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DIREITO CIVIL AULA 4 5 15 03 2010 20100412155053

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fernando.assis@assisemonteiro.com.br 
 
RESUMO TEÓRICO 
(Aula 04 e 5 – Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
Nem todo acontecimento merece atenção por parte do direito. O fato de se acordar 
bem humorado ou mal humorado, almoçar muito ou pouco, coisas assim, não 
refletem preocupação ao direito e, por via de conseqüência, não são dignos de 
receber preocupação legislativa. 
 
Entretanto, alguns acontecimentos, boa parte deles, é verdade, são relevantes para o 
direito sendo, assim indispensável que o sistema jurídico esteja preparado para lhe 
declinar normas para regulamentar o envolvimento humano e suas conseqüências 
mais importantes. 
 
Analisando o Código Civil Brasileiro, notamos que o mesmo apresenta a disciplina 
dos fatos jurídicos, acontecimentos relevantes para o direito, da seguintes forma: 
 
 
FATO
JURÍDICO
NATURAIS
HUMANOS
(ato jurídico lato sensu)
ORDINÁRIO
EXTRAORDINÁRIO
ATO JURÍDICO LÍCITO
NEGÓCIO JURÍDICO
ATO ILÍCITO 
 
 
Importante considerar que, nosso estudo, direcionado para o concurso público que 
nos é alvo, no conduz ao estudo tão somente daqueles acontecimentos relevantes 
para o direito e que possuam participação humana na sua constituição, quais sejam, 
o negócio jurídico, o ato jurídico lícito e o ato ilícito1. É o que passaremos a estudar. 
 
 
 
 
1
 A doutrina ainda nos apresenta um terceiro tipo de ato jurídico lato sensu, qual seja, o ato-fato jurídico. Deixaremos de 
estender comentários acerca do mesmo pela divergência doutrinária em sua admissão e principalmente pelo fato de 
que nos basta o estudo segundo o Código Civil que não apresenta em seus títulos, capítulos ou seções esse tipo de ato 
jurídico. 
 
 
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1.1 ATO JURÍDICO LÍCITO 
 
 Conceitualmente, podemos dizer que o ato jurídico lítico é “simples 
manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos 
legalmente previstos”2, ou seja, trata-se de manifestação unilateral de vontade (independe 
da participação ou aquiescência de terceiros) que produz efeitos previstos em lei, não se 
podendo modificar suas conseqüências. 
 
 Importante constatação se faz quando confrontamos tal conceito com o de 
negócio jurídico. Percebemos que os mesmos, muito embora não se confundam, se 
assemelham diante de alguns valores como, principalmente, a manifestação de vontade 
por uma pessoa e, ainda, a produção de efeitos entre os envolvidos. 
 
 A semelhança acima traz conseqüência jurídica relevante na medida em que 
o legislador faz referência ao necessário estudo conjunto entre os referidos institutos, 
conforme prevê o artigo 185, do Código Civil, que diz que “aos atos jurídicos lícitos, que 
não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título 
anterior”, título este que se refere ao Negócio Jurídico. 
 
 Com isso, o estudo que se segue com relação ao Negócio Jurídico, pautado 
nos artigos 104 a 184 do Código Civil, deverá ser lido, também, como orientação ao que se 
refere o ato jurídico lícito. 
 
1.2. NEGÓCIO JURÍDICO 
 
 Negócio Jurídico é todo “fato jurídico consistente em declaração de vontade, 
a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os 
pressupostos de existência, validade e eficácia, impostos pela norma jurídica que sobre ele 
incide”.3 
 
 Em síntese, trata-se de manifestação de vontade bilateral (necessita 
participação voluntária de duas ou mais pessoas) produzindo efeitos designados por 
aqueles que manifestam a vontade, apresentando apenas a limitação da lei. 
 
1.3. ATO ILÍCITO 
 
 Nesse particular, não se exige mais a presença de elementos de EXISTÊNCIA, 
VALIDADE ou EFICÁCIA. Até porque não está presente a VONTADE do agente como 
sendo determinante para a caracterização do chamado ILÍCITO CIVIL. 
 
2
 GAGLIANO, Pablo Stolze, Novo Curso de Direito Civil, Volume I, 8ª Edição, Editora Saraiva, São Paulo : 2007, p. 
303 
3
 AZEVEDO, Antônio Junqueira de, Negócio Jurídico. Existência, Validade e Eficácia, 3ª Edição, Editora Saraiva, São 
Paulo : 2000, p. 16 
 
 
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 Em boa verdade, o ato ilícito guarda relação com a Responsabilidade Civil, ou 
o dever de reparar dano praticado pelo agente, tema regulamentado pelos artigos 927 e 
seguintes do Código Civil. São quatro os requisitos para a imposição do dever de reparar 
dano: ATO ILÍCITO, dano, culpa e nexo de causalidade. Logo, o ato ilícito representa 
apenas um dos elementos necessários. 
 
 A configuração do ato ilícito se dá por meio da AÇÃO OU OMISSÃO; que 
VIOLE DIREITO; causada por DOLO OU CULPA; acarretando DANO A ALGUÉM. 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente 
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
 
ATO
LESIVO
ATO
ILÍCITO
Todo ato ilícito é lesivo
Nem todo ato lesivo é ilícito 
 
 
 Como previsto no conteúdo do artigo 186, que conceitua aquilo que vem a ser 
o ato ilícito, existe a necessidade que todos os atos ilícito tenha como fim a lesividade, ou 
seja, tenha condições de causar um dano, moral ou material, a alguém. Entretanto, 
podemos afirmar que diversos são os atos lesivos – geram dano a alguém – que não serão 
tidos como ilícito por serem permitidos pela lei. 
 
