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Sócrates O mais sábio dos homens

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O mais sábio dos homens
Sócrates nasceu em Atenas, no subúrbio de Alopeke, 469 anos antes de Cristo. Seu pai era escultor e sua mãe, parteira. O método socrático, como desde antigamente se observou, tinha um pouco das qualidades das profissões de seus pais. Sócrates não impunha o conhecimento, mas à maneira da profissão materna, ajudava para que ele viesse à tona de dentro do discípulo, que o produzia por si mesmo. Sua arte de dialogar, conhecida como maiêutica, provocava aquilo que ficou conhecido como "a parturição das idéias". Por outro lado, sua intenção era a formação autônoma da pessoa. Era converter, à maneira da profissão paterna, uma massa natural e sem forma em uma bela representação individual do espírito. Daí resultava que o conhecimento primordial do homem deve ser o conhecimento de si mesmo. 
Embora, pelo que se supõe, não tenha sido discípulo de nenhuma escola filosófica específica, Sócrates certamente sabia de sua existência e compreendia o alcance de suas doutrinas. Sua formação era inata, pessoal, superando o conhecimento de outras escolas doutrinárias provavelmente através de profunda meditação. 
Havia em Delfos um templo dedicado ao deus Apolo, onde a sacerdotisa Pítia formulava oráculos, predizendo o futuro aos que o consultavam. Conforme narra Platão em sua Defesa de Sócrates, foi o oráculo de Delfos que um dia afirmou a Querofonte não haver "ninguém mais sábio do que Sócrates".  Sócrates tomou isso como uma orientação divina pela qual pautou toda sua vida, dedicando-se incessantemente à tarefa de educador e mestre.
A exposição da concepção lógica e moral de Sócrates é inseparável da narração dos fatos de sua vida, pois sua vida foi a realização, passo a passo, de sua filosofia.
Época de Sócrates
No século V em que Sócrates viveu, a Grécia vivia uma época de grande esplendor cultural. A despeito da rivalidade existente entre Atenas e Esparta e apesar das várias guerras enfrentadas, a Grécia beneficiou-se, durante o período de 446-429, especialmente, da influência do notável estadista Péricles, que empreendeu a reconstrução da cidade e atraiu para ela muitos artistas, filósofos e intelectuais. Heródoto veio a Atenas recitar a sua História; Anaxágoras apresentou a primeira descrição científica do sol e das estrelas; Ésquilo, Sófocles e Eurípedes fizeram a glória do drama grego. 
Sócrates viveu de 469 a 399 a. C., precisamente na época em que a arte da retórica era muito prestigiada pelos jovens, que vinham de todas as partes em busca de aprendê-la. Procuravam para tal seus maiores especialistas -- os sofistas, cujos maus argumentos, ou sofismas, foram tenazmente rebatidos por Sócrates. 
Perseguido e submetido a julgamento, Sócrates foi condenado a beber cicuta e morreu com a idade de 71 anos. Platão, o mais notável de seus discípulos, prosseguiu sua obra, desenvolvendo-a a um ponto de inigualável brilhantismo. Até a idade de 80 anos, ensinou na Academia, escola que fundou aos pés da Acrópole, em um bosque dedicado à memória do herói grego Academo. Platão escreveu 13 epístolas e 35 diálogos. Sua primeira obra foi a A República e a última, As Leis. 
Após a morte de Platão, a Grécia e a maior parte do mundo oriental, sucumbiu ao império macedônico e foi reduzida à condição de mera província. Ao contrário de outras literaturas antigas, que não sobreviveram à fogueira das perseguições, a maior parte das conversações socráticas foi cuidadosamente preservada e pode-se encontrar hoje, nas bibliotecas e livrarias do mundo inteiro, esse tesouro admirável, que o mundo filosófico reconhece como o acontecimento mais importante que antecedeu o Cristianismo.
