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DOCÊNCIA EM SAÚDE CUIDADOS CLÍNICOS EM PEQUENOS ANIMAIS 1 Copyright © Portal Educação 2013 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de Setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842c Cuidados clínicos em pequenos animais / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013. 221p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-798-0 1. Medicina veterinária. 2. Animais – cuidados clínicos. I. Portal Educação. II. Título. CDD 636.088 2 SUMÁRIO 1 CUIDADOS CLÍNICOS EM PEQUENOS ANIMAIS ................................................................................ 11 1.1 OS PAIS .................................................................................................................................................. 12 1.2 A FERTILIZAÇÃO E A GESTAÇÃO ........................................................................................................ 13 1.3 O PARTO ................................................................................................................................................ 14 1.3.1 Parto distócico ......................................................................................................................................... 16 1.4 PEDIATRIA .............................................................................................................................................. 17 1.4.1 A vida do filhote ....................................................................................................................................... 18 1.4.2 A alimentação do filhote .......................................................................................................................... 21 1.4.3 O filhote órfão .......................................................................................................................................... 23 1.4.4 A saúde do filhote .................................................................................................................................... 25 1.4.5 A dentição ................................................................................................................................................ 25 1.4.6 O crescimento ......................................................................................................................................... 27 1.4.7 Os medicamentos .................................................................................................................................... 28 1.4.8 Imunização .............................................................................................................................................. 29 2 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS DO SISTEMA LOCOMOTOR ......................................... 30 2.1 SISTEMA MUSCULAR ............................................................................................................................ 31 2.2 SISTEMA ESQUELÉTICO ...................................................................................................................... 32 3 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS ENFERMIDADES DO SISTEMA DIGESTÓRIO ............................... 38 4 BOCA, FARINGE, ESÔFAGO E GLÂNDULAS SALIVARES ................................................................ 39 4.1 BOCA ...................................................................................................................................................... 39 3 4.1.1 Estomatite: inflamação da mucosa oral ................................................................................................... 39 4.2 LÍNGUA ................................................................................................................................................... 42 4.2.1 Glossite .................................................................................................................................................... 42 4.3 FARINGE ................................................................................................................................................. 43 4.3.1 Faringite ................................................................................................................................................... 43 4.3.2 Disfunção cricofaringeana ou acalasia .................................................................................................... 44 4.4 ESÔFAGO ............................................................................................................................................... 45 4.4.1 Esofagite .................................................................................................................................................. 45 4.4.2 Anomalias do anel vascular ..................................................................................................................... 46 4.4.3 Hipomotilidade esofágica, dilatação esofagiana, megaesôfago .............................................................. 46 4.5 GLÂNDULAS SALIVARES ...................................................................................................................... 48 4.5.1 Sialoadenite ............................................................................................................................................. 48 4.5.2 Cistos salivares, mucocele, sialocele ...................................................................................................... 48 4.6 NEOPLASIAS E TUMORES .................................................................................................................... 49 5 NOÇÕES DE ODONTOLOGIA ............................................................................................................... 51 5.1 DOENÇA PERIODONTAL ....................................................................................................................... 51 6 DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS .................................................................................................... 53 6.1 DOENÇAS DO ESTÔMAGO ................................................................................................................... 53 6.1.1 Vômito ou emese ..................................................................................................................................... 53 6.1.2 Gastrite aguda ......................................................................................................................................... 56 6.1.3 Gastrite crônica ....................................................................................................................................... 57 6.1.4 Úlcera gástrica ......................................................................................................................................... 58 6.1.5 Complexo dilatação/vólvulo ..................................................................................................................... 59 4 6.2 DOENÇAS DO INTESTINO DELGADO .................................................................................................. 59 6.2.1 Diarreia ....................................................................................................................................................60 6.2.2 Gastrenterites infecciosas ....................................................................................................................... 62 6.2.2.1 Viroses intestinais ........................................................................................................................ 62 6.2.2.1.1 Parvovírus canino ............................................................................................................................... 62 6.2.2.1.2 Coronavirose....................................................................................................................................... 65 6.3 DOENÇAS DO INTESTINO GROSSO .................................................................................................... 65 6.3.1 Colite bacteriana ...................................................................................................................................... 66 6.3.2 Colite fúngica ........................................................................................................................................... 67 6.3.3 Colite parasitária ...................................................................................................................................... 67 6.3.4 Colite eosinofílica .................................................................................................................................... 68 6.3.5 Colite histiocítica ulcerativa ..................................................................................................................... 69 6.3.6 Colite linfocitária plasmocitária ................................................................................................................ 69 6.3.7 Megacólon ............................................................................................................................................... 69 6.3.8 Neoplasias ............................................................................................................................................... 70 7 DOENÇAS DO PERITÔNIO .................................................................................................................... 71 7.1 PERITONITE ........................................................................................................................................... 