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1 fernando.assis@assisemonteiro.com.br RESUMO TEÓRICO (Aula 04 e 5 – Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 1. INTRODUÇÃO Nem todo acontecimento merece atenção por parte do direito. O fato de se acordar bem humorado ou mal humorado, almoçar muito ou pouco, coisas assim, não refletem preocupação ao direito e, por via de conseqüência, não são dignos de receber preocupação legislativa. Entretanto, alguns acontecimentos, boa parte deles, é verdade, são relevantes para o direito sendo, assim indispensável que o sistema jurídico esteja preparado para lhe declinar normas para regulamentar o envolvimento humano e suas conseqüências mais importantes. Analisando o Código Civil Brasileiro, notamos que o mesmo apresenta a disciplina dos fatos jurídicos, acontecimentos relevantes para o direito, da seguintes forma: FATO JURÍDICO NATURAIS HUMANOS (ato jurídico lato sensu) ORDINÁRIO EXTRAORDINÁRIO ATO JURÍDICO LÍCITO NEGÓCIO JURÍDICO ATO ILÍCITO Importante considerar que, nosso estudo, direcionado para o concurso público que nos é alvo, no conduz ao estudo tão somente daqueles acontecimentos relevantes para o direito e que possuam participação humana na sua constituição, quais sejam, o negócio jurídico, o ato jurídico lícito e o ato ilícito1. É o que passaremos a estudar. 1 A doutrina ainda nos apresenta um terceiro tipo de ato jurídico lato sensu, qual seja, o ato-fato jurídico. Deixaremos de estender comentários acerca do mesmo pela divergência doutrinária em sua admissão e principalmente pelo fato de que nos basta o estudo segundo o Código Civil que não apresenta em seus títulos, capítulos ou seções esse tipo de ato jurídico. 2 fernando.assis@assisemonteiro.com.br 1.1 ATO JURÍDICO LÍCITO Conceitualmente, podemos dizer que o ato jurídico lítico é “simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos”2, ou seja, trata-se de manifestação unilateral de vontade (independe da participação ou aquiescência de terceiros) que produz efeitos previstos em lei, não se podendo modificar suas conseqüências. Importante constatação se faz quando confrontamos tal conceito com o de negócio jurídico. Percebemos que os mesmos, muito embora não se confundam, se assemelham diante de alguns valores como, principalmente, a manifestação de vontade por uma pessoa e, ainda, a produção de efeitos entre os envolvidos. A semelhança acima traz conseqüência jurídica relevante na medida em que o legislador faz referência ao necessário estudo conjunto entre os referidos institutos, conforme prevê o artigo 185, do Código Civil, que diz que “aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior”, título este que se refere ao Negócio Jurídico. Com isso, o estudo que se segue com relação ao Negócio Jurídico, pautado nos artigos 104 a 184 do Código Civil, deverá ser lido, também, como orientação ao que se refere o ato jurídico lícito. 1.2. NEGÓCIO JURÍDICO Negócio Jurídico é todo “fato jurídico consistente em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia, impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”.3 Em síntese, trata-se de manifestação de vontade bilateral (necessita participação voluntária de duas ou mais pessoas) produzindo efeitos designados por aqueles que manifestam a vontade, apresentando apenas a limitação da lei. 1.3. ATO ILÍCITO Nesse particular, não se exige mais a presença de elementos de EXISTÊNCIA, VALIDADE ou EFICÁCIA. Até porque não está presente a VONTADE do agente como sendo determinante para a caracterização do chamado ILÍCITO CIVIL. 2 GAGLIANO, Pablo Stolze, Novo Curso de Direito Civil, Volume I, 8ª Edição, Editora Saraiva, São Paulo : 2007, p. 303 3 AZEVEDO, Antônio Junqueira de, Negócio Jurídico. Existência, Validade e Eficácia, 3ª Edição, Editora Saraiva, São Paulo : 2000, p. 16 3 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Em boa verdade, o ato ilícito guarda relação com a Responsabilidade Civil, ou o dever de reparar dano praticado pelo agente, tema regulamentado pelos artigos 927 e seguintes do Código Civil. São quatro os requisitos para a imposição do dever de reparar dano: ATO ILÍCITO, dano, culpa e nexo de causalidade. Logo, o ato ilícito representa apenas um dos elementos necessários. A configuração do ato ilícito se dá por meio da AÇÃO OU OMISSÃO; que VIOLE DIREITO; causada por DOLO OU CULPA; acarretando DANO A ALGUÉM. