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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA – CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016 Mariana Barreira Campos Rios Rio de Janeiro 2014 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA – CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016 Mariana Barreira Campos Rios Projeto de Graduação apresentado ao curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Engenheiro. Orientador: Jorge dos Santos Rio de Janeiro Agosto de 2014 iii ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016 Mariana Barreira Campos Rios PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinada por: __________________________________________ Prof. Jorge dos Santos, D.Sc., Orientador __________________________________________ Prof. Ana Catarina Evangelista, D.Sc. __________________________________________ Prof. Isabeth da Silva Mello, M. Sc. __________________________________________ Prof. Wilson Wanderley da Silva, Arq. iv RIO DE JANEIRO – RJ, BRASIL AGOSTO 2014 Rios, Mariana Barreira Campos Estudo de Aspectos e Impactos Ambientais nas Obras de Construção do Bairro Ilha Pura - Vila dos Atletas 2016./ Mariana Barreira Campos Rios – Rio de Janeiro: POLI/UFRJ, 2014./ Mariana Barreira Campos Rios. – Rio de Janeiro: UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, 2014. XIV, 102 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Jorge dos Santos Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2014. Referências Bibliográficas: p. 96-101 1. Introdução, 2. Impactos Ambientais, 3. Impactos Ambientais na Construção Civil, 4. Aprovações de Construções - Legislação Ambiental, 5. Boas Práticas, 6. Estudo de Caso, 7. Considerações Finais. I. Santos, Jorge. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Título. v DEDICATÓRIA Dedicado aos meus pais, aos meus irmãos e meus avós, Que sempre acreditaram em mim e me deram forças para superar todas as dificuldades. Muito obrigada pela educação, amor e compreensão. Comemoramos juntos essa vitória. vi AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Luis Augusto e Lélia, por todo investimento em minha educação, pelo suporte emocional doado da mais bela maneira, pelos diversos conselhos e orientações fornecidos, pela motivação em momentos difíceis e pela alegria compartilhada em todos os dias de vitória. Ainda, acima de tudo, agradeço todo amor e entrega durante toda minha vida e dos meus irmãos. Aos meus irmãos, Thaís e Victor, pelo companheirismo de uma vida inteira, por acreditarem em mim e me darem forças para manter a engenharia em nossa família. Agradeço todo amor, carinho, união e cumplicidade que sempre tivemos. Aos meus cunhados Angelo e Marina, pela amizade e por tantas conversas confortantes durante todos esses anos e em especial ao Angelo, por, junto à minha irmã Thais, ter me dado os maiores presentes da minha vida: meus sobrinhos Pedro e Gabriel. Certamente são o maior motivo da minha alegria! Ao meu namorado Pedro, por toda compreensão em momentos de ausência, pela lealdade e pelo amor sempre demonstrado da maneira mais pura e verdadeira. Às minhas avós, Carmen e Minda, pelas palavras doces e sábias que sempre me fizeram refletir e me deram forças para obter o título de Engenheira. À todos os meus familiares, em especial meus Dindos de coração, Célia e Luis Eduardo e minha prima e melhor amiga Natália, pela preocupação, pelo apoio, por cada palavra de motivação e confiança durante todo curso de Engenharia. Aos amigos de graduação, pelas boas risadas, pelo companheirismo, por tantas noites mal dormidas fazendo trabalhos intermináveis e por diversas histórias inesquecíveis. Em especial agradeço a amizade de Luísa Gontijo, Fernanda Couto, Anália Torres e Eduarda Bacellar, que estiveram comigo em grande parte dessa trajetória e que levarei para a vida toda. À todos os meus amigos que vivenciaram comigo essa grande etapa em minha vida, me ajudando a superar desafios e vibrando comigo em minhas conquistas. Muito obrigada. vii Resumo da Monografia apresentada à POLI/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira Civil. ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016 Mariana Barreira Campos Rios AGOSTO/2014 Orientador: Jorge dos Santos Curso: Engenharia Civil O presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre aspectos e impactos ambientais, principalmente no setor da construção civil. Atualmente, vem sendo cada vez maior a preocupação com a sustentabilidade em todas as etapas do ciclo de vida de um empreendimento, desde sua concepção, projeto, construção, manutenção, até sua demolição, considerando sempre as três dimensões da sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Portanto, desenvolveu-se um estudo para identificação dos aspectos ambientais das obras de construção da 1ª Fase do Bairro Planejado Ilha Pura, de acordo com as atividades e processos do ciclo imobiliário.Os principais aspectos abordados foram relacionados com os respectivos impactos ambientais associados. A identificação prévia e o estudo destes impactos possibilitam a empresa desenvolver planos de ações e soluções inovadoras voltados a uma melhor atuação no que diz respeito às questões ambientais, possibilitando, assim, que os impactos negativos sejam reduzidos ou até mesmo mitigados. As iniciativas aplicadas no empreendimento contemplam a implantação de usinas de concreto no canteiro de obras, redução e reuso de resíduos, redução do impacto na utilização de recursos hídricos e energéticos, diminuição da emissão de gases de efeito estufa (GEE), além do recrutamento e capacitação da mão de obra do entorno. PALAVRAS-CHAVE: Aspecto Ambiental; Impacto Ambiental; Práticas Sustentáveis; Construção Sustentável. viii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Engineer. A STUDY OF THE ENVIRONMENTAL ASPECTS AND IMPACTS AT THE CONSTRUCTION OF THE PLANNED DISTRICT ILHA PURA - ATHLETES VILLAGE 2016 Mariana Barreira Campos Rios AUGUST/2014 Advisor: Jorge dos Santos Course: Civil Engineering This work presents a bibliographic review of environmental aspects and impacts, especially in the civil construction sector. Currently, the concerning about sustainabilityis increasing in all stages of the building life cycle, since its conception, through design, construction, maintenance, until its demolition, considering the three dimensions of sustainability: economical, social and environmental. Hence, a study was performed to identify the environmental aspects of the planned district Ilha Pura on its first phase of construction, according to the activities and processes of the real estate cycle. The main environmental aspects discussed were related to their associated environmental impacts. The previous identification and study of these impacts enable the company to develop action plans and innovative solutions looking for better performances in environmental issues and assuring the reduction or even the mitigation of negative impacts. The initiatives applied in the project contemplate the implementation of Concrete Plants on site, waste reduction and reuse, reduction on the use of water and energy resources, reduction in emissions of greenhouse gases (GHGs), beyond the development of programs for vocational skills training and employability among the communities surrounding. KEY-WORDS: Environmental Aspect; Environmental Impact; Sustainable Practices; Sustainable Construction. ix Sumário ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................xii ÍNDICE DE FIGURA.............................................................................................. xiii ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................... xiv 1. Introdução ....................................................................................................... 15 1.1. Importância do Tema ................................................................................... 15 1.2. Objetivo ....................................................................................................... 16 1.3. Justificativa .................................................................................................. 17 1.4. Metodologia ................................................................................................. 18 1.5. Estrutura da Monografia .............................................................................. 18 2. Impactos Ambientais....................................................................................... 20 2.1. Contextualização: Aspectos e Impactos Ambientais ................................... 20 2.1.1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço ......................................... 22 2.1.2. Identificação de Aspectos Ambientais ...................................................... 22 2.1.3. Identificação de Impactos Ambientais ...................................................... 23 2.1.4. Identificação de Impactos Ambientais ...................................................... 24 2.1.5. Classificação de Impactos Ambientais ..................................................... 24 2.1.6. Priorização de Aspectos e Impactos Ambientais ..................................... 