71 7.2 PERITONITE INFECCIOSA FELINA (PIF) .............................................................................................. 72 8 DOENÇAS DO PÂNCREAS ................................................................................................................... 74 8.1 PANCREATITE ....................................................................................................................................... 74 8.2 INSUFICIÊNCIA DO PÂNCREAS EXÓCRINO ....................................................................................... 78 9 DOENÇAS DO FÍGADO ........................................................................................................................ 79 9.1 ICTERÍCIA ............................................................................................................................................... 80 5 9.1.1 Icterícia pré-hepática ............................................................................................................................... 81 9.1.2 Icterícia hepática ..................................................................................................................................... 81 9.1.3 Icterícia pós-hepática .............................................................................................................................. 82 9.2 COLANGIOHEPATITE E COLANGITE SUPURATIVA ........................................................................... 82 9.3 ASCITE .................................................................................................................................................... 83 9.4 INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA ...................................................................................................... 84 9.5 DOENÇA HEPÁTICA INFLAMATÓRIA CRÔNICA ................................................................................. 86 9.6 LIPIDIOSE HEPÁTICA ............................................................................................................................ 87 10 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS INTOXICAÇÕES ............................................................................... 88 10.1 INTOXICAÇÃO POR INSETICIDAS ........................................................................................................ 89 10.1.1 Hidrocarbonetos clorados ........................................................................................................................ 89 10.1.2 Organofosforados e carbamatos ............................................................................................................. 89 10.1.3 Organoclorados ....................................................................................................................................... 90 10.1.4 Piretrinas e piretroides ............................................................................................................................. 91 10.1.5 Rodenticidas ............................................................................................................................................ 91 10.2 INTOXICAÇÃO POR METAIS ................................................................................................................. 93 10.2.1 Chumbo ................................................................................................................................................... 93 10.2.2 Arsênico ................................................................................................................................................... 94 10.3 INTOXICAÇÃO POR BIOTOXINAS ........................................................................................................ 94 10.3.1 Picada de cobras ..................................................................................................................................... 94 10.3.2 Picadas de artrópodos ............................................................................................................................. 95 10.4 OUTRAS TOXICOSES ............................................................................................................................ 95 10.4.1 Acetaminofeno – Paracetamol ................................................................................................................. 95 6 10.4.2 Aspirina, Ibuprofeno, Fenilbutazona, Naproxeno (anti-inflamatórios não esteroidais) ............................. 96 10.4.3 Cresóis e fenóis ....................................................................................................................................... 96 10.4.4 Plantas tóxicas ........................................................................................................................................ 96 11 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS DA PELE ....................................................................... 100 11.1 DOENÇAS PARASITÁRIAS DA PELE ................................................................................................... 100 11.1.1 Demodicose ou sarna demodécica ........................................................................................................ 100 11.1.2 Escabiose canina ................................................................................................................................... 104 11.1.3 Escabiose felina ..................................................................................................................................... 105 11.1.4 Otite parasitária ......................................................................................................................................106 11.1.5 Leishmaniose ......................................................................................................................................... 107 11.2 DOENÇAS FÚNGICAS DA PELE .......................................................................................................... 109 11.2.1 Dermatofitose ......................................................................................................................................... 109 11.2.2 Esporotricose .......................................................................................................................................... 110 11.3 DOENÇAS BACTERIANAS DA PELE ................................................................................................... 112 11.3.1 Dermatopatias por infecções bacterianas superficiais............................................................................ 112 11.3.2 Dermatopatias por infecções bacterianas profundas.............................................................................. 115 11.3.3 Dermatopatias de origem imunológica ................................................................................................... 116 11.3.3.1 Dermatite por alergia alimentar ........................................................................................................... 116 11.3.3.2 Dermatite alérgica por inalação (atopia) ............................................................................................. 117 11.3.3.3 Dermatite alérgica a picada de pulgas (DAPP) ................................................................................... 118 11.1.4 Dermatoses autoimunes ......................................................................................................................... 120 12 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS OCULARES E AUDITIVAS ........................................... 122 12.1 DOENÇAS OCULARES ......................................................................................................................... 123 7 12.1.1 Conjuntivite ............................................................................................................................................. 124 12.1.2 Queratite ................................................................................................................................................. 126 12.1.3 Ceratoconjuntivite seca (CCS) ............................................................................................................... 128 12.1.4 Uveíte ..................................................................................................................................................... 130 12.1.5 Catarata .................................................................................................................................................. 131 12.1.6 Glaucoma ............................................................................................................................................... 132 12.1.7 Prolapso de glândula da terceira pálpebra ............................................................................................. 133 12.1.8 Entrópio .................................................................................................................................................. 134 12.2 DOENÇAS OTOLÓGICAS ..................................................................................................................... 135 12.2.1 Oto-hematomas ...................................................................................................................................... 135 12.2.2 Otites ...................................................................................................................................................... 