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. ATO LESIVO ATO ILÍCITO Todo ato ilícito é lesivo Nem todo ato lesivo é ilícito Como previsto no conteúdo do artigo 186, que conceitua aquilo que vem a ser o ato ilícito, existe a necessidade que todos os atos ilícito tenha como fim a lesividade, ou seja, tenha condições de causar um dano, moral ou material, a alguém. Entretanto, podemos afirmar que diversos são os atos lesivos – geram dano a alguém – que não serão tidos como ilícito por serem permitidos pela lei. Referida permissão encontra-se, na esfera civil, dentro do contexto das chamadas excludentes de ilicitude previstas no artigo 188 do Código Civil. EXCLUDENTES DE ILICITUDE (artigo 188, do Código Civil) a) legítima defesa b) exercício regular de um direito reconhecido c) estado de necessidade 4 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Em qualquer hipótese de excludente de ilicitude, entretanto, aquele que exceder à prática do ato acima legitimado responderá pelo limite da finalidade de se defender ou a terceiro, por exemplo. O ramo do direito a que mais importa o estudo do ato ilícito está adstrito à Responsabilidade Civil – ramo que estuda o dever de reparar um dano a uma vítima de ato ilícito. Para nossos estudos relacionados ao ato jurídico lato sensu, essas disposições contidas nos artigo 186 a 188 são suficientes, ou seja, seu conceito e as hipóteses de excludente de ilicitude. Avançaremos a partir de agora ao estudo dos outros dois tipos de ato jurídicos que nos interessam ao estudo: (1) ato jurídico lícito; e (2) negócio jurídico. 2. PLANOS DO NEGÓCIO/ATO JURÍDICO O estudo dos atos e negócios jurídicos exigem compreensão aos planos de existência, validade e eficácia, teoria apresentada em nosso ordenamento jurídico por PONTES DE MIRANDA. Podemos assim apresentá-los: EXISTÊNCIA VALIDADE EFICÁCIA Agente Objeto Forma VONTADE Capaz Lícito, possível determinado ou determinável Prescrita ou não defesa em lei LIVRE E DESEMBARAÇADA Termo Condição Encargo 5 fernando.assis@assisemonteiro.com.br2.1. PLANO DE EXISTÊNCIA Para que um negócio jurídico possa existir, se faz indispensável que o mesmo apresente todos os elementos essenciais apresentados acima: agente, objeto, forma e vontade. Nesse plano, não se discute a extensão da validade ou eficácia do negócio jurídico. O fato de existir, não significa dizer que o negócio ou ato jurídico serão reconhecidamente válidos ou, sequer produza seus efeitos. Por outro lado, caso um negócio ou ato jurídico não exista juridicamente, a ele não será atribuída, por óbvio, validade ou eficácia. 2.2. PLANO DE VALIDADE O artigo 104 apresenta os elementos básicos que se exigem para a percepção da validade do negócio jurídico: agente CAPAZ, Objeto LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL, Forma PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI, sendo que podemos acrescentar a vontade LIVRE E DESEMBARAÇADA. A invalidade do negócio jurídico implica em duas conseqüências não cumulativas, NULIDADE absoluta (ato nulo) e a NULIDADE relativa (ato anulável). Importante é considerar as diferenças dessas conseqüências, regulamentadas pelos artigos 166 a 184 do Código Civil. 6 fernando.assis@assisemonteiro.com.br DIFERENCIAÇÃO ENTRE ATO NULO E ATO ANULÁVEL (Resumo dos artigos 166 a 184 do Código Civil) NULIDADE (Nulidade absoluta) ANULABILIDADE (Nulidade relativa) Reconhecimento independe de manifestação pelo interessado. Pode ser feito ex officio pelo Juiz Depende de manifestação pela parte interessada, ou pelo Ministério Público nos casos em que pode intervir. Pode ser analisado a qualquer tempo e grau de jurisdição Depende de declaração judicial por iniciativa do interessado e no tempo determinado pela lei4 Não admite confirmação posterior por representar afronta a matéria de ordem pública Pode ser confirmado5 posteriormente por quem de direito (v.g., responsável) Não está sujeita à convalidação pelo decurso do tempo (decadência) Deve ser argüida pelo interessado no prazo estipulado pela lei, sob pena de se convalidar (sujeito a decadência6) Reconhecimento culmina em efeitos ex tunc (a invalidade dos efeitos retroage à data de celebração do negócio) Reconhecimento culmina em efeitos ex nunc (a invalidade dos efeitos ocorrem a partir da data da declaração da anulação) Hipóteses: 1) Incapacidade absoluta; 2) Objeto ilícito, impossível ou indeterminável; 3) Motivo determinante, comum às partes, for ilícito; 4) Não revestir a forma prescrita em lei; 5) For preterida alguma solenidade que a lei considere necessária; 6) Tiver como objetivo fraudar a lei imperativa; 7) Celebrado em simulação. Hipóteses: 1) Incapacidade relativa 2) Celebrado diante de vício de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) 3) Celebrado diante de fraude contra credor 4 Caso a parte deixe passar o prazo previsto nos artigo 178 e 179 do Código Civil não poderá mais alegar a nulidade. 5 Confirmação é ato em que o vício identificado é resolvido pelos envolvidos. 