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Montes Claros/MG - 2012
Daniel Coelho Oliveira 
Hugo Fonseca Moreira
Sociologia Rural
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 - Telefone: (38) 3229-8214
www.unimontes.br / editora@unimontes.br 
© - EDITORA UNIMONTES - 2012
Universidade Estadual de Montes Claros
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Huagner Cardoso da Silva 
EDITORA UNIMONTES
Conselho Editorial
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes.
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.
Profª Maria Geralda Almeida. UFG
Prof. Luis Jobim – UERJ.
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.
Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha.
Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
REVISÃO LINGUÍSTICA
Ângela Heloiza Buxton
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Aurinete Barbosa Tiago
Carla Roselma Athayde Moraes
Luci Kikuchi Veloso
Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
Maria Lêda Clementino Marques
Ubiratan da Silva Meireles
REVISÃO TÉCNICA
Admilson Eustáquio Prates
Cláudia de Jesus Maia
Josiane Santos Brant
Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida
Káthia Silva Gomes
Marcos Henrique de Oliveira
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE 
PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Clésio Robert Almeida Caldeira
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Francielly Sousa e Silva
Hugo Daniel Duarte Silva
Marcos Aurélio de Almeida e Maia
Magda Lima de Oliviera
Sanzio Mendonça Henriques
Tatiane Fernandes Pinheiro
Tátylla Ap. Pimenta Faria
Vinícius Antônio Alencar Batista
Viviane
Wendell Brito Mineiro
Zilmar Santos Cardoso
CATALOGADO PELA DIRETORIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES (DDI) - UNIMONTES
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
Chefe do Departamento de Ciências Biológicas
Guilherme Victor Nippes Pereira
Chefe do Departamento de Ciências Sociais
Maria da Luz Alves Ferreira
Chefe do Departamento de Geociências
Guilherme Augusto Guimarães Oliveira
Chefe do Departamento de História
Donizette Lima do Nascimento
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras
Ana Cristina Santos Peixoto
Chefe do Departamento de Educação
Andréa Lafetá de Melo Franco
Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais
Maria Elvira Curty Romero Christoff
Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas
Afrânio Farias de Melo Junior
Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais
Cláudia Regina Santos de Almeida
Coordenadora do Curso a Distância de Geografia
Janete Aparecida Gomes Zuba
Coordenadora do Curso a Distância de História
Jonice dos Reis Procópio
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol
Orlanda Miranda Santos
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês
Hejaine de Oliveira Fonseca
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Ana Cristina Santos Peixoto
Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Maria Narduce da Silva
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Nárcio Rodrigues
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Unimontes
Maria Ivete Soares de Almeida
Pró-Reitora de Ensino
Anete Marília Pereira
Diretor do Centro de Educação a Distância
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Artes
Maristela Cardoso Freitas
Autores
Daniel Coelho Oliveira
Doutorando e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
(CPDA/UFRRJ). Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Montes 
Claros (Unimontes). Atualmente é professor e pesquisador do Departamento de Política 
e Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Hugo Fonseca Moreira
Mestre em Sociologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ). 
Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). 
Atualmente é professor e pesquisador do Departamento de Política e Ciências Sociais da 
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e Diretor de Projetos do Instituto 
Aponte Dados Pesquisa e Consultoria Ltda. (Aponte Dados).
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Sociologia Rural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 Relações com outras áreas do conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
A formação da sociedade rural brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
2.2 Raízes agrárias da formação social brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
2.3 A estrutura agrária do Brasil e história da propriedade da terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4 O campesinato brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
Desenvolvimento rural e modernização agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.1 O que é desenvolvimento? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.2 Desenvolvimento no ambiente rural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.3 Papel do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.4 Da grande lavoura à modernização conservadora da agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.5 Da monocultura agro-exportadora ao agronegócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
3.6 A revolução verde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
3.7 Industrialização e formação dos complexos agroindustriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.8 Transformações recentes do espaço rural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
3.9 Vejamos agora alguns dos novos mitos do rural brasileiro: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
3.10 Apontamentos finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Conflitos agrários e conflitos ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.2 A reforma agrária e a demanda por terra no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Referências básicas e complementare . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
Atividades de Aprendizagem-AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
9
Ciências Sociais - Sociologia Rural
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a),
 O presente Caderno Didático foi elaborado visando apresentar, de modo introdutório, dis-
tintas linhas analíticas da sociologia rural, compreendida principalmente para o caso brasileiro. A 
partir deste caderno e das leituras aqui recomendadas, você entrará em contato com as princi-
pais temáticas e teorias abordadas nos grandes centros de estudo sobre o mundo rural contem-
porâneo.
Os últimos anos do último século, como retratos de quinhentos anos de processo histórico 
do Brasil, assistiram ao crescimento dos debates em torno de questões como “reforma agrária”, 
“desenvolvimento sustentável”, “agricultura familiar”, “energia renovável” etc., em oposição a ve-
lhos discursos desenvolvimentistas, como “agronegócio”, “modernização agrícola” etc. Afinal, de 
que forma o Estado, a Academia e a sociedade têm observado e tratado o mundo rural brasileiro?
Desde o seu “descobrimento”, em 1500, aos dias atuais, o Brasil vive um processo fundamen-
talmente enraizado no mundo rural, tendo como alicerce a estrutura agrária e de propriedade 
aqui constituída, desenvolvida a partir de latifúndios monocultores integralmente apontados 
para um mercado exportador e dinamizado por relações trabalhistas baseadas na exploração e 
na dependência de favor. O século passado foi palco de um processo de modernização da pro-
dução agrícola sem, contudo, que se modernizassem, também, as relações de trabalho.
Paralelo a esse contexto, é nos apontado a insurgência de algo conhecido como a “brecha 
camponesa”, constituída por uma massa social desenvolvida juntamente às grandes proprieda-
des monocultoras e exportadoras, alimentando e desenvolvendo um mercado interno, propi-
ciando uma produção social, econômica e, principalmente, cultural distinta daquilo que com-
preendemos como a “estrutura agrária brasileira”. Desse modo, apresentamos-lhe este Caderno 
Didático, intitulado “Sociologia Rural”, assim dividido:
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA RURAL
Esta primeira unidade, intitulada “Introdução à Sociologia Rural”, está subdividida em quatro 
tópicos explicitando as linhas de pesquisa e os conceitos estudados por esta ciência, que empresta 
seu nome à nossa disciplina e ao nosso caderno didático, ou seja, a própria “Sociologia Rural”.
Neste primeiro momento, entraremos em contato com os principais temas abordados no 
processo de compreensão do que seja o “mundo rural” que aqui analisaremos. É importante que 
nos atentemos a esses conceitos e suas aplicações, uma vez que deles faremos utilidade em todo 
o nosso curso de sociologia rural.
UNIDADE 2 – FORMAÇÃO DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA
Apresentamos, nesta segunda unidade, o início daquilo que entendemos como “sociologia 
rural”, aplicada ao contexto sócio-político e histórico brasileiro. Assim, esta unidade tratará das 
lentes que interpretam a história do Brasil, a partir de suas características agrárias: monocultora, 
escravista, latifundiária e patriarcal. Analisaremos, portanto – e de um modo muito especial – os 
grandes temas estudados e trazidos à tona por pesquisadores como Gilberto Freyre, Sérgio Bu-
arque de Holanda, Caio Prado Júnior e outros, esforçando-nos para compreender os papéis de-
sempenhados pela população negra escrava, que dinamizou a produção agrária brasileira, bem 
como para interpretar a história da propriedade da terra e sua utilização, ao longo do processo 
histórico do país.
UNIDADE 3 – DESENVOLVIMENTO RURAL E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA
Nesta unidade, entraremos em contato com algumas interpretações próprias da sociologia 
rural brasileira, em diálogo com outras áreas de conhecimento, quais sejam, de um modo espe-
cial, a economia e a política.
Fazendo, ainda, uso da história, analisaremos o processo de modernização agrícola do país 
e os debates que dela decorreram, chegando ao entendimento de novos conceitos e novas de-
mandas econômicas, políticas e sociais.
10
UAB/Unimontes - 8º Período
UNIDADE 4 – CONFLITOS AGRÁRIOS E CONFLITOS AMBIENTAIS
Na quarta e última unidade, estudaremos dois dos grandes temas discutidos na pauta de 
ordem política do país, a questão agrária e a questão ambiental, discutindo alguns dos pontos 
cruciais do entendimento dessas demandas e exercitando a análise de pontos específicos que 
transformaram, e vêm transformando, os espaços de disputa agrária e ambiental no Brasil.
Além dessas leituras, contaremos, ao longo deste caderno, com o apoio de dicas, glossá-
rio, informações adicionais e atividades que enriquecerão, ainda mais, o nosso conteúdo. Conte, 
também, em todos os momentos, com o apoio do seu professor formador, que lhe auxiliará na 
solução de dúvidas e na indicação de outras fontes de informação que complementem o tema 
ora desenvolvido.
Desejamos-lhe uma boa leitura e bons estudos!
Os autores.
11
Ciências Sociais - Sociologia Rural
UNIDADE 1
Sociologia rural
Hugo Fonseca Moreira
1.1 Introdução
O que é e do quê se constitui o que aqui 
intitulamos “sociologia rural”? A sociolo-
gia rural pode ser traduzida como um olhar 
crítico-científico sobre a busca pela compre-
ensão das lógicas relacionais entre os grupos 
sociais que personificam o mundo rural. Para 
tal, ela se baseia na observação das dinâmi-
cas sociais, políticas, culturais e econômicas 
vividas nesses espaços, dando créditos, de 
modo intrinsecamente especial, às pessoas 
e aos campos sociais por estas constituídos, 
que protagonizam o que aqui chamamos 
“mundo rural”.
Muito já se foi debatido a respeito das 
aparentes distinções entre os conceitos de 
“sociologia rural” e “sociologia urbana”, ca-
racterizando uma como diretamente opos-ta à outra, particularmente a partir de seus 
objetos ou campos de estudo: a primeira, 
atribuída ao estudo social de espaços estri-
tamente rurais e, consecutivamente, a se-
gunda, atribuída ao estudo social de espaços 
estritamente urbanos. Esse é o primeiro de 
muitos mitos que devemos abandonar; váli-
do tanto para quem deseja se aventurar nos 
estudos de sociologia rural quanto nos estu-
dos de sociologia urbana. Há, logicamente, 
particularidades teóricas e metodológicas 
em cada um dos olhares, mas, particularida-
des essas que não se anulam reciprocamen-
te, complementando-se, ao contrário, uma 
vez que falar de relações sócio-simbólicas e 
econômicas do mundo rural é tarefa difícil, 
ou mesmo impossível, se não forem obser-
vadas, conjuntamente, as interações agentes 
no mundo, ou nos mundos, urbano. E a recí-
proca é verdadeira, uma vez que, como anali-
saremos neste Caderno Didático, o processo 
de desenvolvimento da história brasileira, 
seja em seu campo político, cultural ou eco-
nômico, está fundamentalmente imbricado à 
formação de uma estrutura agrária, tendo os 
conceitos de “propriedade” e de “posse” – e 
a exploração da terra – como centro figurati-
vo de concepção da sociedade brasileira.
Para a realização dos estudos que ora 
propomos para este caderno e aplicação das 
lentes analíticas que aqui construiremos, da-
remos, de maneira especial, à História nos-
sos primeiros créditos conceituais. Isso por-
que são nos eventos históricos e na análise 
sociológica dos mesmos que encontraremos 
os fundamentos constitutivos nos quais ba-
searemos nossos estudos, quais sejam: os 
panos de fundo sobre os quais nos estrutu-
ramos enquanto sociedade e enquanto gru-
pos sociais. 
Particularmente na sociedade brasilei-
ra, onde encontramos uma sociologia rural 
preocupada com os estudos dos conflitos, 
não somente agrários ou ambientais (como 
o caso das lutas por reforma agrária ou pelo 
uso e exploração dos recursos naturais), mas 
especialmente conceituais, pois o consen-
so entre aquilo que é melhor ou pior para 
a sociedade, ou, ainda, para os grupos so-
ciais, parece nunca existir e as demandas 
por “agricultura familiar,“reforma agrária” e 
“desenvolvimento sustentável” somente fa-
zem sentido postas em oposição ao “agro-
negócio” e à “modernização e mecanização 
agrícola”. Dessa forma, é necessário que, de 
modo preliminar, debrucemo-nos à análise 
histórica de nossa formação social a fim de 
manusearmos os conceitos em seus respecti-
vos contextos e, assim, lançarmos olhares crí-
ticos-científicos sobre o que aqui chamamos 
“mundo rural”, possibilitando, então, realizar-
mos uma “sociologia rural”.
DICA
Leia o texto “Rural e 
urbano no Brasil”, de 
Douglas Sathler dos 
Reis, do CEDEPLAR 
da UFMG, disponível 
no sítio eletrônico da 
Unicamp: http://www.
abep.nepo.unicamp.br/
encontro2006/docspdf/
abep2006_777.pdf>; e 
o texto “Campo e rural, 
cidade e urbano: distin-
ções necessárias para 
uma perspectiva crítica 
em geografia agrária” 
de Pedro Paulo Biazzo 
da UERJ e do Colégio 
Pedro II, disponível 
no sítio eletrônico da 
UFSM: <http://w3.ufsm.
br/gpet/engrup/iven-
grup/pdf/biazzo_p_p.
pdf.
12
UAB/Unimontes - 8º Período
1.2 Conceitos
Por ser uma ciência preocupada em observar os fenômenos sociais processados dentro ou 
no entorno do que, a priori, se chama “mundo rural”, a sociologia rural acaba por se estruturar 
por métodos específicos de análise, constituindo conceitos próprios e instrumentalizados no es-
tudo desses fenômenos.
Um ponto de partida fundamental – e de certo modo presente em toda a tradição sociológi-
ca, mas aqui ocupando lugar especial – é a análise histórica e de contexto. É este o complexo de 
elementos que vai personificar os conceitos e nutrir o sociólogo, dedicado ao estudo do mundo 
rural, de lentes específicas as quais ele utilizará em suas observações. Nem somente a histórica, 
tampouco somente os contextos isolados, mas a “análise histórica e de contexto”, onde um ele-
mento processa e adjetiva o outro, é capaz de dinamizar os conceitos básicos de interpretação 
sociológica.
Desse modo, iniciaremos o nosso caderno dando a devida importância à “análise histórica e de 
contexto”, sobretudo quanto aos processos sociais desenrolados no Brasil. Tanto conjugando a sua 
história como a refletindo a partir de contextos específicos nela processados e, mais ainda, com-
preendendo esses processos num contínuo diálogo cronológico, encontraremos os fundamentos 
de alguns conceitos elementares da sociologia rural que nos dispomos a estudar. Assim, temos: 1) 
a questão agrária; 2) o campesinato; 3) o desenvolvimento rural; 4) a modernização agrícola; 5) a 
agricultura familiar; 6) e o agronegócio, dentre outros, como alguns dos principais conceitos, ou 
principais elementos, estudados nesta ciência. Desses, nem todos serão abordados neste caderno 
com a devida atenção que merecem, mas construiremos, em torno dos mesmos, olhares críticos 
que nos auxiliarão em nossas análises.
Outra gama de conceitos, também fun-
damentalmente importantes, são aqueles 
que, diretamente, adjetivam e diferenciam 
sociologia, ciência política e antropologia. 
E, especificamente, quanto à sociologia, há 
outra gama de conceitos que se subdividem 
em distintas perspectivas epistemológicas. 
Desse modo, a análise sociológica rural de-
penderá do apoio conceitual e metodológi-
co de outras leituras contextuais e de senso 
mais amplo, como o estudo de movimentos 
sociais, grupos de pressão, lógicas, políti-
cas públicas e sociais, economia política de 
ação coletiva, direitos etc., ou seja, a socio-
▲
Figura 1: 
Trabalhadores Rurais 
Sem Terra
Fonte: Articulação de 
Esquerda do Partido 
dos Trabalhadores de 
Rondônia. Disponível em: 
<http://www.ae-rondonia.
blogspot.com> Acesso em 
28 jul. 2011.
PARA SABER MAIS
Uma análise interes-
sante sobre o processo 
de constituição da So-
ciologia Rural no Brasil 
pode ser encontrada 
no artigo “A sociologia 
rural no Brasil: entre 
escravos do passado 
e parceiros do futuro”, 
de autoria de Afrânio 
Garcia, disponível no 
sítio eletrônico do 
Scielo: http:// http://
www.scielo.br/pdf/soc/
n10/18718.pdf.
13
Ciências Sociais - Sociologia Rural
logia rural não deve (e essa possibilidade se 
torna impossível) ser vista como uma ciência 
pura e independente, mas como resultado 
de uma soma complexa de outras análises 
dedicadas a compreender as dinâmicas mo-
trizes do mundo rural e dos mundos que o 
circundam. Fazer sociologia rural, portanto, 
é produzir, durante o processo analítico, len-
tes que auxiliem o pesquisador a se aproxi-
mar do mundo estudado, todavia, munido 
de conceitos e técnicas que possibilitem o 
seu estudo.
1.3 Relações com outras áreas do 
conhecimento
Como foi dito acima, a ciência pela qual 
ora nos interessamos em estudar, qual seja a 
sociologia rural, pode e deve ser traduzida 
como um olhar crítico-científico sobre a bus-
ca pela compreensão das lógicas relacionais 
entre os grupos sociais que personificam 
o mundo rural. Olhar crítico-científico este 
que, embora interessado na observação das 
dinâmicas sociais do mundo rural, não deve 
se distanciar dos distintos processos constru-
tores de conhecimento que dinamizam esse 
espaço de relações. Dessa forma, deparamo-
-nos, em nossa análise, com processos de 
produção, de mecanização, de melhoramen-
to, de gerenciamento de recursos (hídricos, 
ambientais, florestais), de aproveitamento de 
solos e outros espaços, bem como com pro-
cessos de transformação mercadológica, de 
consumo, de direitos, de interesses etc.
O que aqui nomeamos “mundo rural” 
não se caracteriza, portanto, em apenas uma 
das faces do mundo social, mas em um gran-
de complexo de relações que dá, a si próprio, 
um status diferenciado de análise, doqual 
se torna impossível isolá-lo como objeto de 
análise de apenas uma ciência. Observar as 
suas relações sociais, embora tarefa deman-
dada pelo sociólogo rural, depende da cola-
boração e do entendimento de outras áreas 
de conhecimento que também estão em 
trânsito naquelas relações. E, mais que a co-
laboração e o entendimento dessas outras 
áreas de conhecimento, a necessidade de 
leitura teórica e conceitual dos instrumentos 
de análise que personificam esses distintos 
olhares críticos-científicos. A sociologia rural, 
por esse motivo, pode, também, ser caracte-
rizada como um complexo de trabalhos con-
juntos que se vivifica com a colaboração de 
outras áreas científicas, como por exemplo, a 
História, a Geografia, a Demografia, a Econo-
mia, a Política, as Ciências Jurídicas, as Ciên-
cias Agrárias, as Ciências Florestais, as Ciên-
cias Ambientais e as Ciências Gerenciais. Do 
contrário, não produziremos uma “Sociolo-
gia Rural”, mas, tão somente, análises especí-
ficas de uma ou outra área de conhecimento.
Como discutimos acima, é necessário 
que realizemos uma “análise histórica e de 
contexto” do mundo rural. Para tal, há, in-
trinsecamente, a necessidade de que essa 
análise se concretize a partir da formulação 
de prismas diversos e, para isso, a partir das 
análises também realizadas por outras áreas 
de conhecimento, algumas afins da sociolo-
gia, outras nem tanto (ao menos do ponto de 
vista epistemológico), todavia todas estrutu-
rando a malha de redes que personifique o 
mundo social, o qual, neste caso, é o mundo 
rural. Depararemo-nos, assim, com a cons-
tante busca por documentos que testemu-
nhem fatos históricos e construam, a partir 
do choque de informações e da inferência in-
terpretativa de quem os manuseia, os distin-
tos contextos sócio-políticos sobre os quais 
poderemos nos debruçar;
Também o aglomerado de pessoas, sub-
divididas em classes trabalhistas, rendas, gê-
neros, geração, etnias e outras, merece ser 
analisado dentro dos padrões de pesquisa pró-
prios da geografia e, mais afim, da demografia. 
Desse modo, as análises dos processos ocupa-
cionais, do desenvolvimento territorial e das 
transformações setoriais devem ser inferidas 
dentro de quadros metodológicos próprios, 
todavia, acessíveis a quem deseja lançar, sobre 
esses dados, uma perspectiva sociológica.
Transformações, de ordem micro e ma-
cro, econômicas, suas consequências globais 
ou localizadas, bem como as possibilidades 
de interferência, fazem da apropriação res-
ponsável de conceitos econômicos, bem 
como de suas leituras, uma ferramenta de 
análise útil e intrinsecamente fundamental, 
dependendo do quadro analítico ao qual o 
sociólogo rural se dedica. Nesse mesmo pro-
cesso, a ponderação entre estudos políticos 
e de direito pode e auxilia a investigação 
processual e de escala que conota o que aqui 
estamos chamando de “mundo rural”.
GLOSSÁRIO
Epistemologia: A 
expressão “epistemolo-
gia” é formada pelas pa-
lavras gregas episteme, 
que significa “ciência”, 
e logia, que significa 
“estudo”, podendo ser 
definida em sua etimo-
logia como “o estudo 
da ciência”. Assim, a 
epistemologia, ou teo-
ria do conhecimento, é 
a crítica, estudo ou tra-
tado do conhecimento 
da ciência, ou ainda, 
o estudo filosófico da 
origem, natureza e 
limites do conhecimen-
to. Pode-se remeter a 
origem da “epistemolo-
gia” a Platão, ao tratar 
o conhecimento como 
“crença verdadeira e 
justificada”. O desafio 
da epistemologia é 
responder “o que é” e 
“como” alcançamos o 
conhecimento. Diante 
dessas questões da 
epistemologia, sur-
gem duas posições; 
a Empirista, que diz 
que o conhecimento 
deve ser baseado na 
experiência, ou seja, 
no que for apreendido 
pelos sentidos. Como 
defensores dessa 
posição temos Locke, 
Berkeley e Hume; e 
a Racionalista, que 
prega que as fontes 
do conhecimento se 
encontram na razão 
e não na experiência. 
Como defensores dessa 
posição temos Leibniz 
e Descartes. 
14
UAB/Unimontes - 8º Período
Mas não confunda, neste ínterim, a so-
ciologia rural como mera coleção de con-
ceitos atomizados por distintas áreas de 
conhecimento. A sociologia rural é uma aná-
lise própria, distinta e característica sobre os 
processos sociais que dinamizam o mundo 
rural, sendo, portanto, sociológica e dotada 
de conceitos e abstrações próprios. Todavia, 
parte da necessidade de abertura intelectual 
para a abstração de conceitos e instrumen-
tos outros, próprios de outras ciências, con-
tudo, conceitos e instrumentos esses que 
somente auxiliarão o sociólogo rural a com-
preender, nos parâmetros sociológicos, os 
distintos caminhos, percursos e dinâmicas 
que movimentam as relações sociais e, neste 
caso específico, as relações sociais do mun-
do rural.
