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MARX, Conceitos e fundamentos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA 3			 	SEMESTRE: 2014.2
Conceitos e fundamentos em Karl Marx
Fundamentos elementares da teoria marxista
Marcela de Souza*
RESUMO
Este artigo relata os conceitos fundamentais a respeito das noções fundamentais utilizadas por Karl Marx e Friedrich Engels, a fim de ser um conjunto de estudos básicos. Fazemos uma análise de dois textos; Do socialismo utópico ao científico (1817) e A ideologia alemã (1845-1846). Marx é o nome que ecoará por todos os séculos. Filosofo alemão que se desprende do pensamento hegeliano mostrando ser possível pensar dialeticamente o materialismo. 
sobre a noção de dialética
Marx¹, para explicar a sociedade que se encontrava em processo de consolidação da sociedade capitalista no século XIX, parte da dialética materialista, a qual é um pensamento científico filosófico através de uma análise do seu tempo, pelo materialismo histórico, muito influenciado pela reflexão hegeliana. Isto é, pela racionalização do conflito natureza e sociedade. Nela a dialética tenta mostrar que o que na verdade acontece, anexando-se assim ao pensamento de Kant, é que o homem se modifica, a sua perspectiva sobre a razão a priori se modifica conforme seu contexto histórico, cultural, social e político² o qual ultrapassa a consciência a priori pela ideologia³. “Sou como sou, porque assim foi preciso que eu me tornasse assim. Se mudarem o todo, necessariamente eu também serei modificado4” (KONDER, Leandro. 148).
Sobre a ótica do materialismo histórico a dialética ganha a versão de Hegel5, a qual parte do princípio da identidade de opostos. Ela se inspira na dialética aristotélica que compõe três unidades: tese, antítese e síntese. A tese pode ser entendida como o momento da afirmação; a antítese é o momento da negação da afirmação, gerando a tensão que origina a síntese, o último momento que corresponde à negação da negação, ou seja, é o resultado da antítese anterior, no qual suspende a oposição entre a tese e a antítese. A síntese representa uma nova realidade.
Em Hegel a dialética aristotélica ganhou o nome de aufheben que em alemão quer dizer “suspender”. Suspender traz três sentidos, a saber: 1) anular, cancelar; 2) proteger e 3) promover a passagem. “Para ele, a superação dialética é simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a conservação de algo de essencial que existe nessa realidade negada e a elevação dela a um nível superior” (idem, 154). Isto marca o que Hegel chamou de razão absoluta, ou seja, da consciência de si, da autoconsciência. A dialética é, portanto, o movimento contraditório dentro de unidades que a cada nova etapa nega e supera a etapa anterior, num fluxo contínuo de superação-renovação. Hegel sustenta a ideia de que um princípio não basta em si mesmo, pois carrega em si a contradição e a luta de opostos. Esse processo de superação-renovação é o que Hegel chama de processo de explicitação.
1 Karl Marx, século XIX. Posterior a Hegel.
2 Conceito similar, mas contrário, à teoria Crítica (Escola de Frankfurt) a qual nos diz que a razão é a força histórica que cria a própria sociedade, a política, a cultura (CHAUÍ, Marilena. 99).
3 Será mais discutida, há um espaço apenas para discutirmos o que é a ideologia.
4 Citação de Denis Diderot, século XVIII.
5 Georg Wilhelm Friedrich Hegel, século XVIII e XIX.
Mas onde se encontra Marx? Marx surge justamente para desenvolver esse pensamento. Ele está convencido de que os fenômenos sociais, os quais são visíveis, não se explicam por si só. Tudo na sociedade tem uma causa oculta, por isso, é preciso buscar pelos métodos da dialética materialista da história para poder entendê-los. Para tanto, tomou como objeto, a relação do homem com a natureza pelo trabalho. Ou seja, o próprio trabalho. “Foi com o trabalho que o ser humano desgrudou um pouco da natureza e pode, pela primeira vez, contrapor-se como sujeito do mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto” (idem, 153).