6 A decadência pode ser entendida como sendo a perda de direito potestativo diante da ocorrência de lapso temporal. Conforme já destacado, trata-se de perda do próprio direito e não a perda apenas da pretensão. 7 fernando.assis@assisemonteiro.com.br A) AGENTE CAPAZ Nesse particular, exige o legislador que o negócio jurídico seja praticado pelo agente CAPAZ, aquele previsto no artigo 5º do Código Civil. INCAPACIDADE ABSOLUTA � ATO/NEGÓCIO NULO INCAPACIDADE RELATIVA � ATO/NEGÓCIO Quanto à capacidade do agente, diz o artigo 105, do Código Civil: “Artigo 105 – A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.” Outra exigência legal que deve ser acrescentada quando se fala em capacidade do agente se refere aos poderes que o mesmo possui para dispor do direito, ou seja, ser ele legítimo ou representar adequadamente o titular do referido direito. Nesse particular os artigos 115 a 120 do Código Civil apresenta normas que regulamentam a REPRESENTAÇÃO, ou seja, a possibilidade de prática de atos não por seu titular, mas por aquele que detém poderes para tal finalidade. A representação dar-se-á por lei, como nos casos da representação e assistência de incapaz, ou por convenção do interessado por meio da outorga de poderes específicos para esse fim. “Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado. Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado. Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos. Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem. Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. 8 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo. Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código.” B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL Objeto é o bem juridicamente protegido. Pode ele ser representado pelo próprio bem material sobre o qual se funda o negócio como no caso do contrato de compra e venda pode ser representado pelo próprio bem que se compra (carro, casa, computador...) Também se refere aos direitos/deveres adquiridos pelas partes. Três são os requisitos para que o objeto não vicie um negócio jurídico: ser ele lícito (não proibido por lei), possível (fisicamente alcançável), determinado ou determinável (se é capaz de identificar com precisão os direitos e deveres de todos, assim como o bem juridicamente tutelado). Artigo 106 – A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. C) FORMA PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI A forma é o mecanismo utilizado pelos interessados para manifestar a vontade. É o meio pelo qual se informa a vontade necessária à caracterização do negócio jurídico. A forma, por exemplo, poderá ser escrita ou verbal, assim como se escrita, poderá ser pública ou privada. No Direito Brasileiro, prevalece a idéia de que o ato/negócio jurídico deverá ser concretizado por meio de FORMA LIVRE, ou seja, se não houver prescrição legal ou restrições quanto a utilização de uma ou outra forma, qualquer meio de manifestação de vontade será admitido como sendo válido. Diz o artigo 107 do Código Civil, com relação à forma necessária à validade do negócio jurídica: Artigo 107 – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Artigo 108 – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negóciosjurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. 9 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Artigo 109 – No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato. D) VONTADE LIVRE E DESEMBARAÇADA A vontade é elemento essencial ao negócio jurídico. Até porque sem a sua expressão, não se é capaz de identificar a produção de efeitos de sorte que para a validade de um negócio jurídico é indispensável prevalecer o entendimento de que se trata da verdadeira intenção das partes. Caso haja qualquer elemento que distorça esse elemento, insistir na produção de efeitos representaria injustiça e quebra do próprio conceito do instituto. O estudo dos defeitos do negócio jurídico representa ainda com maior valor essa importância no qual observamos a expressa disposição da lei que nos casos em que a manifestação de vontade se mostra contrária à real intenção dos envolvidos temos a mácula que conduzirá à invalidade do negócio jurídico. Entretanto, referindo-se a essa parte geral dos atos/negócios jurídicos se mostra importante considerar o que dispõe os artigos 110 e 112 do Código Civil que demonstra o meio pelo qual deverá ser interpretado o negócio jurídico quanto à vontade manifestada. Artigo 110 – A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. Artigo 111 – O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Artigo 112 – Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Artigo 113 – Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Artigo 114 – Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. 