136 13 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS ENDÓCRINAS ............................................................... 140 13.1 HIPERADRENOCORTICISMO (HAC) – SÍNDROME DE CUSHING ..................................................... 140 13.2 HIPOTIREOIDISMO E HIPERTIREOIDISMO ........................................................................................ 143 13.3 DIABETES MELLITUS ........................................................................................................................... 148 13.3.1 Cetoacidose diabética ............................................................................................................................ 150 14 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ................................................................ 153 14.1 SISTEMA RESPIRATÓRIO ANTERIOR ................................................................................................ 155 14.1.1 Estenose das narinas ............................................................................................................................. 155 14.1.2 Epistaxe .................................................................................................................................................. 155 14.1.3 Rinite ...................................................................................................................................................... 156 14.1.4 Rinotraqueíte felina ................................................................................................................................ 158 14.1.5 Obstrução de vias aéreas anteriores ...................................................................................................... 160 8 14.1.6 Faringite .................................................................................................................................................. 161 14.1.7 Pólipos .................................................................................................................................................... 161 14.1.8 Paralisia de laringe ................................................................................................................................. 161 14.1.9 Síndrome do cão braquicefálico ............................................................................................................. 162 14.1.10 Colapso de laringe ............................................................................................................................... 163 14.1.11 Colapso de traqueia ............................................................................................................................. 163 14.1.12 Traqueobronquite infecciosa – tosse dos canis ................................................................................... 165 14.2 SISTEMA RESPIRATÓRIO POSTERIOR .............................................................................................. 166 14.2.1 Bronquite ................................................................................................................................................ 166 14.2.2 Pneumonia ............................................................................................................................................. 168 14.2.3 Edema pulmonar (não cardiogênico) ...................................................................................................... 170 14.2.4 Efusão pleural ......................................................................................................................................... 171 14.2.5 Pneumotórax .......................................................................................................................................... 173 15 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS DO SISTEMA CARDIOCIRCULATÓRIO ...................... 174 15.1 PERICARDIOPATIAS............................................................................................................................. 175 15.2 MIOCARDIOPATIAS ..............................................................................................................................176 15.2.1 Miocardiopatias primárias ....................................................................................................................... 176 15.2.2 Miocardiopatias secundárias .................................................................................................................. 176 15.3 ENDOCARDIOPATIAS........................................................................................................................... 177 15.3.1 Endocardite ............................................................................................................................................ 178 15.4 INSUFICIÊNCA CARDÍACA CONGESTIVA .......................................................................................... 179 15.5 DIROFILARIOSE .................................................................................................................................... 185 16 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS DO SISTEMA URINÁRIO .............................................. 187 9 16.1 INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO SUPERIOR ................................................................................. 189 16.1.1 Pielonefrite .............................................................................................................................................. 189 16.1.2 Doença glomerular ................................................................................................................................. 190 16.1.2.1 Glomerulonefrite ................................................................................................................................. 190 16.1.2.2 Amiloidose renal ................................................................................................................................. 192 16.1.3 Insuficiência renal aguda (IRA) ............................................................................................................... 194 16.1.4 Insuficiência renal crônica (IRC) ............................................................................................................. 195 16.1.5 Leptospirose ........................................................................................................................................... 198 16.2 INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO INFERIOR ................................................................................... 199 16.2.1 Cistite (uretrocistite) ................................................................................................................................ 199 16.2.2 Urolitíase ................................................................................................................................................ 201 16.2.3 Inflamação trato urinário inferior dos felinos (FLUTD) ............................................................................ 203 16.3 FLUIDOTERAPIA VETERINÁRIA .......................................................................................................... 205 17 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO .............................................. 209 17.1 CARACTERÍSTICAS QUE PODEM AJUDAR A LOCALIZAR LESÕES CEREBRAIS .......................... 214 17.1.1 Córtex cerebral ....................................................................................................................................... 214 17.1.2 Diencéfalo ............................................................................................................................................... 214 17.1.3 Tronco cerebral ...................................................................................................................................... 215 17.1.4 Sistema vestibular .................................................................................................................................. 215 17.1.5 Cerebelo ................................................................................................................................................. 216 18 DOENÇAS INFLAMATÓRIO-INFECCIOSAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL ........................... 217 18.1 VASCULITE MENÍNGEA........................................................................................................................ 217 18.2 MENINGOENCEFALITE GRANULOMATOSA....................................................................................... 217 10 18.3 MENINGOENCEFALITE DO PUG ......................................................................................................... 218 18.4 MENINGITE E MIELITE BACTERIANA ................................................................................................. 218 18.5 MENINGITE, MIELITE E ENCEFALITE PARASITÁRIA ......................................................................... 219 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................. 