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Trabalho de Penal Lesões Corporais, Rixa e Maus Tratos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
VICTOR RODRIGUES NASCIMENTO VIEIRA
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DAS LESÕES CORPORAIS, DA RIXA E DOS MAUS TRATOS
UBERLÂNDIA
2016
VICTOR RODRIGUES NASCIMENTO VIEIRA
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DAS LESÕES CORPORAIS, DA RIXA E DOS MAUS TRATOS
Estudo sobre os crimes de Lesão Corporal, Rixa e Maus Tratos apresentado ao Curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Direito Professor “Jacy de Assis”, como exigência parcial para aprovação na Disciplina de Direito Penal II.
Prof. Dr. Edihermes Marques Coelho 
UBERLÂNDIA
2016
SUMÁRIO
1	INTRODUÇÃO	5
2	LESÃO CORPORAL	5
2.1	Considerações Iniciais	6
2.2	Consumação e tentativa	7
2.3	Autolesão	8
2.4	Disponibilidade relativa da integridade física	8
2.5	Lesão corporal culposa e lesão corporal preterdolosa	9
2.6	Lesão Corporal Leve ou Simples	10
2.6.1	Lesão corporal leve e o princípio da insignificância	10
2.7	Lesão Corporal Grave	11
2.8	Lesão corporal gravíssima	13
2.9	Lesão corporal seguida de morte	15
2.10	Lesões Majoradas	16
2.11	Lesões Privilegiadas	17
2.12	Substituição da pena da lesão leve	17
2.13	Crimes de lesão corporal agravados pela violência doméstica	18
2.13.1	Ação penal na lesão leve qualificada pela violência doméstica contra mulher	20
2.14	Isenção de Pena ou Perdão Judicial	21
3	MAUS TRATOS	22
3.1	Considerações Iniciais	22
3.1.1	Bem juridicamente protegido	23
3.1.1.1	Privando de alimentos	24
3.1.1.2	Privar de Cuidados Indispensáveis	25
3.1.1.3	Sujeitando a trabalho excessivo	25
3.1.1.4	Abusando de meio corretivo ou disciplinar	26
3.1.2	Relação entre os sujeitos ativos e passivos	27
3.1.3	Consumação	27
3.1.3.1	Momento Consumativo	27
3.1.4	Tentativa	28
3.1.5	Classificação Doutrinária	28
3.2	Modalidades	28
3.2.1	Comissiva e Omissiva	29
3.2.2	Figuras qualificadas	29
3.2.2.1	Fato que resulta em lesão corporal de natureza grave	29
3.2.2.2	Fato que resulta em morte	29
3.2.3	Causa que eleva a pena	30
3.3	Jurisprudência	30
3.3.1	Maus tratos contra idoso – Art.99 da Lei nº10.741/03	30
3.3.2	Maus tratos e crime de tortura - Lei nº9.455/97	32
3.4	Questões Atuais	32
3.4.1	Maus tratos contra o deficiente – incapaz	33
3.4.2	Maus tratos no sistema prisional	34
3.5	Apresentação de casos	35
4	RIXA	36
4.1	Considerações Iniciais	36
4.2	Sujeitos ativo e passivo	37
4.3	Tipo objetivo: adequação típica	37
4.4	Tipo subjetivo: adequação típica	38
4.5	Consumação e tentativa	38
4.6	Rixa e Legítima defesa	39
4.7	Modalidade comissiva e omissiva	40
4.8	Pena, ação penal, competência para julgamento e suspensão condicional do processo	40
4.9	Destaques	40
5	CONCLUSÃO	41
REFERÊNCIAS	42
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DAS LESÕES CORPORAIS, DA RIXA E DOS MAUS TRATOS
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem o objetivo de apresentar os crimes de Lesão Corporal, Rixa e Maus Tratos que se encontram na Parte Especial do Código Penal brasileiro, em seu Título I - Dos Crimes Contra a Pessoa. Além disso, será feita uma análise de cada figura típica supracitada, abordando questões contemporâneas de cada uma delas e ilustrando cada tipo penal com exemplos doutrinários e julgados de diversos tribunais.
Cumpre ressaltar que a integridade física e mental, a saúde e a vida estão entre os mais importantes bens do ser humano que são tutelados pelo nosso ordenamento jurídico. Neste sentido, os tipos penais dispostos nesse título são extremamente relevantes, já que dispõe a respeito de condutas que tem potencial de atentar contra a incolumidade corporal e psíquica, bem como eliminar a vida dos sujeitos de direito.
Ademais, o estudo que se segue não visa esgotar os temas abordados, mas tão somente fazer considerações diversas a respeito de cada conduta criminosa, suas consequências no âmbito jurídico e abordar questões contemporâneas de cada crime abordado.
LESÃO CORPORAL
O crime de lesão corporal consiste em qualquer ofensa ocasionada por alguém à integridade física ou a saúde de outrem, sem a intenção de matar a vítima. Quanto a sua classificação doutrinária, ele é considerado comum (em regra), material, unissubjetivo (de concurso eventual), de forma livre, de dano, comissivo (em regra) e plurissubsistente.[1: Pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo nenhuma qualidade especial do sujeito ativo.][2: Só se consuma com a produção do resultado naturalístico, ou seja, efetiva modificação no mundo dos fatos.][3: Pode ser cometido por apenas uma pessoa.][4: Pode ser cometido por qualquer meio.][5: Se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.][6: É praticado por meio de ação.][7: É constituído de vários atos, porém é um crime único.]
 Considerações Iniciais
Por conseguinte, por se tratar de crime comum, via de regra, qualquer indivíduo pode ser sujeito ativo, assim como qualquer ser humano pode ser sujeito passivo. A exceção que se faz presente é a da mulher grávida, que é a única que figura como sujeito passivo nas figuras qualificadas do artigo 129, §§ 1º, IV, e 2º, V.
No crime de lesão corporal, o bem jurídico tutelado é a incolumidade do indivíduo, traduzida na integridade corporal e na saúde do ser humano. É importante ressaltar que quando o tipo penal se refere à saúde, ele está se referindo à normalidade fisiológica e psíquica (ou mental) do indivíduo, conforme o entendimento do desembargador Marcílio Medeiros no seguinte julgado:[8: “Ofensa à integridade corporal compreende a alteração, anatômica ou funcional, interna ou externa, do corpo humano, como por exemplo, equimoses, luxações, mutilações, fraturas, etc.”. (BITENCOURT, 2014, p. 193).][9: “Perturbação fisiológica é o desajuste no funcionamento de algum órgão ou sistema que compõe o corpo humano. Ex.: transmissão intencional de doença que afete o sistema respiratório.” (LENZA; GONÇALVES, 2012, p. 174)][10: Perturbação mental abrange a causação de qualquer desarranjo no funcionamento cerebral. Ex.: provocar convulsão, choque nervoso, doenças mentais etc. (LENZA; GONÇALVES, 2012, p. 174)]
O conceito de dano à saúde compreende tanto a saúde do corpo como a mental também. Em tese, se uma pessoa, à custa de ameaças provoca na outra, um choque nervoso, convulsões ou outras alterações, patológicas, pode praticar lesões corporais. (TJSC – AC – Rel. Des. Marcílio Medeiros – RT 478/374)
O crime se divide em lesões corporais culposas, lesões corporais dolosas e admite também a forma preterdolosa, assuntos que serão tratados mais a frente. O que cabe agora ressaltar é que a modalidade dolosa depende do resultado provocado na vítima, podendo ser leve ou então alguma das figuras qualificadas previstas nos §§ 1º, 2º, 3º ou 9º. Assim, temos que a lesão pode ser leve, grave, gravíssima, seguida de morte ou proveniente de violência doméstica.
Por fim, algumas considerações a respeito da lesão corporal são relevantes. A primeira delas é que a dor por si só não constitui lesão, podendo ser reconhecida como efeito decorrente da violência. 
Em segundo lugar, temos que o crime em questão pode ser praticado por ação ou omissão. “É possível lesão corporal por omissão, desde que o agente tenha o dever jurídico de impedir o resultado (art. 13, §2º). Exemplo: privação de alimentos a dependente.” (SMANIO, 1999, p. 39).
A terceira consideração diz respeito ao tipo subjetivo da lesão corporal. O elemento subjetivo é o dolo, seja ele direto ou eventual. Assim, é necessário o animus laedendi, traduzido na vontade livre e consciente de ofender a integridade física ou a saúde de outrem.[11: Intenção de ofender, de ferir, de machucar.]
Quanto ao tipo objetivo, quarta consideração a ser feita, temos que a conduta típica consiste no atentado a integridade corporal e a saúde de terceiro. Aqui é preciso destacar que não é necessáriaa violência física para que se caracterize a lesão, bastando ofensa por meio de efeitos morais.
Em quinto lugar, temos que, para que fique comprovada a materialidade deste crime é necessário que seja feito o exame pericial (exame de corpo de delito) que vai atestar se houve ou não lesão, bem como vai aferir a extensão e a causa das lesões. A prova testemunhal pode suprir a falta do exame de corpo delito – quando este não foi realizado - se houver o desaparecimento das lesões pelo decurso do tempo.
Para finalizar as considerações, cabe ressaltar que para a lesão corporal leve e para a lesão corporal culposa, desde o advento da Lei n. 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais), a ação penal passou a ser pública condicionada à representação do ofendido ou, se incapaz, de seu representante legal (art. 88 da Lei n. 9.099/95). Por outro lado, nas outras formas de lesão dolosa (grave, gravíssima e seguida de morte), a ação penal continua sendo pública incondicionada.[12: Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.]
