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material sobre usucapião de terreno de marinha

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1.	Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão do TRF 4ª Região assim ementado:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. USUCAPIÃO. BEM DADO EM ENFITEUSE. REFORMATIO IN PEJUS. IMPOSSIBILIDADE. 
1.	Mantida a sentença que julgou parcialmente procedente o pedido declarando o domínio útil dos autores sobre o imóvel na parte em que se trata de bem público aforado e o domínio integral sobre o restante da área, pois embora o entendimento desta Corte seja no sentido da possibilidade de usucapião de terras aforadas, isso significaria agravar a situação da União, ente em razão do qual existe o reexame necessário, quando o nosso ordenamento não aceita a reformatio in pejus.
2.	Apelação e remessa oficial improvidas.” (Fl. 142).
2.	Nas razões do RE, sustenta-se ofensa aos artigos 20, II; 183, §3º; e 191, parágrafo único, da Constituição Federal, alegando-se, em síntese:
“Ora, se não se admite usucapião do domínio útil nas enfiteuses particulares, como então pretender essa modalidade de aquisição da propriedade quando se tratar de bem imóvel da União, ante a clareza do texto do constitucional e do Decreto-Lei nº 9.760/46.
Efetivamente, a Constituição Federal e o Decreto-Lei 9.760/46 ao disporem que os bens imóveis da União não estão sujeitos ao Usucapião, seja qual for a sua natureza, excluem de forma taxativa e peremptória essa forma de aquisição da propriedade, não excepcionando o usucapião do domínio útil.” (Fl. 151).
3.	Admitido o recurso na origem (fl. 154), subiram os autos (fl. 155).
4.	O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento parcial do recurso e, nessa parte, pelo seu desprovimento (fls. 160-163).	
5.	O recurso não merece prosperar. A questão dos autos versa sobre a possibilidade ou não de usucapião de domínio útil de imóvel dado em enfiteuse a particular pelo Poder Público, matéria esta que demandaria a análise de legislação infraconstitucional (civil) para o exame das violações apontadas, hipótese inviável em sede extraordinária. A afronta à Constituição Federal, se existente, seria meramente reflexa.
6.	Ademais, a jurisprudência desta Suprema Corte entende possível o usucapião de domínio útil de bem público dado em enfiteuse a particular, uma vez que isso ensejaria apenas a substituição do enfiteuta anterior pelo usucapiente, não subsistindo qualquer prejuízo à pessoa jurídica de direito público, que continuará na mesma situação em que se achava, qual seja, a de nua-proprietária. Nesse sentido são os seguintes julgados:
“ENFITEUSE. DOMÍNIO DIRETO DO MUNICÍPIO. - USUCAPIÃO DO DOMÍNIO UTIL. - INEXISTÊNCIA DE USUCAPIÃO DE BEM PÚBLICO. - RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.” (RE 81.636/PR, rel. Min. Rodrigues Alckmin, 1ª Turma, por maioria, DJ 13.06.1977).
“Enfiteuse. Bem dominical de Prefeitura Municipal. Usucapião de domínio útil.
Em se tratando de bem público, o usucapião não é admissível para a constituição de enfiteuse que vai transformar o imóvel em foreiro.
O mesmo não sucede, porém, quando – e este é o caso dos autos – o imóvel já era foreiro e a constituição da enfiteuse em favor do usucapiente se faz contra o particular, até então enfiteuta, e não contra pessoa jurídica de direito público que continua na mesma situação em que se achava, ou seja, na de nua-proprietária.
Recurso extraordinário não conhecido.” (RE 82.106/PR, rel. Min. Thompson Flores, Pleno, por maioria, DJ 07.10.1977).
7.	Corroborando esse entendimento, destaco do parecer do Ministério Público Federal (fl. 162):
“Ademais, é sabido que o usucapião, como forma de aquisição originária, não se restringe ao direito real de propriedade, sendo perfeitamente possível falar em prescrição aquisitiva de outros direitos reais, tal como o domínio útil na enfiteuse.
Dessa forma, a despeito de os bens públicos serem insuscetíveis de aquisição por usucapião, nada obsta seja usucapido o domínio útil de bem dado em enfiteuse pela União a particular. É que, nesse caso, a aquisição não se faz contra a União, que continua tendo a nua propriedade do imóvel, mas contra o particular, até então enfiteuta”.
8.	Ante o exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557, caput, do CPC).
Publique-se.
Brasília, 1º de dezembro de 2009.
Ministra Ellen Gracie
Relatora

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