 Referida permissão encontra-se, na esfera civil, dentro do contexto das 
chamadas excludentes de ilicitude previstas no artigo 188 do Código Civil. 
 
EXCLUDENTES DE ILICITUDE (artigo 188, do Código Civil) 
 
a) legítima defesa 
 
b) exercício regular de um direito reconhecido 
 
c) estado de necessidade 
 
 
 
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Art. 188. Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo 
iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o 
tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do 
perigo. 
 
 
 Em qualquer hipótese de excludente de ilicitude, entretanto, aquele que 
exceder à prática do ato acima legitimado responderá pelo limite da finalidade de se 
defender ou a terceiro, por exemplo. 
 
 O ramo do direito a que mais importa o estudo do ato ilícito está adstrito à 
Responsabilidade Civil – ramo que estuda o dever de reparar um dano a uma vítima de 
ato ilícito. Para nossos estudos relacionados ao ato jurídico lato sensu, essas disposições 
contidas nos artigo 186 a 188 são suficientes, ou seja, seu conceito e as hipóteses de 
excludente de ilicitude. 
 
 Avançaremos a partir de agora ao estudo dos outros dois tipos de ato 
jurídicos que nos interessam ao estudo: (1) ato jurídico lícito; e (2) negócio jurídico. 
 
 
2. PLANOS DO NEGÓCIO/ATO JURÍDICO 
 
 
 O estudo dos atos e negócios jurídicos exigem compreensão aos planos de 
existência, validade e eficácia, teoria apresentada em nosso ordenamento jurídico por 
PONTES DE MIRANDA. Podemos assim apresentá-los: 
 
 
EXISTÊNCIA
VALIDADE
EFICÁCIA
Agente
Objeto
Forma
VONTADE
Capaz
Lícito, possível
determinado ou
determinável
Prescrita ou não
defesa em lei
LIVRE E
DESEMBARAÇADA
Termo
Condição
Encargo
 
 
 
 
5
 
fernando.assis@assisemonteiro.com.br2.1. PLANO DE EXISTÊNCIA 
 
 
 Para que um negócio jurídico possa existir, se faz indispensável que o mesmo 
apresente todos os elementos essenciais apresentados acima: agente, objeto, forma e 
vontade. 
 
 Nesse plano, não se discute a extensão da validade ou eficácia do negócio 
jurídico. O fato de existir, não significa dizer que o negócio ou ato jurídico serão 
reconhecidamente válidos ou, sequer produza seus efeitos. 
 
 Por outro lado, caso um negócio ou ato jurídico não exista juridicamente, a 
ele não será atribuída, por óbvio, validade ou eficácia. 
 
 
2.2. PLANO DE VALIDADE 
 
 
 O artigo 104 apresenta os elementos básicos que se exigem para a percepção 
da validade do negócio jurídico: agente CAPAZ, Objeto LÍCITO, POSSÍVEL, 
DETERMINADO OU DETERMINÁVEL, Forma PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM 
LEI, sendo que podemos acrescentar a vontade LIVRE E DESEMBARAÇADA. 
 
 A invalidade do negócio jurídico implica em duas conseqüências não 
cumulativas, NULIDADE absoluta (ato nulo) e a NULIDADE relativa (ato anulável). 
Importante é considerar as diferenças dessas conseqüências, regulamentadas pelos artigos 
166 a 184 do Código Civil. 
 
 
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DIFERENCIAÇÃO ENTRE ATO NULO E ATO ANULÁVEL 
(Resumo dos artigos 166 a 184 do Código Civil) 
 
 
 
NULIDADE 
(Nulidade absoluta) 
ANULABILIDADE 
(Nulidade relativa) 
Reconhecimento independe de manifestação 
pelo interessado. Pode ser feito ex officio pelo 
Juiz 
Depende de manifestação pela parte 
interessada, ou pelo Ministério Público nos 
casos em que pode intervir. 
Pode ser analisado a qualquer tempo e grau de 
jurisdição 
Depende de declaração judicial por 
iniciativa do interessado e no tempo 
determinado pela lei4 
Não admite confirmação posterior por 
representar afronta a matéria de ordem pública 
Pode ser confirmado5 posteriormente por 
quem de direito (v.g., responsável) 
Não está sujeita à convalidação pelo decurso do 
tempo (decadência) 
Deve ser argüida pelo interessado no prazo 
estipulado pela lei, sob pena de se 
convalidar (sujeito a decadência6) 
Reconhecimento culmina em efeitos ex tunc (a 
invalidade dos efeitos retroage à data de 
celebração do negócio) 
Reconhecimento culmina em efeitos ex 
nunc (a invalidade dos efeitos ocorrem a 
partir da data da declaração da anulação) 
Hipóteses: 
1) Incapacidade absoluta; 
2) Objeto ilícito, impossível ou 
indeterminável; 
3) Motivo determinante, comum às partes, 
for ilícito; 
4) Não revestir a forma prescrita em lei; 
5) For preterida alguma solenidade que a 
lei considere necessária; 
6) Tiver como objetivo fraudar a lei 
imperativa; 
7) Celebrado em simulação. 
Hipóteses: 
1) Incapacidade relativa 
2) Celebrado diante de vício de 
consentimento (erro, dolo, coação, 
estado de perigo e lesão) 
3) Celebrado diante de fraude contra 
credor 
 
 
4
 Caso a parte deixe passar o prazo previsto nos artigo 178 e 179 do Código Civil não poderá mais alegar a nulidade. 
5
 Confirmação é ato em que o vício identificado é resolvido pelos envolvidos. 
6
 A decadência pode ser entendida como sendo a perda de direito potestativo diante da ocorrência de lapso temporal. 
Conforme já destacado, trata-se de perda do próprio direito e não a perda apenas da pretensão. 
 