Consumação e tentativa
Os tipos penais podem se realizar no mundo dos fatos de forma completa ou incompleta. Quando o iter criminis é percorrido por inteiro, o crime terá sido consumado. Já na tentativa, o sujeito ativo pode até dar início à execução do delito, no entanto, o iter criminis é interrompido.
No crime de lesão corporal, no momento em que se tem a efetiva lesão à integridade física ou à saúde do sujeito, ou seja, quando o agente, pela sua conduta comissiva ou omissiva, atinge seu objetivo, lesionando a vítima, tem-se o crime de lesão corporal consumado. 
No crime de lesão corporal tentado, o agente tem a intenção de lesionar a vítima, no entanto, por fatores externos a sua vontade, é impedido de consumar o crime. 
Vale ressaltar que a tentativa só é admitida quando a lesão corporal for dolosa, pois na forma culposa ou preterdolosa ela é inadmissível pela própria natureza destas formas – é ilógico que, o sujeito ativo, não agindo de modo intencional, mas por inobservância do dever de cuidado, tenha tentado lesionar a integridade física ou a saúde de outro indivíduo.
Por fim, relevante observação é a de Bitencourt, afirmando que “não se pode falar em tentativa de vias de fato, se o meio empregado pelo agente é capaz de causar dano à incolumidade física da vítima.” (BITENCOURT, 2012, p.473). Sendo assim, caso o sujeito desfira pontapés a outro, ou empurrões, e tal conduta resulte em lesão à vítima, não se pode falar em tentativa de vias de fato. 
 Autolesão
A autolesão, por sua vez, entendida como a ação do indivíduo que ofende a sua própria integridade, não constitui crime, podendo, no entanto, constituir elementar de outro tipo penal. Assim, segundo Bitencourt (2014), “poderá constituir elementar do crime de estelionato, quando o agente lesa a sua integridade física ou saúde com o fim de obter indenização ou valor de seguro.”
No tocante à autolesão, ainda cabe ressaltar que, se um inimputável, menor, ébrio ou por qualquer razão incapaz de entender ou de querer, por instigação, indução, auxílio ou ordem de um terceiro, causar em si mesmo uma lesão teremos uma situação excepcional. Sendo assim, neste caso, quem instigou o deficiente mental, o menor ou o embriagado à autolesão deverá responder pelo crime de lesão corporal na condição de autor mediato, conforme prevê o art. 20, §2º, do CP.
 Disponibilidade relativa da integridade física
Uma questão que chama muita atenção no que diz respeito à lesão corporal é a disponibilidade ou indisponibilidade da integridade física ou da saúde do ser humano capaz. Esta é uma questão controversa em que não existe consenso, de forma que parte da doutrina considera a integridade física como sendo indisponível e outra parte a considera bem jurídico relativamente disponível, o que afastaria a tipicidade.
Concordamos com o entendimento de que, no ordenamento jurídico brasileiro, a integridade física pode ser considerada como relativamente disponível. Como exemplo desta relativa disponibilidade temos situações que são social e culturalmente aceitas em que as pessoas podem se submeter a cirurgias estéticas, doar órgãos em vida, tatuarem-se, colocar piercings e brincos e também há o caso da circuncisão realizada em recém-nascidos, casos estes que não configuram lesão corporal.[13: A realização de tatuagens e colocação de piercings só é permitida em pessoas maiores de idade, de sorte que se realizada em menor, constitui crime.]
Em consonância com este pensamento está Cezar Roberto Bitencourt, sustentando que:
No ordenamento jurídico brasileiro, a integridade física apresenta-se como relativamente disponível, desde que não se afronte interesses maiores e não ofenda os bons costumes, de tal sorte que as pequenas lesões podem ser livremente consentidas, como ocorre, por exemplo, com as perfurações do corpo para a colocação de adereços, antigamente limitados aos brincos de orelha. Ademais, seguindo essa linha de raciocínio, a caminho da disponibilidade, a própria ação penal perdeu seu caráter publicístico absoluto, passando a ser condicionada à representação do ofendido, quando se tratar de lesão corporal leve ou culposa. (BITENCOURT, 2014, p. 194-195)
Além das questões supracitadas, outra situação que merece destaque é o direito do transexual de “disposição relativa do próprio corpo”, sem configuração da lesão corporal. Neste sentido, conforme a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.955/2010 a cirurgia de transformação plástico-reconstrutiva da genitália externa, interna e caracteres sexuais secundários “não constitui crime de mutilação previsto no artigo 129 do Código Penal brasileiro, haja vista que tem o propósito terapêutico específico de adequar a genitália ao sexo psíquico” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010).
Ademais, há de se reconhecer que a aludida cirurgia não promove, apesar da terminologia coloquial sempre empregada, a alteração do sexo do transexual, mas sim, promove a adequação física ao sexo psíquico, constituindo-se em intervenção cirúrgica para preservação da saúde psíquica da pessoa e não ato de disposição do próprio corpo. (OLIVEIRA; PEREIRA, 2016)
 Lesão corporal culposa e lesão corporal preterdolosa
Conforme foi mencionado acima, o crime de lesão corporal admite a modalidade culposa, que está prevista no CP, art. 129, §6º e é apenada, na sua forma simples, com detenção, de dois meses a um ano. Para que esta se configure, nas palavras de Bitencourt (2014), são necessários os seguintes requisitos: “comportamento humano voluntário; descumprimento do dever de cuidado objetivo; previsibilidade objetiva do resultado e lesão corporal involuntária”.
É importante ressaltar que a lesão corporal culposa pode ser simples, hipótese do §6º e qualificada, hipótese do §7º ambos, do CP, art. 129. Será simples, portanto, qualquer que seja o grau da lesão leve, grave ou gravíssima.
Por outro lado, será qualificada quando ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 do Código Penal. Assim, o dispositivo do §7º remete ao art. 121, §4º, CP e aumenta de um terço a pena se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Aumenta também a pena, conforme § 6º do art. 121, de um terço até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
Por outro lado, temos também a previsão, no CP, art. 129, §3º, da modalidade preterdolosa do crime de lesão corporal. Assim, para que esta se configure devem concorrer três elementos: uma ação dolosa (minus delictum); um resultado não desejado (majus delictum) e o nexo causal entre a ação dolosa e o resultado não pretendido (nexo de preterintencionalidade). Esta modalidadeserá explicada mais detalhadamente e exemplificada mias a frente, no item 2.9 Lesão corporal seguida de morte.
 Lesão Corporal Leve ou Simples
Quanto à classificação doutrinária do crime de lesão corporal, com base na gravidade da ofensa ao bem jurídico tutelado, temos a de natureza leve ou simples, que caracteriza-se pelo seu menor potencial ofensivo, sendo por isso a forma “básica” desse tipo penal, disposta no artigo 129 caput. Um crime de lesão corporal só será enquadrado como de natureza leve se, por exclusão, não configurar nenhuma das hipóteses previstas nos §§1o. 2o e 3o. Para este tipo de classificação, o sujeito ativo deve ter agido necessariamente com dolo, porém, pela reduzida gravidade da ofensa, a pena privativa de liberdade imposta a ele, pode ser substituída por penas alternativas.
Lesão corporal leve e o princípio da insignificância
Para que uma conduta seja considerada relevante para o Direito Penal, ela deve possuir um mínimo de gravidade na ofensa que causar contra os bens jurídicos protegidos pelo ordenamento, caso contrário a conduta será insignificante, e a intervenção penal por parte do Estado não se justificará. Isso se deve ao princípio da proporcionalidade, pois em casos de infrações insignificantes, a rigorosa intervenção estatal não é proporcional à gravidade do delito.
Sendo assim, dependendo da magnitude do delito, a tipicidade penal pode ser afastada, pois a conduta não apresentará nenhuma relevância substancial, materializando-se o princípio da insignificância ou da bagatela. Por isso, “a irrelevância ou insignificância de determinada conduta deve ser aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente atingido, mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão produzida” (BITENCOURT, 2012, p.468).
Especificamente quanto ao crime de lesão corporal, para que se tenha uma conduta típica, a lesão deve ser juridicamente relevante à integridade física ou a saúde da vítima. 
Vale ressaltar que a insignificância da ofensa não se confunde com as infrações de menor potencial ofensivo. Essas últimas podem ou não configurar a insignificância, vai depender da intensidade do delito. Sendo assim, não pode se afirmar que as lesões corporais de natureza leve serão sempre atingidas pelo princípio da bagatela, pois se assim fossem, não teriam previsão legislativa expressa como um tipo de lesão punível. 