BOX 1
A SOCIOLOGIA RURAL tem um pesado débito para com as populações rurais de todo o 
mundo. As gerações vitimadas por uma sociologia a serviço da difusão de inovações, cuja prio-
ridade era a própria inovação, ainda estão aí, legando aos filhos que chegam à idade adulta os 
efeitos de uma demolição cultural que nem sempre foi substituída por valores sociais includen-
tes, emancipadores e libertadores; ou legando aos filhos o débito social do desenraizamento e 
da migração para as cidades, ou para as vilas pobres próximas das grandes fazendas de onde 
saíram, deslocados que foram para cenários de poucas oportunidades e de nenhuma qualidade 
de vida.
Porque essa é, certamente, uma preocupação de todos nós, especialmente de minha gera-
ção, gostaria de colocar no centro desta reflexão o tema do desencontro entre a sociologia rural 
e as populações rurais a cujo estudo se dedica. E gostaria de fazê-lo assinalando que, para a so-
ciologia rural, as últimas décadas foram décadas de seu próprio desencantamento.
Ao se tornar instrumento do desencantamento do mundo - de que nos fala Max Weber - a 
sociologia rural desencantou-se a si mesma, ao descobrir lentamente que as populações rurais 
têm seus próprios códigos de conhecimento e sua própria concepção de destino, que são tão le-
gítimos quanto os códigos e as concepções dos setores da sociedade dos quais os sociólogos se 
sentem mais próximos e mais acolhidos. Nenhum campo da sociologia ficou mais exposto a esse 
desencantamento do que a sociologia rural. Porque nenhum ficou tão obstinadamente preso à 
suposição de que as populações rurais são populações retardatárias do desenvolvimento econô-
mico e da História, supostas ilhas de primitivismo no suposto paraíso da modernidade. Diferen-
tes concepções de sociologia rural defrontaram-se [sic] com a mesma dificuldade.
Por muito tempo e para muitos, a sociologia rural foi mais uma sociologia da ocupação agrí-
cola e da produtividade do que uma sociologia propriamente rural. Mais uma sociologia das per-
turbações do agrícola pelo rural do que uma sociologia de um modo de ser e de um modo de 
viver mediados por uma maneira singular de inserção nos processos sociais e no processo históri-
co. Não raro, o mundo rural tornou-se objeto de estudo e de interesse dos sociólogos rurais pelo 
“lado negativo”, por aquilo que parecia incongruente com as fantasias da modernidade. Não por 
aquilo que as populações rurais eram e sim pelo que os sociólogos gostariam que elas fossem.
Quando assumiu o mundo rural como objeto, a sociologia rural o fez mais como “adversária” 
do que como ciência isenta e neutra. Mais como ciência da modernização do que como ciência 
aberta à compreensão dos efeitos destrutivos e perversos que não raro a modernização acarreta. 
A modernização é um valor dos sociólogos rurais e não necessariamente das populações rurais, 
porque, de fato, para estas não raro ela tem representado desemprego, desenraizamento, desa-
gregação da família e da comunidade, dor e sofrimento.
O deslocamento de grandes massas rurais para a cidade revelou-nosuma dimensão des-
denhada do mundo rural: um modo de ser, uma visão de mundo e uma perspectiva crítica po-
derosa em relação ao desenvolvimento capitalista, à modernização anômala e à desumanização 
das pessoas apanhadas de modo anômico, incompleto e marginal pelas grandes transformações 
ATIVIDADE
Faça uma lista de todos 
os tipos de relações 
sociais que você acre-
dita existir no mundo 
rural. Depois, para cada 
tipo de relação, escreva 
um parágrafo, de mais 
ou menos 8 linhas, 
explicando como você 
faria para realizar a sua 
análise: quais conceitos 
sociológicos você utili-
zaria; qual a metodolo-
gia de análise; e quais 
outras fontes (áreas 
de conhecimento) 
você visitaria para lhe 
auxiliar em seu estudo. 
Em seguida, realize um 
debate, junto com os 
seus colegas, apresen-
tando os seus resulta-
dos e observando os 
resultados deles.
Figura 2: Inchaço 
Populacional
Fonte: Blog “Nós e a 
História”. Disponível em: 
<http://noseahistoria.
wordpress.com>. Acesso 
em 11/07/2012.
►
15
Ciências Sociais - Sociologia Rural
econômicas e políticas que, não raro, tiveram os sociólogos como acólitos. O deslocamento nos 
mostrou, e já há estudos sobre o fenômeno, que o rural pode subsistir culturalmente por longo 
tempo fora da economia agrícola. Pode subsistir como visão de mundo, como nostalgia criativa 
e autodefensiva, como moralidade em ambientes moralmente degradados das grandes cidades, 
como criatividade e estratégia de vida numa transição que já não se cumpre conforme as profe-
cias dos sociólogos. Essa transição é antes inconclusa passagem, um transitório que permanece, 
uma promessa de bem-estar que não se confirma, uma espécie de agonia sem fim.
A sociologia rural, sabemos todos, foi engolida por um compromisso precipitado com a soi 
disant modernização econômica, no equivocado pressuposto de que essa modernização acarre-
taria automaticamente a modernização social e o bem-estar das populações rurais ou ruraliza-
das. Foi necessária muita coragem, muito atrevimento cívico, à custa de muita marginalização, 
para que sociólogos rurais desafiassem esse compromisso, expusessem suas irracionalidades e 
reconhecessem no mundo rural um mundo de criatividade, de inovação e luta contra as aberra-
ções econômicas, políticas e mesmo acadêmicas que vitimam suas populações.
Desde os anos 70, a modernização forçada do campo e o desenvolvimento econômico ten-
dencioso e excludente nos vêm mostrando que esse modelo imperante de desenvolvimento 
acarretou um contra desenvolvimento social responsável por formas perversas de miséria antes 
desconhecidas em muitas partes do mundo. As favelas e cortiços desta nossa América Latina, e 
de outras partes, constituem enclaves rurais no mundo urbano, transições intransitivas, desuma-
nos modos de sobreviver mais do que de viver. O mundo rural está também aí, como resíduo, 
como resto da modernização forçada e forçadamente acelerada, que introduziu na vida das po-
pulações do campo um ritmo de transformação social e econômica gerador de problemas sociais 
que o próprio sistema em seu conjunto não tem como remediar.
No geral, debita-se na conta de uma suposta e nunca comprovada resistência das popula-
ções rurais para a mudança e a modernização a responsabilidade por esse desastre social. Essa 
resistência, ficou evidente, era resistência ao que para elas não tinha o menor sentido e não po-
dia, portanto, ser compreendido. A culpa, no fim das contas, é da vítima.
Aqui no Brasil, tivemos, nos anos 80 e 90, a grande expansão territorial do grande capital mo-
derno que foi o da expansão da fronteira agropecuária na Amazônia. Espaços ocupados por popu-
lações indígenas, que muitas vezes jamais haviam tido contato com o homem branco, e por po-
pulações camponesas pobres remanescentes das ondas de povoamento dos séculos XVIII e XIX, 
foram declarados espaços vazios pelo Estado nacional. Estímulos fiscais escandalosos foram con-
cedidos a ricos grupos econômicos, nacionais e estrangeiros, para que fizessem uma ocupação 
moderna do território. Uma modernização postiça, pesadamente subvencionada pela sociedade 
brasileira, mais expressão da ineficiência da grande empresa do que de sua louvada eficiência.
Os cientistas sociais deste país e muitos estrangeiros, que para aqui vieram a fim de estudar 
e acompanhar o deslocamento da fronteira econômica na região amazônica, testemunharam e 
documentaram uma das grandes falácias da sociologia rural, a da função emancipadora da mo-
dernização técnica e econômica. As grandes empresas recorreram ao trabalho escravo, à peona-
gem, à escravidão por dívida, para efetivar a implantação de megaprojetos agropecuários. Inva-
riavelmente usando pistoleiros para torturar, perseguir, violentar e matar os que tentavam fugir.
Alguns desses projetos são de grande sofisticação tecnológica, como o da Fazenda Vale 
do Rio Cristalino, que foi implantado pela empresa alemã Volkswagen. O plano previa criação e 
abate de gado, que seria refrigerado no vôo entre a fazenda e a Alemanha, dispensando a insta-
lação de frigoríficos. Minúsculos artefatos eletrônicos eram implantados no gado para permitir 
seu controle à distância, por satélite, e determinar providências sanitárias e o momento próprio 
do abate. Mas, na fazenda havia 500 trabalhadores escravizados. Pesquisadores estimam que na 
década de 70 mais de meio milhão de trabalhadores foram submetidos à escravidão na região 
amazônica para permitir a abertura das novas e modernas empresas agropecuárias. Foi esse um 
retrocesso histórico espantoso em nome da modernização econômica e tecnológica.
Não só aqui esses fatos têm acontecido. Na Junta de Curadores do Fundo Voluntário das 
Nações Unidas contra as Formas Contemporâneas de Escravidão (The Board of Trustees of the 
UN Voluntary Fund on the Contemporary Forms of Slavery), de que sou membro, temos rece-
bido pedidos de socorro e denúncias de escravidão no mundo inteiro. Estamos trabalhando 
com a hipótese, baseados em dados da Antislavery International, de que há no mundo hoje 
200 milhões de escravos. Todos vitimados pela decomposição do mundo rural que resultou de 
intervenções de “engenharia social” modernizadora, intervenções que, infelizmente, não ino-
centam a sociologia rural.
Sabemos todos que a sociologia rural, a pretexto de se tornar uma força auxiliar da moder-
nização e da remoção das resistências sociais à mudança, contribuiu abertamente para a viola-
16
UAB/Unimontes - 8º Período
ção de modos de vida e visões de mundo e de culturas tradicionais em que a pobreza, ao menos, 
revestia-se de padrões sociais de dignidade toleráveis. Onde a modernização rural forçada fracas-
sou, como ocorre em amplas regiões e situações desta América Latina, da Ásia e da África, as ve-
lhas estruturas sociais foram desmanteladas, as instituições corroídas, as comunidades desorga-
nizadas, os costumes desmoralizados e a população degradada. Foi ela lançada impiedosamente 
na cloaca da civilização e do desenvolvimento e da modernização excludentes que beneficiaram 
apenas parte da sociedade, privando do benefício milhões de vítimas inocentes. A sociologia ru-
ral tinha elaborados diagnósticos para desmontar a sociedade tradicional, mas não tinha condi-
ções de diagnosticar e solucionar os graves problemas sociais que não previu e que decorreriam 
dos processos sociais anômicos que involuntariamente estimulou, sugeriu, apoiou ou promoveu.
O futuro da sociologia rural depende de que reconheçamos, antes de tudo, que a nossa dis-
ciplina contribuiu para privar de futuro parcelas ponderáveis da população do Terceiro Mundo. 
Não se trata de pedir à nossa profissão e à nossa disciplina que faça um mea culpa tão em moda 
na hipocrisia contemporânea. Trata-se de pedir que façamos uma revisão crítica corajosa dos 
rumos dominantes na sociologia rural por longos anos, que nos dediquemos, também,a uma 
sociologia da sociologia rural para compreender o grande desencontro entre essa disciplina e a 
sociedade que ela deve compreender e explicar.
É preciso transgredir as imunidades estatais e corporativas de que a sociologia rural se cer-
cou, fazê-la dialogar mais, comungar mais e aprender mais com a História, a Literatura, a Geo-
grafia, a Antropologia. Há mais sociologia rural de alto refinamento em obras de Gabriel Garcia 
Marquez, Manuel Scorza, John Steinbeck, José Saramago, Juan Rulfo ou Guimarães Rosa do que 
em muitas de nossas análises complexas e elaboradas.
É preciso fazer mais e insistentemente com a sociologia rural o que é próprio da sociolo-
gia: objeto de uma sociologia do conhecimento, uma sociologia crítica que nos permita remover 
compromissos que dela fazem um instrumento da economia e da “engenharia social”, remover 
empecilhos que ainda subsistem a que se torne um instrumento da dignidade humana e da li-
bertação do homem de suas carências e misérias. As populações rurais, mais do que instrumen-
tos da produção agrícola, são autoras e consumadoras de um modo de vida que é também um 
poderoso referencial de compreensão das irracionalidades e contradições que existem fora do 
mundo rural. São uma reserva importante de um tipo de inovação e criatividade que tende a ser 
destruído e que pode desaparecer.
O futuro da sociologia rural depende do futuro das populações rurais. O futuro da sociologia 
rural depende, também, e muito, de que ela se liberte de uma concepção estamental do mun-
do rural, que em muitos estudos sociológicos, e reconheça-se, não de sociólogos rurais, aparece 
como um mundo degradado, um mundo pária e irrelevante, lugar do nada, lugar de uma huma-
nidade residual destituída de competência histórica para afirmar-se como sujeito social e como 
sujeito de seu próprio destino.
A sociologia rural acumulou poderosos conhecimentos sobre as contradições sociais que al-
cançam de modo mais destrutivo as populações rurais. Os sociólogos rurais podem assumir co-
rajosamente a grande missão da ciência que é servir ao Homem [sic] para libertá-lo daquilo que 
tolhe a sua humanização. E não são poucos que o tem feito na pesquisa marcada por profunda 
inquietação ética e ampla competência teórica para diagnosticar problemas e descobrir alterna-
tivas nas próprias concepções e relações sociais dos grupos humanos que estudam.
As próprias populações rurais vitimadas pelo desenvolvimento econômico excludente, que 
todos testemunhamos, têm procurado seu próprio rumo, têm se alçado acima da indignidade 
que as vitima, têm proclamado seus direitos e têm questionado os responsáveis por sua situação. 
Os movimentos sociais do campo são a forma do protesto dos pobres da terra, o clamor dos sem 
voz porque não foram ouvidos no devido tempo. Eles desafiam a sociologia rural a compreender 
o protagonismo e a criatividade das populações rurais e a compreender também as saídas possí-
veis das situações socialmente anômicas em que muitas vezes se encontram.
O futuro da sociologia rural não depende do que ela tenha a propor quanto à qualidade 
de vida rural. O futuro da sociologia rural depende amplamente do que as populações rurais te-
nham a lhe propor para que essa qualidade de vida seja incrementada; e do que os sociólogos 
rurais estejam dispostos generosamente a oferecer-lhes. Esse futuro depende amplamente do 
deciframento [sic] e da superação dos enigmas que as perturbam, da compreensão dos proces-
sos sociais que as desagregam e as marginalizam e que, por isso, precisam compreender e vencer 
para que tenham a qualidade de vida a que têm direito. Para ensinar, a sociologia rural preci-
sa aprender. Para compreender sociologicamente, o sociólogo rural precisa reconhecer-se como 
membro da comunidade de destino das populações que estuda.
17
Ciências Sociais - Sociologia Rural
Para não parecer excessivamente severo, convém reconhecer que os equívocos históricos da 
sociologia rural vêm de sua maior virtude, dentre as muitas virtudes que há no conhecimento es-
pecializado que ela tem propiciado sobre o mundo rural. Nela o valor fundante está na transfor-
mação social, na superação de problemas e bloqueios sociais ao desenvolvimento. Prefiro inter-
pretar esse compromisso extracientífico da sociologia rural como um compromisso com os fins 
da mudança, com os resultados das inovações e não com a própria inovação, o que muitos em 
nossa comunidade profissional têm assinalado e concretizado.
A sociologia rural poderá contribuir para melhorar a qualidade de vida das populações ru-
rais e recuperar a dimensão crítica da tradição sociológica, se puder ver-se criticamente na re-
lação investigativa e na relação educativa com as populações que estuda. Se abrir mão de suas 
certezas para assimilar as incertezas que ajudou a disseminar e fazer dessas incertezas uma me-
diação cognitiva essencial na relação entre a teoria e a prática.
Na reconciliação com a tradição sociológica clássica e seu compromisso com os benefícios 
sociais das grandes transformações, a sociologia rural poderá se encontrar também, ainda que 
criticamente, como é necessário na ciência, com os movimentos sociais que nos falam do novo 
protagonismo histórico das populações rurais, de sua busca. A contribuição possível da sociolo-
gia rural para a qualidade de vida rural está justamente no reconhecimento das reservas de pos-
sibilidade histórica que as populações rurais, sobretudo as populações camponesas, ainda têm 
para reinventar o mundo e reinventar-se no mundo.
O futuro da sociologia rural e sua contribuição para a qualidade de vida rural dependem de 
que ela, nos ainda tortuosos e pedregosos caminhos desse mundo rural desprezado e desdenha-
do, empobrecido e ameaçado, se encontre com a Esperança [sic] que em suas pedras há. Porque 
só pode haver qualidade de vida para diferentes populações se para elas houver, também, lugar 
para o sonho e a Esperança [sic]. O desafio dos sociólogos rurais, numa proposta de compromis-
so como a do tema destas falas, é o de mergulhar no sonho inventivo e regenerador que ainda 
há no mundo rural. Tanto para decifrá-lo e prezá-lo, quanto porque há nele a nostalgia do futuro 
e a negação das privações que o presente representa para muitos.
Fonte: MARTINS, José de Souza. O futuro da Sociologia Rural e sua contribuição para a qualidade de vida rural. Estud. 
[online]. 2001, vol.15, n.43, pp. 31-36. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142001000300004>. Acesso 
em 09/04/2011.
Referências
BIAZZO, P. P. Campo e rural, cidade e urbano: distinções necessárias para uma perspectiva crítica 
em Geografia Agrária. In: ENGRUP. São Paulo: 4 Encontro Nacional de Grupos de Pesquisa,p. 132-
150, 2008.
MARTINS, José de Souza. O futuro da Sociologia Rural e sua contribuição para a qualidade 
de vida rural. Estud. [online]. 2001, vol.15, n.43, pp. 31-36.
REIS, D. S. dos. O rural e urbano do Brasil. Caxambu: ABEP, 2006.
19
Ciências Sociais - Sociologia Rural
UNIDADE 2
A formação da sociedade rural 
brasileira
Hugo Fonseca Moreira
2.1 Introdução
A história da sociedade brasileira – ou, ao 
menos, os fundamentos do processo histórico 
da sociedade brasileira –, ou ainda, se preferi-
rem, a História do Brasil, é, também, a história 
da propriedade da terra e a história da família 
patriarcal brasileira. Nesse contexto, olhar para 
o Brasil, para as suas dinâmicas sociais, políti-
cas, econômicas e culturais, significa enxergá-
-lo a partir de seu “descobrimento” e analisá-lo 
a partir das relações de domínio exercidas por 
seus colonizadores, e, dessa forma, compreen-
dê-lo a partir da estrutura agrária sob a qual 
este país foi, e tem sido, construído: de manei-
ra lenta e processual.
No último quarto de século, a demanda 
por reforma agrária, sobretudo a luta pelos 
direitos humanos e justiça social, trouxe ao 
debate público acepçõesnovas sobre a ques-
tão da propriedade da terra e sobre os rumos 
do desenvolvimento rural no país; e principal-
mente sobre a estrutura fundiária brasileira, 
que tem hoje um lugar relevante nas pesqui-
sas em ciências sociais. Afinal, tendo em vista 
os rumos do desenvolvimento econômico al-
cançado pelo Brasil nas últimas duas décadas, 
como devem ser vistas conceituações como: 
“agronegócio”, “agricultura familiar”, “moder-
nização agrícola”, “reforma agrária” etc.?
As explicações sociológicas sobre esses 
quadros sociais apontam o processo de mo-
dernização capitalista que intensificou as mu-
danças no meio rural, acirrou os conflitos no 
campo e fizeram com que aparecessem novas 
organizações sociais ligadas à demanda por 
terra, trabalho e moradia, sobretudo a partir 
de 1980. Todavia, é no estudo da estrutura do 
processo que podem ser aferidas análises de 
conjuntura para os distintos casos que nos são 
colocados. As lutas no campo, a organização 
social da ação em sindicatos, associações, co-
operativas, movimentos e outras representa-
ções, trouxeram para o debate novos concei-
tos e novas perspectivas de entendimento das 
dinâmicas sociais possíveis no meio rural brasi-
leiro. Isso, tanto do ponto de vista econômico 
e produtivo, quanto político e representativo e 
cultural e social. Mas de onde nascem tais con-
flitos, ou, ainda, o que levou e o que tem leva-
do a sociedade brasileira a se dividir entre con-
ceitos e interesses tão diretamente distintos? É 
a partir desses impasses que a sociologia rural 
e, especificamente, a sociologia do mundo 
rural brasileiro, tem, já ao longo de quase um 
século, buscado compreender as dinâmicas 
sociais construídas a partir da estrutura agrária 
sob a qual o Brasil foi fincado e tem sido cons-
truído ao longo de cinco séculos.
Nesta unidade, intitulada “Formação da 
sociedade rural brasileira”, o nosso interes-
se é o de analisar o processo histórico sob o 
qual o Brasil se formou, compreendendo, es-
pecialmente, as relações de domínio aqui de-
sencadeadas, ilustradas, principalmente, nos 
estudos de Gilberto Freyre, em Casa-Grande & 
Senzala (2006); de Sérgio Buarque de Holanda, 
em Raízes do Brasil (1995); de Caio Prado Júnior 
em Formação do Brasil Contemporâneo (1989) e 
em outros estudos complementares, a exem-
plo: Ciro Cardoso em Escravo ou Camponês: o 
protocampesinato negro nas Américas (1968), 
Shepard Forman em Camponeses: sua partici-
pação no Brasil (1979), e Vitor Nunes Leal em 
sua obra Coronelismo, enxada e voto (1975).
A unidade está assim dividida:
Primeiramente estudaremos as raízes agrá-
rias da formação social brasileira, entendendo a 
sociedade brasileira como o produto somático 
de uma complexa gama de relações patriarcais 
e de dependência rural, iniciada em seu proces-
so colonial, compreendendo, especialmente, as 
influências portuguesa, indígena e negra escra-
va na formação do povo brasileiro.
 Em um segundo momento, estudare-
mos a estrutura agrária do Brasil e a história da 
20
UAB/Unimontes - 8º Período
propriedade da terra, analisando os aspectos 
histórico-conceituais da propriedade da terra, 
antes da descoberta do Novo Mundo, e suas 
transformações ao longo do processo colonial 
instituído no Brasil, modelando a estrutura 
agrária deste país e influenciando, assim, os 
seus conceitos jurídicos em torno da proprie-
dade da terra e de sua função social. E em um 
terceiro momento, analisaremos o campesi-
nato brasileiro, sua insurgência e constituição 
num processo paralelo, não distante, todavia 
distinto ao da estruturação agrária do Brasil.
