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Brasília-DF. PrincíPios Fundamentais de energia, Planejamento e Processos de gestão energética Baseada na iso 50.001:2011 Elaboração Luiz Carlos Fonte Nova de Assumpção Silvia Barreira Zambuzi Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL.......................................................................... 11 CAPÍTULO 1 FONTES RENOVÁVEIS .............................................................................................................. 12 CAPÍTULO 2 FONTES NÃO RENOVÁVEIS ..................................................................................................... 17 CAPÍTULO 3 COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS ................................................................. 21 UNIDADE II MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES ..................................................................... 26 CAPÍTULO 1 PRIMEIRAS FONTES DE ENERGIA E AS ENERGIAS DO FUTURO .................................................. 29 CAPÍTULO 2 MATRIZ ENERGÉTICA E A INFLUÊNCIA DA LOCALIZAÇÃO ......................................................... 41 CAPÍTULO 3 RESERVAS, PRODUÇÃO E CONSUMO ..................................................................................... 51 CAPÍTULO 4 SITUAÇÃO NO BRASIL ............................................................................................................. 56 UNIDADE III CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO ............................................................... 62 CAPÍTULO 1 AS NORMAS ABNT NBR ISO 9001, ABNT NBR ISO 14001 E BS 8800 (OHSAS 18001) E SUAS INTERFACES ........................................................................................................................... 68 UNIDADE IV ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO ............................................................................................................................................ 98 CAPÍTULO 1 ABNT NBR ISO 50001– REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO ....................................... 100 CAPÍTULO 2 OUTRAS RESOLUÇÕES QUE VISAM A ECONOM IA DE ENERGIA ............................................. 121 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 132 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 134 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução O mundo moderno não funciona sem energia! Parece uma afirmação muito forte, que mostra a dependência de nossa espécie em algo que não se consegue controlar totalmente e que, por outro lado, nos prejudica demasiadamente. Porém, a verdade é que a energia é um dos elementos fundamentais para o funcionamento do mundo atual; basta observar nosso dia a dia. Nosso sistema de informações é baseado totalmente em uso de energia elétrica, nossa casa está totalmente conectada à rede elétrica (e à internet). Não conseguimos ficar sem nossos smartphones por muito tempo! Nossa dependência pela energia elétrica é grande e não há perspectivas de volata no tempo, de não se usar energia para nossos fins. Aí mora um grande problema: as fontes energéticas! Existem formas diversas de se conseguir energia, algumas delas são mais prejudiciais ao meio ambiente, outras mais sustentáveis. Os impactos ambientais mais notados, discutidos e preocupantes são as mudanças climáticas globais, este fenômeno que já está em curso e que pode mudar completamente o rumo de nossas vidas. Tudo devido, grande parte, à produção de energia. Fontes não renováveis, como carvão e petróleo, ao serem queimados para a geração de vapor para acionar turbinas, emitem gás carbônico, conhecido gás de efeito estufa, que segura calor na atmosfera, aquecendo-a e trazendo mudanças no clima geral. Entender o processo de cada uma das fontes energéticas é o primeiro passo para escolher qual tipo de matriz a ser adotada. Temos que tomar como base sua disponibilidade, tendo em vista a demanda da sociedade atual e da sociedade futura, sem deixar de lado a questão dos impactos ambientais (e/ou sociais) causados por cada uma. Porém, vale o registro que não existe uma fonte ideal, todas possuem algum tipo de impacto ao meio ambiente, desde a hidrelétrica, que submerge milhares de quilômetrosde áreas geralmente florestadas à energia nuclear, que apesar de ocupar uma área superficial pequena, tem em seus resíduos, as substâncias menos desejadas de se estocar, pois os decaimentos radioativos de suas células de combustível podem levar alguns milhares de anos. Dessa forma, normas e leis específicas voltadas ao planejamento energético surgem para contribuir com a mitigação dos impactos causados pela geração de energia, bem como fomentar a melhoria do desemprenho energético em indústrias e empresas. A ISO 50.001/2011 surgiu, em um primeiro momento, com o foco na indústria e seu desempenho energético, mas, posteriormente, ela extrapolou o universo industrial, fazendo com que a norma possa ser aplicada em todas as empresas independentemente 9 do tamanho ou da atividade. Essa norma surge para permitir que as organizações estabeleçam os sistemas e processos necessários para melhorar de forma contínua o seu desempenho energético. Objetivos » Promover o conhecimento das principais fontes da matriz energética mundial, sendo elas obtidas de fontes renováveis ou não renováveis, e a relação entre matriz energética, tempo e localização. » Analisar as reservas, os produtos e os consumos do Brasil e do mundo. » Compreender os conceitos básicos relacionados aos Sistemas de Gestão, com foco na Gestão Energética. » Compreender a Resolução ABNT NBR ISO 50001 para Sistemas de Gestão da Energia. 11 UNIDADE I PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL Matrizes energéticas são as diferentes fontes de energia disponíveis para o desenvolvimento das atividades sociais. Seja na indústria, na produção de energia elétrica ou nos transportes, é necessário ter uma fonte de energia que possibilite o funcionamento das máquinas e a realização dos trabalhos. Sendo uma das grandes preocupações da humanidade, as discussões sobre as matrizes energéticas ocupam grande espaço na mídia e nos centros de pesquisas tecnológicas, no qual o grande desafio consiste em descobrir fontes de energia renováveis, baratas e “limpas”. Todos os países calculam periodicamente quantos recursos possuem de energia, quanto gastam e em quais usos. Esse conjunto é a matriz de energia e, no Brasil, ele é acompanhado e consolidado num relatório anual do Ministério de Minas e Energia, chamado de Balanço Energético Nacional. Para ser eficiente, o balanço é um estudo detalhado que registra os recursos de energia primários (petróleo, xisto, carvão mineral, lenha, cana-de-açúcar, mamona, urânio e água), os secundários (óleos cru e diesel, gasolina, bagaço de cana, álcool, biodiesel, carvão vegetal e eletricidade), as formas de uso (mecânica, nuclear etc.) e os setores de consumo, como transporte, indústria, comércio e residências. Manter a oferta de energia em crescimento na matriz e mudá-la, quando preciso, é um desafio permanente de cada nação. Além de ser necessário dispor de cada recurso, é preciso disponibilizá-lo de acordo com sua forma preferencial de uso e fazê-lo chegar aos locais de consumo a um preço viável. O gás natural, por exemplo, é mais eficiente do que a eletricidade para gerar calor e aquecer a água do banho em países de inverno rigoroso, mas é necessário canalizá-lo até os imóveis. Principais matrizes energéticas » As matrizes energéticas são classificadas em: renováveis e não renováveis. À parte, aparece a energia nuclear, que ainda gera um grande debate na comunidade científica quanto à sua classificação. 12 CAPÍTULO 1 Fontes renováveis Definição: “É aquela originária de fontes naturais que possuem a capacidade de regeneração (renovação), ou seja, não se esgotam.” (CARROCCI, 2011). As fontes de energia renováveis são aquelas que podem ser aproveitadas ao longo do tempo sem a possibilidade de esgotamento dessa mesma fonte. São provenientes de ciclos naturais que se regeneram de uma forma cíclica em uma escala de tempo reduzida (PACHECO, 2006). É importante diversificar as fontes renováveis de energia. Quando há uma dependência de uma única fonte, como a hidrelétrica no Brasil, você fica sujeito a secas e outros problemas que podem surgir. Por isso, a importância de ter diversas fontes para, quando uma não estiver plena, a outra poder compensá-la sem afetar a população, nem o planeta. (Duncan, R., Maio de 2013, Web site UOL). Existem vários tipos de energia renováveis e, cada vez mais, o desenvolvimento de tecnologias e inovações favorecem as novas formas de produção de energia que tem, como fonte, os fenômenos e recursos naturais. Essas novas fontes de energia surgem como alternativa para contribuir com a diminuição do aquecimento da Terra e, principalmente, para tentar alcançar cada vez mais uma independência em relação ao petróleo. O Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado com 44,1% de sua produção proveniente de fontes como recursos hídricos, biomassa e etanol, além das energias eólica e solar. As usinas hidrelétricas são responsáveis pela geração de mais de 88% da eletricidade do país. Vale lembrar que a matriz energética mundial é composta por 13,5% de fontes renováveis, no caso de países industrializados, caindo para 6% entre as nações em desenvolvimento. Entre as fontes renováveis de energia, estão: » Energia eólica – é a energia produzida pelo vento; funciona mediante o processo de transformação da energia cinética das massas de ar em energia mecânica ou elétrica. Apesar de ser uma energia limpa, ela 13 PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL │ UNIDADE I apresenta certas limitações, sendo possível somente em regiões em que venta boa parte do ano. Além disso, tem um custo relativamente alto, quando comparada a outras fontes de energia. Os países que mais utilizam esta fonte são: Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Índia. » Energia solar – sem causar danos ao ambiente, a energia solar pode ser convertida diretamente em energia elétrica por meio de painéis solares e células fotovoltaicas. Os custos para a construção destes painéis e o baixo rendimento fazem com que esta fonte, embora promissora, seja pouco utilizada no cenário atual. » Energia hídrica – consiste na produção de energia por meio do movimento da massa de água de rios ou lagos; é usada, sobretudo, na produção de energia em hidrelétricas, as quais, no Brasil, abastecem 88,8% do consumo de eletricidade. Um aspecto negativo desta fonte é o impacto ambiental e/ou social, já que necessita de mudanças nos cursos dos rios para o correto aproveitamento do potencial hidráulico. Com isso, áreas de mata nativa acabam sendo impactadas e famílias que viviam há anos num mesmo local são remanejadas para outros locais, que muitas vezes não atendem às suas necessidades de vida. » Biomassa – pode-se chamar de biomassa a energia renovável proveniente de qualquer material orgânico. Restos de madeira, de cana de açúcar, óleo vegetal, biocombustíveis, estrume do gado, resíduos florestas, lixo urbano são exemplos de biomassa. A biomassa é uma energia limpa, podendo ser utilizada na geração de energia elétrica por meio do bagaço da cana. O etanol e o biodiesel são biocombustíveis que apresentam, respectivamente, muitas vantagens em relação à gasolina e ao diesel comum. Uma delas é a redução de gases poluentes lançados à atmosfera. » Biodiesel – combustível biodegradável derivado de reações químicas de óleos vegetais ou de gorduras animais com o etanol, tornando-se menos poluente que os óleos de origem não renováveis (como o petróleo). Há dezenas de espécies vegetais no Brasil das quais se podem produzir o biodiesel, tais como mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja, dentre outras. » Maremotriz – o fenômeno das marés, resultado das forças gravitacionais exercidas pelo Sol e pelaLua, possui um ciclo previsível de maré alta e baixa (SILVA, 2012). Condições específicas de determinadas regiões litorâneas, 14 UNIDADE I │ PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL como a forma da costa, seu leito marinho, bem como a existência de baías e estuários podem provocar grandes variações de nível entre as marés, além de elevadas correntes, que podem ser aproveitadas para a geração de energia elétrica (TAVARES, 2005). Entretanto é uma tecnologia que exige uma grande e cara estrutura, além de condições específicas que no Brasil não são viáveis em termos de eficiência energética. » Geotérmica – é o aproveitamento do calor da terra presente nos fluídos existentes em grande profundidade, especialmente em bacias sedimentares ou áreas de rochas cristalinas, para geração de energia e calor. Assim como a energia solar, pode ser utilizada para aquecimento de casas, piscinas etc. Atualmente, há o desenvolvimento de tecnologias que aproveitam a energia geotérmica contida nos aquíferos — hidrogeologia energética— ou em formações geológicas superficiais (MARTINS CARVALHO; CARVALHO, 2004). O que temos observado, ao longo dos últimos anos, é um investimento cada vez maior da participação das fontes renováveis de energia na matriz energética dos países. Entretanto, se olharmos a produção mundial de energia, sua contribuição é ainda muita reduzida. Os países industrializados, maiores consumidores de energia, possuem na base da sua matriz energética fontes não renováveis. Esses recursos são finitos e, em longo prazo, a tendência é que os custos de produção aumentem. Sendo assim, fontes alternativas às fontes tradicionais ou novos métodos de produção são mais do que necessários para o atendimento da demanda crescente por energia. No Brasil, por exemplo, a presença de fontes renováveis na matriz energética é significativa, principalmente a energia hidroelétrica e a energia obtida a partir de biomassa. O Governo brasileiro tem buscado ampliar essa participação, por meio de negociações internacionais com o intuito de reduzir os impactos futuros ao meio ambiente. O desenvolvimento de novas fontes renováveis não se limita ao atendimento a compromissos ou obrigações ambientais, também visa ao desenvolvimento de tecnologias no país, reduzindo, assim, uma possível dependência de tecnologias de ponta para a produção de energia. Além disso, as novas fontes renováveis têm sido utilizadas como forma de reduzir as diferenças regionais no que diz respeito ao acesso à energia. Apesar de seus elevados custos, se comparados com os das fontes tradicionais, as novas fontes renováveis podem se tornar competitivas em comunidades isoladas. As novas fontes renováveis de energia – biomassa, eólica, solar, de marés, pequenas centrais hidroelétricas (PCHs) – têm se constituído em alternativas às fontes tradicionais. 15 PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL │ UNIDADE I Além de serem classificadas como opções ambientalmente corretas, permitem – em vários casos– a geração distribuída de energia. Assim, as geradoras que utilizam essas fontes alternativas costumam se localizar próximas aos centros de consumo, para atender às demandas de localidades isoladas. A história mostra que há sempre uma energia de referência ou dominante que orienta as trajetórias do setor energético, podendo ter reflexos significativos na economia como um todo. Qualquer perturbação no mercado da energia dominante impacta os mercados de outras fontes de energia, o que poderia ser traduzido, à primeira vista, como um elevado grau de substituição entre elas. No entanto, se o peso relativo da energia dominante é muito grande, uma pequena perturbação pode afetar consideravelmente o preço de outras fontes de energia. A posição de dominante tem sido ocupada por diferentes fontes de energia ao longo do tempo. Na verdade, o desenvolvimento tecnológico e as mudanças estruturais da economia fazem com que as energias dominantes passem por um ciclo. No período pré-industrial, a biomassa, notadamente a lenha e o carvão vegetal, eram praticamente as únicas fontes utilizadas pela humanidade. Com a revolução industrial, o carvão mineral passou a exercer papel preponderante na economia. Mais tarde, no final do século XIX, os derivados de petróleo começaram a substituir o carvão mineral. O petróleo se tornou a fonte de energia dominante no século passado, principalmente com o “boom” da indústria automobilística, que passa a exercer uma função central no desenvolvimento e na modernização das economias. Em um contexto de consumo acelerado e de oferta limitada de recursos, as perspectivas, no início da década de 1970, eram de declínio acentuado das reservas mundiais de petróleo, o que acabou por provocar duas grandes crises de fornecimento de petróleo nessa década. Em 1973, o preço do petróleo salta de US$ 3 para US$ 12 por barril e, em 1979, atingiu US$ 32 (em valores correntes da época). Os países adotaram estratégias diferenciadas para superar as crises. As principais medidas podem ser assim resumidas: » Substituição do petróleo por outras fontes, notadamente a energia nuclear nos países industrializados e, no caso do Brasil, a energia hidráulica e o álcool. » “Desmaterialização” das economias, de forma a reduzir o seu conteúdo material (e energético), o que fez com que o setor de serviços assumisse a posição de vetor de crescimento nas economias mais adiantadas. » Mudança de hábitos e comportamento dos consumidores. 16 UNIDADE I │ PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL » Transferência de indústrias intensivas em energia para regiões com abundância de fontes energéticas, sobretudo em economias menos desenvolvidas. » Progresso técnico do lado da demanda, com a melhoria da eficiência energética dos equipamentos e aparelhos. » Inovação tecnológica do lado da oferta de energia, o que permitiu, no caso do petróleo, por exemplo, aumentar as reservas, com a possibilidade de exploração e produção em mar (offshore) e em águas profundas. As inovações no setor de petróleo têm tido grande influência no sentido de alongar a permanência de sua posição dominante no mercado, mas isso não quer dizer que ele continuará a ocupar essa posição eternamente. Especialistas da Aspo (Association for the Study of Peak Oil and Gas) alertam que as descobertas vêm declinando há bastante tempo. A última grande descoberta no Oriente Médio ocorreu nos anos de 1970. Grandes empresas vêm revisando as estimativas de suas reservas e há um grande questionamento sobre a contabilização das reservas na Arábia Saudita. Urge, portanto, a necessidade de se encontrar, em médio e longo prazo, um substituto (ou alguns substitutos) para a energia dominante atual. A substituição do petróleo por outro energético não é algo tão simples, dado que o petróleo é uma fonte bastante flexível, com conteúdo energético elevado, podendo ser transportado sem dificuldades e produzir combustíveis diversos para múltiplas aplicações. As energias renováveis nem sempre oferecem essas facilidades, de modo que não conseguirão substituir o petróleo em sua plenitude no atual estágio do desenvolvimento tecnológico. Mas, se o petróleo pode ser substituído paulatinamente por diversas fontes renováveis, isso deve ser interpretado como uma vantagem, pois minimiza os riscos de abastecimento e os impactos perversos de choques de oferta da energia dominante sobre a economia como um todo. 17 CAPÍTULO 2 Fontes não renováveis Definição: “As fontes de energia não renováveis são aquelas que se encontram na natureza em quantidades limitadas e se extinguem com a sua utilização. Uma vez esgotadas, as reservas não podem ser regeneradas.” (WEB SITE AGENEAL, 2013). No mundo atual, o crescimento econômico é intensivo em energia. Desde o adventoda Revolução Industrial até a década de 1970, os combustíveis fósseis dominaram a matriz energética mundial, descontada a participação marginal das hidroelétricas e da energia nuclear. De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE), essas fontes respondem por 87% de toda a energia usada no mundo (MESQUITA, 2015). Isso ocorre principalmente devido à grande eficiência energética dessas fontes não renováveis. A principal fonte de energia e a mais utilizada no mundo é o petróleo. Além de não ser renovável, é considerado um dos principais responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera e um motivador de conflitos entre países em todo o mundo, especialmente entre os que possuem estoques do recurso – como o Oriente Médio e a Venezuela – e os países que dependem muito dessa fonte – como os Estados Unidos (PORTAL ENERGIA, 2015). Mundialmente, as discussões sobre as questões energéticas, aprofundadas pela escassez cada vez maior de petróleo, além das mudanças climáticas – que são atribuídas por muitos pela queima de combustíveis fósseis – tem enfatizado o desenvolvimento técnico e econômico das fontes renováveis de energia. Esta enorme dependência de fontes não renováveis de energia tem acarretado, além da preocupação permanente com o esgotamento destas fontes, a emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que em 1996 foi da ordem de 23 bilhões de toneladas (...), aproximadamente o dobro da quantidade emitida em 1965 (a taxa média de crescimento desta emissão verificada na década de 1990 foi de 0,5% ao ano). Como consequência, o teor de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado progressivamente (...), levando muitos especialistas a acreditarem que o aumento da temperatura média da biosfera terrestre, que vem sendo observado há algumas décadas, seja devido a um “Efeito Estufa” provocado por este acréscimo de CO2 e de outros 18 UNIDADE I │ PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL gases na atmosfera (...).” (SILVA, E. P. et al. Recursos energéticos, meio ambiente e desenvolvimento. Web site MultiCiência – Unicamp) No mundo atual, o crescimento econômico é intensivo em energia. Desde o advento da Revolução Industrial até a década de 70, os combustíveis fósseis dominaram a matriz energética mundial, descontada a participação marginal das hidroelétricas e da energia nuclear. Panorama internacional Ainda hoje, mesmo com todos os esforços de mitigação do peso dos recursos energéticos não renováveis no consumo global, os três principais combustíveis (petróleo, gás e carvão) são responsáveis por 80% da demanda mundial de energia. Além disso, há grande concentração geográfica desses recursos (especialmente as reservas de petróleo), geralmente em regiões distantes dos maiores consumidores. Assim, é possível dizer que assegurar um suprimento seguro de energia a preços estáveis e moderados tem sido uma das prioridades da agenda internacional. O Brasil e os recursos energéticos não renováveis A matriz energética brasileira é composta por 55,9% de fontes não renováveis, o percentual mais baixo entre as grandes economias mundiais. O país é, desde 2006, autossuficiente no que tange à produção de petróleo. O Brasil possui uma das maiores empresas do mundo no setor e líder mundial em tecnologia de extração “offshore” em águas profundas. Em período recente, a atuação da Petrobras resultou em uma das maiores descobertas de reservas, a camada Pré-Sal. No plano bilateral, o Brasil tem mantido relevante diálogo sobre o tema de energia com Argentina, China, EUA e União Europeia. O país acompanha, ainda que não seja membro, as atividades da Agência Internacional de Energia (AIE) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) à luz de sua importância no cenário mundial. Além disso, participa das discussões do Fórum Internacional de Energia (FIE). No contexto regional, cabe destacar a importância da integração energética na América do Sul. O país tem atuação expressiva em organismos como a Organização Latino-Americana e Caribenha de Energia (OLACDE), a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), em seu Subgrupo de Trabalho com enfoque em energia (SGT-9). Os objetivos são a integração energética para o aproveitamento integral e sustentável dos recursos da região e o desenvolvimento de uma infraestrutura para a interconexão regional 19 PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL │ UNIDADE I de acordo com os três pilares de desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental. No que concerne aos organismos internacionais, o Brasil tem presença em variados foros, bem como nas cúpulas BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), América do Sul-África (ASA), Índia-Brasil-África do Sul (IBAS), América Latina e Caribe (CALC) e Brasil-Caribe (CARICOM). Petróleo O petróleo ganha força como matriz energética mundial no século XIX, quando substitui o carvão mineral, por sua capacidade de iluminação (querosene em lampiões). As quatro fases econômicas da atividade petrolífera são: extração, transporte, refino e distribuição. As refinarias de petróleo sempre se localizam próximo aos grandes centros industriais, que são os maiores consumidores de derivados de petróleo, com o objetivo de reduzir os gastos com o transporte. Vale lembrar que depois de refinado, o petróleo aumenta de volume, exigindo maior capacidade de transporte e, consequentemente, maiores recursos. A criação de empresas estatais de petróleo, a partir dos anos 1930, consistiu em estratégia de enfrentamento ao cartel das “sete irmãs”, associação de empresas petrolíferas que visava controlar o setor. Com isso, os países buscavam garantir a autonomia nacional no que se refere à produção e distribuição de tão importante recurso energético. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é uma associação formada por doze países (Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Indonésia, Argélia, Nigéria, Líbia, Gabão e Venezuela) que se uniram para tentar ampliar sua participação percentual nos lucros gerados pelo setor petrolífero. A primeira crise mundial do petróleo ocorreu em 1973 e teve caráter político com significativo aumento dos preços tornando refém todos os países dependentes dessa forma de energia. Apesar de toda tecnologia disponível no campo da produção energética, a sociedade ainda é completamente dependente dos combustíveis fósseis. Os derivados do petróleo, principalmente a gasolina e o óleo diesel, representam 35% de toda a fonte de energia utilizada no mundo. Os derivados do petróleo apresentam dois grandes problemas em sua utilização em larga escala: são fontes de energia não renováveis e a dependência destes elementos pode gerar uma crise energética. Além disso, é apontado como um vilão ambiental, já que a sua combustão libera uma quantidade muito grande de CO2 à atmosfera, intensificando o efeito estufa. 20 UNIDADE I │ PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL Carvão mineral Apesar de ser conhecido há muito tempo, o carvão mineral assumiu importância mundial a partir do século XVIII, com a Revolução Industrial e foi a principal fonte energética até a chegada do petróleo, destacando-se os transportes (navegação e ferrovia a vapor) e a termoeletricidade (usinas termoelétricas). Apesar disso, continua sendo importante, com 28% do consumo primário mundial. Aproximadamente 5,6% do carvão produzido é consumido no setor siderúrgico, mas ainda sim cresce, pois é barato para produção de energia, porém o custo de transporte é muito caro. É a segunda fonte mais utilizada no planeta e apresenta as mesmas deficiências do petróleo: é uma fonte de energia não renovável e também libera grande quantidade de CO2 à atmosfera. Além disso,a atividade de extração deste mineral é, por muitas vezes, realizada em ambientes insalubres e de alta periculosidade para os operários, registrando alto índice de acidentes. Gás natural Dentre os combustíveis fósseis, é a opção mais barata e “limpa”. Representa 21% da matriz energética mundial e 10% da brasileira. Seus principais problemas estão relacionados ao transporte, que pode ser feito por gasodutos ou por caminhões (rodovias), o que apresenta um risco de acidente elevado. Existe um desinteresse da indústria petrolífera em tornar o gás uma forma alternativa viável para os países já que sua exploração está vinculada a essa indústria. Pode ser utilizado tanto na fabricação de energia elétrica quanto na indústria, porém, principalmente no Brasil, é mais utilizado no setor de transportes. Energia nuclear Há divergências na sua classificação como renovável ou não renovável, mas, ainda assim, a energia nuclear é posta em questão também como uma grande alternativa aos combustíveis fósseis. Ela é obtida por processos químicos nucleares, como a fusão ou fissão nuclear. Mesmo sendo considerada uma energia limpa, ela apresenta diversos riscos como acidentes nucleares (como o acontecido em 1986, em Chernobyl, atual Ucrânia) e em relação ao armazenamento do lixo atômico. A energia nuclear é produzida no Brasil pelas usinas Angra I e Angra II, que correspondem a 3% do consumo de eletricidade. No mundo, esta fonte corresponde a 17% de toda eletricidade gerada. Na França, 77% da energia do país provêm de fontes nucleares. 21 CAPÍTULO 3 Combustíveis fósseis e mudanças climáticas Apesar de o assunto mudanças climáticas ser assunto relativamente novo na mídia, alertas sobre o aquecimento gradativo da temperatura média da atmosfera do planeta vêm sendo dados desde os anos 1980 (GOLDEMBERG, 2011). Não há como negar a influência antrópica (humana) na intensificação do que chamamos de efeito estufa, com lançamentos aproximados de 35,7 gigatoneladas (6,5 x 1012 t) de CO2 no ano de 2014 (ESTADO DE SÃO PAULO, 2015), atingindo a marca de 400 ppm (partes por milhão) em setembro de 2015 (NOAA, 2015). Resultado disso: dos 134 anos de acompanhamento do clima, os dez anos mais quentes foram na década de 2000 (NASA, 2016). O efeito estufa O efeito estufa é a maneira natural de manter a Terra aquecida (figura 1), inicia-se com os raios solares que saem do Sol e atingem a superfície da Terra. A energia desses raios aquece a superfície e retornam em forma de calor para a atmosfera, os Gases de Efeito Estufa que existem naturalmente (e os que emitimos) armazenam este calor mantendo a Terra sempre aquecida. Para exemplificar, pense como um cobertor, ela em si não aquece a Terra (assim como o cobertor), porém absorve e retém o calor emitido pela Terra (assim como o cobertor). Figura 1. Efeito Estufa. Fonte: Adaptado de Santomauro (2015). 