2.3. PLANO DA EFICÁCIA Ainda que existente e válido, um negócio jurídico pode ter condicionado seus efeitos condicionados a um evento ou obrigação, tudo de acordo com a intenção das partes. É o que ocorre com o testamento, exemplo clássico de manipulação do plano da eficácia. Nele, ainda que existente e válido no momento em que o interessado expede tal documento em cartório, por exemplo, a produção de efeitos apenas acontece depois do evento futuro e incerto da MORTE. São três os elementos utilizados para a caracterização do plano da eficácia: termo, condição e encargo. 10 fernando.assis@assisemonteiro.com.br 2.3.1. TERMO Subordina os efeitos do negócio jurídico a evento FUTURO E CERTO. Essa subordinação poderá ser no momento em que identifica o início dos efeitos (TERMO INICIAL) ou quando identifica o término da produção de efeitos de um negócio jurídico (TERMO FINAL). TERMO INICIAL – a partir do termo, começam os efeitos. EFEITOS CELEBRAÇÃO EVENTO FUTURO E CERTO TERMO FINAL – produz efeitos apenas até o termo EFEITOS CELEBRAÇÃO EVENTO FUTURO E CERTO 2.3.2. CONDIÇÃO Subordina efeitos a evento FUTURO E INCERTO Essa incerteza não é quanto a POSSIBILIDADE de se ocorrer tal evento. Tanto no termo quanto na condição identifica-se a possibilidade de o evento ocorrer. Na verdade, a incerteza está na indefinição de quando ocorrerá o evento, que necessita ser possível. A condição, assim como o termo, vincula a produção de efeitos tanto para identificar o momento em que começam os efeitos (CONDIÇÃO SUSPENSIVA) e quando cessam os efeitos que já estavam se produzindo (CONDIÇÃO RESOLUTIVA) 11 fernando.assis@assisemonteiro.com.br CONDIÇÃO SUSPENSIVA – os efeitos do negócio jurídico ficam suspensos aguardando a ocorrência do evento futuro e incerto, momento em que passam a ser produzidos. EFEITOS CELEBRAÇÃO EVENTO FUTURO E INCERTO CONDIÇÃO RESOLUTIVA – os efeitos do negócio jurídicos já são identificados no momento de sua celebração, RESOLVENDO-SE, ou cessando-se os mesmos quando ocorrer o evento futuro e incerto. EFEITOS CELEBRAÇÃO EVENTO FUTURO E INCERTO Sem sombra de dúvidas, a incerteza da condição traz consigo preocupações naturais para o legislador uma vez que, não se sabendo ao certo quando ocorrerão, torna-se razoável questionar a própria possibilidade de sua ocorrência ou, ainda, a manipulação pelas partes quanto a tal evento futuro e incerto segundo seus interesses particulares. Nessa linha, dois foram os artigos legais criados com essa preocupação: Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível. Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. 2.3.3. ENCARGO Subordina os efeitos do negócio jurídico a uma obrigação imposta ao detentor do direito. Normalmente, falar em encargo encontra facilidade de compreensão quando nos referimos a negócios gratuitos (p.ex., doação) na qual se declina em favor do donatário certo benefício que poderá dele se valer CASO CUMPRA COM UMA CONTRAPARTIDA. 12 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Aspecto já avaliado em provas de concurso se refere à aquisição do direito, seu exercício e, principalmente, conseqüências diante de encargo impossível, questões disciplinadas abaixo: Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. 13 fernando.assis@assisemonteiro.com.br EXERCÍCIOS (Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 01. (TRT/20ª – FCC 2006) O negócio jurídico concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou é: a. Inexistente b. Nulo c. Válido d. Anulável e. Ineficaz 02. (ARCED – FCC 2006) Haverá nulidade absoluta, quando o negócio jurídico for: a. Realizado em estado de perigo b. Praticado por agente absoluta ou relativamente incapaz c. Realizado em frade a lei imperativa ou fraude contra credores d. Simulado, entretanto, a lei não veda o negócio fiduciário e. Eivado de erro de direito 03. Um pai promete ao seu filho que no natal de 2006 lhe dará um carro novo. Dentro da classificação dos elementos acidentais do negócio jurídico podemos classificar o caso em tela como: a. Condição resolutiva, pois põe termo ao exercício do direito b. Encargo, pois só ocorrerá quando o natal chegar c. Termo final, pois encerra a espera quando o natal chegar d. Termo inicial, pois quando o natal chegar ele poderá exercer o seu direito que é ter o carro novo. 04. (PROCURADOR DE CONTAS 2ª CLASSE – FCC/2006) No tocante à invalidade dos negócios jurídicos é correto afirmar ser: I. Nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. II. Anulável o negócio jurídico que tiver por objetivo fraudar lei imperativa. III. Nulo o negócio jurídico resultante de