócios no d esen vo lv im ento d a a tiv id ad e social. O caráter pessoal d a p restação in telectual acen tuava a n a tu reza in tu itu personae da sociedade - o suficiente n eg a r a adm issib ilidade d e sociedades de capital en tre q u an to s que exercessem profissões in telec tuais p ro teg idas , po is é sab ido q u e a discip lina d a s sociedades de capita l con tras ta abertam en te com o p rincíp io in sp irad o r d a Lei n" 1.815, de 1939, pela necessária qualificação profissional do s sócios e pelo p rincíp io d a transparência . Essa p ro ib ição v igeu até a Lei Bersani (n" 266, d e 7 d e agosto d e 1977), q u e revogou o art. 2° da até en tão v igen te Lei n® 1.815, d e 1939. M as o p ro b lem a d as sociedades d e p ro fiss iona is libe ra is n ão ficou reso lv id o p lenam en te , p o rq u e o reg u lam en to , ao qual a lei se re p o r to u p a ra regu lá-las, n u n ca foi ed itad o . P o rém , essa Lei, na op in ião de DISEGNI, " teve o co n d ão de e lim i n a r u m vício d e in co n stitu c io n a lid ad e ínsito n a Lei d e 1939, q u a n d o m en o s sob o aspecto da d isp a r id a d e d e tra tam en to , re la tiv am en te às figu ras profissionais d is tin ta s (basta p en sa r no caso d a soc ied ad e de engenharia , consen tida pe la Lei M erloni, ter. n. 109/94)""’. A Lei Bersani, con tudo , possib ilitou su s ten ta r-se q u e u m a sociedade en tre profissionais intelectuais seria u m a espécie de sociedade de p restação de serviços, com capacidade d e exercer em n o m e p ró p r io a profissão. A pesar disso, n a prá tica, os res pectivos contra tos sociais m an tiveram com o n o rm a a pessoali- d a d e na execução d a p restação profissional pela pessoa na tu ra l '«DISEGNI, Giuiio, cit.. p. 47. S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e l i 131 lega lm ente habilitada , sua independência e sua re sponsab ilida de in d iv id u a l pelo que fizesse" . C om o ad v en to da Diretiva 9 8 /5 /C E , a Itália incum biu-se de se ad e q u a r às suas norm as, recepcionadas pelo D ecreto Legisla tivo n*' 96, de 2 de fevereiro de 2001, v isando , essencialm ente, facilitar o exercício d a advocacia em u m E stado-m em bro d is tin to d aq u e le n o qual o ad v o g ad o ad q u ir iu sua habilitação pro fis sional. O in teressan te é que, em bora lim itado a reg u la r a profis são d o s advog ad o s , foi nessa o p o rtu n id ad e q u e o leg is lador in tro d u z iu no o rd en am en to juríd ico italiano a figura da sociedade de advog ad o s , fazendo cair, assim , as lim itações ao exercício em form a societária, d as profissões in telectuais p ro teg id a s ou re g u lam entadas. S egundo a p rev isão contida no artigo 16 do D ecreto Legisla tivo n° 96 de 2001, a a tiv idade profissional de rep resen tação , as sistência e defesa em ju ízo p o d e ser exercida em form a com um "seg u n d o o tipo da sociedade en tre profissionais, d en o m in ad a de sociedade d e advogados". A sociedade d ev e inscrever-se na Seção d a O rd e m do s A d v o g ados d e su a sede, a ela aplicando-se n a tu ra lm en te as norm as legislativas, p rofissionais e deonto lógicas que d isc ip linam a p ro fissão forense. A constitu ição da sociedade d e ad v o g ad o s deve ser rea lizada p o r escritu ra pública ou p riv ad a au ten ticad a e tem p o r objeto exclusivo "o exercício com um d a p rofissão do s p ró p rios sócios". O ato constitu tivo da sociedade d ev e ind icar os sócios, a sede e o objeto social; se não forem ind icados os sócios q u e têm a adm in is tração da sociedade, esta p ertence a qua lq u e r deles d isjun tivam en te , e não p o d e ser confiada a terceiros, com " Cf. recomendação do Conselho Nacional dos Notários a seus membros na elaboração dos instrumentos de constituição das sociedades de profissões regulamentadas (DISEGNI, Giulio, c it ,p . 48). 