22 UNIDADE I │ PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL A temperatura média da Terra é, hoje, em torno de 15º C; porém, se não houvesse o Efeito Estufa, esta temperatura poderia ser -18º C (BAIRD; CANN, 2011)! Uma diferença de 33º C relacionada à existência dos Gases de Efeito Estufa. Vemos que muito CO2 é lançado na atmosfera pelas atividades industriais, produção de energia elétrica, produção de cimento, transporte e desmatamento. Mas será que todo CO2 lançado vai parar na atmosfera? Um fato é bastante interessante de ser notado: a curva de emissão e concentração de CO2 na atmosfera da Terra, apesar de continuamente aumentar, tem um formato de dentes de um serrote, como mostrado na figura 2. Isso ocorre porque os continentes acima da linha do Equador possuem territórios muito maior que no Hemisfério Sul, e quando chega o outono/verão no Hemisfério Norte, as plantas retiram o CO2 para realizarem a fotossíntese e a concentração deste gás diminui, quando chega o inverno algumas plantas morrem e as atividades fotossintéticas diminuem bastante, fazendo a concentração de CO2 aumentar. Figura 2. Concentrações anuais de CO2, de 2012 a 2016. A linha pontilhada em vermelho mostra os valores de CO2 medidos mensalmente no vulcão Mauna Loa, enquanto em preto encontra-se plotado os valores médios. Fonte: NOAA (2016). O oceano também tem um papel importante na captação de CO2 atmosférico. Em condições normais, tanto as florestas como o oceano são capazes de armazenar CO2 lançados na atmosfera. Porém, há um limite, pois eles mesmos também lançam CO2 23 PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL │ UNIDADE I (decomposição de plantas e animais), esse saldo é 0,9 Gt (Gigatoneladas) para as florestas e 2,2 Gt para os oceanos. Nos oceanos, esse CO2 absorvido transforma-se em conchas e nas florestas é absorvido pelo solo. Mudanças climáticas globais Apesar de o meio ambiente ter seus meios de absorver o CO2 emitido, é necessário entender que estes processos são lentos e possuem um limite máximo, como visto anteriormente. O marco principal para os aumentos das emissões atmosféricas foi a Revolução Industrial, com a utilização de maquinário a vapor para a produção de bens em larga escala. Na figura 3, observa-se que a linha vermelha é o total de emissões de CO2 (em Gt), e a linha começa a inclinar-se após o ano de 1850. A linha verde é o total acumulado desde o ano 1000; ela se manteve estável até o ano 1850, sofrendo uma grande inclinação no fim do século XX. Figura 3. Emissões de CO2 versus Níveis de CO2 atmosféricos. Fonte: IPCC (2011). Esta elevação na concentração de CO2 no fim do século XX é preocupante pois faz com que a camada de Gases do Efeito Estufa fique mais densa (engrosse) e absorva mais calor. Absorvendo mais calor, a atmosfera torna-se mais quente e isso reflete nas temperaturas e sistemas climáticos terrestres. 24 UNIDADE I │ PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL Porém, não é só o CO2 que faz parte dos Gases de Efeito Estufa. Comenta-se mais dele devido as altas taxas de emissão desde a Revolução Industrial, pois a queima de combustíveis fósseis lança na atmosfera CO2, porém, outros gases têm que ser levados em consideração: Metano (CH4), Óxido Nitroso (N2O), Clorofluorcarbonos (CFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6), Hidrofluorcarbonos (HFCs), Perfluorcarbonos (PFCs), Trifluoreto de Nitrogênio (NF3). Apesar de terem emissões atmosféricas menores que o CO2, os gases citados anteriormente possuem uma capacidade maior de reter calor na atmosfera, o que os torna importantes na composição dos Gases de Efeito Estufa– além disso, suas emissões também aumentaram em comparação com dados antes de 1750 (começo da Revolução Industrial). Alguns gases possuem capacidade de aquecimento da atmosfera (CO2 eq) de até 22.800 vezes mais que o CO2! O SF6, por exemplo, e utilizado na indústria eletrônica. A concentração do metano antes de 1750 era de aproximadamente 0,75 ppm (BAIRD; CANN, 2011) e duplicou em menos de 300 anos, para aproximadamente 1,8 ppm na década de 2010 (IPCC, 2014); o CH4 retém 25 vezes mais calor que o CO2. O óxido nitroso estava presente em uma concentração de 0,27 ppm (BAIRD; CANN, 2011) e subiu para 0,32 ppm (IPCC, 2014), um aumento de 15%, porém, o N2O retém 298 vezes mais calor na atmosfera que o CO2. Um documentário amador interessante, feito por um cientista, está disponível na página do Youtube, no canal do Pirula25. O documentário chama-se “Aquecimento Global – Último Round” e explica bem o porquê ocorre o aquecimento global, suas consequências e polêmicas envolvidas sobre o assunto. Merece ser assistido. Consequências das mudanças climáticas As consequências do aquecimento global serão iguais para todos os países? Será que os países em desenvolvimento conseguirão ter os mesmos recursos que os países ricos para a mitigação e assistência deseus cidadãos? No ano de 2006, foi lançado o filme “Uma verdade Inconveniente – Um Aviso Global” relacionando as altas emissões dos Estados Unidos com os meios de produção norte-americano e aquecimento global. Produzido pelo “quase” presidente americano Al-Gore. Entre as principais consequências das mudanças climáticas apontadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), estão: 25 PRINCIPAIS FONTES DA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL │ UNIDADE I » Derretimento áreas cobertas por gelo, como o Ártico, geleiras na América do Norte e do Sul, Alpes, Himalaia e África. » Elevação do nível do mar pelo derretimento das áreas cobertas de gelo. » Maior incidência de eventos extremos, como secas, tornado e furacões, ondas de calor (ou frio) e chuvas intensas. » Eventos extremos com maiores intensidades. » Maiores regiões com secas, como leste da Amazônia, África Subsaariana e Sul do continente e América Central. » Regiões com precipitações maiores que o normal, como o Oeste da África. » Impactos econômicos para recuperação e mitigação dos efeitos da mudança climática. » Impactos em atividades econômicas, como agricultura, pastoreio, pesca ou extrativismo. » Distribuição das chuvas e águas superficiais. 26 UNIDADE II MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Apesar da mudança dos componentes da matriz energética mundial ser indiscutível em longo prazo, existem diversos condicionantes (tecnológicos, políticos, culturais, econômicos, sociais, comerciais ou ambientais) que podem apressar ou retardar as mudanças consideradas inexoráveis. Neste particular, deve-se considerar o que se segue: » A entrada em vigor de Normas e Diretrizes Internacionais (Protocolo de Kyoto e Diretiva para Obtenção de Eletricidade de Fontes Renováveis, do Parlamento Europeu) pode incentivar ainda mais o uso de energias renováveis e criam reservas de mercado para a bioenergia. » O apoio intenso, garantido e continuado aos programas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) constituirá a pedra angular para acelerar a taxa de utilização de energias renováveis. Inovações têm o condão de viabilizar técnica e economicamente as fontes renováveis de energia, bem como permitir a exploração comercial, o ganho de escala e a redução de custos. » A cogeração de energia se constituirá em um diferencial importante para a viabilização econômica de fontes de bioenergia. » A expansão da área de agricultura energética não poderá ocorrer à custa da redução da oferta de alimentos, nem de impactos ambientais acima da razoabilidade, sob pena de forte reação contrária da sociedade, o que inviabilizaria o negócio bioenergia. Ao contrário, entende-se que haverá uma tríplice associação entre energia, alimento e indústria química. » O preço dos combustíveis fósseis é crucial para apressar a transição e, ironicamente, para estender o tempo de duração das reservas, tornando a transição menos turbulenta. Sob um quadro de preços moderados de combustíveis fósseis poucas fontes de energias renováveis são competitivas, como é o caso do etanol ou da energia eólica. 27 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II » Os custos de obtenção de energia são fortemente ligados às condições locais e os que apresentarem menores custos serão explorados em primeiro lugar. Este fato gera diferenciais competitivos entre as diferentes regiões. » O aumento da participação das fontes de energia renovável na matriz energética, em especial nos países ricos, dependerá de apoio decisivo e continuado dos respectivos governos. O suporte é crucial, especialmente no início do processo de introdução na matriz, podendo ser reduzido conforme as metas forem atingidas e o processo consolidado. Na composição da futura matriz, a maioria dos estrategistas aponta para a consagração da energia solar como principal fonte primária de energia, que se desdobrará em repositórios intermediários, derivados da captação e transformação da radiação solar, seja por fotossíntese (biomassa) ou por processos industriais. A conjugação das duas vertentes, como é o caso das células de combustível, operacionaliza as formas de aproveitamento da energia solar. Aceitas as premissas anteriormente relacionadas, qualquer cenário que venha a ser traçado para médio e longo prazos, revela as vantagens comparativas do Brasil para ser o paradigma do uso de energia renovável e o principal player do biotrade – como está sendo chamado esse mercado, consolidando os negócios internacionais envolvendo oferta de energia renovável. Igualmente, o Brasil reúne condições para ser o principal receptor de recursos de investimento provenientes do mercado de carbono. Mercado este que hoje se encontra um tanto questionado, visto que as metas traçadas para os países “desenvolvidos” não estão sendo alcançadas e os investimentos em projetos países “em desenvolvimento” não estão sendo vistos como relevantes no processo de redução das emissões a nível mundial. O sinergismo entre as vantagens comparativas naturais (solo, água, radiação solar e mão de obra) e as captações de capital proveniente de projetos vinculados aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo tornarão o país ainda mais atrativo para macro investidores ávidos por disputarem o market share do biotrade. Esses capitais comporão um portfólio de investimento direto na produção, porém, também auxiliarão na formação de uma logística adequada para o armazenamento e escoamento da produção (comunicações, tancagem, ferrovias e hidrovias e instalações portuárias). Da mesma forma, as políticas públicas destinadas à geração de emprego e renda e a melhoria de sua distribuição, em especial no apoio à pequena propriedade familiar e nos assentamentos da Reforma Agrária, encontrarão na Agricultura de Energia uma forma 28 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES de agregar valor à produção destes segmentos, ao mesmo tempo em que contribui para o esforço global de limpeza da atmosfera. Nota-se a ausência de um importante fator de produção, na equação acima, que é o componente tecnológico. Investimentos serão necessários, principalmente nos países considerados “em desenvolvimento”. Empresas multinacionais já estão atuando nessa questão, levando centros de pesquisa para países como o Brasil, por exemplo. Uma questão que já está sendo foco de estudos de empresas do setor de química e petroquímica é a substituição das suas matérias-primas, visto que estes setores competem com o setor de energia. O declínio na oferta de petróleo afetará o conjunto das cadeias produtivas que dele dependem. Ao contrário da energia, na qual uma cesta de fontes estará disponível, a matéria-prima sucedânea do petróleo para a indústria petroquímica será a biomassa. E a concretização desta previsão poderá ser antecipada ou retardada em função do investimento em PD&I. Apesar do exposto, os cenários não são definitivos e muito menos autorrealizáveis. O poder regulatório e de intervenção do Governo pode alterar o quadro exposto, desde que este atue pró-ativamente e na direção correta. No caso do Brasil, é de fundamental importância que aspectos sociais e ambientais sejam considerados. 29 CAPÍTULO 1 Primeiras fontes de energia e as energias do futuro “O Sol e a madeira forneceram energia ao homem durante longo tempo. Apenas há cerca de 5.000 anos atrás se começaram a usar outras fontes de energia.” ’ As necessidades energéticas do homem estão em constante evolução. Para satisfazer suas primeiras necessidades, que eram basicamente a alimentação, uma fonte de iluminação noturna e aquecimento, o homem apropriou-se do uso do fogo (...). A diversificação do trabalho, visando à otimização das tarefas e ao aumento do nível de conforto demandounovas formas de utilização de energia, que foram sendo descobertas e aprimoradas, por meio do desenvolvimento da matemática, da geometria e da engenharia, que proporcionaram a criação de dispositivos mecânicos complexos, empregados para o aproveitamento da energia (...). (FARIAS, L. M., SELLITTO, M. A. Uso da energia ao longo da história: evolução e perspectivas futuras, Revista Liberato, v. 12, no 17, pp. 1-106, 2011). As matrizes energéticas e o nível de consumo foram se modificando com decorrer da história do homem e o desenvolvimento de tecnologia. Fazendo uma pequena comparação de diferentes épocas, podemos ter uma boa noção a respeito do uso, do consumo e das fontes mais utilizadas em diferentes períodos da história da humanidade. Pré-história O corpo humano era a principal ferramenta. Os utensílios eram apenas acessórios do trabalho muscular e o consumo energético estava restrito à alimentação. As fontes energéticas do homem nesse momento se restringiam apenas aos alimentos para sustentar os corpos nas suas atividades diárias de caça, pesca e colheita. Civilizações Os ventos e a água já eram recursos energéticos, por meio da navegação à vela e dos moinhos de água. A tração animal já era existente mais continuava ineficiente, pois 30 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES os animais costumavam ser presos pelo pescoço, causando o enforcamento do animal durante a atividade, reduzindo a eficiência. Apesar dessas novas fontes, a força muscular era ainda a principal. Revolução industrial Esse período foi marcado pela chegada da indústria e o aumento da produção de mercadorias, possibilitado pela mecanização. O carvão mineral era a principal fonte energética que deu suporte a atividade industrial. Esses diferentes períodos ilustram as diferentes fontes utilizadas em cada momento histórico. A utilização de diferentes fontes energéticas é necessária porque nem todos os lugares têm o mesmo tipo e a quantidade de recursos naturais necessários para a geração de energia. As fontes de energia estão ligadas, também, ao tipo de economia: quanto mais industrializada ela for, maior será o uso de energia. O carvão mineral foi o a grande fonte de energia da Revolução Industrial e o petróleo foi a principal fonte do século XX e continua desempenhar esse papel, apesar de previsões indicarem um declínio num futuro próximo. No entanto, descobertas recentes de novos campos de petróleo e gás nos levam a crer que esse cenário deve perdurar por mais algum tempo. Energias do futuro “A ONG ambiental WWF lançou (...) um estudo com novas perspectivas do futuro mundial em relação à produção de energia limpa. A publicação apresenta uma proposta de que até 2050, 95% da demanda energética seja proveniente de fontes renováveis. O estudo foi feito pela consultoria Ecofys, especializada em energia, a pedido da WWF. A proposta não inclui somente uma nova realidade da produção, mas também estratégias que sejam capazes de reduzir até 15% do consumo energético, em relação ao ano de 2005. A pesquisa garante que os combustíveis fósseis poderão ser praticamente abandonados nas próximas décadas. Hoje, eles fornecem 80% da energia global. A biomassa e a energia nuclear também podem ser deixadas de lado nos anos que se seguem.” (Website Ciclo Vivo, WWF projeta futuro com 95% da energia mundial vindo de fontes renováveis, 2011). 31 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II “A nation that can’t control its energy sources can’t control its future.” (Obama, B., The Audacity of Hope: Thoughts on Reclaiming the American Dream, Crown, 2006) Energia eólica A energia eólica – produzida a partir da força dos ventos – é abundante, renovável, limpa e disponível em muitos lugares. Essa energia é gerada por meio de aerogeradores, nas quais a força do vento é captada por hélices ligadas a uma turbina que aciona um gerador elétrico. A quantidade de energia transferida é função da densidade do ar, da área coberta pela rotação das pás (hélices) e da velocidade do vento. A avaliação técnica do potencial eólico exige um conhecimento detalhado do comportamento dos ventos. Os dados relativos a esse comportamento – que auxiliam na determinação do potencial eólico de uma região – são relativos à intensidade da velocidade e à direção do vento. Para obter esses dados, é necessário também analisar os fatores que influenciam o regime dos ventos na localidade do empreendimento. Entre eles pode-se citar o relevo, a rugosidade do solo e outros obstáculos distribuídos ao longo da região. Segundo apresentado no website do Ministério do Meio Ambiente (MMA), para que a energia eólica seja considerada tecnicamente aproveitável, é necessário que sua densidade seja maior ou igual a 500 W/m2, a uma altura de 50 metros, o que requer uma velocidade mínima do vento de 7 a 8 m/s. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, o vento apresenta velocidade média igual ou superior a 7 m/s, a uma altura de 50 m, em apenas 13% da superfície terrestre. Essa proporção varia muito entre regiões e continentes, chegando a 32% na Europa Ocidental, onde a energia eólica é mais utilizada. É uma das fontes de energia de maior crescimento no mundo, a uma taxa média é de 27% nos últimos cinco anos. A região Nordeste é a que apresenta as melhores condições do Brasil para o aproveitamento da energia eólica, não somente pelos regimes dos ventos, mas também pela possibilidade de complementaridade com a energia hidráulica. Esta característica foi comprovada ao se estudar os níveis médios de vazão dos rios que atendem algumas usinas da região Nordeste. Além do Nordeste, algumas regiões do Sul do país apresentam potencial eólico, por isso a grande maioria dos projetos já implantados no Brasil se encontra nessas duas regiões. 32 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES A figura 4 mostra o mapa do potencial eólico brasileiro, de acordo com o a velocidade média de ventos. Figura 4. Potencial Eólico Brasileiro – regime de ventos nas regiões do país. Legenda: Velocidade média do vento (m/s) 50m acima do nível da superfície: Fonte: Filipe (2010). 33 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Para entender o mapa acima: a legenda refere-se à velocidade média do vento e energia eólica média a uma altura de 50m acima da superfície em 5 condições topográficas distintas: » zona costeira – áreas de praia, normalmente com larga faixa de areia, onde o vento incide predominantemente do sentido mar-terra; » campo aberto – áreas planas de pastagens, plantações e/ou vegetação baixa sem muitas árvores altas; » mata – áreas de vegetação nativa com arbustos e árvores altas mas de baixa densidade, tipo de terreno que causa mais obstruções ao fluxo de vento; » morro – áreas de relevo levemente ondulado, relativamente complexo, com pouca vegetação ou pasto; » montanha – áreas de relevo complexo, com altas montanhas. Ainda na legenda, a Classe 1 representa regiões de baixo potencial eólico, de pouco ou nenhum interesse para o aproveitamento da energia eólica. A classe 4 corresponde aos melhores locais para aproveitamento dos ventos no Brasil. As classes 2 e 3 podem ou não ser favoráveis, dependendo das condições topográficas. Por exemplo: um local de classe 3 na costa do Nordeste (zona costeira) pode apresentar velocidades médias anuais entre 6,5 e 8 m/s, enquanto que um local de classe 3 no interior do Maranhão (mata) apresentará apenas valores entre 4,5 e 6 m/s (FILIPE, 2010). O país tem um grande potencial eólico ainda a ser explorado, inclusive em áreas de baixa densidade demográfica, diferentemente do que ocorre na Europa, por exemplo, onde os pequenosterritórios tornam limitadas as regiões propícias e pouco habitadas para a instalação das torres eólicas. Em 2014, o Brasil foi o quarto colocado no ranking mundial de expansão de potência eólica, com 2.689 megawatts (MW), atrás apenas da China (23.149 megawatts), Alemanha (6.184 megawatts) e Estados Unidos (4.854 megawatts) (PORTAL BRASIL, 2016). Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2016), em 2014 a potência instalada na geração eólica no país expandiu 122,0%. 34 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES A estimativa, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024), é de que a capacidade instalada eólica do Brasil chegue a algo em torno de 24 mil MW. Desse total, 21 mil MW deverão ser gerados na região Nordeste, o que vai representar 45% do total produzido na região. Atualmente, o Brasil possui 379 Usinas instaladas, com uma Capacidade Instalada de 9,51 GW. Embora se insira dentro do contexto mundial de incentivo por tecnologias de geração elétrica menos agressivas ao meio ambiente, como qualquer outra tecnologia de geração de energia, a utilização dos ventos para a produção de energia elétrica também acarreta em alguns impactos negativos – como interferências eletromagnéticas, impacto visual, ruído, ou danos à fauna, por exemplo. Atualmente, essas ocorrências já podem ser minimizadas e até mesmo eliminadas por meio de planejamento adequado, treinamento e capacitação de técnicos, bem como emprego de inovações tecnológicas. Energia solar Quase todas as fontes de energia – hidráulica, biomassa, eólica, combustíveis fósseis e energia dos oceanos – são formas indiretas de energia solar. Além disso, a radiação solar pode ser utilizada diretamente como fonte de energia térmica, para aquecimento de fluidos e ambientes e para geração de potência mecânica ou elétrica. Pode ainda ser convertida diretamente em energia elétrica, por meio de efeitos sobre determinados materiais, entre os quais se destacam o termoelétrico e o fotovoltaico. O aproveitamento da iluminação natural e do calor para aquecimento de ambientes, denominado aquecimento solar passivo, decorre da penetração ou absorção da radiação solar nas edificações, reduzindo-se, com isso, as necessidades de iluminação e aquecimento. Assim, um melhor aproveitamento da radiação solar pode ser feito com o auxílio de técnicas mais sofisticadas de arquitetura e construção. O aproveitamento térmico para aquecimento de fluidos é feito com o uso de coletores ou concentradores solares. Os coletores solares são mais usados em aplicações residenciais e comerciais (hotéis, restaurantes, clubes, hospitais etc.) para o aquecimento de água (higiene pessoal e lavagem de utensílios e ambientes). Os concentradores solares 35 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II destinam-se a aplicações que requerem temperaturas mais elevadas, como a secagem de grãos e a produção de vapor. Neste último caso, pode-se gerar energia mecânica com o auxílio de uma turbina a vapor, e, posteriormente, eletricidade por meio de um gerador. A conversão direta da energia solar em energia elétrica ocorre pelos efeitos da radiação (calor e luz) sobre determinados materiais, particularmente os semicondutores. Entre esses, destacam-se os efeitos termoelétrico e fotovoltaico. O primeiro caracteriza-se pelo surgimento de uma diferença de potencial, provocada pela junção de dois metais, em condições específicas. No segundo, os fótons contidos na luz solar são convertidos em energia elétrica, por meio do uso de células solares. A geração de eletricidade a partir da energia fotovoltaica do sol é uma tecnologia energética renovável muito recente. Seus custos são altos, quando comparados aos custos da eletricidade gerada a partir dos combustíveis convencionais. A União Europeia é atualmente responsável por um terço da produção e utilização anual de módulos fotovoltaicos a nível mundial, com aplicação principal em edifícios. Entre os vários processos de aproveitamento da energia solar, os mais usados atualmente são o aquecimento de água e a geração fotovoltaica de energia elétrica. No Brasil, o primeiro é mais encontrado nas regiões Sul e Sudeste, devido a características climáticas, e o segundo, nas regiões Norte e Nordeste, em comunidades isoladas da rede de energia elétrica (ANEEL, Atlas da Energia Elétrica, 2ª Edição, 2005). Sua utilização substitui os geradores a diesel, representando um ganho ambiental. Empresas vêm adotando pequenos sistemas de captação e conversão em energia solar em suas unidades. Um exemplo é a Petrobras, que desenvolveu um programa de instalação de unidades termossolares em refinarias, campos de produção e postos de serviços no Brasil. A figura 5 indica o mapa da radiação solar no Brasil, onde podemos ver a incidência do sol sendo diferenciadas por cores. 36 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Figura 5. Mapa da radiação solar no Brasil. Fonte: MME (2007). Como podemos ver no mapa, o nordeste brasileiro é a região de maior radiação solar do país, com média anual comparável às melhores regiões do mundo, com destaque para o Vale do São Francisco, Piauí, oeste da Bahia, além de Mato Grosso do Sul, leste de Goiás. Em 2014 aconteceu o primeiro leilão em que foi contratada a energia proveniente de plantas voltaicas centralizadas, com a entrada em 2017 de 891 MW no Nordeste, Centro- Oeste e Sudeste do país. O reflexo é observado numa expansão indicativa de solar de 6.000 MW até 2024 também nessas regiões. Foram habilitados 331 projetos de plantas fotovoltaicas, totalizando 8,87 GW. Energia hídrica A energia hídrica é uma energia renovável que já é utilizada desde os tempos antigos. As civilizações antigas aproveitavam o relevo dos solos para utilizar a água na agricultura. 37 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Os romanos começaram a utilizar a água numa espécie de sistemas hidráulicos para a moagem dos cereais. Para produzir a energia hidrelétrica é necessário integrar a vazão do rio, a quantidade de água disponível em determinado período de tempo e os desníveis do relevo, sejam eles naturais, como as quedas d’água, ou criados artificialmente. Já a estrutura da usina é composta, basicamente, por barragem, sistema de captação e adução de água, casa de força e vertedouro, que funcionam em conjunto e de maneira integrada. A barragem tem por objetivo interromper o curso normal do rio e permitir a formação do reservatório. Além de “estocar” a água, esses reservatórios têm outras funções: permitem a formação do desnível necessário para a configuração da energia hidráulica, a captação da água em volume adequado e a regularização da vazão dos rios em períodos de chuva ou estiagem. Algumas usinas hidroelétricas são chamadas “a fio d’água”, ou seja, próximas à superfície e utilizam turbinas que aproveitam a velocidade do rio para gerar energia. Essas usinas “fio d’água” reduzem as áreas de alagamento e não formam reservatórios para estocar a água. Os sistemas de captação e adução são formados por túneis, canais ou condutos metálicos que têm a função de levar a água até a casa de força. É nesta instalação que estão as turbinas, formadas por uma série de pás ligadas a um eixo conectado ao gerador. Durante o seu movimento giratório, as turbinas convertem a energia cinética (do movimento da água) em energia elétrica por meio dos geradores que produzirão a eletricidade. Depois de passar pela turbina, a água é restituída ao leito natural do rio pelo canal de fuga. Cada turbina é adaptada para funcionar em usinas com determinada faixa de altura de queda e vazão. Por último, há o vertedouro.Sua função é permitir a saída da água sempre que os níveis do reservatório ultrapassem os limites recomendados. Uma das razões para a sua abertura é o excesso de vazão ou de chuva. Outra é a existência de água em quantidade maior que a necessária para o armazenamento ou a geração de energia. Em períodos de chuva, o processo de abertura de vertedouros busca evitar enchentes na região de entorno da usina. (ANEEL, Atlas da Energia Elétrica, 2ª Edição, 2005). 38 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Figura 6. Hidrelétrica de Itaipu, a maior do Brasil. Fonte: Francisco (2016). Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/geografia/energia-hidreletrica.htm>. Acesso em: 14/10/2016. Para utilizar a força dos rios, um recurso natural abundante no Brasil, o Governo investiu nas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), possibilitando melhor atendimento às necessidades de carga de pequenos centros urbanos, regiões rurais e unidades industriais. Hidrogênio combustível O hidrogênio, como combustível e fonte de energia, ainda se encontra em fase de pesquisa em vários países do mundo, constituindo uma terceira geração de combustíveis cuja entrada em operação comercial é prevista para o pós-2030. O hidrogênio apresenta algumas vantagens: traz benefícios ambientais (em sua combustão gera apenas vapor d’água como subproduto e não compostos de carbono que causam emissões de gases de efeito estufa); é um recurso ilimitado (que, combinado com o oxigênio, na forma de água, existe em grande quantidade). Porém, há algumas barreiras à expansão do uso do hidrogênio como combustível e fonte de energia: não se trata de um combustível primário (não é encontrado na natureza em estado puro, em quantidade significativa); há dificuldades em seu armazenamento para uso veicular (é um composto de baixíssima densidade, que ocupa muito volume, mas uma alternativa é o seu armazenamento na forma de hidretos, compostos instáveis que o liberam lentamente); sua produção a partir de recursos renováveis ainda não é economicamente competitiva; e as tecnologias para eliminação completa de carbono do ciclo produtivo ainda estão em desenvolvimento. As principais rotas, hoje, existentes para a produção do hidrogênio são reforma do gás natural ou de etanol; gaseificação de carvão ou biomassa; eletrólise da água; rotas fermentativas; e processos combinados, como energia solar associada à eletrólise. 