2.2 Raízes agrárias da formação 
social brasileira
A colonização portuguesa no Brasil teve 
como base, desde o princípio, o desenvolvimen-
to de uma agricultura comercial de exportação. A 
produção de açúcar para o mercado europeu em 
expansão no século XVI estabeleceu uma econo-
mia de plantation que subsiste, embora com uma 
forma consideravelmente diferente.
A força de trabalho da agricultura foi, 
originalmente, fornecida por grandes con-
tingentes de escravos africanos e, mais tarde, 
por homens livres vinculados à plantation por 
toda uma gama de contratos de arrendamen-
to. Além disso, numerosos pequenos estabe-
lecimentos se desenvolveram em apoio aos 
empreendimentos comerciais maiores, orien-
tados para a exportação. O objetivo desses 
pequenos sítios era promover um crescente 
sistema de comercialização interna, com ali-
mentos e outros produtos básicos de grande 
necessidade. Dessa forma, ao lado da planta-
tion, cedo se desenvolveu um setor campo-
nês que compreendia pequenos proprietá-
rios, rendeiros e parceiros, que atuavam tanto 
como produtores de mercadorias quanto 
como força de trabalho dentro daquele sis-
tema, bem como fornecedores de alimentos 
ao mesmo, o que mais a frente estudaremos 
como a “brecha camponesa” brasileira.
Gilberto Freyre (2002) nos aproxima des-
se enredo quando, em 1933, publica a primeira 
edição de Casa-Grande & Senzala, analisando a 
formação da sociedade brasileira à luz de sua es-
trutura agrária, baseada no latifúndio, na mono-
cultura, na mão-de-obra negra escrava e, espe-
cialmente (segundo sua análise), no hibridismo.
Quanto à sua estrutura agrária, partimos 
a analisar os fundamentos políticos e econô-
micos sob os quais o Brasil se filia e vem se 
reproduzindo, alicerçada à história da posse e 
da propriedade da terra como elemento gera-
dor dos conflitos vindouros. De sua natureza 
híbrida, estudamos as relações de favor esta-
belecidas ao longo da construção da socieda-
de brasileira, alicerçada sob a lógica patriarcal 
familiar, onde a “senzala” é analisada como ex-
tensão marginalizada da “casa-grande” e onde 
Figura 3: Sistema de 
plantation
Fonte: Mundo e Educação. 
Disponível em: <http://
www.mundoeducacao.
edu.org.br>
Acesso em 28 jul. 2011.
►
PARA SABER MAIS
A plantation foi um 
sistema agrícola muito 
utilizado na coloniza-
ção das Américas. Tinha 
como objetivo gerar 
produtos agrícolas 
com baixo custo para 
as metrópoles em suas 
respectivas colônias 
e o enriquecimento 
através de sua comer-
cialização na Europa. A 
plantation que marcou, 
especialmente, a 
colonização no Brasil 
se caracterizou como 
um sistema agrícola 
baseado em latifúndios 
monocultores com 
produção destinada à 
exportação, com mão-
-de-obra negra escrava 
e compulsória. 
21
Ciências Sociais - Sociologia Rural
o “dever de favor” é o elemento dinamizador 
desse domínio hierarquizado.
Sérgio Buarque de Holanda (1995, p. 31), 
em Raízes do Brasil, ressalta a tentativa de im-
plantação da cultura europeia no extenso 
território brasileiro como “nas origens da so-
ciedade brasileira, o fato dominante mais rico 
em conseqüências”. Isso porque, factualmente, 
no Brasil, o processo de colonização foi inteira-
mente voltado à exportação. As fontes natu-
rais aqui encontradas foram as únicas riquezas 
de interesse para os portugueses, uma vez que 
aqui não havia uma civilização desenvolvida 
como as encontradas na Índia e em outros ter-
ritórios asiáticos e africanos, caracterizando as 
terras recém descobertas como simples fonte 
de recursos a serem explorados e exportados.
Nesse quadro social, então, vemos tal es-
trutura colonial se solidificar sobre um tripé 
agrário baseado no latifúndio, na monocultura 
e na utilização da mão-de-obra negra escrava. 
Esse é o ponto inicial e culminante da funda-
ção de nosso processo histórico. Outro ele-
mento, chamado atenção por Gilberto Freyre 
(2002), dinamizador das fundamentações pa-
triarcais desta estrutura agrária, é o hibridismo, 
sob o qual a família brasileira é constituída, so-
bretudo do ponto de vista social e cultural.
Holanda (1995) aponta que uma das con-
sequências da escravidão e da hipertrofia da 
lavoura latifundiáriana estrutura de nossa eco-
nomia colonial foi a ausência de qualquer es-
forço sério de cooperação nas demais ativida-
des produtoras, oposto do que se notava em 
outros países, inclusive da América Espanhola. 
No Brasil, a organização dos ofícios segundo 
os moldes trazidos do reino teve seus efeitos 
perturbados pelas condições dominantes. 
Aqueles que, no exercício de seus ofícios de 
artífices livres, conseguissem acumular algum 
capital, tratavam logo de abandonar seus ofí-
cios para poderem desfrutar das regalias or-
dinariamente negadas a quem não possuísse 
alguma posição de nobreza. O trabalho ofe-
gante, então, sempre foi executado por ne-
gros, o que em Portugal não se presenciava. 
Holanda (1995) chama, dessa forma, a atenção 
para a não constituição, em solo brasileiro, de 
uma sociedade agrícola, sustentada por uma 
cultura de traços rurais, mas uma sociedade 
agrária, sustentada pela exploração econômi-
ca, voltada à exportação, das largas extensões 
de terra, dos inacabáveis recursos naturais, do 
trabalho escravo e das relações de domínio 
engendradas nestes meandros.
Os capítulos IV e V de Casa-Grande & 
Senzala retratam os reflexos e implicações do 
negro escravo na formação social da família 
brasileira. Freyre (2002) disserta sobre a parti-
cipação do negro, atuando sob um regime de 
economia patriarcal, suas influências e sua in-
tensa presença na estruturação cultural, políti-
ca e social dessa formação. Todavia, é impor-
tante ressaltar que Freyre (2002) disserta sobre 
a participação não do negro enquanto catego-
ria étnica, e sim do negro escravo, explorado e 
dominado.
Sobre essas influências no negro escravo, 
Freyre (2002) dá um relevo especial, e de ex-
trema significância, à mulher negra escrava, 
que poderia ser considerada como o principal 
elemento de ligação ou de imbricação entre 
a senzala e a casa-grande, ou entre os fatores 
e elementos de cada um desses dois espaços. 
Afora a passividade ou sujeição do negro es-
cravo, a mulher negra escrava detinha, ainda, 
o fato de ser mulher, como implicação diferen-
ciada da exploração da qual foi alvo.
PARA SABER MAIS
Uma curiosidade 
interessante de se 
notar reside no fato de 
o substantivo “brasilei-
ro”, que caracteriza o 
habitante do Brasil, ter 
em sua terminação o 
sufixo “eiro”, que comu-
mente é utilizado para 
designar um tipo de 
profissional: carpintei-
ro, marceneiro, pedreiro 
etc. Para a designação 
dos habitantes de ou-
tras nações, é comum 
vermos os sufixos “ês”, 
“ano”, “eno” ou “ino” sen-
do empregados, como 
por exemplo, japonês, 
inglês, francês, mexica-
no, chileno, argentino 
etc. O brasileiro era o 
profissional, português 
ou não, que trabalhava 
na extração do pau-
-brasil. Depois, passou 
a designar quem 
trabalhava na colônia 
Brasil, nascido ou não 
em terras brasileiras. 
O brasileiro, então, é o 
fruto de um processo 
longo e duradouro de 
estruturação colonial, 
agrária e patriarcal.
◄ Figura 4: Apego entre 
filho de Senhor e sua 
Ama de Leite
Fonte: Biblioteca Nacional. 
Disponível em: <http://
www.bibliotecanacional.
com.br>
Acesso em 03 ago. 2011.
22
UAB/Unimontes - 8º Período
Em suma, seja como elemento de ligação entre a casa-grande e a senzala, ou como um 
espaço virtual onde esses dois campos sociais se relacionam, é em torno da mulher negra es-
crava que Gilberto Freyre encontra as principais determinantes dos reflexos sociais e culturais 
da sociedade brasileira (salvo a participação indígena).
Os cuidados profiláticos de mãe e ama confundiam-se sob a mesma onda de ternura 
maternal. Quer os cuidados de higiene do corpo, quer os espirituais contra os que-
brantos e o mau-olhado (FREYRE, 2002, p. 326).
As histórias portuguesas sofreram no Brasil consideráveis modificações na boca das 
negras velhas ou amas-de-leite. Foram as negras que se tornaram entre nós as gran-
des contadoras de histórias (FREYRE, 2002, p. 330).
A linguagem infantil também aqui se amoleceu ao contato da criança com a ama ne-
gra. [...] a linguagem infantil brasileira, e mesmo a portuguesa, tem um sabor quase 
africano (FREYRE, 2002, p. 331).
No ambiente relasso da escravidão brasileira, as línguas africanas, sem motivo para 
subsistirem à parte, em oposição à dos brancos, dissolveram-se nela, enriquecendo-a 
de expressivos modos de dizer; de toda uma série de palavras deliciosas e pitorescas 
(FREYRE, 2002, p. 333).
Junto à mulher negra escrava, a participação das crianças negras escravas nessa forma-
ção pelo intenso contato com as crianças brancas, servindo de companheiros de brinquedo e 
reproduzindo, nas brincadeiras, a posição social que ocuparão, ambos, mais tarde. Se o “brin-
car”, para as crianças, nada mais é que um “imitar” os adultos, também esses “moleques” são 
os elementos que personificam o cruzamento que se faz entre a casa-grande e a senzala. Um 
eixo de encontro social e cultural que se choca e produz uma reprodução social híbrida e du-
al-opositora.
Desse modo, pode-se aferir que toda a estrutura de nossa sociedade colonial teve sua 
base fora dos meios urbanos. Essa é uma afirmação arriscada, porém, é preciso que seja con-
siderada para que sejam compreendidas, exatamente, as condições as quais, por via direta ou 
indireta, nos governaram e cujos reflexos não se apagam facilmente.
Se, conforme Holanda (1995) sustenta, não foi a rigor uma civilização agrícola o que os 
portugueses instauraram no Brasil, mas uma civilização agrária, estruturada fundamental-
mente por raízes rurais, ainda conforme Holanda (1995), é efetivamente nas propriedades 
rústicas que toda a vida da colônia se concentra durante os séculos iniciais da ocupação 
europeia.
2.3 A estrutura agrária do Brasil e 
história da propriedade da terra
A história fundiária brasileira pode ser dividida em quatro fases, conforme Di Pietro 
(1995, p. 465), a saber: (1) sesmarias; (2) posses; (3) Lei de Terras e (4) Constituição de 1891. É 
dever acrescentar as Constituições de 1934 e de 1946, que marcaram a importância da função 
social da propriedade e, sobretudo, a Constituição de 1988 e o atual Código Civil os quais ex-
pressam, definitivamente, que o direito de propriedade atenderá a sua função social.
Considerando essa evolução jurídica, analisaremos, então, a apropriação territorial brasi-
leira, a partir do regime de sesmarias e de sua transição para a propriedade plena e absoluta, 
a fim de entender os conflitos fundiários atuais à luz da história da formação da propriedade 
privada no Brasil. Entretanto, devemos debruçar nossos olhares, antes, para o contexto sob o 
qual se fundou a posse, pelos colonizadores, do território brasileiro, compreendendo os dita-
mes filosóficos e legais que deram contorno aos conceitos de posse e propriedade da terra ao 
longo destes últimos 500 anos.
DICA
Leia o primeiro capítulo 
da obra Casa-Grande 
& Senzala, de Gilberto 
Freyre, ou procure na 
internet ou bibliotecas 
por resenhas ou artigos 
sobre a obra. Ela lhe 
proporcionará uma am-
pla visão daquilo que, 
neste caderno, estamos 
intitulando “formação 
social brasileira”.
23
Ciências Sociais - Sociologia Rural
2.3.1 O novo mundo
É somente no século XIX que se consolida uma concepção plena acerca da “propriedade” na 
sociedade latino-americana. Entretanto, e principalmente no caso brasileiro – que teve no imagi-
nário social dos primeiros conquistadores dos séculos XVI e XVII um verdadeiro desdobramento 
das noções de direito de propriedade que os acompanhavam – o desenvolvimento desse concei-
to acompanha todo o processo histórico aqui vivido.
A apropriação de terras no Novo Mundo marcou a insurgência daquilo que ficou conhecido 
como “tempos modernos”, marcando o surgimento do Estado Nacional entre os países europeus, 
a expansão de suas fronteiras fora da Europa e o desenvolvimento comercial.
A colonizaçãode territórios além mar, e a possessão de terras no que passou a ser chamada 
“América”, suscitou o questionamento acerca dos reais direitos dos reis e do papa sobre o mundo; 
e mais que isso, abriu o debate sobre quais direitos poderiam ter os habitantes do Novo Mundo, 
compreendidos como “povo sem fé, sem lei, sem rei” (CASTRO, 1969, p. 33).
Muitos foram, durante toda a história humana, os conceitos atribuídos à “propriedade”, pro-
vocando extensos e contraditórios debates ao longo dos tempos. A Idade Média foi palco de 
diferentes concepções, sobretudo teológicas, acerca da propriedade. Concepções essas comu-
mente retomadas por filósofos e teóricos da era moderna, sobretudo, porquanto da influência 
de conotações morais acerca da propriedade privada, considerando-a um “mal necessário”, pelo 
qual se perpetuaria a “injustiça social”, distinguindo-se as noções entre “meu” e “teu”.
É nesses termos que visualizamos as viagens ultramarinas europeias dos séculos XVI e XVII 
como pautadas no apossamento de novas terras e novas riquezas à custa dos povos nativos, o 
que suscitou todo o tipo de debate na esfera dos direitos dos homens, principalmente no que diz 
respeito à “propriedade”.
Os conquistadores europeus, quando chegaram às terras do Novo Mundo, depararam-se 
com uma terra ocupada por outras povoações. Isso impediu que eles empregassem àquelas ter-
ras o status de “terra nullis”, ou seja, “terra nua”, ou “terra vazia”, ou ainda “terra de ninguém”, pois, 
ao menos teoricamente, aquele território já era ocupado. Todavia, ocupado por uma população 
“não civilizada”, ao menos não como as povoações encontradas na Índia e em outros territórios 
asiáticos e africanos, possuidoras de uma organização de mercado a qual os europeus explora-
vam. Isso, claro, se não considerarmos as povoações Inca e Asteca que possuíam, em sua estru-
tura, fundamentos civilizacionais, alguns mais avançados até que as possuídas por europeus, 
todavia, sem uma organização de mercado que pudesse ser aproveitada e explorada pelos “con-
quistadores”.
GLOSSÁRIO
Ultramarino: diz 
respeito àquilo que 
está além mar; do outro 
lado do mar. No caso 
específico que estamos 
estudando, as viagens 
ultramarinas dizem res-
peito às travessias reali-
zadas por europeus em 
busca de novas terras 
ou novos mercados. O 
que antes era realizado 
pela terra, partindo da 
Europa a caminho da 
Ásia e da África, passou 
a ser realizado pelo 
mar (ultramarino), na 
esperança de se poupar 
tempo. Da mesma 
forma entendemos 
as viagens realizadas 
para a América, o Novo 
Mundo recentemente 
descoberto.
◄ Figura 5: Descoberta 
do Novo Mundo 
– fotografia 
retirada do filme 
“O descobrimento 
do Brasil”, uma 
transcrição fílmica da 
Carta de Achamento 
do Brasil, escrita pelo 
escrivão da frota, 
Pero Vaz de Caminha. 
Direção de Humberto 
Moura, Estudo 
Cinédia, 1973.
Fonte: Disponível em: 
http://www.meucinema-
brasileiro.com/filmes/
descobrimento-do-brasil/
descobrimento-do-bra-
sil03.jpg. Acesso em 26 
jul. 2011.
24
UAB/Unimontes - 8º Período
Foi criada, então, uma autoridade política sobre os povos ocupantes daquele território, dan-
do, aos conquistadores, o domínio ou a “guarda” daquelas povoações e, por conseguinte, o domí-
nio e a “guarda” do território por eles ocupado.
Se, teologicamente, como frisou São Tomás de Aquino (2009) em A Suma Teológica, a pro-
priedade é um direito, derivado de Deus, do homem sobre as coisas – uma vez que o homem 
atua sobre as coisas, isto é, transforma a natureza – e as populações ameríndias não eram vistas 
como “homens”, pois não tinham “fé, nem lei, nem rei”. A eles, portanto, não cabia o status de 
“proprietários”, talvez o de “propriedades”, o que logo foi abandonado, mas justificada a neces-
sidade de que aos europeus (conquistadores) seria atribuída a “guarda” desses povos e das pro-
priedades por eles não “animadas”.
A contribuição dos juristas romanos foi decisiva sobre os rumos dos conceitos de proprie-
dade e de posse para a era moderna, no sistema jurídico brasileiro. Especificamente a partir da 
formulação do conceito de dominium (tanto para definir a terra como o escravo), qualificando a 
propriedade como algo privado e absoluto. Tratou-se, nesses termos, das qualificações do direito 
sobre coisas e sobre pessoas.
A propriedade sistematizada a partir de um sistema legal, portanto, passou a implicar um 
direito reconhecido socialmente e, sob o âmbito da lei, a propriedade passou a se caracterizar 
como o direito instituído pelo e para um “desenvolvimento econômico”, conforme nos informa 
Ryan (1988, p. 88).
A propriedade inclui o direito de possuir, o direito de usar, o direito de gerir, o 
direito ao rendimento da coisa, o direito ao capital, o direito à segurança, os di-
reitos de transmissibilidade e ausência de prazo, a proibição de uma utilização 
prejudicial, passividade de execução e os casos residuários, o que perfaz onze 
casos principais.
Se, como disse Locke (1983, p. 44), “no começo todo o mundo era como a América”, referin-
do-se ao estado de natureza do qual o trabalho o retiraria, asseverando ainda que “aquele que 
toma posse da terra pelo trabalho não diminui, mas aumenta as reservas da humanidade” (LO-
CKE, 1983, p. 45), é verdade que nenhuma nação europeia podia, ou queria, povoar as terras re-
cém descobertas do Novo Mundo. Ou, como disse Wolkmer (2002, p. 7),
[...] a transposição e a adequação do direito escrito europeu para a estrutura 
da colônia brasileira acabou obstruindo o reconhecimento e a incorporação 
de práticas legais nativas consuetudinárias, resultando na imposição de um 
certo tipo de cultura jurídica que reproduziria a estranha e contraditória con-
vivência de procedimentos burocrático-patrimonialista com a retórica liberal 
e individualista.
Resolvidas, ou camufladas, as contradições acerca dos conceitos de propriedade e de posse 
sobre as terras do Novo Mundo, o fato foi que, naquele momento, e devido às dificuldades eco-
nômicas sob as quais se encontravam as nações européias, esses países estavam interessados na 
descoberta de novos mercados e de novas fronteiras comerciais. As terras e as riquezas naturais 
do Novo Mundo eram importantes, mas, naquele momento, inviáveis de serem largamente ha-
bitadas e exploradas. Todavia não podiam, também, abandoná-las ou não exercer, sobre as mes-
mas, o tal animus corpus, uma vez que outros aventureiros, também dedicados à descoberta de 
novas terras e mercados, delas poderiam tomar posse.
A solução encontrada foi dividir esse território em imensas parcelas de terras, denominadas 
Capitanias, e entregá-las a particulares, ou “donatários”, que se encarregariam de administrá-las e 
explorar seus recursos.
Tais condições, então, justificaram, politicamente, a apropriação territorial das terras dos na-
tivos, constituindo os fundamentos da história fundiária brasileira. Uma vez aqui chegados, reza-
da a primeira missa (tendo o adjetivo “primeira” como marco territorial) e praticado o escambo 
com os índios, trocando ouro, prata e outras riquezas por produtos como espelhos, pentes etc., 
estavam prontas as condições que legitimassem a demanda por terras por aqueles que quises-
sem e possuíssem condições de aproveitá-las.
Inicia-se, assim, o processo de colonização e estruturação agrária do que mais tarde passaria 
a ser conhecido como “Brasil”, tendo, sob o conceito de propriedade, o principal elemento pelo 
qual é possível analisar a formação social, política, econômica e cultural da sociedade brasileira, 
isto é, tendo a propriedade da terra e de homens escravizados como o dorso fundamental da 
economia e do sistema colonial aqui firmado.
PARA SABER MAIS
Ainda hoje, no sistema 
jurídico moderno, à 
propriedade é exigida, 
como “função social”, 
o chamado animus 
corpus, ou seja, para o 
exercício de domínio 
sobre uma propriedade 
énecessário que esta 
seja “animada” ou “di-
namizada” por alguém. 
Do contrário, outro 
indivíduo, disposto a 
fazê-lo, toma para si a 
propriedade e, sobre 
ela, exerce o status de 
“proprietário”.
25
Ciências Sociais - Sociologia Rural
2.3.2 Capitanias Hereditárias
As Capitanias, ou “Capitanias Hereditárias”, foram criadas em 1534, por ordem do Rei de 
Portugal, Dom João III, e existiram até 1759, quando foram extintas pelo Marquês de Pombal. 
No momento de sua criação, foram fundadas as Capitanias do Maranhão, do Ceará, do 
Rio Grande, de Itamaracá, de Pernambuco, da Bahia de Todos os Santos, de Ilhéus, de Porto 
Seguro, do Espírito Santo, de São Tomé, de São Vicente, de Santo Amaro e a de Santana.
Cabe notar o caráter “hereditário” dessas imensas parcelas de terra entregues pelo Rei de 
Portugal aos donatários. Através da “Carta de Doação”, pela qual o rei atribuía, ao donatário, 
a posse da capitania, era a mesma caracterizada como hereditária. Ou seja, quando da morte 
do donatário, a capitania seria administrada pelos seus descendentes, sendo proibida a sua 
venda, uma vez que aqui estamos falando de “posse” e não de “propriedade”.
2.3.3 Sesmarias
Ainda no que diz respeito aos donatá-
rios administradores das capitanias heredi-
tárias, o Rei de Portugal, juntamente à “Carta 
de Doação”, entregava, aos donatários, uma 
“Carta Foral”, na qual estabelecia os direitos 
e deveres daqueles donatários (e seus des-
cendentes) para com as capitanias.
Dentre esses “direitos e deveres”, estava 
a obrigação de criar vilarejos e doar terras a 
quem se interessasse e “pudesse” cultivá-las. 
