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Ética Empresarial Implementando um Código de Ética Prof. Me. Laerci Jansen Rodrigues Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 2 Olá! Seja bem-vindo! Antes de iniciarmos, assista ao vídeo a seguir para conhecer os temas que serão abordados nesta aula. Introdução Iniciaremos esta aula refletindo sobre os desafios e as principais ferramentas que podem ser utilizadas para instituir práticas éticas bem- -definidas em uma empresa. Ou seja: Como o código de ética pode inspirar um padrão de comportamento moral em toda uma comunidade empresarial? Além disso, analisaremos as questões que se colocam em relação à globalização e aos pressupostos que se impõem frente à responsabilidade das empresas. E, em um terceiro momento, refletiremos sobre o significado dos dilemas éticos que se interpõem no âmbito das organizações. Bons estudos! Implementando um Código de Ética “Não podemos deixar que o mundo se transforme num mercado global, sem outra lei que não a do mais forte.” (François Mitterrand) Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 3 Existem dois elementos nos quais a ética empresarial deve se fundamentar: 1. Definição e aceitação, por parte da empresa, de um conjunto de valores e critérios de atuação, que precisam estar integrados com a cultura da empresa. São os valores e critérios que definem a organização em relação aos grupos de interesse que atuam junto à empresa: acionistas, clientes, consumidores e a sociedade como um todo − os stakeholders. Para isso, a empresa deve definir sua responsabilidade social, que consiste no cuidado total com os impactos de suas decisões perante a sociedade. 2. Criação de ferramentas ou instâncias que sirvam de referência para a conduta e a prática ética da empresa. As ferramentas éticas são uma maneira muito boa de sensibilizar todos os envolvidos nos vários níveis da organização sobre a importância da própria ética e da maneira como esta beneficia o conjunto da empresa. Entre as instâncias utilizadas para esse fim, estão: Em seguida, veremos a especificidade e a importância de cada uma delas. As práticas éticas devem estar previstas em documentos ou programas que estabelecem os princípios sobre os quais as empresas norteiam seus valores, que, por sua vez, devem ser seguidos por todos que fazem parte da organização. Códigos de ética Comitês de alta qualidade Auditorias éticas Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 4 Antes de prosseguirmos, leia o texto “Códigos de ética empresarial e as relações da organização com seus públicos”, de Marina do Amaral Daineze, disponível no site a seguir: <www.ethos.org.br/_Ethos/Documents/codigos_de_etica_empresarial.doc> Agora procure refletir sobre as seguintes questões colocadas no texto indicado anteriormente: Para que é necessário um código de ética empresarial? Devemos chamar de código de ética ou de código de conduta empresarial? O Código de Ética O código de ética é um documento formal, com o objetivo de esclarecer os princípios e os valores fundamentais que norteiam as práticas de uma empresa perante a sociedade. Ele deve regular as relações existentes entre os trabalhadores e toda rede de pessoas e instituições que estão dentro da zona de interesses da empresa. De acordo com Arruda, “os códigos tornam claro o que a organização entende por conduta ética. Procuram especificar o comportamento esperado dos empregados e ajudam a definir marcos básicos de atuação.” (ARRUDA, 2002, p. 5) Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 5 Esse comitê, preferencialmente, deverá ser “formado por um número ímpar de integrantes provenientes de diversos departamentos, todos reconhecidos como pessoas íntegras por seus colegas.” (ARRUDA, 2002, p. 67). Para que o código de ética surta o efeito desejado, é imprescindível a participação dos trabalhadores de todos os níveis em sua elaboração, de modo que possam revelar o que entendem a respeito da função social da empresa e de como esta deve atuar para cumprir bem o seu papel. Comitê de ética Essa instância tem a incumbência de revisar e aprimorar o código de ética das organizações. Portanto a sua existência está vinculada à própria consecução do código. De maneira geral, o comitê de ética possui as seguintes atribuições: Prezar pelo cumprimento do código de ética; Interpretar as normas quando necessário; Assessorar a busca por soluções aos problemas éticos; Considerar os interesses de todos os stakeholders da empresa. Muitas empresas, preocupadas com a dimensão urgente que a própria sociedade impõe sobre as organizações no que diz respeito aos princípios éticos, têm contratado profissionais especialistas nessa área para manter o código de ética atualizado e resolver eventuais inconsistências apresentadas, bem como disseminar uma cultura ética na organização a partir de cursos de capacitação específicos, envolvendo todos os trabalhadores, até mesmo a alta administração. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 6 Auditoria ética Segundo Arruda (2002), as auditorias éticas se configuram em “um sistema de monitoramento e controle dos ambientes interno e externo da organização, para detectar pontos que podem vir a causar uma conduta antiética.” (ARRUDA, 2002, p. 68) Sendo assim, torna-se uma ferramenta essencial para responder a maior exigência de transparência. Um bom sistema de monitoramento auxilia a prática ética a se tornar um elemento da cultura organizacional. Em síntese, segundo o mesmo autor, a auditoria ética “visa ao cumprimento das normas éticas do código de conduta, certificando que houve aplicação das políticas específicas, sua compreensão e clareza por parte de todos os funcionários.” (ARRUDA, 2002, p. 68) Acompanhe, no exemplo a seguir, o tratamento dado pela Whirlpool Corporation em seu código de ética: concepção, objetivos, incorporação e apuração de desvios éticos. CASE WHIRLPOOL As operações da Whirlpool Latin America e a forma de conduta de seus negócios e parcerias obedecem às determinações do Código de Ética, elaborado pela Whirlpool Corporation, que se aplica a todas as subsidiárias da companhia ao redor do mundo. O documento orienta a conduta pessoal e comercial dos colaboradores, oferecendo diretrizes claras sobre a realização de negócios, a promoção e respeito da diversidade, a elaboração de materiais de divulgação, o relacionamento com clientes e fornecedores, o envolvimento com atividades políticas e o tratamento a ser dado a informações privilegiadas, entre outros temas. Ao serem admitidos na empresa, todos os novos colaboradores recebem uma cópia do Código de Ética e participam de um treinamento sobre o tema durante as reuniões de integração, realizadas nas unidades. Em 2010, 4.557 pessoas foram treinadas, incluindo os novos colaboradores e a liderança da Companhia. Essas capacitações são realizadas tanto de forma presencial como on-line, por meio da Whirlpool Virtual University. Também nesse ano, a Whirlpool Corporation publicou, simultaneamente, em todo o mundo as Políticas de Conformidade ao Código de Ética, documentos que complementam e detalham cada um dos itens do código. A cartilha contendo o Código de Ética da Whirlpool Latin America possui, ainda, um capítulo que orienta o colaborador em como apoiar o cumprimento dos princípios éticos. Caso tomeconhecimento de alguma violação desse código, o Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 7 colaborador deve comunicar o ocorrido aos seus superiores ou por meio da Hotline, uma linha telefônica gratuita e com atendimento em português, inglês e espanhol. As denúncias encaminhadas pelos colaboradores a esse canal são anônimas e apuradas de forma sigilosa. Em 2010, a Hotline recebeu um total de 35 denúncias que foram analisadas pelo Comitê de Ética – formado pelo presidente, por membros da diretoria e pelas gerências de segurança corporativa e de controles internos – e tratadas com medidas que vão desde advertência até desligamento. (WHIRLPOOL CORPORATION, disponível em: <http://www.whirlpool.com.br/Pessoas/C%C3 %B3digode%C3%89tica>). Ter um código de ética não é uma garantia absoluta de que a empresa não se verá, em algum momento, diante de um escândalo moral. Porém, uma vez que esse código seja promovido como um elemento de formação e desenvolvimento do indivíduo, adquirindo, assim, uma posição estratégica na gestão de Recursos Humanos, sempre voltado para o reconhecimento de que, para o controle dos trabalhadores, as chances da empresa ter pessoas que abraçam e internalizam espontaneamente o caráter moral da organização serão extremamente maiores. Antes de prosseguirmos, assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre o que foi visto até este ponto. A Ética e a Globalização A globalização é um fenômeno que se estende por várias dimensões sociais, desde a perspectiva econômica, perpassando pela Tecnologia da Informação, pela política, pelos valores culturais, até atingir a identidade social dos indivíduos. “A globalização significa a intensificação das relações sociais à escala mundial de tal maneira que faz depender aquilo que sucede a nível local de acontecimentos que se verificam a grande distância e vice-versa.” (GIDDENS, 2002, p. 55) Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 8 Sem dúvida, as grandes organizações têm o poder de inspirar comportamentos nobres, porém o contrário também é possível. Sendo um dos agentes econômicos mais importantes, a empresa deve assumir sua responsabilidade moral de primar por um mundo mais justo, promovendo comportamentos éticos. Uma empresa que tenha grande influência entre crianças e jovens pode, com certa facilidade, disseminar uma mentalidade egoísta, inconsequente e narcisista entre seu público tão sorrateiramente que mesmo os pais sintam dificuldades em perceber. Acompanhe outro exemplo a seguir: CASE COCA-COLA E VIVO O Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) condenou uma propaganda da Coca-Cola Zero por considerá-la „deseducativa e perigosa‟. A peça, exibida na televisão sob o slogan „0,01% de possibilidades‟, mostra uma garota atrasada que pega carona com um taxista que, para ajudá-la, faz manobras arriscadas no trânsito - inclusive com um „cavalo de pau‟, manobra em que o veículo dá meia-volta bruscamente. Acreditando que a propaganda seria um incentivo a atitudes irregulares no trânsito, o Conselho de Ética do Conar abriu um processo por iniciativa própria. Na reunião da última quarta-feira, o órgão determinou que o anunciante modificasse a peça retirando a cena do vídeo ou que a veiculação fosse suspensa. Em contato com o Terra, a assessoria da Coca-Cola não comentou a determinação. Viral Na mesma reunião, a propaganda “Conectados vivemos melhor”, veiculada pela Vivo na internet, também foi reprovada. A propaganda exibia bonecos animados que estimulavam as crianças a divulgarem uma mensagem na web. Os bonecos insinuavam que quem não disseminasse o recado não teria amigos. A entidade recebeu denúncias de consumidores, pois a propaganda fazia um apelo para que as crianças fizessem algo que, muitas vezes, não está ao alcance delas. A peça foi considerada antiética e estimuladora de algo que pode ser perigoso - o uso errado das redes sociais. O conselho pediu a supressão das duas mensagens, por edição do vídeo ou suspensão da propaganda. Em nota, A assessoria da Vivo afirmou que "cumpriu a decisão do Conar em relação ao vídeo viral mencionado pela reportagem, fazendo os ajustes solicitados pela entidade. (disponível em: <http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia= 201207301803_TRR_81452747>). Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 9 Diante dessas possibilidades, talvez o maior desafio de uma empresa seja exatamente ser uma fonte de inspiração que venha a transformar algumas características perversas e selvagens do capitalismo global, o que se faz com bons exemplos dentro do tecido social. Entretanto, essa não é uma tarefa tão fácil quanto parece, exatamente porque “no mundo globalizado (...) a competitividade comanda nossas formas de ação. O consumo comanda nossas formas de inação. A concorrência atual elimina toda forma de compaixão. A competitividade tem a guerra como norma.” (SANTOS, 2005, p. 46). Essa selvageria concorrencial muitas vezes inibe iniciativas que visam dar um caráter moral às metas e aos objetivos das empresas. É exatamente por isso que a pressão exercida sobre as organizações para manterem um comportamento ético é, também, fruto de uma tomada de consciência global das pessoas, dos órgãos e das instituições. Um dos efeitos mais devastadores da globalização tem envolvido o mundo do trabalho: uma grande parte da população tem enfrentado o rebaixamento dos padrões salariais e empregatícios ao mesmo tempo em que as empresas exigem um trabalhador mais qualificado, flexível e polivalente, pronto para atingir metas sempre mais ambiciosas com agressividade e determinação. Contudo, mesmo esse trabalhador vive sobre uma corda bamba, com o sentimento constante que seu posto está constantemente ameaçado pela volatilidade do mercado e pela permanente busca da empresa em reduzir custos e aumentar a produtividade em prol da maximização do desempenho financeiro. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 10 Muitas empresas multinacionais se aproveitam de legislações trabalhistas e ambientais frouxas para superexplorar trabalhadores e cometer abusos contra o meio ambiente. A principal desculpa recai sobre a impossibilidade de adotar procedimentos globais na política de recursos humanos, já que as organizações encontram-se subordinadas às legislações dos países em que atuam, o que faz muitas delas se distanciarem dos padrões mínimos internacionais no que diz respeito aos direitos trabalhistas. Na paisagem do capitalismo global, a ética funciona quase como uma intrusa e é resultado “dos embates históricos levados a efeito por inúmeros movimentos políticos e associativos em defesa da cidadania, dos trabalhadores, dos contribuintes e dos consumidores” (SROUR, 2000, p. 188). O caráter belicista do mercado encorajam muitas empresas a ignorar princípios éticos. Consciente desse processo, a sociedade civil organizada tem monitorado empresas e denunciado aquelas que buscam obter vantagens competitivas às custas da precarização das condições de trabalho e do descaso ao meio ambiente. O fato é que o planeta, hoje, pede uma globalização não marcada por um pensamento único. Não podemos desejar um pensamento hegemonicamente unitário, mas, sim, uma consciência global, uma visão de mundo que tenha como fundamento a compreensão de que vivemos em uma só atmosfera, uma só humanidade e compartilhamos todos um só futuro. A atuação de sindicatos, ONGs, associações e movimentos sociais tem sido determinantes para garantir os direitos dos trabalhadorese promover um processo de globalização humano e solidário. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 11 Por exemplo, se um país importador, como a Índia, melhorar a sua regulamentação sobre as compras públicas e reduzir a corrupção, a participação da Bélgica nas exportações para a Índia seria diminuída em 8%, ao passo que a Suécia ganharia uma participação de 6,5% no mercado de importação indiano. (SROUR, 2000) Para saber mais sobre a questão da ética empresarial e sua inter- -relação com a globalização, assista ao vídeo a seguir e fique por dentro! Dilemas Éticos nos Negócios Um dilema ético surge quando um indivíduo está em uma situação em que suas escolhas estão entre a oportunidade de levar vantagem em algo e aquilo que é moralmente correto fazer. Entretanto, o dilema ético se aprofunda quando essa fronteira não está muito clara, ou seja, quando não se tem certeza do que deve ser feito ou o que é correto fazer, pois a linha entre o certo e o errado é nebulosa e o discernimento é difícil. Dilema moral é qualquer problema em que a moralidade seja relevante. Esse uso lato inclui não apenas conflitos entre razões morais, mas também conflitos entre razões morais e razões legais, religiosas ou relacionadas com o Um estudo do economista Johann Graf Lambsdorff, apresentado em 1997 na reunião anual da Transparency International (organização não governamental com sede em Berlim), mostra que a diminuição da corrupção em países importadores leva a uma queda das exportações de países corruptores. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 12 interesse próprio. Neste sentido, Abraão encontra-se num dilema moral quando Deus lhe ordena que sacrifique o seu filho, ainda que ele não tenha qualquer razão moral para obedecer. Analogamente, encontro-me num dilema moral se não puder ajudar um amigo que esteja com problemas sem renunciar a uma lucrativa, mas moralmente neutra oportunidade de negócio. (SINNOTT-ARMSTRONG, W., disponível em: <http://criticanarede.com/fil_dilemamoral.html>). No mundo dos negócios, essas situações se apresentam de maneira muito frequente. Os dilemas éticos empresarias são reconhecidos como um objeto de estudo intrigante e desafiador, pois sempre estão recheados de interesses que pressionam as tomadas de decisão. Entre as muitas questões que envolvem os dilemas em uma empresa, estão: Podemos fazer algo que traria um bem considerável, mas que exige distorcer algumas regras? Tem mais valor a justiça social ou o respeito à propriedade privada? Em que ocasiões informações sigilosas