39 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II A produção de hidrogênio para uso industrial, que tem como um dos principais mercados a produção de amônia, intermediário de fertilizantes, é bem conhecida e feita por processo de reforma de gás natural, rico em metano. A produção de hidrogênio via eletrólise também é usada no Brasil, diretamente ou como subproduto de outros processos eletrolíticos, como a produção de cloro e soda, mas seu custo é elevado em comparação ao processo de reforma, portanto preenche nichos de mercado. Um processo em fase de desenvolvimento que eliminaria por completo os compostos de carbono do ciclo global é o processo combinado de eletrólise da água por meio de energia solar: heliotérmica, por espelhos concentradores de energia. Uma vez vencida a etapa da síntese do hidrogênio, a geração de energia é feita a partir de células de combustível, que se baseiam no processo inverso ao de eletrólise da água, isto é, reage-se hidrogênio com o oxigênio do ar, gerando água e energia. O processo é antigo, datando de mais de 150 anos, mas tem sido objeto de muitas pesquisas e melhoramentos recentes. ( MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2013). O Ministério de Minas e Energia (MME) possui um programa nacional de incentivo ao uso de hidrogênio como fonte de energia. Biomassa Pode ser considerada biomassa todo recurso renovável que provêm de matéria orgânica – de origem vegetal ou animal – tendo por objetivo principal a produção de energia. A biomassa é uma forma indireta de aproveitamento da luz solar, pois ocorre a conversão da radiação solar em energia química por meio da fotossíntese, base dos processos biológicos de todos os seres vivos. Uma das principais vantagens da biomassa é que seu aproveitamento pode ser feito diretamente, por meio da combustão em fornos, caldeiras etc. Para que seja aumentada a eficiência e sejam reduzidos os impactos socioambientais no processo de sua produção, porém estão sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas tecnologias de conversão mais eficientes como a gaseificação e a pirólise, também sendo comum a cogeração em sistemas que utilizam a biomassa como fonte energética. Atualmente, a biomassa vem sendo bastante utilizada na geração de eletricidade, principalmente em sistemas de cogeração e no fornecimento de energia elétrica para demandas isoladas da rede elétrica. 40 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES O Brasil, por possuir condições naturais e geográficas favoráveis à produção de biomassa, pode assumir posição de destaque no cenário mundial na produção e no uso como recurso energético. Por sua situação geográfica, o país recebe intensa radiação solar ao longo do ano, o que é a fonte de energia fundamental para a produção de biomassa, quer seja para alimentação ou para fins agroindustriais. Outro aspecto importante é que possuímos grande quantidade de terra agricultável, com boas características de solo e condições climáticas favoráveis. No entanto, é necessária a conjugação de esforços no sentido de que esta produção ou o seu incremento seja feito de maneira sustentável, tanto do ponto de vista ambiental quanto social. Existem diversas rotas para a biomassa energética com extensa variedade de fontes, que vão desde os resíduos agrícolas, industriais e urbanos até as culturas plantadas exclusivamente para a obtenção de biomassa. As tecnologias para os processos de conversão são as mais diversas possíveis e incluem desde a simples combustão ou queima para a obtenção da energia térmica até processos físico-químicos e bioquímicos complexos para a obtenção de combustíveis líquidos e gasosos. Além da biomassa de lenha e de resíduos da indústria da madeira, fazem parte do conjunto de fontes de biomassa os resíduos agrícolas e efluentes agroalimentares, os estrumes e a fração orgânica dos resíduos sólidos municipais, os resíduos domésticos e as lamas de esgotos. Outras tecnologias renováveis Existem outras tecnologias energéticas renováveis, como as marés, as correntes, a energia das ondas, a tecnologia de rocha quente e seca ou a conversão da energia térmica oceânica, para as quais não existe atualmente qualquer mercado. É difícil apresentar estimativas em relação a essas fontes, mas algumas dessas tecnologias terão um potencial significativo. 41 CAPÍTULO 2 Matriz energética e a influência da localização O clima e a relação com as fontes energéticas O potencial elétrico de uma região está indiscutivelmente ligado ao seu clima, que condiciona as condições ideais para que haja em abundância fontes de energia viáveis de serem consumidas. Por isso, é importante compreendermos quais são os climas das regiões brasileiras para, enfim, entender a relação deste clima com o potencial energético de cada região. Quando pensamos em matriz energética, é porque provavelmente as fontes principais de geração de energia – ou combustível – são as mais abundantes naquele determinado local ou país, o que diminui o custo de obtenção, de geração e de distribuição. Vamos ver um resumo das principais características de cada região do Brasil? Clima da região norte A localização geográfica da região Norte do Brasil, entre aproximadamente 5º N e 18º S (sendo grande parte do território localizado na zona equatorial) faz com que a incidência solar tenha semprevalores muito altos. As temperaturas tendem a sofrer pouca variação ao longo do ano, com exceção de Mato Grosso e Rondônia que podem sofrer com as friagens. As chuvas são dispersas ao longo do ano, com diferenças de precipitação entre as regiões ao Sul e ao Norte da Amazônia em cerca de seis meses. A região encontra-se inserida na bacia Amazônica, que tem como característica principal a existência de uma área florestada de mais de 5 milhões de Km2, compondo uma das maiores biodiversidades do planeta. Sabe-se que a própria floresta ajuda na manutenção das chuvas locais como foi estudado pelo Dr. Enéas Salati (SALATI; MARQUES, 1984), cerca de 50% da chuva que cai na Amazônia é oriunda da própria floresta, da evapotranspiração (PETROBRAS MAGAZINE, 2011). 42 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Importante notar que na Região Amazônica ocorre o fenômeno dos Jatos de Baixos Níveis da América do Sul. Este fenômeno tem início com a entrada dos ventos alísios que transportam os ventos úmidos do Oceano Atlântico para dentro do continente e quando este encontra a cordilheira dos Andes são desviados para Sudeste. No verão ocorre também a intensificação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), trazendo nebulosidade e chuva para a região mais ao Sul e Oeste da Amazônia (MARENGO; NOBRE, 2009). A presença da Zona de Convergência Intertropical trás para a região uma grande nebulosidade. No inverno, percebe-se a incidência das friagens, que são massas de ar frio e seco (frentes frias) vindos das latitudes mais altas Sul da América do Sul). É importante lembrar que, por ter uma grande extensão territorial, nota-se uma grande diferença entre os períodos chuvosos na Amazônia. O início do período de chuvas na Amazônia ocorre no outono, ao sul, atingindo seu máximo durante o verão. Esta distribuição de máximos de chuvas desloca-se para o norte, atingindo o máximo no outono para a Amazônia central, desde oeste até a foz do Rio Amazonas (MARENGO; NOBRE, 2009). No inverno, ocorre o máximo de precipitação ao norte da Amazônia. Em relação às temperaturas, elas são bastante elevadas ao longo do ano inteiro, devido à alta incidência solar na região, localizada entre a linha do Equador e o Trópico de Capricórnio. São conhecidas, na região, as chamadas friagens, que são passagens de frentes frias mais fortes que atingem as cidades do Mato Grosso, Rondônia e Acre, quando ocorrem as maiores amplitudes térmicas. Belém é a capital do norte com menor amplitude térmica e maiores níveis de precipitação, decorrente da evaporação oriunda do Oceano Atlântico. 43 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Figura 7. Precipitações acumuladas por trimestre. Legenda: As cores verdes demonstram as maiores precipitações (de 400 a 1.000 mm) e as cores amarelas/laranja demonstram as menores precipitações (de 50 a 300 mm). Fonte: <http://clima1.cptec.inpe.br/monitoramentobrasil/pt>. Acesso em: 17/10/2016. 44 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Clima da região nordeste A região nordeste, apesar de se encontrar entre as latitudes 2º S e 18º S, não apresenta um clima equatorial como poderia ser esperado, mesmo tendo uma das maiores florestas equatoriais do mundo a Oeste e o Oceano Atlântico a Leste e Norte, o clima regional mostra-se diverso e com grandes diferenças interanuais nas precipitações. Entender o clima da região não é fácil, são inúmeros sistemas climáticos atuantes que podem modificar o clima da região. O relevo da região é composto por dois planaltos, do Borborema e da bacia do Rio Parnaíba, algumas regiões altas, como as Chapadas da Diamantina e Araripe, e algumas depressões, onde localizam-se os sertões (KAYANO; ANDREOLI, 2009). Nota-se regiões com altos valores de precipitação enquanto outras localidades podem ficar alguns anos sem chuva. O que se observa são três diferentes tipos de clima na região que podem apresentar precipitações variando entre 300 e 2.000 mm anuais. O Clima Tropical em áreas dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí e Clima Litorâneo Úmido do litoral da Bahia ao Rio Grande do Norte – ambos apresentam as maiores precipitações e o Clima Tropical Semiárido (precipitações abaixo de 600 mm/ano) localizado em todo o sertão Nordestino (KAYANO; ANDREOLI, 2009). As chuvas no Semiárido não são apenas escassas, mas também irregulares, com períodos de chuvas torrenciais. As temperaturas variam, em média, entre 20º e 28º C, tendo algumas diferenciações regionais, como nas áreas mais elevadas da Chapada Diamantina (média de altitude variando entre 800 e 1200 m, com picos mais altos – como o Pico do Barbado com 2.033 metros) e Planalto do Borborema (altitude média de 200m e picos acima de 1000m de altitude) podem ter temperaturas anuais abaixo de 20º C. No litoral leste, as temperaturas podem variar entre 24 e 26º C. Clima da região centro-oeste A região centro-oeste possui uma complexa diversidade climática, isso devido à grande distância latitudinal (variando entre 8º S e 25º S), grande variedade de relevos e vegetação (ALVES, 2009). Ao norte, a região faz contato com a Floreta Amazônica e possui o Pantanal como a maior área inundável do mundo. Ao sul, faz divisa com a região sudeste, onde as temperaturas costumam ser mais amenas. São conhecidos três tipos de clima para a região centro-oeste. O clima temperado úmido com verão quente e inverno seco (Cwa na classificação de Koppen) observadas nas áreas mais altas de Goiás e no sul do Mato Grosso do Sul; o clima tropical com 45 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II inverno seco (Aw) observado em todos os estados e o clima de monção (Am) observado na parte norte do Mato Grosso. Segundo Alves (2009), por se situar no subtrópico, o clima na região centro-oeste sofre influência de sistemas atmosféricos da região amazônica vindas do norte e sistemas extra-tropicais oriundas do Sul, como as frentes frias. A região sofre grande influência do sistema chamado Alta da Bolívia, que pode influenciar o clima com condições adversas, como secas, enchentes etc. A figura 8 mostra a temperatura máxima (o C) do Brasil para as quatro estações do ano. Figura 8. Climatologia de temperatura máxima (o C) do Brasil para as quatro estações do ano: verão (a); primavera (b); inverno (c) e outono (d); realizada durante o período de 1961 a 1990. Fonte: INMET. Adaptado de (QUADRO et al., s/d). Disponível em: <http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/ fig3_9.html>. Acesso em: 18/10/2016 46 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Clima da região sudeste Por ser a região mais populosa do Brasil, é muito importante conhecer o clima da região e como este afeta a disponibilidade de recursos energéticos. No caso, a região tem como fonte predominante de energia, por exemplo, os recursos hídricos. Mais um motivo para se preocupar com o clima, especialmente com o regime de chuvas que afeta a região. Para tentar entender o clima da região Sudeste do Brasil, temos que ter em mente as diferentes características ambientais que tornam essa região diferente das outras. Uma delas é a localização geográfica, uma vez que a maioria de suas terras localiza-se ao norte do Trópico de Capricórnio, fazendo com que a incidência solar seja bastante alta durante o ano todo e provocando muita evaporação, formação de áreas secas, principalmente no inverno. A região sofre ainda a chegada de sistemas frontais que perturbam a atmosfera e trazem chuvas intensas e baixas nas temperaras (NUNES; VICENTE; CANDIDO, 2009). A topografia faz da região Sudeste um mosaico de tipos diferentes de climas, com montanhas e serras acima de 1.000 m de altitude,com picos podendo chegar próximo aos 3.000 m de altitude. A Serra do Mar segue na direção sudoeste-nordeste paralela ao litoral e ortogonal à passagem de sistemas polares e faz, muitas vezes, um papel importante nas precipitações litorâneas por meio do efeito orográfico, tornando as regiões do litoral paulista, por exemplo, uma das regiões brasileira com maior precipitação anual: 4.500 mm (AB´SABER, 2003). Seguindo a oeste, encontra-se ainda a Serra da Mantiqueira com picos acima de 2.000 m de altitude e contendo alguns dos maiores picos brasileiros (Agulhas Negras, Prateleiras, Marins etc.). Tem-se ainda a Serra do Espinhaço (com a segunda maior montanha brasileira – o Pico da Bandeira) e Serra da Canastra, em Minas Gerais (NUNES; VICENTE; CANDIDO, 2009). As temperaturas variam muito nas regiões montanhosas, podendo chegar a temperaturas negativas no inverno. Clima da região sul Quase a totalidade do território da região Sul do Brasil localiza-se abaixo do trópico de Capricórnio, o que faz da região Sul do Brasil uma região subtropical. Uma das características dessas regiões é a diferença de radiação solar recebida durante o verão e o inverno, fazendo disso um dos motivos para a diferença de temperatura encontrada entre as duas estações. Porém, o relevo, as massas de ar atuantes e as correntes marinhas que atuam na região são responsáveis pelo clima que conhecemos na região. 47 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II As correntes marinhas quentes do Brasil que alcançam a costa da região Sul são responsáveis pela manutenção da temperatura mais amena com variação menor (do que a prevista caso não ocorresse) e das altas taxas de umidade. A topografia também possui um papel importante na determinação da temperatura, pois nos municípios com maior altitude, localizados nas serras gaúchas e catarinenses, são os únicos lugares que ocorrem precipitações em forma de neve (GRIMM, 2009). Localização estratégica das fontes energéticas Poucos países no mundo desfrutam de um sistema hídrico tão generoso quanto o nosso. Os livros escolares apontam que 55.455 quilômetros quadrados (do total de 8.514.876 quilômetros quadrados que compõem a área do território brasileiro) estão cobertos por água, distribuídos em rios, lagos e riachos. É a abundância de rios e quedas d’água que produz o enorme potencial de energia hidráulica. Hoje, estão em operação mais de 180 grandes usinas, responsáveis por quase 70% da produção nacional de energia elétrica. Isso também faz do país o segundo maior produtor de energia hidrelétrica no mundo, com 12% da geração mundial, perdendo apenas da China. (STEFANO, F. Website Abril – Viaje Aqui, Edição Especial de Energia/Junho de 2012). Sabendo desse potencial hídrico brasileiro, que tem nas usinas hidrelétricas sua matriz energética, quais as principais áreas do país onde há esse potencial hídrico? Apesar de haver usinas hidrelétricas em diversas regiões do país, algumas se destacam e, nos últimos anos, as políticas de desenvolvimento do setor têm sido voltadas para uma região específica. Qual é essa região? E qual a principal usina hidrelétrica do país? Os principais insumos energéticos usados pela indústria no mundo são o petróleo, o gás natural e o carvão. Esses insumos têm apresentado elevadas taxas de crescimento do consumo, devido, principalmente, ao desempenho das economias emergentes, lideradas pela China e pela Índia. O crescimento acelerado da demanda– aliado à instabilidade política nas regiões produtoras de petróleo, gás natural e às pressões pela redução das emissões dos gases causadores do “efeito estufa” – traz preocupações sobre o equacionamento da oferta de energia e seu impacto nos preços. Segurança de suprimento e meio ambiente transformaram a energia em tema crítico. Dez países concentram 85% das reservas mundiais de petróleo e boa parte desses países estão envolvidos em turbulências geopolíticas. A gasolina e o óleo diesel são responsáveis 48 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES por quase toda a energia consumida no setor de transportes que, por sua vez, contribui com 25% das emissões dos gases de “efeito estufa” dos países industrializados. “O que importa de verdade na política dos EUA para os exportadores de petróleo é o controle, mais do que o acesso ao petróleo.” (CHOMSKY, N., Outubro de 2012). Quanto ao gás natural, 58% das reservas mundiais estão concentradas em apenas três países: Rússia, Catar e Irã. A tendência de “comoditização” do produto, embora contribua para diversificar as fontes de suprimento, faz com que os preços de petróleo e do gás tendam a se igualar. Dado que o petróleo ainda é a fonte economicamente dominante, isto significa que a volatilidade dos preços do petróleo tenderá a “contaminar” os preços do gás natural. O carvão é responsável por 25% do consumo mundial de energia. Desta parcela, dois terços são usados para geração de eletricidade e quase todo o restante para uso industrial. As reservas mundiais de carvão são gigantescas, quase 3,5 vezes maior que as de petróleo e de gás natural. Cerca de dois terços destas reservas estão localizadas em apenas quatro países: Rússia, Estados Unidos, China e Índia. A maior vulnerabilidade geopolítica está na área do petróleo. As principais alternativas de redução da dependência do petróleo são: substituição por biocombustíveis e redução do consumo veicular. A insegurança energética, em âmbito mundial, deverá persistir ou até piorar, o que poderá elevar os preços do petróleo e do gás natural. Além disso, deverá haver maior pressão pública para medidas de mitigação dos problemas ambientais, tais como a contratação compulsória de energias alternativas e a mistura obrigatória de biocombustíveis aos energéticos tradicionais. Estas medidas deverão aumentar ainda mais os preços da energia. A elevação dos preços dos insumos energéticos, ao mesmo tempo em que afeta diretamente os custos da indústria mundial, abre novas oportunidades para a indústria brasileira, como se destaca a seguir. » Ganhos de competitividade nos setores industriais que usam energia elétrica: os preços da eletricidade de base hídrica de um país estão mais associados aos preços de produção local que aos custos de oportunidade do mercado internacional. Como a geração de energia no Brasil é predominantemente hidroelétrica, os custos locais ficarão relativamente menores com o aumento do custo médio de geração de 49 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II energia elétrica no mercado internacional. Esta vantagem não ocorre para os insumos industriais baseados no petróleo e no gás natural, pois o preço destes deverá acompanhar os valores internacionais. » Grande interesse de investidores internacionais em energia “limpa”: em especial nas áreas de etanol, de biodiesel e de bioeletricidade. Em curto prazo, isto representará mais oportunidades para as indústrias de equipamentos. Em médio prazo, deverá haver uma maior integração dos setores industrial e agrícola, com a criação de uma indústria de bioenergia de grande potencial econômico para o país. No mercado mundial, as tarifas de energia elétrica dos principais competidores industriais tendem a aumentar, pois há forte componente de gás natural e óleo na produção de eletricidade nesses países. No Brasil, a principal fonte produtora de energia elétrica é hidráulica, cuja tecnologia de construção é dominada há décadas. Com isso, era de se esperar que as tarifas de energia elétrica no país ficassem relativamente estáveis. Ao contrário dessa expectativa, as tarifas de energia para o setor industrial vêm crescendo acima dos índices de inflação, com impacto direto sobre a competitividade da indústria. Este aumento de preços temtrês componentes principais: encargos setoriais, incidentes sobre o valor da tarifa, tarifas de transporte nas distribuidoras e custo de nova capacidade de geração. A participação de energias renováveis na matriz energética brasileira é de 45%, enquanto a média mundial é de apenas 14%. A participação tende a crescer, se for mantido o papel de “âncora” da hidroeletricidade e se for consolidada a indústria de bioenergia no país. Esta situação ambiental favorável deveria garantir as condições para a expansão do parque gerador hidroelétrico sem maiores impedimentos. O quadro atual é justamente o inverso, podendo ser descrito como de impasse e de enfrentamento. As dificuldades para licenciamento ambiental, por exemplo, levaram à virtual paralisação dos investimentos em produção de energia hidroelétrica. Em outras áreas, como o licenciamento de gasodutos, também foram observadas dificuldades e atrasos. Uma das consequências perversas desta situação é que vem sendo mais fácil obter licenças ambientais para usinas termoelétricas a óleo diesel, ou que utilizam outro combustível, que para usinas hidroelétricas. Apesar das dificuldades conjunturais de abastecimento, especialmente restrições no suprimento de gás natural e atrasos no cronograma de construção de centrais geradoras, o Brasil está bem posicionado no setor energético, valendo destacar os seguintes pontos: 50 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES » Participação de fontes renováveis: a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira é três vezes maior que a média mundial. Há possibilidade de manter as fontes tradicionais (hidroeletricidade) e ainda aumentar a participação de novas fontes renováveis como a cogeração, a biomassa e o biodiesel. » Integração dos setores energéticos: o primeiro exemplo é a transformação de usinas de açúcar e álcool em complexos de bioenergia, com produção integrada de açúcar, de álcool, de eletricidade, de créditos de carbono e (em alguns casos) de biodiesel. O segundo é a integração dos setores de infraestrutura e de produção de eletricidade e gás. A rede de transmissão e os reservatórios das usinas hidroelétricas podem ser usados como infraestrutura virtual de transporte e armazenamento de gás natural. » Segurança energética e integração regional: o Brasil encontra-se em situação quase ideal de segurança energética, com autossuficiência em petróleo, gás natural e produção de energia elétrica. Esta segurança pode, e deve, ser usada para promover a integração energética da região sul-americana, com base em novo modelo institucional e comercial que otimize os benefícios econômicos e permita, ao mesmo tempo, reduzir os riscos geopolíticos por meio da diversificação das parcerias. A posição geográfica do País e a possibilidade de integração das redes de eletricidade e de gás permitem que o Brasil se transforme em um polo importante neste processo de integração. A combinação destes fatores torna o país muito atraente para investimentos externos e possibilita o aumento da competitividade da indústria. Aproveitar estas oportunidades é tarefa complexa e traz desafios importantes nas áreas da política energética, desenvolvimento institucional e política ambiental. 51 CAPÍTULO 3 Reservas, produção e consumo Pelo menos 1,2 bilhão de pessoas vivem sem energia no mundo e a cota das energias renováveis no consumo global aumentou em 20 anos, diz estudo feito pelo Banco Mundial e pela Agência Internacional da Energia (AIE). Segundo o relatório, houve “progressos lentos” dos anos 1990 aos dias atuais. (Agência Brasil, Publicação: 29/5/2013, web site Correio Braziliense). “Despite much talk by world leaders and despite a boom in renewable energy over the last decade, the average unit of energy produced today is basically as dirty as it was 20 years ago.” (Maria Van der Hoeven, Diretora da IEA – International Energy Agency, Abril/2013) Atualmente, há uma diversidade de fontes de energia classificadas em renováveis e não renováveis. Renováveis são aquelas que continuam disponíveis depois de utilizadas, isto é, que não se esgotam. Como exemplo, temos a energia solar, a biomassa, a energia eólica, a energia geotérmica, entre outras. Quanto as não renováveis, estas são limitadas e demoram milhões de anos para se formar, isto é, esgotar-se-ão e não serão repostas (o petróleo, o gás natural, o carvão mineral e o urânio, por exemplo). O carvão é uma complexa e variada mistura de componentes orgânicos sólidos, fossilizados ao longo de milhões de anos, como ocorre com todos os combustíveis fósseis. Sua qualidade, determinada pelo conteúdo de carbono, varia de acordo com o tipo e o estágio dos componentes orgânicos. A turfa – de baixo conteúdo carbonífero – constitui um dos primeiros estágios do carvão, com teor de carbono na ordem de 45%; o linhito apresenta um índice que varia de 60% a 75%; o carvão betuminoso (hulha) – mais utilizado como combustível – contém de 75% a 85% de carbono; e o mais puro dos carvões, o antracito, apresenta um conteúdo carbonífero superior a 90%. Da mesma forma, os depósitos variam de camadas relativamente simples e próximas da superfície do solo – e, portanto, de fácil extração e baixo custo – a complexas e profundas camadas, de difícil extração e custos elevados. 52 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES O consumo de carvão cresceu 5,4% em 2011, e agora é responsável por 30,3% do consumo mundial de energia, a mais alta taxa atingida desde 1969. Podemos destacar o crescimento do consumo na China (9,7%) em detrimento da redução em países como Estados Unidos e Japão. A produção de carvão no mundo cresceu 6,1%, impulsionada pela China (8,8%) (BP Statistical Review of World Energy, 2012). No Brasil, as principais reservas de carvão mineral estão localizadas no sul do país, notadamente no Estado do Rio Grande do Sul, que detém mais de 90% das reservas nacionais. No final de 2002, as reservas nacionais de carvão giravam em torno de 12 bilhões de toneladas, o que corresponde a mais de 50% das reservas sul-americanas e a 1,2% das reservas mundiais. O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos que tem origem na decomposição de matéria orgânica, causada pela ação de bactérias em meios com baixo teor de oxigênio. Ao longo de milhões de anos, esse material decomposto foi acumulado no fundo dos oceanos, mares e lagos, e – pressionada pelos movimentos da crosta terrestre (altas temperaturas e pressões) – transformou-se na substância oleosa denominada petróleo. Essa substância é encontrada em bacias sedimentares específicas, formadas por camadas ou lençóis porosos de areia, arenitos ou calcários. Embora conhecido desde os primórdios da civilização humana, somente em meados do século XIX (Segunda Revolução Industrial) teve início a exploração de campos e a perfuração de poços de petróleo. A partir de então, a indústria petrolífera teve grande expansão, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. O consumo mundial de petróleo cresceu 0,6 milhões b/d (barris por dia) ou 0,7%, alcançando 88 milhões b/d em 2011. Esse foi o maior crescimento apresentado dentre os combustíveis fósseis, também impulsionado pelo aumento do consumo na China (+ 505.000 b/d, ou seja, um aumento de 5,5%). A produção mundial de petróleo aumentou em 1,1 milhões b/d (1,3%), em 2011. Esse crescimento se deve principalmente à Arábia Saudita (+ 1,2 milhões b/d) e aos Estados Unidos (+ 285.000 b/d) (BP Statistical Review of World Energy, 2012). Cerca de 2/3 das reservas provadas estão localizados no Oriente Médio, que responde por aproximadamente 6% do consumo mundial. Por outro lado, a América do Norte, que possui apenas 4,8% das reservas,é responsável por cerca de 30% do consumo mundial. 