220 11 1 CUIDADOS CLÍNICOS EM PEQUENOS ANIMAIS FIGURA 1 - ANIMAIS DOMÉSTICOS FONTE: Planizza, 2007 (esquerda); Vayatele, 2007 (direita). Ao longo do tempo, as doenças dos animais domésticos vêm sofrendo modificações. Mais doenças infectocontagiosas surgem ou ressurgem ao longo dos tempos; muitas doenças degenerativas vão se instalando e doenças de fundo psicológico e emocional vão se delineando também na medicina veterinária. Atualmente, estudar o comportamento dos animais é uma matéria de especialização, e relacionamentos conflitantes entre proprietários e animais de estimação podem ser minimizados. Hoje, a medicina veterinária adota também práticas há tempos utilizadas na medicina humana, como a terapia natural – tentando um olhar para o animal de forma holística –, e se dedica muito mais à prevenção do que ao tratamento das doenças de modo geral. O médico veterinário, ao prescrever, baseia-se em dados clínicos e anamnéticos individuais, que obtém após detalhado questionário sobre a vida do animal desde que nasceu até o aparecimento dos sintomas que incomodam no momento, sobre a relação comportamental do animal com o meio em que vive e com as pessoas com quem convive, até um exame clínico completo e a observação minuciosa do 12 animal e seu proprietário. A anamnese – termo originado das palavras gregas ana (trazer de novo) e mnesis (memória), que significa uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e o animal doente – e o exame físico detalhados e completos podem levar ao diagnóstico em muitos casos, evitando-se, por muitas vezes, testes diagnósticos desnecessários e gastos inúteis para o proprietário. É sob esse prisma que se pode afirmar que a vida do animal inicia-se antes mesmo de ele ser concebido. 1.1 OS PAIS A vida pode ser definida pela existência intrauterina após a concepção. Uma fêmea passa a ser boa mãe quando traz consigo uma boa genética e recebe tratamento adequado pré-nupcial, pré-natal e durante o aleitamento. Por isso, antes do acasalamento deve-se proceder à vacinação e à vermifugação da fêmea. A escolha do macho também é importante não só do ponto de vista genético como nutricional e comportamental. Fêmeas muito novas ou já idosas podem apresentar problemas não só durante a gestação como durante o parto. FIGURA 2 - ACASALAMENTO FONTE: Disponível em: <gatitos.bitacoras.com>. Acesso em: 2007. 13 1.2 A FERTILIZAÇÃO E A GESTAÇÃO O período fértil da cadela estende-se do final do proestro ao meio do estro. Nessa fase é que ocorrerá a ovulação e cada uma dessas duas fases tem duração média de sete a dez dias. Proestro: fase em que a cadela está respondendo a níveis altos de estrógeno, apresentando edema de vulva e vagina, presença de secreção serossanguinolenta na vulva e vagina, atração aos machos e mudanças no epitélio vaginal. Nessa fase a cadela aindanão aceita o macho, mas começa a ter tolerância no final do proestro. Estro: a cadela normalmente não apresenta mais sangramento, e aceita a monta pelo macho. A fertilização ocorre nas tubas uterinas e, após a fertilização, os embriões passam pelo período de divisão celular e os ovos fertilizados levam de 3 a 14 dias em migração transcornual na cadela, e de 6 a 8 dias na gata, para chegarem ao útero. E se distribuírem equitativamente entre os dois cornos uterinos para sua implantação. É muito raro a gestação não acontecer quando os reprodutores são normais e, melhor ainda, já testados, porém, a suspeita de gestação pode vir da mudança do comportamento e do corpo da cadela, podendo ser confirmada por palpação abdominal, ultrassonografia e radiografias após 45 dias na cadela e 40 dias na gata. FIGURA 3 - FETO DE UM CACHORRO COM 39 DIAS DE GESTAÇÃO FONTE: El Periodico, 2007. 14 A palpação abdominal deve ser feita com a cadela em estação ou em decúbito lateral. Por volta do 25º dia de gestação, o veterinário experiente pode sentir individualmente as vesículas embrionárias, com aproximadamente um centímetro de diâmetro. A palpação pode ser difícil em cadelas grandes, em cadelas com abdômen tenso ou quando há apenas um ou poucos fetos e, principalmente, se localizados na região cranial do útero. A duração da gestação em cadelas é de 59 a 67 dias e em gatas é de 65 dias (a partir da ovulação), sendo que a data do parto pode variar entre o 58º a 70º dia. Geralmente o parto ocorre mais cedo em animais com ninhadas maiores e mais tarde em fêmeas com ninhadas menores. Animais de raças originárias de climas frios (husk siberiano, malamute do Alasca, e outros) possuem gestações mais longas. Fêmeas de raças maiores costumam ter ninhadas maiores do que fêmeas de raças menores. FIGURA 4 - GESTAÇÃO EM CADELA FONTE: Bobány, 2007. 1.3 O PARTO Para o parto deve-se preparar o ambiente procurando, se possível, preservar o animal no ambiente em que vive. A cadela deve ser colocada em lugar tranquilo, aquecido, com ar fresco, seco, evitando-se a presença de outros animais e o trânsito excessivo de pessoas. 15 Ao se aproximar a hora do parto, as cadelas começam a se aninhar, raspar o chão, rasgar papel, tecidos, folhas, cavar buracos. Por isso, aproximadamente uma semana antes da data prevista para o parto, deve-se providenciar uma caixa preferencialmente de madeira, afastada do solo, a ser colocada no ambiente escolhido pelo proprietário para a cadela criar. Pode-se dividir o parto em três estágios: • estágio I – é o estágio da dilatação cervical com ligeiro edema vulvar. Geralmente no dia do parto, a cadela se nega a se alimentar e, nas 12 a 24 horas que antecedem o parto, a temperatura corpórea pode declinar em 0,5ºC a 1,0ºC. A cadela apresenta alterações comportamentais como inquietação, ansiedade, calafrios e, às vezes, vômito. Esse estágio dura em média de 6 a 12 horas, podendo se estender até 36 horas em cadelas primíparas e/ou nervosas; • estágio II – é o estágio de expulsão do feto. Sua duração depende do número de fetos e da saúde da mãe. Caracteriza-se por contrações uterinas e esforços visíveis. O filhote começa a ser expulso entre 20 e 30 minutos após o início das contrações, e a primeira parte a ser vista é a bolsa amniótica. Em seguida, a cadela começa a lamber o filhote recém-nascido em um ato que promove a estimulação do neonato, além de secá-lo. Esse estágio dura em média de 8 a 12 horas; • estágio III – é o estágio de expulsão da placenta. A expulsão ocorre geralmente entre 5 e 15 minutos após o nascimento de cada filhote, podendo levar até 45 minutos. A mãe costuma cortar o cordão umbilical e ingerir a placenta. Caso ela não faça isso, o médico veterinário ou a pessoa que assiste o parto deverá fazê-lo. Os nascimentos subsequentes podem variar de até duas a três horas, chegando até seis horas nos últimos filhotes. Em gatas esse tempo pode ser maior, dependendo do tamanho da ninhada. O intervalo entre nascimentos é chamado de período de repouso. Se esse período se alongar muito, provavelmente deve estar havendo dificuldade. O líquido amniótico esverdeado pode significar sofrimento dos filhotes. Dependendo da dificuldade, é necessária a intervenção do médico veterinário para uma manobra obstétrica ou uma cirurgia cesariana. 16 FIGURA 5 - NASCIMENTO DE FILHOTE FONTE: Disponível em: <whippet.no.sapo.pt>. Acesso em: 2007. 1.3.1 Parto distócico As causas de distocia (ausência de progressão do trabalho de parto no primeiro ou segundo estágio) podem ser maternas, fetais ou uma associação das duas. As causas maternas são derivadas de inércia uterina e anormalidades anatômicas, as fetais devido à má-formação, má posição ou morte fetal. A distocia felina é menos comum que a canina. Fêmeas idosas e obesas têm maior chance de apresentar distocia. O diagnóstico de distocia baseia-se em fatores como: • gestação prolongada; • qualquer sinal de doença em fêmea próxima do parto; • história prévia de distocia; • esforço ativo por mais de 30 minutos sem expelir um feto; • fase de repouso sem sinais de esforço por mais de quatro horas; • contrações fracas e intermitentes por mais de duas horas, sem nascimento; • sinais de dor durante o parto (gritos ou mordedura da área vulvar); • corrimento vaginal purulento ou hemorrágico; • evidências de morte fetal. 17 Radiografias antes do parto podem ajudar na determinação do número de fetos e suas posições, mas só devem ser feitas na última semana de gestação. Um exame ultrassonográfico é a melhor ferramenta, quando disponível, para determinar a viabilidade fetal. Os casos de inércia uterina podem ser tratados com o uso de drogas que estimulam as contrações uterinas, podendo diminuir a hemorragia pós-parto e facilitar a involução uterina, evitando, com isso, a retenção placentária: • Ocitocina (via intramuscular – IM), mais usada; • Gluconato de cálcio (via intravenosa – IV). Outra tentativa de ajuda é a manipulação manual, para auxiliar a passagem do feto pelo canal vaginal, útil em distocias obstrutivas, devido à má posição fetal, tamanho fetal excessivo ou morte fetal. Não é indicada em inércia secundária. Nos casos de inércia secundária, indica-se a cesariana. 1.4 PEDIATRIA A pediatria veterinária canina e felina compreende a avaliação e cuidados clínicos dos filhotes desde o seu nascimento até a puberdade e está caracterizada por incluir, nessa avaliação, o período gestacional da mãe, pois uma mãe saudável e bem cuidada gera filhotes igualmente saudáveis, o que diminui os riscos à saúde. 18 FIGURA 6 - FILHOTE FONTE: Bobány, 2007. Por isso, antes do acasalamento deve proceder-se à vacinação e à vermifugação da fêmea. A vermifugação deve ser repetida uma semana antes do parto. Durante o parto, se for necessário, ajude a mãe na limpeza dos filhotes, e mais ainda se for cesariana. A queda do cordão umbilical costuma ocorrer dentro de três a quatro dias. O desmame se dá com 30 dias. Até lá, o acompanhamento da vida do filhote deve ser feito periodicamente. 