27 2.2. Os Impactos Ambientais na Visão da Legislação ........................................ 27 2.3. Ocorrências de Impactos Ambientais Motivados por Acidentes .................. 29 2.3.1. Aspectos Gerais das Ocorrências ............................................................ 29 2.3.2. Acidentes de Transporte .......................................................................... 32 2.3.2.1. Acidentes de Transporte em Terra ....................................................... 32 2.3.2.2. Acidentes de Transporte no Mar ........................................................... 33 2.3.2.3. Acidentes de Transporte Aéreo ............................................................ 34 2.3.3. Megacidades - Acidentes Urbanos........................................................... 34 3. Impactos Ambientais na Construção Civil ....................................................... 37 3.1. Princípios da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV).......................................... 38 3.1.1. Definição de Objetivo e Escopo ............................................................... 39 3.1.2. Análise de Inventário ................................................................................ 40 3.1.3. Avaliação de Impactos ............................................................................. 40 3.1.4. Interpretação de Resultados .................................................................... 40 3.1.5. ACV na Construção Civil .......................................................................... 41 x 3.2. Construção e o Meio Ambiente ................................................................... 43 3.3. Geração de Impactos ao longo do Ciclo Produtivo ...................................... 43 3.3.1. Concepção, Planejamento e Projeto ........................................................ 46 3.3.2. Construção e Implantação ....................................................................... 47 3.3.3. Uso e Ocupação ...................................................................................... 50 3.3.4. Demolição ................................................................................................ 50 3.4. Conceitos e Definições do Guia de Sustentabilidade na Construção .......... 51 3.4.1. Aspectos Ambientais - Macrotemas Sustentáveis ................................... 52 4. Aprovações de Construções - Legislação Ambiental ...................................... 55 4.1. Licenciamento Ambiental ............................................................................ 55 4.1.1. Política Nacional de Resíduos Sólidos ..................................................... 57 4.1.2. Licenciamento Ambiental no Estado do Rio de Janeiro ........................... 57 4.2. Tipos de Licenças Ambientais ..................................................................... 58 4.2.1. Licença Prévia - LP .................................................................................. 59 4.2.2. Licença de Instalação - LI ........................................................................ 59 4.2.3. Licença Prévia e de Instalação - LPI ........................................................ 60 4.2.4. Licença de Operação - LO ....................................................................... 60 4.2.5. Licença de Instalação e Operação - LIO ................................................. 61 4.2.6. Licença de Operação e Recuperação - LOR ........................................... 61 4.2.7. Licença Ambiental Simplificada - LAS ...................................................... 61 4.2.8. Licença Ambiental de Recuperação - LAR ............................................... 61 4.2.9. EIA/RIMA ................................................................................................. 61 4.3. A Obtenção das Licenças Ambientais ......................................................... 62 5. Boas Práticas na Construção Civil .................................................................. 66 5.1. Sistemas de Gestão Ambiental ................................................................... 66 5.1.1. NBR ISO 14001/2004 "Sistemas de Gestão Ambiental - Especificação e Diretrizes para uso" ............................................................................................... 67 5.1.1.1. Política Ambiental ................................................................................. 68 5.1.1.2. Planejamento ........................................................................................ 69 5.1.1.3. Implementação e Operação .................................................................. 69 5.1.1.4. Verificação e Ação Corretiva .................................................................70 5.1.1.5. Análise Crítica pela Administração ....................................................... 70 5.2. Sistema de Redução de Impactos Ambientais ............................................ 71 5.3. Práticas Recomendadas ............................................................................. 73 5.3.1. Infraestrutura do Canteiro de Obras ......................................................... 73 xi 5.3.2. Seleção de Recursos e Materiais ............................................................. 75 5.3.3. Gestão de Resíduos Sólidos .................................................................... 76 5.3.4. Incômodos e Poluição .............................................................................. 78 5.4. Matriz Aspecto x Impacto ............................................................................ 79 6. Estudo de Caso .............................................................................................. 80 6.1. Aspectos Gerais .......................................................................................... 80 6.2. O Bairro Ilha Pura ........................................................................................ 80 6.3. Aspectos e Impactos Ambientais das Obras de Construção ....................... 83 6.4. Monitoramento dos Impactos ...................................................................... 88 6.4.1. Gestão de Resíduos Sólidos .................................................................... 89 6.4.1.1. Beneficiamento de Resíduos ................................................................ 90 6.4.2. Recursos Hídricos .................................................................................... 91 6.4.2.1. Usina e Recicladora de Concreto ......................................................... 91 6.4.3. Consumo de Energia Elétrica ................................................................... 93 6.4.4. Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) .............................................. 93 6.4.5. Cadeia de Suprimentos ............................................................................ 93 6.4.5.1. Capacitação de Mão de Obra ............................................................... 93 6.4.6. Educação Ambiental ................................................................................ 94 7. Considerações Finais ..................................................................................... 95 xii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Ferramenta para análise e priorização de ações práticas (fonte: Guia da Sustentabilidade na Construção, 2008). ................................................................................. 54 Tabela 2: Classe do Empreendimento dentro do SLAM (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental) .................................................................................................................................. 63 Tabela 3: Aspectos e Impactos Ambientais - Incorporação e Administrativo Financeiro (fonte: Autor, 2014) ................................................................................................................... 84 Tabela 4: Aspectos e Impactos Ambientais - Construção (fonte: Autor, 2014) ................... 85 Tabela 5: Aspectos e Impactos Ambientais - Construção (fonte: Autor, 2014) ................... 86 Tabela 6: Aspectos e Impactos Ambientais - Engenharia (fonte: Autor, 2014) ................... 87 xiii ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Impacto Ambiental (Simonetti, 2010) ................................................................ 21 Figura 2: Exemplo de Agentes de Poluição e Eventos (fonte: Moura apud Heuser, 2007)23 Figura 3: Exemplos de Impactos Ambientais (fonte: Moura apud Heuser, 2007) ............. 23 Figura 4: Representação Esquemática do estudo dos Aspectos e Impactos ambientais (fonte: ARAÚJO, 2009) .................................................................................................... 28 Figura 5: Esquema de Fases do Ciclo de Vida dos principais produtos da Construção Civil (fonte: Soares, 2002) ....................................................................................................... 38 Figura 6: Representação Esquemática da ACV (fonte: SOARES et al. Contrução e Meio Ambiente) ........................................................................................................................ 