 
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A) AGENTE CAPAZ 
 
 
 Nesse particular, exige o legislador que o negócio jurídico seja praticado pelo agente 
CAPAZ, aquele previsto no artigo 5º do Código Civil. 
 
INCAPACIDADE 
ABSOLUTA 
� 
ATO/NEGÓCIO 
NULO 
INCAPACIDADE 
RELATIVA 
� ATO/NEGÓCIO 
 
 Quanto à capacidade do agente, diz o artigo 105, do Código Civil: 
 
“Artigo 105 – A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em 
benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o 
objeto do direito ou da obrigação comum.” 
 
Outra exigência legal que deve ser acrescentada quando se fala em capacidade do agente 
se refere aos poderes que o mesmo possui para dispor do direito, ou seja, ser ele legítimo 
ou representar adequadamente o titular do referido direito. 
 
Nesse particular os artigos 115 a 120 do Código Civil apresenta normas que regulamentam 
a REPRESENTAÇÃO, ou seja, a possibilidade de prática de atos não por seu titular, mas 
por aquele que detém poderes para tal finalidade. 
 
A representação dar-se-á por lei, como nos casos da representação e assistência de incapaz, 
ou por convenção do interessado por meio da outorga de poderes específicos para esse 
fim. 
 
“Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado. 
Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos 
em relação ao representado. 
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o 
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. 
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por 
aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos. 
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do 
representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder 
pelos atos que a estes excederem. 
Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o 
representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. 
 
 
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Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da 
incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo. 
Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas 
respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código.” 
 
B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
 
 Objeto é o bem juridicamente protegido. Pode ele ser representado pelo 
próprio bem material sobre o qual se funda o negócio como no caso do contrato de compra 
e venda pode ser representado pelo próprio bem que se compra (carro, casa, 
computador...) Também se refere aos direitos/deveres adquiridos pelas partes. 
 
 Três são os requisitos para que o objeto não vicie um negócio jurídico: ser ele 
lícito (não proibido por lei), possível (fisicamente alcançável), determinado ou 
determinável (se é capaz de identificar com precisão os direitos e deveres de todos, assim 
como o bem juridicamente tutelado). 
 
Artigo 106 – A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se 
cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. 
 
C) FORMA PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI 
 
 A forma é o mecanismo utilizado pelos interessados para manifestar a 
vontade. É o meio pelo qual se informa a vontade necessária à caracterização do negócio 
jurídico. 
 
 A forma, por exemplo, poderá ser escrita ou verbal, assim como se escrita, 
poderá ser pública ou privada. 
 
 No Direito Brasileiro, prevalece a idéia de que o ato/negócio jurídico deverá 
ser concretizado por meio de FORMA LIVRE, ou seja, se não houver prescrição legal ou 
restrições quanto a utilização de uma ou outra forma, qualquer meio de manifestação de 
vontade será admitido como sendo válido. 
 
 Diz o artigo 107 do Código Civil, com relação à forma necessária à validade 
do negócio jurídica: 
 
Artigo 107 – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a 
lei expressamente a exigir. 
 
Artigo 108 – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negóciosjurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre 
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. 
 
 
 
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Artigo 109 – No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, 
este é da substância do ato. 
 
D) VONTADE LIVRE E DESEMBARAÇADA 
 
 A vontade é elemento essencial ao negócio jurídico. Até porque sem a sua 
expressão, não se é capaz de identificar a produção de efeitos de sorte que para a validade 
de um negócio jurídico é indispensável prevalecer o entendimento de que se trata da 
verdadeira intenção das partes. Caso haja qualquer elemento que distorça esse elemento, 
insistir na produção de efeitos representaria injustiça e quebra do próprio conceito do 
instituto. 
 
 O estudo dos defeitos do negócio jurídico representa ainda com maior valor 
essa importância no qual observamos a expressa disposição da lei que nos casos em que a 
manifestação de vontade se mostra contrária à real intenção dos envolvidos temos a 
mácula que conduzirá à invalidade do negócio jurídico. 
 
 Entretanto, referindo-se a essa parte geral dos atos/negócios jurídicos se 
mostra importante considerar o que dispõe os artigos 110 e 112 do Código Civil que 
demonstra o meio pelo qual deverá ser interpretado o negócio jurídico quanto à vontade 
manifestada. 
 
Artigo 110 – A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental 
de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. 
Artigo 111 – O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e 
não for necessária a declaração de vontade expressa. 
Artigo 112 – Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que 
ao sentido literal da linguagem. 
Artigo 113 – Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de 
sua celebração. 
Artigo 114 – Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. 
 
2.3. PLANO DA EFICÁCIA 
 
 
 Ainda que existente e válido, um negócio jurídico pode ter condicionado seus 
efeitos condicionados a um evento ou obrigação, tudo de acordo com a intenção das partes. 
É o que ocorre com o testamento, exemplo clássico de manipulação do plano da eficácia. 
Nele, ainda que existente e válido no momento em que o interessado expede tal documento 
em cartório, por exemplo, a produção de efeitos apenas acontece depois do evento futuro e 
incerto da MORTE. 
 