Sobre esse princípio, tem-se o julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que julgou improcedente a aplicação do princípio da bagatela mesmo tendo a lesão natureza leve, para o caso em que o sujeito agrediu a irmã:
LESÃO CORPORAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. Lesão sofrida pela vítima, apesar de leve, não pode ser taxada de insignificante, eis que o agente a agrediu com o cabo de vassoura. Inviável a desclassificação para a contravenção de “vias de fato”. É cediço que somente ocorre “vias de fato” quando as agressões não produzem lesão, hipótese não verificada nos autos, pois o Laudo do Exame de Corpo de Delito aponta que a vítima sofreu uma lesão corporal de natureza leve. RECURSO DEFENSIVO DESPROVIDO. (TJ-RJ – APL: 00165127920078190011 RJ 0016512-79.2007.8.19.0011, Relator: DES. MARCIA PERRINI BODART, Data de Julgamento: 17/04/2012, SÉTIMA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 27/07/2012 15:30)
 Lesão Corporal Grave
Como fora dito anteriormente, na análise do crime de lesão corporal deve se observar se a conduta não se encaixa em nenhum dos três primeiros parágrafos do artigo 129 para que seja uma lesão corporal leve. No §1o desse artigo, constam as lesões corporais de natureza grave. Todos os incisos desse parágrafo apresentam condutas que serão qualificadas pelo resultado do crime, sejam elas dolosas ou preterdolosas. Vale ressaltar que, pelo seu maior potencial ofensivo se comparado às lesões leves, a legislação atribui nova pena abstrata as lesões graves, sendo de um a cinco anos de reclusão, admitindo, se presente os requisitos, a suspensão condicional. Dito isso, tem-se a análise dos respectivos incisos do parágrafo primeiro: 
Inciso I: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima a incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias. Percebe-se que essa incapacidade é temporária, e se estende para todas as atividades cotidianas lícitas que o sujeito tinha o costume de realizar, como trabalho e lazer, não ficando limitada apenas à atividade laboral.
Entende-se por ocupação habitual qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, não importando se moral ou imoral, podendo ser intelectual, econômica, esportiva etc. Desse modo, mesmo um bebê pode ser sujeito passivo desta espécie de lesão, vez que tem de estar confortável para dormir, mamar, tomar banho, ter suas vestes trocadas etc. (CUNHA, 2015, p.103).
Das palavras de Rogério Sanches Cunha, vale destacar que a exclusão de atividades ilícitas não se estende às atividades imorais, como a prostituição.
Por fim, é por laudo médico complementar que se comprova a ocorrência de incapacidade por mais de 30 dias, realizado logo após o trigésimo dia, contado da data da consumação do crime;
Inciso II: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima perigo de vida. Para que se configure essa qualificadora, não basta a idoneidade da lesão, nem a região em que foi realizada, mas sim que a mesma tenha a probabilidade concreta de êxito letal para a vítima, ou seja, pelo diagnóstico, a vida do sujeito passivo deve efetivamente ter sido colocada em perigo. Indispensável é afirmar que essa qualificadora só admite como forma o preterdolo. Caso o agente tenha agido com a intenção de colocar a vida da vítima em perigo, configurar-se-ia tentativa de homicídio; 
Inciso III: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima debilidade permanente de membro, sentido ou função. Se a capacidade de algum deles for reduzida ou enfraquecida, por tempo indeterminado, e de recuperação incerta, aplica-se essa qualificadora;
Inciso IV: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima a aceleração do parto. Essa qualificadora tem como sujeito passivo apenas as mulheres grávidas. Sendo assim, realiza-se quando o nascimento do feto com vida é antecipado, ou seja, quando ocorra um parto prematuro, devido à lesão. Caso o feto morra no útero da gestante ou fora dele, o crime será configurado como aborto, passando a lesão a ter natureza gravíssima (art. 129,§2o, V). É necessário, para que se configure a qualificadora, que o sujeito ativo tenha conhecimento da gravidez da vítima, caso contrário, será o crime de lesão configurado como de natureza leve.
 Lesão corporal gravíssima
A doutrina atribuiu para as qualificadoras do §2o do artigo 129, a natureza de lesões corporais de natureza gravíssima. Como no parágrafo primeiro, os incisos do §2o dispõem sobre condutas qualificadas pelo resultado, que nessas hipóteses terão consequências ainda mais danosas se comparados ao parágrafo anterior. Sendo assim, a nova margem da pena abstrata é entre dois a oito anos de reclusão. Dito isso, tem-se a análise dos respectivos incisos do parágrafo segundo:
Inciso I: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima incapacidade permanente para o trabalho. Quando o sujeito passivo fica impossibilitado de exercer atividade laboral por tempo indeterminado, ou seja, não é sabido quando a incapacidade cessará, o sujeito ativo terá cometido um crime de lesão corporal qualificado por esse inciso. Vale ressaltar que a incapacidade não abrange qualquer atividade habitual, mas apenas a atividade com fins lucrativos. Caso a vítima se torne incapaz apenas para uma atividade laboral específica, podendo realizar outras, não se configurará lesão corporal gravíssima;
Inciso II: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima enfermidade incurável. Quando um indivíduo transmite a outro, intencionalmente, umapatologia cuja curabilidade não se tem no atual estágio da medicina, sendo confirmada por prognóstico pericial, tem-se a configuração dessa qualificadora. Não se afasta a condição de enfermidade incurável, se a patologia transmitida, para ser curada, exija intervenções cirúrgicas arriscadas ou incertas, afinal, a vítima não é obrigada a se submeter a esses procedimentos. Vale ressaltar que, caso a medicina evolua, e a doença que na época era incurável, torna-se curável, não cabe revisão criminal do que já fora julgado.
Confusão não deve ser feita entre a diferença entre enfermidade incurável e a debilidade permanente do inciso III do §1o do artigo 129:
Debilidade permanente é o estado consecutivo a uma lesão traumática, que limita duradouramente o uso, a extensão e energia de uma função, sem comprometer o estado geral do organismo. A enfermidade, ao contrário, deve ser entendida como o estado que duradouramente altera e progressivamente agrava o teor de um organismo. (BITENCOURT, 2012, p.491)
Inciso III: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Tem-se a perda quando há o perecimento físico de membro, sentido ou função, ou seja, um desses elementos é extraído do corpo humano ou tem sua atividade cessada, seja por decorrência direta da conduta criminosa, seja por intervenção cirúrgica que tenha por objetivo minorar as consequências da lesão. Já na inutilização ocorre a perda funcional, não há exclusão do membro, e nem cessação do sentido ou função, eles subsistem, porém inoperantes.
Tratando-se de órgãos duplos, só configurará lesão gravíssima se a lesão atingir ambos, como por exemplo, os rins. A perda de um olho, não se confunde com a perda de visão, sendo a primeira debilidade permanente, e a segunda perda de sentido.
Por fim, vale a afirmação a respeito da extração dos órgãos genitais, assunto que será tratado mais a frente, mas ilustra bem a situação do dispositivo aqui tratado:
Não caracteriza a perda de membro, sentido ou função a cirurgia que extrai órgãos genitais externos de transexual, com a finalidade de curá-lo ou de reduzir seu sofrimento físico ou mental. Aliás, essa conduta é atípica, não sendo proibida pela lei, nem mesmo pelo Código de Ética Médica. Falta o dolo de ofender a integridade física ou saúde de outrem (BITENCOURT, 2012, p. 494).
Inciso IV: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima deformidade permanente.
A análise da ocorrência dessa qualificadora leva em consideração o sexo, a idade, e a condição social da vítima. Essa deformidade permanente consiste no dano estético definitivo, em qualquer parte do corpo, que provoca humilhação à vítima, e desconforto para os que a observam, ou seja, quando o dano provoca uma impressão vexatória, sendo esta irrecuperável - cirurgia plástica não afasta essa qualificadora;
Inciso V: Ocorre quando, da lesão corporal, decorre para a vítima o aborto. Quando o sujeito ativo do delito de lesão corporal, tendo conhecimento da gravidez da mulher (sujeito passivo necessário para essa qualificadora), a lesiona e causa o aborto do feto que ela carregava, tem-se lesão gravíssima. É imprescindível que o agente não tenha o dolo em causar o aborto na mulher, pois se tiver, o sujeito responderá por crime de lesão e aborto, respondendo por concurso formal impróprio, devido os desígnios autônomos. Sendo assim, a qualificadora exige a forma preterdolosa, pois a morte do feto é provocada involuntariamente.
Tendo visto todas estas hipóteses, vale ressaltar que é possível que em um mesmo acontecimento, coexistam qualificadoras de mais de uma natureza. Por exemplo, o sujeito além de ter sua vida colocada em perigo devido à lesão (§1o, II) poderá ter sofrido deformidade permanente (§ 2°, IV). Caso isso ocorra, configurará apenas um crime, e será aplicada a pena do parágrafo mais grave. 
 Lesão corporal seguida de morte
Esta figura qualificada está prevista no art. 129, § 3º, do CP e reza que se da lesão “resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo” a pena é de reclusão e pode variar de quatro a doze anos. Esta modalidade criminosa é exclusivamente preterdolosa – portanto não admite tentativa - e ocorre quando o agente tem a intenção apenas de lesionar a vítima, entretanto acaba, culposamente, causando a sua morte.
Neste caso não é admitida a existência de dolo direto ou eventual, ou seja, em nenhum momento o agente quis ou assumiu o risco de causar a morte da vítima, sob pena de caracterizar-se homicídio doloso. Neste sentido, é necessário que fique claro no caso em concreto que a vontade do agente não incluía, em hipótese alguma, o resultado morte.
Por outro lado, se o agente comete ato agressivo, porém sem a intenção de lesionar a vítima (vias de fato) e em decorrência desse ato a vítima morre, teremos um caso de homicídio culposo e não de lesão seguida de morte. Assim, se o agente não queria lesar a vítima, mas sua ação foi executada de forma imprudente, responderá por homicídio culposo.
A exemplo das situações supracitadas, temos que quando um sujeito empurra o outro e este último cai e bate a cabeça no chão, ocasionando traumatismo craniano e em decorrência disso a sua morte, teremos caso de homicídio culposo e não lesão corporal seguida de morte.