São essas as chamadas “Sesmarias”, onde 
os seus “sesmeiros”, após dois anos de uso, 
comprovada a sua “capacidade”, exerceriam 
a posse efetiva da sesmaria. Note, mais uma 
vez, que em nenhum momento deste pri-
meiro capítulo da história da propriedade da 
terra no Brasil, utilizou-se, de forma efetiva, 
o termo “propriedade”, mas sempre “posse”. 
Isso porque, até o ano de 1850, a terra não 
possuía valor de mercado, ou seja, ela não 
poderia ser vendida, pois não constituía uma 
propriedade.
As sesmarias foram criadas para que se 
acelerasse o processo colonizador do Brasil, 
e o sesmeiro tinha o principal objetivo de 
tornar a sua sesmaria um instrumento de ex-
ploração de recursos, pagando, logicamente, 
os devidos impostos ao donatário da capita-
nia, que, por conseguinte, também pagava 
os devidos impostos à Coroa Portuguesa. O 
▲
Figura 6: Capitanias Hereditárias
Fonte: Disponível em: http://ep-historia.blogspot.com/p/capitanias-
-hereditarias.html Acesso em 26 jul. 2011.
PARA SABER MAIS
Tratado de Tordesilhas: 
Negociação entre os 
limites de exploração 
colonial ultramarina 
proposta pelo Papa 
Alexandre VI entre a Es-
panha e Portugal, onde 
ficou estabelecida, na 
Bula Inter Coetera de 
1493, a demarcação de 
uma linha imaginária 
a 100 léguas a oeste 
da Ilha de Açores, que 
separaria os territórios 
que seriam explora-
dos por espanhóis e 
por portugueses. Ao 
oeste daquela linha 
imaginária, os territó-
rios seriam explorados 
por espanhóis e, ao 
leste daquela linha, por 
portugueses. Para mais 
informações, consulte o 
site: http://www.brasi-
lescola.com/historiab/
tratado-de-tordesilhas.
htm.
▲
Figura 7: Tratado de Tordesilhas
Fonte: Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/tratado-de-
-tordesilhas. Acesso em 26 jul. 2011.
26
UAB/Unimontes - 8º Período
sistema de sesmarias perdurou até o ano de 
1822 quando, com a Independência do Bra-
sil, este passou a não ter mais sentido, uma 
vez que foram rompidas as relações de de-
pendência do Brasil com Portugal.
A Lei de Sesmarias já era uma prática 
antiga em Portugal, estabelecida em 1375, 
com o objetivo de ajudar no avanço da agri-
cultura em terras abandonadas, ou por bata-
lhas ou por pestes. Todavia, sua utilização no 
Brasil sofreu profundas alterações. Segundo 
Santana (2009), somente aqueles que tives-
sem algum laço com a classe nobre em Por-
tugal, os militares, ou os que se dedicassem 
à navegação e tivessem obtido honrarias 
que lhes garantissem o mérito de ganhar 
uma sesmaria, tinham o direito de recebê-
-la. Cada colono receptor de um pedaço de 
terra tinha um registro - denominado “Carta 
de Sesmaria” – feito pelas autoridades com-
petentes. Por meio deste, várias informações 
importantes a respeito desses colonos eram 
checadas, tais como: o local de moradia dos 
indivíduos; informações de caráter pessoal 
e familiar; se a propriedade adquirida pelo 
colono era herdada, doada ou ocupada; se 
havia trabalhadores (e quais tipos de mão-
-de-obra eram utilizados); o local da pro-
priedade e seus limites, entre outros dados. 
As sesmarias adquiridas, sem exceção, foram 
validadas em registros públicos efetivados 
junto às paróquias locais, unidas, nessa épo-
ca, ao Estado, em caráter oficial. Assim sen-
do, quem subscrevia os registros de terras 
ou certidões – nascimento, casamento, en-
tre outras – eram os vigários ou párocos das 
igrejas.
Teoricamente, mesmo à distância, a Co-
roa parecia ter, sob seu controle, a adminis-
tração de sua recente colônia. Entretanto, tal 
não aconteceu de forma tão articulada. Se a 
concessão de uma sesmaria era apenas a au-
torização de posse e uso da terra por quem 
a quisesse e pudesse (legalmente e econo-
micamente) explorar e, consequentemente, 
pagar seu tributo, à margem da lei, é possível 
verificar uma prática amplamente distante 
do que a Carta Foral instituía.
A venda e o arrendamento também se verificaram desde o início da colo-
nização. Dada a existência de tanta terra, isto pode parecer uma incongru-
ência. Há, entretanto, uma racionalidade bastante clara nessas transações. 
As doações de sesmarias, bastante generosas, faziam-se sempre a partir de 
um determinado ponto de comando do território (uma vila ou uma cidade). 
Por essa razão, a fronteira entre as terras já concedidas e as que ainda esta-
vam disponíveis para doação foi rapidamente se afastando dos núcleos de 
colonização [...]. Resultou daí que, já no século XVI, o acesso à terra se tor-
nou difícil a muitos colonos recém -chegados. Mesmo que tivessem recursos 
materiais para solicitar sesmarias, as terras disponíveis já se situavam longe 
dos portos ou muito perto do gentio hostil. Surgiu daí o paradoxo do apare-
cimento de um ativo mercado de terras junto aos centros de povoamento, 
com os sesmeiros mais antigos vendendo ou arrendando suas cobiçadas ter-
ras àqueles que chegaram depois (ABREU, 1997, p.220-221).
O que Abreu (1997) nos informa diz res-
peito ao descumprimento do que regia o 
regime de sesmaria e seus limites, o que ile-
galmente formou um mercado de terras co-
loniais baseado em transações de compra 
e venda, e, sobretudo, do arrendamento, 
como forma de extração de renda da terra 
e de inserção dos novos colonos no empre-
endimento agroexportador. Se, como ob-
servamos anteriormente, as sesmarias fo-
ram consideradas mais como uma forma de 
apropriação (posse) do que de propriedade, 
do modo como Abreu (1997) nos ilustrou, 
em grande escala, e à margem da lei, esta 
“posse” se tornou, informalmente, uma “pro-
priedade”. E nem todas estavam sujeitas ao 
pagamento de tributos ou mesmo à fiscaliza-
ção da capitania.
Se pensarmos nas sesmarias como “terras 
nuas” doadas com o propósito da colonização 
e do povoamento, ou seja, com a premissa 
do aproveitamento econômico dessas terras 
virgens, podemos pensar nos engenhos e fa-
zendas que se construíram no período colonial 
como a forma em que se deu a organização 
econômica da terra. Engenhos e fazendas são, 
portanto, unidades de produção; daí, enquan-
to propriedades rurais, seus possuidores po-
dem ser considerados como proprietários no 
sentido mais amplo do termo.
O investimento necessário para alavan-
caro empreendimento agrícola (escravos, 
maquinaria, animais e insumos) exigia mui-
tos recursos do sesmeiro. Nesse sentido, a 
formação do latifúndio foi resultante do pró-
prio processo colonial, dada a liberalidade 
com que se doaram terras em sesmarias no 
Brasil. E o que dinamizou este latifúndio foi 
a plantation, que, baseada no trabalho escra-
vo de negros africanos e na monocultura, e 
envolvida no sistema econômico patriarcal 
colonial, garantiu que aqui se firmasse uma 
estrutura agrária, de exportação, exploração 
e acumulação.
GLOSSÁRIO
Foral: Na língua portu-
guesa, o significado do 
termo “foral” diz respei-
to à Carta Monárquica 
que regulamentava 
a administração de 
terras conquistadas, 
concedendo privilé-
gios a indivíduos ou 
corporações. Por “foro,” 
podemos entender 
uma dada “jurisdição” 
ou “competência”, sobre 
a qual são ministrados 
e adquiridos direitos e 
obrigações.
27
Ciências Sociais - Sociologia Rural
2.3.4 Lei de terras de 1850
Com a promulgação da Lei de Terras (Lei n. 
601, de 18/9/1850), ficou expressamente proibi-
da a continuidade da formação de novas pos-
ses no Brasil. Desse modo, todos aqueles que se 
interessassem em adquirir novas terras, deve-
riam fazê-lo de forma legal, ou seja, por via da 
compra. A partir da nova lei, passaram a existir 
as terras do domínio privado, que deveriam ser 
legitimadas ou revalidadas, e as terras do domí-
nio público, que deveriam ser demarcadas.
 As terras do domínio público eram com-
postas pelas então consideradas terras devo-
lutas. O termo “devoluto” deve o seu sentido à 
seguinte explicação: devolutas porque foram 
“devolvidas” ao Império. Uma vez legitimadas 
e revalidadas as terras do domínio privado, o 
restante de terras, anteriormente sob a posse 
de sesmeiros, deveria ser “devolvido”, ou “de-
voluto” ao Império. Contudo, esse termo per-
deu o seu sentido inicial. De terras doadas ou 
apropriadas que, por não terem sido aprovei-
tadas, eram devolvidas ao senhor original, isto 
é, ao rei, o conceito passou a designar as terras 
não apropriadas ou públicas ou, dito de outra 
forma, vagas. Todavia, a interpretação da letra 
da lei jamais foi unívoca, e o conceito de devo-
luto gerou especulações de várias ordens.
Para alguns juristas, o espírito da lei ba-
seava-se na ideia geral de garantir-se a pro-
priedade territorial àqueles que efetivamente 
cultivavam a terra, independentemente da 
posse legal ou não. Sublinhavam, ademais, 
que a nova legislação corroborava um dos 
princípios fundamentais do antigo regime de 
sesmarias, cujas validações das concessões de 
terra dependiam de efetiva cultura e morada 
habitual. Parecia óbvio, portanto, considerar 
como devolutas as sesmarias incultas e sem 
morada habitual. Mas, de acordo com outros, 
a Lei de Terras, em seu artigo terceiro, excluía 
da definição de terras devolutas aquelas que 
se achassem no domínio particular por qual-
quer título legítimo. Teoricamente, portanto, 
mesmos as sesmarias incultas poderiam ser 
legitimadas, já que possuíam títulos legíti-
mos. Além disso, não havia no corpo da lei 
nada que pudesse sugerir que devoluto tives-
se por significado a idéia de terrenos incultos, 
ficando antes o termo “devoluto” estabelecido 
como “vago”.
BOX 2
Lei de Terras de 1850
Lei de Terras, como ficou conhecida a Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, foi a primeira 
iniciativa no sentido de organizar a propriedade privada no Brasil. Até então, não havia nenhum 
documento que regulamentasse a posse de terras e com as modificações sociais e econômicas 
pelas quais passava o país, o governo se viu pressionado a organizar esta questão.
A Lei de Terras foi aprovada no mesmo ano da Lei Eusébio de Queirós, que previa o fim do trá-
fico negreiro e sinalizava a abolição da escravatura no Brasil. Grandes fazendeiros e políticos latifun-
diários se anteciparam a fim de impedir que negros pudessem também se tornar donos de terras.
Chegavam ao país os primeiros trabalhadores imigrantes. Era a transição da mão de obra 
escrava para assalariada. Se não houvesse uma regulamentação e uma fiscalização do governo, 
de empregados, estes estrangeiros se tornariam proprietários, fazendo concorrência aos grandes 
latifúndios.
Ficou estabelecido, a partir desta data, que só poderiam adquirir terras por compra e venda 
ou por doação do Estado. Não seria mais permitido obter terras por meio de posse, a chamada 
usucapião. Aqueles que já ocupavam algum lote receberam o título de proprietário. A única exi-
gência era residir e produzir nesta localidade.
Promulgada por D. Pedro II, esta lei contribuiu para preservar a péssima estrutura fundiária 
no país e privilegiar velhos fazendeiros. As maiores e melhores terras ficaram concentradas nas 
mãos dos antigos proprietários e passaram às outras gerações como herança de família.
Alguns dispositivos da lei:
 “Art. 1º – Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas (terras do Estado) por outro títu-
lo que não seja o de compra. Excetuam-se as terras situadas nos limites do Império com países 
estrangeiros em uma zona de 10 léguas, as quais poderão ser concedidas gratuitamente.”
“Art. 12 – O Governo reservará das terras devolutas as que julgar necessárias para a coloniza-
ção dos indígenas; para a fundação de povoações, abertura de estradas, e quaisquer outras servi-
dões, e assento de estabelecimentos públicos; para a construção naval.”
“Art. 18 – O Governo fica autorizado a mandar vir anualmente à custa do Tesouro certo 
número de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que for marcado, em estabele-
28
UAB/Unimontes - 8º Período
cimentos agrícolas, ou nos trabalhos dirigidos pela Administração pública, ou na formação de 
colônias nos lugares em que estas mais convierem; tomando antecipadamente as medidas ne-
cessárias para que tais colonos achem emprego logo que desembarcarem.”
Fonte: DUARTE, Lidiane. Lei de Terras. InfoEscola. Disponível em: <http://www.infoescola.com>. Acessado em 29 de junho 
de 2011.
O que ocorreu, então, foi uma corrida pela grilagem de, agora “terras devolutas”, que não ne-
cessariamente precisavam estar cultivadas, desde que possuidores de títulos legítimos.
Documentos foram facilmente falsificados, com terras devolutas sendo consideradas per-
tencentes ao domínio privado, além de terras ocupadas por povos e populações indígenas e 
camponesas documentadas como pertencentes a uma sesmaria legitimada.
2.3.5 Abolição (1888) e Constituição de 1891
O século XIX representou, para o Brasil, 
o término do sistema colonial aqui vivificado 
durante quatro séculos. Representou a conso-
lidação da nação a partir de uma elaboração 
de códigos e leis de um Estado moderno, com 
o fim do Império e da escravidão e o início de 
uma República. Todavia, não havia, ainda, uma 
legislação agrária que travasse os conflitos 
agrários, os quais, cada vez mais intensos, pre-
ocupavam tanto a Coroa Portuguesa quanto 
as autoridades administrativas coloniais.
A abolição da escravidão, no Brasil, por 
um lado, representou um marco no que tan-
ge à noção de “propriedade” e, assim, de 
“proprietário”, dando ao negro ex-escravo a 
condição teórica de acesso a essa proprieda-
de, uma vez que este foi elevado ao status de 
possível proprietário; por outro lado, repre-
sentou a expulsão desses mesmos negros das 
terras onde a grande maioria trabalhava. Isso 
no que se refere ao formato da lei. A mão-de-
-obra negra escrava não foi substituída por 
uma mão-de-obra negra assalariada, mas por 
uma mão-de-obra branca imigrante. E o ne-
gro ex-escravo teve que se afastar do único 
meio de sobrevivência do qual poderia fazer 
uso, agora como indivíduo livre. Um ano mais 
tarde, em 1889 é proclamada a República e, 
dois anos após, em 1891, é aprovada a nova 
Constituição. 
2.3.6 Função social da propriedade da terra“A propriedade atenderá à sua função 
social” (art. 5º, XXIII, CF/88). É verdade que 
muito já foi e muito, ainda, será discutido em 
torno desse tema. Isso tanto do ponto de vis-
ta do Direito Constitucional como nos limi-
tes do Direito Privado. E muito ainda não foi 
devidamente compreendido. De um modo 
geral, no Brasil, a função social da proprieda-
de da terra foi disciplinada no artigo 186 da 
Constituição Federal e, recentemente, anali-
sada e recodificada pela Lei Nº 10.406/02.
Tendo em vista o Estatuto da Terra de 
1964 (Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964), 
o direito brasileiro chega à formulação de sua 
Constituição Federal, em 1988, compreen-
dendo a propriedade rural a partir, primeira-
mente, do conceito de “propriedade” – aqui 
já discutido – e, de igual importância, pelo 
conceito de “função social da terra”.
Por um lado, como destacam alguns ju-
ristas, a “função social da terra” se caracteriza 
como contradição direta ao próprio conceito 
de propriedade, o que confundiria o direito 
agrário a despeito da propriedade e uso do 
território rural. Por outro lado, como também 
destacam,
“o Direito Agrário não é, e jamais poderia sê-lo, a proteção do fraco, mas, pelo 
contrário, objetiva incentivar a produtividade da terra, para que se alcance 
aquela função social de proteção aos agricultores. O débil não encontra-
rá nunca o apoio do Direito Agrário, que é direito de produção com normas 
eminentemente programáticas, por isso mesmo se não cultiva a terra que 
ocupa, se não a faz produzir, a intervenção estatal é legítima e se impõe a 
desapropriação por interesse social a fim de se atingir o bem estar da coleti-
vidade (Art. 2º da Lei n.º 4.132, de 10.2.1962 e art. 18 do Estatuto da Terra).
GLOSSÁRIO
Grilagem: A apropria-
ção de terras públicas 
feita de modo indevido 
e por meio de falsifica-
ção de documentos de 
titularidade da terra é 
referida no Brasil como 
“grilagem de terras”. De 
modo geral, a origem 
do termo “grilagem” 
se dá pela prática de 
falsificação de docu-
mentos onde o falsário 
redige um documento 
parecido ao original e 
guarda em caixas que 
contém o inseto “grilo”. 
Esse inseto libera uma 
substância química 
que envelhece o papel, 
dando ao mesmo uma 
aparência antiga e 
concretizando a farsa. 
Para mais informações, 
visite o Info Escola, no 
sítio eletrônico: <http://
www.infoescola.com/
geografia/grilagem-de-
-terras/>.
29
Ciências Sociais - Sociologia Rural
O que se analisa, de tudo isso, é que, ao 
abraçar o conceito de função social da terra, o 
ordenamento jurídico brasileiro buscou evitar 
o uso indevido da terra. É o próprio estatuto 
quem o diz: “Art. 13 - O Poder Público promo-
verá a gradativa extinção das formas de ocu-
pação e de exploração da terra, que contra-
riem sua função social”.
Entretanto, embora muito se fale em “di-
reito agrário” no Brasil, a Constituição Federal 
não reconhece um Código Agrário Brasileiro, o 
que torna o “direito agrário” uma mera prática 
interpretativa, entre outros aspectos, sobre a 
propriedade e sua função social sob as luzes 
do Código Civil. E nessa prática interpretativa 
do direito agrário, argumentações em torno 
dos conceitos de “uso” e “posse” invadirão o 
próprio conceito de propriedade, retornan-
do o discurso teológico, por nós já analisado, 
quando é evocado o domini corpus ou o ani-
mus corpus como o fundamento que dinamiza 
e dá, à propriedade, o seu próprio conceito.
Em contrapartida, a inviolabilidade da 
propriedade também é evocada, deslegiti-
mando o domini corpus ou o animus corpus 
exercido por indivíduos que não sejam os seus 
proprietários, o que, de fato, gera confusão so-
bre o conceito puro de função social apresen-
tado pelo Estatuto da Terra e disciplinado pela 
Constituição Federal de 1988.
2.4 O campesinato brasileiro
A compreensão atual de interpretação 
do termo “reforma agrária” e, mesmo de sua 
utilização, no contexto brasileiro, exige antes 
uma profunda reflexão sobre o que diz a lite-
ratura sociológica rural quanto a esse tema 
e, daí, é exigido também um entendimento 
quanto às teorias do campesinato clássica e 
contemporânea, enquadrando-a como um 
mosaico de distintas análises sobre o papel 
do camponês, bem como sua reprodução so-
cial nas sociedades em que foi estudado, reu-
nidas a fim de se traçar uma linha de raciocí-
nio lógica sobre seu existir. 
As primeiras formulações teóricas em 
busca de um entendimento prático da lógica 
campesina foram concebidas, segundo Abra-
movay (1998), por Lêninn e Kautsky, a despeito 
de estudos, por estes construídos, na tentativa 
de se realizar uma análise quanto à chamada 
questão agrária. O mesmo autor afirma terem 
esses entendimentos algum sentido teórico 
apenas se analisados, topicamente e especifi-
camente, nos contextos vividos pelos autores, 
que é do final do século XIX e início do século 
XX (ABRAMOVAY, 1998). Portanto, há aqui um 
entendimento dessas formulações como teo-
rias válidas, mas inválidas caso sua utilização 
tenha como objetivo uma compreensão mais 
ampla do conceito de campesinato.
Lêninn e Kautsky são pensadores que 
sempre causam em seus leitores um automá-
tico arrebate à teoria marxista, uma vez que é 
sobre essa teoria que os mesmos desenvolve-
ram seus estudos. Ricardo Abramovay (1998) 
explicita muito bem isso em sua obra, Os pa-
radigmas do capitalismo agrário em questão 
mostrando a ligação que estes autores criam 
em suas análises quanto à questão agrária e ao 
projeto socialista por eles planejado, segundo 
os preceitos da teoria marxista. Porém, aqui 
Abramovay (1998) ressalta outra contradição 
ao afirmar ser completamente impossível en-
contrar nas obras de Marx qualquer conceito 
propriamente dito de questão agrária, ou mes-
mo de campesinato, que possam ser utilizados 
para a formulação de uma teoria complexa so-
bre tal tema por seus seguidores. Muito pelo 
contrário, pode-se sim encontrar um esforço 
plausível desse pensador em compreender a 
funcionalidade da agricultura no capitalismo, 
mesmo carregado de um profundo ceticismo, 
e encontrar em sua obra, O Dezoito de Bru-
mário de Luíz Bonaparte, algo quanto ao cam-
pesinato, mas como forma de invalidade do 
mesmo enquanto classe social, uma vez que 
Marx classifica o camponês como um saco de 
batatas, à luz do seu entendimento quanto às 
dinâmicas da sociedade capitalista emergente.
Para Marx e Engels (1998), a história das 
sociedades humanas sempre foi marcada por 
uma intensa luta de classes e, na sociedade ca-
pitalista, a evolução disso seria a contradição 
entre duas classes, a burguesia e o proletaria-
do. Observada dessa forma, na dinâmica da 
sociedade capitalista não havia espaço para 
coexistência de outra classe social que não 
se adequasse aos quadros dessas duas clas-
ses primárias. O campesinato seria uma classe 
híbrida, uma vez que possuía referências tan-
to da burguesia quanto do proletariado, ao 
mesmo tempo não possuía características de 
nenhuma delas. Daí a designação de “saco de 
batatas” dada por Marx a essa “pseudoclasse”, 
em sua compreensão.
É sobre essa complexa existência da clas-
se campesina que Lêninn e, principalmente, 
30
UAB/Unimontes - 8º Período
Kautsky pautaram seus estudos sobre o cam-
pesinato (ABRAMOVAY, 1998). Desenvolven-
do essas formulações iniciadas, ou apenas in-
terrogadas, pela teoria marxista prática, esses 
pensadores formularam a teoria do desapare-
cimento do campesinato como própria con-
sequência evolutiva do capitalismo. Segundo 
eles, na medida em que o capitalismo fosse se 
desenvolvendo e mais contraditórias fossem 
as relações entre a burguesia e o proletariado, 
o campesinato tenderia ao pertencimento a 
uma ou outra classe (ABRAMOVAY, 1998), con-
cluindo, assim, seu trágico destino de sucum-
bência, transformando-seem trabalhadores 
rurais assalariados ou em burgueses rurais, do-
nos das terras e de outros meios de produção 
ligados à terra, configurando assim o típico 
exemplo dicotômico da burguesia e do prole-
tariado.