1 3 2 S O C I E D A D E O E A D V O G A D O S V o l u m e I I isso exclu indo-se a partic ipação social d e p essoas es tran h as à profissão. Só po d em ser sócios os portadores d o título d e advoga do, seja d o direito italiano, seja do direito estrangeiro estabelecido na Itália - o que significa que não são adm itidas sociedades inter- disciplinares ou cujos integrantes pertençam a outras profissões. Q u an to à razão social, a lei d e 2001 ad ap ta à soc iedade de ad v o g ad o s a prev isão v igente em m atéria d e sociedade em nom e coletivo, com expressa exigência de que tenha u m a razão social constitu ída pelo n o m e e pelo títu lo profissional d e todos os sóci os o u d e u m o u m ais sócios, seguidos d a locução "e ou tro s" (ed altri) e da ind icação de se tra ta r de sociedade de profissionais, em form a abrev iada "s.t.p ." (sodetà tra profissionisti). T am bém há n o rm a especial d isp o n d o q u e as q u o tas de p a r ti cipação p o d e m ser objeto de transm issão p o r ato en tre v ivos com o consen tim en to de todos os sócios; em caso de m orte a quo ta d o sócio falecido deve ser liqu idada p a ra seus herdeiros , se es tes, p reen ch en d o os requisitos d e sócio, n ão p re te n d am p ro sse g u ir na relação societária. N ão há o u tras prev isões especiais, re p o rtan d o -se a lei, qu an to ao m ais, às d isposições re la tivas à soci ed a d e em n o m e coletivo p a ra aplicação subsid iária - o q u e traz à tona a q ues tão d e saber se um a sociedade d e ad v o g ad o s p o d e ser co n sid erad a em presária o u se fica m an tid a d is tan te dessa qualificação. Suas particu laridades, contudo , en fa tizando "a pes- soa lidade d a prestação , a sub je tiv idade perso n a lizad a q u e ca racteriza o desenvo lv im ento e a função d o profissional, n o caso específico d o advogado , não liberado da garan tia de in d ep e n dência, faz p en sa r que não é a objetiv idade da em presa , societária o u associada q u e seja, a se erigir no fu tu ro o leit m o tiv d o m in an te d a a tiv id ad e e da figura do profissional"^^. '^DISEGNI.GiuIiO, c it.,p . 49, S O C f f i O A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 133 A lém disso, re ferido Decreto Legislativo in tro d u z iu no o rd e n am en to ita liano a possib ilidade de exercício p e rm an en te , no territó rio d a Itália, d a profissão d e ad v o g ad o p o r p a r te d e cida d ão s d e u m E stado-m em bro da U nião E uropéia , d e posse do seu respectivo título, tan to em caráter in d iv id u a l com o em for m a associada ou societária. 5. Em Portugal Em P o rtu g a l não h á lei que discip line as sociedades de p ro fissionais liberais, m as sim atos no rm ativos específicos p a ra cada profissão. Para os ad v o g ad o s h á a sociedade civil de ad v o g ad o s , cujo reg im e ju ríd ico é fixado pelo Decreto-Lei n° 513-Q /79 , d e 26 de d ezem b ro d e 1979 {alterado pelo Decreto-Lei n*^ 237, de 30 de agosto d e 2001) que, em 28 artigos, con tém reg ras bas tan te d e ta lhad as d isp o n d o sobre sua constituição, e s tru tu ra , func ionam en to, adm in is tração , re lacionam ento en tre os sócios, atribuições, transm issão d e partic ipações, n atu reza d a s contribuições, d e li berações, d isso lução etc. N esse tipo societário, só h á aquisição de personalidade jurídi ca com seu registro na O rdem dos A dvogados de Portugal, tendo po r escopo exclusivo o exercício em com um d a profissão de a d vogado p o r seus sócios. A pesar d o cunho especial de que se re veste, n o tad am en te d a pessoa lidade d o exercício d a a tiv idade profissional, há discussões acerca da natureza em presarial, o u não, da sociedade de advogados ou, pelo menos, d as g randes socieda des de ad v ogados que lá desenvolvem suas a tiv id ad es ’^ N o tocante à a tuação d e ad v o g ad o s estrangeiros em seu ter- A respeito do tema; ABREU, Jorge Manuel Coutinho de. Da em presaria lidade - as empre sas do d ire ito . Coleção Teses. Coimbra: Almedina, 1999. p. 100 e seg. 1 34 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I ritório , o C onselho G eral da O rdem dos A dvo g ad o s de Portugal baixou, em 7 d e m aio d e 2002, o "R egu lam ento de Registro e Inscrição do s A dvo g ad o s P rovenientes de O u tro s Estados-M em - bros d a U nião E uropéia", que, in co rporando as d isposições le gais v igentes, d isp ô s sobre a liberalização e as condicionantes p a ra o exercício d e sua advocacia n aque le país , em consonância com a referida Diretiva baixada pelo P arlam en to Europeu. 