53 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Combustível fóssil encontrado em estruturas geológicas sedimentares, o gás natural está associado ao petróleo e, portanto, é esgotável e não renovável. É utilizado nos transportes, na termeletricidade e na produção industrial. O consumo de gás natural no mundo cresceu 2,2% em 2011, impulsionado principalmente pela América do Norte, China, Arábia Saudita e Japão. No entanto, na Europa observou- se uma redução do consumo, principalmente pelos altos preços, por um inverno não tão rigoroso e pelo crescimento contínuo do uso de energias renováveis. A produção mundial de gás natural aumentou em 3,1%, em 2011, devido, principalmente, ao crescimento observado nos Estados Unidos (+ 7,7%), maior produtor mundial. Qatar (+25,8%), Rússia (+3,1%) e Turcomenistão (+40,6%) também contribuíram para esse crescimento na produção. Líbia (-75,6%) e Reino Unido (-20,8%) influenciaram negativamente o crescimento mundial médio. (BP Statistical Review of World Energy, 2012). No Brasil, as reservas provadas são da ordem de 230 bilhões de m3, dos quais 48% estão localizados no Estado do Rio de Janeiro, 20% no Amazonas, 9,6% na Bahia e 8% no Rio Grande do Norte, onde se concentra a produção. A geração de energia hidrelétrica é realizada em barragens, dentro das quais se encontram geradores, cujas hélices são movidas pela água que escoa sob forte pressão. A eletricidade produzida pelos geradores é transmitida por cabos até os centros consumidores. Ao contrário das demais fontes renováveis, a hidrelétrica representa uma parcela significativa da matriz energética mundial e possui tecnologias de aproveitamento devidamente consolidadas. Segundo a edição 2007 do International Energy Outlook dos Estados Unidos, a geração hidroelétrica e outras fontes renováveis crescerão aproximadamente 56% nos próximos 24 anos. A geração hidroelétrica atualmente é responsável por cerca 19% da oferta elétrica mundial, sendo a oferta de outras energias renováveis ainda diminuta. É claro, portanto, que a energia de origem hidroelétrica continuará a ser uma importante fonte renovável no futuro. Atualmente, a capacidade instalada é da ordem de 730 GW, dependendo da fonte e do critério utilizado para aferição, significando cerca de 2.700 TWh. Em termos mundiais, a mesma fonte estima que 33% do potencial tecnicamente factível já foi explorado, havendo enormes discrepâncias. Enquanto a Europa e a América do 54 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Norte já desenvolveram quase todo o seu potencial, América do Sul, África e Ásia ainda apresentam um grande potencial a ser desenvolvido. Baseado em estudo do World Energy Council, pode-se estimar que o potencial tecnicamente disponível para aproveitamento hidráulico no mundo, dito recurso total, utilizando um fator de capacidade média de 40%, corresponde à cerca de 15.899 TWh/ano do valor teórico máximo de 40.700 TWh/ano para o mundo. Aproximadamente 65% desse recurso está concentrado em apenas 10 países, todos com potencial igual ou superior a 1.000 TWh/ano. Nesse ranking, o Brasil ocupa o terceiro posto, superado apenas por China e pelos Estados Unidos. Mesmo esse potencial ainda deve ser considerado um valor teórico. De fato, a quantidade de energia hidráulica efetivamente disponível depende de outros fatores relevantes. Entre esses fatores, podemos citar a topografia, o regime de chuvas, a tecnologia e, também, o período de efetivo funcionamento da instalação, quando integrada a um sistema elétrico. Ao valor estimado, considerando esses fatores, convencionou-se chamar de potencial tecnicamente aproveitável. A produção mundial de energia hidrelétrica cresceu 1,6% em 2011, o maior crescimento desde 2003. Isso se deve principalmente ao crescimento observado na América do Norte (+13,9%), em detrimento da redução observada na Europa e na China (BP Statistical Review of World Energy, 2012). A energia nuclear é proveniente da fissão de átomos de urânio em um reator nuclear. Apesar da complexidade de uma usina nuclear, seu princípio de funcionamento é similar ao de uma termelétrica convencional, na qual o calor gerado pela queima de um combustível produz vapor que aciona uma turbina, acoplada a um gerador de corrente elétrica. A produção de energia nuclear caiu 4,3% em 2011, a maior redução já observada, principalmente devido ao Japão (-44,3%) e a Alemanha (-23,2%). Fontes de energia renováveis verificaram uma mistura de resultados em 2011. A produção de biocombustíveis no mundo apresentou um crescimento de somente 0,7% (ou 10.000 b/doe, barris de óleo equivalente por dia ), o mais fraco crescimento apresentado desde 2000. O crescimento nos Estados Unidos (+55.000 b/doe, ou 10,9%) apresentou uma redução em comparação com os últimos anos, devido à aproximação do ponto ótimo de mistura entre etanol e gasolina. Além disso, a redução na produção brasileira foi a maior apresentada até o momento (-50.000 b/doe), principalmente devido à fraca colheita de açúcar. 55 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Por outro lado, energia renovável utilizada na geração de energia cresceu em torno de 17,7%, principalmente, devido ao crescimento robusto observado na energia eólica (+25,8%), principalmente nos Estados Unidos e Canadá. A geração de energia solar cresceu ainda mais rapidamente em 2011 (+86,3%), porém ainda representa uma fatia pequena de contribuição na matriz energética mundial. Os recursos energéticos impulsionam a expansão do capital e integram o capital constante circulante, o que os tornam indispensáveis ao capitalismo. O petróleo tem sido o mais importante desses recursos, relevância que, ao lado da expansão no consumo e da localização das principais reservas e estruturas de escoamento em áreas politicamente instáveis, assim como da forte concorrência, exige ver esse recurso como ingrediente central da geoeconomia e da geopolítica do capitalismo contemporâneo. 56 CAPÍTULO 4 Situação no Brasil A oferta interna de energia (total da energia demandada no país) cresceu 1,3% em 2011 ante 2010, atingindo 272,4 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep). Foi uma evolução menor do que a do PIB (soma de todas as riquezas produzidas no Brasil), que, conforme o IBGE, expandiu 2,7%. O menor crescimento da demanda de energia significa que a economia brasileira gastou menos energia para produzir a mesma quantidade de bens e serviços. A demanda de energia per capita ficou em 1,41 tep por habitante. (BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL 2012 – Ano Base 2011, Empresa de Pesquisa Energética – EPE, Ministério de Minas e Energia) “Não há, não houve, e espero que não haja, no futuro, o desabastecimento”. (Edison Lobão, Ministro de Minas e Energia do Brasil, Web site BBC, Janeiro/2013) Potencial hidrelétrico O Brasil faz parte do grupo de países em que a produção de eletricidade é maciçamente proveniente de usinas hidrelétricas. Essas usinas correspondem a 75% da potência instalada no país e geraram, em 2005, 93% da energia elétrica requerida no Sistema Interligado Nacional – SIN. Cumpre notar ainda que apenas cerca de 30% do potencial hidrelétrico nacional se encontra explorado, proporção bem menor do que a observada nos países industrializados. Com respeito a avaliações nacionais do potencial hidroelétrico brasileiro, estima-se que esteja em torno de 261,4 GW, em 2015. Petróleo Segundo a British Petroleum, as reservas provadas, que são aquelas de melhor estimativa possível com cerca de 90% de confiabilidade, até 2005 eram de 1,2 trilhões de barris no mundo. 57 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Os dados estatísticosda Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apresentam as “reservas totais”, que consideram o somatório de reservas provadas, prováveis e possíveis, sinalizando o limite superior da disponibilidade de reservas de petróleo. Segundo dados de 2006, de um total aproximado de 16 bilhões de barris em 2005, 91,6 % das reservas totais nacionais de petróleo se localizavam no mar (campos “offshore”), e o restante se localizava em campos terrestres. Três estados respondiam pela maior parcela de contribuição das reservas terrestres (onshore): Rio Grande do Norte (24,2%), Sergipe (26,3%) e Bahia (31,3%). Já as reservas brasileiras offshore situavam-se, basicamente, em estados da região sudeste: Rio de Janeiro (87,4%) e Espírito Santo (9,6%). A participação dos demais Estados era marginal. Quanto à longevidade das reservas provadas de petróleo, o principal indicador é a razão R/P (reserva/produção), situado em torno de 19 anos, em 2005, segundo a ANP. Este número indica que, mantida a relação entre reservas provadas e o ritmo de produção, as reservas disponíveis sustentam a produção de petróleo algo em torno de um período de 19 anos, aproximadamente. Ressalte-se que a razão R/P é dependente do ritmo de novas descobertas, da evolução dos métodos de recuperação do reservatório, da alteração dos preços da energia, como também do ritmo da demanda por derivados de petróleo. Este último depende, essencialmente, das condições de crescimento econômico e do perfil deste crescimento, isto é, sob que tecnologias e padrões de consumo se sustenta este crescimento. No que tange ao ritmo de descobertas, desde 1980, as reservas provadas nacionais têm crescido a um ritmo de 9,2% ao ano. Pré-sal O pré-sal é uma área de reservas petrolíferas encontrada sob uma profunda camada de rocha salina, que forma uma das várias camadas rochosas do subsolo marinho, numa extensão de cerca de 800 km entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo. A profundidade estimada da reserva é de 5 a 7 mil metros de profundidade, abaixo do nível do mar. Anunciado em 2007, o pré-sal é discutido desde a década de 1970, quando geólogos da Petrobrás já acreditavam nessa reserva, porém, ainda não possuíam tecnologias suficientes para pesquisas mais avançadas. 58 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES A reserva brasileira é uma das mais profundas encontradas no mundo e o maior campo petrolífero em regiões abaixo das camadas de rochas salinas. A descoberta do pré-sal mudou a perspectiva dos números de exploração e uso de petróleo no Brasil, uma vez que poderá levar ao aumento da participação de fontes não renováveis na matriz energética. Ao mesmo tempo, entretanto, o aumento do uso das fontes renováveis, especialmente a biomassa, eólica e solar, poderá contribuir para a neutralização dos impactos desse aumento de exploração do petróleo. Gás natural Segundo dados da ANP (2006), aproximadamente 75% das reservas brasileiras de gás natural se localizavam em campos offshore e 25% em campos onshore. Em termos de reservas de gás natural onshore, destacam-se as reservas localizadas em Urucu (AM), em uma região de difícil acesso no interior da floresta Amazônica. Cerca de 80% das reservas totais de gás natural são associadas a jazidas de petróleo, o que mantém a sua produção subordinada às condições de extração desse produto. Este fato foi um fator limitante da expansão da produção de gás natural no Brasil, superado com o crescimento da produção de gás não associado. Houve crescimento das reservas de gás natural offshore no Brasil e o decréscimo de reservas terrestres no período da última década. As perspectivas de maior oferta futura de gás natural no Brasil localizam-se no Espírito Santo, Bacia de Campos e, principalmente, Bacia de Santos. Existe ainda o desenvolvimento da produção de gás natural associado dos campos de Golfinho (gás natural associado; 2,7 milhões de m³/dia) e do Parque das Baleias (gás natural associado; 2,5 milhões de m³/dia). A Petrobrás e seus parceiros deverão investir cerca de US$ 18 bilhões, nos próximos 10 anos, em atividades de exploração e produção na Bacia de Santos. O Plano Diretor da Petrobrás prevê um acréscimo de cerca de 12 milhões de m³/dia no fornecimento de gás ao mercado do Sudeste, já a partir do segundo semestre de 2008. Até o final de 2010, esse volume elevou-se para, aproximadamente, 30 milhões de m³/dia, contribuindo significativamente para reduzir a dependência nacional do gás importado. 59 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Carvão mineral O carvão mineral é uma mistura de hidrocarbonetos que – de acordo com o Atlas da Energia Elétrica do Brasil (ANEEL, 2005) – é classificado de acordo com a sua qualidade em: turfa, de baixo conteúdo carbonífero, que constitui um dos primeiros estágios do carvão, com teor de carbono na ordem de 45%; linhito, que apresenta teor de carbono que varia de 60% a 75%; carvão betuminoso (hulha), mais utilizado como combustível, que contém entre 75% e 85% de carbono; e antrácito, o mais puro dos carvões, que apresenta um conteúdo carbonífero superior a 90%. Apesar de ser um combustível potencialmente poluente, o carvão deve continuar desempenhando um importante papel como fonte de energia no cenário mundial, devido à disponibilidade de enormes reservas que estão geograficamente espalhadas no mundo e ao desenvolvimento de tecnologias limpas de carvão (clean coal technologies). Tal característica livra o abastecimento energético das limitações geopolíticas ou de questões de segurança. Além disso, o carvão está disponível em uma grande variedade de formas e pode ser facilmente estocado nas proximidades dos centros consumidores. Mais do que isso, não depende de condições climáticas podendo ser utilizado como backup para geração eólica e hidrelétrica. Ademais, o investimento para a extração do carvão é cerca de 5 vezes inferior ao investimento necessário à extração do gás natural e cerca de 4 vezes inferior ao investimento para extração do petróleo, sendo o transporte de carvão também vantajoso por não necessitar de dutos de alta pressão ou rotas dedicadas. Biomassa A oferta de energia elétrica a partir da biomassa se dá por meio de diversas vias tecnológicas. As principais tecnologias que constituem as inovações disponíveis para viabilizar a melhoria do aproveitamento dos recursos energéticos da biomassa na geração de energia elétrica pelo setor sucroalcooleiro são: » Ciclo a vapor com turbinas de contrapressão, empregado de forma integrada a processos produtivos por meio da cogeração. » Ciclo a vapor com turbinas de condensação e extração, que podem operar de forma integrada a processos produtivos por meio da cogeração ou isoladamente. » Ciclo combinado integrado à gaseificação da biomassa. 60 UNIDADE II │ MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES Entre as possibilidades tecnológicas consideradas, o ciclo de cogeração a vapor com turbinas de contrapressão é o que apresenta maiores perspectivas de aplicação na expansão setorial. Os ciclos com turbinas de contrapressão privilegiam a eficiência energética pela elevação da eficiência geral da caldeira de geração de vapor, dos níveis de pressão e de temperatura desse vapor, que passa a patamares de 80 a 100 kgf/cm², podendo atingir valores de até 150 a 180 kgf/cm², um longo prazo, na medida do desenvolvimento tecnológico nacional. Além dos ganhos de eficiência do processo produtivo e da caldeira, nesses ciclos, as turbinas a vapor podem apresentar melhores especificações fluido-mecânicas e termodinâmicas, com maior número de estágios e melhores desempenhos. A segunda tecnologia em termos de potencialde penetração é a que adiciona um condensador ao sistema descrito, cuja função principal é permitir a expansão do vapor até pressões inferiores à atmosférica, elevando o aproveitamento da energia nele contida. No ciclo combinado integrado à gaseificação da biomassa, a eficiência é muito elevada. Por possuírem condensadores, apresentam, além disso, basicamente as mesmas vantagens e desvantagens do ciclo a vapor de condensação e extração. Essa tecnologia, contudo, ainda não está disponível comercialmente, ao menos nas escalas consideradas adequadas para integração às unidades de processamento da cana. Apesar disso e dos investimentos relativamente mais elevados que requer, essa tecnologia não deve ser descartada dentro de uma perspectiva de longo prazo. Estima-se que a capacidade potencial de geração de energia elétrica excedente, depois de atendidas as necessidades de consumo próprio das instalações do setor sucroalcooleiro, possa atingir, em 2030, a capacidade de 6.830 MW. Energia eólica O potencial eólico brasileiro tem despertado o interesse de vários fabricantes e representantes dos principais países envolvidos com essa tecnologia, mas a grande questão é o custo. A despeito da queda do custo unitário de investimento em razão da evolução rápida na curva de aprendizagem, o baixo fator de capacidade dessas centrais ainda faz com que o custo médio de geração seja elevado. 61 MATRIZ ENERGÉTICA NO TEMPO E AS DIVERSAS REGIÕES │ UNIDADE II Energia solar Na área da energia solar, há os sistemas fotovoltaicos, isolados ou integrados à rede, e os sistemas heliotérmicos. Os sistemas fotovoltaicos isolados tiveram ampla penetração no Brasil por meio de vários programas, totalizando, em 2004, mais de 30 mil sistemas instalados. O direcionamento para esses nichos de mercado – comunidades e cargas isoladas – poderá ser reduzido em função do aumento dos incentivos e do aumento de escala da geração fotovoltaica e, consequentemente, a queda nos preços. Já a energia solar fotovoltaica integrada à rede surge como uma grande promessa para a geração distribuída. Questões técnicas para seu emprego parecem equacionadas. Um dos aspectos importantes será normalizar questões essenciais da geração distribuída, nos aspectos de qualidade, segurança e proteção. Mas a maior dificuldade ainda reside no custo das células. 62 UNIDADE III CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Conceitos básicos de processos A excelência do desempenho e o sucesso no negócio requerem que todas as atividades inter-relacionadas da organização sejam compreendidas e gerenciadas segundo uma visão de processos. Onde há trabalho que tenha resultado, seja ele um produto ou serviço, há processo. Basicamente no processo, uma atividade ou um conjunto delas recebe uma entrada, processa, resultando então em um serviço ou produto – resultado objetivo para o cliente, ou consumidor –, ou ainda insumo para outro processo. As entradas e saídas dos processos podem ser bens tangíveis (materiais) e intangíveis (conhecimento e informação). Embora seja constituído por atividades previamente definida, um processo apresenta início e fim claramente determinados. Gestão por processos Para realizar esse trabalho, é importante o planejamento de todas as atividades: » identificação dos processos chaves do negócio; » estabelecimento de objetivos e metas que devem ser cumpridas com a gestão por processos; » desenvolvimento de um plano de trabalho com objetivos, atividades, recursos necessários, fases do projeto, produtos e resultados de cada fase pretendida; prazos de entrega e equipe de trabalho; » prever análises críticas periódicas e revisões. É fundamental que sejam conhecidos os clientes desses processos, seus requisitos e o que cada atividade adiciona de valor na busca de atendimentos a esses requisitos conhecidos e desenvolvidos. 63 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Os processos podem ser identificados pelos modelos: » Fluxo de materiais. » Fluxo de trabalho. » Etapas em série. » Coordenação de atividades. » Mudanças de estados. A essência dos processos é a integração entre atividades e utilização dos recursos visando resultados eficientes. Os processos são constituídos por atividades integradas – que se utilizam de pessoas, procedimentos e tecnologias – para gerar resultados, produtos, serviços, informações e conhecimento. Indicadores de desempenho organizacional Os indicadores de desempenho são ferramentas básicas para o gerenciamento do sistema organizacional e as informações que esses indicadores fornecem são fundamentais para o processo de tomada de decisão. Podemos definir esses indicadores como um conjunto de pessoas, processos, métodos e ferramentas que, conjuntamente, geram, analisam, expõem, descrevem, avaliam e revisam dados e informações sobre as múltiplas dimensões do desemprenho nos níveis individual, grupal, operacional e geral da organização (RATTON, 1999). A definição e utilização dos indicadores da organização pode ser bastante significativa para o sucesso da empresa, uma vez que podem ser usados como ferramentas da estratégia em diferentes níveis e departamentos organizacionais. Por isso, é importante que a organização utilize diversos indicadores para buscar informações, pois o uso de apenas um indicador não representa o contexto amplo necessário para fomentar tomadas de decisões. Todo sistema de medição de desempenho é formado por um conjunto de indicadores previamente estabelecidos que irão verificar o alcance ou não de determinados objetivos organizacionais. Essas medidas de desempenho devem nortear a estratégia da organização, para que todos os colaboradores compreendam o que é e quais são as ações dessas medidas para a obtenção de resultados. 64 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Essas medições são fundamentais para compreender o que está acontecendo, se há necessidade de realizar mudanças, avaliar o impacto das mudanças, corrigir problemas e fixar prioridades. Sem essas medições, não há o conhecimento de tudo isso. Indicadores de eficiência energética Os indicadores de eficiência energética poderão vir a contribuir na tomada de decisão dos governos e empresas em relação à fonte de energia que deseja incentivar ou utilizar e a escolha tecnológica. Além disso, poderá nortear na formulação de políticas públicas ambientalmente mais corretas, nas quais possam combinar e harmonizar preocupações econômicas e ambientais, promovendo o desenvolvimento sustentável. A energia é um insumo ou produto, dependendo do uso final, de extrema importância para o desenvolvimento de qualquer sociedade. A partir das restrições econômicas e ambientais e a dificuldade de substituição do petróleo e dos combustíveis fósseis para gerar energia, consagrou a importância do estudo e aplicação da eficiência energética em todos os níveis de produção, consumo e distribuição desta. Os critérios de escolha dos energéticos, para um determinado uso têm sido em função dos seguintes itens: tecnologia, preço, disponibilidade no local, segurança de fornecimento e minimização do investimento fixo nas instalações. Os indicadores de eficiência energética podem ser calculados de diversas formas. Atualmente, têm sido propostos cerca de 600 indicadores, para a composição do programa “Odyssee” (On-line Data base on Yearly Assetment of Energy Efficiency) da União Europeia, mas o número de indicadores calculado por cada país depende de suas necessidades específicas de informações. O mais importante, ao estudar e aplicar os indicadores de eficiência energética, é definir o tipo de macro e micro indicadores que serão utilizados e esclarecer as definições dostermos. Tal esclarecimento deve ser estendido, também, para os outros termos, como conteúdo energético, efeitos estrutura, atividade, substituição e todos os outros itens criados, utilizados, para determinar o indicador de eficiência energética para um país, indústria ou setor, já que estes ainda não estão padronizados mundialmente. Em relação ao desenvolvimento sustentável, os indicadores, em geral, mostram como a quantidade de energia foi aproveitada ou não, mas não revelam o valor da energia necessária para que os subprodutos e os resíduos gerados sejam corretamente destinados. Além disso, apresentam falhas no que diz respeito ao impacto causado pelas fontes de energia, uma vez que se preocupam somente com as emissões de CO2 relacionadas (dentre outras emissões geradas) e não consideram os efeitos em longo prazo nos ecossistemas. 65 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Tais indicadores – para serem bem-sucedidos quanto à sua aplicabilidade como instrumento de política ambiental e tecnológica – necessitam que os dados utilizados sejam os mais verídicos possíveis, para que o resultado seja o mais próximo da realidade. Tipos de indicadores de eficiência energética Os indicadores de eficiência energética podem ser classificados em: » Termodinâmico. » Físico-termodinâmico. » Econômico-termodinâmico. » Econômico. O primeiro grupo refere-se às análises segundo as leis da termodinâmica, da eficiência da transformação de uma forma de energia em outra (eficiência energética). O segundo avalia os insumos energéticos necessários para produzir um determinado bem ou serviço, nesse caso a energia que entra no sistema é mensurada em unidades termodinâmicas convencionais e a energia que sai do sistema, em unidades físicas, ou seja, o consumo específico de energia (energia que entra/tonelada de produto). O terceiro é um indicador híbrido no qual o produto do processo é mensurado a preços de mercado e a energia entra por unidades termodinâmicas convencionais. Já o quarto indicador mede as mudanças na eficiência energética, puramente, em valores monetários tanto da energia que entra, quanto da que sai do sistema. (ABREU, 2003). Existem também os microindicadores que podem ser definidos como microeconômicos. Estes englobam, nessa área de eficiência energética, os seguintes itens: » Comportamento do consumidor em relação ao preço da energia e a utilização de aparelhos mais eficientes. » Determinação dos custos marginais da energia, dos custos de capacidade e dos custos de expansão para uma estrutura desagregada (custo incremental unitário). » As implicações das variáveis do modelo de equilíbrio geral, que determinam os preços. » Curvas de oferta e demanda para a energia. » Previsão de demanda de energia. 66 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Os indicadores microeconômicos podem também utilizar-se das ferramentas de engenharia econômica, para medir o custo efetivo de investimentos de eficiência energética, como: o retorno do investimento, o custo de energia economizada (CEE), a taxa interna de retorno (TIR) e o custo do ciclo de vida (CCV) ou o custo de vida anual (CCVA). Esses métodos podem auxiliar o consumidor e as empresas a decidirem a tecnologia a ser adquirida e o melhor investimento. Os resultados da análise dos indicadores de eficiência energética podem ser utilizados também para os seguintes fins: » Direcionar as mudanças no consumo energético. » Estabelecer políticas de eficiência energética. » Estabelecer políticas ambientais. » Orientar estabelecimento do preço da energia. » Propiciar mudança no comércio dos bens energo-intensivos ou no produto final. » Indicar os impactos estruturais para melhorar a eficiência energética. » Servir de instrumento para mensurar o sucesso da política de negociação das reduções das emissões de CO2. Conceitos básicos de gestão Grande parte da energia consumida no mundo é proveniente de combustíveis fósseis – óleo, carvão mineral e gás. Com os custos de energia cada vez maiores, questões relacionadas a um fornecimento seguro e frequentes alertas da comunidade científica quanto às mudanças climáticas, a eficiência energética deve estar no topo de qualquer agenda corporativa. A gestão energética é, portanto, uma questão crítica para os negócios atuais. A gestão de energia efetiva pode ser atingida por meio da implementação de um Sistema de Gestão Energética com base na norma EN 16001 (ISO 50001), a nova norma de melhores práticas da indústria mundial. Essa norma foi desenvolvida com o intuito de melhorar a eficiência energética das organizações, fornecer uma gestão sistêmica visando redução de custos e de emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE e fornecer um sistema de gestão energética para todos os tipos e portes de organizações. 67 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Os principais princípios desta Norma são: » Utiliza terminologia consistente com as demais Normas de sistemas de gestão (ISO 14001, ISO 9001 e OHSAS 18001). » Combina requisitos e diretrizes. » Se ajusta aos sistemas de gestão da organização. O Sistema de Gestão Energética tem como objetivo, então, estabelecer uma Política Energética dentro da organização. Como todo Sistema de Gestão, conta com o comprometimento de todas as esferas da organização, do nível de operação até o nível de direção da empresa. A melhoria contínua é alcançada por meio da implantação do ciclo PDCA (Plan, Do, Check and Act), dividido nas seguintes etapas: » Planejamento: revisão inicial dos consumos de energia e identificação dos aspectos energéticos; identificação de oportunidades de melhoria, recursos necessários; definição das etapas de monitoramento e medição. » Comunicação interna e externa. » Definição dos objetivos, metas e programas energéticos. » Conscientização “energética” dos funcionários – treinamento e competência. » Laboração do plano de monitoramento e análise energética. 68 CAPÍTULO 1 As Normas ABNT NBR ISO 9001, ABNT NBR ISO 14001 e BS 8800 (OHSAS 18001) e suas interfaces A gestão de processos pode e deve ter seu início provocado por equipes formadas especificamente para esse fim ou por consultores independentes ou por empresas de consultoria, mas a partir do momento que os condutores do projeto consideram seu trabalho encerrado é a organização como um todo que assume a gestão. (ARAUJO, L. C. G., 2011) O mundo está em constante mudança e tanto as organizações quanto as relações de trabalho precisam acompanhá-las. A quantidade e rapidez das informações, além das ações antrópicas intensas criou a necessidade de repensar as ações empresariais. Atualmente, é importante dentro de uma organização ter uma visão mais holística do ambiente, analisando todos os fatores que vão além das paredes de uma empresa para se conseguir obter vantagens competitivas em relação ao mercado atuante. Os sistemas de gestão tornaram-se um caminho eficiente para trabalhar com todas as variáveis que permeiam qualquer tipo de organização, que possibilitam o gerenciamento de todos os processos e atividades da empresa a partir de normas técnicas aplicáveis. Ao atuar com um sistema integrado de Gestão da Qualidade (ISO 9001), Gestão Ambiental (ISO 14001) e Gestão da Segurança e Saúde Ocupacional (OSHAS 18001), uma organização passa a conhecer e controlar grande parte das variáveis micro e macro ambientais que possui, além de ter condições de retroalimentar essas informações, tornando-se mais eficiente e competitiva do que seus concorrentes. O controle e monitoramento das atividades e uma gestão voltada para a redução e economia do consumo de recursos materiais e naturais, que promove açõespara beneficiar a saúde ocupacional dos funcionários, gerando um ambiente mais produtivo e saudável, gera benefícios enormes para uma organização, como por exemplo: » melhoria da imagem da empresa junto ao mercado e aos clientes. » melhoria do desemprenho organizacional e aumento da produtividade. » redução dos custos operacionais e administrativos. 69 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III » melhorias ambientais que beneficiam a todos. » vantagens em relação aos concorrentes, entre outras. A necessidade das empresas demonstrarem esse compromisso, por meio de certificações de acordo com normas técnicas, atualmente é um processo irreversível para as organizações. A introdução das preocupações com a qualidade, que trata a ISO 9001 com a introdução da norma ISO 14001 e a preocupação com a certificação ambiental trouxe a necessidade de se criar os Sistemas Integrados de Gestão. Mas esse sistema não seria completo sem a introdução das questões de preservação da saúde e segurança no trabalho (SST) dos trabalhadores e colaboradores envolvidos, vindo com a OHSAS 18001. Essa complementação passou a assegurar a qualidade total dos processos produtivos e competitividade das organizações (ALBUQUERQUE, 2016). “Concluo destacando a importância do entendimento deste tripé (pessoas x processos x tecnologia). Sempre que tiramos um dos apoios de um tripé o que acontece? Pois é… o que está em cima não se sustenta.” (RUBENS LOPES CASTRO, 2008) Por serem importantes para a organização e para os sistemas de gestão destas, vamos descrever as normas citadas anteriormente. Inicialmente, vamos descrever os processos que envolvem a criação e aplicação das ISO 9001 e 14001, além da OHSAS 18001. Só assim é possível compreender a gênese dos processos de SGI para a criação e desenvolvimento da ISO 50001. O que é a ABNT? A Associação Brasileira de Normas Técnicas é uma entidade sem fins lucrativos e de utilidade pública fundada em 1940. É o foro nacional de normalização do país e membro fundador da International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização – Isso), da Comisión Panamericana de Normas Técnicas (Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas – Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (Associação Mercosul de Normalização – AMN). Desde a sua fundação, é também membro da International Electrotechnical Commission (Comissão Eletrotécnica Internacional – IEC). A ABNT é responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT NBR), elaboradas por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE). 