Ainda exemplificando, Lenza e Gonçalves (2012) consideram que quando o agente desfere “uma facada na perna que atinge a artéria femural na região da coxa e, em face do extenso sangramento, a vítima morre de hemorragia”, configura-se o crime de lesão corporal seguida de morte. Outros exemplos de lesão corporal seguida de morte são: o soco na vítima com queda, fratura de crânio e morte e também a paulada na cabeça.[14: Observe que neste caso, diferentemente do caso que foi supracitado do empurrão, o agente agiu de forma violenta e tinha a intenção de ferir a vítima, posto que desferiu um soco. Por isso se configuraria lesão corporal seguida de morte e não homicídio culposo.]
Para ilustrar a lesão corporal seguida de morte e melhor compreendê-la, vejam-se as seguintes jurisprudências: 
A diferença entre a lesão corporal seguida de morte e o homicídio culposo está em que, na primeira, o antecedente é um delito doloso e, no segundo, um fato penalmente indiferente, ou, quando muito, contravencional. Assim, se a morte for consequência de simples vias de fato (empurrão que causa queda da vítima e a lesão mortal), haverá homicídio culposo (RJSP — Rel. Jarbas Mazzoni — RT 599/322); 
Não se pode negar a relação de causalidade existente entre o ato do acusado, que empurra a vítima embriagada e causa a sua queda ao solo, com fratura de crânio, vindo a falecer dias depois. Contudo, se não teve aquele a intenção de agredi-la ou de feri-la, somente poderia responder por homicídio culposo e não pelo delito preterintencional previsto no art. 129, § 3º, do CP (TJSP — Rel. Geraldo Gomes — RT 582/304); 
Não é possível identificar-se delito meramente culposo na ação de quem, em incidente ocorrido em jogo de futebol, vendo o adversário caído, desfere-lhe violento pontapé na cabeça, fraturando-a e provocando a sua morte (Tacrim-SP — Rel. Cunha Bueno — RT 502/279); 
Não é possível negar-se que, na lesão corporal seguida de morte, a ação do agente (em sentido amplo) é dolosa; quem feriu quis ferir; o resultado é que escapa à vontade do agente; foi além do que ele quis, mas lhe é atribuível pela previsibilidade, e, portanto, há culpa em sentido estrito. Trata-se, pois, de delito doloso e culposo, há dolo no antecedente e culpa no consequente (RT 375/165).
Lesões Majoradas
O §7o do artigo 129 dispõe sobre as hipóteses em que o crime de lesão corporal terá sua pena aumentada se presentes certas circunstâncias. Caso a lesão corporal dolosa ou preterdolosa seja praticada contra pessoa maior de sessenta anos ou menor de quatorze anos, a pena prevista nos demais parágrafos anteriores do artigo 129 será aumentada de um terço. Também poderá ocorreresse aumento caso o crime de lesão corporal seja praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
Lesões Privilegiadas
O artigo 129 §4o dispõe que, caso o crime de lesão corporal seja praticado por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, a pena aplicada ao réu pode ser reduzida de um sexto a um terço pelo juiz. Sendo assim, a conduta do agente não deixa de ser punível, no entanto, sua reprovabilidade é reduzida.
Esses valores sociais ou morais que podem motivar a conduta causando a redução da sua reprovabilidade são determinados de acordo com a estruturação de cada sociedade. Ter relevante valor social significa que a conduta fundamenta-se no interesse da coletividade. Já para os casos de relevante valor moral, significa que aquele valor engrandece o cidadão, e adequa-se aos princípios éticos. 
Quanto ao cometimento da lesão estando o agente sob domínio de violenta emoção, somente a emoção intensa assume a condição de privilegiada, devido ao choque emocional que causa, levando o indivíduo a condutas incontroláveis. Além da violência emocional, é necessário que a vítima tenha feito uma provocação injusta ao agente que justifique seu estado emocional. A reação do agente à provocação da vítima deve ser imediata.
Substituição da pena da lesão leve
Esta hipótese está prevista no CP, art. 129, §5º e considera que se as lesões não forem graves, gravíssimas ou seguidas de morte, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa. Assim, temos que o juiz pode seguir dois caminhos: 
Primeiro (1º): ou reduz a pena de um sexto a um terço embasado no § 4º, ou;
Segundo (2º): substitui a pena por multa fundamentando-se no § 5º. 
Neste sentido, conforme o entendimento de Gianpaolo Poggio Smanio:
1º) no caso de lesão corporal privilegiada (§4º)
2º) no caso de lesões corporais recíprocas; exemplos:
- ambos se ferem e um agiu em legítima defesa: um será absolvido e o outro condenado com privilégio (posição majoritária);
- ambos se ferem, alegam legítima defesa e não há prova do início da agressão: absolvição dos dois;
- ambos se ferem e nenhum em legítima defesa – condenação dos dois com privilégio. (SMANIO, 1999, p. 45, grifo nosso)
Para consolidar o entendimento de Smanio, elucidar as suas considerações e ilustrar as situações que trouxe à tona, seguem julgados sobre o tema:
Para se caracterizar a responsabilidade penal, nas lesões corporais dolosas, em caso de briga, com agressões mútuas, é fundamental que a prova esclareça quem foi o iniciador, o provocador da contenda. Se este ponto não ficou claro, deve-se absolver ambos os litigantes (Tacrim-SP — Rel. Pedro Gagliardi — RT 692/285, grifo nosso); 
Se ambos os acusados alegam que se limitaram a defender-se de agressão iniciada pelo outro e a prova é contraditória a esse respeito, é de se absolver ambos, por falta de elementos precisos para se fundamentar a condenação (Tacrim-SP — Rel. Ferreira Leite — Jutacrim 22/97, grifo nosso); 
Tratando-se de entrevero de mútua iniciativa em que os briguentos se desafiam e buscam, cada qual, desforra em razão de alterações anteriores, devem ambos ser responsabilizados pelas consequências reciprocamente causadas (Tacrim-SP — Rel. Camargo Sampaio — Jutacrim 32/184, grifo nosso); 
Partindo réu e vítima para recíproca agressão após mútua aceitação do entrevero, impõe-se a dupla responsabilização pelas consequências do desforço físico (Tacrim-SP — Rel. Manoel Pedro Pimentel — Jutacrim 23/227).
Por fim, algumas considerações são necessárias a respeito da substituição da pena. A primeira delas é que a reincidência não impede o privilégio, a despeito do que ocorre na Parte Geral do CP. A segunda é que este caso somente se aplica à lesão corporal dolosa. Por fim, é importante destacar que a substituição da pena é obrigatória, caso presentes seus pressupostos, tratando-se, portanto, de um direito subjetivo do autor do crime.
Crimes de lesão corporal agravados pela violência doméstica
Outro tema que contemporaneamente é alvo de polêmicas e discussões na seara jurídica, diz respeito à violência doméstica, principalmente quando é praticada contra as mulheres. Esta questão é abordada no CP, art. 129, §§ 9º e 10, dispositivos estes que foram criados pela Lei n. 10.886/2004 e que não constituem tipos penais autônomos, visto que não têm nenhum verbo descrevendo conduta típica. Este é o entendimento de Lenza e Gonçalves (2012), já que para eles:
O legislador quis apenas acrescentar algumas circunstâncias com o intuito de agravar o crime de lesões corporais. Tanto é assim que, como já mencionado, não descreveu uma conduta típica nova, mas, sim, fez remissão ao crime de lesão corporal, iniciando o § 9º, com a expressão “se a lesão...”, deixando evidente que, ao acrescentar circunstâncias (crime contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge etc.) e prever novos limites de pena, acabou criando, no § 9º, o crime de lesão corporal dolosa leve qualificada pela violência doméstica.
 A pena da figura qualificada que, originariamente, era de seis meses a um ano, foi alterada pela Lei n. 11.340/2006, passando a ser de três meses a três anos de detenção, excluindo assim, a competência do Juizado Especial Criminal para julgar tais crimes. [15: Vulgarmente conhecida como Lei Maria da Penha.]
No § 10, por sua vez estão previstas causas de aumento de pena de um terço para os crimes de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, se cometidos contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge etc. O que se observa, portanto, é que o aludido parágrafo faz expressa menção aos §§ 1º a 3º do art. 129, deixando claro que se refere a essas modalidades de lesão corporal. 
Assim, resta evidenciado que, por eliminação, o § 9º é exclusivo para as lesões de natureza leve. “Em suma, não existe um crime chamado ‘violência doméstica’, mas crimes de lesão corporal agravados pela violência doméstica, mesmo porque o Capítulo em estudo se chama Das Lesões Corporais”. (LENZA; GONÇALVES, 2012, p.195, grifo nosso)
Outros pontos de destaque são que: a vítima das hipóteses agravadas dos §§ 9º e 10 pode ser homem ou mulher e não é necessário que o fato ocorra no âmbito doméstico para que a pena seja majorada. Assim, basta que a vítima seja uma das pessoas enumeradas na lei para que haja agravação. “Apenas nas últimas figuras do dispositivo, ou seja, quando o agente cometer o crime prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, é que se pressupõe que o fato ocorra no ambiente doméstico.” (LENZA; GONÇALVES, 2012, p.196).[16: Importante ressaltar que essa enumeração é taxativa.]