erro de direito. IV. Anulável o negócio jurídico em que ficar configurada a lesão. Estão corretosos itens: a. I e IV b. I e V c. II e III d. II e IV e. IV e V 05. (PROCURADOR-GERAL DE RORAIMA – FCC/2006) Haverá nulidade absoluta, 14 fernando.assis@assisemonteiro.com.br a. Se houver lesão contratual e relativa, se a parte celebrar negócio jurídico mediante coação. b. Se o negócio jurídico for celebrado por pessoa absolutamente incapaz e relativa, se tiver por objetivo fraudar lei imperativa. c. Se a parte incidir em erro substancial de direito e relativa, se praticado por pessoa relativamente incapaz. d. Se o negócio jurídico for simulado e relativa, se for celebrado em estado de perigo. e. No caso de dolo, se o seu autor for a outra parte e relativa, se o seu autor for terceiro. 06. (ANALISTA JUDICIÁRIO/AP – ÁREA JURÍDICA – FCC/2006) Com relação à nulidade e à anulabilidade do negócio jurídico é certo que a. O negócio jurídico nulo é suscetível de confirmação, e convalesce pelo decurso do tempo. b. É anulável o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito. c. É nulo o negócio jurídico por cicio resultante de estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. d. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico, sendo-lhe, em qualquer hipótese, permitido supri-las; e. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. 07. (ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JURÍDICA FCC/2005) Considere as hipóteses: I. Erro, dolo ou coação II. Objeto impossível III. Estado de perigo ou lesão IV. Objeto indeterminável V. Objetivo de fraudar lei imperativa São casos de nulidade do negócio jurídico, dentre outras, as indicadas SOMENTE em a. I e III b. II e IV c. II, III e V d. II, IV e V e. III, IV e V 08. (PROCURADOR DO MARANHÃO - FCC/2005) Segundo o Código Civil é anulável o negócio jurídico: a. quando for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto. b. Quando for o motivo determinante, comum a âmbar as partes, for ilícito c. Celebrado por pessoa absolutamente incapaz não representada d. Por vício resultante do dolo, coação, estado de perigo ou lesão 15 fernando.assis@assisemonteiro.com.br e. Quanto tiver por objetivo fraudar lei imperativa 09. (ANALISTA JUDICIÁRIO/MG – ÁREA JUDICIÁRIA – FCC/2005) É anulável o negócio jurídico a. por vício resultante de erro, dolo e coação. b. Que não se revestir da forma prescrita em lei c. Quando foi ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto d. Que tiver por objetivo fraudar lei imperativa e. Quando o motivo determinante, comum as partes, for ilícito 10. (TÉCNICO JUDICIÁRIO/DF – ÁREA JUDICIÁIA – FCC/2006) Com relação à validade do negócio jurídico, em regra, a incapacidade relativa de uma das partes (A) não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, mas aproveita aos co- interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. (B) Pode ser invocada pela outra em benefício próprio, bem como aproveita aos co- interessados capazes, em qualquer hipótese. (C) Não pode ser invocada pela outra parte em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. (D) Pode ser invocada pela outra em benefício próprio e aproveita aos co-interessados capazes apenas se, neste caso, for divisível o objeto ou da obrigação comum. (E) Não pode ser invocada pela outra em benefício próprio e nem aproveita aos co- interessados capazes, em qualquer hipótese. 11. (Analista Judiciário – Área Administrativa – FCC – outubro/2001) Todo ato lícito que tenha por fim imediato, entre outros, resguardar, transferir ou modificar direitos, denomina-se (A) representação jurídica. (B) interesse jurídico. (C) capacidade jurídica. (D)) ato jurídico. (E) fato jurídico. 12. (Técnico Judiciário – Área Administrativa – TRF 5 – JUNHO/2003) No que se refere aos fatos jurídicos é certo que (A) os atos negociais benéficos devem ser interpretados de forma ampliativa. (B)) a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. (C) os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme boa-fé e desconsiderados os usos do lugar de sua celebração. 