39 Figura 7: Fases da ACV (Fonte: Chehebe, 1998). ........................................................... 41 Figura 8: Diferentes Fases de um Empreendimento e a Ocorrência de Perda de Materiais (fonte: SOUZA et al., 1998) .............................................................................................. 46 Figura 9: Características das Fases de um Empreendimento Comercial Tradicional (fonte: Ceotto, 2006 apud Guia da Sustentabilidade na Construção, 2008) ................................ 51 Figura 10: Tipo de Licença a ser requerida (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental) 59 Figura 11: Modelo de Sistema de Gestão Ambiental (fonte: ABNT ISO 14001, 2004) ..... 71 Figura 12: Matriz de Correlação "A x I" (fonte: ARAÚJO, 2009) ....................................... 79 Figura 13: Localização do Bairro Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012) .................. 81 Figura 14: Lotes e Tipologias das Edificações - 1ª Fase Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012) ...................................................................................................................... 81 Figura 15: Temas para Desenvolvimento de Projetos (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012) .. 82 Figura 16: Previsão de Geraçao de Resíduos Sólidos da Vila dos Atletas (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012) ............................................................................................................... 90 Figura 17: Recicladora de Concreto (fonte: Arquivos Ilha Pura, 2014) ............................. 92 xiv ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1: Exemplo de Aspectos e Impactos Ambientais (Moura apud Heuser, 2007)..... 22 Quadro 2:Caracterização dos aspectos/impactos em virtude da situação operacional (fonte: Seiffert apud Heuser, 2007) .................................................................................. 26 Quadro 3: Classificação do Impacto Ambiental (fonte: HEUSER, 2007) .......................... 26 Quadro 4: Fases e Etapas do Empreendimento (fonte:Do Nascimento, Edna Almeida) .. 45 Quadro 5: Impactos Ambientais na fase de construção (fonte: Cardoso, 2006) ............... 49 Quadro 6: Principais Documentos Exigidos no Licenciamento Ambiental (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental) ................................................................................................ 63 Quadro 7: Exigências Ambientais - FEEMA (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental) 65 15 1. Introdução 1.1. Importância do Tema Muitas mudanças vêm ocorrendo no ambiente de negócios. As exigências da sociedade, de órgãos ambientais e do governo fazem com que as empresas se preocupem não apenas com seu resultado econômico, mas também devam incluir considerações de caráter social e político em suas tomada de decisões (TACHIZAWA,2005). As empresas não são mais vistas como instituições econômicas preocupadas apenas com o que e quanto produzir. Hoje, são vistas como instituição sociopolíticas onde as preocupações com os direitos dos consumidores, a proteção ambiental e a qualidade dos produtos são relevantes e afetam o ambiente de negócios. No âmbito da construção civil, desde a antiguidade nota-se que ela sempre existiu para atender às necessidades básicas do ser humano, inicialmente sem preocupação com as técnicas adotadas eseus impactos ao meio ambiente, visando apenas proteção e atingir seus objetivos de forma imediata (CORRÊA, 2009). Atualmente este cenário não é mais o mesmo; É verdade que a construção civil vivenciou décadas de dificuldades e baixo crescimento, resultado da conjuntura econômica adversa e da falta de incentivo para suas atividades, porém atualmente encontra-se em um novo e importante ciclo de desenvolvimento, contribuindo para o crescimento da economia nacional. O setor de construção ocupa posição de destaque, sendo responsável por uma parcela bastante significativa no Produto Interno Bruto (PIB), além de gerar grande contingente de mão de obra direta (CONSTRUBUSINESS, 2003). Devido a tamanha influência da indústria da construção civil no desenvolvimento econômico e social do país, os impactos gerados por ela vem ganhando cada vez mais importância. Ao se tratar da participação do setor no quesito meio ambiente, no Brasil, a dificuldade de preservá-lo pode ser ainda agravada pelos grandes desafios que a indústria da construção deve enfrentar em termos de défict habitacional e infraestrutura para transporte, comunicação, abastecimento de água, energia, saneamento, atividades comerciais e industriais (DEGANI, 2003). Embora diversas indústrias tenham problemas semelhantes, a ineficiência em alguns processos produtivos e principalmente o seu tamanho fazem com que o setor da construção civil seja considerado um grande vilão para o meio ambiente. A construção 16 civil é responsável por vários reflexos ao local onde se instala a obra, causados por suas atividades, direta ou indiretamente. A partir daí, surge a ideia das construções sustentáveis, que devem ser concebidas e planejadas a partir de várias premissas, dentre elas a escolha de materiais ambientalmente corretos, de origem certificadas e com baixa emissão de CO2; a menor geração de resíduos durante a fase de obra e o cumprimento das normas de desempenho (CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Guia de Sustentabilidade na Construção. Belo Horizonte: FIEMG, 2008. 60p.). O impacto causado pelo processo da indústria da construção civil envolve consumo de recursos e cargas ambientais causadas principalmente pelo uso indiscriminado de energia, geração e disposição inadequada de entulhos. Estes últimos são característicos de um contexto cultural que insiste em desconhecer os impactos da sua disposição clandestina e os benefícios de uma gestão adequada. O gerenciamento de resíduos sólidos permite a minimização dos impactos causados, à montante, na exploração de matérias-primas como areia e cascalho e à jusante, evitando a poluição de solos e de lençóis freáticos, bem como danos à saúde e gastos públicos desnecessários (BLUMENSCHEIN, 2004). A identificação prévia de aspectos e avaliação dos impactos ambientais associados a determinado empreendimento permite que estudos sejam realizados para adotar medidas que atenuem tais impactos ou até mesmo elimine-os, reduzindo futuros danos ambientais e, consequentemente, os custos envolvidos na sua remediação ou correção. 1.2. Objetivo O trabalho em questão tem como objetivo principal analisar os aspectos e impactos ambientais produzidos pelas obras de construção da 1ª Fase do Bairro Ilha Pura, no Rio de Janeiro, empreendimento destinado a acolher os Atletas dos Jogos Olímpicos de 2016, e consequentemente as boas práticas de controle implementadas, incorporando conceitos de eficiência no uso de recursos e mitigação dos impactos durante todas as fases da construção. As diretrizes utilizadas e apresentadas adiante orientam o planejamento e o desenvolvimento do produto visando consolidar um bairro que faz uso dos recursos naturais de forma eficiente, aliando conscientização dos usuários à tecnologia, conforto e 17 bem estar em respeito ao meio ambiente, atendimento às necessidades dos usuários atuais e garantia do atendimento das necessidades dos usuários das próximas gerações. Para a identificação dos aspectos e avaliação dos impactos ambientais associados a determinado empreendimento deve-se procurar, inicialmente, selecionar todas as atividades, produtos e serviços relacionados à atividade produtiva, de modo a separar o maior número possível de impactos ambientais gerados, reais e potenciais, benéficos e adversos, decorrentes de cada aspecto identificado, considerando, sempre, se são significativos ou não (BACCI apud SANTOS e NETO, 2004). O conhecimento e a divulgação dos aspectos ambientais de um empreendimento atendem às expectativas de uma melhoria no desempenho ambiental (Aspectos Ambientais de Pedreira em Área Urbana - Artigo, 2006). Depois de realizar diversos estudos e, então, conhecendo-se, previamente, os problemas associados à implantação e operação do empreendimento, por meio de instrumentos de avaliação de impacto e planejamento ambientais, pode-se obter soluções para reduzir ou mitigar os impactos ambientais gerados nas obras de construção de determinado empreendimento. O presente trabalho analisará os aspectos ambientais presentes na implementação da 1ª fase do Bairro Planejado Ilha Pura, também designada Vila dos Atletas, assim como as medidas adotadas para redução dos impactos ambientais associados. 1.3. Justificativa O bom desenvolvimento de uma empresa atualmente, dentre diversos fatores, também está relacionado aos bons resultados na economia e no setor de sustentabilidade, onde o crescimento é diretamente proporcional as ações de cuidado com o meio ambiente. Atualmente, o investimento em meio ambiente é cada vez mais indissociável da análise das viabilidades técnica e econômica, e as legislações e normas direcionam o mercado neste sentido. O novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma ecologicamente responsável. (TACHIZAWA apud HEUSER, 2007). Diante da complexidade encontrada na discussão de sustentabilidade urbana, devido aos seus diversos enfoques e consequentemente pouco conhecimento a nível nacional, releva-se a importância de um estudo aprofundado sobre as maneiras de mitigar os impactos ambientais em obras de construção imobiliária de grande porte. 