6. Tratamento no Brasil O o rdenam en to jurídico nacional não fazia q ua lque r distinção en tre sociedades de prestação de serviços em geral e sociedades constitu ídas para o exercício de ativ idades intelectuais, den tre es sas as de profissões regu lam entadas'^ . Todas possu íam u m único regim e jurídico, que era o estabelecido pelo Código Civil d e 1916, segu n d o as previsões genéricas de seus artigos 1.379,1.381 e 1.409, aplicáveis às sociedades civis em geral, gênero no qual se rep u ta vam en q u ad rad as as sociedades de prestação de serviço. A pesar disso, não só o exem plo d as legislações estrangeiras, m as u m en foque p rá tico apon ta d iferenças que reco m en d am a existência de u m tra tam en to peculiar, p o rq u e , en q u an to a lg u m as sociedades de prestação de serviços p re sc in d em d e m ão- de-obra qualificada, o u tras têm com o p re ssu p o sto a a tuação de pessoas com ta len to p ró p r io ou com conhecim entos técnicos es pecíficos, ob tidos em cursos q u e fornecem títu los d e habilitação profissional. ' ‘ Hà tratamento diferenciado no campo do Direito Tributário, não permitindo nossa legislação, por exemplo, que as sociedades de profissões regulamentadas adotem o sistema de tributação conhecido como SIMPLES, mas, em contrapartida, assegurando-lhes regime especial no to cante ao COFINS (hoje a questão da revogação do benefício instituído pela Lei Complementar n. 70 pende de definição pelo Supremo Tribunal Federal) e ao Imposto sobre Serviços, que tem tomado como base de cálculo para sua incidência, normalmente, não o volume do faturamento da sociedade, mas o número de profissionais que através dela exercem sua atividade. S O C I E D A D E DE ADVOGADOS Vohjme II 135 U m a sociedade constitu ída p ara p res ta r serviços d e lim peza, p o r exem plo, p o d e desenvolver sua a tiv idade sem necessidade d e id en tifica r cada q ual d aq u e les q u e recru ta p a ra exercê-la, p o d e n d o substitu í-los nas funções sem que isso afete o m o d o de p re s ta r o serviço ou que o fato seja re levan te p a ra o d estina tário d e sua a tiv id ad e , isto é, para qu em con tra ía os serviços. Para este, o que im porta é a qualidade do serviço que a sociedade lhe oferece, sendo-lhe irrelevante verificar quem é a pessoa que o pres ta efetivamente. O contrato é com a sociedade, sendo indiferente a identificação da pessoa por ela recrutada para cumpri-lo. Nesse exemplo, sobressai a em presa, ficando o executor efetivo da presta ção contratada em plano secundário ou, até m esm o, ignorado. Já a p ro d u ção in telectual é, p o r natu reza , pessoal. N in g u ém procura um a sociedade de artistas para com prar-lhe u m quadro , p o rq u e aí o que im porta é o sócio-pintor ou o em pregado-p in to r (por sua inspiração e pelo trabalho que ele p ró p rio produz). É o q u e se dá, tam bém , c o m a m aioria d a s ch a m ad as p ro fis sões regu lam en tad as, objeto destas considerações: u m a socieda d e q u e re ú n e ad v o g ad o s não exerce a advocacia , n em a d e m éd i cos a m edicina. O q u e h á é o exercício in d iv id u a l d a profissão pelas pessoas de ten to ras d a co rresponden te habilitação, serv in d o a sociedade de apoio p ara que elas a exerçam . A ssim com o o d o m d o artis ta q u e recebe a encom enda d e u m q u ad ro , tam bém o títu lo d e habilitação profissional é ind ispensável p a ra o exercí cio dessas d itas profissões liberais, não sendo possível nem p e r m itid o q u e a elas se d ed iq u em pessoas q u e não p o ssu am a n e cessária qualificação. A m esm a particu la rid ad e - de ser necessá ria a assunção d o serviço pela pessoa na tu ra l e n ão pela pessoa ju ríd ica d a sociedade - (e já aqui pelo conhecim ento técnico su posto e n ão pela q u a lid ad e d o re su ltado d a obra) recom enda 136 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S Volume II u m regim e pecu lia r para q u e não se abra a p o ssib ilidade d e o exercício d a profissão esconder, sob o m an to d e u m a sociedade constitu ída, a tuação d e terceiros erm os