O objeto de Marx é o trabalho, pois o trabalho explica todas as relações do homem com o mundo (relações de produção). Aí será o lugar onde se evidencia a luta dos contrários. O materialismo histórico-dialético é o homem produzindo, em condições determinadas e desta forma organizam sua vida. O agente da história, o homem, é, portanto o sujeito, e não o espirito, pois ele está em movimento, em luta (de classes). Para entender o que é racional no mundo é preciso entender as causas profundas. É preciso entender as causas profundas, é conciso entender a relação entre a superestrutura e infraestrutura. A superestrutura é tudo que está ao alcance dos sentidos na sociedade. É o resto em relação à infraestrutura (isto é um conceito tautológico6). Já a infraestrutura é o lugar no qual se pode encontrar as verdadeiras causas de tudo. E o que compõe a infraestrutura? Tudo que se relaciona, direta ou indiretamente, com a produção de bens materiais na sociedade, ou seja, com uma economia. Economia a qual é constituída por forças de produção e relações de produção.
As forças de produção são competentes por todos os elementos materiais que participam da produção de bens. São as forças as quais agem sobre o objeto (bruto ou prima) do trabalho. O trabalhador age segundo uma ação sobre um dado do mundo para transforma-lo com finalidade estabelecida. Assim, vê Marx, o que importa é o trabalhador, pois ele é a energia de trabalho (força de trabalho). Resumindo o processo; o trabalho é fundamentado por um processo de produção, o qual considera três elementos: 1) objeto (pode ser bruto – o qual sai da natureza para ser transformado – e primo – o qual já foi transformado previamente), 2) meio (instrumento entre o trabalho e o trabalhador) e 3) atividade humana necessária. Nesse processo tem-se o produto - resultado da ação do trabalho – e a mercadoria - produto para comercialização.
As relações de trabalho são as condições que o processo de trabalho se dá, pela cultura, política, etc., na qual o homem age na natureza desde que ele existe, mas não sempre da mesma maneira, já que as condições culturais e politicas se modificam ao longo do tempo. O que caracteriza as relações capitalistas de produção de bens são, então, os meios de produção os quais controlam a propriedade privada. Assim pode-se dizer que na produção capitalista existem dois grupos: os proprietários dos meios de produção, e não proprietário7.
6 Retórica tautológica consiste em algo pela mesma ideia, mas de forma diferente: “o ser é, o ser não é”.
Como é a relação entre os proprietários e não proprietários? Logicamente, não se dão bem, pois possuem interesses distintos. Os proprietários objetivam o lucro, e os trabalhadores apenas desejam sobreviver por seus salários. O que caracteriza um desequilíbrio, gerando a dinâmica dos contrários, a luta de classe. Na luta fica evidente dois elementos: a exploração do trabalho, pois o burguês controla as condições materiais do trabalho, pagando menos do que ele vale, e segundo, uma alienação8, já que as condições do trabalho faz com que o trabalho se torne estranho a ele mesmo, ou seja, o objeto se separa do seu produtor assim como o próprio trabalho. Nesta luta quem sempre ganha é o burguês porque ele dita as regras do jogo.
Aí está o método científico de Marx ao lançar que o objeto é trabalho, pois é ele que modela o homem. Na dialética, então, pode-se perceber que o produto passa pela tese, ou seja, a definição o reconhecimento de ele existe – mostrar que o trabalho é a ação racional do homem sobre sua existência/sobrevivência. Em segundo lugar, passa pela negação do objeto – o trabalho como produto vendável para troca da sobrevivência. E em terceiro, se torna um novo que é justamente a alienação – algo que o homem não reconhece, nem como dele, mas como algo novo e totalmente autônomo.
sobre a separação hegeliana
É verdade que Marx se inspira em Hegel, porém ele, principalmenteem a Ideologia Alemã, traça uma separação do pensamento e principalmente dos críticos hegelianos; tais como Feuebach, Strauss, Stirner, Bauer, entre outros. O principal problema desses críticos é que, segundo Marx, eles buscam explicar a realidade por um idealismo simplista o qual objetiva a condução da história pela ideia, mas para Marx ela se faz pela práxis.