16 fernando.assis@assisemonteiro.com.br (D) nas declarações de vontade atender-se-á mais ao sentido literal da linguagem no que a intenção nelas consubstanciada. (E) o silêncio sempre importa em anuência, confirmando que a parêmia "quem cala consente" tem juridicidade. GABARITO (Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 01 D 02 D 03 E 04 A 05 D 06 E 07 D 08 D 09 A 10 C 11 D 12 B 17 fernando.assis@assisemonteiro.com.br RESUMO TEÓRICO (Dos Fatos Jurídicos: dos defeitos do negócio jurídico) 1. DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Sob o título acima, o legislador se preocupou em identificar momentos em que o elemento VONTADE dos agentes envolvidos em um negócio jurídico não representaria a suas reais intenções tendo em vista elementos de engodo que ensejariam prejuízos às partes (VÍCIOS DE CONSENTIMENTO) ou prejuízos a terceiros, alheios à relação jurídica estabelecida pelo negócio jurídico (VÍCIOS SOCIAIS). Duas são as formas de avaliação nas provas de concurso quanto a tal matéria. A primeira delas se refere à simples identificação mediante o estudo de caso de qual defeito do negócio jurídico poderíamos identificar entre os 7 (sete) previstos na legislação. A segunda forma se refere à compreensão minuciosa, específica, dos requisitos de caracterização de cada defeito do negócio jurídico. Para essa primeira forma de avaliação, é de grande auxílio o estudo geral dos defeitos do negócio jurídico por meio do esquema abaixo. Após tal visão geral, passaremos ao estudo específico de cada um dos defeitos do negócio jurídico. VÍCIOS DE CONSENTIMENTO (prejuízo para as PARTES) VÍCIOS SOCIAIS (prejuízos para 3º) ERRO DOLO COAÇÃO ESTADO DE PERIGO LESÃO FRAUDE CONTRA CREDOR SIMULAÇÃO PROVOCADO PELAS PARTES PROVOCADO POR 3ª SITUAÇÃO 18 fernando.assis@assisemonteiro.com.br ATO ANULÁVEL 1.1. ERRO (“vício do mané”) Nesse vício, a parte se ENGANA quanto a elemento essencial do negócio jurídico acabando por celebrar negócio que não tinha interesse em celebrar. São requisitos essenciais para a caracterização o erro, enquanto vício de consentimento capaz de ANULAR o negócio jurídico (ERRO SUBSTANCIAL): a) ser o erro identificável segundo pessoa de diligência normal, ou seja, SER RAZOÁVEL; b) ser essencial à celebração do negócio jurídico (“se não me enganasse, não teria celebrado o negócio jurídico...”) Ausente quaisquer desses elementos, o vício não será capaz de anular o negócio jurídico (ERRO ACIDENTAL) Artigo 138 – São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Artigo 139 – O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Artigo 140 – O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.Artigo 141 – A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta. Artigo 142 – O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. Artigo 143 – O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. 19 fernando.assis@assisemonteiro.com.br ATO ANULÁVEL Artigo 144 – O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. 1.2. DOLO (“vício do mala”) Nesse vício, uma das partes se vale da inocência da outra induzido-a ao erro. Nada mais é do que a MENTIRA contada por uma das partes em busca de convencer a outra para que celebre o negócio jurídico. Indiscutível reconhecer que nesse particular já passamos a identificar a má-fé de uma das partes. Assim como no erro, o dolo, para gerar o vício do negócio jurídico se faz indispensável que o mesmo seja determinante para a celebração do negócio (DOLO ACIDENTAL). O dolo depende, para sua caracterização da provocação por uma das partes, sendo certo que tal provocação poderá ocorrer de forma direta (pela própria pessoa), ainda que pela simples omissão, ou de forma indireta (por terceira pessoa a mando a parte ou a respeito de quem se tenha conhecimento). Caso não haja o envolvimento da parte na provocação do engano à outra parte lesada, poderá subsistir (ser reconhecido válido) o negócio jurídico sendo que o terceiro que praticou a engano é que seria responsável por indenizar o lesado por perdas e danos. Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. 20 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. 1.3. COAÇÃO (“vício da ameaça”) Nesse vício, uma parte incute na outra receio de dano iminente à sua pessoa, pessoa da família ou a “terceiro próximo”. Aqui se coloca o terceiro com o adjetivo de próximo na medida em que o juiz deverá analisar a proximidade entre cada um dos envolvidos para concluir se foi, ou não, capaz de ser decisivo na celebração do negócio jurídico. O temor incutido deve ser concreto, real e irresistível podendo ser incutido de forma física (vis absoluta) ou até mesmo moral (vis compulsiva). Quando a coação física alcançar proporção tamanha que culmine em retirar a consciência do agente quanto a celebração no negócio jurídico, não estaremos falando em invalidade do negócio jurídico, e sim de NEGÓCIO INEXISTENTE tendo em vista que sequer seria identificado o elemento essencial da vontade para a caracterização do mesmo. Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. ATO ANULÁVEL 21 fernando.assis@assisemonteiro.com.br ATO ANULÁVEL ATO ANULÁVEL ATO ANULÁVEL 1.4. ESTADO DE PERIGO É o vício de consentimento mais grave sob a ótica da malícia de uma das partes que tem conhecimento de que a outra está premido da necessidade de SALVAR a si, a pessoa da família ou a “terceiro próximo” e, mesmo assim celebra negócio jurídico em que se beneficia por prestação excessivamente onerosa da outra. Os requisitos essenciais são: (1) premente necessidade de SALVAR a sim, família ou a “terceiro próximo”; (2) dano conhecido pela outra parte; e (3) prestação excessivamente onerosa. Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. 1.5. LESÃO Vício que se assemelha ao Estado de Perigo. Nesse particular, por outro lado, não se utiliza de necessidade de salvar, como no vício anterior. Aqui se abusa de condição particular do agente que é inexperiente ou tem plena necessidade de celebrar o negócio jurídico. Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 1.6. FRAUDE CONTRA CREDOR Vício em que se busca lesar a terceiro, e não a outra parte. Não há prejuízo entre as partes do negócio jurídico e sim a terceiro, o credor, que deixa de contar com o patrimônio do seu devedor para responder para dívida. 22 fernando.assis@assisemonteiro.com.br Assim, a fraude contra credor exige a diminuição patrimonial concretizada por negócio de transmissão gratuita de bens (doação) ou remissão de dívida (perdão) pelo devedor que não tenha condições de arcar com as obrigações existente em seu nome (devedor insolvente). Por outro lado, a ANULAÇÃO do negócio jurídico apenas poderá ser exigida pelo credor que, de fato, será prejudicado, qual seja, aquele que não possui garantias no recebimento do crédito (credor quirografário) Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1o Igual direitoassiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. § 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. 23 fernando.assis@assisemonteiro.com.br ATO NULO 1.7. SIMULAÇÃO Na simulação, não há prejuízo entre as partes e sim para terceiro que, diante de declaração falsa de vontade acaba por ser lesada. Normalmente caracterizada pelo CONLUIO entre as partes para benefício entre si ou prejuízo para terceiro. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. 24 fernando.assis@assisemonteiro.com.br EXERCÍCIOS (Dos Defeitos do negócio jurídico) 01. (TRT 3ª Região – FCC 2006) O erro de direito a. Pode ser de oficio reconhecido pelo juiz. b. Torna o negócio jurídico nulo. c. A respeito das questões que forem objeto de controvérsia entre as partes não anula a transação d. Não se considera defeito do negócio jurídico, porque ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece e. Só torna o negócio jurídico anulável quando for reconhecido que as partes pretendem fraudar a lei imperativa. 02. Quanto aos defeitos jurídicos marque a alternativa incorreta: a. O simples temor reverencial não configura a coação b. A remissão de dívidas não configura fraude contra credores, ainda que o devedor esteja insolvente se a parte beneficiada ignorar a insolvência. c. A coação exercida por terceiro, vicia o negócio jurídico se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte que aproveite d. O falso motivo só vicia a declaração de vontade para configurar o erro, quando expresso como razão determinante e. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alega-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. 03. (AUDITOR DE MINAS GERAIS – FCC/2005) O negócio jurídico simulado é a. ineficaz, só não produzindo efeitos, se houver impugnação de terceiros interessado b. anulável, podendo ser ratificado pelas partes, salvo direitos de terceiros c. inexistente, dependendo, porém, de declaração judicial para não produzir efeitos. d. Nulo, mas subsistirá o que se dissimulou, se for válido na forma e na substância e. Válido, depois de decorridos quatro anos de sua prática, porque operada a decadência. 04. (ANALISTA JUDICIAL – ÁREA JUDICIAL – ESPECIALIDADE EXECUÇÃO DE MANDADOS – FCC/2005) Ocorre a lesão quando alguém, a. nos negócios jurídicos bilatérias, silencia intencionalmente a respeito de fato ignorado pela parte contrária, sendo que, se esta dele tivesse conhecimento, o negócio não teria sido celebrado b. premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa c. em razão de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio, manifesta equivocadamente sua vontade. 