Abramovay (1998) descarta essa teoria 
como válida e generalizada, caso pretenda-
-se uma maior exploração de seu conteúdo 
de forma a ultrapassar as fronteiras dos con-
textos nacionais e políticos em que viveram 
esses autores. Ele apresenta, então, outros 
dois pensadores que, ao contrário das concep-
ções marxistas quanto ao “destino trágico” do 
campesinato, o de autonegação e extinção, 
formulam outra concepção, de merecida aten-
ção dos cientistas sociais: “O campesinato exis-
te por responder a uma necessidade social” 
(ABRAMOVAY, 1998, p. 52).
2.4.1 Campesinato: “trágico destino” ou “necessidade social”?
À discórdia do entendimento marxista clássico quanto ao desaparecimento do campesina-
to, na medida em que sua crescente inserção nas relações mercantis geraria transformações de 
ordem prática que impediriam sua manutenção nas sociedades contemporâneas (ABRAMOVAY, 
1998), Alexander Chayanov e Jerzy Tepicht acrescentam outras lentes de análises quanto ao pa-
pel desempenhado pelo campesinato nas sociedades contemporâneas.
Eles buscam, em sua caracterização, os traços, ou de diferenciação, como colocam os mar-
xistas clássicos, ou de identidade, o que, de fato, coloca em um patamar de distintas análises os 
estudos de Marx sobre a burguesia e o proletariado, os estudos de Lêninn sobre a unidade do 
povo rural e a análise de Kautsky quanto ao próprio desaparecimento dessa classe.
A alternativa marxista de se [sic] enxergar o camponês como uma espécie de 
ornitorrinco social (simultaneamente patrão, empregado, proprietário e arren-
datário de si próprio) parecia um recurso mais de linguagem que um instru-
mento para se compreender de fato aquilo que Chayanov considerava como 
objeto de conhecimento necessário e possível (ABRAMOVAY, 1998, p. 59).
Dessa forma, o que Chayanov pretende 
com sua teoria não é apenas repudiar o mar-
xismo em favor de uma economia neoclássica 
nem vice-versa, mas estudar a maneira como 
o camponês se insere na divisão social do tra-
balho, compreendendo-o como uma “unida-
de substantiva teleológica”. Para tanto, não 
cabe entender o sistema camponês, como 
bem coloca Abramovay (1998), como uma 
empresa que se objetiva no lucro, mas como 
um sistema que limita seu trabalho, funda-
mentalmente, à satisfação de suas necessi-
dades familiares, descartando de vez, em seu 
entendimento, a concepção do camponês 
como um capitalista que é seu próprio operá-
rio. Há, então, muito mais uma análise quanto 
à relação produtiva do camponês segundo 
uma lógica de parentesco que puramente 
econômica. Para Chayanov, há aqui uma re-
lação em volta do trabalho camponês que vai 
além dos ganhos e da produção de capital: a 
relação familiar e de parentesco é que gera 
este trabalho.
Claro que há também o ingresso no mer-
cado econômico pelo camponês, mas isso se 
daria também de forma não explorativa, uma 
vez compreendido, portanto, o que Chaya-
nov denominará por cooperativismo. No for-
mato cooperativista de relação entre peque-
nos produtores rurais, os mesmos poderiam 
se organizar enquanto produtores agrícolas, 
mas sem obedecerem a delimitações de um 
capital privado e sem, também, serem explo-
rados ou explorarem trabalho visando lucro, 
mais valia, etc.; permaneceria, ainda, uma ló-
gica campesina de relação produtiva baseada 
na forma familiar (ABRAMOVAY, 1998).
Já Jerzy Tepicht propõe uma elaboração 
teórica quanto ao campesinato de forma a 
reunir as chamadas “forças internas” ou fami-
liares, que Chayanov utiliza, e as razões estru-
turais marxistas responsáveis pelo paradoxo 
da reprodução da economia familiar na agri-
cultura. 
Isso Tepicht propõe checando que, não 
só pela solidariedade de parentesco colo-
31
Ciências Sociais - Sociologia Rural
cada por Chayanov, mas também por um 
cumprimento de funções não transferíveis, o 
camponês nunca abrirá mão de sua compo-
sição familiar no trabalho cooperativista para 
recorrer ao mercado de trabalho assalaria-
do a fim de aumentar de sua renda. Ou seja, 
a leitura que Tepicht realiza quanto à lógica 
de reprodução social do campesinato é a de 
que o trabalho realizado pelo camponês é 
extremamente funcionalista e segue algu-
mas divisões que estruturam ainda mais essas 
funções: as divisões sexuais e etárias são dois 
exemplos.
Primeiramente, o camponês tem seu 
trabalho comungado majoritariamente en-
tre sua família. Esse núcleo familiar, por sua 
vez, divide as tarefas do trabalho como fun-
ções não transferíveis, de forma a não per-
mitir que os indivíduos encarregados a estas 
obrigações as abandonem ou as deleguem a 
outro. Nesse caso, como o próprio Abramo-
vay (1998) narra, os homens adultos (pais e 
filhos mais velhos e/ou algum ajudante) se 
encarregam dos trabalhos mais “penosos” e 
que mereçam certa distância da casa: plan-
tação, colheita e outros. Este é um trabalho 
indispensável. Logo, as mulheres e as crian-
ças devem cuidar dos afazeres domésticos: 
lavar, passar, cozinhar. Afazeres estes que 
delongam todo um dia de trabalho, além de, 
neste caso, só a mulher cuidar das crianças, 
e mulheres e crianças cuidarem do trato dos 
animais domésticos, como galinha, porco, 
pato, ganso, peru e outros. Como há o tra-
balho indispensável realizado pelos homens, 
esses trabalhos, também, são intransferíveis 
ou não transferíveis, como cita Abramovay, 
significando que são trabalhos também indis-
pensáveis à lógica de sua reprodução social, 
mas também que não podem ser exercidos 
por outras pessoas, logo, não permitindo que 
os indivíduos por eles responsáveis exerçam 
outras funções.
O que os dois pensadores pretendem 
com suas teorias é a análise de que por mais 
que o campesinato se adentre nas relações 
mercantis de produção, as relações base de 
sua existência familiar não permitem que o 
mesmo se desmanche em função de outra 
classe social, ou que não se entregue de for-
ma autodestrutiva à dicotomia necessária às 
relações capitalistas. Descartam, então, que 
possa o campesinato ser corroído e levado a 
um trágico destino, mas tem ele uma neces-
sidade de ser sujeito ativo de sua própria re-
produção social.
2.4.2 O campesinato brasileiro
O campesinato brasileiro, segundo Martins (2003), constituiu-se a partir de uma gama di-
versa de grupos sociais que se originaram de situações históricas, em muito, diferentes entre si, 
como os índios aculturados libertos da escravidão no século XVIII e mantidos num círculo de 
dependentes do poder pessoal de grandes proprietários rurais, os brancos pobres devotados à 
agricultura de subsistência, os descendentes de colonos estrangeiros etc. São eles:
Posseiros que a partir de um determinado momento viram seu direito à terra 
questionado por proprietários ou pretensos proprietários; filhos de produtores 
familiares pauperizados que, diante das dificuldades financeiras para compra 
de um pedaço de terra, optaram por acampamentos e ocupações como cami-
nho possível para se perpetuarem na tradução de produtores autônomos; par-
ceiros em busca de terra própria; pequenos produtores, proprietários ou não, 
que têm de ser realocados em razão da construção de usinas hidrelétricas que 
exigem o alargamento de vastas áreas; seringueiros que passaram a resistir ao 
desmatamento que ameaçava o seu modo de vida; assalariados rurais, muitas 
vezes completamente integrados no mercado de trabalho e há muito tempo 
vivendo fora das propriedades; populações de periferia urbana, com empregos 
estáveis ou não, eventualmente com remota origem rural, mas que, havendo 
condições políticas favoráveis, se dispuseram à ocupação; aposentados urba-
nos e rurais que viram no acesso à terra a possibilidadede garantia de moradia 
e um complemento de renda etc. (MARTINS, 2003 a, p. 78).
Para Martins (1981), os termos “campesinato” e “camponês” têm presença recente no voca-
bulário brasileiro, uma vez que são termos externos que chegaram aqui através do que ele cha-
ma de “importação política”. Esses termos foram introduzidos de forma definitiva através das pe-
quenas esquerdas, que 
[...] procuraram dar conta das lutas dos trabalhadores do campo que irrompe-
ram em vários pontos do país nos anos cinqüenta. Antes disso, um trabalhador 
parecido, que na Europa e em outros países da América Latina é classificado 
como camponês, tinha aqui denominações próprias, específicas até em cada 
32
UAB/Unimontes - 8º Período
região. Famoso tornou-se o caipira [...]. No litoral paulista, esse mesmo traba-
lhador é denominado de caiçara. No nordeste do país, chamam-no de tabaréu. 
Noutras partes é conhecido como caboclo [...].Também os proprietários de ter-
ra tinham designações distintas conforme a região e a atividade: estancieiro no 
Sul; fazendeiro em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná; se-
nhores-de-engenho no Nordeste; seringalistas no Norte [...]. Mas também eles 
tiveram sua designação mudada a partir do mesmo debate que alcançou os 
camponeses – passaram a ser designados como latifundiários (MARTINS, 1981, 
p. 21-22).
Esses novos termos, quais sejam, camponês e latifundiário, tornaram-se palavras políticas 
que procuraram expressar a unidade das respectivas situações de classe e, sobretudo, que procu-
raram dar unidade às lutas dos “camponeses”. Martins (1981) disserta quanto a isso dizendo que 
o termo “campesinato”, no Brasil, deu-se enquanto uma pretensão de designação do que pode 
ser entendido como um “destino histórico”, ou, dentro da ótica de uma “diferenciação social”. O 
“camponês”, no Brasil, seria um transplante da concepção de “camponês” de outras realidades, 
em particular, do caso russo dos fins do século XIX e início do século XX. O “destino histórico” 
do camponês brasileiro passou a ser concebido, portanto, através do entendimento deste termo 
nos moldes com os quais o mesmo foi figurado, principalmente por Kautsky (1854-1938) e por 
Lennin (1870-1924), quanto ao que os mesmos conceituaram como sendo a “diferenciação social 
do campesinato”. Tal teoria se enquadra dentro da concepção de que a “classe camponesa” exis-
tia como uma classe que não era nem proletária, nem burguesa, ou uma “classe intermediária” e 
que, por conseguinte, estava fadada ao desaparecimento e sucumbiria em uma ou outra classe. 
Dentro dessa lógica, as lutas por terras e condições de trabalho dos lavradores, moradores, 
foreiros, parceiros, arrendatários, ribeirinhos, dentre outros, foram classificadas como a luta do 
“camponês” contra o “latifúndio”. Tal leitura de processo social possibilitou o fortalecimento das 
Ligas Camponesas e da própria ação do PCB no campo.
Enquadrado nessa ótica, Martins (1981) afirma que a história do campesinato brasileiro se 
deu intrinsecamente ligada à história das lutas pela “tutela política do campesinato” travada por 
mediadores. Segundo esse autor (2004), na atual constituição do processo de reforma agrária, 
o que há não é uma “demanda por reforma agrária” e sim uma disputa pela “forma de se reali-
zar a reforma” e, a partir dessa reforma, torna-se o “campesinato” um objeto social sob tutela e 
conceituado de distintas formas: sem-terra, agricultor familiar, pequeno produtor etc., e, dentro 
desse quadro conceitual, “oculta”-o, uma vez que cria um sujeito não portador de um significado 
congruente aos sentidos de luta que valorizam as ações dos mediadores. Martins (2004, p. 21-22) 
afirma que tais fatos são capazes de demonstrar que
rapidamente, por várias razões, essas organizações estão perdendo “a luta pela 
reforma agrária”, que não se limita nem pode se limitar a essas instituições ape-
nas mediadoras, pois passa pela incorporação da reforma ao programa político 
do governo e por seu reconhecimento pela ação do Estado. E não se limita, ob-
viamente, à questão da redistribuição da terra.
Referências
ABRAMOVAY, Ricardo. Os paradigmas do capitalismo agrário em questão. Petrópolis: Vo-
zes, 1998.
ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, 
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AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Petrópolis: Vozes, 2009.
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FORMAN, S. Camponeses: sua participação no Brasil. São Paulo: Vozes, 1979.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Loyola, 2006.
ATIVIDADE
Faça uma resenha da-
quilo que foi discutido 
nesta unidade, conden-
sando tudo aquilo que 
você aprendeu quanto 
ao uso, posse e proprie-
dade da terra, desde o 
processo de ocupação 
e colonização do Brasil, 
em 1500, até a procla-
mação da República em 
1889.
33
Ciências Sociais - Sociologia Rural
HOLANDA, S. B. de. Raízes do brasil. São Paulo: Loyola, 1995.
MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e 
seu lugar no processo político, 2ª ed., Petrópolis, Vozes, 1981.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil Contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1989.
RYAN, Alan. A propriedade. Lisboa: Editorial Estampa, 1988.
WOLKMER, Antonio Carlos. História do direito no Brasil. 3ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002.
35
Ciências Sociais - Sociologia Rural
UNIDADE 3
Desenvolvimento rural e 
modernização agrícola
 Daniel Coelho de Oliveira
3.1 O que é desenvolvimento?
Olá, agora vamos falar de outro tema 
muito interessante. Com certeza, você já ouviu 
a palavra “desenvolvimento”, seja da boca de 
um político que faz promessas para seu elei-
torado, ou de um jornalista que fala sobre a 
situação de um país, ou mesmo de um profes-
sor de sociologia rural que precisa falar sobre 
a situação do espaço rural brasileiro nas últi-
mas décadas. Como você pode notar, o termo 
“desenvolvimento” tem sido utilizado para de-
signar uma ampla gama de situações, em sua 
maioria, todas ligadas à ideia de crescimento 
econômico. O conceito que propomos aqui se 
distancia dessa abordagem. O desenvolvimen-
to que iremos descrever nas próximas páginas 
está muito mais próximo da concepção de de-
senvolvimento proposta pelo economista in-
diano Amartya Sen. Vejamos o que ele tem a 
dizer sobre o tema! 
A perspectiva de desenvolvimento pro-
posta por Sen (2002) não é estritamente liga-
da ao Produto Interno Bruto – PIB, ou à renda 
monetária individual, mas leva em conside-
ração um conjunto de indicadores sensíveis a 
diversos fatores. Sen (2000) afirma que a diver-
sidade dos seres humanos, expressa na idade, 
sexo, talentos especiais, entre outros, dificulta 
a constituição de uma abordagem do bem-
-estar baseada somente na renda real. Oportu-
nidades idênticas de duas pessoas acessarem 
pacotes de mercadorias não significa que elas 
terão igualdade em relação à qualidade de 
vida. Rendas podem ser, portanto, indicadores 
insatisfatórios do “bem-estar” e da “qualidade 
de vida”. 
O processo de desenvolvimento, portan-
to, consiste na eliminação de privações que 
limitam as pessoas a fazerem escolhas e criar 
a oportunidade de exercer sua condição de 
agente. Nessa perspectiva, Sen (2000) entende 
que o desenvolvimento pode ser visto como 
um meio de expansão das liberdades reais, e 
não somente uma expansão monetária. Por-
tanto, há outros condicionantes sociais e eco-
nômicos que podem expandir as “liberdades”, 
tais como: serviço de educação e saúde, efeti-
vação de direitos civis, possibilidade de aces-
so à terra, entre outros. Vejamos agora como 
pensar a questão do desenvolvimento no es-
paço rural.
3.2 Desenvolvimento no ambiente 
rural 
Pensando o desenvolvimento no ambiente rural, é possível destacar dois grandes projetosem 
curso. O primeiro setorial visa maximizar a competitividade do agribusiness. Nesse projeto, a corrida 
tecnológica exigirá a redução de custos e especialização nas fazendas, fato que expulsará do cam-
po a maior parte da mão de obra não qualificada. José Eli da Veiga (2002, p.386) destaca que
fatalmente, 15% da população brasileira deverá sair do campo nas próximas 
décadas. Por mais esquisita que seja essa conta, o sentido desse enunciado é 
obvio: a maximização da competitividade do agribusiness, não comporta a per-
manência de 18 milhões de ocupados nas atividades de seu segmento primá-
rio. Serão expelidos pelo menos dois terços desses efetivos. 
36
UAB/Unimontes - 8º Período
Um segundo projeto pretende diversificar as economias locais, maximizando as oportuni-
dades de desenvolvimento humano em todas as mesorregiões rurais do Brasil. Para Veiga, existe 
neste projeto uma busca pela “diversidade multisetorial” “A simbiose dos sistemas poliprodutivos 
de culturas e criações é muito melhor do que a monotonia da ilhas de monocultura, cercadas de 
pastagens extensivas por todos os lados” (VEIGA, 2002, p.387). 
Todos sabem que a elevação da competitividade do agronegócio é fundamental para o su-
perávit no saldo da balança comercial. Porém, esse papel não deve ser realizado somente pelo 
Brasil rural, pois, as consequências prováveis serão o aumento do desemprego e das desigualda-
des. A opção por uma agricultura sem homens, além de uma visão exclusivamente assistencialis-
ta dos programas direcionados ao espaço rural, tem limitado o “desenvolvimento” no seu sentido 
mais amplo do rural brasileiro.
3.3 Papel do Estado 
Para falar sobre “desenvolvimento rural” é impossível negligenciar o papel do Estado, por 
isso dedicaremos um pequeno espaço para tratar do tema da política agrícola estatal. O primeiro 
passo é definir o que seria propriamente uma política agrícola, para depois entender as especifi-
cidades desta política setorial. 
O setor agropecuário possui especificidades em relação a outros setores da economia. Exis-
te a sazonalidade, fatores climáticos, ambientais e os ciclos biológicos das plantas e animais. Uma 
das formas de enfrentar a sazonalidade é através das inovações tecnológicas, que encurtam o 
tempo de crescimento dos animais e desenvolvem plantas mais adaptadas às condições climáti-
cas e ambientais.
Esta sazonalidade se reflete em uma acentuada rigidez da produção agrope-
cuária, seja para responder às mudanças nas condições de mercado seja para 
organizar seus fluxos financeiros (BUAINAIN,1997, p. 09). 
Decorre dessa característica a necessidade de se implementar políticas públicas diferen-
ciadas, que possibilitem aos produtores rurais recursos que atendam às especificidades do se-
tor. Nesse sentido, segundo Lamounier (1994), política agrícola seria um conjunto de ações do 
governo, dirigidas ao setor agropecuário e cujos objetivos são reduzir custos, através do investi-
mento em infra-estrutura e pesquisa, estabilizar a renda do produtor e prover crédito. 
Um importante documento da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimen-
tação - FAO/ONU (1995) destaca que toda política setorial tem um conteúdo implícito e outro 
Figura 8: Alimentos. 
Disponível em: <http://
www.jm1.com.br/.../uplo-
ads/2011/07/agricul.jpg>. 
Acesso: 22 jun. 2011.
►
37
Ciências Sociais - Sociologia Rural
explícito. O conteúdo implícito se relaciona com os efeitos indiretos da política macroeconômica 
sobre o setor. Já o conteúdo explícito se relaciona com um conjunto de medidas e intervenções 
do Estado, objetivamente, no setor. O mesmo documento da FAO/ONU destaca a importância de 
alguns instrumentos econômicos e setoriais no setor agrícola.
Os principais instrumentos econômicos são:
a. política monetária: define as margens de manobra do instrumento setorial, crédito rural;
b. política fiscal: política que interfere sobre o volume de gastos públicos com a política se-
torial agrícola;
c. política cambial e comercial: determina os preços relativos dos bens agrícolas em relação 
as bens industriais e define a margem de lucro dos produtos exportáveis.
Os principais instrumentos setoriais são:
a. política de preços: define estímulos à produção associados a um certo produto;
b. política de comercialização: estabelece as condições para que os produtos cheguem ao 
consumidor final;
c. política de preços de insumos agrícolas: fomenta a opção por um certo pacote tecnológi-
co e de insumos;
d. política de crédito: define as condições de financiamento da produção;
e. política de comércio exterior: regula as exportações agrícolas;
f. política de gasto público: determina o volume de fluxos fiscais direcionado ao setor, na 
forma de programas de pesquisas, capacitação, infra-estrutura e apoios complementares.
Portanto, várias características diferem 
o setor agrícola do industrial. Além dos ciclos 
biológicos, climáticos e das demais sazonali-
dades, há na agricultura uma maior distância 
entre a decisão de produzir, o processo produ-
tivo, e a obtenção dos resultados. Tais carac-
terísticas fazem com que a liquidez financeira 
do setor agrícola seja menor do que a do setor 
industrial.
Há setores da economia que defendem 
que a melhor política pública é aquela que 
deixa o mercado funcionar livremente, sem 
o auxilio do Estado; mas, em praticamente 
todos os países do mundo, os governos têm 
implementado políticas agrícolas ativas. To-
dos os governos, de uma forma ou de outra, 
desenvolvem uma política diferenciada para 
a agricultura, porém, há diferenças considerá-
veis entre as inúmeras práticas de planificação 
agrícola. Existem diferenças entre políticas de 
países “desenvolvidos” e “subdesenvolvidos”, 
entre países predominantemente agrícolas e 
países majoritariamente industriais.
Após falar sobre o papel do Estado, apre-
sentaremos as características das transforma-
ções do mundo rural brasileiro, nas últimas dé-
cadas. Começaremos com uma abordagem do 
período quando ocorreu forte “modernização 
conservadora” na agricultura, para depois dis-
cutir temas como agronegócio e pluriatividade. 
PARA SABER MAIS
No site da Organização 
das Nações Unidas 
para a Agricultura e Ali-
mentação - FAO/ONU, 
você pode encontrar 
importantes informa-
ções sobre política 
agrícola e alimentar. Dê 
uma olhada em www.
fao.org.br
◄ Figura 9: Dívida 
Rural. 
Disponível em: <http://
www.jcn1.com.
br/2011/05/27/endivida-
mento-rural-sera-a-nova-
-manifestacao-dos-pro-
dutores-rurais>. Acesso: 
22 jun. 2011.
38
UAB/Unimontes - 8º Período
3.4 Da grande lavoura à 
modernização conservadora da 
agricultura
Para falar do atual modelo de moderniza-
ção no campo, é importante relembrar caracte-
rísticas da agricultura no período colonial, com 
a implantação da “grande lavoura” monoculto-
ra, escravocrata, agro-exportadora e baseada 
na grande propriedade, que são estruturas her-
dadas e presentes na contemporaneidade. 