da habilitação específica qu e constitua seu escopo social. N o cam p o d a advocacia esse p rob lem a aflorou, m ais a g u d a m en te n a prá tica, com a abertu ra d e sociedades civis de ad v o g a d o s que, n u m p rim eiro m om ento , pareciam ser incom patíveis com os p o s tu lad o s d a profissão, n o tad am en te os re la tivos à pes- s o a l id a d e d a a tu a ção p ro fiss iona l, o s ig ilo e a p ro ib içã o d e agenciam en to d e causas, m ed ian te a partic ipação nos re su lta d o s sem colaboração na execução dos serviços. C o n tu d o , tra ta va-se d e u m a rea lidade que n ão p o d ia ser d e sp re z a d a '^ . Foi p o r isso q u e o an te rio r Estatu to da O rd em do s A d v o g a d o s d o Brasil, con tido na Lei n® 4.215, d e 1963, ad m itiu , pe la p r i m eira vez , u m a sociedade de profissionais liberais com con tor nos d iversos d aque les genéricos estabelecidos pelo C ódigo C i vil d e 1916, aplicáveis às sociedades civis de p restação d e servi ços. N a referida Lei ficou estabelecido, pa ra o q u e a esta exposi ção in teressa , que “os advogados podem reunir-se, para colaboração profissional recíproca, em sociedade civil de trabalho, destinado à disci plina do expediente e dos resultados patrimoniais auferidos na presta ção de serviços de advocacia” (art. 77), dev en d o ser p re s ta d as in d i v idualm en te , po rém , as ativ idades profissionais "quando se tra tar de atos privativos de advogado, ainda que revertam ao patrimônio '^Sobre a origem das sociedades de advogados no Brasil, reporlo-me ao meu livro Sociedade de Advogados. {2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, n - 1, pp. 7-8). Com todo acerto, obtempera Daniela V. L. de MELO BORGES que, nesse tipo societário, “muito mais importante do que o imóvel em que se localiza a sociedade e demais bens corpóreos lá presentes, o verdadeiro elemento valorativo da sociedade é a própria atividade intelectual exercida por seus sócios, associados ou empregados, ou seja, o bem incorpóreo trazido pelo profissional através de seu intelectoque, juntamente com os outros bens maiores da sociedade, os clientes, possam resul tar num perfeito equilíbrio, através do qual poderá ser atendida a função social da advocacia e da sociedade de advogados" (Empresa de trabalho inte lectual - a a tiv idade inte lectual exercida pe lo advogado. Revista do Advogado, Ed. AASP, n- 74, p. 31). S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 137 social OS honorários respectivos" (§ 1”), sen d o as p rocu rações "ou torgadas individualm ente aos advogados", com indicação "da socie dade de que façam parte" (§ 3"). O v igen te Estatu to da Advocacia, em bora sem defini-la, m a n teve as lin h as m estra s d a sociedade d e ad v o g a d o s , ta l com o em o ld u ra d a pela no rm a anterior, to rnando-a m ais ríg ida ao ex clu ir a possib ilidade de partic ipação de estag iários d o s cursos juríd icos, d e m o d o que só ad v o g ad o s dela p o d e m fazer p a rte (arts. 15 a 17 d a Lei n" 8.906, d e 1994). C om o se observa, perm itiu -se a constitu ição de u m a socieda de de m eios - um a sociedade de apoio para o exercício d a ad v o cacia pelos sócios e dem ais ad v o g ad o s a ela v in cu lad o s - , ao m esm o tem p o em que se facultou, não só o ra te io d a s despesas (d a s c h a m a d a s p e rd a s ) , m a s ta m b é m d a s re c e i ta s (lu c ro s) au feridas pela a tuação ind iv idua l de cada q ual d e seus m em bros. Isso não é nad a parecido com as sociedades p re s tad o ras de serviços gerais e já devia ter servido d e exem plo p a ra aplicação a o u tras sociedades de profissão in telectual regu lam en tada . C om o ad v en to d o C ódigo Civil de 2002, o leg islador p ro c u rou d is tin g u ir as sociedades de profissão in telectual d a s dem ais sociedades, ao estabelecer que estas ficam su b o rd in ad a s ao reg i m e ju ríd ico d as sociedades sim ples (art. 982, seg u n d a parte , com b in ad o com seu art. 966, par. ú n i c o ) . Ao fazê-lo, po rém , n ão se p re o cu p o u com os deta lhes aqui destacados. De fato , em bora tenha eng lobado o tra tam en to d as a tiv idades d e p