Ação penal na lesão leve qualificada pela violência doméstica contra mulher
Existem duas correntes doutrinárias que versam a respeito da ação penal na lesão leve qualificada pela violência doméstica contra mulher. Uma considera que a ação é incondicionada à representação e a outra diz que é condicionada à representação da vítima.
A primeira corrente diz que, em razão do art. 41 da Lei Maria da Penha, a ação é incondicionada, e que esta era a intenção do legislador buscando conferir eficácia ao combate à violência contra a mulher.[17: Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.]
A segunda corrente entende que a ação penal continua sendo condicionada à representação já que o art. 16 da própria Lei Maria da Penha regulamenta a forma como a vítima pode renunciar ao direito de representação, de modo que o art. 41 desta Lei restringiria apenas outros institutos da Lei n. 9.099/95. [18: Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúnciae ouvido o Ministério Público.]
Nosso entendimento é em consonância com a segunda corrente - infelizmente - já que seria forçoso (e poderia extrapolar a literalidade da Lei Penal) atribuir caráter de ação pública incondicionada à esta modalidade, sendo que o art. 16 menciona claramente que a lei Maria da Penha trata de ações penais públicas condicionadas à representação.
É de se destacar ainda que tanto a Lei n. 10.886/2004, quanto a Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, perderam uma enorme oportunidade de tipificar as agressões contra as mulheres como sendo crimes de ação pública incondicionada à representação. Esta convicção se dá porque acreditamos que manter a punibilidade desse tipo de violência condicionada à representação da vítima significa dificultar-lhe o alcance da tutela penal. Isto porque num país extremamente machista e com alarmantes índices de violência contra a mulher, ainda pesam contra a vítima a coabitação com o agressor, que em grande parte dos casos é mais forte e consequentemente é temido pela mulher, o que faz com que ela sinta-se coagida e desista de manifestar livremente sua vontade de autorizar a intervenção estatal para punir o agressor.[19: - 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos homens, apenas 14% foram agredidos no interior de suas casas (PNAD/IBGE, 2009).- 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular (nov/2014).- 56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão: xingou, empurrou, agrediu com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo. Saiba mais sobre as “Percepções do Homem sobre a Violência Contra a Mulher” (Data Popular/Instituto Avon 2013).- 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. Em mais de 80% dos casos, a violência foi cometida por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. É o que revela o Balanço do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher , da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). Leia mais no Balanço 2014 do Ligue 180.- Pesquisa apoiada pela Campanha Compromisso e Atitude, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, revela 98% da população brasileira já ouviu falar na Lei Maria da Penha e 70% consideram que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos no Brasil. Saiba mais: Pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos de Mulheres (Data Popular/Instituto Patrícia Galvão, 2013). (ATITUDE, Compromisso e. Dados e estatísticas sobre violência contra as mulheres. Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-e-estatisticas-sobre-violencia-contra-as-mulheres/>. Acesso em: 19 maio 2016.)]
Para finalizar, ressaltamos que a partir de 2010, o entendimento das turmas criminais do STJ é de que a Lei Maria da Penha trata de ações penais públicas condicionadas à representação, conforme evidenciado no seguinte julgado:
1. A Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06) é compatível com o instituto da representação, peculiar às ações públicas condicionadas e, dessa forma, a não aplicação da Lei n. 9.099/95, prevista no art. 41 daquela lei, refere-se aos institutos despenalizadores nesta previstos, como a composição civil, a transação penal e a suspensão condicional do processo. 2. O princípio da unicidade impede que se dê larga interpretação ao art. 41, na medida em que condutas idênticas praticadas por familiar e por terceiro, em concurso, contra a mesma vítima, estariam sujeitas a disciplinas diversas em relação à condição de procedibilidade. 3. A garantia de livre e espontânea manifestação conferida à mulher pelo art. 16, na hipótese de renúncia à representação, que deve ocorrer perante o magistrado e representante do Ministério Público, em audiência especialmente designada para esse fim, justifica uma interpretação restritiva do art. 41 da Lei n. 11.340/06. [...] (STJ — 5ª Turma — HC 157.416/MT — Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 10.05.2010);
Isenção de Pena ou Perdão Judicial
O perdão judicial é um instituto que extingue a punibilidade do crime cometido pelo sujeito ativo do delito. Desse modo, mesmo o agente sendo culpado, a pena deixa de ser aplicada, nas hipóteses previstas em lei, taxativamente. No crime de lesão corporal consumado na forma culposa, é cabível o perdão por parte do juiz ao sujeito ativo, conforme o artigo 129, §8o. Nesse caso, é necessário que as consequências do crime de lesão corporal culposa praticado pelo sujeito também lhe afetem de forma direta, ou indireta, essa última exigindo um vínculo afetivo entre a vítima e o agente. Sendo assim, para a forma culposa desse tipo penal, o juiz pode deixar de aplicar a pena prevista, se presentes os requisitos exigidos para tal extinção da punibilidade. Esse perdão é um direito subjetivo do indivíduo, devendo o juiz se manifestar motivadamente caso não seja concebido ao réu esse direito. Concedido o perdão, não subsiste nenhum efeito condenatório, conforme a Súmula 18 do STJ.
MAUS TRATOS
No atual Código Penal o crime de maus-tratos, é previsto no artigo 136 que segue:
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Considerações Iniciais
Ficam evidentes na leitura e compreensão do artigo 136 do CP três pontos: 
a determinação do tipo de ação que deve vir a ser cometida; 
por quem e contra quem (qual devem ser os sujeitos ativos e passivos da conduta);
a forma da ação. 
Outro aspecto que o artigo deixa claro é a sua intenção em evitar os excessos, nesse sentido, cabe-se realizar uma perspectiva histórica do crime de maus-tratos.
Fazendo uma breve análise da noção de maus-tratos é possível averiguar que nos primórdios da civilização - o que inclui a Idade Antiga, o Direito Romano, a Idade Moderna, o período escravocrata - e, agora analisando especificamente o Brasil, todas as passagens anteriores ao Código de Menores de 1927, não admitiam, ainda, a noção implementada no artigo 136.
Nos períodos em que não havia a criminalização dos maus-tratos havia na contramão o pater famílias (o pátrio poder na família), o direito de infligir castigos corporais, e a rigorosidade no aferimento de disciplina. Inclusive, o Código Criminal Brasileiro, datado de 1830, justificava em seu Art.14 nº6 a conduta do castigo.
As mudanças no âmbito social, político e econômico refletem na relação de família, e é justamente nesse ponto da sociedade em que começa a se instaurar a ruptura como o pátrio poder. Tal ruptura é uma das maiores motivadoras para a criminalização dos maus-tratos, que culmina na restrição do direito antes pleno, de punir. 
Antes da tipificação dos maus-tratos havia a relativização do castigo, a concentração do poder de castigar nas mãos do “chefe de família” que usurpava desse como bem entendia, e submetia os que eram considerados seus submissos à punição que pensasse ser devida. No rol dos submissos encontram-se, de acordo com o período de análise, os escravos; as esposas; os filhos; os pupilos e os guardados.
O pátrio poder deixou de ser um direito pelo em favor dos genitores e no interesse de quem o exerce, transformando-se em simples dever de proteção e direção, não mais do queum meio para satisfazer seus deveres, na medida em que o pátrio poder é instituído em benefício da família como um todo e somente em proveito dos genitores. (BITTENCOURT, 2015)
No Brasil é com o Código de Menores, já citado anteriormente, em seus artigos 137 a 140 que surge a busca de se evitar o excesso coercitivo praticado contra os menores, introduzindo na legislação brasileira a criminalização desses abusos. Os dispositivos em questão são reafirmados na consolidação das Leis Penais de 1932, e concretizou-se a posição contrária aos maus-tratos no Código Penal de 1940, com o artigo mencionado inicialmente nesse tópico.
Bem juridicamente protegido 
O bem juridicamente protegido pelo artigo 136 é a vida e a saúde humana, sendo que tal tutela é destinada especificamente para aqueles que possuem uma relação especial entre sujeitos ativos e passivos. Tal relação especial é a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo perante o passivo, não havendo essa relação não há a tipificação do crime de maus-tratos, assim o objeto material do delito é a pessoa contra quem a conduta lesiva e perigosa, praticada pelo agente é dirigida, ou seja, o sujeito passivo que demanda por vezes de guarda, vigilância, autoridade e educação de seu agressor.
Conclui-se que o dispositivo tende a proteger a integridade fisiopsíquica do sujeito passivo, que sempre vai estar em posição de submissão jurídica, ou real, mediante o ativo. Além dessa modalidade típica, o artigo deixa claro os elementos que devem conter a postura do agente, definindo os meios utilizados por ele a chegar a dado fim, tais meios serão tratados detalhadamente em sequência. 
Privando de alimentos
Quando em mérito a privação de alimentos deve-se ressaltar que se trata de crime permanente e omissivo, que pode ser relativo ou absoluto. Dizer que tal crime é permanente é possível quando levamos em conta que a privação de alimentos deve se prolongar no tempo para gerar danos à saúde e à vida, visto que uma alimentação saudável se dá no prazo de três em três horas, e que um indivíduo consegue sobrevier ao máximo por até oito semanas sem se alimentar, isso com acesso pleno à agua e com boa saúde e condicionamento físico.