 São três os elementos utilizados para a caracterização do plano da eficácia: 
termo, condição e encargo. 
 
 
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2.3.1. TERMO 
 
 Subordina os efeitos do negócio jurídico a evento FUTURO E CERTO. 
 
 Essa subordinação poderá ser no momento em que identifica o início dos 
efeitos (TERMO INICIAL) ou quando identifica o término da produção de efeitos de um 
negócio jurídico (TERMO FINAL). 
 
TERMO INICIAL – a partir do termo, começam os efeitos. 
 
EFEITOS
CELEBRAÇÃO
EVENTO
FUTURO E
CERTO
 
 
 
TERMO FINAL – produz efeitos apenas até o termo 
 
 
EFEITOS
CELEBRAÇÃO
EVENTO
FUTURO E
CERTO
 
 
 
 
2.3.2. CONDIÇÃO 
 
 
 Subordina efeitos a evento FUTURO E INCERTO 
 
 Essa incerteza não é quanto a POSSIBILIDADE de se ocorrer tal evento. Tanto 
no termo quanto na condição identifica-se a possibilidade de o evento ocorrer. Na verdade, 
a incerteza está na indefinição de quando ocorrerá o evento, que necessita ser possível. 
 
 A condição, assim como o termo, vincula a produção de efeitos tanto para 
identificar o momento em que começam os efeitos (CONDIÇÃO SUSPENSIVA) e quando 
cessam os efeitos que já estavam se produzindo (CONDIÇÃO RESOLUTIVA) 
 
 
 
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CONDIÇÃO SUSPENSIVA – os efeitos do negócio jurídico ficam suspensos aguardando a 
ocorrência do evento futuro e incerto, momento em que passam a ser produzidos. 
 
EFEITOS
CELEBRAÇÃO
EVENTO
FUTURO E
INCERTO
 
 
CONDIÇÃO RESOLUTIVA – os efeitos do negócio jurídicos já são identificados no 
momento de sua celebração, RESOLVENDO-SE, ou cessando-se os mesmos quando ocorrer 
o evento futuro e incerto. 
 
EFEITOS
CELEBRAÇÃO
EVENTO
FUTURO E
INCERTO
 
 
 
 Sem sombra de dúvidas, a incerteza da condição traz consigo preocupações 
naturais para o legislador uma vez que, não se sabendo ao certo quando ocorrerão, torna-se 
razoável questionar a própria possibilidade de sua ocorrência ou, ainda, a manipulação 
pelas partes quanto a tal evento futuro e incerto segundo seus interesses particulares. 
 
 Nessa linha, dois foram os artigos legais criados com essa preocupação: 
 
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer 
coisa impossível. 
 
Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for 
maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não 
verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. 
 
2.3.3. ENCARGO 
 
 Subordina os efeitos do negócio jurídico a uma obrigação imposta ao detentor 
do direito. Normalmente, falar em encargo encontra facilidade de compreensão quando 
nos referimos a negócios gratuitos (p.ex., doação) na qual se declina em favor do donatário 
certo benefício que poderá dele se valer CASO CUMPRA COM UMA CONTRAPARTIDA. 
 
 
 
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 Aspecto já avaliado em provas de concurso se refere à aquisição do direito, 
seu exercício e, principalmente, conseqüências diante de encargo impossível, questões 
disciplinadas abaixo: 
 
Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando 
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. 
 
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo 
determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. 
 
 
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EXERCÍCIOS 
(Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 
 
01. (TRT/20ª – FCC 2006) O negócio jurídico concluído pelo representante em conflito de 
interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com 
aquele tratou é: 
a. Inexistente 
b. Nulo 
c. Válido 
d. Anulável 
e. Ineficaz 
 
02. (ARCED – FCC 2006) Haverá nulidade absoluta, quando o negócio jurídico for: 
a. Realizado em estado de perigo 
b. Praticado por agente absoluta ou relativamente incapaz 
c. Realizado em frade a lei imperativa ou fraude contra credores 
d. Simulado, entretanto, a lei não veda o negócio fiduciário 
e. Eivado de erro de direito 
 
03. Um pai promete ao seu filho que no natal de 2006 lhe dará um carro novo. Dentro da 
classificação dos elementos acidentais do negócio jurídico podemos classificar o caso em 
tela como: 
a. Condição resolutiva, pois põe termo ao exercício do direito 
b. Encargo, pois só ocorrerá quando o natal chegar 
c. Termo final, pois encerra a espera quando o natal chegar 
d. Termo inicial, pois quando o natal chegar ele poderá exercer o seu direito que é ter o 
carro novo. 
 
04. (PROCURADOR DE CONTAS 2ª CLASSE – FCC/2006) No tocante à invalidade dos 
negócios jurídicos é correto afirmar ser: 
I. Nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for 
na substância e na forma. 
II. Anulável o negócio jurídico que tiver por objetivo fraudar lei imperativa. 
III. Nulo o negócio jurídico resultante de erro de direito. 
IV. Anulável o negócio jurídico em que ficar configurada a lesão. 
 