A chegada do regime republicano, em sua 
essência, não trouxe grandes mudanças para a 
ordem agrária, conservando, em certa medida, 
a estrutura colonial de privilégios direcionados 
e poder às oligarquias regionais. Contudo, os 
avanços técnicos impulsionados pela Primeira 
Guerra e a crise de 1929 influenciaram, de for-
ma decisiva, os rumos políticos e econômicos 
do Brasil, com acontecimentos que são base 
para uma aliança de inspiração centralizadora, 
desenvolvimentista e antioligárquica. Martins 
(1999) ressalta que a revolução de 30 marca o 
pacto entre militares e oligarquias rurais margi-
nalizadas e desprestigiadas na República Velha, 
já para Linhares & Silva (1999), esse aconteci-
mento revela o fim do pacto de exclusividade 
entre o Estado e as oligarquias rurais. Inicia-se, 
assim, um período de transformações na base 
técnica, administrativae financeira da agricultu-
ra, que ganha impulso nos anos 50 e consolida-
-se em meados da década 60.
E importante perceber que tais transfor-
mações representam uma revolução do mundo 
rural que envolve interesses nacionais e inter-
nacionais, disputas e alianças entre burguesia 
urbana e oligarquias rurais e entre o capital e a 
agricultura. Revolução que, ao mesmo tempo 
em que transforma profundamente algumas 
estruturas no campo, conserva características 
da grande lavoura colonial, tais como a proprie-
dade fundiária concentrada e a monocultura 
voltada pra o mercado externo. Acontecimen-
tos que, diz Martins (1999, p. 49), fazem parte de 
um curto período de uma história “cíclica, lenta 
e inacabada”.
Figura 10: 
Transformações na 
agricultura. 
Disponível em: 
<http://www.histo-
ricando.blogs.sapo.
pt/2011/05/?page=3> 
Acesso: 22 jun. 2011.
►
39
Ciências Sociais - Sociologia Rural
A revolução que ocorreu no espaço agrí-
cola se expandiu por fronteiras antes não ex-
ploradas. Segundo Silva (1998), a fronteira é, ao 
mesmo tempo, condicionante e resultado do 
processo de desenvolvimento da agricultura 
brasileira, que sendo regulador da intensificação 
do capital no campo, por consequência, interfe-
re no modelo de desenvolvimento adotado.
Além de regular o desenvolvimento, a 
fronteira pode ter a função de ser uma “vál-
vula de escape” de tensões sociais no campo, 
pois na medida em que aparecem conflitos 
e pressões políticas, a fronteira surge como 
um “novo Eldorado”. É nessa conjuntura que 
se dissemina um discurso que a exploração 
da agricultura moderna poderia levar desen-
volvimento aos rincões do enorme território 
brasileiro. Acabar com a fome e gerar empre-
gos e renda são os argumentos em defesa 
desta proposta de agricultura. 
3.5 Da monocultura agro-
exportadora ao agronegócio 
Como já visto, Prado Jr. (1986) define 
como os três pilares da formação da agricul-
tura no Brasil: a grande propriedade, o traba-
lho escravo e a monocultura e o seu sentido 
de ser, que é a produção para o mercado 
externo. Em sua visão, o sentido da coloni-
zação do Brasil foi o fornecimento, ao mer-
cado europeu, de metais preciosos como 
o ouro e alguns gêneros tropicais; produ-
zir para exportar, tudo mais era subsidiário. 
Configuração que provocou um desenvolvi-
mento cíclico em relação ao tempo e espaço, 
alternando momentos de prosperidade loca-
lizados e posterior decadência. Para a maioria 
das pessoas, essas empresas não produziram 
mais do que uma ilusão de riqueza momen-
tânea, já que a maior parte da riqueza gera-
da, por esse sistema, concentrou-se na mão 
de uma pequena elite agrária.
O desabastecimento interno era iminen-
te, como no caso do nordeste açucareiro que 
vivenciou tal situação: quando a procura de 
alimentos aumentou, foi necessário importar 
alimentos da região sul, o que contribuiu para 
agravar a disparidade entre o salário nominal e 
a produtividade, em prejuízo para região mais 
pobre, mesmo com sua vantagem relativa da 
produção de açúcar (FURTADO, 1980).
3.6 A revolução verde
Certamente todos já ouviram falar da “Revolução Industrial”. As transformações ocorri-
das, nesse período, possibilitaram inúmeras mudanças em diversas áreas da agricultura. So-
ma-se a isso o aumento da demanda por matérias-primas e alimentos para uma população 
crescente. As transformações provocaram, em meados do século XIX, o que foi denominado 
de Primeira Revolução Agrícola.
[...] uma série de descobertas científicas e de avanços tecnológicos, como os 
fertilizantes químicos, o melhoramento genético das plantas e os motores 
de combustão interna, possibilitaram o progressivo distanciamento da pro-
dução animal da produção vegetal [...] (EHLERS, 1996, p. 18).
O contínuo processo de modernização resultou na chamada Segunda Revolução Agríco-
la, no início do século XX, cujo avanço, somado ao progresso técnico das duas grandes guer-
ras mundiais, resultou, entre as décadas de 60 e 70, na chamada Revolução Verde. 
40
UAB/Unimontes - 8º Período
Na visão de Moreira (2000), o Brasil aderiu aos pacotes tecnológicos da Revolução Verde, 
impulsionados, principalmente, por subsídios de créditos agrícolas do Estado, que procurava 
estimular a grande produção agrícola, nas esferas agroindustriais: empresas de maquinários, 
de insumos industriais para uso agrícola, tratores, herbicidas e fertilizantes químicos. O mode-
lo de transformação impulsionado pela Revolução Verde intensificou-se no período desenvol-
vimentista do “milagre econômico”. 
O tipo de industrialização pode ser caracterizado pela mecanização e pela 
quimificação [sic]. Em face do pacote tecnológico de origem norte-americana 
aplicado em vários países do mundo no pós-guerra - pacote que combinava 
elementos mecânicos, químicos e sementes melhoradas, juntamente com uma 
larga e intensiva rede de serviços técnicos [...] (MÜLLER, 1988, p.182).
Um importante espaço de difusão da Revolução Verde foram as universidades. Muitas delas 
estabeleceram vínculos estreitos com o sistema de educação e pesquisa estadunidense. Grande 
parte dos custos do processo de intercâmbio foi financiada por instituições internacionais, como 
a fundação Rockefeller e Ford, além do governo brasileiro. Você deve ter notado que a presença 
do Estado no processo de modernização da agricultura não se limitou ao incentivo à troca de 
informações, mas ocorreu através da intervenção direta, como as leis e programas de subsídio.
A grande questão é que o conjunto de medidas que pretendiam impulsionar o desenvol-
vimento econômico, através da implementação de uma nova forma de produzir na agricultura, 
conservou uma estrutura agrária concentrada, apoiada na justificativa que a grande propriedade 
é a mais adequada para incorporar o processo de modernização.
3.7 Industrialização e formação 
dos complexos agroindustriais 
Foi na década de 50 do século XX que ocorreu, de forma intensa, a incorporação das ati-
vidades agrárias brasileiras à dinâmica industrial. De acordo com Müller (1998), o processo, que 
▲
Figura 11: Revolução 
Verde.
Disponível em: <http://
www.oleododiabo.
blogspot.com/2011/05/
esquerda-e-o-preconcei-
to-contra-o.html>. Acesso: 
22 jun. 2011.
41
Ciências Sociais - Sociologia Rural
se iniciou nos anos 50 e se consolidou nas décadas seguintes, criou uma parceria entre o capital 
nacional da elite econômica, o capital internacional e o Estado. Essa “Tríplice Aliança” foi respon-
sável pela expansão de um capitalismo oligopólico no campo. As alterações impulsionadas pelo 
processo de acumulação capitalista foram sentidas nas atividades tradicionais do mundo rural, 
fenômeno que desencadeia várias implicações sociais, uma delas sendo a expropriação do cam-
pensinato, não apenas dos seus meios de produção, mas também da relação com o seu meio, do 
seu “saber fazer” (LEITE & PALMEIRA, 1998).
A industrialização da agricultura designa a incorporação das atividades agrá-
rias ao modo industrial de produzir e ao estilo empresarial de gerir a unida-
de econômica agrária. Ela é o resultado do consumo crescente de insumos 
industriais e de serviços técnicos. A industrialização da agricultura designa a 
integração desta com os setores industriais e comerciais que operam com os 
produtos agrícolas, como agroindústria e supermercados, e cujas exigências 
técnicas e econômicas participam da regulação das atividades agrárias (MÜL-
LER, 1998, p. 176). 
É importante destacar que a transfor-
mação na base técnica da agricultura e a 
constituição do CAI são processos distintos. 
Conforme Delgado (1985), o primeiro é pro-
priamente a transformação nos meios de pro-
dução da agricultura, fatores impulsionados 
pela Revolução Verde. O segundo é caracte-
rizado, principalmente, pela implantação no 
Brasil de um setor industrial responsável pelafabricação de bens de produção para a agri-
cultura, constituído no final dos anos 60. Sua 
estruturação possibilitou a constituição de 
um mercado nacional de produtos industria-
lizados de origem agropecuária, com parte 
desses produtos destinada à exportação e o 
restante para a crescente demanda do merca-
do interno. 
Com a consolidação do CAI, novos inte-
resses sociais foram ligados. Setores moder-
nizantes em um bloco que envolve grande 
capital industrial, grandes e médios proprie-
tários rurais e o Estado, responsável pela “sol-
dagem” desse pacto, através de suas diversas 
políticas econômicas (DELGADO, 1985). 
Você já estudou sobre o papel do Estado 
no desenvolvimento agrícola. Na moderniza-
ção agrícola do Brasil não foi diferente. Por 
exemplo, na esfera normativa, o Estatuto do 
Trabalhador Rural, de 1963, instituiu os direi-
tos trabalhistas e sociais aos trabalhadores 
rurais. No ano seguinte, o Estatuto da Terra 
estabeleceu o princípio da reforma agrá-
ria, ao mesmo tempo em que estruturou as 
condições para consolidação de empreendi-
mentos capitalistas no campo. Nas políticas 
fiscais e financeiras, a interferência do Esta-
do. “[...] compreende um conjunto amplo de 
mecanismos monetário-financeiros e de in-
centivos fiscais, que estimulam, compensam 
e financiam a aplicação de capitais privados 
nas atividades rurais” (DELGADO, 1985, p.45). 
Faz parte desse conjunto o Sistema Nacional 
de Crédito Rural (SNCR), que universalizou e 
expandiu o crédito antes limitado a setores 
específicos (Institutos do Café, do Álcool e 
Açúcar). O novo sistema contribui através de 
taxas de juros subsidiadas, prazos extensos, e 
longas carências para pagamento.
 É possível afirmar que inúmeras políti-
cas adotadas pelo Estado serviram para au-
mentar, ainda mais, a disparidade entre re-
giões econômicas e grupos sociais. Segundo 
Delgado (1985), milhões de estabelecimentos 
rurais não foram incorporados ao processo 
de modernização. Desses, faz parte um gru-
po de produtores periféricos, não integrados 
ao CAI e desprivilegiados pelo crédito subsi-
diado, que, em última instância, serão expro-
priados de suas terras e farão parte de uma 
massa de assalariados ou desempregados 
marginais ao sistema moderno de produção 
agrícola. 
A região Centro-Sul foi um dos espaços 
privilegiados dessas transformações, onde 
se concentrou maior parte dos recursos es-
tatais investidos no projeto de modernização 
da agricultura. No Nordeste, foram realizados 
grandes investimentos financeiros através da 
Superintendência de Desenvolvimento do 
Nordeste (SUDENE). Entretanto, os recursos 
foram destinados para um número limita-
do de agricultores, demonstrando uma clara 
conciliação entre interesses clientelistas das 
oligarquias regionais e os interesses moder-
nos dos empresários do Sudeste (MARTINS, 
1999). Posteriormente foi criada a Superin-
tendência de Desenvolvimento da Amazônia 
(SUDAM), com consequências semelhantes. 
42
UAB/Unimontes - 8º Período
Delgado (1985) observa que os traços da modernização conservadora são mais evidentes 
nas chamadas fronteiras agrícolas, onde se notam processos modernizantes impulsionados pelo 
Estado e uma base de interesses oligárquicos locais: uma aliança política conservadora expressa, 
principalmente, pela grande propriedade rural.
Mas, por outro lado, a experiência desses últimos vinte anos revelou à socieda-
de que o estilo de industrialização liberal, respaldado no autoritarismo políti-
co que não admitiu debate algum sobre fins alternativos a uma modernização 
desejada por muitos, não funcionou indutivamente para os pequenos proprie-
tários, arrendatários, parceiros e ocupantes, uma vez que não os incorporou à 
modernização, chegando até a aumentar a pobreza. Não admitir isso seria eli-
dir a realidade parcial, majoritária, porém, criada pela constituição do setor di-
nâmico da agricultura (MÜLLER, 1998, p.181).
A expansão capitalista no campo faz 
parte de um processo maior de expansão do 
capital, de revolução das relações de produ-
ção nesse setor. Entretanto, estas relações 
não alteram, por inteiro, o capital, que não 
realizou uma expropriação completa: “... agri-
cultura brasileira espelha avanços e recuos 
de uma lenta e, por isso mesmo, dolorosa, 
modernização em alguns setores específi-
cos; modernização essa em sua maior parte 
sustentada pelos subsídios estatais” (SILVA, 
1982, p.33).
Você pode observar que as transforma-
ções que aconteceram na agricultura, a partir 
do final da década de 60, não significam a su-
peração do aspecto conservador e elitista da 
agricultura no Brasil. Velho (1979), ao parafra-
sear o historiador Eric Hobsbawm, diz que, ao 
contrário do caso inglês que no seu tradiciona-
lismo procura afixar “velhos rótulos” em “no-
vas garrafas”, na história brasileira, procura-se 
colocar “novos rótulos” em “velhas garrafas”, 
ou seja, a presença do “moderno” não significa 
uma negação do “arcaico”, ao contrário, os no-
vos atores do cenário agrícola se aproximaram 
dos velhos parceiros. 
A incorporação do pacto tecnológico da 
Revolução Verde - a integração da agricultu-
ra ao setor industrial e financeiro - provocou 
mudanças consideráveis na forma de gerir 
os “negócios” da agricultura: para alguns, 
uma transformação profunda nas antigas es-
truturas arcaicas do meio rural; para outros, 
simplesmente uma maquiagem em uma es-
trutura atrasada e conservadora. Todas essas 
características estão relacionadas ao “agro-
negócio”, novo termo utilizado para designar 
os “negócios” do complexo agropecuário. 
Figura 12: 
Modernização rural. 
Disponível em: <http://
www.professormar-
cianodantas.blogspot.
com/2011/06/agrobusi-
ness.html>. Acesso: 22 jun. 
2011.
►
43
Ciências Sociais - Sociologia Rural
3.8 Transformações recentes do 
espaço rural
3.8.1 Agronegócio
O debate em torno da definição do con-
ceito de agronegócio intensificou-se nos 
últimos anos. Entretanto, não existe consen-
so na literatura sobre seu significado. Sabe-
-se que o termo possui inúmeras definições 
sujeitas a diversas controvérsias, por isso, o 
maior desafio é fundamentá-lo, sem, porém, 
esgotar o debate sobre o assunto.
O conceito de agronegócio empregado 
pela comunidade acadêmica, meios de co-
municação, entidades governamentais e por 
outros inúmeros setores sociais, originou-se 
do termo agribusiness. Sua utilização teve 
origem nos estudos sobre “enfoques sistê-
micos de produção de alimentos”. Segundo 
Castro & Gutman (2001), entre as primeiras 
publicações a adotar enfoques sistêmicos, 
destacam-se as elaboradas pela “Escola de 
Harvard”, cujos trabalhos iniciais foram de-
senvolvidos por John H. Davis e Ray A. Gold-
berg, em 1957. Também na França, durante a 
década de 1960, inúmeros trabalhos enfoca-
ram a economia contratual e modernização 
do complexo agro-alimentar. 
O termo agribusiness foi popularizado 
no trabalho de Davis e Goldeberg (1957). O 
conceito incorpora todas as operações de 
produção e distribuição de suprimentos agrí-
colas, incluindo o armazenamento, o proces-
samento e a distribuição dos produtos agrí-
colas e itens produzidos a partir deles. Na 
visão da Associação Brasileira de Agribusiness 
(ABAG), o conceito engloba os fornecedo-
res de bens e serviços para a agricultura, os 
produtores rurais, os processadores, os trans-
formadores, os distribuidores e todos os en-
volvidos na geração e fluxo dos produtos de 
origem agrícola até o consumidor final. Parti-
cipam, também, desse complexo, os agentes 
que afetam e coordenam o fluxo dos produ-
tos, tais como o governo, os mercados, as en-
tidades comerciais, financeiras e de serviços. 
Figura 13: 
Agronegócio 
Brasileiro: Uma 
Oportunidade de 
Investimentos. 
Disponível em: <http://
www.geomundo.com.br/
geografia-30105.htm>. 
Acesso: 22 jun.2011.
▼
44
UAB/Unimontes - 8º Período
Em outra perspectiva, Guilherme Delgado 
(2005) aponta que o termo, no Brasil, represen-
ta uma associação entre o grande capital agro-
industrial e a grande propriedade fundiária, 
associação patrocinada por políticas estatais e 
que realiza a estratégia econômica do capital 
financeiro, buscando o lucro e renda da terra, 
numa "remontagem" da antiga estrutura de 
produção agrícola construída na década 1960, 
período da implantação, no Brasil, do que se 
convencionou chamar de Revolução Verde.
A solução modernizante do agronegócio 
tem similaridades com a modernização con-
servadora dos anos 1970. Mas, para entender 
esse novo fenômeno, é preciso ultrapassar as 
noções que procuram captar a cadeia de rela-
ções interindustriais utilizando a mensuração 
da produção primária acrescida das relações 
técnicas agricultura-indústria, à jusante e a 
montante, porque, nessa definição de agrone-
gócio, encontram-se ausentes a renda fundiá-
ria e as relações fundiárias que permitem sua 
captura nos períodos de elevação do preço da 
terra (DELGADO, 2005). 
Foi a partir do início da década de 1990, 
que, segundo Ramos (2007), abandonou-se 
a análise tradicional do setor agropecuário, 
fundamentada na constituição dos com-
plexos agroindustriais. Surgem, no período, 
novas denominações, com diferentes arca-
bouços teóricos e analíticos. “Entre tais de-
nominações, podem-se citar: ‘sistema agro-
alimentar’, ‘sistema agroindustrial’, ‘rede’, 
‘cadeia’ ou mesmo a palavra francesa filièr. 
Contudo, fundamentalmente na impren-
sa e nos meios empresariais e político tem 
predominado o uso da expressão ‘agrone-
gócio’...” (RAMOS, 2007, p. 42). A populari-
zação do conceito de agronegócio ocorreu, 
principalmente, pela atuação da Associação 
Brasileira de Agribusiness (ABAG), entidade 
criada, em 1993, com o propósito de difundir 
e, principalmente, influenciar várias institui-
ções do governo na concepção e implemen-
tação de políticas públicas relacionadas aos 
diversos agronegócios. Na visão de Ramos 
(2007), também, há um esforço, por parte 
dessa entidade, na aferição da importância 
do agribusiness no PIB brasileiro, além da 
promoção de campanhas para defender a 
diminuição do chamado “Custo Brasil” (sis-
tema de transporte, sistema tributário entres 
outros) e a crítica ao protecionismo dos pa-
íses ricos aos seus produtores rurais. Todos 
esses pontos destacados por Ramos (2007) 
fazem parte de uma estratégia de posiciona-
mento político, na defesa de interesses eco-
nômicos que essa organização do agronegó-
cio defende. 
As instituições e organizações que fa-
zem parte do agronegócio podem ser divi-
didas em três categorias, segundo a ABAG 
(1993).
•	 Na primeira, estão as operacionais, tais 
como os produtores, processadores e 
distribuidores que manipulam e impul-
sionam o produto fisicamente através 
do sistema. 
PARA SABER MAIS
Para saber mais sobre 
as consequências 
da Revolução Verde, 
assista ao documen-
tário “O veneno está 
na mesa”, do cineasta 
Silvio Tendler. O filme 
aborda como a chama-
da Revolução Verde do 
pós-guerra acabou com 
a herança da agricultu-
ra tradicional.
ATIVIDADE
 Uma das críticas reali-
zadas aos produtores 
que se denominam 
pertencentes ao agro-
negócio, é o desres-
peito destes à legisla-
ção trabalhista. Para 
aprofundar o debate 
sobre o assunto, leia o 
relatório anual sobre 
os conflitos no campo, 
lançado pela Comissão 
Pastoral da Terra (CPT), 
disponível no site www.
cptnacional.org.br, e 
realize um debate com 
seus colegas sobre os 
conflitos entre tra-
balhadores rurais e 
proprietários de terras 
em sua região. 
Figura 14: O trabalho 
escravo cresce no 
mesmo ritmo do 
etanol. 
Disponível em: <http://
www.outrapolitica.wor-
dpress.com> Acesso: 22 
jun. 2011.
►
PARA SABER MAIS
Para obter mais 
informações sobre a 
concepção de agrone-
gócio na perspectiva 
patronal, visite o site da 
Associação Brasileira 
de Agronegócio: www.
abag.com.br. Lá é pos-
sível obter publicações, 
e acompanhar eventos 
e estudos sobre o agro-
negócio brasileiro.
45
Ciências Sociais - Sociologia Rural
•	 Na segunda, figuram as que geram e 
transmitem energia no estágio inicial do 
sistema. Aqui aparecem as empresas de 
suprimentos de insumos e fatores de pro-
dução, os agentes financeiros, os centros 
de pesquisa e experimentação, entidades 
de fomento e assistência técnica e outras. 
•	 A terceira compreende os mecanismos 
coordenadores, como governo, contratos 
comerciais, mercados futuros, sindicatos, 
associações e outros que regulamentam 
a interação e a integração dos diferentes 
segmentos do sistema.
Autores, como Magalhães (2001), des-
tacam que o conceito de agronegócio (agri-
business) adquiriu inúmeras formulações a 
partir da primeira contribuição de Davis e 
Goldeberg (1957). As diferentes formulações 
partem de uma base comum: a maior inten-
sidade das relações intersetoriais que deter-
minados setores econômicos apresentam 
com a agropecuária. Trata-se de identificar, 
naqueles setores, a montante e a jusante 
que mantêm relações intersetoriais, ou seja, 
vínculos técnicos significativos com as ati-
vidades agropecuárias do ponto de vista de 
sua acumulação de capital, investimento e 
progresso tecnológico.