podem ser compartilhadas? Podemos avisar um amigo que ele será demitido caso, por motivos profissionais, tenhamos acesso a essa informação? Acompanhe o texto a seguir, de Fabio Marton, da Revista Superinteressante, sobre esse assunto: Dilemas morais: o que você faria? No livro “A Escolha de Sofia”, de William Styron, uma prisioneira polonesa em Auschwitz recebe um „presente‟ dos nazistas: ela pode escolher, entre o filho e a filha, qual será executado e qual deverá ser poupado. Escolhe salvar o menino, que é mais forte e tem mais chances na vida, mas nunca mais tem notícias dele. Atormentada com a decisão, Sofia acaba se matando anos depois. Dilemas morais, como a escolha de Sofia, são situações nas quais nenhuma solução é satisfatória. São encruzilhadas que desafiam todos que tentam criar regras para decidir o que é certo e o que é errado, de juristas a filósofos que estudam a moral. Agora os dilemas morais estão virando objeto de estudo de cientistas. E, para alguns deles, talvez os filósofos tenham trabalhado em vão ao se esforçar tanto para montar teorias morais. É que, segundo novas pesquisas, raramente usamos a razão para decidir se devemos tomar uma atitude ou não. Analisando o cérebro de pessoas enquanto elas pensavam sobre dilemas, os pesquisadores perceberam que muitas vezes decidimos por facilidade, empatia ou mesmo nojo Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 13 Um dos dilemas éticos mais comuns é o chamado dilema dos meios, o qual está alicerçado no princípio do filósofo renascentista Maquiavel: “os fins justificam os meios”. de alguma atitude. Duvida? A seguir, faça o teste com você mesmo, respondendo a 1 dilema moral clássico. O trem descontrolado Um trem vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha. Mas você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto, salvando as 5 e matando 1? ( ) Mudaria ( ) Não mudaria Esse dilema moral foi apresentado a voluntários pelo filósofo e psicólogo evolutivo Joshua Greene, da Universidade Harvard. “É aceitável mudar o trem e salvar 5 pessoas ao custo de uma? A maioria das pessoas diz que sim”, afirma Greene em um de seus artigos. De fato, numa pesquisa feita pela revista Time, 97% dos leitores salvariam os 5. (MARTON, Revista Superinteressante, jun. 2008). Embora os pesquisadores da citação anterior estejam chegando a conclusões de que, diante de dilemas éticos, as pessoas não costumam utilizar a razão para a tomada de decisão, esse é um luxo a que aqueles que estão à frente de organizações e empresas não podem se dar. É preciso fazer um longo percurso avaliativo a fim de mensurar, com a máxima precisão, quais impactos para a empresa, para a sociedade e para o meio ambiente a medida escolhida trará. Esse dilema quer dizer que qualquer meio é válido em vista dos objetivos que se quer alcançar – se uma empresa tem como finalidade o lucro, todo e qualquer meio é justificável para obtê-lo. É claro que essa mentalidade abre uma infinidade de ações questionáveis e o problema é que, sobre muitos pontos de vista, meios que não estão vinculados a valores morais podem ser Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 14 utilizados para salvaguardar interesses maiores ou mais gerais. Essa condição aparece com maior frequência no campo das negociações. Albert Carr (1968) defende que a negociação é um jogo e como tal tem regras próprias. Para Carr (1968), esconder informação, fazer blefe, encobrir ou exagerar dados e fatos pertinentes são comportamentos normais e legítimos no mundo dos negócios. Os executivos que não o façam ignoram as oportunidades permitidas pelas regras do jogo e, consequentemente, ficam em desvantagem nas suas relações empresariais e negociais. (SOBRAL, 2009). A argumentação de Carr é exatamente a mesma feita por Maquiavel, dirigida ao âmbito da política. Embora essa concepção seja defendida por vários autores, há também aqueles que acreditam “que princípios universais, como honestidade absoluta, podem estar presentes em qualquer negociação (REITZ et al., 1998). Para estes, a negociação honesta é uma possibilidade real, mas é necessário condenar qualquer forma de engano ou inverdade que possa surgir no decorrer do processo.” (SOBRAL, 2009). Autores que primam por uma postura ética empresarial, seja no âmbito da negociação ou em qualquer outro contexto, entendem