18 1.4. Metodologia Para a realização desta pesquisa, foi adotada uma metodolgia baseada na coleta de dados relevantes ao tema do trabalho, incluindo buscas virtuais, para fundamentação teórica. Foram realizada visitas e entrevistas, além de coletas de dados, com responsáveis pelo setor de sustentabilidade do empreendimento Vila dos Atletas. O empreendimento foi escolhido para realização de um estudo de caso para os assuntos abordados no presente trabalho. A identificação dos aspectos e impactos apresentados no estudo de caso foi realizada com base nos dados disponibilizados pelas empresas. Duas renomadas empresas do ramo da construção civil formam a então denominada Ilha Pura, planejada em uma área de 870 mil metros quadrados na Barra da Tijuca. A organização responsável pelas obras de construção do empreendimento incorporou os conceitos e as práticas alinhadas às diretrizes do desenvolvimento sustentável aos princípios empresariais, e, portanto, o novo espaço urbano está sendo desenvolvido com o objetivo de se tornar referência de bairro planejado ancorado nas premissas de sustentabilidade. As conclusões e observações analisadas no estudo de caso são válidas apenas para a empresa e o empreendimento em estudo, pois o sistema de gestão ambiental é único para cada organização e os impactos ambientais dependem do meio em que estão ocorrendo não perdendo de vista a diversidade e a função social do mesmo. 1.5. Estrutura da Monografia O Capítulo 1 é dedicado à introdução do tema, seuobjetivo, justificativa e metodologia do trabalho a ser desenvolvido. O Capítulo 2 é destinado a apresentar a Contextualização do tema abordado, impactos ambientais. O Capítulo 3 tem como foco a construção civil, as características da indústria e a geração de impactos ambientais ao longo de todo o seu ciclo produtivo. O Capítulo 4 aborda os requisitos de legislação nos ambitos federal, estadual e municipal, com ênfase para o Rio de Janeiro, que sejam relacionados a aprovação de empreendimentos da construção civil. O Capítulo 5 descreve as boas práticas utilizadas na construção civil que reduzem a geração de aspectos ambientais nas obras e consequentemente mitiguem os impactos ambientais. 19 Já o Capítulo 6 é destinado ao Estudo de Caso da obra da Vila dos Atletas, 1ª Fase do Bairro Planejado Ilha Pura. Caracteriza-se a obra em estudo e descrevem-se as medidas de controle implementadas para reduzir ou mitigar os impactos ambientais e os resultados obtidos. O Capítulo 7 é dedicado às considerações finais e sugestões para trabalhos futuros. 20 2. Impactos Ambientais 2.1. Contextualização: Aspectos e Impactos Ambientais É natural que os impactos ambientais tenham surgido a partir da evolução humana, desde que o homem começou a progredir em seu modo de vida, com o cultivo de alimentos e a criação de animais, aumentando gradativamente os impactos gerados na natureza, depois com a derrubada de árvores para construção de abrigo e obtenção de lenha, tornando cada vez mais visíveis as alterações no meio ambiente. As alterações na cadeia alimentar, mudanças climáticas e diminuição da biodiversidade foram possivelmente alguns dos primeiros impactos ocasionados pela ação do homem. A consequente criação das cidades e a crescente ampliação das áreas urbanas têm contribuído para o crescimento de impactos ambientais negativos. As alterações geradas ocorrem por inúmeras causas, muitas denominadas naturais e outras oriundas de intervenções antropológicas, consideradas não naturais (MUCELIN E BELLINI, 2008). A NBR ISO 14001/2004 define como aspecto ambiental o “elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente”, cuja significância é dada pelo seu poder de gerar um impacto ambiental significativo, em intensidade ou frequência. Já impacto ambiental pode ser definido como "qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais de uma organização". Aspectos significativos são aqueles que têm ou podem ter impactos ambientais significativos. Para um melhor entendimento do conceito, deve-se apresentar ainda segundo a NBR ISO 14001/2004 a definição do meio ambiente como a "circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações". Como exemplo de aspectos ambientais em um produto ou processo, temos: consumo de matéria-prima e insumos de produção, consumo de água e energia, descarte de resíduos sólidos, embalagem utilizada, emissão de efluentes, etc. Depois de identificados os aspectos e impactos, serão propostos procedimentos de maneira a auxiliar no controle e na definição de responsabilidades. Segundo Simonetti (2010), impacto ambiental é a variação de um parâmetro no ambiente, em função da ação humana. Ou seja, impacto ambiental é a diferença incremental de um parâmetro ambiental entre a situação sem e com o projeto de Engenharia. Esta situação é ilustrada na Figura 1. 21 Figura 1: Impacto Ambiental (Simonetti, 2010) Já os aspectos ambientais são as causas controláveis pela organização, por exemplo, certos processos de produção ou produtos, enquanto os impactos ambientais são os efeitos no meio ambiente causados isoladamente ou não, por exemplo, na forma de poluição das águas ou existência de riscos. Os dois conceitos, aspectos e impactos ambientais, estão assim em uma relação de causa e efeito (DYLLICK, 2000). A organização deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os aspectos ambientais que possam por ela ser controlados e sobre os quais se presume que tenha influência, a fim de determinar aqueles que causem ou possam causar impactos significativos sobre o meio ambiente. É importante assegurar que os aspectos relacionados a esses impactos significativos sejam considerados na definição de seus objetivos ambientais e deve manter essas informações atualizadas (BARBIERI apud HEUSER, 2007). Para a determinação dos aspectos ambientais, leva-se em consideração todas as atividades e tarefas do processo produtivo, avaliando-se seus respectivos impactos ambientais. Segundo a NBR ISO 14004/96, "a identificação dos aspectos ambientais é um processo contínuo que determina o impacto (positivo ou negativo) passado, presente e potencial das atividades de uma organização sobre o meio ambiente. Este processo também inclui a identificação da potencial exposição legal, regulamentar e comercial que pode afetar a organização. Pode, também, incluir a identificação dos impactos sobre a saúde e segurança e a avaliação de risco ambiental”. 22 No contexto deste requisito é importante compreender que a ABNT NBR ISO 14004/96 explicitamente prescreve que o processo de avaliação para determinar a significância dos aspectos e impactos ambientais deve conter quatro etapas mínimas: 1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço 2. Identificação de aspectos ambientais 3. Identificação de impactos ambientais 4. Avaliação da importância dos impactos No quadro 1 estão exemplificados possíveis aspectos e impactos oriundos de algumas atividades comuns na implantação de empreendimentos de engenharia. Quadro 1: Exemplo de Aspectos e Impactos Ambientais (Moura apud Heuser, 2007) 2.1.1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço Segundo a NBR ISO 14004/96, "É recomendado que a atividade, produto ou serviço selecionado seja grande o suficiente para que o exame tenha significado e pequeno o suficiente para que seja adequadamente compreendido.” 2.1.2. Identificação de Aspectos Ambientais “Identificar o maior número possível de aspectos ambientais associados à atividade, produto ou serviço selecionado” (ABNT NBR ISO 14004/96, p. 11). 23 Segundo Moura apud Heuser (2007), um aspecto ambiental se caracteriza pela associação de um agente de poluição com um dado evento ou causa do aspecto ambiental (Figura 2). Dessa forma, Agente de Poluição + Evento = Aspecto Ambiental. Figura 2: Exemplo de Agentes de Poluição e Eventos (fonte: Moura apud Heuser, 2007) 2.1.3. Identificação de Impactos Ambientais Segundo a NBR ISO 14004/96, esta etapa consiste em identificar o maior número possível de impactos ambientais reais e potenciais, positivos e negativos, associados a cada aspecto identificado. Segundo Moura apud Heuser (2007), um impacto ambiental pode ser caracterizado pela associação de um aspecto ambiental com um dado evento causador do impacto. Dessa forma, é obtida a designação do impacto ambiental (Figura 3). Aspecto Ambiental + Evento (de Impacto) = Impacto Ambiental. Figura 3: Exemplos de Impactos Ambientais (fonte: Moura apud Heuser, 2007) 24 2.1.4. Identificação de Impactos Ambientais Segundo a NBR ISO 14004/96, uma vez definidos os impactos ambientais, é necessário determinar sua importância ou significância. “A importância de cada impacto ambiental identificado pode variar de uma organização para outra. A quantificação pode auxiliar no julgamento." A fim de categorizar os impactos e avaliar as ações prioritárias necessárias, é sugerida uma classificação para os impactos ambientais.2.1.5. Classificação de Impactos Ambientais Maimon apud Cagnin (2000), entende que, a partir da detecção de todos os aspectos ambientais decorrentes das atividades produtivas, deve-se escolher os mais significativos. Esta escolha leva em consideração os impactos, riscos, severidade e frequência. É de se ressaltar que, nessa avaliação, pode ser importante levantar outros agressores relevantes ao meio ambiente, na região onde a empresa sob exame está localizada, com o objetivo de verificar os efeitos cumulativos das atividades locais e a parcela que cabe à tal empresa, no impacto total. Esses dados podem levar a empresa a atuar mais pesadamente na área externa do que internamente, a fim de obter resultados mais adequados ao meio ambiente, inclusive a custos mais baixos. A ISO 14004/1996 sugere que, ao se determinar a importância dos itens avaliados, observe-se pelo menos o seguinte: 1. escala do impacto; 2. severidade do impacto; 3. probabilidade de ocorrência; 4. duração do impacto. A escala do impacto refere-se ao tamanho da área atingida pelo impacto, ou seja, seus limites em relação à organização. Outros termos similares encontrados nas literaturas pesquisadas são: abrangência, extensão e alcance. A abrangência é uma graduação ligada à extensão das consequências previstas e a duração de seus efeitos. 