O filósofo das ruas
Supõe-se que Sócrates tenha iniciado sua atividade pública de educador já em idade madura. Seu magistério tinha caráter popular e educativo. Poderíamos sempre encontrá-lo nas ruas de Atenas, na praça pública, no ginásio, no mercado, em casa de amigos, no atelier do sapateiro Simão. A ninguém desprezava. A todos pretendia ensinar e com todos, aprender. Tomava sempre o caminho mais curto, o dos interesses comuns, para chegar ao que o interessava diretamente: o espírito. Conversava, portanto, sobre assuntos aparentemente triviais com toda espécie de pessoas: ferreiros, sapateiros, cortesãs, flautistas, políticos ou sábios.  
Sua figura logo se tornou popular em Atenas. Seu aspecto externo já era em si mesmo motivo de curiosidade: nariz achatado, olhos salientes, cabeça calva, estômago proeminente -- a figura exata de um sileno, um sátiro velho, segundo comparação feita nas duas versões de O Banquete, a de Platão e a de Xenofonte. Como os silenos trazem dentro de si a imagem de uma divindade, também Sócrates possuía algo misterioso que se sobrepunha às suas qualidades físicas e à maneira pobre de se vestir; algo que atraía os ouvintes e dava à sua linguagem uma eloqüência e um vigor extraordinários.
 As três Peneiras de Sócrates
Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
—  Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu! 
— Espera —  disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
— Três peneiras? Que queres dizer?
— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade? 
— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei  exatamente se é verdade.
— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação  pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu: 
— Devo confessar que não. 
— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo? 
— Útil? Na verdade, não. 
Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti
O método de Sócrates
“Enche-te de coragem, caro Mênon, e procura sem receio e sem descanso o que agora não sabes, isto é, aquilo de que perdeste a lembrança. [...] Uma coisa posso afirmar e provar com palavras e atos: é que nos tornamos melhores se cremos que é nosso dever seguir em busca da verdade desconhecida.”
Afirmando ironicamente que de nada sabia, Sócrates logo de início desarmava seu interlocutor e encorajava-o a expor seus pontos fracos. Através de perguntas, introduzia ora um, ora outro conceito, até que a pessoa via-se em tal conflito que já não podia prosseguir. Embaraçada, percebia que não sabia o que julgava saber e que apenas cultivara preconceitos. A partir daí, Sócrates podia guiá-la para o verdadeiro conhecimento, fazendo que extraísse de si mesma a resposta.
Certa vez, um rico habitante de Larissa chamado Mênon, viajou até Atenas para aprender a retórica dos sofistas. Ao encontrar Sócrates na praça, descalço e de ar zombeteiro, não resistiu a provocá-lo: 
-- "Poderias me dizer, Sócrates, se a virtude pode ser ensinada? Ou se ela se adquire por exercício?"
-- "Muito me honras, estrangeiro, se julgas que sei se a virtude pode ser ensinada ou se ela se adquire de outro modo. Na realidade, confesso-te, Mênon, que não o sei. Aliás, nem sei o que é a virtude. E não sabendo o que é uma coisa, como queres que saiba como ela é?
A conversa prossegue, e a palavra passa rapidamente de um a outro interlocutor, até que Mênon, sente-se embaraçado e interrompe o diálogo. Irritado, tenta ridicularizar Sócrates e compara-o à tremelga marinha, peixe de abdômen volumoso, cabeça grande e lisa, capaz de desferir descargas elétricas, paralisando a quem o toca. Com isso, referia-se tanto ao físico de Sócrates, quanto ao seu modo de discutir.
Passado o choque inicial, Mênon vem a receber ampla compensação. É no decorrer deste diálogo que Sócrates fórmula sua teoria da reminiscência. Segundo ela, nada se aprende e nada se ensina, pois a alma apenas se recorda, de tudo que viu e de tudo que conheceu em suas infinitas vivências. A verdadeira ciência e a verdadeira opinião são apenas uma vagarecordação das verdades eternas que um dia a alma contemplou (Platão, Mênon).
Estilo de Vida
Sócrates ficou famoso não só por suas ideias e seu método de filosofar, mas também por seu estilo de vida particular. Entre os gregos, não se conhece ninguém antes de Sócrates que tivesse apresentado um estilo de vida igual ao seu.