Estão corretosos itens: 
a. I e IV 
b. I e V 
c. II e III 
d. II e IV 
e. IV e V 
 
05. (PROCURADOR-GERAL DE RORAIMA – FCC/2006) Haverá nulidade absoluta, 
 
 
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a. Se houver lesão contratual e relativa, se a parte celebrar negócio jurídico mediante 
coação. 
b. Se o negócio jurídico for celebrado por pessoa absolutamente incapaz e relativa, se 
tiver por objetivo fraudar lei imperativa. 
c. Se a parte incidir em erro substancial de direito e relativa, se praticado por pessoa 
relativamente incapaz. 
d. Se o negócio jurídico for simulado e relativa, se for celebrado em estado de perigo. 
e. No caso de dolo, se o seu autor for a outra parte e relativa, se o seu autor for 
terceiro. 
 
06. (ANALISTA JUDICIÁRIO/AP – ÁREA JURÍDICA – FCC/2006) Com relação à 
nulidade e à anulabilidade do negócio jurídico é certo que 
a. O negócio jurídico nulo é suscetível de confirmação, e convalesce pelo decurso do 
tempo. 
b. É anulável o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a ambas as 
partes, for ilícito. 
c. É nulo o negócio jurídico por cicio resultante de estado de perigo, lesão ou fraude 
contra credores. 
d. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio 
jurídico, sendo-lhe, em qualquer hipótese, permitido supri-las; 
e. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido 
for na substância e na forma. 
 
07. (ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JURÍDICA FCC/2005) Considere as hipóteses: 
I. Erro, dolo ou coação 
II. Objeto impossível 
III. Estado de perigo ou lesão 
IV. Objeto indeterminável 
V. Objetivo de fraudar lei imperativa 
 
São casos de nulidade do negócio jurídico, dentre outras, as indicadas SOMENTE em 
a. I e III 
b. II e IV 
c. II, III e V 
d. II, IV e V 
e. III, IV e V 
 
08. (PROCURADOR DO MARANHÃO - FCC/2005) Segundo o Código Civil é anulável o 
negócio jurídico: 
a. quando for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto. 
b. Quando for o motivo determinante, comum a âmbar as partes, for ilícito 
c. Celebrado por pessoa absolutamente incapaz não representada 
d. Por vício resultante do dolo, coação, estado de perigo ou lesão 
 
 
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e. Quanto tiver por objetivo fraudar lei imperativa 
 
09. (ANALISTA JUDICIÁRIO/MG – ÁREA JUDICIÁRIA – FCC/2005) É anulável o 
negócio jurídico 
a. por vício resultante de erro, dolo e coação. 
b. Que não se revestir da forma prescrita em lei 
c. Quando foi ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto 
d. Que tiver por objetivo fraudar lei imperativa 
e. Quando o motivo determinante, comum as partes, for ilícito 
 
10. (TÉCNICO JUDICIÁRIO/DF – ÁREA JUDICIÁIA – FCC/2006) Com relação à 
validade do negócio jurídico, em regra, a incapacidade relativa de uma das partes 
 
(A) não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, mas aproveita aos co-
interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da 
obrigação comum. 
(B) Pode ser invocada pela outra em benefício próprio, bem como aproveita aos co-
interessados capazes, em qualquer hipótese. 
(C) Não pode ser invocada pela outra parte em benefício próprio, nem aproveita aos 
co-interessados capazes salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da 
obrigação comum. 
(D) Pode ser invocada pela outra em benefício próprio e aproveita aos co-interessados 
capazes apenas se, neste caso, for divisível o objeto ou da obrigação comum. 
(E) Não pode ser invocada pela outra em benefício próprio e nem aproveita aos co-
interessados capazes, em qualquer hipótese. 
 
11. (Analista Judiciário – Área Administrativa – FCC – outubro/2001) Todo ato lícito que 
tenha por fim imediato, entre outros, resguardar, transferir ou modificar direitos, 
denomina-se 
(A) representação jurídica. 
(B) interesse jurídico. 
(C) capacidade jurídica. 
(D)) ato jurídico. 
(E) fato jurídico. 
 
12. (Técnico Judiciário – Área Administrativa – TRF 5 – JUNHO/2003) No que se refere 
aos fatos jurídicos é certo que 
(A) os atos negociais benéficos devem ser interpretados de forma ampliativa. 
(B)) a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando 
a lei expressamente a exigir. 
(C) os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme boa-fé e desconsiderados os 
usos do lugar de sua celebração. 
 
 
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(D) nas declarações de vontade atender-se-á mais ao sentido literal da linguagem no que a 
intenção nelas consubstanciada. 
(E) o silêncio sempre importa em anuência, confirmando que a parêmia "quem cala 
consente" tem juridicidade. 
 
GABARITO 
(Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 
 
01 D 
02 D 
03 E 
04 A 
05 D 
06 E 
07 D 
08 D 
09 A 
10 C 
11 D 
12 B 
 
 
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RESUMO TEÓRICO 
(Dos Fatos Jurídicos: dos defeitos do negócio jurídico) 
 
1. DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Sob o título acima, o legislador se preocupou em identificar momentos em que o 
elemento VONTADE dos agentes envolvidos em um negócio jurídico não 
representaria a suas reais intenções tendo em vista elementos de engodo que 
ensejariam prejuízos às partes (VÍCIOS DE CONSENTIMENTO) ou prejuízos a 
terceiros, alheios à relação jurídica estabelecida pelo negócio jurídico (VÍCIOS 
SOCIAIS). 
 