A privação de alimentos é um crime omissivo, pois decorre da não ação do agente que deveria cuidar do indivíduo que se encontra a ele submisso. Por fim, tal delito tem caráter relativo ou absoluto pois basta para a sua caracterização a supressão relativa de alimentos, ou seja, basta que o agente forneça esporadicamente, ou com quantidades reduzidas a alimentação necessária para a subsistência do indivíduo sobre sua responsabilidade. Em um outro lado encontramos a privação absoluta da alimentação que decorre do não fornecimento de alimentos, que pode constituir meio de execução do crime de homicídio, de forma tentada ou consumada.
É necessário deixar claro que a privação de alimentos deve ocorrer por um prazo que exponha o indivíduo a perigo, quanto a saúde, tanto quanto a vida. A esse exemplo segue uma excelente reflexão de Rogério Grecco:
Pode um pai querendo corrigir seu filho, priva-lo, por exemplo, de jantar naquele dia? Será que já teria incorrido no delito em estudo? Obviamente que não. Aqui, buscando a finalidade da norma, somente poderíamos visualizar o delito em questão quando a privação da alimentação fosse por tempo suficiente que pudesse causar perigo para a vida ou para a saúde da vítima. Diferentemente é o caso daquele que, por exemplo, querendo educar seu filho, uma criança com apenas 4 anos de idade, o priva de alimentar-se durante uma semana seguida, para que ele entenda o valor dos alimentos, já que, como qualquer pessoa tinha restrições a alguns deles (como acontece com as crianças em relação as verduras e legumes de forma geral). Como se percebe, o fato de uma criança permanecer sete dias em jejum pode causar sequelas graves em seu organismo, razão pela qual, nessa hipótese, se poderia cogitar de maus-tratos, lembrando sempre que se faz necessário, no caso concreto, a prova de que o comportamento do agente trouxe, efetivamente, situação de perigo para a vida ou para a saúde da vítima. (GRECO, 2015, p. 213)
Privar de Cuidados Indispensáveis
É a privação dos cuidados mínimos necessários para a preservação da vida e da saúde do indivíduo com o qual se tenha a relação especial de subordinação, importando os riscos que a falta de tais cuidados, como: a ausência de assistência médica, condições para higiene pessoal, vestimentas, leito, exposição às intempéries; podem exercer.
Sujeitando a trabalho excessivo
O artigo 136 do Código Penal de 1940, criminaliza a sujeição de indivíduo, sobre tutela de outrem, à trabalho excessivo. O trabalho excessivo é aquele em que o sujeito passivo é obrigado a realizar atividades que vão além da sua capacidade, ultrapassando o limite da tolerância, indo além do limite de suas forças e provocando fadiga e cansaço insuportáveis. 
O ponto referencial para análise da excessividade do trabalho é a própria vítima, mediante a qual deve-se analisar a sua capacidade física, mental, muscular; além da idade e sexo. É importante promover a diferenciação entre trabalho excessivo e trabalho inadequado, lembrando que como Grecco diz, a excessividade se relaciona com o tempo trabalhado e a inadequação está para a qualidade do trabalho, que não se adequa a pessoa que o realiza, tornando-a vítima.
Deste modo, e levando em conta tal diferença podemos fazer a seguinte classificação:
 Abusando de meio corretivo ou disciplinar 	
A lei incrimina o excesso do meio mesmo que seja justo o fim, ou seja, incrimina o ato imponderado, douto de raiva, irritabilidade e espirito de malvadez que pode ser pretendido no momento de correção. Nesse sentido, é importante notar que o agente sempre deve pretender aplicar uma lição de correção ao sujeito passivo, contudo tal correção deve utilizar de meios de extrema violência, ora física, ora verbal; para ser incriminada.
Nota-se que a correção, como uma atitude dos pais em relação aos seus filhos, é um ato legitimo, mas o abuso dos meios utilizados é ato ilegítimo, quando imoderado e excessivo. O temo “abusar dos meios” significa a aplicação de castigos excessivos que colocam a vida ou a saúde da vítima em risco, como já dito, a ação da correção desde que dentro dos limites é licita, mas pode se tornar ilícita atingindo o nível criminal.
É de suma importância ressaltar aqui que o direito de jus corrigendi ou disciplinandi é conferido apenas a pais, tutores e curadores, devendo ser exercido moderadamente atendendo as necessidades educativas.
Nesse quesito cabe ressaltar a lei da palmadinha (Lei nº.13.010, chamada também de Lei Menino Bernardo) que modificou o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), no intuito de deixar explícito o repúdio por castigos físicos e psicológicos em crianças e adolescentes. Tal lei garante-lhes o direito de serem educados sem o uso de castigos físicos e/ ou tratamentos cruéis e degradantes, como forma de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto utilizado por aquele ao qual se submete e tem o dever de proteger e cuidar da criança e do adolescente.
A lei tem o objetivo de esclarecer as prerrogativas legais enumerando o que é considerado pelo legislador como castigo físico, tratamento cruel e degradante. Além disso ela dispõe as sanções cabíveis a tais casos, não se sobrepondo as sanções previstas nos casos de maus tratos, que são considerados atos mais graves, a partir da hermenêutica legislativa do dispositivo em questão. Outro ponto que deve ser abordado é a reivindicação que a lei faz para os entes nacionais trabalharem na coibição de tais atos. 
Relação entre os sujeitos ativos e passivos
Para compreender como se dá a relação entre o agente e vítima do tipo criminal segue o quadro explicativo 
Consumação 
A consumação do delito ocorre no momento da efetiva criação de perigo e risco, para a vida e saúde do sujeito passivo, issoatravés de conduta ativa ou omissiva que deve ser comprovada mediante cada caso em questão. 
Momento Consumativo
	
O crime de maus-tratos pode ser habitual, instantâneo ou permanente, e nesses casos o momento da consumação é diferente. A habitualidade é exigida no caso da privação de cuidados e de alimentos e no caso de abuso dos meios de correção, isso pois em ambos os tipos penais é necessária a configuração de atos reiterados para a caracterização da situação de risco/ perigo. 
Já o crime permanente encontramos uma conduta em que o momento consumativo se delonga no tempo, sendo o bem tutelado continuamente agredido. Como exemplo desse delito tem-se a privação de cuidados ou de alimentos e a sujeição a trabalho excessivo ou inadequado. 
Na outra via encontramos o crime de consumação instantânea que é aquele que se consuma em um único instante, em um único ato sem continuidade no tempo. Em alguns casos pode ser permanente quando, por exemplo uma dada ação, realizada instantaneamente, promove um resultado que se prolonga no tempo.
Tentativa
A tentativa só é admissível nos crimes comissivos, não atingindo os crimes de privação de alimentos e de cuidados indispensáveis por serem crimes que exigem habitualidade. Assim pode-se concluir que ela só é admitida quando há possibilidade de fracionamento do fato.
Classificação Doutrinária
A doutrina atribui diversas classificações ao crime de maus tratos, dentre elas pode-se defini-lo: como próprio, haja vista que exige um vínculo especial entre o sujeito ativo e passivo, ou seja, o primeiro tem autoridade, guarda ou vigilância sobre o segundo; também como crime de perigo concreto, pois exige-se sua comprovação; doloso; o tipo penal define os contornos para que se admita sua ocorrência, logo, de forma vinculante; pode ser comissivo ou omissivo; bem como pode ser instantâneo ou permanente; monossubjetivo; plurissubsistente e de ação múltipla ou de conteúdo variado, conforme a quantidade de condutas praticadas perante a mesma vítima.
Modalidades
Primeiramente, faz-se mister ressaltar que o crime de maus tratos pode ser classificado enquanto de ação múltipla ou de conteúdo variado. Desta máxima decorre a possibilidade deste tipo admitir a forma comissiva ou omissiva.
Comissiva e Omissiva
A redação do artigo 136 do Código Penal define a modalidade comissiva nos seguintes termos ”art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia (...) quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: (...) “. Assim, nota-se que esta modalidade é caracterizada pela prática de determinada conduta.
Em contrapartida, a modalidade omissiva abrange apenas um trecho do artigo aludido ‘’Art. 136 – (...) quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis (...)’’. Tal forma tem como característica fundamental a abstenção da obrigação de fazer em prol do indivíduo passivo da relação.
Figuras qualificadas
A pena para o crime de maus tratos é estipulada, no regime dedetenção, pelo período de dois meses a um ano, ou multa. Contudo, há consequências que culminam no agravamento da pena e são atribuídas ao agente a título de culpa, conforme o art. 19 do Código Penal. 
Fato que resulta em lesão corporal de natureza grave
O primeiro parágrafo do art. 136 define a primeira possibilidade de qualificação do crime de maus tratos: ‘’§1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.’’ Neste caso, altera-se o regime da pena para a reclusão, e ela pode durar de um a quatro anos. Neste diapasão, deve-se considerar que a conduta do agente, para que se enquadre neste tipo, não pode ser dolosa no sentido de lesionar gravemente a vítima – pois aí se remete a outro tipo, o 129, §1º – mas a exposição a perigo ou a privação de cuidados que culminou na lesão corporal grave poderia ser prevista pelo agente, mas não era sua intenção. 
Fato que resulta em morte
Já o segundo parágrafo do art. 136 estipula a segunda possibilidade de se qualificar o delito de maus tratos: ‘’§2º Se resulta a morte.’’ A pena também tem seu regime modificado para a reclusão e poderá ser de quatro a doze anos. E a análise é similar ao paragrafo supracitado no item anterior: por se tratar de qualificação culposa, a morte como consequência das práticas de maus tratos poderia ser prevista pelo agente, mas não era sua intenção no momento da ação.