25 Seus critérios são: a) Grau 1: atribuído para problemas que se restringem a uma área limitada dentro da empresa e têm seus efeitos eliminados, sem provocar sequelas, dentro de até 3 meses; b) Grau 2: relaciona-se a problemas que não se limitam a uma única área dentro da empresa e que sem provocar sequelas permanentes requerem entre três a seis meses para terem seus efeitos eliminados; c) Grau 3: atribuído a problemas que extrapolam os limites da empresa, ou que causam sequelas permanentes ou, ainda, que requerem mais de seis meses para terem seus efeitos eliminados. (SEIFFERT apud HEUSER, 2007). Segundo Potrich et al., 2007, a gravidade do impacto causado ao meio ambiente é classificada de acordo com o respectivo grau de severidade, podendo ser baixo, médio ou alto. A severidade de um impacto considera a gravidade ou intensidade do impacto, avalia temas como: quantidade, concentração, toxicidade, volatilidade, quantidades consumidas nos casos de recursos naturais como água, lenha, energia, etc. (SANTOS e NETO, 2004). a) Severidade Baixa: Abrangência local. Impacto ambiental: potencial de magnitude desprezível. Degradação ambiental sem conseqüências para o negócio e para a imagem da empresa, totalmente reversível com ações de controle. b) Severidade Média: Abrangência regional. Impacto ambiental de média magnitude capaz de alterar a qualidade ambiental. Degradação ambiental com conseqüências para o negócio e à imagem da empresa, reversíveis com ações de controle (ações mitigadoras). c) Severidade Alta: Abrangência global. Impacto ambiental potencial de grande magnitude. Degradação ambiental com consequências financeiras e de imagem irreversíveis mesmo com ações de controle (ações mitigadoras). Também define-se com qual frequência o impacto ocorre para cada aspecto ambiental caracterizado, analisando-se as probabilidades ou as frequências de ocorrência. a) Frequência/Probabilidade Baixa: Também conhecida como frequência remota. Existência de procedimentos, controles e gerenciamentos adequados dos 26 aspectos ambientais. Reduzido número de aspectos ambientais associados ao impacto em verificação de importância. b) Frequência/Probabilidade Média: Também conhecida como frequência provável. Ocorre mais de uma vez por mês. Existência de procedimentos, controles e gerenciamentos inadequados dos aspectos ambientais. Número médio de aspectos ambientais associados ao impacto em questão. c) Frequência/Probabilidade Alta: Ocorre diariamente. Inexistência de procedimentos, controles e gerenciamento dos aspectos ambientais. Elevado número de aspectos ambientais associados aos impactos em verificação de importância. As condições de operação podem, também, serem consideradas quando se determina a significância dos aspectos/impactos. Seiffert apud Heuser (2007) caracteriza os aspectos/impactos em virtude da situação operacional conforme o Quadro 2. Quadro 2:Caracterização dos aspectos/impactos em virtude da situação operacional (fonte: Seiffert apud Heuser, 2007) Por fim, a classificação do impacto ambiental é definida através do cruzamento dos critérios de análise severidade e frequência/probabilidade, conforme Quadro 3, fornecendo a categoria final no aspecto ambiental em análise. Quadro 3: Classificação do Impacto Ambiental (fonte: HEUSER, 2007) Frequência/Probabilidade ALTA MÉDIA BAIXA ALTA Alta Significância Média Significância Média Significância MÉDIA Média Significância Média Significância Média Significância BAIXA Média Significância Baixa Significância Baixa Significância 27 2.1.6. Priorização de Aspectos e Impactos Ambientais A priorização dos aspectos e impactos se faz necessária para que a organização possa concentrar seus recursos naqueles que apresentam maior risco ao meio ambiente. A primeira filtragem se dá pelo atendimento a legislação, fazendo-se necessário cumprir todas as exigências. A segunda filtragem é realizada levando em consideração os critérios de probabilidade ou frequência e gravidade, normalmente definidas pela organização. Para cada aspecto significativo, a organização deve, como próxima etapa de implantação da ISO 14001, implementar um plano de ação. 2.2. Os Impactos Ambientais na Visão da Legislação Aglomerando o conhecimento necessário para a compreensão de impactos ambientais, a Resolução CONAMA nº001 (23 de janeiro de 1986) define: Art. 1. [...] considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. As diretrizes que um estudo de impactos ambientais deve seguir são definidas pelo CONAMA e cabem a qualquer obra causadora de possível impacto ambiental (SIMONETTI, 2010): Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o órgão estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município, fixará as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos. 28 Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas: I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando: a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima [...]; b) o meio biológico e os ecossistemas naturais [...]; c) o meio sócio-econômico[...]; II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus ebenefícios sociais. III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas. lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados. Considera-se, portanto, os impactos ambientais como sendo as conseqüências dos aspectos ambientais decorrentes das atividades desenvolvidas pelas empresas. As atividades de construção civil geram aspectos ambientais, que por sua vez provocam impactos ambientais, que atingem o meio ambiente (meios físico, biótico e antrópico) alterando suas propriedades naturais (Figura 4). Figura 4: Representação Esquemática do estudo dos Aspectos e Impactos ambientais (fonte: ARAÚJO, 2009) 29 2.3. Ocorrências de Impactos Ambientais Motivados por Acidentes 2.3.1. Aspectos Gerais das Ocorrências Foram grupados sob esse título diversos desastres provocados pelo homem, que afetaram e ainda afetam grandes áreas e complexos ecossistemas naturais. São impactos cuja reversão é hoje, em alguns casos, impossível ou que envolva custos elevadíssimos. Os grandes acidentes ambientais da história tiveram a importância de despertar a humanidade para a urgência e relevância da questão ambiental. Os primeiro relatos de acidentes ambientais foram os chamados Acidentes Radioativos. São denominados acidentes radioativos todas as ocorrências provocadas pelo homem que resultam em perdas de vida e/ou efeitos adversos sobre a saúde humana e os ecossistemas, quando decorrentes de radiações ionizantes e de substâncias radioativas. Os acidentes causados pela radioatividade trazem consigo dois grandes problemas que carecem ainda de soluções satisfatórias: a destinação definitiva dos rejeitos e a descontaminação das áreas afetadas. Na década de 50, o primeiro marco foi o acidente ambiental da cidade de Minamata no sul do Japão. A indústria química Chisso se instalou às margens da baia de Minamata em 1939 e por diversos anos despejou catalisadores esgotados nessa área, liberando efluentes com alto teor de Mercúrio e sem o devido tratamento. Foram constatadas altas concentrações de mercúrio em peixes e moradores da região, que morreram devido a então conhecida "Doença de Minamata", cujos reflexos se estenderam por muitos anos. Segundo Michel Llory (2013), o desastre sanitário de Minamata fez entre 30 e 40 mil mortos, se tornando o mais grave desastre sanitário devido à química e muito provavelmente o mais grave acidente de toda a indústria. Desastres similares foram observados em outros locais no Japão, como Mitsui, Niigata e Yokkaichi. Neste momento a humanidade desperta para a questão ambiental, se formam os primeiro movimentos ambientalistas, e na década de 70 ocorrem as primeiras iniciativas governamentais para proteção ambiental. Mais de 450 campanhas anti- poluição foram lançadas no Japão até 1971. Vazamentos não previstos de materiais radioativos, erros de operação, falta de treinamento adequado e de experiência prévia por parte das equipes envolvidas nesses acidentes são apenas algumas causas identificadas para ocorrências desses primeiros desastres (CYRO EYER DO VALLE, 2009). 