Duas são as formas de avaliação nas provas de concurso quanto a tal matéria. A 
primeira delas se refere à simples identificação mediante o estudo de caso de qual 
defeito do negócio jurídico poderíamos identificar entre os 7 (sete) previstos na 
legislação. A segunda forma se refere à compreensão minuciosa, específica, dos 
requisitos de caracterização de cada defeito do negócio jurídico. 
 
Para essa primeira forma de avaliação, é de grande auxílio o estudo geral dos 
defeitos do negócio jurídico por meio do esquema abaixo. Após tal visão geral, 
passaremos ao estudo específico de cada um dos defeitos do negócio jurídico. 
 
VÍCIOS DE CONSENTIMENTO
(prejuízo para as PARTES)
VÍCIOS SOCIAIS
(prejuízos para 3º)
ERRO
DOLO
COAÇÃO
ESTADO DE
PERIGO
LESÃO
FRAUDE CONTRA
CREDOR
SIMULAÇÃO
PROVOCADO
PELAS
PARTES
PROVOCADO
POR
3ª SITUAÇÃO
 
 
 
 
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ATO
ANULÁVEL
 
1.1. ERRO (“vício do mané”) 
 
 
 
Nesse vício, a parte se ENGANA quanto a elemento essencial do negócio jurídico 
acabando por celebrar negócio que não tinha interesse em celebrar. 
 
São requisitos essenciais para a caracterização o erro, enquanto vício de 
consentimento capaz de ANULAR o negócio jurídico (ERRO SUBSTANCIAL): 
 
a) ser o erro identificável segundo pessoa de diligência normal, ou seja, SER 
RAZOÁVEL; 
 
b) ser essencial à celebração do negócio jurídico 
 
(“se não me enganasse, não teria celebrado o negócio jurídico...”) 
 
 Ausente quaisquer desses elementos, o vício não será capaz de anular o 
negócio jurídico (ERRO ACIDENTAL) 
 
Artigo 138 – São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de 
erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das 
circunstâncias do negócio. 
 
Artigo 139 – O erro é substancial quando: 
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a 
ele essenciais; 
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de 
vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; 
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do 
negócio jurídico. 
 
Artigo 140 – O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão 
determinante.Artigo 141 – A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos 
em que o é a declaração direta. 
 
Artigo 142 – O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não 
viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou 
pessoa cogitada. 
 
Artigo 143 – O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. 
 
 
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ATO
ANULÁVEL
 
Artigo 144 – O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a 
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do 
manifestante. 
 
1.2. DOLO (“vício do mala”) 
 
 
 
 Nesse vício, uma das partes se vale da inocência da outra induzido-a ao erro. 
Nada mais é do que a MENTIRA contada por uma das partes em busca de convencer a 
outra para que celebre o negócio jurídico. Indiscutível reconhecer que nesse particular já 
passamos a identificar a má-fé de uma das partes. 
 
 Assim como no erro, o dolo, para gerar o vício do negócio jurídico se faz 
indispensável que o mesmo seja determinante para a celebração do negócio (DOLO 
ACIDENTAL). 
 
 O dolo depende, para sua caracterização da provocação por uma das partes, 
sendo certo que tal provocação poderá ocorrer de forma direta (pela própria pessoa), ainda 
que pela simples omissão, ou de forma indireta (por terceira pessoa a mando a parte ou a 
respeito de quem se tenha conhecimento). 
 
 Caso não haja o envolvimento da parte na provocação do engano à outra 
parte lesada, poderá subsistir (ser reconhecido válido) o negócio jurídico sendo que o 
terceiro que praticou a engano é que seria responsável por indenizar o lesado por perdas e 
danos. 
 
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 
 
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu 
despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. 
 
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de 
fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela 
o negócio não se teria celebrado. 
 
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem 
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio 
jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. 
 
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder 
civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante 
convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. 
 
 
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Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, 
ou reclamar indenização. 
 
 
 
1.3. COAÇÃO (“vício da ameaça”) 
 
 
 
 
 Nesse vício, uma parte incute na outra receio de dano iminente à sua pessoa, 
pessoa da família ou a “terceiro próximo”. Aqui se coloca o terceiro com o adjetivo de 
próximo na medida em que o juiz deverá analisar a proximidade entre cada um dos 
envolvidos para concluir se foi, ou não, capaz de ser decisivo na celebração do negócio 
jurídico. 
 
 O temor incutido deve ser concreto, real e irresistível podendo ser incutido de 
forma física (vis absoluta) ou até mesmo moral (vis compulsiva). 
 
 Quando a coação física alcançar proporção tamanha que culmine em retirar a 
consciência do agente quanto a celebração no negócio jurídico, não estaremos falando em 
invalidade do negócio jurídico, e sim de NEGÓCIO INEXISTENTE tendo em vista que 
sequer seria identificado o elemento essencial da vontade para a caracterização do mesmo. 
 
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado 
temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. 
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base 
nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 
 
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o 
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. 
 
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor 
reverencial. 
 
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter 
conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e 
danos. 
 
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que 
aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as 
perdas e danos que houver causado ao coacto. 
 
ATO
ANULÁVEL
 
 
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ATO
ANULÁVEL
ATO
ANULÁVEL
ATO
ANULÁVEL
1.4. ESTADO DE PERIGO 
 
 
 
É o vício de consentimento mais grave sob a ótica da malícia de uma das partes 
que tem conhecimento de que a outra está premido da necessidade de SALVAR 
a si, a pessoa da família ou a “terceiro próximo” e, mesmo assim celebra negócio 
jurídico em que se beneficia por prestação excessivamente onerosa da outra. 
 