restação de serviço n o gênero d as ativ idades econôm icas sujeitas ao d ireito '®0 professor Sylvio MARCONDES, a quem coube a feitura do Livro II da Parte Especial do Anteprojeto do Código Civil, assim justificava a exclusão da profissão intelectual do conceito de empresário: "Há, porém, pessoas que exercem profissionalmente uma atividade criadora de bens ou de serviços, mas não devem e não podem ser consideradas empresários - referimo- nos às pessoas que exercem profissão intelectual - pela simples razão de que o profissional intelectual pode produzir bens, como o fazem os artistas; podem produzir serviços, como o 2 38 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I de em p resa e d e k s separado , p a ra reg ram en to d iferenciado , a profissão intelectual, de na tu reza científica, literária o u artística, n ão cu id o u de estabelecer n en h u m a regra q u e leve em conside ração as p a rticu la rid ad es de seu exercício. P en h o r do q u e acabo de afirm ar está na p o ssib ilidade d e a sociedade sim ples constitu ir-se segu n d o u m do s tipos d e socie d ad e em presária , subord inando-se , assim , ao reg im e ju ríd ico do tipo esco lh ido (art. 983), salvo no tocante ao registro , q u e não m ig ra p a ra as Jun tas Com erciais, p erm an ecen d o no Ofício de Registro de Pessoas Jurídicas {art. 1.150). T odavia , o local de re gistro n ad a significa nem diz respeito às distinções q u e recla m am tra tam en to especial. Da m esm a form a, não se d ev e o lv idar q u e a sociedade sim ples, em bora espécie, é, acim a de tudo , a sociedade-base ou sociedade-tronco, cujas n o rm as são sup le ti vas d a s d isposições estabelecidas p ara as dem ais sociedades - o q u e a desloca p a ra o centro do sistem a, com o a sociedade geral, sem p ar ticu la rid ad es p róp rias , de sorte a p ro p ic ia r a aplicação d e suas n o rm as a q u a lq u e r ou tro tipo societário q u e não conte n h a (este sim ) p rev isão d e tra tam en to especial'^. fazem os chamados profissionais liberais: mas nessa atividade profissional, exercida por essas pessoas, falta aquele elemento de organização dos fatores da produção; porque na prestação desse serviço ou na criação desse bem, os fatores de produção, ou a coordenação de fatores, é meramente acidental: o esforço criador se implanta na própria mente do autor, que cria o bem ou 0 serviço. Portanto, não podem - embora sejam profissionais e produzam bens ou serviços - ser considerados empresários. A não ser que, organizando-se em empresa, assumam a veste de empresários. Parece um exemplo bem claro a posição do médico, o qual, quando opera, ou fa i diagnóstico, ou dá a terapèuiica, es\á prestando um serviço resultante da sua alivitiade intelectual, e por isso não é empresário. Entretanto, se ele organiza fatores de produção, isto é, une capita!, trabalf^o de outros médicos, enfermeiros, ajudantes etc., e se utiliza de imóvel e equipamentos para a instalação de um hospital, então o hospital é empresa e o dono ou titular desse hospital, seja pessoa física, seja pessoa jurídica, será considerado empresário, porque está, realmente, organizando os fatores da produção, para produzir serviços" (Questões de D ire ito M ercantil. Direito Mercantil e Atividade Negociai no Projeto do Código Civil. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 11). Uma crítica mais ampla ao regime jurídico da sociedade simples pode ser encontrada nas S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I 339 De q u a lq u e r form a, as norm as das sociedades sim ples não a te n d em às exigências da rea lidade nacional. Pelo contrário , sua rig idez engessa - se perm itida a expressão - a necessária flexibi lidade d e q u e d ev em d ispo r esses tipos societários, no tad am en - te no q u e d iz respeito ao ingresso e à saída d e sócios, aos q u ó ru n s d e deliberação, à e s tru tu ra de funcionam ento etc. O s ad v o g a dos, ta lvez p o r o assu n to estar ligado ao exercício d e sua p rofis são, já perceberam as d ificu ldades qu e irão en fren tar na atuação em g ru p o , sob form a societária e, p o r m eio d e iniciativas jun to ao C onselho Federal, estão p