1.4.1 A vida do filhote O filhote recém-nascido (neonato) O filhote recém-nascido precisa ser protegido, alimentado, aquecido e limpo adequadamente. Se os filhotes têm a mãe, serão acomodados por ela mesma em seu ventre e procurarão, instintivamente, os tetos das mamas utilizando o faro e o tato em busca da primeira e mais importante refeição de suas vidas: o colostro, alimento rico em anticorpos que protegerá os filhotes durante as primeiras semanas de 19 vida. Esse período de vida do filhote chama-se período neonatal e os filhotes são totalmente dependentes da mãe. Os sistemas nervoso, imunológico e neuromuscular do neonato são bastante imaturos ainda, embora o faro e o tato já sejam relativamente desenvolvidos.Quando colocado de barriga para cima, ele procura retornar a sua posição anatômica. Até os 15 dias de vida os filhotes ainda não se relacionam com as pessoas, mamam durante vários intervalos do dia e dormem a maior parte do tempo. Filhotes são muito sensíveis e choram por qualquer motivo, mas um choro incessante, por mais de dez minutos, pode indicar algum problema, como não conseguir evacuar, frio, fome ou algo mais. FIGURA 7 - FILHOTES AMAMENTANDO FONTE: Bobány, 2007. Fase de transição – o filhote na terceira semana de vida O filhote, ao chegar à terceira semana de vida, passa a adquirir habilidades novas a partir do momento que seus olhos se abrem e ele passa a registrar luz e movimento. Seu canal auditivo se abre, passando a reagir a estímulos sonoros. O filhote passa a ter um pouco de controle neuromuscular, ensaiar os primeiros passos e adquire movimentos mais coordenados, o que lhe facilita explorar o meio onde vive. 20 É nessa fase, também, que o filhote passa a urinar e evacuar sozinho, sem necessitar dos estímulos maternos. É o início da independência materna. Fase de socialização – o filhote a partir da quarta semana de vida Essa fase varia da 4ª até a 10ª ou 12ª semana de vida. É a fase em que os filhotes se socializam, ou seja, diminuem as horas dedicadas a mamar e dormir para se dedicarem a tarefas como brincar com os outros filhotes, com a mãe, com os seres humanos e/ou com objetos. Nessa fase podemos observar a formação da personalidade do filhote, as primeiras definições de seu comportamento futuro e seu grau de inteligência. Alguns cuidados são importantes, nessa fase, pois o desenvolvimento saudável do filhote depende, em parte, dos ensinamentos e do modo como são tratados. É uma fase importante porque se inicia a erupção dentária, um crescimento físico acentuado e segue-se o desmame. Normalmente, ao final dessa fase o filhote passará a viver em um novo lar, em um novo ambiente, com novas companhias. FIGURA 8 - FASE DE SOCIALIZAÇÃO FONTE: Bobány, 2007. 21 Fase juvenil Essa fase corresponde aos filhotes a partir da 10ª ou 12ª semana de idade até a puberdade ou maturidade sexual, que pode variar dos 6 (para cães e gatos) aos 18 meses (apenas cães). É uma fase importante, mas, ao mesmo tempo, preocupante, já que o filhote está muito independente, com características básicas de personalidade formadas, desenvolve sentido, intensivo a exploração do ambiente. Nessa fase, o filhote passará por trocas dentárias (dentes de leite por definitivos), vacinações, vermifugações, mudanças alimentares e maturidade sexual; o que requer muita atenção e cuidado para garantirmos um adulto forte e saudável. FIGURA 9 - FASE JUVENIL FONTE: Bobány, 2007. 1.4.2 A alimentação do filhote Enquanto o filhote está mamando, deve receber apenas leite materno. Se a mãe estiver debilitada e os filhotes parecerem estar com fome devido ao excesso de vocalizações e choro, uma alimentação artificial deve ser imediatamente providenciada, como suplemento 22 ao leite materno. O filhote, aos 15 dias de vida, deve ter aproximadamente o dobro do peso do apresentado ao nascer. Caso isso não aconteça, o filhote precisa de suplementação. O requerimento de cada nutriente varia de acordo com a idade, estado físico e modo de vida do filhote. Dependendo da idade do filhote, essa suplementação pode ser feita em mamadeira ou em vasilhas rasas. Para esse fim, recomendam-se os pratos plásticos que se usam em vasos de plantas. São largos, rasos e com excelente apoio. Aliados ao estresse da fome podem estar ocorrendo outras situações estressantes – como erupção dentária, vacinação, vermifugação, troca de lar, entre outras – que levarão o filhote a perdas consideráveis de sua capacidade de reagir a agressões, ou seja, ficam imunodeprimidos. A partir da quarta semana de vida, alguns filhotes serão desmamados precocemente. O importante é fazer o desmame utilizando alimentos próprios para essa finalidade, observando cada detalhe da adaptação do filhote à nova alimentação. O filhote come várias vezes por dia; o número de refeições diminui à medida que ele vai crescendo. FIGURA 10 - ALIMENTAÇÃO DO FILHOTE FONTE: Gatos e Gatos, 2007. 23 1.4.3 O filhote órfão O filhote órfão terá que ser muito bem manejado no sentido de receber recursos que supram suas necessidades básicas, afinal, como já foi dito, o colostro é fundamental. Quanto mais novo o órfão, mais difícil será o seu manejo. Para substituir a mãe nos quesitos proteção, calor e segurança procure manter os filhotes juntos, em uma caixa forrada com tiras de papel (evite tecidos como mantas de lã porque as unhas dos filhotes podem desfiá-la e os fios soltos podem garrotear os membros e até o pescoço do filhote e, com isso, matá-lo). Se necessário, ligue uma lâmpada incandescente (30°C a 32°C durante os primeiros cinco dias de vida, sendo gradualmente diminuída até 24°C), tendo o cuidado de não deixar muito próxima para evitar qualquer perigo de queimadura. Observe sempre a temperatura corporal do filhote. Dependendo da idade do filhote, se ele não se alimentar direito, poderá desenvolver, rapidamente, um processo de desidratação. O filhote neonato órfão precisa se alimentar de três em três horas, inclusive à noite. Para a alimentação artificial existem no mercado alimentos industrializados próprios, de várias marcas. O neonato precisa da administração desse alimento na mamadeira o na “chuquinha”. O ideal é que o bico plástico da mamadeira não venha furado, porque, geralmente, esse furo é demasiado largo e o filhote terá problemas para mamar. O alimento pode ser oferecido também em conta-gotas ou com colher. O alimento deve ser oferecido ao filhote aquecido a uma temperatura de, aproximadamente, 37°C. Para evitar a falsa via durante o aleitamento com mamadeira, deve-se posicionar o filhote de barriga para baixo. 24 FIGURA 11 - FILHOTE ÓRFÃO FONTE: Vida de Cão, 2007. Após a mamadeira, deve-se estimular o filhote a defecar e urinar, massageando-o delicadamente e estimulando seus órgãos sexuais. Deve-se procurar respeitar a capacidade do estômago de cada filhote, calculando aproximadamente 5 ml para cada 100 g de peso corporal. TABELA 1 - FÓRMULA PARA ALEITAMENTO ARTIFICIAL DE FILHOTES ÓRFÃOS FONTE: Motta et al., 2007. Receita do leite artificial (para um litro): 800 ml de leite integral; 200 ml de creme de leite; 4 colheres de sopa de Calcigenol; 1 colher de sopa de Vitaminer líquido. Até os 15 dias de idade, adicionar também uma colher de sopa de óleo de fígado de bacalhau; suspendendo-o após esse período. Da terceira até a quarta semanas de vida, engrossar o leite, utilizando três colheres de sopa de leite em pó para um copo de leite de vaca. 25 1.4.4 A saúde do filhote A saúde do filhote se revela desde sua fase embrionária. Sendo assim, a saúde da mãe com um bom acompanhamento pré-nupcial e pré-natal irá garantir um filhote saudável. O recém-nascido, logo após o parto, deve estar com as vias aéreas desobstruídas, ter peso compatível com o porte da raça e dobrar de peso entre o 10º e 12º dia nos cães e 14º dia nos gatos, temperatura entre 36°C e 37°C, com batimentos cardíacos acima dos 170/min. Tendo movimentos respiratórios variando entre 15 a 35 mov./min., e o coxim plantar deve estar róseo, e não cianótico, e manifestar o reflexo da sucção tão logo aproximamos o dedo de sua boca. À medida que vão se passando os dias, o filhote vai modificando. Seu sistema neurológico vai evoluindo e o médico veterinário deve acompanhar essa evolução para poder detectar, a tempo, possíveis problemas. 1.4.5 A dentição A primeira dentição do cão tem 28 dentes (seis incisivos superiores e seis inferiores, dois caninos superiores e doisinferiores, e seis pré-molares superiores e seis inferiores), logo substituída pela dentição definitiva. A troca de dentes se inicia entre três meses e meio e quatro meses, pelos incisivos (dentes da frente) e terminam por volta dos seis meses de idade. O número de dentes do cão adulto é, em média, de 42 dentes (compreendendo seis incisivos superiores e seis inferiores, dois caninos superiores e dois inferiores, oito pré-molares superiores e oito inferiores e quatro molares superiores e seis inferiores). Para os gatos, vale a seguinte fórmula dentária: • temporária: 2 (incisivos 3/3; caninos 1/1; pré-molares 3/2) = 26; • permanente: 2 (incisivos 3/3; caninos 1/1; pré-molares 3/2; molares 1/1) = 30. 26 Alguns problemas com a dentição podem ser percebidos nessa fase, como: a persistência dos dentes decíduos (de leite) após sete meses de idade; problemas de oclusão; doença periodontal; fraturas de dentes, mandíbula e maxila; massas tumorais; cálculos dentários; entre outros. Atualmente, a medicina veterinária conta com a especialidade de odontologia veterinária para cuidar desses assuntos com técnica e aparelhagens corretas. FIGURA 12 - DENTIÇÃO DE CÃES E DENTIÇÃO DE GATOS FONTE: Dental Vet, 2007. Cães Gatos 27 1.4.6 O crescimento As necessidades diárias de energia requeridas pelo filhote variam em função da idade e da raça. Cães de raças pequenas requerem cerca de 200 kcal por quilo de peso corporal até atingir metade de seu desenvolvimento, quando passam a diminuir essa exigência para aproximadamente 150 kcal, até chegar à idade adulta, quando passam a requerer em torno de 90 kcal por quilo de peso corporal. Os filhotes de raças de portes médio e grande iniciam com aproximadamente 250 kcal até requererem, de modo geral, 190 kcal na fase adulta. É imprescindível, para o crescimento saudável do filhote, que sua dieta contenha níveis apropriados de todos os aminoácidos essenciais (arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilanina, treonina, triptofano e valina). O teor de proteína na dieta para filhotes está em torno de 25% da ingestão total de energia, dependendo da proteína usada. Os minerais são fundamentais para o correto desenvolvimento do filhote. Os níveis de cálcio e fósforo presentes na dieta devem ser respeitados, pois as exigências dos filhotes são maiores que as dos cães adultos. É importante manter uma relação cálcio/fósforo em torno de 2:1 para prevenir, principalmente, problemas na estrutura óssea, particularmente em cães de raças grande e gigante. FIGURA 13 - PESAGEM DE FILHOTE FONTE: Geocities, 2007. 