[...] o agronegócio é visto como a cadeia produtiva que envolve desde a fabri-
cação de insumos, passando pela produção nos estabelecimentos agropecuá-
rios e pela sua transformação, até o seu consumo. Essa cadeia incorpora todos 
os serviços de apoio: pesquisa e assistência técnica, processamento, transpor-
te, comercialização, crédito, exportação, serviços portuários, distribuidores 
(dealers), bolsas, industrialização e o consumidor final. O valor agregado do 
complexo agroindustrial passa, obrigatoriamente, por cinco mercados: o de su-
primentos; o da produção propriamente dita; o do processamento; o de distri-
buição; e o do consumidor final (GASQUES, 2004, p.08).
É notório que, nos últimos anos, o espaço 
rural brasileiro passou por intensas transfor-
mações, sejam elas nos aparatos tecnológicos 
de máquinas e implementos agrícolas, ou na 
área de biotecnologia. Porém, as mudanças 
não se limitam à parte técnica; as atividades 
desenvolvidas dentro da propriedade e as 
pessoas que trabalham dentro também mu-
daram. O rural hoje não pode ser considerado 
um espaço exclusivo de produção agrícola. Ele 
desempenha outras tarefas. 
Historicamente o rural sempre foi colo-
cado em oposição ao urbano, o último visto 
como espaço moderno e o rural, como lugar 
de atraso. Mas, há autores, como Graziano 
da Silva (2001), que defendem o surgimento 
de um “novo rural”, caracterizado tanto pelo 
“agribusiness” quanto por atores sociais que 
exploram novas atividades agrícolas, como a 
criação de plantas e animais exóticos. Verifica-
-se, também, o surgimento de condomínios 
rurais de alto padrão e loteamentos clandes-
tinos que abrigam muitos empregados do-
mésticos e aposentados, que não vivem mais 
exclusivamente na cidade, ou seja, além das 
grandes propriedades do agronegócio, exis-
tem milhões de agricultores, familiares e plu-
riativos, empregados agrícolas e não-agrícolas.
A pluriatividade, por exemplo, refere-se 
a um fenômeno do espaço rural, que pressu-
põe a combinação de duas ou mais atividades 
numa unidade de produção rural, sendo, pelo 
menos, uma delas a agricultura. A produção 
é a realizada por grupo doméstico ligado por 
laços de parentesco e consanguinidade, que 
compartilha um mesmo espaço de moradia 
DICA
Para saber mais sobre o 
agronegócio, na pers-
pectiva de trabalhado-
res rurais, fazendeiros 
e ativistas assista ao 
documentário “Nas 
Terras do Bem-Virá” 
de Alexandre Rampa-
zzo e TatianaPolastri. 
Disponível na página: 
www.youtube.com/
watch?v=81aaGBt
P6Aw. 
Figura 15: Novo rural 
brasileiro.
Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_
arttext&pid=S0103-4014
200100
0300005> Acesso: 22 jun. 
2011.
▼
46
UAB/Unimontes - 8º Período
e trabalho. É justamente na interação entre 
as atividades agrícolas e não-agrícolas que 
se gera a pluriatividade. Segundo Schneider 
(2006), ela é diversificada e heterogênea e está 
relacionada, de um lado, às estratégias sociais 
e produtivas adotadas pela família e por seus 
membros e, de outro, seu grau de variabilida-
de dependerá do contexto ou do território em 
que estiver inserida. Em suma, a pluriatividade 
tem a ver com o exercício de múltiplas ativida-
des por pessoas que pertencem a uma mesma 
família no espaço rural. 
Vários mitos foram criados sobre o rural 
brasileiro. Estudos e pesquisas recentes, como 
o projeto Rurbano desenvolvido por um con-
junto de universidades no Brasil, têm revela-
do uma nova configuração desse ambiente. 
Vejamos quais as principais conclusões de 
Silva (2001) sobre essas transformações: O ru-
ral pode ser considerado como sinônimo de 
atraso? Esse pode ser considerado o primeiro 
dos mitos arraigados na nossa memória coleti-
va. O espaço rural não pode ser considerado o 
oposto da modernidade. É verdade que o rural 
brasileiro possui várias características herda-
das da antiga estrutura latifundiária. Porém, 
está em curso a construção de um “novo ru-
ral”, composto por moradores de condomínios 
rurais, aposentados que não conseguem viver 
na cidade e novos setores do agronegócio.
O rural ainda é, predominantemente, 
agrícola? De acordo com Silva (2001), as ocu-
pações não agrícolas no espaço rural, vêm 
crescendo ano a ano. São profissionais como 
serventes de pedreiro, motoristas, caseiros, 
empregadas domésticas, entre outros. Manti-
das as projeções de crescimento dessas ocu-
pações, em poucos anos irão ultrapassar as 
atividades propriamente agrícolas. 
Não há solução para o êxodo rural? O 
êxodo de parte da população vem sendo com-
pensado pelo crescimento das ocupações não 
agrícolas. Se juntarmos a população aposen-
tada, a busca pelas áreas rurais como locais de 
residência tem reforçado a contenção do pro-
cesso migratório, em várias regiões do país.
O desenvolvimento agrícola leva, necessariamente, ao desenvolvimento rural? Cada vez 
mais as ocupações agrícolas têm gerado menor renda, consequentemente, não sustentam 
o desenvolvimento do espaço rural. Esse cenário explica, em parte, porque as famílias ru-
rais estão se tornando cada vez menos agrícolas. Já que as atividades tradicionais do campo 
não permitem a subsistência, o orçamento é complementado com ocupações fora da terra e 
transferências sociais, como aposentadorias e pensões. 
A gestão das pequenas e médias propriedades rurais é familiar? O que se observa é a 
individualização da gestão das pequenas e médias propriedades. No caso, os pais ou um dos 
filhos ficam responsáveis pelo trabalho na terra, e os demais membros da família procuram 
PARA SABER MAIS
Para conhecer um pou-
co mais sobre o projeto 
Rurbano, leia o artigo 
de José Graziano da Sil-
va. Disponível no site: 
www.scielo.br/pdf/ea/
v15n43/v15n43a05.pdf. 
Acesso: 23 jun. 2011.
ATIVIDADE
 Entre no site do Institu-
to Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística – IBGE e 
atualize as informações 
sobre a quantidade de 
brasileiros que vivem 
no campo.
▲
Figura 16: Produtores 
da região apostam no 
turismo rural. 
Disponível em: http://
www.clickfozdoiguacu.
com.br/foz-iguacu-
-noticias/produtores-da-
-regiao-apostam-no-turis-
mo-rural-7382. Acesso: 22 
jun. 2011.
47
Ciências Sociais - Sociologia Rural
ocupações fora da propriedade. Também cresce o número de peque-
nas glebas (menos de 2 hectares, tamanho do menor módulo rural) 
cuja principal função é residencial, e não produtiva. 
3.9 Vejamos agora alguns 
dos novos mitos do rural 
brasileiro:
Ocupações não-agrícolas se colocam 
como opção ao desemprego? Apesar do cres-
cimento em quantidade, as ocupações rurais 
não-agrícolas, na sua maioria, pautam-se pela 
precariedade e baixa remuneração. Confor-
me aponta Silva (2001), em todas as regiões 
brasileiras, há um forte crescimento do em-
prego doméstico de mulheres residentes na 
zona rural.
É possível apontar as ocupações não-
-agrícolas como o motor do desenvolvimento 
rural? O cenário atual indica, segundo Silva 
(2001), que isso só ocorrerá em áreas que já 
têm agricultura economicamente desenvol-
vida, ou em regiões vizinhas de grandes con-
centrações urbanas. Apresenta-se, assim, um 
paradoxo: nas regiões mais atrasadas, não 
há emprego agrícola, muito menos ocupa-
ções não-agrícolas. Nesse cenário, as políticas 
compensatórias, tais como renda mínima e 
previdência social, tornam-se indispensáveis.
Apresentadas algumas considerações, o 
novo rural pode ser considerado melhor que 
o velho? É possível observar uma grande po-
tencialidade no ambiente rural. Há, também, 
problemas, como novas formas de poluição 
e destruição da natureza, associados tanto 
às atividades agrícolas quanto não-agrícolas. 
O novo rural precisa de uma relação estatal 
mais ativa, no intuito de atender aos demais 
setores com dificuldades de subsistência. 
O que verificamos, no debate sobre o 
novo rural, é o surgimento de uma nova dinâ-
mica no espaço rural, caracterizada pela mul-
tiplicação de atividades não-agrícolas. Verifica-
-se, também, que há um intenso processo de 
modernização da agricultura patronal e de 
parte da agricultura familiar, particularmen-
te os integrados às agroindústrias. Em outras 
palavras, estaria ocorrendo a urbanização do 
campo brasileiro devido à lógica de produção 
tipicamente urbana. Não devemos esquecer, 
conforme aponta Alentejano (2000), que é ne-
cessário considerar a diversidade de formas de 
organização social que existem tanto no cam-
po como na cidade, pois elas poderiam nos 
levar a dizer que não existe um urbano e um 
rural, mas vários urbanos e rurais.
3.10 Apontamentos finais 
Como você pode observar, os conceitos 
de “desenvolvimento rural” e de “moderniza-
ção da agricultura” variam entre os distintos 
autores que os abordam, tanto do ponto de 
vista conceitual quanto do ponto de vista 
prático. Por um lado, estão aqueles que dão 
aos dois conceitos uma mesma cara, e, por 
outro lado, estão aqueles que os compreen-
dem como distintos em natureza.
Quanto à modernização agrícola, consi-
dera-se modernizada, a produção que utiliza, 
de modo intensivo, equipamentos e técnicas 
que lhe permite maior rendimento, dando à 
modernização da agricultura o sinônimo de 
mecanização e tecnificação da lavoura. Tam-
bém, considera-se que o conceito de moder-
nização não pode se restringir aos equipa-
mentos usados, e sim, deve levar em conta 
todo o processo de modificações ocorridas 
nas relações sociais de produção.
O processo de modernização da agricul-
tura no Brasil tem origem na década de 1950 
com as importações de meios de produção 
mais avançados. No entanto, é só na década 
de 1960 que esse processo vai se concreti-
zar, com a implantação, no país, de um setor 
industrial voltado para a produção de equi-
pamentos e insumos para a agricultura. A 
década de 1960 marcou o início de um novo 
modelo econômico brasileiro, substituindo o 
▲
Figura 17: Agricultura 
Familiar. 
Disponível em:
<http://www.pico-pitacos.
blogspot.com/2011/01/
agricultura-familiar-e-
-disputa-da.html>. Acesso: 
22 jun. 2011.
48
UAB/Unimontes - 8º Período
chamado modelo de substituição de impor-
tações pela modernização do setor agrário e 
formação do Complexo Agroindustrial. Toda-
via, o que se verificou foi uma modernização 
agrícola dentro de um molde conservador: 
transformou-sea produção nos níveis eco-
nômicos e tecnológicos, porém, manteve-se 
o latifúndio e as relações trabalhistas carac-
terizadas pelo mando e pelo favor. O agro-
negócio, por sua vez, re-significou o papel 
da agricultura no processo de modernização 
agrícola e na promoção de um “desenvolvi-
mento rural” coerente ao sistema capitalista 
moderno.
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51
Ciências Sociais - Sociologia Rural
UNIDADE 4
Conflitos agrários e conflitos 
ambientais
 Hugo Fonseca Moreira
4.1 Introdução
A questão fundiária e as disputas pelo acesso à terra no Brasil têm suas marcas iniciais 
durante processo de colonização do território, pela forma como essa colonização foi realizada 
por Portugal, como já discutimos neste caderno. A geração de extensas unidades de produ-
ção voltadas para a exportação foi, de modo geral, uma determinante do modo de apropria-
ção da terra no país, através de grandes fazendas e com base no uso de mão-de-obra escrava 
em abundância (MEDEIROS, 2003). Tal situação também é possível de se analisar na obra de 
Gilberto Freyre, que mostra a estrutura agrária brasileira como sustentada pelo seguinte tripé: 
latifúndio, monocultura de exportação e mão-de-obra negra escrava.
A promulgação da Lei de Terras, em 1850, como resultado da discussão gerada sobre o 
uso e a apropriação da terra no país – uma vez que, com o fim claro, embora em curtos pas-
sos, do trabalho escravo, a manutenção do trabalho das grandes propriedades estava amea-
çada – foi determinante na garantia da utilização de mecanismos que possibilitaram a manu-
tenção da concentração fundiária e da disponibilidade de outros tipos de mão-de-obra. Tais 
garantias foram mantidas, também, na Constituição Republicana e no Código Civil de 1917 
(SPAROVEK, 2003).
GLOSSÁRIO
Fundiário: Que diz respei-
to a terreno; propriedade 
da terra e questões sociais, 
políticas e econômicas 
ligadas a essa proprie-
dade. Questão fundiária, 
então, são demandas que 
circundam a propriedade 
rural.
Figura 18: 
Acampamento do 
MST à margem de 
uma propriedade 
rural.
Fonte: Revista Documento 
Reservado (13 de junho 
de 2011).
▼
52
UAB/Unimontes - 8º Período
4.2 A reforma agrária e a demanda 
por terra no Brasil
A emergência da questão agrária no Bra-
sil, porém, só se deu, de forma significativa, 
durante os anos da década de 1920 através do 
movimento que ficou conhecido como “tenen-
tista”, constituído por jovens oficiais do Exército 
que se engajaram num amplo debate sobre o 
futuro do país e viam, na promulgação da de-
mocratização do processo eleitoral, uma porta 
de entrada para a construção desse futuro. Se-
gundo esse movimento, liderado por Virgínio 
Santa Rosa, “a existência do latifúndio estava 
intimamente relacionada ao coronelismo e ao 
controle político dos eleitores pelos grandes 
proprietários e era a principal razão do que ele 
considerava um atraso político do Brasil” (ME-
DEIROS, 2003, p. 12). 
Durante a década de 1950, porém, os de-
bates sobre a questão fundiária brasileira se 
restringiram a pequenos círculos políticos e 
intelectuais, não havendo, no meio destes, a 
constituição de um movimento social dotado 
de expressão e que se manifestasse à luz da lin-
guagem de uma “reforma agrária”. Lembrando 
que, nesse período, como vimos na unidade an-
terior deste caderno, vivemos um intenso pro-
cesso de “modernização agrícola”.
No entanto, no início dos anos 1960, o 
meio rural brasileiro foi palco da presença de 
diferentes conflitos que culminaram na consti-
tuição dessa linguagem, tornando-se, assim, a 
“reforma agrária”, como diz Medeiros (2003, p. 
14), “a tradução política das lutas por terra que 
se desenvolviam em diversos pontos do país”. 
Entra em cena, nesse momento, ao menos de 
forma mais patente, a presença do Partido Co-
munista Brasileiro (PCB) como uma das princi-
pais mediações dessas lutas que, até então, se 
desenrolavam, uma vez que os conflitos por 
terras eram atuações extremamente atomi-
zadas e localizadas. Há de se destacar, toda-
via, que, para o PCB, nas palavras de Medeiros 
(2003, p. 15),
A demanda por reforma agrária, no entanto, não foi definida tendo como ponto 
de partida esses conflitos, mas principalmente a partir das diretrizes da Interna-
cional Socialista sobre o significado do termo latifúndio, entendido como gran-
des extensões de terra onde predominavam relações feudais (formas de domi-
naçãopessoal, exigência de que os trabalhadores pagassem renda pelo uso da 
terra etc.) e da importância da luta contra ele. Eliminar o latifúndio era, segundo 
os intelectuais do PCB, um dos passos necessários de um conjunto de transfor-
mações pelas quais o país deveria passar para poder realizar uma revolução de 
caráter “democrático-burguês”.
O PCB encaminhava suas ações voltan-
do-se para a abertura de lutas mais imedia-
tas e cotidianas, como a melhoria de salários 
e dos direitos trabalhistas e o apoio à resis-
tência na terra na demanda por maior pra-
zo e garantia de renovação de contratos de 
arrendamento, diminuição do seu valor, de 
impostos e de fretes. Ao mesmo tempo, bus-
cava estimular a luta pela reforma agrária. 
Também, nessa mesma conjuntura, porém, 
opondo-se à proposta do PCB, foram gesta-
das outras concepções sobre os significados 
da reforma agrária, como as proposições 
colocadas pelas Ligas Camponesas, que sur-
giram no estado de Pernambuco sob a lide-
rança de Francisco Julião e se constituíram 
no símbolo da luta pela terra no Nordeste do 
país. 
▲
Figura 19: Virgínio 
Santa Rosa, líder do 
que ficou conhecido 
como “Movimento 
Tenentista”, na 
década de 1930.
Fonte: Blog Over Mundo. 
Disponível em: http://
www.overmundo.com.br/
overblog/um-engenheiro-
-que-construia-sonhos. 
Acesso em 10 de junho 
de 2011.
Figura 20: Leonol 
Brizola e Francisco 
Julião, em Recife. Foto 
de 1961.
Fonte: Jornal O Nordeste 
(2011).
►
53
Ciências Sociais - Sociologia Rural
Outro mediador político que disputou 
espaço com as Ligas e com o PCB foi a Igre-
ja Católica, através de seus setores mais ra-
dicais, que passou a denunciar as péssimas 
condições de vida de populações pobres do 
campo. Mas é importante colocar que, tal ati-
tude, foi baseada como uma reação ao que 
a Igreja considerava como a penetração de 
“ideologias estranhas” no campo e, portanto, 
passou a realizar essas denúncias e a apoiar o 
acesso à terra e a recomendar a formulação 
de políticas voltadas para a formação de uma 
classe média rural (MEDEIROS, 2003). Contra-
ditoriamente, defendia o direito instituído de 
propriedade, embora reconhecesse a necessi-
dade de uma reforma agrária que se realizas-
se por meio da desapropriação com justa in-
denização. Segundo Camargo (1985), foi com 
essa perspectiva que ela passou a disputar a 
direção política dos trabalhadores rurais, esti-
mulando a criação de sindicatos e a demanda 
por direitos trabalhistas e sociais.
De modo geral, então, através da me-
diação desses atores políticos e através de 
ações de resistência organizada, como mani-
festações de rua, greves etc., os movimentos 
camponeses, até o início dos anos 1960, ad-
quiriram grande força política. No entanto, 
o vigor assumido pela bandeira da “reforma 
agrária” deve ser colocado à frente do qua-
dro geral dos cenários políticos brasileiro e 
latino-americano, estimulados, após a Segun-
da Guerra Mundial e durante o processo de 
Guerra Fria e, mais ainda, diante de um con-
texto internacional de idealização da chama-
da “Era de Ouro” – como pode ser verificado 
na interpretação de Hobsbawm (1995) sobre 
a história do Século XX – à promoção de um 
desenvolvimento econômico através da in-
dustrialização. Assim, uma vez enquadrada 
uma agricultura baseada na grande proprie-
dade e de difícil incorporação de tecnologias, 
o que, logo, impedia, de forma significativa, 
um processo de desenvolvimento, seria ne-
cessário, segundo a Comissão Econômica 
para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a 
alteração desse quadro pela incorporação de 
modernização do setor, estimulando a produ-
ção destinada ao mercado interno, ao mesmo 
tempo em que se elevasse o padrão de vida 
das populações rurais, constituindo-as, tam-
bém, em um mercado consumidor para as in-
dústrias emergentes (MEDEIROS, 2002).
Pode ser verificado, pois, ao longo desse 
breve período de emergência do debate sobre 
a questão agrária brasileira, o contraste de pers-
pectivas e projetos diferenciados no que se re-
fere ao apontamento da necessidade de refor-
mas estruturais e na conversão a uma posição 
crítica em relação à concentração da proprieda-
de fundiária. Esse cenário pode ser interpretado 
como o início do que hoje é apontado por Mar-
tins (2004) como sendo, não uma luta por “re-
forma”, mas pela “forma” da reforma.
No bojo das principais forças mediado-
ras que disputavam a direção das lutas cam-
ponesas, o conceito de reforma agrária e o 
ato político, em si, eram concebidos como 
determinantes do desenvolvimento e, assim, 
de respaldo e consequência nacional. Em 
contraposição, o setor patronal, através, prin-
cipalmente, da Confederação Rural Brasileira 
(CRB) e da Sociedade Rural Brasileira (SRB), 
considerava a necessidade e importância da 
tecnicização da agricultura, bem como da 
melhoria da renda das atividades agrícolas, 
da assistência e da educação, como requisitos 
para a melhoria das condições de vida dos 
que trabalhavam no campo. Nesse contexto, 
como afirma Medeiros (2003, p. 21), “ninguém 
negava a necessidade de uma reforma agrá-
ria, mas não havia o menor consenso sobre o 
seu significado”.
A partir do Golpe Militar de 1964 e o fe-
chamento político do país, novas direções 
foram tomadas por esse debate e, de forma 
gradual, foi-se impondo um pensamento 
conservador quanto à demanda de questões 
relativas à estrutura fundiária brasileira (DEL-
GADO, 2005). O Estatuto da Terra, aprovado 
oito meses após o golpe, é entendido como 
um ato político de confusa interpretação, 
uma vez que – como reflexo de marcas im-
portantes deixadas, quer na cultura política 
do país quer nas instituições, pelas intensas 
mobilizações dos trabalhadores durante o 
período de antecedência ao golpe – absorvia 
grande parte das reivindicações que aflora-
ram na década anterior, ao mesmo tempo em 
que às disciplinava de forma a trazer a de-
manda por terra para os parâmetros de uma 
agricultura modernizada, produtiva e capaz 
de atender às exigências do que então era o 
padrão idealizado e desejado de desenvolvi-
mento (MEDEIROS, 2003). Segundo Medeiros 
(2003, p. 24), ainda,
Em suas ambigüidades, ele [o Estatuto da Terra] instaurou as bases para uma 
disputa que se estende até os dias de hoje sobre as condições de obtenção de 
terras para a reforma agrária, propriedades que podem ser desapropriadas e 
em que circunstâncias se constitui o direito à terra.
DICA
Acesse o sítio ele-
trônico da Comissão 
Pastoral da Terra para 
pesquisar alguns dados 
sobre as disputas por 
terra e água no Brasil, 
e busque informações 
sobre a atuação da CPT: 
http://www.cptnacio-
nal.org.br.
54
UAB/Unimontes - 8º Período
Foram criadas, portanto, condições ins-
titucionais para que se possibilitasse a desa-
propriação por interesse social como caminho 
para a eliminação dos conflitos no campo, po-
rém, no rearranjo de forças políticas que se se-
guiu ao golpe, essa possibilidade foi colocada 
de lado em benefício de um modelo fundado 
no sustento a uma modernização tecnológica 
das grandes propriedades, através de incenti-
vos fiscais e crédito farto e barato (DELGADO, 
2005). Tal modernização, da forma como pode 
ser verificada no processo produtivo da agri-
cultura brasileira nos anos de 1970, demons-
trou que a reforma agrária não era condição 
indispensável para o desenvolvimento eco-
nômico. Porém, ao longo das transformações 
consequentes desse processo de moderniza-
ção, houve uma larga redução da população 
rural em comparação à urbana e da expansão 
da fronteira agrícola, deteriorando as condi-
ções de trabalho no meio rural e intensifican-
do a demanda por terra. Importante destacar, 
aqui, que, enquadrado, o país, num cenário 
de repressão, ao contrário do que ocorreu nos 
anos de 1950 e início dos anos de 1960, essedebate e essas demandas não ganharam o es-
paço público, não podendo, os trabalhadores, 
contar com o apoio de forças políticas e de in-
telectuais, de forma mais ampla e aberta. 