que comportamentos oportunistas e enganosos podem, de fato, trazer algum tipo de vantagem competitiva em curto prazo. Porém, na medida em que o ardil vem à tona, a empresa pode arcar com custos muito altos, pela perda de credibilidade ou de futuras oportunidades, por uma reputação negativa frente aos seus stakeholders, por se colocar em uma posição de vulnerabilidade em relação aos concorrentes, entre outros prejuízos. Acompanhe o caso da empresa Firestone, denunciado no início dos anos2000, nos EUA: CASE FIRESTONE A Firestone é acusada de esconder por três anos um grave defeito de fabricação em seus produtos. [...] O total de mortes relacionadas a esses acidentes chegou a 62 e os feridos já passam de 100. Como boa parte dos veículos envolvidos nos acidentes eram Manter a confiabilidade, a transparência e a honestidade é uma atitude racional diante de um cenário no qual não há previsão de futuro próximo. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 15 peruas Ford Explorer, a montadora divulgou na semana passada uma nota informando que as falhas não tinham relação alguma com o automóvel em si. No texto, a Ford faz uma acusação gravíssima. Ela afirma que a Firestone conhecia o defeito do pneu havia três anos. [...] No caso específico da armadilha do pneu, o recall foi anunciado tarde demais, há duas semanas. [...] Se a denúncia da Ford for comprovada, a Firestone encobriu um defeito de fabricação de um produto seu como forma de proteger não os consumidores, mas sua imagem – ou, numa hipótese pior ainda, sua fatia de mercado. [...] Segundo a direção da Ford, a maioria dos pneus defeituosos foi fabricada durante uma greve na fábrica da Firestone no Estado de Illinois, em 1994. Após essa paralisação, o número de queixas decuplicou. A Firestone nega qualquer relação entre a greve e o defeito nos pneus, mas trabalhadores que participaram dos dez meses de paralisação disseram que a empresa utilizou mão-de-obra sem qualificação para continuar produzindo os pneus. (REVISTA VEJA, n. 1663, agosto 2000, disponível em: <http://veja.abril.com.br/230800/p_090.html>). O dilema da Firestone residia entre resguardar sua imagem e a alardeada qualidade de seu produto ou assumir a baixa qualidade do mesmo, promover um recall de milhões de dólares, colocar em xeque o contrato com a Ford, porém proteger a vida das pessoas que utilizavam sua marca. Nessa equação, a empresa tomou a decisão errada e amargou um enorme prejuízo financeiro e moral, principalmente em solo norte americano. A empresa poderia ter agido diferente diante da pressão e da necessidade de manter sua imagem e seu lucro? Vejamos, agora, um caso tão grave quanto o anterior, porém da indústria farmacêutica: CASE JOHNSON&JOHNSON A Johnson & Johnson possuía 35% do mercado de analgésicos nos EUA, com vendas anuais de US$ 400 milhões. No final de setembro de 1982, sete pessoas morreram envenenadas após ingerir Tylenol contaminado com cianeto. A J&J agiu com prontidão: recolheu e destruiu 22 milhões de frascos a um custo de US$ 100 milhões. Um sistema de comunicação foi montado para informar os diversos públicos interessados, o que resultou em cerca de 125.000 recortes de notícias na mídia ao redor do mundo. Decidiu fazer o recall e descontinuar a produção do remédio até relança-lo com nova embalagem inviolável. Fez um acordo, cujo valor jamais veio a público, com as famílias das sete vítimas. Gastou outros US$ 100 milhões com a parte fiscal da devolução dos medicamentos. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 16 A tentativa de chantagem feita pelo sabotador que colocou cianureto em parte do lote distribuído foi denunciada pela J&J e o culpado foi preso. Posteriormente a empresa gastou mais US$ 150 milhões em campanhas publicitárias para recuperar o mercado perdido e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente. (SROUR, 2000, p. 42). Provavelmente, seria ingenuidade acreditar que a J&J tenha tomado essas iniciativas por um espírito de abnegação e humanismo. O que de fato seria mais aceitável acreditar é que a empresa simplesmente assumiu a responsabilidade empresarial prescrita em seu código de ética e, quando se viu diante do dilema imposto por uma chantagem, optou por seguir seu credo organizacional, consciente das demandas financeiras que isso traria ao seu caixa. Para esclarecer melhor as