ro c u ran d o , a trav és d a ed ição de p rov im en to , suav iza r as incongruências q u e os a p a n h a ra m com a en trad a em v igor d as no rm as codificadas. M as, n ão é o b a s tan te. É preciso q u e haja u m a conscientização d o nosso legislador p a ra que, u rgen tem en te , b u sq u e a lte rar a legislação relativa à sociedade sim ples, seja ad e q u an d o suas no rm as às particu la res exigências desses tipos societários, seja criando u m tra tam en to p ró p r io q u e as regu le ad eq u ad a e eficazmente. Por últim o , no qu e respeita à liberação do s serviços jurídicos, parece certa a posição da OAB no sen tido de evitá-la, d a d a s as particu la res exigências de conhecim ento que envo lvem seu exer cício em cada país. N o en tan to , é tam bém necessário q u e sejam levadas em consideração situações especiais, com o a q u e ocorre en tre os países da U nião Européia, e q u e justificam u m regra- m en to libera lizante para perm itir a a tuação d o ad v o g ad o , que ob tém seu credenciam ento em u m d e seus E stados-m em bros, ju n to aos dem ais. E aqui tem os o exem plo d o M ercosul, onde, ap esa r d e já es tarem em fase ad ian tad a as d iscussões sobre a liberalização dosserviços, m uito há a fazer n o q u e d iz respeito à minhas L ições de D ire ito Societário (2. ed, São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, nos 46-48, pp. 109-126). 140 S O C I E D A D E D E A D V O G A D O S V o l u m e I I ad v o cac ia . Q u e s tõ e s com o a p o m p o sa t ra m ita ç ã o d e ca r ta s roga tórias p a ra diligências que, de te rm in ad as p o r u m Estado- m em bro , d ev am ser cum pridas em outro (apesar de, às vezes, haver a necessidade, apenas, de atravessar um a rua ou a pon te de u m rio) cham am a atenção tanto quan to a ausência de credencia m ento p ara a atuação de advogados d a região envolv ida p o r esse tra tado em cortes supranacionais, com o o Tribunal Arbitrai. O s m o d elo s eu ro p eu s p o d em a juda r n a d iscussão desses te m as, sen d o d igna d e registro a iniciativa to m ad a pelo C onselho d o s Colégios e O rd en s do s A dvogados d o M ercosul - COADEM , que, sob a P residência d o Conselheiro Federal Sergio Ferraz, em reu n ião realizada em M ontevidéu , dia 24 de m aio de 2004, ap ro v o u o texto d e u m pro jeto qu e regu lam en ta a a tuação do s a d v o gad o s nos E stados-m em bros d o M ercosul (a cham ad a a tuação transfronteira), pe rm itindo que, a tend idas certas condicionantes, u m profissional d o d ire ito de q ualque r deles p res te consultoria e a ss is tên c ia ju r íd ic a no s o u tro s , sem a o b r ig a to r ie d a d e de revalidação d o d ip lom a. A p roposta é no sen tido d e exigir, para tanto , p ro v a d e inscrição d o ad vogado n o ó rgão d e classe d o seu p a ís d e o rigem , subm eter-se às regras d o C ódigo d e Ética do país o n d e p re te n d e a tu a r e se ap resen tar ao Colégio ou O rd em dos A dvogados desse últim o p o r indicação de u m ad vogado local ou q u e ali já esteja a tu an d o , vedados, p o rém o pa troc ín io e a rep resen tação judicial'®. A única facilidade aceita pelo Brasil até agora nessa matéria é a do advogado português, que goza de tratamento especial devido ao Provimento n- 37, de 22 de julho de 1969, segundo o qual pode inscrever-se no Brasil sem revalidação do diploma, observados os requisitos comuns de inscrição das legislações brasileira e portuguesa quanto aos seus nacionais. Não se trata de permitir que o advogado português atue no Brasil com sua inscrição portuguesa, mas de lhe proporcionar a obtenção da inscrição brasileira com a apresentação de prova de inscrição na Ordem dos Advogados de Portugal e submissão, como qualquer brasileiro, às demais exigênci as de inscrição, inclusive exame de ordem. Execução Gráfica: Editora TeleFaxpii3391 0 6 4 4 d e Livros iuíb lilhera@lithera.com.br ÉÉ Esperamos que o presente trabalho seja amplamente difundido para esclarecimentos das dúvidas que ainda possam pairar sobre a administração societária dos advogados. J J Roberto Antonio Busato Presidente do Conselho Federal da OAB ISBN 85-87260-58-8 9"788587"260581