Abrimos um parêntese para explicar a concepção hegeliana. Georg Wilhelm Friedrich Hegel é um filósofo do século XVIII e XIX. Seu trabalho destinava a compreender a origem do sentido de realidade como cultura. A cultura, para ele é toda realização humana com a natureza pelo desejo, pelo trabalho, pela linguagem, instituições sociais, Estado, religião, arte, ciência e filosofia. O real se dá, para Hegel, através do espírito (reflexão). A cultura já existe no homem e o espírito do homem é aquele que se reproduz no que ele produz (exteriorização e compreensão). Isto é, o homem se reconhece no que ele produz e essa produção é a exteriorização do que ele é. Assim em Hegel a história é essa constante interpretação do homem a cerca de si. Deste modo ele levanta três aspectos: 1) a história não é uma sucessão de fatos, 2) para a história existir são necessários conflitos e contradições. A contradição está na existência do contrário, por exemplo, existia o senhor e o escravo, o escravo é o não senhor. No conflito é a relação (até social) entre o senhor e escravo. E para Hegel a história se desenvolve nesse movimento. 3) A história é, portanto, um processo de contradição unificada em si mesma e por si mesma, não linear e plenamente compreensível e racional pois ela explica-se por si só. “O real é racional e o racional é real”9 (CHAUÍ, 86).
7 os quais Marx chama de prolietariado, os trabalhadores.
8 Alienus (Feuberbach) é a projeção de um ser superior que é dotado de qualidades melhores, onisciente e onipotente, sabe tudo e faz tudo, o qual os humanos criaram, mas se esqueceram que o criaram acabando por não mais se reconhecerem em sua criação – se alienam.
Quando se considera a alienação (o conceito), em Hegel, percebemos o quanto Marx se orienta pelo conceito hegeliano. Observamos que para Hegel o homem possui a cultura interior e seu espírito é a produção do seu interior (cultura). Isto nos leva a crer que se o homem produz é porque ele se identifica com o produzido. Logo, se ele não se identifica com o que produziu e não se entende como sujeito da história há o que Hegel chamou de alienação (idem, 87). Esses processos são a dialética de Hegel. No entanto para Marx esse conflito, de interior e exterior dos homens, não é uma explicação suficiente, para ele o que acontece é a contradição entre homens reais em condições históricas e sociais reais (e determinadas) a qual ele chama de luta de classes (ibid, 90). Quando ele coloca o trabalho como produto alienador, ainda traz o conceito de que o próprio produto se torna algo novo e irreconhecível no trabalhador.
Hegel também explica a constituição da sociedade civil e do Estado. Para ele o primeiro caracteriza-se pela separação das famílias construindo uma separação entre os interesses públicos e privados. Assim, o indivíduo se encontra na sociedade civil, isto é em uma classe social. Em Hegel há três classes sociais: primeira são os proprietários (ainda aliados a família, pois possuem por um laço sanguíneo), a segunda é a classe intermediaria, esta classifica-se pela distancia da família. Os indivíduos são entendidos como cidadãos, isto é, aqueles que estão separados do individual e pertencem a uma classe social, são os que vivem da indústria e do comercio, do trabalho próprio ou do trabalho alheio. A terceira é a classe média que opera e constitui o Estado. Ela é também denominada de universal, são os funcionários públicos, governantes, professores, magistrados. Para Hegel o Estado é uma comunidade que não possui interesses particulares. É tido como um produto da sociedade civil, espirito subjetivo que busca torna-se objetivo, é uma ideia (ibid, 88-90). Para Marx, a história é o “modo real como os homens reais produzem suas condições reais de existência” (ibid, 90). Deste modo, o Estado não pode ser subjetivo, produto do espirito humano, mas produto real da práxis humana, pois ele surge dessa necessidade de existência humana.