30 Em 26 de abril de 1986, na atual República da Ucrânia, um dos quatro reatores da usina nuclear de Chernobyl explode devido a uma falha no resfriamento, causando intensa contaminação radioativa em toda região, com efeitos em diversos países vizinhos. O acidente de Chernobyl ocorreu por falta de comunicação e de coordenação entre operadores e não por falha nos sistemas de comando. Desconsiderando diversos procedimentos de segurança obrigatórios, os operadores resolveram testar por quanto tempo o reator poderir operar sem produzir potência. O reator não respondeu ao teste e fugiu inteiramente ao controle dos operadores (CYRO EYER DO VALLE, 2009). Ocultado, inicialmente, pelas autoridades do país, o acidente só foi detectado a quilômetros de distância, na Suécia. As autoridades soviéticas informaram a ocorrência oficial de 31 mortes devido ao acidente e a necessidade de evacuação de mais de 100 mil habitantes das regiões vizinhas, apesar da evacuação, centenas de pessoas foram contaminadas o que ocasionou muitas outras mortes. O número de casos de câncer na tiróide em crianças desta região aumenta desde então. Ainda hoje, os níveis de radiação em Chernobyl são 10 vezes maiores que o suportado pelo organismo humano. No Brasil, um dos acidentes mais catastróficos foi o do acidente com o Césio-137, em Goiânia, causado pela atividade humana, ou ao contrário, pela sua não-atividade ou negligência . No dia 13 de Setembro de 1987, duas pessoas retiraram uma fonte de Césio-137 do prédio abandonado do Instituto Goiano de Radioterapia, na região central de Goiânia e, com o auxílio de várias ferramentas, conseguiram romper o invólucro de chumbo, expondo o material radioativo ao meio ambiente. A fonte era de cloreto de césio, um sal muito parecido com o potássio, podendo ser concentrado em animais e plantas (GRASSI E FERRARI, 2009). Pesquisadores alertavam para o fato de que a exposição a doses de radiação promoveria alterações genéticas a médio e longo prazo, muitas delas transmissíveis às gerações seguintes (BITTENCOURT, 2007). A segunda geração de crianças e adolescentes hoje busca espaço e inserção social e tenta – apesar do eterno medo de doenças causadas pela radiação, da perda de familiares dizimados pela contaminação, da discriminação e da marginalização a que foram legados pelo Estado (no claro descumprimento do compromisso firmado de assistência) – estabilizar suas vidas, trabalhar, se sustentar e constituir família. Também no Brasil, a partir de 1997, uma série de acidentes industriais ampliados foi observada no curso das atividades da Petrobrás, grande empresa estatal brasileira do setor de petróleo. De vazamentos de óleo a explosões em plataformas marítimas, esses 31 episódios foram vistos, ao mesmo tempo, como acidentes de trabalho e catástrofes ambientais. No início da década de 50 foi elaborado o projeto original da refinaria do sistema Petrobrás, a REDUC (Refinaria Duque de Caxias), inaugurada então em setembro de 1961. Nessa época, as técnicas de análise de confiabilidade e de risco não se encontravam desenvolvidas para aplicação em projetos desse tipo. Toda a concepção básica do projeto da refinaria foi desenvolvida, portanto, sem os estudos básicos necessários ao planejamento do controle/mitigação de acidentes. Em 1987 foi assinado um termo de compromisso entre a Petrobrás e o Governo do Estado com 27 itens de controle ambiental. A assinatura do termo exprime bem a consciência que a própria empresa desenvolveu sobre o risco de suas atividades: dentre os 27 itens a serem submetidos ao controle ambiental foram listados: “redução dos gases nas tochas”, “redução de óxidos de enxofre”, “tratamento biológico de efluentes”, “redução da carga de óleo”, dentre muitos outros, estimados em mais de 85 milhões de dólares, mas o órgão de controle ambiental não fiscalizou de forma efetiva se esses investimentos contribuíram para reverter o quadro de risco assumido pela empresa. Não houve um balanço periódico entre empresa, sociedade e órgão de controle ambiental, do que foi efetivamente realizado, do que foi sendo gasto ou dos impactos e melhorias resultantes para o meio ambiente. Em 1992 foi realizado ainda um convênio com a COPPE/UFRJ para auxílio técnico de análises e prevenção de riscos e ainda para atuação em casos de acidentes. Apesar de demonstrar tamanha preocupação e interesse com os riscos de suas atividades, poucos anos depois, em janeiro de 2000 ocorreu o grande derramamento de 1,3 milhões de litrosde óleo combustível na Baía de Guanabara. Um vazamento de óleo no duto PE-II, um dos nove dutos que interligam a REDUC ao terminal da Ilha d’Água foi causado devido ao rompimento do duto.Segundo a Petrobrás, o duto havia sido inspecionado em 1998, em razão de um acidente nele ocorrido em 1997. Manguezais foram atingidos, e a atividade pesqueira na Baía de Guanabara teve de ser interrompida. Ainda que a empresa não estivesse em dia com suas obrigações para com a regulação ambiental, não se cogitou fechá-la, já que REDUC representa alta fonte de recursos para o Estado. A solução encontrada foi a assinatura de um acordo de adequação de comportamento, em que a REDUC se comprometeu a adequar-se às leis ambientais vigentes (ACSELRAD e MELLO, 2002). A conscientização da sociedade para as questões ambientais tem sido despertadas pela ocorrência de grandes desastres ecológicos que deixaram marcas, 32 muitas ainda visíveis e até permanentes em ecossistemas em todo o mundo. A cada desastre noticiado, tem correspondido lições e processos de aprendizado, que, quando absorvidos, podem evitar sua repetição no futuro. A importância do treinamento de operadores de uma instalação, a identificação mais rigorosa dos aspectos ambientais da organização e criação de algumas ferramentas como as análises de risco, estudo de impactos ambientais e planos de emergência são os maiores aprendizados obtidos dessas ocorrências catastróficas (CYRO EYER DO VALLE, 2009). 2.3.2. Acidentes de Transporte O transporte de pessoas e mercadorias é a causa de muitos acidentes cujos impactos ambientais se tornam relevantes muitas vezes em razão do tipo de carga transportada, do local de ocorrência e de circunstâncias que podem agravar as consequências desses acidentes. O volume sempre crescente de mercadorias, muitas delas com características perigosas, e pessoas transportadas em terra, no mar e no ar é um fator que acarreta o aumento expressivo de acidentes que impactam o meio ambiente (CYRO EYER DO VALLE, 2009). 2.3.2.1. Acidentes de Transporte em Terra Os acidentes de transporte em terra são bastante frequentes e a gravidade de suas consequências depende dos materiais e produtos transportados. Ao se tratar de transporte rodoviário, a qualidade do traçado das estradas e o estado de conservação do leito, além das falhas humanas e da manutenção precárias de muitos veículos circulantes são as principais causas dos acidentes rodoviários. Uma forma de impacto grave para as pessoas envolvidas em acidentes rodoviários, é quando este ocorre dentro de túneis, por exemplo. Há o risco de intoxicação devido ao bloqueamento de veículos em seu interior, liberando fumaça de combustíveis, inflamáveis e produtos tóxicos. Outra forma de impacto, e desta vez ao meio ambiente, se dá pelo derramamento de cargas tóxicas em rios e corpos d'água nas margens das estradas, principalmente quando o acidente ocorre em pontes e viadutos (CYRO EYER DO VALLE, 2009). 33 Acidentes ferroviários também podem causar desastres ambientais, principalmente devido às cargas transportadas, que muitas vezes incluem produtos químicos e materiais inflamáveis contaminando a área em que o acidente ocorreu. Um acidente em terra, seja de origem ferroviária ou rodoviária requer rapidez na comunicação da ocorrência, para que as medidas de mitigação de seus efeitos sejam tomadas no mais curto prazo de tempo, possibilitando, assim, que a extensão do desastre e os impactos associados sejam controlados da melhor maneira possível. 2.3.2.2. Acidentes de Transporte no Mar Enquanto acidentes em terra impactam mais em seu ocorrência, os acidentes marítimos podem ter seus impactos propagados atingindo áreas bem mais vastas e de difícil delimitação preventiva. Com o advento da Revolução Industrial e as novas rotas comerciais dos grandes impérios coloniais, o uso da navegação foi ampliado. Minérios, carvão e produtos químicos começaram então a afetar o meio ambiente e volumes crescentes de cargas e produtos industrializados criaram as condições para a ocorrência de acidentes marítimos. Apesar disso, somente com a entrada de combustíveis líquidos, como o petróleo e seus derivados, que os acidentes marítimos assumiram maiores proporções. Os portos de regiões industriais tornaram-se focos de poluição das águas e por consequência, de todo o litoral. Embora a ocorrência de acidentes esteja sempre associada ao derramamento de petróleo no mar, deve-se considerar acidente ambiental qualquer acidente marítimo, na medida em que as cargas transportadas sempre terão impacto sob a qualidade das águas e a fauna local. Criar normas, regras e leis que possibilitem minimizar as probabilidades de ocorrência de acidentes, conscientizar, educar e treinar para a segurança todas as partes envolvidas, exercer rigoroso controle de qualidade, bem como desenvolver e aplicar técnicas construtivas que tornem as embarcações mais seguras e confiáveis são algumas das soluções propostas para reduzir a ocorrência de falhas e acidentes ambientais de transporte marítimo (CYRO EYER DO VALLE, 2009). 