70 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Além disso, atua na avaliação da conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Esta atividade está fundamentada em guias e princípios técnicos internacionalmente aceitos e alicerçada em uma estrutura técnica e de auditores multidisciplinares, garantindo credibilidade, ética e reconhecimento dos serviços prestados. Veja mais em: <http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt>. Norma ISO 9001: 2015 A principal referência em qualidade nas empresas é a ISO 9001, um conjunto de normas que visa orientar a implementação e manutenção de um Sistema de Gestão de Qualidade (SGQ). Ela é de longe a estrutura de qualidade melhor estabelecida, sendo utilizada atualmente por mais de 750 mil organizações em 161 países, e define o padrão não só para sistemas de gestão da qualidade, mas também para sistemas de gestão em geral. Esta norma ajuda todos os tipos de organizações a obter sucesso por meio de uma melhora na satisfação dos seus clientes, da motivação dos colaboradores e da melhoria contínua. Criada em 1987, a ISO 9001 sofreu pequenas alterações ao longo do tempo, visando apenas aclarar alguns pontos e tornar as normas mais compreensíveis para seus usuários (empresários, diretores, gerentes e técnicos). Em 2015, foi lançada uma atualização da norma, fortalecendo o papel da gestão de risco como elemento importante para trabalhar a melhoria continua. A ação corretiva corresponde a um risco não identificado, erroneamente qualificado ou mal gerido. A ação preventiva se antecipa ao risco. Quais são os benefícios da aplicação dessa norma? » Avaliar o contexto geral da sua empresa ou indústria para definir quem é impactado por sua atividade e o que eles esperam de você. Isto permite a definição de objetivos e identifica novas oportunidades de negócios. » Colocar seu cliente em primeiro lugar, garantindo a satisfação de suas necessidades de forma consistente e superando as suas expectativas. Essa ação pode resultar em retorno de clientes, novos clientes e, consequentemente, aumentando a possibilidade de negócios para sua empresa. 71 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III » Atender aos requisitos legais e regulamentares. » Trabalhar de maneira eficiente, visto que todos os seus processos estarão alinhados e entendidos por todos na empresa. Isso leva ao aumento de produtividade e eficiência, reduzindo assim os custos internos. » Expandir para novos mercados, uma vez que alguns setores e clientes exigem a ABNT NBR ISO 9001 antes de iniciar algum tipo de relacionamento comercial. » Identificar e tratar riscos associados à sua empresa. A série ISO 9000 de Normas consiste de: » ISO 9000 – fundamentos e vocabulário: esta norma introduz o usuário aos conceitos de sistemas de gestão e especifica a terminologia usada. » ISO 9001 – requisitos: esta norma define os critérios que você terá que cumprir caso deseje operar de acordo com a norma e obter a certificação. » ISO 9004 – Diretrizes para melhoria de desempenho: baseada nos oito princípios de gestão da qualidade, estas diretrizes são desenvolvidas para serem usadas pela alta administração como uma estrutura para guiar as suas organizações em direção à melhoria de desempenho, ao levar em conta as necessidades de todas as partes interessadas, não somente dos clientes. Esta Norma não inclui requisitos para outros sistemas de gestão, tais como aqueles específicos à gestão ambiental, gestão de segurança e saúde ocupacional, gestão financeira ou de risco. Entretanto, possibilita a organização e o alinhamento, ou a integração de seu sistema de gestão da qualidade com outros requisitos de sistemas de gestão relacionados. É possível a uma organização adaptar seus sistemas de gestão existentes para estabelecer um sistema de gestão da qualidade que cumpra com os requisitos desta Norma. Objetivo e campo de aplicação Esta norma especifica requisitos para um sistema de gestão da qualidade, quando uma organização: 72 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO a. Necessita demonstrar sua capacidade para fornecer de forma coerente produtos que atendam aos requisitos do cliente e requisitos regulamentares aplicáveis. b. Pretende aumentar a satisfação do cliente por meio da efetiva aplicação do sistema, incluindo processos para melhoria contínua do sistema e a garantia da conformidade com requisitos do cliente e requisitos regulamentares aplicáveis. Sistema de gestão da qualidade Afinal, o que é gestão de qualidade? Basicamente, a ABNT NBR ISO 9001 se baseia em 7 princípios de gestão de qualidade (ABNT, 2015): 1. Foco no cliente: atender as necessidades dos clientes é o alicerce da gestão de qualidade, pois contribui para o sucesso da própria organização. 2. Liderança: é importante a organização ter um direcionamento unificado, com uma liderança que deve contribuir para que, além de cumprir os objetivos, transmita a gestão de qualidade paratodos de dentro da organização. 3. Comprometimento da equipe: esse comprometimento é importante para implementar a gestão e gerar mais valor aos seus clientes, a partir de equipes competentes, dedicadas e qualificadas. 4. Processo de abordagem: assegurar que pessoas, equipes e processos estejam familiarizados com as atividades da empresa e como elas se conectam acabará melhorando a eficiência da empresa. 5. Melhoria: deve ser contínua para que a organização consiga reagir às mudanças no seu ambiente interno e externo e continuar gerando valor aos seus clientes. 6. Decisão baseada em evidências: a possibilidade de obter os resultados esperados é maior se suas decisões forem baseadas na análise e na avaliação de dados. 73 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III 7. Gestão de relacionamento: identificar os relacionamentos importantes com partes interessadas, como fornecedores, por exemplo, e estabelecer um plano para administrá-los levará ao sucesso contínuo da empresa. Como implantar a norma em uma empresa ou organização? Há muitas maneiras de uma empresa implementar um sistema de qualidade, mas há perguntas e ações que devem ser feitas antes de buscar a implementação que são fundamentais para identificar as características da empresa (ABNT, 2015): » Definir objetivos: por que implementar a norma? » Assegurar que a gestão esteja alinhada e que todos da empresa estejam apoiando a iniciativa de implementação. » Identificar os principais processos de sua empresa para atender seus objetivos e as necessidades dos clientes. Requisitos gerais A organização deve estabelecer, documentar, implementar e manter um sistema de gestão da qualidade e melhorar continuamente a sua eficácia de acordo com os requisitos desta norma. Requisitos de documentação A documentação do sistema de gestão da qualidade deve incluir: a. Declarações documentadas da política da qualidade dos objetivos da qualidade. b. Manual da qualidade. c. Procedimentos documentados requeridos por esta norma. d. Documentos necessários à organização para assegurar o planejamento, a operação e o controle eficazes de seus processos. e. Registros requeridos por esta Norma. 74 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Manual da qualidade A organização deve estabelecer e manter um manual da qualidade que inclua: a. O escopo de sistema de gestão da qualidade, incluindo detalhes e justificativas para quaisquer exclusões. b. Os procedimentos documentados estabelecidos para o sistema de gestão da qualidade, ou referência a eles. c. A descrição da interação entre os processos do sistema de gestão da qualidade. Controle de documentos Os documentos requeridos pelo sistema de gestão da qualidade devem ser controlados. Os Registros são um tipo especial de documento e devem ser controlados de acordo com os requisitos apresentados na norma. Controle de registros Registros devem ser estabelecidos e mantidos para prover evidências da conformidade com requisitos e da operação eficaz do sistema de gestão da qualidade. Registros devem ser mantidos legíveis, prontamente identificáveis e recuperáveis. Um procedimento documentado deve ser estabelecido para definir os controles necessários para identificação, armazenamento, proteção, recuperação, tempo de retenção e descarte dos registros. Adicionalmente, a ISO 9001 foi desenvolvida para ser compatível com outras normas e especificações de sistemas de gestão, tais como a ISO 14001 de Meio Ambiente e a OHSAS 18001 de Saúde Ocupacional. Elas podem ser integradas perfeitamente por meio de Gestão Integrada. Estas normas compartilham muitos princípios comuns, portanto, a escolha de um Sistema de Gestão Integrada pode agregar um excelente valor pelo investimento, além de benefícios da comunidade de usuários. Criada em 1987, a ISO 9001 teve atualizações e adaptações nos anos de 1994, 2000 (quando combinava as normas 9001, 9002 e 9003 em uma única norma), 2005, 2008 (quando trouxe uma maior compatibilidade com a família da ISO 14000, e as alterações realizadas trouxeram maior compatibilidade com as suas traduções e um melhor entendimento e interpretação de seu texto). 75 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Em 2015, ocorreu sua mais recente atualização, com uma abordagem mais modernizada. Os requisitos e a ordem das cláusulas foram revisados, não afetando o conteúdo em si, mas sim algumas denominações e termos. A revisão da estrutura da norma introduz o conceito de gestão de risco, sendo que a qualidade deve resultar da gestão adequada desses riscos. Em contrapartida, o risco pode gerar oportunidades e esse conceito de incerteza positiva também é contemplado na norma. A gestão de risco significa trabalhar no sentido da melhoria contínua. A ação corretiva corresponde a um risco não identificado, erroneamente qualificado ou mal gerido. A ação preventiva se antecipa ao risco (LEAD, 2015). A norma, originalmente redigida para os setores de manufatura e indústria, obteve tanto sucesso que muitas organizações de outras áreas adotaram a norma. Por isso, a revisão de 2015 leva em consideração essas alterações, simplificando sua implementação em todas as organizações, incluindo a de serviços. A revisão já não exige que as organizações certificadas mantenham um manual de qualidade atualizado. No entanto, elas precisam estar cientes que o requisito da documentação ainda é parte da norma. A abordagem de processos e o PDCA (Plan-Do-Check-Act/Planejar-Executar-Controlar- Agir) continuam sendo dois pilares essenciais. Figura 9. PDCA – Ferramenta utilizada para fazer planejamento e melhoria de processos. Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-dpaKFoNbl6k/TvIQvtvWm1I/AAAAAAAAAM4/fQqNm-yASaM/s1600/pdca2.png>. Acesso em: 19/10/2016. 76 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Essas mudanças não excluem os controles e terminologias utilizadas pelas organizações certificadas com a ISO 9001:2008, que terão validade até 2018. No período de manutenção, elas devem passar por nova auditoria de recertificação a fim de validar o certificado na versão 2015. Como obter a certificação da norma? O processo de certificação não é obrigatório e é preciso avaliar se ele faz sentido para determinadas organizações. Muitas empresas se beneficiam pelos processos da norma, sem se certificar oficialmente. Apesar disso, a formalização muitas vezes é importante para as relações comerciais da organização com seus clientes. Para realizar a certificação, é importante encontrar um órgão certificador credenciado e competente para realizar tal oficialização. Norma ISO 14001:2015 A ISO14001 foi criada a partir da Conferência de Estocolmo em 1972, quando foi feito um apelo às indústrias para o desenvolvimento e adoção de sistemas de gestão que levassem em conta as questões ambientais. Ela é uma norma internacionalmente reconhecida, a qual define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do impacto ambiental; com o comprometimento de toda a organização. Com ela é possível que sejam atingidos ambos objetivos. A ABNT NBR ISO 14001 pode adequar-se a todos os tipos e tamanhos da empresa. Ela exige que estas considerem todas as questões ambientais relativas às suas operações, como a poluição do ar, questões referentes à água e ao esgoto, a gestão de resíduos, a contaminação do solo, a mitigação e adaptação às alterações climáticas e a utilização e eficiência dos recursos. Para muitas empresas, obter a certificação da ISO 14001 é uma demanda de mercado, uma vez que demonstra seu comprometimentocom práticas sustentáveis e padrões internacionais de gestão ambiental. Além disso, possibilita a integração com os demais sistemas de gestão já implementados pela empresa ou a serem implementados, como, por exemplo, a ISO 9001. 77 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III É importante lembrar que, assim como todas as normas de sistemas da gestão, a ABNT NBR ISO 14001 inclui a necessidade de melhoria contínua dos sistemas de uma empresa e a abordagem de questões ambientais. A norma reconhece que organizações podem estar preocupadas tanto com a sua lucratividade quanto com a gestão de impactos ambientais. Ela integra estes dois motivos e provê uma metodologia altamente amigável para conseguir um Sistema de Gestão Ambiental efetivo. Na prática, o que a norma oferece é a gestão de uso e disposição de recursos. É reconhecida mundialmente como um meio de controlar custos, reduzir os riscos e melhorar o desempenho. O que está na ISO 14001 » Requisitos gerais. » Política ambiental. » Planejamento da implementação e operação. » Verificação e ação corretiva. » Análise crítica pela administração. Isto significa que devem ser identificados os aspectos do negócio que impactam o meio ambiente e atendida à legislação ambiental relevante a cada situação. O próximo passo é preparar objetivos para melhoria e um programa de gestão para atingi-los, com análises críticas regulares para melhoria contínua. O sistema deve ser auditado periodicamente, após a empresa ter sido certificada, por intermédio de um órgão certificador. Para quem ela é relevante? Impactos ambientais estão se tornando um tema cada vez mais importante no mundo, com pressão para minimizar esse impacto principalmente de autoridades governamentais locais e nacionais, órgãos reguladores, associações comerciais, clientes, colaboradores e acionistas. As pressões sociais também aumentam em função da crescente gama de partes interessadas, tais como consumidores, organizações ambientais e não governamentais de minorias (ONGs), universidades e vizinhos. 78 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Então, a ISO 14001 é relevante para todas as organizações, incluindo desde: » Sites únicos até grandes companhias multinacionais. » Companhias de alto risco até organizações de serviço de baixo risco. » Indústrias de manufatura, de processo e de serviço; incluindo governos locais. » Todos os setores da indústria incluindo setores públicos e privados. » Montadoras e seus fornecedores. A série ISO14001:2015 substitui a versão anterior de 1996 e a de 2004, revisada e atualizada. Vale lembrar que as normas ISO devem passar, a cada cinco anos, por um processo de revisão, a fim de definir se norma deve ser mantida, aprimorada ou até cancelada. A norma ISO 14001 teve sua publicação inicial em 1996 e foi revisada em 2004, antes da última revisão de 2015. A nova versão tem um período de transição de 3 anos a partir de sua publicação. Após este período, os certificados emitidos com base na ISO 14001:2004 não serão mais válidos. Entre as principais mudanças estão: » A definição mais detalhada da alta direção, e modo a tornar o SGA mais estratégico e integrado com a tomada de decisões da organização. Assim, os gestores de meio ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social podem ter maior interação com a alta direção. » Os termos “documento” e “registro” passam a se denominados “informação documentada. » Exigência de considerar os impactos ambientais que permeiam toda a cadeia de valor, bem como a consideração de questões relativas ao ciclo de vida. » A revisão atual introduz o termo “condição ambiental”, que é definido como “mudanças ambientais de longo prazo que podem afetar as atividades, os produtos e os serviços da organização, exigindo adaptações”. O principal objetivo dessa definição é fazer com que as organizações reflitam sobre os impactos do meio ambiente nas próprias empresas. 79 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III » Um requisito específico para demonstrar os riscos e as oportunidades ambientais dentro da cadeia de suprimentos. » Revisão vai exigir que a organização considere, de forma mais proativa, a comunicação externa relativa a questões ambientais e que demonstre um controle muito maior sobre como utiliza e gerencia os dados ambientais. » Anteriormente, havia um requisito de avaliação de conformidade, mas a atualização requer a demonstração exata de como a conformidade é avaliada e registrada. » Aumento do foco em melhorias contínuas com uma cláusula específica, alinhada com a política estabelecida pela alta direção, de modo que diminua a margem para interpretações equivocadas. A nova versão especifica três compromissos que devem estar contemplados na política ambiental da organização: proteção ao meio ambiente, atendimento aos requisitos legais e fortalecimento do seu desempenho ambiental. Esses três compromissos são abordados em requisitos específicos ao longo de toda a norma, com a finalidade de que o SGA seja implementado e mantido de forma coerente. Uma das principais mudanças é que a política ambiental da organização deverá conter um compromisso com a proteção ao meio ambiente, o que inclui a prevenção da poluição e outros importantes para cada tipo de organização. Isso surge uma vez que as organizações são influenciadas no que tange à qualidade do ar, disponibilidade de água e sua qualidade, mudanças climáticas etc., e, por isso, essa proteção ambiental está diretamente relacionada com a sua competitividade e produtividade. Um elemento importante inserido é o de contexto da organização (item 4). O entendimento sobre a organização e o contexto em que está inserida é importante para a definição de como deve ser o sistema de gestão. Neste processo, a organização deverá estabelecer fatores internos e externos relevantes para seu negócio, os quais podem afetar a habilidade de atingir resultados esperados do Sistema de Gestão. Além disso, deverá identificar as partes interessadas (seja eles governo, clientes, fornecedores, empregados, ONGs etc.) e ver quais são relevantes à organização, compreendendo suas necessidades e expectativas, individualmente. Todo o processo de entendimento da organização e do seu contexto resultará em um conhecimento que será base para a definição do escopo do sistema de gestão, bem como orientar a implementação, a manutenção e o processo de melhoria contínua do Sistema de Gestão. 80 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Exemplos de compromissos relacionados à proteção ao meio ambiente (FIESP, 2015). » Prevenção da poluição: eliminação ou redução, passando por design e uso eficiente de recursos e materiais, reutilização, reciclagem, recuperação. » Proteção da biodiversidade, habitats e ecossistemas: por meio da conservação direta no local, compensações ou, indiretamente, por meio do processo de compra, como a compra de materiais de fontes sustentáveis. » Mitigação das mudanças climáticas: evitar ou reduzir emissões de gases de efeito estufa da organização. O item 6, que se refere ao Planejamento, na nova estrutura exige que as organizações se planejem para agir sobre seus aspectos ambientais significativos, requisitos legais e outros requisitos e também oportunidades. Em relação aos aspectos ambientais, a organização deve considerar o ciclo de vida dos processos, ou seja, considerando desde a aquisição de matéria-prima, desenvolvimento, produção, distribuição, uso e destinação final. Dentre estes aspectos, a organização deverá determinar quais são significativos e propor formas de controle. Exemplos de requisitos legais e outros requisitos. Requisitos legaisrelacionados aos aspectos ambientais da organização: » Leis e regulações. » Condicionantes de licenças etc. Requisitos de partes interessadas, os quais a organização deve ou escolhe adotar: » Acordos com órgãos públicos ou clientes. » Princípios voluntários ou códigos de conduta. » Rótulos ou compromissos ambientais voluntários etc. No item 8 – Operação – são apresentados requisitos para planejamento e controle operacional dos processos importantes para atender aos requisitos do SGA. 81 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Há um novo item que trata da Avaliação do Desempenho – que agrega itens da versão anterior de 2004, como monitoramento, medição, auditoria interna e análise crítica. Na prática, não houve mudanças significativas entre a nova versão e a versão anterior da norma (FIESP, 2016). Alguns itens serão descritos a seguir: » Requisitos do Sistema de Gestão Ambiental. » Requisitos gerais. A organização deve estabelecer, documentar, implementar, manter e continuamente melhorar um sistema da gestão ambiental em conformidade com os requisitos desta norma e determinar como ela irá atender a esses requisitos. A organização deve definir e documentar o escopo de seu sistema da gestão ambiental. Política ambiental Na versão de 2004, o item “e” foi separado sendo criado o item “f” para comunicar aos que trabalhem na organização assim como àqueles que atuem em seu nome, aumentando o universo da comunicação. Dessa forma, o item 5.2 surge com o seguinte texto: A alta administração deve definir a política ambiental da organização e assegurar que, dentro do escopo definido de seu sistema da gestão ambiental, a política: a. seja apropriada à natureza, escala e impactos ambientais de suas atividades, produtos e serviços, b. inclua um comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção de poluição, c. inclua um comprometimento em atender aos requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização que se relacionem a seus aspectos ambientais, d. forneça uma estrutura para o estabelecimento e análise dos objetivos e metas ambientais, e. seja documentada, implementada e mantida, 82 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO f. seja comunicada a todos que trabalhem na organização ou que atuem em seu nome, e g. esteja disponível para o público. Planejamento No item inicial, referente aos Aspectos Ambientais, foi introduzida na nova versão a identificação dos aspectos ambientais dentro do escopo do sistema. Ainda neste item, onde anteriormente se mencionava que os aspectos sejam considerados na definição dos objetivos e metas, nesta versão a orientação é mais abrangente e diz que os aspectos ambientais significativos sejam considerados no estabelecimento, na implementação e na manutenção do sistema da gestão ambiental. Objetivos Anteriormente, o item integrado Objetivo, Metas e Programas compunha a norma. Na nova versão, ele foi desmembrado para: Objetivos ambientais e planejamento para alcança-los (item 5.2), Objetivos ambientais (6.2.1), Planejando ações para alcançar os objetivos ambientais (6.2.2), Apoio – implementação e operação O item 4.4, implementação e operação foi substituído pelo item Apoio (item 7). O item Avaliação (4.5) foi alterado para Avaliação de Desempenho (item 9). Veja as alterações da ISO 14001:2015 aqui: <http://www.abnt.org.br/ publicacoes2/category/146-abnt-nbr-iso-14001?download=396:introducao-a- abnt-nbr-isso-10014-2015>. Outras normas da série 14000 que podem ser úteis (ABNT, 2015): » ISO 14004 oferece orientações desde a incorporação, implementação e manutenção até a melhoria do sistema de gestão ambiental, bem como a adaptação deste a outros sistemas de gestão. » ISO 14006 é destinada a empresas que implementaram um sistema de gestão ambiental em conformidade com a ABNT NBR ISO 14001, mas pode integrar a concepção ecológica a outros sistemas de gestão. 83 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III » ISO 14064-1 estabelece os princípios e os requisitos em nível organizacional para a quantificação e comunicação das emissões e compensação de gases de efeito estufa (GEE). Norma BS 8800:2004 (OHSAS 18001:2007) A BS 8800 é uma norma de origem inglesa voltada para a gestão da saúde e segurança ocupacional, passível de auditoria e certificação. É um guia de diretrizes bastante genéricas que se aplica tanto a indústrias complexas, de grande porte e altos riscos, como a organizações de pequeno porte e baixos riscos. Levou cerca de quinze meses para ser discutida e aprovada oficialmente, sendo estruturada pelo órgão Britânico de Normas Técnicas denominado British Standards, entrando em vigor no dia 15 de maio de 1996. Em Julho de 2004, a BSI publicou uma nova versão desta norma de forma a ter a evolução de outros referenciais de sistemas de gestão, mas mantendo as mesmas características da versão de 1996. No desenvolvimento da BS 8800, não havia modelos pré-estabelecidos para o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho. Entretanto, o comitê britânico responsável pela elaboração da norma, a fim de obter consenso das partes envolvidas, desenvolveu duas abordagens para a utilização do guia: uma baseada no HSE Guidance – Successful Health and Safety Management – HS(G) 65 (já adotada amplamente no Reino Unido), e outra, baseada na ISO 14001 sobre Sistemas de Gestão Ambiental. A orientação apresentada em cada abordagem é essencialmente a mesma, sendo a única diferença significativa sua ordem de apresentação. Desenvolveremos a abordagem baseada na norma ISO 14001, por ser ela uma norma internacional. A BS 8800 busca auxiliar a minimização dos riscos para os trabalhadores, melhorar o desempenho dos negócios e estabelecer uma imagem responsável perante o mercado. Quais são as etapas para a implementação da BS 8800? Primeiramente, é importante o comprometimento da administração (superação de dificuldades, investimentos, tempo, recursos, treinamento e pessoal). É interessante designar um coordenador para se especializar e concentrar as atividades nessa implementação. 84 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO É necessária também a realização de um plano de treinamento adequado e de uma Política de Segurança, que deve ser divulgada constantemente para os colaboradores a fim de introduzir a cultura da segurança na organização como um todo. A criação de um Plano de Trabalho a fim de implantar as ações e requisitos da norma se faz necessário, a partir da formação de grupos de trabalho e de formação de auditores internos de segurança. A realização de auditorias internas, aliás, é necessária e, por isso, é importante que a documentação esteja regular assim como as atividades citadas na norma. Caso sejam detectadas não conformidades, é necessário implantar ações corretivas para posteriormente selecionar a entidade certificadora que fará uma auditoria externa e certificará a organização. A implantação desta norma é importante para, além de minimizar os riscos para os colaboradores e melhorar os desempenhos nos negócios, criar uma imagem positiva e responsável da organização para com clientes e colaboradores. A OHSAS (Occupational Health and Safety Assesment Series – Série de Avaliação da Segurança e Saúde do Trabalho) é um conjunto de diretrizes criadas e publicadas em resposta às necessidades das empresas internacionais que visavam padronizar e certificar suas empresas em nível global. Entrou em vigor em 1999, após estudos de um grupo de organismos certificadores e de entidades de normalização da Irlanda, Austrália, África do Sul, Espanha e Malásia. Ela foi desenvolvida para preencher uma lacunada ausência de uma norma internacional para saúde e segurança ocupacional. A versão atual dessa norma é a OHSAS 18001:2007, que foi adotada como uma Norma Britânica, tornando-se a BS OHSAS 18001:2007. Essa norma prescreve um Sistema de Gestão de Saúde Ocupacional e Segurança compatível com a ISO 14001, apoiado nas mesmas ferramentas do ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act) de melhoria contínua. Esta compatibilidade permite a unificação de ambas as normas e a integração com as normas da série ISO 9000, formando uma poderosa ferramenta de gestão para a empresa. Apesar de não ser uma norma ISO, a OHSAS 18001 obteve aceitação global. Nos últimos anos, houve um rápido aumento no uso da OHSAS 18001 e de suas versões, que foram adotadas por cerca de 40 países. Pesquisas recentes apontam que foram concedidas aproximadamente 90.000 certificações credenciadas em mais de 127 países, e um desejo premente das empresas e partes interessadas em adotar uma norma internacional. 85 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Esta norma visa auxiliar as empresas a controlar os riscos de acidentes no local de trabalho. É uma norma para sistemas de gestão da Segurança e da Saúde no Trabalho (SST). A certificação por essa norma garante o compromisso da empresa com a redução dos riscos ambientais e com a melhoria contínua de seu desempenho em saúde ocupacional e segurança de seus colaboradores. A OHSAS 18001:2007 é mais compatível com a ISO 14001 e ISO 9001, incluindo conceitos modernos e comprovados de segurança e saúde ocupacional e trazendo uma melhor definição de seus termos e conceitos. A norma OHSAS 18001:2007 especifica um modelo de Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SST) que pode ser aplicado a qualquer tipo de empresa, independentemente da sua dimensão. Aspectos chaves da OHSAS » Identificação de Perigos para a organização. » Avaliação dos riscos. » Determinação, priorização e implementação de controles. » Monitoramento e análise da efetividade dos controles. » Melhoria contínua. Figura 10. Principais aspectos da OHSAS. Fonte: VEZZANI (2011). Disponível em: <http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/13179/material/ Normas%20BS%208800%20OHSAS%2018.001.ppt> Acesso em: 24/10/2016. 