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Nacionalidade: Vínculo Jurídico-Político

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NACIONALIDADE
 A título conceitual, a nacionalidade é um vínculo político entre o Estado soberano e o indivíduo, fazendo deste um membro da comunidade constitutiva da dimensão pessoal do Estado.  
 Cabe a cada Estado, a incumbência de legislar sobre sua própria nacionalidade.   
 A palavra nacionalidade tem sentidos diversos: 
 a) sociológico; b) jurídico; e c) jurídico-político. 
 Quando falamos em nacionalidade em sentido sociológico, queremos nos referir a um grupo de pessoas que têm a mesma língua, são da mesma raça, têm a mesma religião, costumes e tradições ou, o mesmo modus vivendi.
 A nacionalidade, sob o ponto de vista jurídico, ela é o vínculo que une o indivíduo ao Estado. Weiss, argumenta que a nacionalidade é uma espécie de contrato existente entre o indivíduo e o Estado. Desse contrato bilateral, surgem direitos e deveres para os contratantes.
 O pensamento mais correto sobre nacionalidade é aquele de Podestá Costa, seguido por Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda: “Ela é um vínculo jurídico-político que impõe ao indivíduo obrigações e concede-lhe direitos, inclusive de natureza política, perante um Estado.” 
 A condição jurídica do estrangeiro começa nos termos do art. 5º de nossa Constituição, sobre os direitos fundamentais das pessoas, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo -se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, sendo assim , a Constituição literalmente faz um a distinção entre brasileiro e estrangeiro residentes.
 Critérios determinantes da nacionalidade
a) ius sanguinis: a nacionalidade é determinada pela hereditariedade, filiação.
b) ius soli: a nacionalidade é determinada pelo local do nascimento, o nascimento no território.
 No sistema do “Jus Soli”, a nacionalidade originária é obtida em virtude do território onde o indivíduo tenha nascido. Logo, não importa a nacionalidade dos pais. Esse sistema tem uma grande aplicação devido a imigração.
 O “Jus Sanguinis” é o direito de sangue em que a pessoa, cujos pais sejam nacionais portugueses nascidos em Portugal, é considerado português desde que o seu nascimento seja inscrito numa Conservatória do Registo Civil antes de atingir a maioridade. 
 Modos de adquirir a nacionalidade
Originária (nato): Ocorre pelo nascimento. Chega a ser nacional nato de algum país. A manifestação de vontade para o nascimento é irrelevante.
Derivada (naturalizado): Ocorre pela manifestação da vontade com poder aquisitivo mais fator alheio ao nascimento, casamento, residência, estudo, trabalho etc., se dá pela naturalização.
 A Lei Suprema adota os dois critérios para ser firmada a nossa nacionalidade, porém com regras específicas expressas, segundo:
Art. 12. São brasileiros:
        I -  natos:
            a)  os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
            b)  os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
            c)  os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
        II -  naturalizados:
            a)  os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
            b)  os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.       
    