Xenofonte conta que Sócrates estava sempre ao ar livre. Pela manhã, logo cedo, dirigia-se às ruas e aos ginásios, passava o meio-dia no mercado, e o resto do dia em qualquer lugar onde se encontrasse a maioria das pessoas. Estava quase sempre conversando e qualquer pessoa o poderia ouvir. Era de se esperar que um filósofo, ao dar maior atenção à alma e às coisas intangíveis, cuidasse menos de ganhar dinheiro. Muitos dos sofistas viviam folgadamente graças ao que ganhavam dando aulas. Porém Sócrates não aceitava pagamento e era considerado como sendo muito pobre. Por ocasião de seu julgamento, ele afirmou que não ligava para ganhar dinheiro e ter propriedades, o que é a preocupação da maioria dos homens, pelo fato de considerar-se honrado demais para gastar seu tempo com esses objetivos inúteis quando poderia estar fazendo o maior bem que se poderia fazer às pessoas – encorajá-las para a sabedoria e a bondade.
Xenofonte nos informa de como valiam pouco as propriedades de Sócrates e que mesmo assim Sócrates sentia-se rico, já que não precisava de mais dinheiro, enquanto Critóbulo, cujos bens materiais valiam centenas de vezes mais, precisaria de três vezes mais do que já possuía para satisfazer suas necessidades e poder manter seu estilo de vida.
Sócrates e o Sofista
Nas Memórias de Sócrates, Xenofonte relembra uma conversa em que o SOFISTA. Antifon mostra a Sócrates que o fruto que ele, Sócrates, estava colhendo da filosofia era simplesmente infelicidade – a bebida mais barata, o alimento mais pobre, uma túnica surrada, usada de verão a inverno, e nenhum manto, nenhum calçado. Tudo isso porque ele se recusava a cobrar por seus ensinamentos, desdenhando o dinheiro, que é uma alegria em si, capaz de tornar alguém independente e mais feliz. E como um professor sempre tenta fazer com que seus alunos o imitem, Sócrates devia ser,  segundo Antifon, um professor de infelicidade. Sócrates respondeu da seguinte maneira:
"Antifon, minha vida lhe parece tão miserável, que tenho certeza de que você preferiria a morte a levar uma vida como a minha. Vamos lá, vamos pensar juntos qual é o problema que você vê em minha vida. Será pelo fato de que os que cobram dinheiro são obrigados a executar o trabalho pelo qual são pagos, enquanto que eu, por me recusar a cobrar, não sou obrigado a falar com ninguém, a menos que queira? Ou você considera meu alimento pobre porque ele seja menos saudável ou menos nutritivo que o seu? ou porque minhas provisões sejam mais difíceis de obter que as suas, que são mais raras ou mais caras? ou porque sua dieta seja mais saborosa que a minha? Sabe você que, quanto maior o prazer de comer, menor a necessidade de tempero? quanto maior o prazer de beber, menor o desejo pelas bebidas que não estão ao nosso alcance? E quanto às túnicas, elas precisam ser trocadas, você sabe, por causa do frio ou do calor. E os sapatos são usados como uma proteção para os pés contra a dor e a dificuldade de andar. Agora, você já me viu ficar em casa mais do que os outros por causa do frio, ou disputar com qualquer homem um lugar na sombra, devido ao calor, ou deixar de andar para qualquer lugar por estar com os pés doendo? Sabe você que através de treinamento um indivíduo franzino pode vir a ser melhor em qualquer forma de exercício que pratique e adquirir mais resistência do que o prodígio de músculos que negligencia o treino? Vendo, então, que estou sempre treinando meu corpo para responder a todo e qualquer estímulo que exija suas forças, não acha você que posso suportar qualquer esforço melhor que você que não tem treino? Para evitar a escravidão do estômago, ou do sono, ou da luxúria, você acha que existe melhor remédio que a posse de outros prazeres, prazeres maiores, que são deliciosos, não só para se gozá-los no momento, mas também porque suscitam a esperança de um benefício duradouro? E, ainda, você certamente sabe que é infeliz aquele que pensa que nada dá certo para ele, enquanto que aquele que acredita que será bem sucedido no cultivo da terra ou na navegação, ou em qualquer outro negócio que empreenda, é feliz em seu pensamento de prosperidade. Pois bem, você acha que existe algo tão prazeroso quanto o pensamento: ‘estou crescendo em bondade e estou tornando melhores meus amigos?’ E isso, posso afirmar, é meu pensamento constante. Além disso, se a cidade ou os amigos precisarem de ajuda, quem dos dois tem mais disponibilidade para suprir suas necessidades, aquele que vive como eu vivo, ou aquele cuja vida você considera feliz? Qual dos dois vai achar a vida militar mais fácil, aquele que não consegue existir sem o alimento caro ou aquele que se contenta com o que consegue obter? Qual dos dois, quando sitiado, se renderá primeiro, o que deseja fugir do que lhe é penoso ou o que consegue se sair bem com o que tem à mão? Parece que você acha, Antifon, que a felicidade consiste na luxúria e na extravagância. Mas eu creio que não ter necessidades é divino; ter o mínimo possível vem em seguida ao divino; e como o divino é a própria perfeição, quem mais se aproxima do divino mais próximo está da perfeição." (Xenofonte, Memoráveis).
O Senhor de Si Mesmo
Xenofonte descreve o método socrático de disciplinar seus apetites.
Sócrates havia educado seu corpo e sua alma, seguindo um sistema que, segundo todas as contas humanas, lhe daria uma vida de confiança e de segurança, tornando fácil cobrir suas despesas. Pois ele era tão frugal que dificilmente se poderia imaginar um homem que trabalhasse tão pouco que não pudesse ganhar o bastante para satisfazer as necessidades de Sócrates. Comia apenas o suficiente para fazer do ato de comer um prazer, e estava sempre tão bem disposto para o alimento, que o apetite era para ele  o melhor tempero; e qualquer tipo de bebida o agradava, porque ele só bebia quando tinha sede. Sempre que aceitava um convite para jantar, resistia sem dificuldade à tentação comum de exceder o limite de saciedade; e avisava aos que não conseguiam fazer o mesmo para que evitassem aperitivos que os estimulassem a comer e beber o que não queriam: pois essas porcarias eram a desgraça do estômago e do cérebro e da alma. 
Em assuntos sensuais, Xenofonte escreve que "ele havia treinado a si mesmo para evitar o mais agradável e o mais atraente mais facilmente do que outros conseguem evitar o mais feio e o mais repulsivo". 
*********
Cícero conta uma anedota que contesta a suposição de que a excepcional temperança de Sócrates era uma decorrência natural de sua constituição. Um fisionomista chamado Zópiro, capaz de discernir o caráter de um homem a partir de sua aparência física, enumerou diversos vícios para os quais Sócrates teria uma inclinação. Seus companheiros ridicularizaram as afirmações, pois jamais haviam visto qualquer traço de vício em Sócrates. Porém, Sócrates confirmou a interpretação de Zópiro, dizendo que tinha, de fato, uma tendência natural para cair nos vícios enumerados, mas que os tinha afastado de si com a ajuda da razão. (Cícero, Tusculanoe Disputationes)
*****
Sócrates era um exemplo notável de autocontrole e temperamento moderado em seus hábitos pessoais. Ele parecia nunca perder o equilíbrio e sua maneira polida, e nunca se soube que tenha ficado irado, com medo ou deprimido.  
Diógenes Laércio menciona diversas anedotas que ilustram como Sócrates ficava imperturbável diante de provocações, evitando sempre brigas sérias através de seu senso de humor. Quando vinham lhe dizer que determinada pessoa havia falado mal dele, replicava: "Sim, pois não aprendeu a falar bem."
Quando lhe perguntavam se achava que uma pessoa era agressiva, respondia: "Não, pois dois não brigam quando um não quer." Tampouco as sátiras dos poetas cômicos o aborreciam,uma vez que costumava dizer: "Se eles nos mostram nossos erros, estão nos fazendo um bem; se não mostram, não nos atingem." 