28 1.4.7 Os medicamentos Se o filhote é saudável, devemos evitar medicamentos. Os suplementos vitamínico-minerais são necessários caso a dieta do animal não seja balanceada, seja um filhote de raça gigante ou esteja com parasitismo ou outra afecção que lhe acarrete deficiência nutricional. O cálcio e o fósforo são fundamentais para o bom desenvolvimento estrutural ósseo. Vitaminas e aminoácidos também são essenciais para um bom desenvolvimento, evitando o raquitismo e outras doenças nutricionais. Alguns parasitas intestinais como o Ancylostoma sp e o Toxocara sp passam via placentária ou via transmamária para o filhote e, por isso, podemos iniciar uma terapia antiparasitária por volta das três semanas de vida, sempre repetindo após duas semanas. Se o filhote estiver muito debilitado, antes de se aplicar o vermífugo deve-se fazer um tratamento sintomático combatendo a anemia e a desnutrição com sais minerais, principalmente ferro, e vitaminas do complexo B e vitamina A. Existem muitas formas de se administrar medicamentos a filhotes, alguns filhotes especiais chegam a avançar na sua mão para engolir um comprimido sem nem saber do que se trata. Porém, outros, mais seletivos, vão se negar a engolir. Podem-se administrar medicamentos líquidos com o auxílio de uma seringa descartável sem agulha, introduzindo, pelo canto da boca, o líquido gradativamente para evitar falsa via. Medicamentos em comprimido podem ser “disfarçados” no pão, na carne ou em outro alimento como ração pastosa. Ou então, amassados e misturados à comida. Podem também ser introduzidos diretamente na boca do filhote, prestando bastante atenção para verificar se o filhote não “cuspiu” o comprimido. Muitos cãezinhos comem as drágeas ou comprimidos misturados até à ração seca. Tudo é uma questão de hábito. Já para os gatinhos, a mesma regra não é válida. Os felinos, mesmo jovens, são muito seletivos e arredios, e quando recebem medicação oral costumam espumar muito. 29 Parasitas externos como pulgas, piolhos e carrapatos podem acometer filhotes, mas atualmente já temos medicamentos seguros no mercado que podem ser utilizados após a segunda semana de vida do animal, desde que ele apresente um peso superior a um quilo. 1.4.8 Imunização Os anticorpos maternos protegem o filhote contra patógenos, mas também inibem o desenvolvimento das respostas imunes do próprio filhote e “inutilizam” os anticorpos vacinais. Justamente ao desmame é que o filhote enfrenta uma das fases mais críticas de sua vida quando, apesar de estar susceptível às doenças infectocontagiosa, está refratário à imunização vacinal e com anticorpos maternos em fase de declínio. A primeira dose de vacina múltipla, em cães, geralmente é dada com 45 a 60 dias, com exceção da antirrábica que só é dada após quatro meses, ou de acordo com o protocolo de vacinação da região onde o animal vive. Em gatos, a primeira dose é dada com 45 dias e, pela deficiência parcial de resposta devido à inativação dos antígenos vacinais pelos anticorpos da mãe, deve-se proceder à revacinação ainda quando filhotes, com intervalo de 21 a 30 dias. Nessa fase deve-se evitar andar com os filhotes na rua e levá-los a exposições. Para filhotes que não mamaram colostro, filhotes de mães não vacinadas e filhotes que estão em ambiente contaminado deve-se antecipar o início da etapa de vacinação para a sexta semana de vida. Em gatos, geralmente se faz apenas uma revacinação (são duas doses: a primeira, com 45 dias, e a segunda, 30 dias depois). 30 2 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS DO SISTEMA LOCOMOTOR O sistema locomotor é o conjunto de estruturas orgânicas, responsável pelo movimento, locomoção e deslocamento dos seres vivos. Para garantirmos animais com bons aprumos e boa conformação devemos observar, desde cedo, as condições nutricionais, de desenvolvimento, de exercícios e de manejo a que os animais estão sendo submetidos. Ao se perceber anormalidades de aprumo, como pernas em arco, jarretes juntos, pés convergentes, divergentes, plantigradismo (dedos espalmados) entre outros, devemos imediatamente providenciar as devidas correções. Os fatores que podem favorecer problemas de aprumo podem ser resumidos em excesso ou falta de cálcio e obesidade principalmente. Filhotes provenientes de gestação de cadelas moradoras das ruas têm maior tendência a desenvolver problemas de aprumo e doenças musculoesqueléticas. Filhotes que viajam e passam muitas horas acondicionados em caixas de transporte podem, ao chegarem ao seu destino, apresentar manifestações de problemas com os aprumos. FIGURA 14 - PLANTIGRADISMO FONTE: Bobány, 2007. 31 2.1 SISTEMA MUSCULAR Não muito raro, as lesões musculares são ignoradas ou, até mesmo, mal diagnosticadas e encaminhadas para tratamentos igualmente inadequados. Pode-se dizer que os problemas musculares representam 1% a 2%, ou até mais, das enfermidades caninas. Aproximadamente 90% das lesões musculares se verificam nos membros posteriores. As causas mais comumente apontadas são os traumatismos externos ou aqueles consequentes a esforços intensos e repetidos, movimentos violentos e exagerados, particularmente em animais não treinados, sem prévia preparação e aquecimento.Pisos e algumas características das pistas onde o animal se exercita devem ser consideradas, pois podem causar acidentes. Os pisos onde os animais trabalham devem ser de cimento áspero para dar firmeza e desgastar as unhas, já que o cimento liso escorrega e o cão acaba por envergar as pernas para fazer o apoio, gerando, com isso, problemas de aprumo, além do risco de acidentes. Alguns problemas: • contusões – lesões de aparecimento súbito, relativamente benignas, com claudicação moderada e tendência a diminuir com o tempo, mas que podem evoluir e se tornarem precursoras de outras lesões de maior envergadura, com hematomas e necrose; • distensões – diferem da contusão por terem seu aparecimento geralmente relacionado com exercícios ou movimentos bruscos; • rupturas incompletas e completas – de difícil diagnóstico diferencial, de aparecimento súbito, com as limitações de movimento agravando-se com o exercício. Pode-se observar tumefação e edema, com dor à palpação; • contratura – contração involuntária e permanente do músculo, não reversível, resultado, em sua maioria, de uma fibrose e/ou aderências que provocam o encurtamento do músculo, manifestada por atrofia com restrição dos movimentos, com claudicação evidente. Nas lesões simples, é comum optar-se por tratar os sintomas, como deter a hemorragia, diminuir o edema e evitar a progressão da lesão, recomendando repouso ou até mesmo imobilização do membro afetado. Os anti-inflamatórios esteroidais ou não esteroidais são eficientes no combate à dor e à inflamação. Os antibióticos são indicados em casos de suspeita de necrose. 32 Dependendo do caso, após as primeiras 48 a 72 horas do traumatismo podem ser adotadas técnicas de fisioterapia no intuito de estimular a reabsorção do tecido cicatricial, a vascularização, o que será benéfico para assegurar que não haverá aderência nem atrofia. Após o décimo dia de recuperação, em animais de trabalho e esporte, pode-se iniciar a reintrodução ao treinamento gradativamente. As lesões musculares mais graves induzem a uma fibrose cicatricial (que, dependendo da extensão, pode comprometer os movimentos) e devem ser tratadas cirurgicamente, tendo o prognóstico reservado já que a possibilidade de sequelas é real. 2.2 SISTEMA ESQUELÉTICO O esqueleto, além de dar sustentação ao corpo, protege os órgãos internos e fornece pontos de apoio para a fixação dos músculos. É constituído de ossos e cartilagens articuladas, que formam um sistema de alavancas movimentadas pelos músculos. O osso é um tecido complexo, composto basicamente por: matriz orgânica, componente mineral e componente celular (osteoblastos, osteoclastos e osteócitos). O esqueleto é composto por dois tipos de ossos: o cortical e o trabecular. O osso cortical é responsável por 80% da massa esquelética, está presente na diáfise (constitui-se no corpo) dos ossos longos e é encontrado como revestimento de todos os ossos do organismo. O osso trabecular constitui cerca de 20% da massa esquelética e é encontrado nos corpos vertebrais, nas epífises dos ossos longos e nos ossos chatos. Microscopicamente, os ossos são formados por cristais de hidroxiapatita de cálcio e fibras de colágeno, as quais estão embebidas em uma substância contendo mucopolissacarídeos. A quantidade de massa óssea presente no esqueleto é o resultado da formação e da reabsorção relacionadas à necessidade corporal de manter uma concentração fisiológica de cálcio ionizado nos fluidos orgânicos. 