Os requisitos essenciais são: (1) premente necessidade de SALVAR a sim, família 
ou a “terceiro próximo”; (2) dano conhecido pela outra parte; e (3) prestação 
excessivamente onerosa. 
 
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a 
pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente 
onerosa. 
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá 
segundo as circunstâncias. 
 
1.5. LESÃO 
 
 
 
Vício que se assemelha ao Estado de Perigo. Nesse particular, por outro lado, não 
se utiliza de necessidade de salvar, como no vício anterior. Aqui se abusa de 
condição particular do agente que é inexperiente ou tem plena necessidade de 
celebrar o negócio jurídico. 
 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se 
obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi 
celebrado o negócio jurídico. 
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte 
favorecida concordar com a redução do proveito. 
 
 
1.6. FRAUDE CONTRA CREDOR 
 
 
Vício em que se busca lesar a terceiro, e não a outra parte. Não há prejuízo entre 
as partes do negócio jurídico e sim a terceiro, o credor, que deixa de contar com o 
patrimônio do seu devedor para responder para dívida. 
 
 
 
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Assim, a fraude contra credor exige a diminuição patrimonial concretizada por 
negócio de transmissão gratuita de bens (doação) ou remissão de dívida (perdão) 
pelo devedor que não tenha condições de arcar com as obrigações existente em 
seu nome (devedor insolvente). 
 
Por outro lado, a ANULAÇÃO do negócio jurídico apenas poderá ser exigida 
pelo credor que, de fato, será prejudicado, qual seja, aquele que não possui 
garantias no recebimento do crédito (credor quirografário) 
 
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o 
devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser 
anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. 
§ 1o Igual direitoassiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. 
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. 
 
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a 
insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. 
 
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, 
aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os 
interessados. 
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes 
corresponda ao valor real. 
 
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a 
pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que 
hajam procedido de má-fé. 
 
Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda 
não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso 
de credores, aquilo que recebeu. 
 
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o 
devedor insolvente tiver dado a algum credor. 
 
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à 
manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de 
sua família. 
 
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do 
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. 
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante 
hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência 
ajustada. 
 
 
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ATO
NULO
 
1.7. SIMULAÇÃO 
 
 
Na simulação, não há prejuízo entre as partes e sim para terceiro que, diante de 
declaração falsa de vontade acaba por ser lesada. Normalmente caracterizada 
pelo CONLUIO entre as partes para benefício entre si ou prejuízo para terceiro. 
 
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na 
substância e na forma. 
 
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: 
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se 
conferem, ou transmitem; 
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; 
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. 
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico 
simulado. 
 
 
 
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EXERCÍCIOS 
(Dos Defeitos do negócio jurídico) 
 
01. (TRT 3ª Região – FCC 2006) O erro de direito 
a. Pode ser de oficio reconhecido pelo juiz. 
b. Torna o negócio jurídico nulo. 
c. A respeito das questões que forem objeto de controvérsia entre as partes não anula 
a transação 
d. Não se considera defeito do negócio jurídico, porque ninguém se escusa de cumprir 
a lei alegando que não a conhece 
e. Só torna o negócio jurídico anulável quando for reconhecido que as partes 
pretendem fraudar a lei imperativa. 
 
02. Quanto aos defeitos jurídicos marque a alternativa incorreta: 
a. O simples temor reverencial não configura a coação 
b. A remissão de dívidas não configura fraude contra credores, ainda que o devedor 
esteja insolvente se a parte beneficiada ignorar a insolvência. 
c. A coação exercida por terceiro, vicia o negócio jurídico se dela tivesse ou devesse 
ter conhecimento a parte que aproveite 
d. O falso motivo só vicia a declaração de vontade para configurar o erro, quando 
expresso como razão determinante 
e. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alega-lo para anular o 
negócio, ou reclamar indenização. 
 
03. (AUDITOR DE MINAS GERAIS – FCC/2005) O negócio jurídico simulado é 
a. ineficaz, só não produzindo efeitos, se houver impugnação de terceiros interessado 
b. anulável, podendo ser ratificado pelas partes, salvo direitos de terceiros 
c. inexistente, dependendo, porém, de declaração judicial para não produzir efeitos. 
d. Nulo, mas subsistirá o que se dissimulou, se for válido na forma e na substância 
e. Válido, depois de decorridos quatro anos de sua prática, porque operada a 
decadência. 
 
04. (ANALISTA JUDICIAL – ÁREA JUDICIAL – ESPECIALIDADE EXECUÇÃO DE 
MANDADOS – FCC/2005) Ocorre a lesão quando alguém, 
a. nos negócios jurídicos bilatérias, silencia intencionalmente a respeito de fato 
ignorado pela parte contrária, sendo que, se esta dele tivesse conhecimento, o 
negócio não teria sido celebrado 
b. premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano 
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa 
c. em razão de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência 
normal, em face das circunstâncias do negócio, manifesta equivocadamente sua 
vontade. 
 
 
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d. Sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação 
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
e. Sem o conhecimento da parte a que aproveita, obtém o consentimento de terceiro 
para um negócio jurídico, mediante ameaça de exercer um direito relativo à 
propriedade ou posse de seus bens. 
 