34 2.3.2.3. Acidentes de Transporte Aéreo Os acidentes aéreos, apesar dos danos irreparáveis causados pela perda de vidas humanas, normalmente não são avaliados pelo seu impacto ambiental, mas os efeitos provocados pela queda de uma aeronave em área ocupada pode ser bastante relevante no quesito meio ambiente. Além dos destroços do próprio avião, muitas vezes o transporte de bagagem pessoal ou de pequenas encomendas podem dar origem a incidentes que conduzem a acidentes com graves impactos no meio ambiente. O desastre é ainda maior quando o acidente ocorre em aviões de carga, por nesses casos o transporte de materiais explosivos e produtos químicos são permitidos, o que ocasionaria danos muito maiores ao ambiente (CYRO EYER DO VALLE, 2009). 2.3.3. Megacidades - Acidentes Urbanos Em Junho de 1996 dois eventos internacionais chamaram atenção dos que se preocupam com o meio ambiente. Em Istambul, na Turquia, a Conferência Mundial das Cidades, a Habitat 2, organizada pelas Nações Unidas reuniu milhares de especialistas em busca de soluções para o assustador crescimento das populações citadinas e a consequente degradação do meio ambiente em todo o planeta. Alguns dias depois, no Rio de Janeiro, especialistas elaboravam as primeiras normas da ISO 14000, com as quais se pretende sistematizar as ações das empresas em prol da conservação do meio ambiente (CYRO EYER DO VALLE, 2009). No Habitat 2 as conclusões foram sombrias, constatando o descontrole do crescimento urbano principalmente nos países em desenvolvimento, com todas consequências sociais, políticas, econômicas e ambientais que isso acarreta. Jã no Rio de Janeiro, comemorava-se resultados palpáveis de um esforço racional e objetivo originado em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92. Segundo Cyro Eyer do Valle, foram obtidas algumas constatações interessantes sobre os resultados dos eventos. Do lado da produção, à montante, a poluição tendia a ser controlada na própria fonte geradora. Ecoeficiência, prevenção da poluição e tecnologias limpas são expressões que se incorporam ao vocabulário dos responsáveis pela produção de bens e serviços, reduzindo, na origem, a pressão exercida pelas atividades econômicas sobre o meio ambiente. 35 Por outro lado, à jusante da cadeia de produção, mal se consegue reduzir a pressão exercida por volumes crescentes de resíduos e os locais utilizados para sua disposição. Constituindo-se, portanto, de um grande foco de degradação ambiental, as megacidades contribuem para modificação do clima em suas microrregiões e provocam alterações profundas em suaszonas de influências. Grandes áreas urbanizadas, especialmente cidades de grande porte, com cenário de crescimento descontrolado e serviços públicos saturados e deficitários levam a predisposição à ocorrências de acidentes que podem atingir proporções de difícil controle, resultando em grandes impactos ambientais. Alguns Impactos Ambientais causados por estas cidades em crescimento costumam fugir do controle de seus administradores e transformam-se em problemas de difícil reversão, como por exemplo: 1. Desmatamento das áreas ocupadas; 2. Contaminação dos corpos d'água por esgotos sanitários e industriais; 3. Contaminação do ar por emissão veicular e por emissões industriais; 4. Contaminação do solo por aterro de resíduos sólidos mal dispostos; 5. Alterações na temperatura ambiente motivadas pelo acúmulo de calor absorvido por estruturas prediais e áreas pavimentadas, formando as "Ilhas de Calor"; 6. Poluição sonora A contaminação de solos em áreas urbanizadas tem sido motivo de diversos acidentes dos quais resultaram perdas de vida e grandes prejuízos materiais. Tragédia desse tipo ocorreu em Niterói, RJ, em 2010, quando todo um bairro, construído sobre um lixão abandonado numa área de encosta na periferia da cidade, deslizou morro abaixo, causando centenas de mortes. Como o lixo doméstico de populações de baixa renda costuma conter grande parte de matéria orgânica, a formação de gás é mais intensa em lixões de periferia, resultando maior risco de incêndio e explosões (CYRO EYER DO VALLE, 2009). Ainda segundo Cyro Eyer do Valle, outro tipo de acidente ambiental que tem acontecido em números crescentes são as inundações em grandes centros urbanos. Além da eventual influência das mudanças climáticas, as inundações podem ter grande participação do homem, que dificulta o escoamento das águas devido a tamanha impermeabilização do solo urbano. As pavimentações e eliminação de áreas verdes 36 impedem a absorção das águas pluviais diretamente pelo solo, aumentando assim o volume a ser escoado pela superfície. Outros fatores que contribuem para o acúmulo da água nos solos são as alterações nos cursos d'água e obstrução das redes de águas pluviais pelo lixo mal disposto. Como consequência desses fatos temos as conhecidas enchentes, que propagam doenças, o desabamentos de imóveis e diversas perdas de patrimônios. Os acidentes urbanos, devido à extensão dos impactos que podem causar, requerem uma análise cuidadosa de suas causas para que sejam desenvolvidas soluções que incorporem a prontidão da população e o treinamento de todas as entidades participantes. A articulação de todos os organismos e setores da sociedade responsáveis pela conscientização da população para os riscos de acidentes, incluindo-se a mídia, escolas, centros comunitários, corpo de bombeiros, polícia civil e todos capazes de fazer frente a uma ocorrência acidental, é de extrema importância para prevenção de acidentes urbanos. A educação ambiental da população é outra solução preventiva para os acidentes, já que esta seria capaz de identificar e notificar situações de risco, incluindo-se conhecimentos sobre materiais perigosos e práticas inadequadas, como fumar em áreas perigosas, entre outros. 37 3. Impactos Ambientais na Construção Civil A Cadeia Produtiva da Construção Civil engloba a indústria da construção, indústria de materiais, serviços, comércio de materiais de construção, outros fornecedores, máquinas e equipamentos para construção. Dentro do setor industrial, a cadeia produtiva da construção civil representa 8% das emissões do Brasil, valor estimado gerado pelos fornecedores de materiais utilizados na construção, tais como na produção de cimento e de aço, no transporte, e, por último, na extração madeireira (MCKINSEY apud CAMPOS, 2012). A avaliação e necessária minimização do impacto sobre o meio ambiente causados por todos os tipos de ações está adquirindo cada vez maior importância, face a evidente limitação dos recursos disponíveis, da importância de preservar o ambiente natural e da necessidade de se ter um desenvolvimento sustentável. Diante desde importância, o setor da construção civil tem como estimativa futura a responsabilidade de reduzir para 1% as emissões totais de GEE até 2030 junto à área de edificações. O setor de cimento é o que tem perspectivas de maior crescimento de emissões de tais gases até 2030, e o de edificações é o que apresenta potencial limitado de abatimento dos mesmos. (MCKINSEY apud CAMPOS, 2012). A indústria da construção civil exerce impacto significativo sobre a economia de uma nação e, portanto, pequenas alterações nas diversas fases do processo construtivo podem promover mudanças importantes na eficiência ambiental, além da redução dos gastos operacionais de uma obra. Nesse mercado de competitividade crescente e submetido a instrumentos de comando de controle, pautado por legislação e normas e de melhoria contínua, a escolha de materiais de construção representa um importante campo da engenharia ambientalmente responsável. Existem hoje várias ferramentas que podem auxiliar as empresas a alcançarem seus objetivos em relação ao meio ambiente: auditoria ambiental, avaliação do ciclo de vida, estudos de impactos ambientais, sistemas de gestão ambiental, relatórios ambientais, gerenciamento de riscos ambientais, etc. Alguns são específicos, outros podem ser aplicados em qualquer empresa, como os sistemas de gestão ambiental (BARBIERI apud HEUSER, 2007). Nesse contexto, a avaliação do ciclo de vida (ACV) se destaca, atualmente, como ferramenta de excelencia para análise e escolha de alternativas, sob uma perspectiva puramente ambiental. O seu principio consiste em analisar repercussões ambientais de um produto ou atividade, a partir de um inventário de entradas e saídas (matérias-primas e energia, produto, subproduto e resíduos) do sistema considerado. As fronteiras de 38 análise devem considerar todas as etapas do ciclo de vida do empreendimento, desde a extração de matérias-primas, transporte, fabricação, até o uso e descarte de resíduos, conforme ilustrado na Figura 5. Esse procedimento permite uma avaliação científica da situação , além de facilitar a localização de eventuais