33 O metabolismo ósseo é influenciado por vários fatores hormonais, locais, comportamentais e ambientais, além de forças mecânicas, elétricas, químicas e magnéticas. Esse mecanismo é relativamente rápido no osso trabecular e mais lento no osso cortical. A maior parte dos problemas de locomoção é diagnosticada como afecções do sistema esquelético e pode ser percebida, bem precocemente, ainda durante infância. Animais em crescimento O cálcio apresenta duas funções importantes no organismo: estrutura óssea (responsável pela rigidez dos ossos) e como íon mensageiro ou de regulação (na contração dos músculos, coagulação do sangue, excitação nervosa, entre outros). Uma dieta pobre nesse nutriente promoverá a retirada de cálcio dos ossos para o sangue podendo ocasionar o raquitismo, caracterizado pelo enfraquecimento dos ossos, com entortamento das pernas e fraturas. Os cães necessitam de 320 mg de cálcio por quilo de peso por dia para crescer. O excesso de cálcio também é prejudicial e, particularmente em cães de raças grande e gigante, pode permitir a instalação de um problema chamado osteopetrose, gerando crescimento insuficiente e modelagem óssea anormal. O excesso de cálcio, principalmente quando aliado a obesidade, pode provocar retardo no crescimento e alterações articulares como a osteocondrose, osteodistrofia hipertrófica, Síndrome de Wobbler, Síndrome do Rádio Curvo, entre outras. Por isso, todo cuidado é pouco na alimentação e suplementação do filhote. Os cães também necessitam de 22 U.I. de vitamina D por quilo de peso por dia para crescer. As funções da vitamina D são: aumentar os níveis de cálcio e fósforo no sangue e permitir a mineralização adequada dos ossos. A entrada de cálcio nos ossos depende da presença de vitamina D e da concentração adequada de cálcio e fósforo no sangue. A deficiência de vitamina D interfere na absorção de cálcio pelo intestino diminuindo a mineralização óssea; o que vai provocar um aumento de volume das articulações, dor e enfraquecimento com entortamento dos ossos, em uma doença denominada raquitismo. Suporte elevado de vitamina D gera absorção excessiva de cálcio, para evitar que o cálcio sanguíneo se eleve. A associação de excesso de cálcio e vitamina D sanguíneos faz com que o cálcio se deposite em locais inadequados, como rins, coração, artérias, músculos e nas articulações, em um processo doloroso, irreversível e que pode levar a sérias complicações à saúde do animal, como insuficiência renal e morte. 34 Displasia coxofemoral A displasia coxofemoral (DCF) é bastante frequente nas raças de grande porte e de crescimento rápido, rara em cães com menos de 12 quilos, e acometem também gatos, principalmente os de raça pura. A hereditariedade é a causa mais conhecida, contudo, fatores como pisos lisos, a raça, e outros fatores podem também estar envolvidos na displasia. Animais com crescimento esquelético muito rápido desenvolvem instabilidade articular que levará ao arrasamento da cavidade acetabular (local onde o osso fêmur se encaixa na bacia) ocorrendo a subluxação. Devido a isso, alguns animais jovens podem apresentar claudicação aguda depois de caminhadas, enquanto outros apresentam uma repentina redução das atividades e o aparecimento de uma sensibilidade nos membros pélvicos. Os cães com mais idade fazem um quadro clínico diferente e o animal demonstra a dor e a dificuldade que sente ao se levantar, evita caminhar e brincar, fica com humor e temperamento mudados, demonstrando a evolução da doença articular degenerativa crônica. O diagnóstico é realizado pela radiografia, em que se podem observar vários graus de lesão, desde uma articulação sem sinais de displasia (categoria A) até uma displasia coxofemoral severa (categoria E). FIGURA 15 - RADIOGRAFIAS COMPARATIVAS Articulação normal Displasia mediana Displasia grave FONTE: Dobermann Club, 2007. 35 Algumas providências podem evitar ou minimizar os efeitos da displasia: • controle de peso; • exercícios como natação, a partir dos três meses de idade, em animais com história de displasia na família, para desenvolver a musculatura pélvica; • os filhotes devem permanecer sobre uma superfície áspera, para evitar escorregões. Animais idosos Cães e gatos idosos podem apresentar doenças do sistema locomotor que interferem diretamente com a sua qualidade de vida.A artropatia degenerativa, osteoartrose (OA), ou artrose, é uma doença degenerativa da cartilagem articular que perde sua capacidade de absorver os impactos e se torna sede de lesões. Caracteriza-se por dor e disfunção da articulação acometida e os animais relutam em andar, subir e procuram se isolar. Por ser a artrite uma doença de caráter crônico, não existe a possibilidade de cura, apenas um tratamento que impeça a progressão da doença, controlando a dor, melhorando a qualidade de vida do animal. Fraturas Ossos fraturados geram dor, mas raramente representam urgência com risco de morte, porém, as lesões no tórax e abdômen requerem atenção especial. Caso seja percebido envolvimento cardíaco, estado de choque ou problemas respiratórios, hemorragias internas que comprometam a vida do animal, deve-se retardar a redução da fratura até que a condição geral do paciente esteja estabilizada. O exame radiológico confirma o diagnóstico clínico e identifica o local exato e a configuração da fratura. Na maioria dos casos não precisa sedar o animal, mas caso seja necessário, maleato de acetilpromazina pode ser usado como sedativo e cloridrato de oximorfona como analgésico, para a maioria dos pacientes. A estabilização temporária da fratura melhora o bem-estar do animal e reduz a tumefação e as lesões dos tecidos vizinhos à fratura. As fraturas das extremidades inferiores têm menor cobertura de tecidos moles e, por isso, podem sofrer mais se não forem imobilizadas rapidamente. Nesses casos, deve-se, também 36 administrar analgésicos, de preferência agonistas (substâncias que, quando combinadas ao receptor, produzem o efeito medicamentoso) narcóticos que controlam a dor melhor que os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE). Fraturas nos cotovelos e joelhos são de difícil estabilização e requerem suporte externo para imobilizar a articulação. As fraturas abertas constituem emergência e requerem procedimentos de higiene e desbridamento imediatos. O ideal é lavar bem a ferida com Ringer com lactato e uma aplicação de cefalosporina de primeira geração, profilaticamente. Fraturas incompletas, geralmente cicatrizam de forma satisfatória só com o repouso ou atividade restrita. Passado o pós-operatório imediato, podem-se prescrever os AINE ou analgésicos tradicionais e manter o animal vigiado, em jaula ou ambiente de espaço reduzido com piso áspero para evitar escorregões. Alguns animais necessitam usar o colar elizabetano para evitar que lambam o local da cirurgia. FIGURA 16 - FRATURA DE EXTREMIDADE INFERIOR FONTE: INPA, 2007. 37 FIGURA 17 - ANIMAL UTILIZANDO COLAR ELIZABETANO FONTE: Softline, 2007. 38 3 CLÍNICA E TERAPÊUTICA DAS ENFERMIDADES DO SISTEMA DIGESTÓRIO FIGURA 18 - ANIMAIS DOMÉSTICOS SE ALIMENTANDO FONTE: Membros Aveiro, 2007. O sistema digestório é descrito como um tubo longo, oco, irregular que se estende da boca até o ânus, com várias glândulas anexas, adaptado à mastigação dos alimentos, secreção de substâncias que produzem alterações químicas nos alimentos (digestão), absorção de substâncias nutritivas e eliminação de resíduos (excreção). As etapas digestivas são: • ingestão dos alimentos regulada pela sensação de fome, caracterizada por mastigação, efetuada pelos músculos da mandíbula, dentes e língua, fragmentação do alimento e mistura com a saliva para facilitar a sua deglutição; • digestão, transformação mecânica e química das macromoléculas por enzimas (pepsina, lípase, amilase gástrica), bile, enzimas tripsina, quimiotripsina, carboxipeptidases, elastase, colagenase, amilase, lipase, fosfolipase, colestearase, ribo e desoxirribonucleases; • absorção, pelo transporte dos alimentos digeridos, água, sais minerais e vitaminas para os capilares sanguíneos e linfáticos da mucosa intestinal; • excreção, com eliminação dos resíduos não digeridos e/ou não absorvidos, restos de células e substâncias secretadas no intestino. O sistema digestório e os órgãos que o compõem podem sofrer alterações, afecções e infecções que merecem o olhar atento do veterinário, no sentido de preservar tão importante sistema em pleno funcionamento o que resultará em uma vida saudável. 39 4 BOCA, FARINGE, ESÔFAGO E GLÂNDULAS SALIVARES FIGURA 19 - BOCA E DENTES FONTE: Mascotia, 2007. Para o cão e para o gato a boca é muito mais importante do que para os seres humanos. Com a boca, esses animais se defendem, transportam objetos, entre outros atos – além de se alimentarem, claro. O estado da boca está intimamente ligado à qualidade de vida e, portanto, ela merece ser bem conservada. 4.1 BOCA 4.1.1 Estomatite: inflamação da mucosa oral A estomatite pode ter causa primária, na própria boca, devido a inflamações como a gengivite ou irritações por agressões químicas, mecânicas ou térmicas. A gengivite pode regredir, porém, se o animal desenvolve periodontite por cálculos dentários (tártaro), a extração dos cálculos e o tratamento podem controlar a inflamação, mas sem possibilidades de remissão total. 40 FIGURA 20 - GENGIVITE E TÁRTARO FONTE: Vira-Lata, 2007. Infecção Os cães adquirem cálculo dentário quando se alimentam e não fazem a escovação, assim formam-se placas bacterianas que se organizam e iniciam a formação calcária. A estomatite é muito comum em cães de raças pequenas por problemas de cálculo dentário. Quando esses cães atingem a idade avançada, geralmente sofrem retração gengival, podendo ser observada a raiz do dente; os dentes amolecem e, quando não caem têm que ser arrancados. Esse quadro é irreversível. Os gatos apresentam gengivite e halitose comumente associadas à Lesão da Reabsorção Osteoclástica (LROF), uma doença muito comum de causa desconhecida e aspecto semelhante à cárie, em que os dentes começam a cair. Ocorre a destruição (desmineralização) do dente e inflamação e infecção da parte viva do dente (polpa) causando muita dor. Seu controle se faz pela extração dos dentes comprometidos, pelo uso de antibióticos e corticoterapia. FIGURA 21 - LROF NO QUARTO PRÉ-MOLAR INFERIOR ESQUERDO EM UM FELINO FONTE: Dentalvet, 2007. 