Causa que eleva a pena
Através do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi acrescentado o parágrafo 3º ao art. 136 ‘’§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.’’ Tal medida tem a finalidade de punir mais severamente àqueles que pratiquem a conduta de maus tratos contra as vítimas menores de 14 anos, mormente a consideração de sua vulnerabilidade.
Jurisprudência
Para ilustrar o estudo sobre o crime de maus tratos e com o objetivo de melhor compreender esta figura típica, a seguir serão apresentadas jurisprudências sobre algumas de suas espécies.
Maus tratos contra idoso – Art.99 da Lei nº10.741/03
 Em 2003 foi implementado o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, que passou a tratar em seu Art.99 do caso de maus tratos contra vítima de idade igual ou superior a 60 anos. Nota-se que o dispositivo implementado recentemente, possui a mesma penalidade do art.136, que já tínhamos trabalhado; isso nos possibilita notar que há uma similitude entre os artigos que se difere quanto a sua especialidade.
O princípio da especialidade decorre do fato que o Estatuto do Idoso não exige que exista relação especial entre o idoso (vítima) e o agente, o que é elemento caracterizador dos maus tratos, podendo, portanto, ser um vizinho, amigo, companheiro o agente. Deste modo, é possível afirmar que a lei 10.741/03 não exige que o idoso esteja em posição de submissão ao agente, não sendo necessário que esse assuma tal postura equivoca para os fins de educação, ensino, tratamento e custodia.
Assim, podemos concluir que se o agente expõe o idoso a perigo de saúde e de vida, sem atender as motivações pretendidas no artigo 136 do Código Penal e sendo ele pessoa qualquer do meio social do idoso, aplica-se o art.99, aqui referido. Contudo, se a vítima de maus tratos tiver idade superior a 60 anos e o agente possuir com ela relação especial, buscando com a sua ação atingir um dado fim- de ensino, educação, tratamento e custódia – aplica-se o Art.136 do Código penal.
Exemplo de caso em que se aplica o Art.99 do Estatuto do Idoso:
APELAÇÃO CRIME. MAUS-TRATOS CONTRA IDOSO. ART. 99, CAPUT, DA LEI Nº 10.741/03 (ESTATUDO DO IDOSO). SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA. - Inexistência, na sistemática do JECRIM, da figura do recurso inominado. Fungibilidade recursal. Conhecimento como apelação. - Suficientemente comprovada a prática do delito de maus-tratos pela acusada, que expôs a perigo a integridade física da vítima, idosa, com diversos problemas de saúde, cega e parcialmente surda, que permanecia sozinha na residência, tendo acesso apenas a alimentos vencidos, muitos já em estado de decomposição, negligenciando-lhe os cuidados necessários. - Comprovada a obrigação da ré para com a vítima, na medida em que a relação entre ambas iniciou-se apenas em decorrência da dependência da ofendida, desde o princípio conhecida pela autora do fato, que passou a perceber a integralidade de seus proventos mensais, comprometendo-se a lhe dispensar os cuidados necessários. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Crime Nº 71004014643, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Eduardo Ernesto Lucas Almada, Julgado em 17/12/2012)
Segue agora um exemplo em que se pode aplicar o artigo 136 do Código Penal visto que há relação especial entre vítima e acusado, nesse caso aqueles que restringiam as condições da vida da idosa eram os próprios familiares, comprovando o vínculo de dependência.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. MEDIDA DE PROTEÇÃOAO IDOSO. ABRIGAMENTO. IDOSA COM SÉRIOS PROBLEMAS DE SAÚDE. AGRESSÕES OCORRIDAS. MAUS TRATOS CARACTERIZADOS. DEVER IMPOSTO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE ZELAR PELO BEM-ESTAR E VIDA DO IDOSO. APLICAÇÃO DO ESTATUTO DO IDOSO. Medida de proteção ao idoso ajuizada pelo Ministério Público, objetivando o abrigamento temporário da idosa, às expensas do Município, em razão de viver em péssimas condições, sofrendo inclusive maus tratos por parte de familiares. A protegida possui sérios problemas de saúde, como paralisia infantil, AVC isquêmico, cardiopatia, depressão, dentre outras moléstias. Prova nos autos que evidenciam a situação precária em que se encontra a idosa. O art. 230 da Constituição Federal protege o idoso, a fim de defender a sua dignidade, garantindo-lhe bem-estar e direito à vida, impondo um dever à família, à sociedade e ao Estado (lato sensu), de zelar por ele, não cabendo ao Município se eximir deste dever. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70058821703, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício, Julgado em 28/05/2014)
Maus tratos e crime de tortura - Lei nº9.455/97
A Lei nº 9.455/97 em seu art.1º, inciso II, trata do que constitui crime de tortura. Nota-se, ao fazer a analisa comparada do artigo 136 do CP, que a pena do crime de tortura é superior à do tal dispositivo. Isso, pois a tortura é ação dolosa que busca causar intenso sofrimento à vítima, expondo-a a situações extremadas, quando o agente é motivado pela vontade de fazer a vítima sofrer, ora por sadismo, ora por ódio.
De forma oposta, temos que no crime de maus tratos há apenas o abuso nos meios de correção e disciplina não havendo, portanto, o dolo e a vontade de fazer a vítima sofrer, por ódio ou sadismo. Tal perspectiva é consagrada por José Ribeiro Borges: 
CRIME. TORTURA E MAUS-TRATOS. DISTINÇÃO. A tortura refere-se ao flagelo, ao martírio, à maldade, praticados por puro sadismo imotivado ou na expectativa de extorquir notícia, confissão ou informação qualquer, sem se ligar a um sentimento de castigo, de reprimenda, por ato que se repute errôneo, impensado, mal-educado, ao passo que o delito de maus tratos, diferentemente, diz respeito ao propósito de punir, de castigar para censurar ou emendar(TJSP, Apelação n. 145.497-3/6).
É, em tais termos, possível concluir que haverá a configuração do crime de maus tratos quando não houver a caracterização de intenso sofrimento físico ou mental; e nos casos e que a despeito de verificado o intenso sofrimento físico ou mental da vítima, o agente atua com animus corrigendi ou disciplinandi, ou seja, objetiva com tal atitude apenas corrigir e disciplinar e não com a vontade de causar sofrimento físico e mental para a vítima. Assim fica evidente que, para uma segura distinção entre ambos os delitos, não basta a averiguação do elemento normativo, mas é imprescindível estudar o elemento volitivo. Pois se a vontade do agente for corrigir ou disciplinar caracterizado estará o crime de maus tratos, mesmo que tal ação tenha decorrido de intenso sofrimento (físico e mental).
Questões Atuais 
Inicialmente, faz-se mister definir o conceito de deficiência conforme a Convenção sobre Direitos da Pessoa com Deficiência, da ONU (Decreto nº 6.949/2009): ‘’são as pessoas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas.’’ (MAIO; GUGEL, 2009).
Maus tratos contra o deficiente – incapaz 
No contexto do que foi mencionado acima, partindo de uma análise no âmbito do Direito Penal, não se pode dizer que a codificação brasileira trata de maneira especial aqueles que pratiquem maus tratos contra o deficiente. 
 Contudo, segundo o Jornal Folha de São Paulo, o índice de denúncias de maus tratos para com a classe dos deficientes tem aumentado desde 2011. Em grande parte, o crime ocorre em sua maneira omissiva, através da negação dos cuidados necessários aos incapazes, mas não se excluem os casos em que ocorre de maneira comissiva. Há ainda que se ressaltar que os casos são mais recorrentes entre crianças e idosos, e que as mulheres, em sua maioria, também são vítimas de abusos de natureza sexual.
 
Caracteriza-se o delito de maus tratos através da negligência: quando há a recusa em fornecer alimentação e medicamentos a esses indivíduos, bem como na falta de cuidados para com sua higiene. Mas não se pode olvidar dos casos em que ela ocorre de maneira mais severa: através de agressões, tratamento rude e falta de cuidados pessoais, emprego desnecessário de restrições, excesso de medicação e reclusão. 
Segue abaixo um caso em que se configurou o delito de maus tratos através da negligência:
APELAÇÃO CÍVEL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA POR DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES INERENTES AO PODER FAMILIAR. NEGLIGÊNCIA E MAUS TRATOS À FILHA DEFICIENTE, COM RETARDO MENTAL. DESCUMPRIMENTO CULPOSO DOS DEVERES. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 249 DO ECA. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70040673683, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 08/06/2011)
Sendo assim, deve-se considerar que a legislação brasileira ainda se mostra insuficiente na proteção da classe dos deficientes no que tange a punição daqueles que pratiquem maus tratos contra eles. É essencial que tal conjuntura seja alterada afim de que a prática de maus tratos contra o deficiente seja abordada de maneira mais severa, considerando o grau de sua vulnerabilidade mediante o agente.
Maus tratos no sistema prisional 
A privação da liberdade tem como objetivo a punição daqueles indivíduos que cometem algum delito, porém, tal medida não atua com a finalidade de retribuir o dano causado, mas sim para conscientizar o agente da magnitude do dano, e posteriormente possibilitar sua ressocialização após o período de cárcere. 
Contudo, é de conhecimento geral a precariedade das penitenciarias brasileiras, da superlotação, da má-alimentação oferecida, do constante uso de drogas, e muitas vezes da falta de assistência médica. Enfim, a lesão à dignidade humana é constante. 