suas dúvidas sobre os dilemas éticos empresariais, assista ao vídeo a seguir e relembre como eles se estabelecem. Dentro das organizações, algumas situações morais são mais fáceis de resolver do que outras, o que depende da envergadura do problema. A verdade é que as questões que envolvem a vida, a dignidade humana e seus direitos não deveriam ser postas como dilemas frente à deterioração da imagem ou dos lucros de uma empresa. Contudo, se algumas ainda colocam esses valores em uma balança, é porque não conseguiram encontrar sua verdadeira razão de ser, sua verdadeira função social, ou “o ideal seria que as empresas de medicamentos fossem, na realidade, empresas de saúde; as empresas automobilísticas, empresas de transporte e mobilidade, e assim sucessivamente.” (URSINI & BRUNO, 2003). Se essa realidade parecer utópica ou distante, só nos resta crer que devemos repensar as relações de poder e consumo com máxima urgência. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 17 Síntese Assista ao vídeo a seguir, que fala sobre os principais tópicos abordados nesta aula, bem como faz comentários a respeito das atividades. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 18 1. Você faz parte do comitê de ética de sua empresa e recebe uma denuncia anônima que um dos administradores do alto escalão iniciou um processo de suborno para vencer uma licitação pública. Qual seria a sua atitude diante dessa situação? a. Reportaria aos demais membros do comitê de ética, recomendando uma auditoria sobre os procedimentos do funcionário. b. Negligenciaria a denuncia, visto que a transação poderia beneficiar financeiramente a empresa. c. Procuraria conversar com o colega denunciado em particular, a fim de apurar a procedência da denúncia e demovê-lo de suas intenções. d. Denunciaria nos meios de comunicação o esquema de falcatrua, como forma de combater a corrupção em todo país. 2. Supondo que sua empresa tenha sido alvo constante de críticas por ter uma atividade que, necessariamente, exige uma superexploração e uma modificação do meio ambiente. Para que ela continue tendo credibilidade, portanto, precisa atenuar essas críticas; porém todas as opções levariam a um grande investimento de recursos e reduziriam o lucro da empresa, sem ameaçar sua estabilidade. Qual seria a sua atitude diante de uma situação como essa? a. Contrataria uma boa empresa de marketing para vincular sua marca ao progresso e ao bem-estar da sociedade. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 19 b. Optaria por fazer ações sociais que não tivessem a ver com o negócio da empresa, a fim de vincular a marca a elas e não precisar reduzir os lucros investindo nas verdadeiras ações necessárias. c. Faria os investimentos necessários e aceitaria o ônus de ter que baixar os ganhos financeiros da empresa em nome da responsabilidade social. d. Não faria nada e esperaria que as críticas acabassem ou se atenuassem naturalmente por saturação. Ética Empresarial | Implementando um Código de Ética 20 Referências ARRUDA, M. Código de ética: um instrumento que adiciona valor. São Paulo: Negócio, 2002. DRUCKER, P. F. O melhor de Peter Drucker: a administração. São Paulo: Nobel, 2001. FARIA, A. & SAUERBRONN, F. F. A responsabilidade social é uma questão de estratégia? Uma abordagem crítica. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/rap/v42n1/a02v42n1.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2013. INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social e Empresarial (2013). São Paulo: Instituto Ethos, 2013. Disponível em: <http://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2013/07/IndicadoresEthos_ 2013_PORT.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2013.KREITLON, M. P. A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, Anais, n. 28. Curitiba: Anpad, 2004. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à Administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1992. MELENDO, T. Las claves de la eficacia empresarial. Madrid: Rialp, 1990. MELLO, E. R. de. Considerações sobre o Estado em Hobbes. Revista de C. Humanas, Viçosa, v. 12, n. 1, p. 217-234, jan./jun. 2012. NASH, L. L. Ética nas empresas: boas intenções à parte. São Paulo: Makron Books, 1993. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 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