Ao longo dos anos de 1970, o persona-
gem mais característico das lutas por terra foi 
o posseiro, caracterizado por Medeiros (2003, 
p. 26) como um personagem “acuado pelos 
grandes projetos que recebiam incentivos fis-
cais, sobretudo na Amazônia”.
A partir do sindicalismo rural, em várias 
dessas regiões, essa tradição de luta de resis-
tência produziu uma apropriação singular do 
Estatuto da Terra, centrando-se na demanda 
por desapropriação de áreas de conflito e con-
frontando-se com o projeto dominante para a 
agricultura, estimulador da concentração fun-
diária. Papel essencial, nesse processo, foi exe-
cutado pela Confederação Nacional dos Traba-
lhadores da Agricultura (CONTAG).
Poucos foram os resultados no sentido de 
articulação da desapropriação, porém, houve 
a possibilidade de se manter acesa a demanda 
por reforma agrária, o que se deu, na leitura de 
Medeiros (2003), com a entrada da Igreja e, em 
particular, com a criação da Comissão Pastoral 
da Terra (CPT) em 1975, fato que possibilitou 
um novo enredo político aos conflitos, atra-
vés de denúncias, organização de resistências 
e fornecimento de espaços e infra-estrutura à 
realização de reuniões, trazendo a demanda 
desses conflitos à esfera pública.
Entre o final da década de 1970 e o início 
da década de 1980, em consequência, entre 
outros, dos resultados do processo de moder-
nização, da quebra de relações sociais e de 
novos valores que passaram a ser dissemina-
dos pela Igreja, em geral, como proposta de 
mudança na postura sindical, deu-se o surgi-
mento de novos personagens de luta, como 
o Conselho Nacional dos Seringueiros, repre-
sentando os seringueiros, em especial do Acre, 
que resistiam à destruição dos seringais nati-
vos e à sua substituição por pastagens (GRZY-
BOWKSKY, 1987), o Movimento dos Atingidos 
por Barragens (MAB) e, dentre outros, o Mo-
vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 
(MST), no ano de 1984.
Outras reivindicações, também, emer-
giram pela constituição desses e de outros 
novos atores, o que demonstrava a complexi-
dade das relações que se constituíam no meio 
rural brasileiro e que dava à questão agrária 
novas dimensões, resultado do choque entre 
a herança daquilo que alimentava as lutas – o 
caso do acesso à terra, considerado como di-
reito – e as transformações sofridas pelo espa-
ço rural brasileiro, balizado por uma “moder-
nização conservadora” baseada na alteração 
tecnológica da base produtiva do país, porém, 
sem mudanças significativas nas estruturas so-
ciais e econômicas do mesmo, tais como, entre 
outras, a terra, a destinação de financiamentos 
e os atores privilegiados. 
Outro fator, capaz de ilustrar a transfor-
mação desse debate no bojo do contexto so-
cial brasileiro do início da Nova República, foi 
a elaboração do Plano Nacional de Reforma 
Agrária (PNRA) em 1985, demonstrando o res-
surgimento da questão fundiária na agenda 
política do desenvolvimento rural. A elabora-
ção do PNRA teve como participantes tanto os 
defensores da reforma agrária quanto os diri-
gentes e assessores sindicais vinculados à CON-
TAG, o que, para Medeiros (2003), indicava o 
compromisso desses atores com a alteração da 
estrutura fundiária e colocava a reforma agrária 
como uma das prioridades do novo governo.
Porém, em contraposição aos que se po-
sicionavam a favor da reforma agrária, foi re-
alizado, em Brasília, um congresso nacional 
para se discutir o plano apresentado pelo go-
verno, o que deu origem à União Democrática 
Ruralista (UDR), que passou a disputar espaço 
com algumas entidades de representação pa-
tronais pré-existentes, como a Confederação 
Nacional da Agricultura (CNA) e a Sociedade 
Rural Brasileira (SRB), e difundiu grande parte 
de suas teses em defesa do direito de proprie-
dade, através, inclusive, do uso da força, caso 
se fizesse necessário (MEDEIROS, 2003).
O resultado desse processo foi contradi-
tório e trouxe o tema da reforma agrária para 
55
Ciências Sociais - Sociologia Rural
o capítulo da “Ordem econômica e social” da 
Constituição de 1988 (MEDEIROS, 2003), asse-
gurando o dever da propriedade em atender 
sua função social (art. 5, XXIII), inclusive com 
a clara definição do que seria essa “função so-
cial”, inspirada no Estatuto da Terra. Todavia, 
Medeiros (2003, p. 40) ressalta que tal defini-
ção não foi capaz de impedir que a Constitui-
ção contivesse “um conjunto de mecanismos 
de bloqueio à possibilidade de uma reforma 
agrária, tal como defendida pelas organiza-
ções representativas dos trabalhadores do 
campo”, tornando inviável a desapropriação, 
para fins de reforma agrária, de pequenas e 
médias propriedades, bem como da proprie-
dade produtiva, até que se regulamentasse o 
tema por meio de uma legislação própria. 
Isso só ocorreu no ano de 1993, com a 
conhecida Lei Agrária (Lei 8.629, de 25 de fe-
vereiro de 1993), que manteve os critérios 
constitucionais para a definição da função so-
cial, estabeleceu a destinação preferencial à 
execução de reforma agrária das terras rurais 
de domínio da União, dos estados e dos mu-
nicípios, e estipulou o cálculo de módulos fis-
cais, firmando a passividade de possibilidade 
de desapropriação apenas de propriedades 
acima de 15 módulos fiscais (banindo o termo 
“latifúndio” por se considerar um conceito de 
politização). Porém, há de se destacar aqui o 
papel do judiciário com o seu poder de decidir 
despejos, arbitrar valores e desapropriações, 
haja vista que, além do texto da Lei Agrária, há 
a prática de cultura jurídica fundada na con-
cepção de propriedade presente no Código 
Civil, como um direito absoluto, admitida sua 
execução apenas por usucapião (FACHIN, 1993 
apud MEDEIROS, 2003).
4.2.1 Os rumos do debate atual
Nos anos de 1990, o debate das políticas 
de estabilização econômica e de combate à 
inflação fez com que o tema agrário parecesse 
ter perdido lugar no debate político. Porém, a 
situação de extrema violência policial em rela-
ção às ações de trabalhadores rurais, como é o 
caso do conhecido massacre de Eldorado dos 
Carajás, e a ativa retomada das ocupações de 
terra por parte do MST e de outras entidades de 
luta por terra, novamente trouxe à tona o tema 
da questão agrária. Logo, no início de 1996, foi 
criado o Ministério Extraordinário de Política 
Fundiária (MEPF), ao qual o Instituto Nacional 
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) pas-
sou a ser submetido, retirando o tratamento da 
questão agrária da alçada do Ministério da Agri-
cultura (espaço tradicionalmente controlado 
por empresários rurais) e subordinando-o dire-
tamente à Presidência da República. 
Em paralelo, houve uma intensificação, 
por parte do MST, das mobilizações e ocupa-
ções. A organização da Marcha Nacional por 
Reforma Agrária, Emprego e Justiça (MNRA-
EJ), partindo de diferentes regiões do país, foi 
ponto alto da iniciativa de se ampliar o cam-
po do debate e conquistar o apoio da opinião 
pública, fazendo com que fosse capitalizada a 
insatisfação por diversas partes do governo, 
pelo fato de se tratar, essa marcha, da primei-
ra manifestação popular contra o mesmo que, 
até então, gozava de unanimidade absoluta 
em razão do impacto econômico do Plano 
Real e da queda de inflação.
A partir dessa marcha, o MST se consti-
tuiu como o maior movimento de luta por re-
forma agrária do país. O MST é caracterizado 
por uma crescente capacidade de mobilização 
e de criar fatos políticos, que fizeram com que 
o governo criasse um gabinete ministerial vol-
tado para o tema, não apenas com o objetivo 
de se desviar a atenção da mídia para a atua-
ção desse movimento, mas, principalmente, 
para dar nova orientaçãoà reforma agrária, 
descentralizando-a através da atribuição de 
novas competências aos estados e municípios 
e buscando adequá-la à lógica de mercado 
(MEDEIROS, 2003).
Aliado a esse processo, entra, também, 
de forma visível na agenda política e social do 
país, bem como em seu quadro institucional, a 
importância da agricultura familiar como ele-
mento de estratégia de um desenvolvimento 
rural pensado para o mesmo, sobretudo, atra-
vés da expressão da sociedade civil “Grito da 
Terra”. Os principais efeitos, sobre as políticas 
públicas, observados no Brasil, são uma maior 
legitimidade ou reconhecimento social das 
políticas de assentamentos rurais ou reforma 
agrária, a destinação de recursos para ações 
de combate à pobreza e a criação de diferen-
ciadas linhas de financiamento ao setor agro-
pecuário, direcionadas à agricultura familiar, 
como o Programa Nacional de Fortalecimento 
da Agricultura Familiar (PRONAF).
Tais iniciativas, por parte do Estado, inau-
guradas de forma oficial com a criação de 
um gabinete ministerial voltado para o tema 
agrário, são repercussões da nova orientação 
à reforma agrária. A somatória de uma série 
de ações, configuradas em medidas provisó-
rias, decretos, leis complementares, portarias 
etc., modificou, de forma significativa, o modo 
PARA SABER MAIS
O Movimento dos 
Trabalhadores Rurais 
Sem Terra, também 
conhecido pela sigla 
MST, teve origem na 
década de 1980. O MST 
é um movimento social 
brasileiro de inspiração 
marxista e do cristianis-
mo progressista (teolo-
gia da libertação), cujo 
objetivo é a realização 
da reforma agrária no 
Brasil. Defendem eles 
que a expansão da 
fronteira agrícola, os 
megaprojetos - dos 
quais as barragens são 
o exemplo típico - e a 
mecanização da agri-
cultura contribuíram 
para eliminar as peque-
nas e médias unidades 
de produção agrícola e 
concentrar a proprieda-
de da terra.
56
UAB/Unimontes - 8º Período
pelo qual o Poder Executivo poderia agir sobre 
os conflitos, gerando, se é que se pode dizer, 
uma nova institucionalidade que, para Medei-
ros (2003), inseriu-se em aspectos mais amplos 
que a questão agrária em si, uma vez que esta 
se direcionava por parâmetros de uma refor-
ma do Estado que já estava em curso, através 
da descentralização de ações, do enxugamen-
to da máquina administrativa e da privatiza-
ção que, juntas, conseguiram agilizar ações 
fundiárias governamentais e, também, procu-
raram inibir as ações de iniciativa política dos 
movimentos de luta por terra.
Essas iniciativas governamentais se con-
solidaram com a implementação do progra-
ma conhecido como “Novo Mundo Rural” ou, 
ainda, “Agricultura familiar, reforma agrária e 
desenvolvimento local para um novo mundo 
rural. Política de desenvolvimento rural com 
base na expansão da agricultura familiar e sua 
inserção no mercado” (MEDEIROS, 2003, p. 56), 
que tinha como meta o tratamento do assen-
tado como um “agricultor familiar” e lhe atri-
buir tarefas junto a parcerias com os governos 
estaduais e municipais, tendo em vista as rela-
ções custo-benefício, infra-estrutura, deman-
da de crédito, assistência técnica etc. Diversas 
tarefas que, antes, eram de função do INCRA, 
passaram para a responsabilidade dos assen-
tados, que teriam direito a recurso a fundo 
perdido para tanto (MEDEIROS, 2003). Isso sig-
nificaria que o assentado ou, agora, “agricultor 
familiar” teria que pagar pela terra recebida e 
passaria a ser visto como um “empreendedor”, 
que deveria se ajustar ao mundo dos negócios 
e nele se mostrar competitivo, caracterizando 
a reforma agrária com atribuições meramente 
produtivistas.
Entra em cena a demanda por uma “re-
forma agrária de mercado”, outro aspecto das 
ações do Poder Executivo que visava reto-
mar a iniciativa política em relação à questão 
agrária e, ao mesmo tempo, mudar o próprio 
perfil do que, tradicionalmente, havia sido a 
intervenção federal sobre o tema. Recorrer 
ao mercado para obtenção de terras foi uma 
prática utilizada por alguns governos, na Nova 
República, para garantir o assentamento de al-
gumas famílias e reduzir conflitos emergentes 
(MEDEIROS, 2003). Porém, isso não se tratava 
de um programa efetivo de acesso à terra, mas 
apenas uma medida limitada, por conta de 
seu custo.
No governo Fernando Henrique Cardo-
so (1995-2002), foi implementado um progra-
ma de acesso à terra pela compra, dentro dos 
Figura 21: “Grito da 
Terra”, organizado 
pela CONTAG em 
2011, em frente ao 
Congresso Nacional 
em Brasília/DF.
Fonte: Blog do Neto. Dis-
ponível em: http://www.
oradarsindical.com.br.
▼
57
Ciências Sociais - Sociologia Rural
moldes do que o Banco Mundial titulava por 
“reformas agrárias conduzidas pelo mercado”, 
apresentado como uma política de combate à 
pobreza rural.
Em princípio, esse programa não gerou 
maiores debates. O Banco da Terra, criado 
pela Lei Complementar 93, de 4 de fevereiro 
de 1998, e regulado em 2000, foi consequên-
cia de uma série de negociações iniciadas an-
tes mesmo de a experiência dessa reforma ser 
avaliada, com o objetivo de sua extensão. No 
geral, o programa foi apoiado por um núme-
ro significativo de organismos representantes 
dos grandes proprietários de terra, levando 
o Banco da Terra a ser considerado pela CNA 
como o primeiro passo no rumo ao acesso de-
mocrático da terra (MEDEIROS, 2003).
Porém, reações contrárias à proposta de 
uma reforma agrária de mercado também fo-
ram diversificadas. O Grito da Terra de 1999, 
organizado e promovido pela CONTAG, pre-
gava o lema “Contra a privatização da reforma 
agrária” e retirou a demanda da luta pelo fim 
tanto do Programa Cédula da Terra quanto do 
Banco da Terra, realizando, também, críticas ao 
programa “Novo Mundo Rural”. Outro opositor 
ao Banco da Terra foi a CPT que reafirmava a 
sua perspectiva teológica de que a terra é um 
dom de Deus e não apenas um lugar de pro-
dução ou uma mercadoria, sendo, segundo 
essa visão, necessárias e legítimas as ocupa-
ções e as desapropriações como caminho a ser 
utilizado para obtenção de terras. Dessa for-
ma, MST, CONTAG e CPT se organizaram, por 
intermédio do Fórum Nacional Pela Reforma 
Agrária e Justiça no Campo, e sintetizaram dis-
tintas críticas ao novo programa.
De acordo com Medeiros (2003), pode-se 
observar, ao longo dos oito anos do governo 
de Fernando Henrique Cardoso, o despontar 
de algumas tendências, como:
1. O aumento da pressão dos movimentos 
sociais envolvidos na luta por terra;
2. A emergência de atores importantes, 
como os agricultores familiares, que se 
tornaram uma categoria consagrada pelo 
Estado, por meio de programas especiais, 
iniciados com a criação do PRONAF;
3. As iniciativas governamentais, inicial-
mente pontuais, adquirindo o formato 
de programas definidos que produziram 
alternativas significativas na instituciona-
lidade da questão agrária;
4. A introdução de mecanismos de mercado 
para obtenção de terras, atraindo o apoio 
de uma parcela das organizações de tra-
balhadores, mostrando a complexidade 
da representação política no meio rural 
brasileiro;
5. A separação da questão agrária da ques-
tão agrícola no plano da institucionalida-
de, passando o Ministério da Agricultura 
a tratar, exclusivamente, da produção em-
presarial, enquanto o Ministério do De-
senvolvimento Agrário (MDA) voltou-se 
para agricultores familiares e assentados.
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SPAROVEK, Gerd. A qualidade dos assentamentos da reforma agrária brasileira. São Paulo: 
Páginas & Letras Editora e Gráfica, 2003.
59
Ciências Sociais - Sociologia Rural
Resumo
Na Unidade I, nós fizemos:
•	 Uma introdução sumária da disciplina Sociologia Rural, apresentando-a com um formato ana-
lítico próprio e distinto de outros, todavia, aberto à compreensão de conceitos e técnicas ana-
líticas de outras áreas do conhecimento;
•	 Visitamos alguns dos conceitos e temas centrais aos quais se dedicam aqueles que se aventu-
ram à prática sociológica do que aqui chamamos “mundo rural”.
Na Unidade II, foi analisado:
•	 O processo sobre o qual se constituiu a sociedade rural brasileira – análise esta realizada a par-
tir de uma leitura sociológica clássica do pensamento social brasileiro, a saber, principalmente: 
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior;
•	 A forma como se constituiu e se desenvolveu a propriedade rural no Brasil, bem como o seu 
uso e suas atribuições no sistema jurídico e conceitual;
•	 E fizemos uma revisão do processo histórico político e agrário brasileiro, dividido, por um lado, 
entre aquilo que constituiu o desenvolvimento agrário brasileiro e, por outro lado, entre aqui-
lo que se constituiu na chamada “brecha camponesa”, dando margem a um desenvolvimento 
agrário e agrícola distinto e antagonista.
Na Unidade III, discutimos:
•	 Desenvolvimento consiste na eliminação de privações que limitam as pessoas de fazerem es-
colhas e criarem a oportunidade de exercer sua condição de agente, ou seja, desenvolvimento 
pode ser visto como um meio de expansão das liberdades;
•	 A agricultura possui especificidades em relação a outros setores da economia, existindo a sa-
zonalidade, fatores climáticos e ambientais e os ciclos biológicos das plantas e animais que in-
terferem no aspecto produtivo;
•	 Os principais instrumentos econômicos de interferência na agricultura são: política monetária, 
política fiscal, política cambial e comercial;
•	 Os instrumentos de política setorial do Estado são: política de preços, política de comercializa-
ção, política de preços de insumos agrícolas, política de crédito e política de comércio exterior;
•	 A partir de meados do século XX, ocorreram transformações no mundo rural, que envolveram 
interesses nacionais e internacionais, disputas e alianças entre burguesia urbana e oligarquias 
rurais;
•	 A transformação na base técnica da agricultura e constituição do CAI são processos distintos. 
O primeiro representa transformações nos meios de produção da agricultura, fatores impulsio-
nados pela “revolução verde”. O segundo, caracterizado, principalmente, pela implantação, no 
Brasil, de um setor industrial responsável pela fabricação de bens de produção para a agricul-
tura, constituído no final dos anos de 1960; 
•	 O Brasil aderiu aos pacotes tecnológicos da Revolução Verde, impulsionados, principalmen-
te, por subsídios de créditos agrícolas do Estado, que procurava estimular a grande produção 
agrícola, nas esferas agroindustriais: empresas de maquinários, de insumos industriais para 
uso agrícola, tratores, herbicidas e fertilizantes químicos;
•	 Agribusiness é um conceito que incorpora todas as operações de produção e distribuição de 
suprimentos agrícolas, incluindo o armazenamento, o processamento e a distribuição dos pro-
dutos agrícolas e itens produzidos a partir deles.
E, na Unidade IV investigamos:
•	 A questão agrária brasileira: processo constitutivo e demandas ao longo da história política e 
social do país;
•	 As lutas por reforma agrária, bem como os sujeitos sociais em torno dessa questão;
•	 E os rumos do debate atual dessa questão, vistas novas possibilidades, consonantes ou não às 
práticas políticas e econômicas correntes.
61
Ciências Sociais - Sociologia Rural
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63
Ciências Sociais - Sociologia Rural
Atividades de 
Aprendizagem-AA
1) Apresente, de modo resumido, como a Sociologia Rural pode desempenhar o seu papel analí-
tico, a partir da concordância com outras áreas do conhecimento.
2) A formação da sociedade agrária, a partir dos estudos clássicos do pensamento social brasi-
leiro – principalmente a partir de Gilberto Freyre – tem o seu alicerce no hibridismo social, con-
densando uma raiz européia (ou branca), uma raiz africana (ou negra) e uma raiz ameríndia (ou 
simplesmente indígena). Todavia, também se faz a partir de um tripé econômico: latifundiário, 
monocultor e escravista. A partir do que estudamos nesta disciplina, sobretudo na Unidade II, 
comente como se dá essa formação social agrária no Brasil.
3) Comente o processo de consolidação da “propriedade” e, mais tarde – no Brasil – da “proprie-
dade da terra”, a partir daquilo que estudamos na Unidade II.
4) O que representou a Lei de Terras de 1850 para a consolidação do uso, da posse e da proprie-
dade rural no Brasil?
5) Comente o processo de “grilagem de terras”, ainda comum no Brasil.
6) Defina o significado do termo “ agronegócio”.
7) O que foi a “Revolução Verde” na agricultura?
8) O que foi a “Modernização Conservadora” no mundo rural brasileiro?
9) Qual o significado da pluriatividade na agricultura?
10) Defina a Questão Agrária brasileira.
	Apresentação
	UNIDADE 1
	Sociologia Rural
	1.1 Introdução
	1.2 Conceitos
	1.3 Relações com outras áreas do conhecimento
	Referências
	UNIDADE 2
	A formação da sociedade rural brasileira
	2.1 Introdução
	2.2 Raízes agrárias da formação social brasileira
	2.3 A estrutura agrária do Brasil e história da propriedade da terra
	2.4 O campesinato brasileiro
	Referências
	UNIDADE 3
	Desenvolvimento rural e modernização agrícola
	3.1 O que é desenvolvimento?
	3.2 Desenvolvimento no ambiente rural 
	 3.3 Papel do Estado 
	3.4 Da grande lavoura à modernização conservadora da agricultura
	3.5 Da monocultura agro-exportadora ao agronegócio 
	3.6 A revolução verde
	3.7 Industrialização e formação dos complexos agroindustriais 
	3.8 Transformações recentes do espaço rural
	3.9 Vejamos agora alguns dos novos mitos do rural brasileiro:
	3.10 Apontamentos finais 
	Referências
	UNIDADE 4
	Conflitos agrários e conflitos ambientais
	4.1 Introdução
	4.2 A reforma agrária e a demanda por terra no Brasil
	Referências
	Resumo
	Referências 
	Atividades de Aprendizagem-AA

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