Qualificam os brasileiros natos em conformidade com o art. 12, inciso I da Constituição brasileira de 1988 
São brasileiros naturalizados aqueles que vierem a adquirir a nacionalidade brasileira, conforme a previsão legal do art. 12, inc. II da CF/88 c/c Estatuto do Estrangeiro art. 112.
 Modalidades da naturalização
Ordinária ou comum: Casos o estrangeiro tenha interesse em se tornar em cidadão brasileiro, é obtido na forma da Lei, mais precisamente no Estatuto do Estrangeiro, Lei 6.815/80 que prevê requisitos necessários para obtenção da nacionalidade brasileira, em seu artigo:
Art. 112. São condições para a concessão da naturalização: 
I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; 
II - ser registrado como permanente no Brasil; 
III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; 
IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; 
V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; 
VI - bom procedimento; 
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil o u no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e 
VIII - boa saúde
§ 1º não se exigirá a prova de boa saúde a nenhum estrangeiro que residir no País há mais de dois anos.
Extraordinária: Destinada a estrangeiros que vivam no Brasil há mais de 15 anos e tem interesse em adquirir a nacionalidade brasileira prevista na CF art. 12, II, b;
Especial: Destinada ao estrangeiro casado com diplomata brasileiro há mais de cinco anos ou ao estrangeiro que tenha mais de dez anos de serviço ininterruptos em missão diplomática ou em repartição consular brasileira;
Provisória: Nos casos em o estrangeiro ingressou no Brasil nos primeiros cinco anos de vida e se estabeleceu definitivamente no território nacional. 
 Igualdade entre brasileiros natos e naturalizados
 A lei ordinária não pode fazer distinção entre brasileiros, não pode estabelecer direitos e deveres diferentes para natos e naturalizados, via de regra existe uma igualdade entre todos os brasileiros expresso no art. 12 § 2º CF. Exceto o que está expresso na Constituição Federal em seu art. 12 § 3º que expressa cargos privativos de brasileiros natos.
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
    § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
        I -  de Presidente e Vice-Presidente da República;
        II -  de Presidente da Câmara dos Deputados;
        III -  de Presidente do Senado Federal;
        IV -  de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
        V -  da carreira diplomática;
        VI -  de oficial das Forças Armadas;
        VII -  de Ministro de Estado da Defesa.
 Nacionalidade X Cidadania
 Nacionalidade não é sinônimo de cidadania.
 Nacionalidade é o vínculo prévio que liga alguém ao estado e 
 Cidadania é um status do nacional, é possuir direitos políticos de cidadania como votar e ser votado.
 Relacionamento entre Brasil e Portugal: IGUALDADE
 Os portugueses equiparam-se aos brasileiros naturalizados desde que cumpra determinados requisitos. Atualmente há reciprocidade entre Brasil e Portugal no que tange à igualdade de direitos e obrigações civis e gozo dos direitos políticos, encontra respaldo no Decreto nº 3.927/2001 que promulgou o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre os referidos países Celebrado em Porto Seguro/BA em 22/04/2000.
 A Constituição Federal expressa também no Art. 12: 
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros,serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
 Os portugueses que se encontrarem regularmente no Brasil e pretender obter os benefícios do Estatuto de Igualdade sem perder a nacionalidade originária poderá pleitear ao Ministro de Justiça para ter direitos civis e políticos, desde que os países observem o critério da reciprocidade.
Apátridas
 É o indivíduo que não é considerado nacional de nenhum Estado, ou seja, não possui legalmente uma nacionalidade, uma pátria. Assim, significa uma vida sem acesso à educação, cuidados médicos, direito ao voto ou emprego legalizado. Significa uma vida sem que se possa circular livremente, sem perspectivas ou esperança. A apatridia é desumana, já que possuir uma nacionalidade é essencial para a completa participação na sociedade e é um pré-requisito para usufruir todos os aspectos dos direitos humanos. 
 A apatridia é causada, principalmente, pela discriminação. Na maioria dos casos, por questões étnicas ou religiosas, ou ainda porque em alguns países a mulher não pode passar sua nacionalidade aos filhos. A questão do fim da apatridia pode ser resolvida por meio da legislação de nacionalidade adequada de cada país e procedimentos como o registro de nascimento universal. 
 Uma pessoa pode ter mais de uma nacionalidade. Consequentemente, será polipátrida.
 Perda da Nacionalidade
 As regras de perda de nacionalidade estão expressas na Constituição Federal Art. 12, 
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
        I -  tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
        II -  adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
            a)  de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
        b)  de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
 A regra não alcança os que tenham tido reconhecida a nacionalidade estrangeira na forma originária, e sim derivada (artigo 12, parágrafo 4º, II, alínea “a”).
 É o caso de incontáveis brasileiros de ascendência italiana, portuguesa, espanhola, entre outras, que instauram procedimento para ver reconhecido vínculo com a nação de seus antepassados.
 É também o que ocorre com filhos de brasileiros nascidos em países que, a exemplo do Brasil e dos Estados Unidos da América, reconhecem como nacionais os nascidos em seu território. Esta nacionalidade é originária e, diz a Constituição de 1988, pode somar-se sem conflitos à nacionalidade brasileira.
 A perda da nacionalidade brasileira só ocorre quando se pratica conduta ativa específica no sentido de adquirir novo vínculo. Quem for reconhecido como nacional de outro Estado sem tê-lo requerido expressamente mantém intacto o laço patrial com o Brasil. 
Referências Bibliográficas:
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado. 5. Ed. Rio de Janeiro: Editora Atualizada, 2013. 479 p.
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. 3. Ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2011. 919 p.

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