9 citação de Mar.
sobre a divisão social do trabalho
Marx percebeu através da história que a sociedade se organiza por suas relações de produção. Na busca pela sobrevivência os homens se agrupam e se dividem a fim de explorar os recursos naturais. “O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material” (MARX, ENGELS, 39). Deste modo os homens realizam uma divisão social do trabalho. Daí ele percebe ainda que uma classe detinha o poder, a riqueza, o exército e a politica ao seu favor, concentrando-os, este Marx chamou de condições materiais da vida social (CHAUÍ, 174 e 175) e assim refletem-se no desenvolvimento da propriedade. Assim, a história não é o desenvolvimento das ideias, mas sim o desenvolvimento das relações de produção, esta culmina na sociedade civil.
A sociedade civil é o sistema das relações sociais que se organizam na produção econômica, nas instituições sociais e políticas e que são representadas ou interpretadas por um conjunto sistemático de ideias jurídicas, religiosas, políticas, morais, pedagógicas, cientificas, artísticas e filosóficas. Deste modo, a sociedade civil dá significado à práxis. Ela mostra que as classes sociais não são acabadas na sociedade, mas que estão se fazendo uma às outras (por movimento10). Logo, será pela contribuição do trabalho intelectual e material que se poderá determinar os membros da classe. E isso acontece, a determinação dos membros, porque a sociedade civil cria uma relação de dependência, isto é, quem não pensa depende de quem pensa e quem pensa depende de que não pensa (aqui aparece a ideologia). 
Nas sociedades capitalistas essa divisão se dá na sociedade civil pela separação do trabalho intelectual (a qual fica a cargo da classe dominante) e manual. Isto se dá porque os meios de produção no processo de trabalho industrial, modernos retiram do trabalhador a parte de transformação da ideia em produto. À medida que as coisas se complexífica, ou seja, a partir dos avanças tecnológicos nas sociedades capitalistas industriais, cada indivíduo passa a ter uma atividade determinada e exclusiva, cada um tem sua atividade a qual não pode escapar por que esta lhe é socialmente imposta. Anteriormente um trabalhador participava de todo processo fabril, na sociedade moderna há um isolamento, o individuo passa a ter funções, ele se torna um produto da própria máquina. “sem ser dono do projeto que produz, o homem apenas se agita como as formigas no formigueiro” (ALBORNOZ, 47).
Para Marx o que constitui a história são três aspectos: as forças de produção, as relações sociais e a consciência. Ora, nas sociedades capitalistas há uma inversão de tal maneira que faz parecer que não há nenhuma relação com a realidade (a realidade para Marx sempre terá a ver com a práxis humana). Por que isso acontece? Segundo ele, isso acontece porque há uma ideologia, isto é, uma fronteira entre a produção material e espiritual (intelectual) que faz com que as representações do real sejam representações de algo real. Este algo real é a alienação. A alienação é consciência, mas é uma consciência entregue a ideologia (que pertence à classe dominante, pois é dela os formadores de opinião, os teóricos, os ideólogos, os professores – estes a quem Marx expõe sua crítica na Ideologia Alemã; a ideologia nada mais é que um processo subjetivo e objetivo involuntário produzido pelas condições objetivas da vida produtiva). Desta forma as ideia parecem ser coletivas, porém, na verdade elas são produtos de desigualdade, de classes. Deste modo nasce o Estado, algo coletivo, mas que na verdade serve a particulares. O comunismo em Marx é a devolução da consciência verdadeira,é a história consciente.
10 conceito filosófico de Marx, a partir do conceito aristotélico de movimento, isto é, pelo confronto de ideias diversas.
sobre a noção de trabalho
O trabalho é o meio de ligação entre as classes, elas criam entre si uma relação de dependência. Nas sociedades capitalistas, com o advento da máquina em fabricas, todo proprietário precisará de um operário, sua força de trabalho, e o operário precisa do salário. 
BIBLIOGRAFIA
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_______________. Obras escolhidas (Do socialismo utópico ao socialismo cientifico p. 303 – 336) São Paulo: Editora Alfa-Omega – Volume 2.

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