86 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO A especificação da Série de Avaliação de Segurança e Saúde Ocupacional (OHSAS) fornece os requisitos para um sistema de gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (SSO), permitindo que uma organização controle seus riscos de SSO e melhore seu desempenho. Esta especificação não fixa critérios de desempenho específicos de SSO, como também não fornece especificações detalhadas para o projeto de um sistema de gestão. Esta especificação da OHSAS se aplica a qualquer organização que procura: a. Estabelecer um sistema de gestão de SSO para eliminar ou minimizar os riscos aos empregados e outras partes interessadas que possam estar expostas aos riscos de SSO associados a suas atividades. b. Implementar, manter e melhorar continuamente um sistema de gestão de SSO. c. Garantir a organização de sua conformidade com os requisitos da política de SSO estabelecida. d. Demonstrar tal conformidades a terceiros. e. Buscar a certificação/registro de seu sistema de gestão de SSO por uma organização externa. f. Realizar uma autoavaliação e declaração de conformidade com esta especificação da OHSAS. Todos os requisitos desta especificação da OHSAS foram planejados para serem incorporados a qualquer sistema de gestão de SSO. A extensão da aplicação irá depender de fatores como a política de SSO da organização, da natureza de suas atividades e dos riscos e complexidade de suas operações. Esta especificação da OHSAS tem como propósito principal buscar a segurança e saúde ocupacional e não a produtos e serviços seguros. Elementos do Sistema de Gestão da SSO Um dos principais itens da OHSAS, o item 4, aborda a melhoria contínua dos elementos da gestão bem-sucedida da SSO, conforme a figura 11. 87 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Figura 11. Elementos da gestão bem-sucedida da SSO. Fonte: <http://pt.slideshare.net/FelipeCrisstomo/ohsas-18002-diretrizes >. Acesso em: 19/10/2016. Deve existir uma política de Segurança e Saúde Ocupacional, autorizada pela alta administração da organização, que estabeleça claramente os objetivos globais de segurança e saúde e o comprometimento para melhorar o desempenho da SSO. A política deve: a. ser apropriada à natureza e escala dos riscos de SSO da organização; b. incluir o comprometimento com a melhoria contínua; c. incluir o comprometimento com o atendimento, pelo menos, à legislação vigente de Segurança e Medicina do Trabalho aplicável, e a outros requisitos subscritos pela organização; d. ser documentada, implementada e mantida; e. ser comunicada a todos os funcionários, com o objetivo de que eles tenham conhecimento de suas obrigações individuais em relação a SSO; f. esteja disponível para as partes interessadas;seja periodicamente analisada criticamente, para assegurar que ela permanece pertinente e apropriada à organização. Objetivos A organização deve estabelecer e manter documentado os objetivos de Segurança e Saúde Ocupacional, para cada função em nível relevante da organização. Estes devem ser quantificados sempre que praticável. 88 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Durante o estabelecendo e a análise crítica dos objetivos, uma organização deve considerar a legislação e outros requisitos, seus perigos e riscos de SSO, suas opções tecnológicas, suas finanças, requisitos operacionais e de negócios, e a visão das partes interessadas. Os objetivos devem ser consistentes com a política de SSO, incluindo o comprometimento com a melhoria contínua. Programa(s) de gestão de SSO A organização deve estabelecer e manter (um) programa(s) de gestão de SSO para alcançar seus objetivos. Este deve incluir documentação com: » A designação das responsabilidades e autoridades para o alcance dos objetivos em funções e níveis relevantes da organização; » Os meios e prazos pelo qual tais objetivos sejam alcançados. O programa(s) de gestão de SSO deve(m) ser analisado(s) criticamente em intervalos regulares e planejados. Onde necessário, o(s) programa(s) de gestão de SSO deve(m) ser revisados para atender mudanças nas atividades, produtos, serviços, ou condições operacionais da organização. Implementação e operação (item 4.4) Outro item importante da OHSAS, sobre sua implementação e operação, é ilustrado a seguir: Figura 12. Política de Segurança e Saúde Ocupacional. Fonte: <http://pt.slideshare.net/FelipeCrisstomo/ohsas-18002-diretrizes>. Acesso em: 19/10/2016. Os subitens contemplados estão descritos a seguir. 89 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III Estrutura e responsabilidade As funções, responsabilidades e autoridades do pessoal que gerencia, desempenha e verifica atividades que têm efeito sobre os riscos de SSO das atividades, instalações e processos da organização devem ser definidas, documentadas e comunicadas, a fim de facilitar a gestão da Segurança e Saúde Ocupacional. Segundo a norma, a responsabilidade da SSO é da alta administração. Treinamento, conscientização e competência A competência deve ser definida em termos de educação apropriada, treinamento e/ou experiência. Consulta e comunicação A organização deve ter procedimentos para assegurar que as informações pertinentes de SSO são comunicadas para e a partir dos funcionários e de outras partes interessadas, sendo que essas comunicações devem ser documentadas e informadas aos interessados.Documentação A organização deve estabelecer e manter informação, em um meio adequado como papel ou formulário eletrônico, que: » Descreva os elementos mais importantes do sistema de gestão e suas interações; » Forneça orientação sobre a documentação relacionada. Controle de documentos e dados A organização deve estabelecer e manter procedimentos para controlar todos os documentos e dados requeridos por esta especificação da OHSAS para assegurar que: a. eles possam ser localizados; b. eles sejam periodicamente analisados criticamente, revisados quando necessário e aprovados quando adequados, por pessoal autorizado; c. versões atuais de documentos e dados relevantes estejam disponíveis em todos os locais onde sejam essenciais para o efetivo funcionamento do sistema de SSO; 90 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO d. documentos e dados obsoletos sejam prontamente removidos de todos os pontos de emissão e uso ou, de outra forma, garantidos contra o uso não intencional; e. o arquivo de documentos e dados retidos por motivos legais ou de preservação do conhecimento adquirido ou ambos, sejam devidamente identificados. Controle operacional A organização deve identificar aquelas operações e atividades associadas aos riscos identificados, em que as medidas de controle necessitam ser aplicadas. A organização deve planejar tais atividades, inclusive manutenção, de forma a assegurar que sejam executadas sob condições específicas. Preparação e atendimento a emergências A organização deve estabelecer e manter planos e procedimentos para identificar o potencial e atender a incidentes e situações de emergência, bem como para prevenir e reduzir as possíveis doenças e lesões que possam estar associadas a eles. A organização deve testar periodicamente esses procedimentos. Deve-se realizar verificação e ação corretiva, conforme determina o item 4.5, a partir dos procedimentos a seguir: Monitoramento e medição do desempenho A organização deve estabelecer e manter procedimentos para periodicamente monitorar e medir o desempenho de SSO. Estes procedimentos devem fornecer: » Medidas qualitativas e quantitativas apropriadas às necessidades da organização. » Monitoramento do grau de atendimento dos objetivos de SSO da organização. » Medidas proativas do desempenho que monitorem a conformidade com os programas de gestão de SSO, critérios operacionais, legislação aplicável e regulamentos aplicáveis. 91 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III » Medidas reativas do desempenho para monitorar acidentes, doenças, incidentes (incluindo quase-acidentes) e outras evidências históricas de deficiências no desempenho de SSO. » Registro de dados e resultados do monitoramento e medição suficientes para facilitar a posterior análise das ações corretivas e preventivas. Se for requerido equipamento para monitoramento e medição de desempenho, a organização deve estabelecer e manter procedimentos para a calibração e manutenção de tal equipamento. Registros das atividades de calibração e manutenção e os resultados devem ser mantidos. Acidentes, incidentes, não conformidades e ações preventivas e corretivas A organização deve estabelecer e manter procedimentos para definir responsabilidade e autoridade para: a. tratar e investigar acidentes, incidentes e não-conformidades; b. tomar ações para mitigar quaisquer consequências originadas de acidentes, incidentes ou não conformidades; c. iniciar e concluir a ações preventivas e corretivas; d. confirmar a eficácia das ações preventivas e corretivas tomadas. Estes procedimentos devem requerer que toda ação preventiva e corretiva proposta seja analisada criticamente durante o processo de avaliação de riscos antes de sua implementação. Registros e gestão de registros A organização deve estabelecer e manter procedimentos para identificação, manutenção e disposição dos registros de SSO, bem como dos resultados de auditorias e análises críticas. Os registros de SSO devem ser legíveis, identificáveis e rastreáveis as atividades envolvidas. Os registros de SSO devem ser arquivados e mantidos de maneira que possam ser rapidamente recuperados e sejam protegidos contra danos, deterioração ou perda. O tempo de retenção deve ser estabelecido e registrado. 92 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Registros devem ser mantidos, de acordo com a necessidade do sistema e da organização, para demonstrar conformidade com esta especificação da OHSAS. Auditoria A organização deve estabelecer e manter um programa de auditorias e procedimentos para a execução de auditorias periódicas do sistema de gestão de SSO, a fim de determinar se o sistema de gestão de SSO: a. Está conforme com as disposições planejadas para a gestão de SSO, incluindo os requisitos desta especificação da OHSAS. b. Está sendo devidamente implementado e mantido. c. É eficiente no atendimento à política e aos objetivos da organização. Além disso, deve analisar criticamente os resultados das auditorias anteriores e fornecer informação sobre os resultados das auditorias para a administração. Análise crítica pela administração A alta administração da organização, em intervalos por ela pré-determinados, deve analisar criticamente o Sistema de Gestão da SSO, devendo abordar a eventual necessidade de alterações na política, nos objetivos e outros elementos do Sistema de Gestão da SSO, à luz dos resultados de auditorias do mencionado Sistema, da mudança das circunstâncias e do comprometimento com a melhoria contínua. Lembrando que essa análise deve ser documentada. Sistemas de Gestão Integrada (SGI) O Sistema de Gestão Integrada é um conjunto de processos, procedimentos e práticas que a organização escolhe implementar buscando o aumento da eficiência por meio da melhoria da qualidade, redução dos riscos ao meio ambiente e à saúde e segurança dos colaboradores envolvidos com a organização, além do uso eficiente dos recursos naturais. Essas ações têm uma aceitação por parte do público em geral, agregando valor à organização diante de seus clientes e colaboradores. A adoção do SGI numa organização tem como objetivo, dessa forma, além da diminuição dos acidentes, impactos ambientais e redução dos custos, aumentar o valor dos produtos ou serviços oferecidos, o sucesso no segmento de mercado ocupado, por meio da melhoria contínua dos resultados operacionais, a satisfação dos funcionários com a 93 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III organização e da própria sociedade com a contribuição social da empresa e o respeito ao meio ambiente (MORAES et al., 2013). Essas preocupações normalmente são colocadas em segundo plano pelas organizações, em detrimento às questões econômicas. Entretanto, o cenário atual de competitividade e dinamismo faz com que seja necessário planejar o desenvolvimento destas organizações baseado nos princípios de saúde, segurança, qualidade e meio ambiente e, por isso, elas estão procurando inserir as temáticas no seu planejamento estratégico (MORAES et al., 2013). Essas demandas podem ter importância estratégica para a organização, criando preferências ou barreiras mercadológicas que fazem com que quem não está inserido e qualificado diante desses fatores, como saúde, segurança, qualidade e meio ambiente, tenha dificuldades de negociação ou venda, por exemplo. O estabelecimento de um SGI para uma organização começa pelo comprometimento da alta direção em entender que este processo será benéfico, mas que, para isso, a organização terá trabalho e custos os quais, posteriormente, serão compensados com a melhoria contínua. A busca pela melhoria contínua é trilhada no estabelecimento de indicadorespara a qualidade, para o meio ambiente e para a saúde e segurança do trabalhador. Atualmente, não há uma certificação específica para SGI e, por isso, as certificações citadas anteriormente, ISOs 9001, 14001 e OHSAS 18001 são os sistemas de gestão alicerces do SGI, trabalhando de forma integrada para a implantação na organização. Com a publicação das normas citadas, a adoção do SGI se tornou mais fácil, uma vez que essas normas foram feitas para serem usadas de forma conjunta. Os Sistemas Integrados de Gestão (SIGs, ou Sistemas de Gestão Integrada), como são chamados, visam à integração dos processos de Qualidade com os de Gestão Ambiental e/ou de Segurança e Saúde no Trabalho, dependendo da atividade fim da organização. Isso gera também um ganho econômico, visto que a manutenção de 3 sistemas separados (qualidade, meio ambiente e SST) gera um custo muito maior do que um SIG, independente do tamanho da empresa. Além disso, não faz muito sentido ter procedimentos similares para os processos de planejamento, treinamento, controle de documentos e dados, aquisição, auditorias internas, análise crítica etc., tanto para qualidade, meio ambiente e/ou SST. Estabelecer metas de produtividade faz com que as organizações maximizem sua eficiência. 94 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO Quais são os principais benefícios do sistema de gestão integrado (MORAES et al., 2013)? » Melhoria de qualidade e aumento da produtividade em produtos e serviços. » Otimização dos processos de trabalho e, consequentemente, a economia de tempo e custos. » Transparência dos processos internos e diminuição da burocracia interna com a gestão de documentos. » Fortalecimento da imagem da empresa ante os clientes e colaboradores e aumento na participação no mercado. » Melhoria do relacionamento com todas as partes interessadas (clientes, colaboradores, fornecedores, sociedade, meio ambiente e acionistas) Diminuição de custos com prevenção de acidentes, uso eficiente de recursos naturais e gestão de qualidade. » Benefícios ambientais com a economia e uso eficiente dos recursos naturais. » Redução dos custos de seguros, com a prevenção de acidentes e melhorias em segurança do trabalho. Há muitos outros benefícios secundários da adoção e implementação do SGI por parte das organizações. A melhoria do know-how no mercado em que está inserido e a agregação de valores ao que se é produzido, sem dúvida, são benefícios importantes para que a organização tenha nessa prática um ganho econômico, além de socioambiental e de qualidade. O controle sobre a utilização das matérias-primas e insumos, bem como a definição dos reais objetivos e metas, ajuda a otimizar os processos e trazer reduções significativas no desperdício, por exemplo, de resíduos sólidos, de água, efluentes, emissões atmosféricas, entre outros casos. A diminuição de custos com saúde, com a redução da frequência e gravidade de acidentes ocorridos é, além de importante para a integridade de todos os colaboradores, fundamental para a organização. Há a questão mercadológica que, para muitos, é essencial para a efetividade do SGI. Com a implementação, as possibilidades de aumento de relações comerciais com novos clientes, locais ou regionais, aumentam consideravelmente, além do valor agregado em 95 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III produtos e serviços prestados. O marketing positivo é o reflexo da imagem de empresa comprometida com ideais que vão além do que se produz. Além desses, vale lembrar que, ao implementar um SIG, as empresas estarão atendendo também às Legislações Ambientais e às Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho vigentes. Auditorias de Sistemas de Gestão Integrada de Qualidade, Saúde, Segurança e Meio Ambiente (SGI) O propósito das Auditorias difere um pouco quando tratamos cada uma das normas no que se refere a quem pode e deve auditar, o ideal é que a equipe auditora seja formada por 1 auditor de Sistema e Gestão da Qualidade, 1 de Segurança e Saúde Ocupacional, e 1 de Sistema de Gestão Ambiental, e contínua e sistematicamente, monitorar a efetividade do sistema de Gerenciamento da Qualidade. Isto inclui Auditorias que cobrem todos os elementos do sistema e todas as áreas funcionais, as quais devem, no mínimo, serem auditadas uma vez ao ano. Porém, a recomendação é que isto ocorra, pelo menos, duas vezes ao ano. Quando o Sistema de Gestão Integrada da organização estiver maduro (o que leva de 2 a 5 anos) projetos, produtos e processos poderão ser incluídos nos processos de Auditorias Internas Contínuas. A auditoria é uma forma compreensiva para prover feedback, pontual e valioso aos Gerentes em relação a todo o Sistema de Gestão Integrado. Os resultados da auditoria podem ser usados como áreas alvos para ações de melhoria e subsequentemente, facilitar os planos de melhoria contínua. As auditorias internas podem ser divididas em: » Sistema – auditando a efetividade do sistema de gerenciamento. » Processo – auditando processos (produção ou serviço, preenchimento de ordem, atendimento ao cliente etc.). » Produto – auditando produtos (ou serviços) contra especificações. » Projeto – auditando projetos quanto a sua inteira perfeição. 96 UNIDADE III │ CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO As razões para a realização de auditorias incluem: » Verificação da conformidade do Sistema em relação aos requisitos das normas de referência. » Crescimento de reclamações oriundas de uma área específica. » O fato de estar especificada em contrato com clientes. » Verificação da eficácia das ações corretivas e preventivas implementadas. Sobre ações corretivas e preventivas O propósito de uma ação preventiva sistêmica e eficaz é de assegurar que a causa ou as causas de uma não conformidade potencial (falha e ou defeito de Sistema ou de produto/serviço), em relação ao SGQ, de um impacto ambiental negativo em relação ao SGA e de um acidente em relação ao SGSSO, está(ão) identificada(s), analisada(s) e resolvida(s) visando prevenir a ocorrência desse problema. O que se espera de um Sistema de Gestão Integrada é que, à medida que ele amadureça, o número de ações corretivas tenham uma tendência de queda, enquanto que o número de ações preventivas, terá uma tendência de crescimento. A sucessão de ações corretivas e preventivas possibilita para a organização a identificação de tendências que podem encaminhar ao rastreamento de problemas, aspectos e perigos em desenvolvimento de processos ou em produtos. Análise crítica pela direção Tem como propósito avaliar, periodicamente, o status do Sistema de Gestão Integrada implementado, quanto a sua eficiência e eficácia. A Análise Crítica pela Direção inclui foco nas Auditorias Internas e Auditorias Externas. Além disso, deve levar em consideração: » O número e tipo de reclamações de clientes. » Número de ações corretivas e preventivas. » Não conformidades, aspectos/impactos e perigos/riscos causados pelos fornecedores, bem como a performance destes; provisão de recursos relativos a iniciativas em prol da Qualidade, Meio Ambiente e SSO. 97 CONCEITOS BÁSICOS: PROCESSOS, INDICADORES, GESTÃO │ UNIDADE III » Adequação e análise de planos, bem como dos objetivos traçados em relação às metas definidas (seu atingimento ou não); ações oriundas da última reunião de análise crítica e o desenvolvimento de ações para melhoria. Concluindo, fica claro que a integração dos elementos auditoria, ações corretivas e preventivas e análise crítica pela alta direção compõem a base para a melhoria contínua de um SGI de qualquer que seja a organização. No fundo, esta é a razão pela qual, a cada auditoria para manutençãode um Sistema de Gestão Integrada Certificado, estes elementos são verificados. Por meio da auditoria destes quatro elementos, os auditores estarão avaliando se o Gerenciamento do Sistema de Gestão Integrada é efetivo e constantemente monitorado, avaliado e melhorado pela organização por meio de sua alta direção. 98 UNIDADE IV ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO As mudanças climáticas foram um fator relevante para se pensar no uso mais racional da energia, adequando o uso ao meio ambiente. As variações do preço da produção de energia, a dependência internacional de petróleo, as questões ambientais relacionadas à energia, como as mudanças climáticas, as energias renováveis e não renováveis são muitos dos tópicos relacionados ao tema em todos os setores da sociedade. Este recurso precisa, portanto, ser bem administrado em todos os seus estágios, ou seja, na geração, transporte/transmissão, distribuição e consumo. A forma como irão tratá-lo é de importância crucial, determinante para a sobrevivência das organizações e a economia dos países (PINTO, 2014). Por tudo isso, é possível afirmar que a eficiência energética pode ser um fator de reorientação da economia mundial. A melhoria da eficiência energética pode levar a uma redução de bilhões de dólares, somente na economia de combustível, confirmando não só a importância ambiental quanto econômica da questão. Por isso, a eficiência energética é vista como um grande paradigma para a resolução de questões como a harmonização da Economia, do Meio Ambiente aliado à segurança no abastecimento e qualidade no serviço (SOARES, 2015). Neste contexto, a isso, International Organization for Standardization, publicou em 2011 a norma “ISO 50001 – Energy Management Systems – Requirements with guidance for use”, que no Brasil teve como tradução a “ABNT NBR ISO 50001 – Sistemas de Gestão da Energia – Requisitos com orientações para uso”, publicada em 7 de julho de 2011. Os principais objetivos da criação da norma foram, além de permitir o estabelecimento de sistemas e processos para a melhoria do desempenho energético nas organizações, ser integrada a outros sistemas de gestão (por exemplo, a ISO 9001), além de ser aplicável a todos os tipos de organização. 99 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV A norma foi baseada em uma série de documentos internacionais. Até 2007, por exemplo, somente países como Dinamarca, Suécia, Irlanda e Estados Unidos tinham normas nacionais para gestão de energia. Nesse período, países como China e Holanda também desenvolviam normas próprias, além do Comitê Europeu para a Normalização (CEN) e o Comitê Europeu para a Normalização Eletrotécnica (Cenelec) que chegaram a formar um grupo de trabalho para desenvolver uma norma comum para a União Europeia. Espanha, Tailândia e Coreia do Sul terminaram suas normas em 2008, quanto Brasil e África do Sul começaram o processo de desenvolvimento de alguma norma (CUNHA, 2010). 100 CAPÍTULO 1 ABNT NBR ISO 50001– requisitos com orientações para uso A ISO 50001 foi publicada em 2011, mas as discussões sobre o tema para a criação dela começaram muito antes disso. Veja um breve histórico do processo de criação da norma (CARVALHO, 2016): » 2005: início das discussões sobre gestão da energia em diversos países. » 2006: engajamento da comunidade internacional nas discussões sobre o tema. » 2007: reunião da UNIDO – United Nations Industrial Development Organisation – determinando a necessidade de uma norma internacional. » 2008: primeira reunião em Washington DC – início ISO 50001 e elaboração WD (work draft). » 2009: reuniões no Rio de Janeiro e Londres – análise das sugestões e aprovação nível DIS (draft of international std). » 2010: reunião em Pequin, para a construção do texto final (final draft of international standard). » 2011: publicação ISO 50001 e ABNT NBR ISO 50001. Histórico Para compreender o conceito de gerenciamento de energia e de medidas para o uso eficiente deste recurso, é importante resgatarmos alguns passos relevantes na história em relação à exploração de energia. Há mais de um século, quando a eletricidade começou a ser empregada, tanto para a iluminação quanto para o uso na indústria, as fontes de energia utilizadas eram abundantes e utilizadas sem muito cuidado. Era utilizado principalmente carvão vegetal, mas outras fontes surgiram, como combustíveis fósseis e o uso da água como potencial energético. Nesse período, no início do desenvolvimento tecnológico do setor 101 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV e a popularização dele, não se preocupava com algum controle de uso, apenas com a expansão de sua exploração e fornecimento a toda a sociedade. As empresas que exploravam a energia estimularam fortemente o seu uso, como uma forma de expandir os negócios, seus clientes e, claro, seu lucro. Investia-se muito para obter retornos financeiros no período mais curto possível. Claro, a energia elétrica foi uma revolução! Permitiu um desenvolvimento como nunca visto, além de acelerar a produção industrial, aproximou mais as pessoas – pelos dos meios de transporte – ampliou infraestrutura e melhorou completamente a qualidade de vida da população. Mudou o comportamento de toda a sociedade mundial, especialmente nas ocidentais. Figura 13. A Revolução Industrial trouxe energia elétrica e muitas mudanças no mundo. Fonte: <https://wattsupwiththat.files.wordpress.com/2016/08/smokestacks-of-industrial-revolution.jpg>. Acesso em: 19/10/2016. Com isso, a vida se tornou mais fácil e ninguém mais abriria mão desse consumo energético intenso. O aumento da produção de energia, no entanto, não conseguiu crescer o suficiente para acompanhar o crescimento populacional e industrial por completo e o consumo seguro de energia ficou ameaçado. Um dos maiores problemas foi o aumento dos preços, que limitou o consumo a algumas pessoas. Segundo Cunha (2011), “em pouco mais de um século, o mundo viu a ascensão e a crise do nosso modelo elétrico, baseado em fontes energéticas não renováveis e, portanto, limitadas”. 102 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Desde muito tempo, portanto, somos ameaçados por crises de energia (como na Argentina e outros países da América e da África, por exemplo), por racionamentos (como em 2001 no Brasil). Agência Reuters – segunda-feira, 17 de agosto de 2009. (Reportagem de Wendell Roelf ) Não haverá cortes de energia durante a Copa, diz África do Sul. CIDADE DO CABO (Reuters) - O risco de blecautes durante a Copa do Mundo de 2010 está afastado porque a crise econômica mundial reduziu o consumo na África do Sul, disse a ministra da Energia do país, Dipuo Peters, nesta segunda-feira. A economia mais forte do continente está racionando energia desde janeiro do ano passado, quando a rede elétrica do país quase entrou em colapso, forçando minas e fundições vitais para a economia a fechar as portas por dias. Um programa para aumentar a capacidade de produção levará anos para ser finalizado e havia o temor de que a falta de energia pudesse afetar a Copa do Mundo, em junho e julho de 2010, quando são esperados 450 mil fãs e turistas. Mas Peters disse, em resposta por escrito ao Parlamento: “A turbulência na economia mundial deu um alívio extra pelo fato de o consumo de eletricidade ter se reduzido na África do Sul em relação ao ano anterior”. “O resultado é que temos margem de reserva suficiente para toda a Copa do Mundo de 2010,” disse ela,sem dar detalhes. Peters acrescentou que várias medidas de precaução foram adotadas para garantir que o problema não afete a Copa do Mundo [...]