41 Irritação Quando o proprietário dá comida muito quente para o animal e este come com voracidade, pode queimar a mucosa oral e produzir irritação que culmine em estomatite. Objetos pontiagudos e ossos, quando mordidos pelo animal, também podem agredir mecanicamente a mucosa, bem como a ingestão ou lambedura de substâncias corrosivas. A estomatite pode também vir secundariamente a outros problemas como: uremia, diabetes, problema genético, doença autoimune, doença viral, entre outras. Veja: • uremia – as bactérias presentes na boca transformam o ácido úrico em amônia, sendo essa extremamente agressiva à mucosa oral, desenvolvendo um quadro de estomatite; • problema genético – na doença do Collie cinza o animal apresenta aftas, odor ruim, apresentando uma estomatite que não melhora; • doenças virais como a rinotraqueíte e calicivirose felinas, Cinomose, Papilomatose, entre outras desenvolvem estomatite entre os sintomas; • doença autoimune – o granuloma eosinofílico felino pode apresentar entre seus sintomas, úlceras na boca com sintomas de sialorreia, anorexia, halitose, e o animal, devido a isso, não consegue fechar a boca, podendo ser vítima de miíase. FIGURA 22 - ÚLCERA INDOLENTE ESTENDENDO-SE POR TODO O LÁBIO SUPERIOR EM GATO COM SÍNDROME DO COMPLEXO EOSINOFÍLICO FELINO FONTE: Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. Disponível em: <fmv.utl.pt>. Acesso em: 2007. 42 O tratamento básico das gengivites está na remoção da causa, higiene local com solução salina e bicarbonato de sódio de três a quatro vezes ao dia, uso de um antisséptico local algumas vezes por semana e oferecimento de uma dieta líquido-pastosa. 4.2 LÍNGUA 4.2.1Glossite É a inflamação da língua que acontece, com frequência, por traumatismo, corpos estranhos, cálculos dentários, dentes fraturados, picadas de inseto, e agressões térmicas e/ou químicas. Os sintomas mais comuns são: • sialorreia (perda não intencional de saliva pela cavidade oral); • anorexia (falta de apetite); • disfagia (dificuldade em passar alimento da boca para o estômago, ou a alteração em qualquer fase do ato da deglutição); • halitose (exalação de odores desagradáveis oriundos da cavidade bucal ou estômago por meio da respiração); • dor; • dificuldade de fechar a boca. Nos gatos com rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia ou FIV/FELV e cães com uremia ou leptospirose, podem ser observadas lesões ulcerativas da língua. O tratamento visa à reversão da causa bem como o alívio dos sintomas. Pode-se usar corticosteroide 0,5 mg/Kg, anti-histamínico, em caso de picadas de inseto, e deve-se administrar alimentação líquida/pastosa. 43 4.3 FARINGE 4.3.1 Faringite É a inflamação da faringe ou por extensão dos problemas da boca, cavidade nasal e outros, ou por corpos estranhos. Os principais sintomas são: • anorexiaou falta de condições de se alimentar; • disfagia; • elevação da temperatura; • sialorreia; • aumento dos linfonodos submandibulares; • tosse; • engasgo simulando vômito por incapacidade de deglutir. O diagnóstico deve ser feito com precisão, particularmente se o animal apresentar febre alta. Como recurso diagnóstico utiliza-se o exame de reflexo positivo, tocando os primeiros anéis traqueais suavemente, o que desencadeará reflexos de tosse, confirmando a suspeita diagnóstica. O tratamento preconizado baseia-se na remoção da causa examinando-se a boca, tonsilas e cavidades nasais a procura de inflamações vizinhas e de corpo estranho que, ao ser encontrado deve ser retirado. Deve-se recorrer à antibioticoterapia, dieta semipastosa e, se necessário, um sedativo da tosse. 44 FIGURA 23 - ANATOMIA FONTE: Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. Disponível em: <fmv.utl.pt>. Acesso em: 2007. 4.3.2 Disfunção cricofaringeana ou acalasia É a obstrução por espasmo do esfíncter cricofaringeano durante a deglutição, um retardo na abertura do esfíncter esofágico superior, abertura incompleta ou fechamento prematuro do esfíncter por distúrbio nervoso de causa desconhecida. A sintomatologia se caracteriza por regurgitação em cães jovens, imaturos, geralmente quando passam a se alimentar de sólidos (ao desmame). Tratamento: miotomia cricofaringeana. O prognóstico pode ser bom, quando o animal é submetido à cirurgia e bem-sucedido ou reservado a ruim se deixado sem tratamento cirúrgico. 45 4.4 ESÔFAGO 4.4.1 Esofagite É a inflamação do esôfago, pode ser consequência da ação por corpos estranhos, irritações térmicas, químicas e cáusticas, e por refluxo gastroesofágico. Os principais sintomas são: • regurgitação; • disfagia; • sialorreia; • dor ao deglutir; • anorexia, depressão e febre (pneumonia por aspiração); • perda de peso, desidratação (crônica ou grave). O diagnóstico pode ser feito baseado na sintomatologia, principalmente pela regurgitação, e por endoscopia. O tratamento deve dar atenção especial à nutrição. Deve-se iniciar logo o tratamento do refluxo com antagonistas de H2 como, por exemplo: • Cimetidina (5-10 mg/Kg, VO, IM ou IV de 6 em 6 horas ou de 8 em 8 horas), • Ranitidina (1-2 mg/Kg, VO, IM ou IV de 12 em 12 horas), • Famotidina (0,5 mg/Kg, VO, IM ou SC de 24 em 24 horas), entre outros. Protetores de mucosa e antieméticos como Metroclopramida (0,25-0,5mg/Kg, VO, IM ou IV de 6 em 6 horas até 24 em 24 horas) e Corticosteroides como a predinisolona (0,5-1,1mg/Kg de 12 em 12 horas ou 24 em 24 horas). O animal deve ficar alguns dias em repouso, com dieta zero e medicação endovenosa até que haja a cicatrização da mucosa esofágica. No refluxo não se pode usar anti-inflamatório não esteroidal. O uso de antibióticos como amoxaciclina, clindaciclina, ampicilina e cefalosporina é recomendado. 46 No caso de corpo estranho, ou irritação, o mesmo tratamento deve ser precedido de remoção do agente agressor. 4.4.2 Anomalias do anel vascular Essas anomalias são más-formações congênitas dos grandes vasos e seus ramos, que envolvem o esôfago torácico causando sinais de obstrução, geralmente causadas pela persistência do arco aórtico direito. Os principais sintomas são: • regurgitação de alimento sólido (desmame); • perda de peso; • apetite normal; • tosse/dispneia (pneumonia). O diagnóstico é feito com auxílio de radiografia torácica e de contraste. O tratamento é cirúrgico e deve ser instituído precocemente. 4.4.3 Hipomotilidade esofágica, dilatação esofagiana, megaesôfago É uma lesão anatômica devida a distúrbios do peristaltismo por desordem neuromuscular. Pode ser um problema congênito (megaesôfago idiopático congênito) ou adquirido, secundário a doenças como cinomose, hipotireoidismo, esofagite, neoplasias, entre outros. 47 Os principais sintomas são: • regurgitação; • perda de peso/emaciação; • dispneia, tosse, febre (pneumonia por aspiração). O diagnóstico é feito baseado na idade, em que animais jovens têm predisposição a regurgitação, na sintomatologia, nos exames de radiografia, radiografia contrastada e endoscopia. FIGURA 24 - RADIOGRAFIA DE MEGAESÔFAGO COM CONTRASTE FONTE: Disponível em: <www.veterinariaonline.com>. Acesso em: 2007. O tratamento é sintomático baseado na mudança alimentar, oferecendo alimento semipastoso, em pequenas porções diárias, várias vezes, dispondo o alimento em comedouros sobre pedestais, mantendo a cabeça do animal levantada na hora de comer. Recomenda-se manter a cabeça do animal levantada por um tempo após ele alimentar-se. 48 4.5 GLÂNDULAS SALIVARES 4.5.1 Sialoadenite É a inflamação das glândulas salivares (sublingual, mandibular, zigomática e parótida). A sintomatologia mais comum para sialoadenite zigomática é: • exoftalmia; • lacrimejamento; • estrabismo divergente; • relutância em ingerir alimentos; • dor ao abrir a boca. Sialoadenite parótida: palpação e a inspeção da glândula constatando a mesma, firme, quente e dolorida. O tratamento se faz sempre pelo uso de antibióticos indicados para as infecções do orofaríngeo e, na presença de abscesso, por drenagem cirúrgica. 4.5.2 Cistos salivares, mucocele, sialocele Quando a glândula salivar produz saliva, mas não consegue eliminar por obstrução do seu trajeto. Geralmente forma-se uma massa indolor flutuante e mole que, dependendo das condições do paciente, não deve ser manipulada nem para drenagem. Se o animal apresenta dispneia e/ou disfagia, deve-se proceder ao tratamento após criteriosa avaliação de sua necessidade. 49 A rânula é o cisto da glândula sublingual, de incidência frequente em cães. O paciente apresenta movimentos linguais anormais, relutância em ingerir alimento, disfagia e sangue na saliva. É observada ao se expor a língua do cão. Tratamento: drenagem cirúrgica para retirada do líquido para exame. Em caso de recidiva aconselha-se a cirurgia. 4.6 NEOPLASIAS E TUMORES As neoplasias mais frequentemente diagnosticadas em animais de companhia são: • cães – fibrossarcoma, melanoma maligno, carcinoma epidermoide; • gato – carcinoma epidermoide. FIGURA 25 - FIBROSSARCOMA FONTE: Dentalvet, 2007. 50 Dependendo do tamanho da neoplasia, o animal não se alimenta direito, fica prostrado e mostra emagrecimento progressivo. O tratamento pode ser cirúrgico, associado à quimioterapia e tratamento por radiação. O prognóstico é ruim. Existem tumores benignos muito frequentes nos animais denominados epúlides, que podem se apresentar sob
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