Neste cenário, é imprescindível salientar que apenas privar a liberdade daqueles considerados uma ameaça à ordem pública não é suficiente, é necessário atentar-se aos princípios que atual em prol da dignidade humana, de forma legal, executar a pena, respeitando os direitos básicos de qualquer indivíduo, seja ele penitenciário ou não.
Atualmente são inúmeros os casos de rebeliões, fugas e crimes ocorrendo dentro dos presídios, e tal quadro é, em grande parte, resultante das condições degradantes em que estes indivíduos em cárcere se encontram. Tal conjuntura, é incongruente aos princípios contidos na Carta Magna de 1988, que reprime toda e qualquer ação contrária aos direitos humanos, em especial os maus tratos, as torturas, e no caso em questão, as condições desumanas em que os presos são mantidos. 
Na Lei de Execução Penal (lei nº 7.210 de 11/07/1984), mais especificamente em seu art. 10, temos que a assistência aos presos é dever do Estado, ou seja, é de responsabilidade estatal a garantia da alimentação, vestuário e instalações higiênicas (conforme art. 12). A assistência à saúde do preso terá um caráter preventivo e curativo, e contará com o atendimento médico, farmacêutico e odontológico, conforme Art. 14.
Contudo, a realidade é bastante divergente. Os condenados não possuem assistência no fornecimento de alimentação de qualidade, as instalações são insuficientes – o que culmina na superlotação – e as condições das dependências sanitárias são deploráveis. As condições de higiene não só das celas, mas em todos os demais espaços só demonstram o abandono dos apenados que também não tem assistência médica constante.
Além de todo este quadro que, por si só, configura maus tratos, ainda há a grande incidência de perturbações psicológicas e de agressõestanto físicas como morais sofridas pelos condenados, que partem principalmente da própria classe pública, que corrompidos em um sistema de interesses, tratam estes indivíduos como inferiores. A exemplo disto, temos os inúmeros casos em que os agentes de polícia e penitenciários são responsáveis por agredir fisicamente àqueles sob sua responsabilidade, mesmo que indireta e temporariamente.
Apresentação de casos
Ainda com o intuito de ilustrar o estudo segue uma jurisprudência sobre agressão física contra filha:
PENAL. MAUS-TRATOS. AGRESSÃO FÍSICA CONTRA FILHA. ABUSO DO DIREITO DE DISCIPLINAR E CORRIGIR. LESÕES. EXCESSO. CONDUTA TÍPICA. VEDAÇÃO DA REDUÇÃO DA PENA ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. 1. O abuso no exercício do direito dos pais em corrigir os filhos, verificado pela utilização imoderada e desproporcional do castigo físico que expõe a perigo a saúde do incapaz, caracteriza crime de maus-tratos. 2. Se o laudo de exame de corpo de delito identificou mais de quarenta e cinco equimoses violáceas em diferentes partes do corpo da menor de 14 anos provocadas por agressão com cinto, merece ser mantida a sentença que reconheceu a tipicidade da conduta e condenou o acusado como incurso na pena do art. 136, § 3º, do Código Penal. 3. "Desferir golpes com cinto ou 'cintadas' em criança não pode ser considerado 'ato socialmente aceitável' quando realizado pelos pais, inclusive sob o pretexto de correição tradicional, pois o legislador pátrio optou por proteger a vida e preservar a incolumidade dos menores, por meio da Constituição Federal (art. 227) e também por intermédio do Código Penal e de legislação extravagante (ECA)." (REsp1324976/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, Publicado em 10/04/2013). 4. No julgamento do mérito da repercussão geral no RE 597270/RG, o Supremo Tribunal Federal confirmou o entendimento consolidado na Súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça de que a "circunstância atenuante genérica não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal". 5. Recurso conhecido e não provido. 6. Sentença mantida pelos próprios fundamentos, nos termos do artigo 82, § 5º, da Lei 9.099/95. (TJ-DF - APJ: 20130710252798, Relator: EDI MARIA COUTINHO BIZZI, Data de Julgamento: 03/02/2015, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 06/02/2015 . Pág.: 310)
RIXA
O crime de Rixa vem tipificado no Capítulo IV - Da Rixa da nossa Lei Penal e versa o seguinte:
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores: 
Pena – detenção de 15 dias a 2 meses, ou multa.
Parágrafo único. Se ocorrer morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Considerações Iniciais
A criminalização da rixa, como crime autônomo, é relativamente recente. Os Códigos Penais de 1830 e de 1890 não se referiam ao crime de rixa. Já o Código de 1940 introduziu no Direito brasileiro o delito de rixa, autonomamente, desvinculando-o, deste modo, do homicídio e da lesão corporal grave. Neste sentido, para que ocorra o crime de rixa não é necessária a presença de lesão corporal grave ou de homicídio. Porém, se houver a existência dos elementos citados – lesão corporal de natureza grave ou homicídio – a rixa será qualificada. 
Ao criminalizar a rixa o Código Penal de 1940 tinha o propósito de proteger a vida e a saúde do indivíduo. Nesta mesma linha, sustenta Bitencourt: 
Embora a descrição típica não se refira expressamente à vida ou à saúde do agente, sua preocupação com esses bens jurídicos está exatamente na punição da simples participação na rixa, pois o legislador reconhece que esta possibilita, em tese, a produção de maiores danos à integridade fisiopsíquica do indivíduo. (BITENCOURT, 2015, p. 322)
Além disso, a própria posição geográfica que esse tipo penal ocupa na codificação permite a afirmação de que o interesse tutelado pela norma é a incolumidade da pessoa humana.
O crime de rixa foi criado para prevenir que fique sem punição a situação na qual não se consegue identificar o autor inicial das agressões. Sendo assim, a simples participação na rixa já implica ato punível. Ademais, é considerado crime comum, uma vez que pode ser praticado por qualquer pessoa, independentemente da idade ou sexo, e não exige nenhuma qualidade ou condição especial.
 Sujeitos ativo e passivo
Primeiramente, cumpre dizer que as pessoas que participam da rixa são ao mesmo tempo sujeitos ativos e passivos, uns em relação aos outros. Rixa é crime que exige a participação de no mínimo três indivíduos, ainda que qualquer deles seja menor ou sequer seja identificado. Os participantes da rixa atuam uns contra os outros; daí essa mistura de sujeito ativo-passivo do mesmo crime: “o rixoso é sujeito ativo da conduta que pratica em relação aos demais e sujeito passivo das condutas praticadas pelos demais rixosos” (BITENCOURT, 2015, p. 323).
A respeito disso, Luiz Regis Prado afirma que: “como a rixa é delito plurissubjetivo de condutas contrapostas, que se caracterizam pela reciprocidade das vias de fato, a situação, de perigo desencadeada demonstra que todos os rixosos são ofensores e ofendidos, isto é, sujeitos ativos e passivos do delito. Não há que se falar de crime contra si próprio, já que todos os participantes da rixa se ofendem mutua e desordenadamente, expondo-se ao perigo gerado pela conduta de todos” (PRADO, 2002, p. 209).
Assim, será considerado participante da rixa qualquer indivíduo que estiver presente no lugar e no momento da rixa e entrar diretamente na contenda ou prestando auxílio a algum dos rixosos. Entretanto, vale lembrar que o indivíduo que intervém com o intuito de separar os rixosos não infringe o tipo penal, visto que lhe falta a vontade consciente de participar do conflito. Porém, se tal pessoa se exaltar no intuito de apartar os contendores, transforma-se em participante, devendo responder pelo crime de rixa.
 Tipo objetivo: adequação típica
Rixa é uma briga entre mais de duas pessoas, acompanhada de vias de fato ou violências recíprocas. “Para caracterizá-la é insuficiente a participação de dois contendores, pois aquela se caracteriza exatamente por certa confusão na participação dos contendores, dificultando, em princípio, a identificação da atividade de cada um”.[20: ARIOSVALDO. Alves de Figueiredo, Comentários ao Código Penal, São Paulo, 1986, v. 2, p. 88.]
A conduta tipificada é participar de rixa. Tal participação pode ocorrer desde o começo da contenda ou se iniciar durante a realização do conflito. Não haverá rixa se a posição dos rixosos for definida. Nesse crime, deve haver a existência de agressões recíprocas generalizadas. É preciso que exista violência material, gerando lesões corporais ou vias de fato (violência contra pessoa, que não resulte em lesões corporais), formada por socos, puxões de cabelo, empurrões etc. “Embora o conflito se apresente, geralmente, num corpo a corpo, poderá configurar-se, a distância, através de tiros, arremesso de pedras, porretes e quaisquer outros objetos” , visto que não é necessário o contato físico entre os contendores. A simples troca de ofensas verbais não é suficiente para caracterizar o crime de rixa, é necessário que os indivíduos “venham as mãos” ou que os contendores se acometam reciprocamente, lançando objetos ou disparando tiros de arma de fogo. Ressaltando que a rixa simulada não é considerada crime, pela falta de existência do animus rixandi. [21: ANTOLISEI, Francesco. Manuale di Diritto Penale; Parte Speciale, Milano, 1977, p. 100.]
Tipo subjetivo: adequação típica
O elemento subjetivo do crime de rixa é o dolo, representado pela vontade consciente dos rixosos de participar desse delito. O agente tem o conhecimento do que é rixa e possui a vontade de participar do ato. Cumpre dizer que a rixa simulada não é crime, mesmo que essa simulação resulte em lesão corporal ou na morte de algum indivíduo. Nessa situação, os rixosos deverão responder por lesões corporais ou homicídio,

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