05. (TÉCNICO JUDICIÁRIO/DF – ÁREA JUDICIÁIA – FCC/2006) Com relação aos 
defeitos de negócio jurídico, é correto afirmar: 
 
(A) considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, bem como o simples 
temor reverencial, por expressa determinação legal 
(B) O erro de cálculo vicia o negócio jurídico, que deverá ser declarado nulo, 
determinando-se a realização de novo cálculo. 
(C) Se ambas as partes procederem com dolo, ambas podem alegá-lo para anular o 
negócio, ou reclamar indenização 
(D) O dolo acidental, em regra, só obriga à satisfação das pedras e danos, e é acidental 
quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. 
(E) Não há coação quando é incutido ao paciente fundado temor de dano iminente e 
considerável aos seus bens, uma vez que a coação é relacionada, exclusivamente, a 
pessoas. 
 
06. Nos negócios jurídicos, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que 
aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento, 
 
(A) não subsistirá o negócio jurídico e o autor da coação responderá por todas as 
perdas e danos que houver causado ao coacto. 
(B) subsistirá o negócio jurídico, mas, não haverá ressarcimento por perdas e danos, 
em razão dos riscos inerentes aos negócios jurídicos. 
(C) não subsistirá o negócio jurídico, não havendo, também, ressarcimento por 
perdas e danos, em razão dos riscos inerentes aos negócios jurídicos. 
(D) subsistirá o negócio jurídico, mas o autor da coação responderá por todas as 
perdas e danos que houver causado ao coacto. 
(E) não subsistirá o negócio jurídico, e o autor da coação bem como a parte a que 
aproveite, responderão solidariamente por perdas e danos. 
 
07. (Analista Judiciário – Área Administrativa – TRF 5 – FCC junho/2003) Premido pela 
necessidade de salvar pessoa de minha família, de grave dano conhecido pela outra parte, 
assumi obrigação excessivamente onerosa. Nesse caso, estamos falando do vício que torna 
anulável o ato ou negócio jurídico e que é conhecido como 
(A) dolo. 
(B) coação. 
(C)) estado de perigo. 
(D) fraude. 
 
 
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(E) erro de direito. 
 
08. (Analista Administrativo – Área: Execução de Mandado – TRF 4 – janeiro/2001) 
Comprei uma bicicleta de alguém que se apresentou sob o nome de João. Posteriormente, 
vim a saberque seu nome era Paulo, embora fosse o dono da bicicleta. Nesse caso, o ato 
jurídico é 
(A) anulável, porque fui induzido a erro substancial. 
(B) nulo, por ter havido dolo do vendedor. 
(C) inválido, por ter havido simulação por parte do vendedor. 
(D) válido, porque o nome do vendedor não foi causa da prática do ato. 
(E) irregular, mas convalidável, porque foram acidentais meu erro e o dolo do 
vendedor. 
 
09. (Juiz Substituto – TJ/BA – julho/1999) Os atos de transmissão gratuita de bens, ou 
remissão de divida, quando os pratique o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à 
insolvência, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos de seus 
direitos. Trata-se aqui de 
A) simulação. 
B) fraude à execução. 
C) fraude contra credores. 
D) presunção jure et de jure de dolo. 
E) dolo, e podem pleitear-lhe a anulação, os credores que já o sejam, ou os que venham a 
sê-lo depois desses atos. 
 
10. (Técnico Judiciário – Área Administrativa - TRF 1 – outubro/2001) O fato lesivo, 
causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
gerando a alguém dano patrimonial ou moral, acarreta o dever de indenizar, quando 
praticado 
(A)) em desacordo com a ordem jurídica. 
(B) em legítima defesa. 
(C) em estado de necessidade. 
(D) no exercício regular de um direito reconhecido. 
(E) com deterioração da coisa alheia, a fim de remover perigo iminente, não excedendo os 
limites do indispensável para a remoção do perigo. 
 
11. (Técnico Judiciário – Área Administrativa – TRF 4 – JANEIRO/2001) Meu filho 
menor causou, culposamente, dano a terceiro, que foi ressarcido por mim. Nesse caso, 
(A) não posso reaver do culpado o que paguei, porque ele é meu filho. 
(B) paguei mal, porque à vítima ainda remanesce o direito de se ressarcir executando os 
bens do culpado. 
(C) tenho direito de regresso contra meu filho, em nome de quem paguei a vítima. 
(D) paguei corretamente, visto que sou o único responsável por atos de meu filho. 
 
 
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(E) só posso reaver de meu filho 50% do que paguei, porque somos responsáveis 
solidários. 
 
12. (Técnico Judiciário – Área Administrativa – TRF 5 – JUNHO/2003) Para a configuração 
do ato ilícito, é imprescindível, entre outros fatores, que 
(A) ocorra um ato lesivo voluntário ou não, causado pelo agente sob qualquer 
circunstância. 
(B) tenha sido praticado no exercício regular de um direito reconhecido, sendo irrelevante 
o abuso desse direito. 
(C)) haja nexo de causalidade entre um dano patrimonial ou moral e o comportamento do 
agente. 
(D) haja dano patrimonial e moral, sempre concomitantes, ou de qualquer outra natureza, 
indenizáveis ou não. 
(E) o fato lesivo seja causado pelo agente ou por terceiro, desde que por ação ou omissão. 
 
GABARITO 
(Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 
 
01 C 
02 B 
03 D 
04 D 
05 D 
06 D 
07 C 
08 D 
09 C 
10 A 
11 A 
12 C

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