********
Sobre o relacionamento de Sócrates com sua mulher, Xantipa existem alguns testemunhos. Seu discípulo Alcibíades considerava o temperamento de Xantipa insuportável. 
"Mas acostumei-me a ele", dizia Sócrates, "como se acostuma ao rangido de uma velha bica. Você não liga para o grasnar dos gansos." 
"Não", replicou Alcibíades, "mas os gansos me fornecem ovos e procriam." 
"E Xantipa", disse Sócrates, "é a mãe de meus filhos."
Quando ela lhe rasgava a túnica nas costas, no mercado, e seus companheiros incitavam-no a reagir contra ela, ele dizia: 
"Pois sim, por Zeus! Ficamos nós aqui nos batendo e vocês torcendo: ‘Muito bem, Sócrates!’ Sai fora, Xantipa!’" 
Sócrates dizia que vivia com uma mulher desse feitio da mesma forma que os cavaleiros gostam de cavalos fogosos e "do mesmo jeito que, quando conseguem domá-los, podem facilmente dominar o resto, também eu, na companhia de Xantipa, hei de aprender a adaptar-me ao resto da humanidade." (Diógenes Laércio)
 
Diógenes cita Demétrio de Bizâncio pela informação de que, frequentemente, devido ao vigor de seus argumentos, os homens atacavam Sócrates com socos ou arrancavam-lhe os cabelos, e que na maior parte do tempo zombavam dele ou desprezavam-no e, ainda assim, ele suportava todas essas coisas pacientemente. Até quando lhe deram um pontapé e alguém se surpreendeu ao ver como ele encarou isso calmamente, Sócrates respondeu: 
"Se um asno tivesse me dado um coice, eu deveria levá-lo ao tribunal?" (Diógenes Laércio)
Apreço pela a amizade
Sócrates expressava seu amor e amizade de diversas formas. No Lísis, de Platão, ele declara que em toda a sua vida, sempre teve um ardente desejo de amizade, mais que qualquer outra coisa no mundo. No Fedro, Sócrates é obrigado a fazer um discurso contra o amor que considera vergonhoso, mas quando seu Dáimon interior não o deixa parar por aí, ele pronuncia um discurso em louvor do verdadeiro amor, finalizando com uma prece em agradecimento pela arte do amor que lhe foi concedida. (Platão, Fedro) 
No Banquete de Platão, Sócrates faz o elogio do amor, o único assunto que afirma conhecer. Em seguida, Alcibíades faz um discurso em louvor de Sócrates. Ao terminar, Alcibíades acusa Sócrates de fazer-se inicialmente passar por apaixonado para em seguida fazê-los apaixonarem-se por ele, como acontecera com Cármides, Eutidemo e com o próprio Alcibíades. Sócrates, entretanto, amava suas almas e não seus corpos, como se pode ver, não só através do discurso de Alcibíades no Banquete, como também no diálogo Alcibíades I, atribuído a Platão. 
Ao concluir sua defesa de Sócrates contra as acusações de Polícrates, Xenofonte chama Sócrates de "homem do povo e amigo da humanidade" e diz que "ele passou a vida prodigalizando seus presentes e prestando os maiores serviços a todos os que se interessavam em recebê-los. Pois, antes de se afastar, sempre deixava melhores aqueles com quem havia convivido." (Xenofonte, Memoráveis)
Essa era a expressão de seu amor altruístico. Para Sócrates, esforçar-se para tornar-se uma pessoa melhor e ajudar outros a fazerem o mesmo era, não apenas a melhor maneira de se viver, mas, também a mais feliz.
Devoção à verdade
Ao saber que o oráculo de Delfos o tinha apontado como o mais sábio dos homens, Sócrates pôs essa afirmação em teste, buscando encontrar em todos que conhecia, alguém que fosse mais sábio que ele. Dessa forma, Sócrates pôde examinar muitos homens e mostrou a muitos deles que não eram tão sábios quanto diziam ser. Com esse procedimento, desagradou poetas, autores de tragédias, artesãos e políticos. Várias vezes seus amigos o advertiram sobre o perigo de falar tão abertamente como falava. Como membro do Conselho de Prítanes, não hesitou em pôr sua vida em risco, por duas vezes. Ele mesmo afirmou, mais tarde, em seu julgamento:
"À morte não dou mais importância que a um figo podre, mas dou o máximo valor a não cometer nenhuma injustiça ou impiedade."