25 fernando.assis@assisemonteiro.com.br d. Sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. e. Sem o conhecimento da parte a que aproveita, obtém o consentimento de terceiro para um negócio jurídico, mediante ameaça de exercer um direito relativo à propriedade ou posse de seus bens. 05. (TÉCNICO JUDICIÁRIO/DF – ÁREA JUDICIÁIA – FCC/2006) Com relação aos defeitos de negócio jurídico, é correto afirmar: (A) considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, bem como o simples temor reverencial, por expressa determinação legal (B) O erro de cálculo vicia o negócio jurídico, que deverá ser declarado nulo, determinando-se a realização de novo cálculo. (C) Se ambas as partes procederem com dolo, ambas podem alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização (D) O dolo acidental, em regra, só obriga à satisfação das pedras e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. (E) Não há coação quando é incutido ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável aos seus bens, uma vez que a coação é relacionada, exclusivamente, a pessoas. 06. Nos negócios jurídicos, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento, (A) não subsistirá o negócio jurídico e o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. (B) subsistirá o negócio jurídico, mas, não haverá ressarcimento por perdas e danos, em razão dos riscos inerentes aos negócios jurídicos. (C) não subsistirá o negócio jurídico, não havendo, também, ressarcimento por perdas e danos, em razão dos riscos inerentes aos negócios jurídicos. (D) subsistirá o negócio jurídico, mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. (E) não subsistirá o negócio jurídico, e o autor da coação bem como a parte a que aproveite, responderão solidariamente por perdas e danos. 07. (Analista Judiciário – Área Administrativa – TRF 5 – FCC junho/2003) Premido pela necessidade de salvar pessoa de minha família, de grave dano conhecido pela outra parte, assumi obrigação excessivamente onerosa. Nesse caso, estamos falando do vício que torna anulável o ato ou negócio jurídico e que é conhecido como (A) dolo. (B) coação. (C)) estado de perigo. (D) fraude. 26 fernando.assis@assisemonteiro.com.br (E) erro de direito. 08. (Analista Administrativo – Área: Execução de Mandado – TRF 4 – janeiro/2001) Comprei uma bicicleta de alguém que se apresentou sob o nome de João. Posteriormente, vim a saberque seu nome era Paulo, embora fosse o dono da bicicleta. Nesse caso, o ato jurídico é (A) anulável, porque fui induzido a erro substancial. (B) nulo, por ter havido dolo do vendedor. (C) inválido, por ter havido simulação por parte do vendedor. (D) válido, porque o nome do vendedor não foi causa da prática do ato. (E) irregular, mas convalidável, porque foram acidentais meu erro e o dolo do vendedor. 09. (Juiz Substituto – TJ/BA – julho/1999) Os atos de transmissão gratuita de bens, ou remissão de divida, quando os pratique o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos de seus direitos. Trata-se aqui de A) simulação. B) fraude à execução. C) fraude contra credores. D) presunção jure et de jure de dolo. E) dolo, e podem pleitear-lhe a anulação, os credores que já o sejam, ou os que venham a sê-lo depois desses atos. 10. (Técnico Judiciário – Área Administrativa - TRF 1 – outubro/2001) O fato lesivo, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, gerando a alguém dano patrimonial ou moral, acarreta o dever de indenizar, quando praticado (A)) em desacordo com a ordem jurídica. (B) em legítima defesa. (C) em estado de necessidade. (D) no exercício regular de um direito reconhecido. (E) com deterioração da coisa alheia, a fim de remover perigo iminente, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. 11. (Técnico Judiciário – Área Administrativa – TRF 4 – JANEIRO/2001) Meu filho menor causou, culposamente, dano a terceiro, que foi ressarcido por mim. Nesse caso, (A) não posso reaver do culpado o que paguei, porque ele é meu filho. (B) paguei mal, porque à vítima ainda remanesce o direito de se ressarcir executando os bens do culpado. (C) tenho direito de regresso contra meu filho, em nome de quem paguei a vítima. (D) paguei corretamente, visto que sou o único responsável por atos de meu filho. 27 fernando.assis@assisemonteiro.com.br (E) só posso reaver de meu filho 50% do que paguei, porque somos responsáveis solidários. 12. (Técnico Judiciário – Área Administrativa – TRF 5 – JUNHO/2003) Para a configuração do ato ilícito, é imprescindível, entre outros fatores, que (A) ocorra um ato lesivo voluntário ou não, causado pelo agente sob qualquer circunstância. (B) tenha sido praticado no exercício regular de um direito reconhecido, sendo irrelevante o abuso desse direito. (C)) haja nexo de causalidade entre um dano patrimonial ou moral e o comportamento do agente. (D) haja dano patrimonial e moral, sempre concomitantes, ou de qualquer outra natureza, indenizáveis ou não. (E) o fato lesivo seja causado pelo agente ou por terceiro, desde que por ação ou omissão. GABARITO (Dos Fatos Jurídicos: ato jurídico lícito, negócio jurídico e ato ilícito) 01 C 02 B 03 D 04 D 05 D 06 D 07 C 08 D 09 C 10 A 11 A 12 C
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