. A empresa de energia da África do Sul, a Eskom, tem planos de investir 385 bilhões de rands (47,15 bilhões de dólares) nos próximos cinco anos para elevar a capacidade do país. Fonte: <http://br.reuters.com/article/idBRSPE57G0C520090817>. Acesso em: 19/10/2016. Sem a combinação de planejamento, monitoramento de consumo e consciência de uso, a utilização de energia elétrica fica à mercê desses riscos. Por isso, as crises de energia, somado à preocupação ambiental e ao desenvolvimento sustentável, contribuíram 103 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV para o desenvolvimento e aceleração da adoção de ações de gerenciamento de energia, especialmente para empresas e indústrias, no qual se enquadra essa norma ISO 50001. Somado a isso, os países ocidentais sempre basearam suas economias em combustíveis fósseis não renováveis e limitados, especialmente o petróleo. A disputa por petróleo movimenta disputas políticas e de conflitos em todo o mundo até hoje. Para se ter ideia, desde 1951, o mundo vinha sofrendo com a dependência do petróleo que pertencia – e ainda pertence – a um grupo restrito de países. Neste ano, foi registrada a primeira e expressiva crise relacionada ao combustível, com a nacionalização dos poços iranianos pertencentes A uma empresa privada. Muitas crises surgiram até o chamada Primeiro Grande Choque do Petróleo, em 1973. Somente após o evento é que ações práticas começassem a ser tomadas, no sentido de gerenciar energia e mobilizar empresas relacionadas ao setor, desmistificando o fato pensado anteriormente da energia ser inesgotável. A ideia de conservação da energia surgiu nesse período. No Brasil Nesse período, o Brasil foi diretamente afetado economicamente, sofrendo impactos da elevação no preço da energia e da dependência que sofria “na época da crise, 80% do óleo bruto consumido no Brasil era importado” (CUNHA, 2011). Houve a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool) a fim de estimular uma mudança na matriz energética nacional a partir da produção de etanol vindo da cana-de-açúcar. O período marca também a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, introduzindo de vez a energia hidrelétrica – hoje a nossa principal fonte da matriz de energia. A indústria também se adaptava para diminuir os altos custos com energia. Segundo Cunha (2011), ainda na década de 1980, a General Motors do Brasil passou a monitorar os dados do consumo de energia elétrica em suas fábricas, ação inovadora no período. Mas as iniciativas eram pontuais, normalmente feitas por grandes empresas com grandes consumos de energia. Por parte do governo, ainda não havia iniciativas significativas até 1985, quando os ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio criaram o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), ampliado em 1991 para abranger todas as empresas do setor elétrico, que deveriam destinar 1% de sua receita em ações de conservação de energia. O programa objetiva promover a racionalização tanto da 104 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO produção quanto do consumo de energia, para evitar desperdícios e reduzir custos com isso. Entre 1985 e 2007, por exemplo, foram economizados 28,5 milhões de MWh no país, o que seria equivalente ao consumo de 16,3 milhões de residências, no custo aproximado de R$ 19,9 bilhões (CUNHA, 2011). Sem dúvida, o apagão sofrido em 2001, provocado por um déficit de geração de energia, foi um divisor de águas na gestão de energia. Tanto a consciência do consumidor quanto as ações de governo e empresas mudaram. Houve racionamento, com multas para quem consumisse mais do que a meta de redução de consumo e diversas ações de eficiência energética adotadas pela iniciativa privada especialmente contribuíram para o aumento da conscientização sobre o uso de energia, e o governo, por meio da ANEEL, passou a investir em resoluções e normas para contribuir com essa mudança no paradigma da energia. Crises brasileiras de energia elétrica (CUNHA, 2010) O setor elétrico brasileiro demorou cerca de 50 anos depois que começou a ser formado para ser regulamentado – as primeiras regras são da década de 1930 –, mas até que ele fosse reestruturado, na última década, ele passou por muitos problemas e viu o país viver muitas crises de abastecimento de energia antes da mais famosa de 2001, quando houve o racionamento de energia e a população sofria o medo do apagão elétrico. Antes disso, as principais crises energéticas nacionais foram: » 1985: crise na região Sul, devido à estiagem de chuva (reservatórios com índices de armazenamento inferiores a 40%). » 1986: racionamento no 1o trimestre de 1986, na região sul. Duração de três meses e meta de redução inicial de 20% no consumo. Houve extensão do horário de verão por mais 30 dias. » 1986: região sudeste sofreu grande risco de um racionamento de energia elétrica, com implantação de horário de verão em todo território nacional (de 2 de novembro de 1985 a 28 de fevereiro de 1986) e investimentos em termelétricas. » 1987: região nordeste, sul do Pará e norte de Goiás (hoje Estado do Tocantins) enfrentaram período de racionamento de energia devido ao baixo volume de água nos mananciais hídricos. Houve racionamento 105 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV de março de 1987 a janeiro de 1988, com meta de redução inicial de 15% no consumo de energia. » 2001: o racionamento foi provocado pelo déficit de geração de energia em comparação ao consumo, provocando um apagão em todo o país e a rediscussão sobre o setor elétrico, com reformulações a partir de então. No Brasil, o órgão federal do governo que regula e administra o setor de energia elétrica é a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Há diversos materiais de estudo, como balanços energéticos, mapas, notícias sobre leilões de energia, entre outros assuntos. Acesse e confira: <http://www. aneel.gov.br/>. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT coordenou a redação da Norma. Fundada em 1940, é uma entidade privada, sem fins lucrativos, de utilidade pública, membro fundador da ISO, da Comissão Pan-americana de Normas Técnicas (COPANT), Associação de Normalização do MERCOSUL (AMN) e da Comissão Internacional de Eletrotécnica (IEC). A entidade é responsável pela gestão do processo de elaboração de todas as Normas Brasileiras (voluntárias e baseadas em consenso). (PINTO, 2014). A ISO 50001 fornece uma base para as organizações implementarem um sistema eficaz de gestão de energia para atingir um melhor desempenho energético e comprar produtos e serviços que também sejam energeticamente eficientes. Nesse sentido, é preciso entender o que vem a ser Eficiência Energética para a norma. Ela entende o termo como uma relação quantitativa entre um desempenho, serviço bem ou energia e um consumo de energia, ou seja, a relação de energia necessária e energia utilizada, ou a relação entre o resultado e a energia consumida. É na relação entre o que se produz e o que gastamos para produzir que a questão da eficiência energética aparece. A ISO 50001 também apresenta uma definição de Energia como eletricidade, combustíveis, vapor, calor, ar comprimido e outras formas análogas. Ressalta ainda que energia refere-se às suas diversas formas, incluindo renováveis, que podem ser compradas, armazenadas, processadas, utilizadas em equipamentos ou em um processo, ou recuperadas, além dacapacidade de um sistema de produzir atividade externa ou realizar trabalho. 106 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Pode-se afirmar que “grande parte da eficiência energética conseguida nas organizações é obtida através da alteração dos processos de gestão da energia e não através da instalação de novas tecnologias” (SOARES, 2015). Cabe salientar que não há modelos ou fórmulas para que as organizações se tornem mais eficientes energeticamente e nem para que um Sistema de Gestão de Energia se torne eficaz. Isso depende da eficácia e da dedicação de implantação do sistema por parte da organização. O que diz a ISO 50001? A ABNT NBR ISO 50001:2011 especifica os requisitos para que as organizações estabeleçam, implementem, mantenham e melhorem o sistema de gestão da energia, o que possibilita às organizações realizar uma abordagem sistemática a fim de atingir a melhoria contínua do desempenho e eficiência energéticos, além de conservação da energia. A ISO auxilia também em questões burocráticas como documentações e relatórios, além da prática de projetos e aquisição de energia para desde equipamentos até o uso pessoal. Por isso, sua implementação acaba levando à redução de gastos com energia, mas também à diminuição de emissões de gases de efeito estufa, o que dá o caráter também ambiental à prática de economia de energia. A ISO 50001 pode ser aplicada a todos os tipos e portes de organizações, independente das condições geográficas, culturais e sociais e independentemente dos tipos de energia utilizados. Segundo a própria Norma, sua implementação, para ser bem-sucedida, dependerá do compromisso de todos os níveis e funções da organização, especialmente da alta direção. Basicamente, os requisitos gerais da ISO 50001 estabelecem (HUANG, 2011): » Compromisso com a melhoria contínua da eficiência energética. » Nomeação de uma pessoa qualificada para a gestão da energia. » Desenvolvimento de um plano de gestão da energia, uma vez que, se a gestão de energia não fizer parte da cultura organizacional da organização, as melhorias não conseguem ser implementadas. 107 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV » Avaliação dos maiores usos de energia na organização para desenvolver uma linha de base do uso da energia e estabelecer metas para melhoria. » Seleção de indicadores de desempenho energético a fim de moldar o desenvolvimento e a implementação do plano de ação. » Treinamento de funcionários para melhorar o desempenho energético nas práticas do dia a dia. Seguindo a NBR ISO 50001, vamos apresentar os requisitos gerais do sistema de gestão da energia, contida no item 4. Segundo o Item 4.1: “A organização deve estabelecer, documentar, implementar, manter e melhorar um SGE (Sistema de Gestão de Energia), bem como definir o seu escopo”. No item c, está descrito que cabe à organização determinar como serão cumpridos os requisitos da ISO 50001 “visando a melhoria contínua de desempenho energético e do SGE”. O item 4.2 aborda a responsabilidade da direção da organização, afirmando no item 4.2.1 que “a alta direção deve demonstrar seu comprometimento em apoiar o SGE e melhorar continuamente sua efetividade”. Para isso, determina que haja um representante e uma equipe de gestão de energia formada, bem como a comunicação organizacional da importância desse trabalho. Outra questão importante abordada está no item c (4.2.1), que estabelece o “provisionamento de recursos para estabelecer, implementar, manter e melhorar o SGE e o desempenho energético resultante”, entendendo o termo recurso como humano, financeiro, tecnológico etc. O item 4.3 aborda a Política Energética. Ela deve, segundo a ISO 50001, “declarar o comprometimento da organização para atingir a melhoria do desempenho energético”. Cabe à alta direção garantir que essa política seja apropriada à natureza e escala do uso e consumo de energia, incluindo o comprometimento em melhorias contínuas do desempenho energético, em fornecimento de estrutura para estabelecer e revisar objetivos e metas energéticas, apoio para aquisição de produtos energeticamente eficientes, assim como de serviços e projetos. Além de documentada e comunicada em todos os níveis da organização, essa Política Energética deve ser revisada e atualizada sempre que necessário. O item 4.4 aborda o Planejamento energético da organização. Este deve estar de acordo com a política energética e “deve levar a atividades que melhorem continuamente o desempenho energético”, revendo as atividades que possam comprometer esse desempenho. 108 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Na Norma, é representado, no anexo A.4.1, um diagrama conceitual para a compreensão desse processo, mas sem detalhes sobre uma organização específica; portanto, podem haver outros detalhes específicos da organização ou circunstâncias particulares. Figura 14. Diagrama conceitual de processo de planejamento energético. Entradas de Planejamento Revisão Energética Saídas de Planejamento Uso de energia Passado e presente - Variáveis relevantes que afetam o uso significativo de energia - Desempenho A. Analisar o uso e consumo de energia B. Identificar as áreas de uso significativo de energia e consumo C. Identificar oportunidades para melhorar de desempenho energético - Linha de Base Energética - IDE´s - Objetivos - Metas - Planos de Ação Fonte: NBR ISO 50001:2011. O item aborda os Requisitos Legais (item 4.4.2) relacionados ao uso e consumo de energia e eficiência energética nas quais a organização deve identificar, implementar e revisar periodicamente. No anexo A.4.2 da Norma, esses requisitos são definidos como aqueles internacionais, nacionais, regionais e locais que são relacionados à energia, como leis, regulamentações de conservação de energia etc., que se aplicam ao escopo de um SGE. Um dos itens mais importantes da ISO 50001 é o 4.4.3 sobre Revisão energética. Para realizá-la, a organização deve: a. Analisar uso e consumo de energia com base em medições e outros dados: › identificar fontes de energia atuais; › avaliar o uso e consumo de energia atual e passado. b. Com base no uso e consumo de energia, identificar as áreas de uso significativo de energia: › identificar instalações, equipamentos, sistemas, processos e pessoal trabalhando para a organização ou em seu nome que afetam significativamente o uso e consumo de energia; 109 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV › determinar o desempenho energético atual de instalações, equipamentos, sistemas e processos relacionados aos usos significativos de energia identificados; › Estimar o uso e consumo de energia futuros. c. Identificar, priorizar e registrar oportunidades de melhoria de desempenho energético (NBR ISO 50001:2011). As oportunidades que são citadas podem estar relacionadas ao uso de energia renovável ou outras fontes alternativas de energia. A revisão energética deve ser sempre atualizada. Segundo Pinto (2014), o termo revisão energética não é usual na língua portuguesa e talvez no Brasil as atividades que a descrevem (revisão) seriam mais apropriadas se chamadas de auditoria energética. Outra questão importante abordada pela ISO 50001 é a identificação de Indicadores de Desempenho Energético (IDE) por parte da organização, que sejam apropriados para o monitoramento e medição desse desempenho energético. No Anexo A.4.5 da mesma norma, são citados como exemplos de IDE o consumo deenergia por tempo; consumo de energia por unidade de produção e modelos multivariáveis. O item 4.4.6 aborda os objetivos, as metas e os planos de ação para gestão da energia. Segundo a norma, a organização deve “estabelecer, implementar e manter documentados os objetivos e metas energéticas nas funções, níveis, processos ou instalações relevantes da organização”. Quando estabelecer essas metas, deve considerar os requisitos legais, os usos de energia e as oportunidades de melhoria do desempenho, além da condição financeira, operacional, comercial e das opções tecnológicas. Os planos de ação devem incluir: atribuição de responsabilidade; meios e cronogramas de metas atingidas; declaração do método pelo qual uma melhoria de desempenho energético será verificada e a verificação dos resultados. No anexo A.4.6 da norma há, como exemplo, um plano de ação para atingir um aumento de conscientização de empregados e contratados para comportamentos em gestão da energia. A Implementação e Operação do SGE deve ser pautado nas seguintes premissas: » Competência, treinamento e conscientização (item 4.5.2): A organização, segundo a Norma, deve identificar as necessidades de treinamento 110 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO relacionadas ao controle dos usos significativos de energia e à operação do seu SGE, indicando a importância deste para a melhoria de desempenho energético. » Comunicação (item 4.5.3): a organização deve sempre comunicar internamente sobre o desempenho energético, de forma adequada ao tamanho da organização, criando canais de comunicação para que os colaboradores possam fazer comentários ou sugestões. A comunicação externa é opcional, mas deve ser documentada essa decisão. » Documentação (item 4.5.4): a organização deve estabelecer, implementar e manter informações em papel, meio eletrônico ou qualquer outro meio para descrever os elementos-chave do SGE e suas interações. O grau de documentação pode variar dependendo do tamanho da organização, da complexidade de seus processos e interações. » Controle operacional (item 4.5.5): a organização deve identificar e planejar as atividades de operação e manutenção que são relativas aos seus usos de energia e que sejam consistentes com a sua política energética, objetivos, metas e planos de ação, de forma a garantir que sejam executadas sob as condições estabelecidas para tal. É importante lembrar que no planejamento de situações de contingência, emergência ou potenciais desastres, uma organização pode decidir incluir desempenho energético na determinação de como reagirão a tais situações. » Projeto (item 4.5.6): “a organização deve considerar oportunidades de melhoria do desempenho energético e controle operacional no projeto de instalações, equipamentos, sistemas e processos, sejam novos, modificados ou renovados, que possam ter impacto significativo em seu desempenho energético” (NBR ISO 50001:2011). » Aquisição de serviços de energia, produtos, equipamentos e energia (item 4.5.7): ao adquirir serviços, produtos e equipamentos que tenham ou possam ter impactos no uso de energia, a organização deve informar aos fornecedores que a aquisição é avaliada com base em desempenho energético. No anexo A.5.7, a norma ainda complementa que a aquisição é “uma oportunidade de melhorar desempenho energético através do uso de produtos e serviços mais eficientes. É também uma oportunidade de trabalhar com a cadeia de suprimento e influenciar seus comportamentos com energia”. 111 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV Outra questão abordada na ISO 50001 é a verificação, a partir do monitoramento, da medição e da análise das características-chave de suas operações que determinam o desempenho energético, sempre em intervalos planejados. A medição pode abranger desde pequenos medidores de energia para pequenas organizações até sistemas completos de monitoramento e medição conectados a um aplicativo de software capaz de consolidar dados e disponibilizar análises automáticas. É decisão da organização determinar meios e métodos de medição, mas os resultados devem sempre ser registrados. É recomendada também a auditoria interna do SGE em intervalos planejados para garantir que ele esteja em conformidade com as ações propostas e as metas estabelecidas. As não conformidades devem ser tomadas por ações corretivas e preventivas de acordo com a magnitude dos problemas existentes ou potenciais e às consequências de desempenho energético encontradas. Deve-se também sempre realizar análise crítica por parte da direção. Conforme pode ser visto a partir dos requisitos citados na norma, esta não estabelece requisitos absolutos e rígidos para o bom desempenho energético de uma organização, além daqueles estabelecidos pela política energética da própria organização e de sua obrigação de conformidade a requisitos legais aplicáveis ou outros requisitos. Dessa forma, duas organizações podem realizar operações semelhantes, mas com desempenhos energéticos distintos. A ISO 50001 se baseia em elementos comuns encontrados em todas as normas ISO de sistemas de gestão, assegurando elevado nível de compatibilidade com a ABNT NBR ISO 9001 (gestão da qualidade) e a ABNT NBR ISO 14001 (gestão ambiental). Em seu Anexo A, a ISO 50001 apresenta alguns esclarecimentos sobre alguns termos e conceitos que são descritos ao longo do texto. O conceito de desempenho energético é bastante explorado e inclui o uso, o consumo e a eficiência energética. A organização pode, com isso, escolher entre diversas atividades que estão relacionadas com esse desempenho, como por exemplo, redução de demandas de pico, utilização de excedente de energia ou de resíduo energético, além de poder melhorar seus sistemas, processos ou equipamentos. A figura 15 é uma representação conceitual ilustrativa de desempenho energético, contida no Anexo A1 da ISO 50001. 112 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Figura 15. Desempenho energético. Desempenho Energético Outros Eficiência Energética Intensidade Energética Uso de Energia Consumo de Energia Fonte: Adaptado de NBR ISO 50001:2011. Outro ponto abordado é a relação da direção da organização em relação à SGE e a equipe para atuar nesse trabalho. O tamanho da equipe deve ser determinado pela complexidade da organização, ou seja, nas pequenas, uma pessoa apenas pode ser o representante da direção, enquanto nas organizações maiores, recomenda-se uma equipe multifuncional para engajar diferentes partes da organização no planejamento e implementação do SGE. Figura 16. Estrutura geral ISO 50001. Política Energética Planejamento Energético Implementação e operação Verificação Análise crítica pela direção Auditoria Interna de SGE Não conformidade, ações corretivas e preventivas Avaliação de requisitos legais/ outros Monitoração, medição e análises Melhoria Contínua Fonte: Adaptado de NBR ISO 50001:2011. 113 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV A norma se baseia fortemente na melhoria contínua do chamado Plan-Do-Check-Act e incorpora a gestão da energia nas práticas organizacionais diárias. Plan-Do-Check-Act O ciclo de Deming ou PDCA é a metodologia de base adotada para o Sistema de Gestão de Energia. Esta metodologia permite enquadrar e focalizar a Organização num ciclo de Melhoria Contínua do seu desempenho energético. Figura 17. Melhoria contínua do desempenho energético da organização pela implementação da metodologia PDCA.Fonte: SOARES (2015). » Plan (planejar): executar a revisão energética e estabelecer linha de base, indicadores de desempenho energético (IDEs), objetivos, metas e planos de ação necessários visando resultado sem conformidade com as oportunidades de melhoria de desempenho energético e com a política energética da organização. » Do (fazer): implementar os planos de ação da gestão da energia. » Check (verificar): monitorar e medir os processos e as principais características das operações que determinam o desempenho energético em relação à política e objetivos energéticos. » Act (agir): tomar ações para melhorar continuamente o desempenho energético e o SGE. 114 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Figura 18. Modelo do Sistema de Gestão da Energia ABNT NBR ISO 50001:2011. Fonte: Huang (2011). Correspondência entre ISO 50001:2011, ISO 9001:2015 e ISO 14001:2015 O Anexo B da ISO 50001 faz um comparativo entre esta e as normas de gestão ISO 9001 e ISO 14001. Segundo Pinto (2014), ao analisar os requisitos da ISO 50001 e compará-las com as demais, é possível observar que esta é uma norma de gestão e técnica, como se fosse duas normas em uma, ou seja, uma de sistema de gestão de energia e outra de gestão de desempenho energético. Para compreender melhor, seria como se a ISO 9001 estabelecesse, além da gestão de qualidade, os requisitos para a melhoria do produto. As melhorias propostas pelo sistema de gestão podem, eventualmente, proporcionar melhorias no produto, mas não há requisitos específicos que exijam tais melhorias. Da mesma forma, se a ISO 14001 tivesse, além dos requisitos para gestão ambiental, outros para a melhoria ambiental e a redução dos impactos, como a diminuição de resíduos etc., efetivamente, o conjunto de práticas preconizadas pela norma objetiva minimizar impactos, mas não há requisitos para efetivamente realizar isso. 115 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV Ao contrário, a ISO 50001, além da abordagem no sistema de gestão de energia, se mostra preocupada com o desempenho energético. Assim, o SGE é um meio para se obter melhoria do DE continuamente. O termo “melhoria contínua” é aplicado nas normas ISO 9001 e ISO 14001 referenciando-se ao sistema de gestão. “Nesta Norma, contudo, a melhoria contínua se refere não só ao sistema de gestão, mas também ao DE, e sendo assim este deve também apresentar melhoria a cada ciclo” (PINTO, 2014). Como funciona o processo de certificação de Sistemas de Gestão da Energia baseado na ISO 50001? Primeiramente, assim como as demais certificações, é preciso ter interesse e disposição para a implementação da norma por parte de toda a organização, principalmente por parte das lideranças, que devem instrumentalizar e estimular as mudanças em todos os setores. O processo se inicia com um órgão certificador, que pode realizar uma pré-auditoria para orientar como proceder para serem atendidas às demandas da auditoria oficial. A auditoria para a certificação é realizada avaliando a conformidade do sistema documentado com os requisitos da norma para um melhor entendimento da natureza da organização. As não conformidades observadas devem ser remediadas da forma mais pertinente. É fundamental que, durante a auditoria, toda a organização esteja envolvida com os procedimentos. Serão realizadas entrevistas e análises de registro, bem como serão observadas as práticas de trabalho. Após a certificação, novas auditorias serão realizadas em períodos esporádicos até que, no terceiro ano, estas fiquem frequentes para o processo de recertificação. Resultados esperados da aplicação da ISO 50001 Segundo Carvalho (2011), os principais resultados que são esperados da implementação dessa norma nas organizações são: » Gerenciar ativamente o uso de energia e reduzir a exposição aos seus custos crescentes. » Reduzir emissões sem um efeito negativo nas operações. 116 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO » Melhorar continuamente a intensidade energética (uso da energia/ produto). » Arquivar documentos para uso interno e externo (créditos por emissões, por exemplo). » Usar o pessoal e recursos da empresa de maneira inteligente. A norma apresenta um papel importante de contribuição na complementação do arcabouço de atividades de Eficiência Energética do país. Além da legislação e dos programas de governo, a norma completa o “conjunto de iniciativas que permitem uso eficiente da energia, ofertando do lado do consumidor uma ferramenta para gerir sua energia de forma sistêmica e obter melhoria do DE” (PINTO, 2014). Como exemplos de legislação correlata, há a Lei no 10.295 (conhecida como a Lei da Eficiência Energética), o Decreto no 99.656, que dispõe sobre a criação da Comissão Interna de Conservação de Energia (CICE), o Plano Nacional de Eficiência Energética, além dos programas governamentais: Programa de Eficiência Energética – PEE, da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL; Programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE, do Inmetro; Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – Procel, executado pela Eletrobrás e o Programa Nacional da Racionalização do uso dos Derivados de Petróleo e do Gás Natural, executado pela Petrobras, são algumas das iniciativas para promover o uso eficiente de energia. Embora a lei trate do assunto, ela não contempla, por exemplo, o treinamento para operar maquinários, o tempo de seu funcionamento, condições de manutenção etc. Da mesma forma, os programas públicos também não abordam como devem ser conduzidos para priorizar as necessidades mais urgentes, obter melhoria contínua e reter os ganhos, por exemplo (PIBTO, 2014). A norma desempenha melhor esse papel de aliado no uso correto da energia, auxiliando a gestão dos aspectos que tratam do bom desempenho energético de equipamentos, instalações, processos e plantas. Por que uma norma para sistemas de gestão da energia? Com o aumento dos custos de energia e as questões climáticas em destaque nos últimos anos, a eficiência energética tornou-se questão importante dentro de uma organização. Segundo Huang (2011), um relatório feito pelo Economist Intelligence Unit afirma que 117 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV a eficiência energética é vital às empresas para que elas sejam vistas como organizações que: » Posicionam-se, assim como suas marcas, como fornecedoras de produtos verdes. » Cumprem requisitos de conformidade. » Aperfeiçoam a pegada ambiental de seus produtos e serviços. » Implantam controles mais fortes das normas ambientais sobre fornecedores. É importante que as organizações compreendam que, ao desperdiçar energia, estão reduzindo lucratividade e causando poluição que poderia ser evitada. Além disso, os clientes estão, cada vez mais, pedindo por garantias de que a organização tenha uma postura responsável ambientalmente, sendo capazes de demonstrar a eficiência energética. Atualmente, grande parte das organizações possui um conhecimento limitado para alcançar essas reduções, por isso, as orientações contidas na norma são necessárias. Um levantamento realizado pela Carbon Trust indica que 50% dos consumidores são mais leais às marcas que possam mostrar ações efetivas de melhorias em seus impactos ambientais e 70% das pessoas querem que as empresas divulguem suas emissões de carbono. BS EN 16001:2009 – a norma internacional de gestão da energia A norma europeia de gestão de energia é a BS EN 16001:2009, que fornece os requisitos e orientações que visam auxiliar as organizaçõesna redução dos custos e de gases de efeito estufa por meio da implantação de um SGE. Assim como a ISO 50001, a norma especifica os requisitos de um SGE para permitir que organizações desenvolvam e implementem uma política energética, estabeleçam objetivos e programas que levam em consideração requisitos legais e informações pertinentes ao uso significativo de energia. Essa norma pode ser aplicada a todos os tipos ou portes de empresas e indústrias, podendo ser utilizada de forma independente ou integrada a qualquer outro sistema de gestão, assim como a ISO 50001. 118 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO A BS EN 16001:2009 reconhece que gestão energética abrange uma série de questões, inclusive aquelas com implicações tanto estratégicas quanto de concorrência. Apesar de não especificar critérios de desempenho na gestão de energia, ela provê uma estrutura para melhoria contínua da eficiência energética de uma organização, além de seu uso sustentável (HUANG, 2011). As principais diferenças entre a BS EN 16001 e a ABNT NBR ISO 50001 estão nos requisitos (HUANG, 2011): » Política energética: a norma brasileira é mais exigente pois requer compromissos com a compra de produtos e serviços, além de projetos com eficiência energética, enquanto a BS EM 16001 requer apenas que haja consideração do consumo de energia ao comprar equipamentos. » Caracterização da Energia: a BS EM 16001 fala apenas em eficiência energética, diferente da ISO 50001 que considera o termo desempenho energético (eficiência, uso e consumo de energia). » Documentos: não existem procedimentos obrigatórios na norma europeia, enquanto na brasileira deve haver controle de documentos. » Melhoria do desempenho energético: a ISO 50001:2011 afirma que as oportunidades de melhoria de desempenho devem ser consideradas no projeto, na modificação e renovação de instalações de equipamentos, sistemas e processos com uso de energia. A BS EN 16001:2009 considera o consumo de energia para o projeto, alteração ou restauração de todos os ativos, incluindo os edifícios. » Sistema de medição: a norma brasileira não prevê isso, enquanto a europeia requer que as organizações tenham um plano de medição. Aplicação da norma Há um número cada vez maior de empresas interessadas em adotar a certificação ISO 50.001 no Brasil. Por ter como objetivo estabelecer sistemas e processos que melhorem o desempenho energético das empresas, incluindo eficiência, uso e consumo de energia, os principais impactos esperados pela adoção dessa norma por parte das organizações é aumentar a disponibilidade de energia, melhorar a produtividade e competividade das empresas, promover a redução das emissões de gases de efeito estufa, entre outros impactos positivos. 