mudanças associadas às diferentes etapas do ciclo que resultem em melhorias no seu perfil ambiental. (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente). Figura 5: Esquema de Fases do Ciclo de Vida dos principais produtos da Construção Civil (fonte: Soares, 2002) 3.1. Princípios da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) Todo produto, de alguma forma, causa no meio ambiente um impacto que pode ocorrer tanto durante a extração das matérias-primas utilizadas no processo de fabricação quanto no próprio processo produtivo; ou na sua distribuição; ou, ainda, no seu uso; ou, também, na sua disposição final (CAMPOS, 2012). A ACV surgiu da necessidade de se estabelecer uma metodologia que facilitasse a análise e os impactos ambientais entre as atividades de uma empresa, incluindo seus produtos e processos. A partir dessa metodologia pode-se verificar que a prevenção à poluição se torna mais racional, econômica e efetiva do que uma ação na direção dos efeitos gerados. Um dos objetivos da ACV é estabelecer uma sistemática confiável e que 39 possa ser reproduzida a fim de possibilitar a decisão entre várias atividades, aquela que terá menor impacto ambiental (HINZ et al., 2006). A ACV consiste na análise e na comparação dos impactos ambientais causados por diferentes sistemas que apresentam funções similares. Sob a ótica ambiental, ela estabelece inventários completos do fluxo de matérias e energia para cada sistema e permite a comparaçãodesses balanços entre si, sob a forma de impactos ambientais (Figura 6) (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente). Figura 6: Representação Esquemática da ACV (fonte: SOARES et al. Contrução e Meio Ambiente) A metodologia para avaliação do ciclo de vida sugerida pela norma ISO 14004 inclui quatro fases: definição de objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação de impactos e interpretação de resultados. 3.1.1. Definição de Objetivo e Escopo A primeira etapa de uma ACV consiste em delimitar o objetivo do estudo e as fronteiras do sistema. No caso da indústria da construção civil, o conhecimento das diversas etapas do ciclo de vida da construção podem auxiliar na delimitação do sistema. Podem ser citados os processos de transformação de energia e materiais: a produção de matérias-primas; a fase construtiva propriamente dita, incluindo desde o transporte de material até o acabamento final da estrutura; a fase de uso, delimitando os domínios públicos ou privados; e as fases de inutilização, renovação ou demolição, decorrentes de inadequações ao uso ou de limitações impostas pelo tempo de vida útil da construção (EUROPEAN COMMISSION, 1997, apud SOARES et al. Construção e Meio Ambiente). 40 A dependência dos resultados com as hipóteses de partida faz com que esta fase adquira uma notável importância (CARDIM et al., 1997). 3.1.2. Análise de Inventário A segunda etapa da ACV consiste no estabelecimento do inventário, ferramenta indispensável para a avaliação quantitativa dos impactos ambientais. O inventário deve ser previamente estabelecido para assegurar que o fluxo de entrada de matéria encontre uma saída quantificada como unidade funcional, rejeito e subprodutos. A descrição desse fluxo permite colocar em evidência certos fatores de alterações ambientais, como por exemplo o consumo de recursos naturais, a geração de resíduos e outras emissões (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente). 3.1.3. Avaliação de Impactos Após a identificação do inventário, surge a avaliação dos impactos ambientais, procedimentos que visa agregar os fatores de impacto em categorias de impacto, de modo a permitir um estudo comparativo das diferentes opções apresentadas. O impacto ambiental da construção civil e de seus respectivos processos construtivos pode ser inicialmente avaliado com base na análise de inventários. Esses apresentam uma visão detalhada dos fluxos de entrada e saídas de materiais, energia e outras substâncias geradas ou utilizadas durante os processos de concepção, utilização e até mesmo demolição da obra. As informações contidas no inventário são associadas a diferentes categorias de impacto, buscando-se o entendimento das consequências ambientais e econômicas envolvidas no processo A próxima etapa de elaboração de uma ACV consiste na definição de uma base de comparação, constituída pelos critérios citados anteriormente, formando um modelo para agregá-los convenientemente (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente). 3.1.4. Interpretação de Resultados Por fim, se faz necessário estudos de sensibilidade e de incerteza de dados. A confiabilidade do resultado depende dos valores atribuídos aos parâmetros. A análise de 41 sensibilidade estuda a influência das variações dos dados de entrada, que podem promover alterações no resultado (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente). Nesta etapa, que como a anterior está pouco normalizada, analisam-se os resultados, conclusões são estabelecidas, e determinam-se, como aspecto fundamental, as possíveis melhoras no sistema considerado. Isto tem especial relevância no caso de analisar atividades, processos ou materiais específicos para otimiza-los. Ainda que no caso seja o objetivo uma comparação entre alternativas (CARDIM et al., 1997). As quatro fases da ACV são resumidas e caracterizadas na Figura 7. Figura 7: Fases da ACV (Fonte: Chehebe, 1998). 3.1.5. ACV na Construção Civil Ortiz et al (2009) afirmam que a ACV vem sendo utilizada na construção civil desde 1990, tornando-se, desde então, um importante instrumento para a avaliação de edifícios, e várias ferramentas de ACV foram desenvolvidas a partir daquela época. Na indústria da construção existem duas aplicações para a ACV − uma focada nos materiais de construção e suas combinações e outra focada em todo o processo da construção. Na edificação, a ACV é um processo de quantificação de análise de uma unidade funcional. A aplicação da ACV para a edificação tem, portanto, como objetivos, avaliar aspectos culturais de consumo tanto na fase de construção quanto na fase de utilização; 42 promover alternativas de melhor desempenho e desenvolver tecnologias para utilização de energias renováveis, ao passo que a ACV para materiais tem sido aplicada para analisar, comparar e promover produtos e contribuir positivamente para melhorar as decisões ambientais sobre um determinado produto (CAMPOS, 2012). Devido a sua ampla possibilidade de aplicação, a elaboração de um estudo de ACV permite aos pesquisadores: 1. Desenvolver uma sistemática avaliação das consequências ambientais associadas com um dado produto; 2. Analisar os balanços (ganhos/perdas) ambientais associados com um ou mais produtos/processos específicos de modo a que os visados (estado, comunidade, etc.) aceitem uma ação planejada; 3. Quantificar as descargas ambientais para o ar, água, e solo relativamente a cada estágio do ciclo de vida e/ou processos que mais contribuem; 4. Assistir na identificação de significantes trocas de impactos ambientais entre estágios de ciclo de vida e o meio ambiental; 5. Avaliar os efeitos humanos e ecológicos do consumo de materiais e descargas ambientais para a comunidade local, região e o mundo; 6. Comparar os impactos ecológicos e na saúde humana entre dois ou mais produtos/processos rivais ou identificar os impactes de um produto ou processo específico; 7. Identificar impactos em uma ou mais áreas ambientais específicas de interesse (DA LUZ, 2010). Entretanto, é necessário ressaltar que o desenvolvimento de estudos de ACV em edificações requer algumas alterações devido às diferenças apresentadas com relação ao ciclo de vida de produtos industriais, que envolvem, normalmente, um curto espaço de tempo. Obras de engenharia, no entanto, são, em geral, caracterizadas por uma vida útil que se estende por alguns anos. A complexidade da análise de edificações consiste não somente na adaptação da análise para este contexto temporal e estrutural, mas também na estruturação das informações coletadas em parte, de forma que possam ser utilizadas para várias ou somente uma única fase do ciclo de vida da edificação. O mesmo princípio utilizado na escolha de um material pode ser utilizado na concepção de uma edificação composta por vários materiais (CAMPOS, 2012). 43 3.2. Construção e o Meio Ambiente A relação entre a atividade construtora e o meio ambiente se analisa com frequência através dos efeitos negativos sobre o mesmo, como consumo de recursos e energia, contaminação, alteração do ecossistema, geração de resíduos, etc. A construção, sem nenhuma consciência do tipo ambiental tem contribuído significativamente para esta imagem negativa, que inclusive tem levado a população muitas vezes a se opor a construção de novas infraestruturas. Como resultado da construção, como qualquer outra atividade humana, pode-se chegar a um entorno inabitável ou a extinção de outras espécimes vivas. Por isso, ainda que a atividade humana seja necessária e parte do meio ambiente, é preciso definir limites aceitáveis para ela. A Declaração do Rio (ONU 1992) estabelece, em conjunto com os demais princípios, a necessidade de um compromisso entre a atividade
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