Considerado culpado de heresia e de corromper os jovens de Atenas, Sócrates foi condenado à morte. A punição capital o obrigava a beber um cálice de veneno — coisa que ele se dispôs a fazer com toda a boa vontade, uma vez que estava convencido da existência de outra Vida, bem melhor que a vida em Atenas.
Sócrates acreditava mais no Deus de sua razão do que nos deuses da mitologia grega. Preferia obedecer ao seu Deus do que abandonar a filosofia, se esse fosse o preço para escapar da condenação: 
"Enquanto tiver alento, jamais deixarei de filosofar, de exortá-los, de ministrar ensinamentos, a qualquer um de vocês que eu encontrar. Essas foram as ordens que o Deus me deu.
"E outra coisa não faço que andar por aí, convencendo a todos, jovens e velhos, a não cuidarem tanto do corpo e das riquezas e sim de melhorarem a alma o mais possível, alertando-os que não é das posses materiais que vem a virtude, mas é da virtude que vêm as posses e outros bens. Por tudo isso, Atenienses, quer vocês dêem crédito a meus acusadores, quer não, quer me libertem, quer não, não hei de fazer outra coisa, ainda que tenha de morrer muitas vezes." (Platão, Defesa de Sócrates).
O canto do cisne
A certeza da morte iminente nem de longe deixou o filósofo grave e taciturno. Pelo contrário, enquanto aguarda na prisão a execução de sua sentença, Sócrates prepara-se para cantar o seu "canto do cisne". Na companhia de amigos e discípulos, o prisioneiro explica jovialmente por que dá as boas-vindas à morte.
No diálogo Fédon, Platão descreve a disposição dos amigos de Sócrates no último dia de sua vida. Fédon sentia uma mistura de prazer e dor, pois enquanto se deleitava com a discussão filosófica, não conseguia deixar de lembrar a morte iminente do mestre.
“Esse duplo sentimento era compartilhado por todos nós; às vezes ríamos e às vezes chorávamos, especialmente o sensível Apolodoro."
Apolodoro não se conformava com a condenação de Sócrates: 
"O que acho mais difícil de suportar, Sócrates, é que te condenaram à morte injustamente!"
Mas Sócrates, abanando a cabeça, replicava:
"Meu caro Apolodoro, você preferiria que me houvessem condenado justamente? 
Sócrates calmamente responde as perguntas de seus discípulos sobre a alma, sua separação do corpo depois da morte, e sua imortalidade. Até descreve as experiências da alma depois de sua libertação do corpo. E finaliza prescrevendo, como sempre, o uso da razão: 
"Pretender que as coisas sejam exatamente como as descrevi não é o que se espera de um homem de bom senso. Mas parece-me uma coisa boa e digna de confiança acreditar que é algo semelhante o que acontece com a alma, uma vez que ela é evidentemente imortal." 
Depois de banhar-se, despediu-se dos filhos e das mulheres de sua família.
Sozinho com os amigos, entregou-se ao carrasco, que chorava ao estender-lhe a taça com o veneno. Fez aos deuses uma libação pelo sucesso da viagem, ou, como escreveu Platão, "pelo bom êxito da mudança de residência".
E bebeu todo o conteúdo da taça.
Nessa altura, a maior parte de seus discípulos estavam em prantos e Apolodoro deixou escapar um grito que abalou a todos. 
Sócrates conseguiu permanecer calmo e os fez voltar a si. Com essa mesma calma, morreu, tendo cumprido até os últimos instantes a tarefa que havia se proposto. 
Este foi o comentário de Cícero sobre sua obra, séculos mais tarde:
"Sócrates transportou para a terra a filosofia do Céu, fazendo-a penetrar nas casas e nas cidades".

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