119 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV No mundo, há destaque para o primeiro edifício com certificação ISO 50001/2011, dada no mesmo ano de criação da norma, na sede corporativa da Schneider Electric, localizada em Rueil-Malmaison, França. Com a integração inteligente dos sistemas do edifício, a equipe de desenvolvimento de soluções conseguiu economias de energia de até 30%. O objetivo foi reduzir o consumo de energia em quatro vezes comparado à infraestrutura da sede anterior e atingir um consumo de 80 kWh/m²/ano (244 kWh/ m²/ano é o consumo médio de um edifício de escritórios na França) (Schneider Electric, 2011). No Brasil, algumas empresas buscaram a certificação ISO 50.001/2011, fato que tem crescido em diversos setores industriais, principalmente. Alguns exemplos de certificação de sucesso: » Metalplan: primeiro fabricante de compressores de ar do mundo a conquistar a certificação ISO 50001/2011, em 2012. Apesar da dificuldade de encontrar consultorias especializadas na norma, apenas um ano depois do lançamento dela, a empresa formou um comitê interno para estudar e implementar a norma. Pequenas ações foram realizadas como a sistematização inteligente dos equipamentos, divulgação dos resultados obtidos e a substituição dos equipamentos obsoletos por outros mais modernos, de menor consumo. Os ganhos de eficiência energética, obtidos com a implantação da nova norma, geraram uma redução média do consumo foi de 30%, o que conferiu à organização uma boa vantagem competitiva no mercado (SGS, 2012). » FIAT: a primeira montadora a obter essa certificação no Brasil, em 2014. A planta de Betim, a maior da Fiat no mundo, atualmente utiliza 99% da energia elétrica oriunda de fontes renováveis (predominantemente hidráulica), incluindo os painéis solares fotovoltaicos instalados na fábrica, capazes de gerar 19,5 mil kW/ano. Em função das melhorias realizadas, a energia que deixou de ser consumida na fábrica de Betim (MG) seria suficiente para abastecer durante um ano uma cidade de 80 mil habitantes (SGS, 2014). » Usina Barreiro da Vallourec Tubos do Brasil S.A: é a primeira siderúrgica no Brasil a obter essa certificação. Para obter a certificação, a Vallourec, por meio do seu Sistema Integrado de Gestão, começou a 120 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO se preparar em 2011, ano de lançamento mundial da norma. A partir daí, os requisitos normativos começaram a ser implementados em todas as áreas e os procedimentos da empresa passaram por adequações (TN Petróleo, 2014). E as empresas digitais? Cada dia mais vemos empresas sendo criadas e desenvolvidas exclusivamente para a internet. E-commerce é a nova tendência, uma vez que é cada vez maior a quantidade de gente que faz compras só pela internet. Mas você acha que essas empresas precisariam ser certificadas com as normas ISO? Elas podem ser certificadas mas, apesar do seu crescimento, o comércio eletrônico ainda não atentou para a importância das certificações e dos ganhos agregados em excelência organizacional. Ao implementar as diretrizes orientadas pelas ISO’s a empresa digital pode ter excelentes bases de organização, rapidez e satisfação no atendimento aos clientes, treinamentos e capacitações de colaboradores, engajamento de stakeholders, foco em resultados e redução de custos e desperdícios na organização. Uma boa ideia é a empresa começar com a ISO 9001, mas há outras, como por exemplo, a ISO 10008 que, embora não certificável, é a norma que orienta as transações de comércio eletrônico de negócio a consumidor, fornecendo orientações sobre como as organizações podem implantar o sistema B2C ECT (Business-to- Consumer Eletronic Commerce Transactions). A norma busca uma base para que os consumidores tenham a confiança aumentada no B2C ECT, aumentando a capacidade das organizações em satisfazer seus consumidores e auxiliando na redução das reclamações e disputas entre consumidores e organizações. Tem como princípio que todos os setores da organização trabalhem com foco no cliente. 121 CAPÍTULO 2 Outras resoluções que visam a economia de energia Microgeração e minigeração distribuída ao sistema – a Resolução Normativa no 482, de 17 de abril de 2012 A Resolução Normativa no 482/2012 criou o Sistema de Compensação de Energia Elétrica, para permitir que o próprio consumidor instale pequenos geradores (tais como painéis solares fotovoltaicos e microturbinas eólicas, entre outros) em sua unidade consumidora e troque energia com a distribuidora local com objetivo de reduzir o valor da sua fatura de energia elétrica. É permitido o uso de qualquer fonte renovável, além da cogeração qualificada, denominando-se microgeração distribuída a central geradora com potência instalada até 75 quilowatts (KW) e minigeração distribuída aquelacom potência acima de 75 kW e menor ou igual a 5 MW (sendo 3 MW para a fonte hídrica). Vantagens da geração de energia pelo consumidor com a aplicação da Resolução Segundo o art. 7o, quando a quantidade de energia gerada em um mês for superior à energia que foi consumida naquele mesmo período, o consumidor ficará com créditos para serem utilizados para a diminuição de faturas dos meses seguintes. O prazo de validade dos créditos, que inicialmente era de 36 meses, passou para 60 meses, sendo que eles podem também ser usados para abater o consumo de unidades consumidoras do mesmo titular situadas em outro local, desde que na área de atendimento de uma mesma distribuidora. Esse tipo de utilização dos créditos foi denominado “autoconsumo remoto”. A atualização e as alterações importantes da RN no 482/2012 foram oficializadas na Resolução Normativa no 687/2015, que também altera alguns procedimentos de distribuição dessa energia (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST). 122 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Cabe salientar que, conforme o art.5o, caso seja necessário realizar ampliações ou reforços no sistema de distribuição em função da conexão de centrais geradoras participantes do sistema de compensação de energia elétrica, a distribuidora deve consultar o PRODIST. Segundo a alteração de 2015 no mesmo art. 5o: §1o Os custos de eventuais melhorias ou reforços no sistema de distribuição em função exclusivamente da conexão de microgeração distribuída não devem fazer parte do cálculo da participação financeira do consumidor, sendo integralmente arcados pela distribuidora, exceto para o caso de geração compartilhada. §2o Os custos de eventuais melhorias ou reforços no sistema de distribuição em função exclusivamente da conexão de minigeração distribuída devem fazer parte do cálculo da participação financeira do consumidor. Geração distribuída Há também a possibilidade de geração distribuída, ou seja, instalada em condomínios ou outros empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras, e a energia gerada pode ser repartida entre os condôminos em porcentagens definidas pelos próprios consumidores. Geração compartilhada A ANEEL ainda criou o termo geração compartilhada para que diversos interessados na instalação e uso de energia se unam em um consórcio ou em uma cooperativa, instalem uma micro ou minigeração distribuída e utilizem a energia gerada para redução das faturas dos consorciados ou cooperados. Autoconsumo remoto São unidades consumidoras de uma mesma Pessoa Jurídica ou Física que possua unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras, dentro da mesma área de concessão ou permissão, nas quais a energia excedente será compensada. Com relação aos procedimentos necessários para se conectar a micro ou minigeração distribuída à rede da distribuidora, a ANEEL estabeleceu regras que simplificam o 123 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV processo, como criação de formulários para o consumidor realizar sua solicitação, e a diminuição do prazo para a conexão de microgeração (que inicialmente era de 84 dias) para 34 dias (AMBIENTE ENERGIA, 2015). Mas a RN deixa claro que compete à distribuidora a responsabilidade pela coleta das informações das unidades consumidoras participantes do sistema de compensação de energia elétrica, e o envio dos dados para registro junto à ANEEL (Art.13). Em pesquisa realizada pela ANEEL (CASTRO, 2014) com consumidores que investiram na sua própria geração de energia entre 2012 – ano de criação da Resolução Normativa – até 2014, percebeu-se que: » Grande parte dessa energia instalada teve por finalidade o uso residencial (aproximadamente 65%). » A maioria dos investimentos foi em energia solar fotovoltaica. » A maior motivação para instalar esse tipo de energia foi contribuir para o desenvolvimento sustentável (45%). » Para 50%, as exigências técnicas da distribuidora foram facilmente atendidas, mas, para a outra metade, houve demora e muito esforço. » Para 74%, a atuação da distribuidora foi considerada excelente ou boa, sendo que a fatura de energia informa claramente os créditos acumulados com a geração distribuída. Sem dúvidas, as tecnologias de geração individual de energia precisarão ser aperfeiçoadas ao longo do tempo, uma vez que a tendência é de que as iniciativas para esse tipo de geração sejam, a cada dia, maiores. Entretanto, grande parte dos consumidores que já fazem parte desse grupo aprova esse tipo de geração e teve suas expectativas alcançadas (CASTRO, 2014). Segundo a ANEEL, a previsão é que até 2024 cerca de 1,2 milhão de unidades consumidoras passem a produzir sua própria energia, totalizando 4,5 GW de potência instalada. O fato é que, desde a publicação da Resolução Normativa no 482, em 2012, já foram instaladas milhares de centrais geradoras, com destaque para a fonte solar fotovoltaica, que chega a representar mais de 90% dessas instalações (AMBIENTE ENERGIA, 2015). 124 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Startup lança serviço de energia solar por assinatura A startup curitibana Renova Green lançou um modelo de negócio para facilitar a vida de quem deseja produzir sua própria energia solar através da microgeração, mas ainda está com um pé atrás em relação aos altos custos da compra e instalação do sistema. A empresa decidiu operacionalizar a geração de energia solar doméstica no Brasil, que gera em média uma economia de mais de R$ 40,00 por mês na conta de luz. Ao invés de vender e instalar os equipamentos, eles optaram pela comercialização do serviço e adotaram um sistema similar aos planos de TV por assinatura, no qual o equipamento fica na casa do cliente em comodato, com planos comerciais e residenciais a partir de R$ 19,90 (taxa de instalação: R$ 199,00). Fonte: Ambiente Enegia (2016). O exemplo alemão Se há uma referência mundial em desenvolvimento de energias sustentáveis, esse local é a Alemanha. O país indica, a cada ano, um crescimento exponencial desse tipo de energia, ao mesmo tempo em que vê decrescer alternativas de geração com outros tipos de fontes não renováveis. De fato, o país evoluiu nos últimos anos muito rapidamente. Enquanto em 1991, aproximadamente 3,1% da matriz energética era composta por fontes renováveis, em 2009, esse valor já chegou a mais de 16%. Como um dos estímulos, tem-se a promulgação da Lei de Fontes Renováveis de Energia do ano de 2001 (“Erneuerbare Energien-Gesetz” ou EEG) (MIRANDA, 2012). A lei alemã se refere às fontes renováveis como a energia hidrelétrica, incluindo a energia das ondas, marés, eólica, solar, geotérmica, biomassa (incluindo o biogás, gás de aterros sanitários e gás de tratamento de esgoto). Os produtores de energia oriundas de fontes renováveis, ou operadores de instalação, como denominados da EEG, recebem como contrapartida o pagamento de uma tarifa pela energia gerada que alimenta a rede. As diferentes fontes de energia têm custos de produção diferentes também, o que requer uma remuneração para o produtor específica para a sua geração, ou seja, a tarifa da energia eólica é diferente da solar, uma vez que seu custo é mais baixo, assim com todas as demais. 125 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV Cabe ressaltar a importância dessa medida, para não privilegiar apenas as fontes com a melhor relação custo-benefício, remunerando proporcionalmente fontesmais caras a fim de possibilitar seus investimentos e custos, além do amadurecimento da tecnologia, na expectativa de uma possível redução futura de custo de produção (MIRANDA, 2012). A lei garante a aquisição da energia produzida por um período de vinte anos, o que permite aos interessados investirem avaliando a possibilidade de recuperação desse investimento e o lucro com tal operação. Esse pagamento para o produtor é realizado a partir de uma tarifa de alocação para destinatários finais dessa energia, proporcionalmente ao seu consumo. Segundo Miranda (2012), se pensarmos em uma tarifa de, cerca de 3,53 centavos por kWh consumido, esse valor representa pouco mais de 13% do valor total cobrado, ou seja, cerca de 36 centavos. Nas despesas médias de uma família alemã, esse valor representa 0,2%. Se compararmos a lei alemã à Resolução Normativa no 482/2012, na norma brasileira, o processo de regularização do produtor de energia depende de estudos da distribuidora de energia para a integração das mini e microgeração, sendo que o produtor da energia deve arcar com os custos referentes às adequações do sistema de medição da energia produzida. O consumidor que produz a energia, no entanto, não é remunerado pela distribuidora, mas adere a um sistema no qual a energia ativa gerada por sua unidade consumidora compensa o consumo de energia elétrica ativa fornecido pela distribuidora, conforme vimos anteriormente. Ao optar por esse sistema mais complexo de compensação ao invés da remuneração, entretanto, o modelo brasileiro desconsidera um dos principais motivadores da produção: o retorno financeiro da atividade (MIRANDA, 2012). A energia excedente produzida é lançada na rede de distribuição e a compensação proposta depende de um ciclo de faturamento em que o consumo seja maior do que a produção, em um período de tempo de 60 meses. Ou seja, não há, portanto, retorno garantido que incentive os consumidores a arcarem com o custo de implantação de um gerador próprio de energia vinda de fontes renováveis. É importante lembrar que os próprios custos de implantação de qualquer sistema gerador de energia por meio de fontes sustentáveis é algo ainda caro, ainda mais no Brasil. Com o baixo estímulo financeiro, apenas uma parcela da população que possui poder aquisitivo mais alto consegue, por enquanto, investir no setor. 126 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO A Resolução Normativa também não estimula o desenvolvimento de novas tecnologias, uma vez que compensa nos mesmos termos energias oriundas de fontes diversas, a norma incentiva o uso de fontes com menor relação custo-benefício (MIRANDA, 2012). Rede de políticas de energias renováveis para o século 21 – REN21 O REN21 é uma rede global de políticas sobre Energias Renováveis que conecta diversos atores como: » Governos. » As organizações internacionais. » Associações da indústria. » Ciência e academia. » A sociedade civil. A rede busca facilitação na troca de conhecimento, desenvolvimento de políticas e ações conjuntas para uma transição global rápida para as energias renováveis. A promoção dessas energias renováveis se dá tanto em países industrializados quanto nos países em desenvolvimento, a fim de auxiliar em questões que envolvem mudanças climáticas, segurança energética, desenvolvimento e redução da pobreza, por exemplo. A REN21 foi lançada em 2004, como resultado da Conferência Internacional sobre Energias Renováveis, realizada em Bonn, na Alemanha. Com um poder de liderança internacional, a rede fornece informações de alta qualidade, catalisa discussão e debate e apoia o desenvolvimento de redes temáticas. Para isso, a REN21 tem produzido uma série de relatórios internacionalmente reconhecidas em matéria de política de energia renovável, da indústria e desenvolvimento de mercado. Desde 2005, a REN21 produz uma publicação anual, chamada The Renewables Global Status Report (GSR), que oferece uma visão abrangente do mercado de renovável, indústria, investimento e desenvolvimento de políticas em todo o mundo. Eles também realizam relatórios regionais, a partir de informações de mais de 700 colaboradores e pesquisadores em todo o mundo. Os relatórios desenvolvidos pela REN21 é atualmente o mais referenciado em todo o mundo no mercado de energia renovável, pela indústria, política e academia, servindo como ponto de entrada para os tomadores de decisões em governos, empresas e 127 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV instituições financeiras, indicando o crescimento implacável de eletricidade, calor e as capacidades de produção de combustíveis para transportes a partir de fontes renováveis de energia. Acesse o site da REN21 e fique por dentro dos acontecimentos mundiais da rede colaborativa: <http://www.ren21.net/>. Eles possuem também um mapa interativo que indica as ações que estão sendo feitas em todo o mundo, além de dados sobre clima em diversos países: <http:// www.ren21.net/status-of-renewables/ren21-interactive-map/>. Segundo relatório de 2015, o REN21 afirma que as metas de energias renováveis estão em vigor em aproximadamente 164 países, o que impulsionou o crescimento da energia solar, eólica e outras tecnologias, que atingiram uma capacidade de geração recorde em 2014, com “cerca de 135 GW de nova capacidade renovável, aumentando a capacidade total instalada para 1.712 GW, mais 8,5% do que no ano anterior” (REN21, 2015). O relatório também afirma que, embora a média mundial de consumo energético tenha aumentado 1,5%, as emissões de dióxido de carbono (CO2), em 2014, mantiveram- se inalteráveis em relação aos valores de 2013. Isso denota, pela primeira vez, um crescimento econômico sem o aumento paralelo de emissões poluentes, motivado principalmente pelo aumento do uso de fontes renováveis de energia, com destaque para a China, país que tem investido nesse setor intensivamente. No Relatório da Situação Global das Energias Renováveis 2016, publicado em 2015, o REN21 revela que as renováveis de energia estão agora firmemente estabelecidas como competitivas e são as principais fontes de energia em vários países em todo o mundo, sendo o ano de 2015 recorde para as instalações de energia renováveis. Ou seja, ano a ano os dados se superam e o crescimento do setor tem se mostrado paulatino. Um dos principais fatores é a competitividade do setor que, em muitos países, já se comparam aos combustíveis fósseis em termos de investimento (HELIOTERMICA, 2016). Nesse recente relatório, o REN21 indica que foram registrados 296 bilhões de dólares em investimentos em energia limpa, mais do que o dobro da quantidade de combustíveis fósseis (130 bilhões). As principais fontes investidas são a eólica e solar. 128 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Aproximadamente 19,2% do consumo final mundial de energia é de renováveis. O número de países que têm como meta os investimentos em energias renováveis também cresceu de 45 países, em 2005, para 173, em 2015. A geração de empregos no setor também é destacada no relatório, com cerca de 8 milhões de pessoas em todo o mundo trabalhando direta ou indiretamente no setor. Apesar desse crescimento da capacidade renovável de energia, ainda há milhões de pessoas no mundo (por volta de 15% da população mundial) sem acesso a eletricidade. Nesse sentido, a REN21 aponta que uma devida atenção deve ser dada para a importância que as fontes renováveis podem ter para reduzir as diferenças sociais, fornecendo serviços energéticos essenciais e produtivos em áreas rurais e isoladas (REN, 2015). Conheça mais sobre o REN21 e o seu mais recente Relatórioneste vídeo: <https:// www.youtube.com/watch?v=lQK4RtoU5ts>. Segundo REN21 (2014), muitos fatores têm sido responsáveis pelo crescimento das energias renováveis, incluindo o suporte para políticas de energia renovável e aumento da competitividade dessas fontes. Em muitos países, esse tipo de energia já é altamente competitivo com as fontes convencionais. Embora a Europa continuou a ser um mercado importante, além de um centro de inovação no setor, a atividade foi, ao longo dos anos, dirigindo-se a outras regiões do globo, sendo que em 2014, a China liderou o setor, com a maior capacidade de geração instalada, enquanto países como o Brasil, Índia e África do Sul relataram grande capacidade adicionada. Além disso, um número crescente de países em desenvolvimento ao longo da Ásia, África e América Latina tornaram-se fabricantes e instaladores importantes de tecnologias de energia renovável (REN21, 2014). No início de 2015, pelo menos 164 países já tinham metas de energia renovável, enquanto que mais ou menos 1.345 países já tinham, no período, políticas de apoio à energia renovável em vigor, que se adaptam diante das constantes mudanças do setor. Segundo REN21 (2011), há diferentes tipos de políticas e ações para promover as energias renováveis, que podem ser agrupadas em cinco categorias principais: 1. A fixação dos objetivos: o governo local estabelece uma meta para algum nível futuro de energia renovável, podendo ser o objetivo o consumo ou investimento governamental. Fato é que há muitos objetivos que as cidades podem adotar. Muitas metas são para a redução das emissões 129 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV futuras de CO2, para melhoria de eficiência energética, mudança nos padrões de demanda e investimentos ou compra de energias renováveis. 2. Regulação com base nas responsabilidades legais e jurisdição: na qual responsabilidades legais, por meio de leis nacionais ou estaduais, artigo ou decretos, por exemplo, estruturam o planejamento urbano, códigos de construção e urbanização, que estimulem o uso das fontes renováveis de energia. 3. Operação de infraestrutura municipal: as políticas de infraestrutura em andamento são alteradas para incorporar as energias renováveis, por exemplo, por meio de compras ou investimentos de empresas de utilidade pública que podem ser controlados ou regulados pelo governo local. 4. Ações voluntárias e do governo servindo como modelo: essas políticas e atividades vão além de responsabilidades legais e competência para aproveitar as várias funções possíveis de um governo local como facilitador de mercado, do promotor e do modelo. 5. Informação, promoção e sensibilização: as políticas das partes interessadas, públicas e/ou privadas, têm como objetivo de facilitar ou permitir apoio às energias renováveis, podendo incluir informação e meios de comunicação, campanhas, apoios a programas de educação e formação, entre outros. Políticas para o uso de energias renováveis O Relatório Global Status Report on Local Renewable Energy Policies, lançado por REN21 (2011), indica alguns modelos de política local de uso de energia renovável. Adelaide, Austrália (população 1,2 milhões) Por volta dos anos 2000, a cidade investiu em um “Programa Verde”, tornando-se uma das seis cidades do país a participar de um programa nacional de “cidades solares”. O Plano de Desenvolvimento municipal promove edifícios verdes e tecnologias de energia renovável, incluindo metas para tornar todo o setor de transporte e o setor de edificações neutros em carbono até 2020. Há também metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para as operações municipais, além de oferecer subsídios para sistemas solares fotovoltaicos com mais de 1 quilowatt (kW) e para iluminação em áreas comuns de prédios. No transporte, a cidade planeja operar os automóveis públicos carregados com 100% de energia solar. 130 UNIDADE IV │ ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO Barcelona, Espanha (com uma população de 1,6 milhões) A promulgação de uma lei municipal em 2000 que obriga a instalação de até 60%, em todos os novos edifícios comerciais e residenciais, de aquecedores solares. Essa lei provou ser popular e o modelo foi seguido por mais de 70 municípios em toda a Espanha. Dessa forma, o país promulgou um código de construção nacional exigindo um percentual de aquecimento solar de água nas novas construções de edifícios. O município também possui um plano de aperfeiçoamento de energia que visa a reduzir as emissões per capita de CO2, e aumentar o uso de energia renovável. Betim, Brasil (população de 440.000 habitantes) Uma das primeiras “comunidades modelo” do Brasil no que tange o uso das energias renováveis, como parte de uma rede de seis cidades do país com tais objetivos (que inclui também Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, São Paulo e Volta Redonda). Betim estabeleceu uma série de políticas de promoção ao uso de biocombustíveis nos transportes, exigindo biocombustíveis em ônibus públicos e táxis, dando preferência aos veículos flex-fuel para compras frotas de veículos municipais. A cidade também facilitou o uso de sistemas de aquecimento solar de água para projetos habitacionais de baixa renda. Com esses projetos, a cidade estabeleceu um “Centro de Referência em Energias Renováveis”, fornecendo informações e reunindo partes interessadas nos níveis locais, regionais e nacionais, realizando treinamentos e conduzindo a inclusão de outras comunidades locais no Brasil para compartilhar a experiência de Betim. Kitakyushi, Japão (população 1,0 milhão) Com uma longa história de políticas ambientais, a cidade foi selecionada como a número 1 em ações ambientais do país entre 2006 e 2007, considerada como um “eco-modelo”. Em 2007, aprovou uma política de baixo carbono que apelou para uma redução de 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2050. A visão da cidade se concentra na estrutura urbana e no uso de energia sustentável no transporte, além do uso de subsídios para o desenvolvimento do uso doméstico de energia solar fotovoltaica. Kunming, China (população 4,7 milhões) A cidade aspira ser a “capital solar” da China, quando em 2008 aprovou o Conselho sobre o Desenvolvimento de Energias Renováveis, que estabeleceu uma zona de 131 ABNT NBR ISO 50001 – SISTEMAS DE GESTÃO DA ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO │ UNIDADE IV desenvolvimento na cidade que solicita em novos edifícios, 70% de aquecedores solares de água. Outras metas incluem a instalação de muitos painéis solares e ações para promover esse tipo de energia por meio de empréstimos a juros baixos, isenções fiscais e um especial financiamento para incentivar o investimento privado. Tóquio, Japão (população de 13 milhões) A cidade tem metas de redução de CO2 em 25% até 2025, estabelecidas em 2006 por um plano de ação de mudanças climáticas, incorporado posteriormente no Plano Ambiental de Tóquio em 2008. A cidade oferece subsídios às famílias que instalam energia solar fotovoltaica e aquecedores solares de água. As empresas são obrigadas a cumprir obrigações de redução de emissões. A cidade também determina que as instalações públicas e alguns outros devem comprar certificados verdes equivalentes a 5% do consumo de eletricidade e também compra de biodiesel para ônibus públicos. 132 Para (não) Finalizar Artigo sobre eficiência energética O texto a seguir chama-se “Brasil Econômico” e foi publicado pela Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar condicionado, Aquecimento e Ventilação (ASBRAV), em 30 de setembro de 2010, no Portal HVAC-R equipamentos. A eficiência energética chama a atenção de empresários, autoridades e profissionaisda área, apesar de não ser um tema novo, é de grande interesse público porque envolve e impacta todos os setores da sociedade. O grande desafio está em acelerar o processo de implementação de ações efetivas. No 7o Congresso Brasileiro de Energia Eficiente, o executivo Alexandre Mancuso, da USAID (United States Agency – International Development), afirmou que “a demanda global por energia crescerá 45% até 2030 (destes, 87% nos países em desenvolvimento), requerendo US$ 26 trilhões em investimentos”. Diante desse cenário, Mancuso avalia que as práticas que visam à eficiência energética ajudariam a reduzir investimentos em infraestrutura e a aliviar gastos públicos com energia, abrindo espaço para outras prioridades sociais, além de reduzir o impacto ambiental local e globalmente. Esses dados nos levam à seguinte pergunta: no Brasil, é possível adotar práticas energeticamente eficientes com soluções viáveis à nossa realidade? Para responder, vamos utilizar o setor de iluminação como exemplo. De toda a energia elétrica gasta no mundo, 19% é destinada à iluminação, mas 75% de toda a base instalada já está defasada e ineficiente. No Brasil, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), há 15 milhões de pontos de iluminação pública. Destes, cerca de 30% ainda utilizam lâmpadas a vapor de mercúrio, os quais podem ser modernizados com lâmpadas a vapor de sódio ou mesmo sistemas com 133 PARA (NÃO) FINALIZAR LEDs, com vantagens de menor consumo de energia e melhor qualidade de iluminação. Na prática, várias ações já estão sendo feitas. O governo federal adotou o Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente (ReLuz), que prevê investimentos de R$ 2 bilhões por parte da Eletrobrás, para tornar eficientes 5 milhões de pontos de iluminação pública e instalar mais 1 milhão no país em 2010. O governo brasileiro também promove a discussão sobre o banimento gradual das lâmpadas incandescentes, para a adoção de soluções residenciais mais eficientes, acompanhando o movimento mundial. A Philips apoia essas iniciativas. Participamos das discussões junto ao governo via a associação da indústria de iluminação, investimos em pesquisa e desenvolvimento e trabalhamos para trazer as melhores soluções em iluminação para o país. Por tudo isso, podemos afirmar que iluminação energeticamente eficiente no Brasil é possível sim e acessível agora. O comprometimento deve partir de todos os setores da sociedade, para que uma nova atitude frente a esse cenário seja adotada e, com ela, práticas que transformarão a maneira como planejaremos e construiremos o futuro do nosso país. José Fernando Mendes é gerente de marketing e produtos da área de LEDs e do programa de eficiência energética da Philips. Disponível em: <http://manutencao.net/blogs/gem/2010/10/06artigo-sobre-eficiencia- energetica/>. Acesso em: 3 de junho de 2013. 134 Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR ISO 9001:2015 – como usar. São Paulo: ABNT, 2015. 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