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Movimento Negro No Brasil

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
DISCIPLINA: Movimentos Sociais e Direitos Humanos
PROFESSOR: Moisés Saraiva
O MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL
Caio do Carmo Oliveira
Jasiely de Moura Gomes
Iguatu – CE
2015
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo explorar alguns aspectos acerca da história do movimento negro em nosso país, discorrendo sobre as principais revoltas que envolveram a população negra, a trajetória deste movimento social, suas conquistas e avanços nos mais diversos campos da vida social, obtidos através da luta contra o racismo e contra a discriminação. Para isso, vai mostrar o desenvolvimento deste movimento social no decorrer do tempo, desde as revoltas na época escravocrata, onde a principal luta era contra o escravismo e era buscada a liberdade do negro; passando pela organização do movimento no período de república, onde muitos grupos e associações organizadas, com imprensa, lutaram e que, nos períodos de ditadura, foram enfraquecidos, porém voltaram juntamente com a democracia; e, chegando às ações afirmativas que vemos hoje. Essa batalha contra o racismo vem acontecendo durante muito tempo, e as conquistas desta são a consequência de várias mudanças no pensamento da sociedade que tiveram muita resistência para acontecer. A busca de movimentos como esse é a igualdade de direitos tanto na educação, como no mercado de trabalho, lazer, oportunidades, saúde, etc. A conscientização do povo brasileiro sobre importância da garantia dos direitos de grupos excluídos historicamente do seio social, como o povo negro, vem ocorrendo de forma lenta, mas progressiva. O movimento negro tem um papel importante na história do Brasil e de sua formação democrática.
Palavras-chaves: Movimento Negro, Movimento Social, Negros, Antirracismo.
THE BLACK MOVEMENT IN BRAZIL
ABSTRACT
This article aims to explore some aspects about the history of the black movement in Brazil, discussing major riots involving the black population, the trajectory of this social movement, their achievements and advances in various fields of social life, obtained through the fight against racism and discrimination. For this, will show the development of this social movement over time, from the slave revolts in time, where the main fight was against slavery and was sought freedom from black; through the movement of the organization in the republic period, where many groups and organized associations with press, fought and that during the periods of dictatorship, have been weakened, but returned along with democracy; and reaching the affirmative action we see today. This battle against racism has been going on for a long time, and achievements that are the result of several changes in the thinking of society that had a lot of resistance to happen. The search moves like this is equal rights both in education and in the labor market, leisure, opportunities, health, etc. The awareness of the Brazilian people about the importance of ensuring the rights of groups historically excluded from social bosom, as black people, there has been slowly but progressively. The black movement has an important role in the history of Brazil and its democratic formation.
Keywords: Black Movement, Social Movement, Black, Anti racism.
Introdução
Antes de definir movimento negro, faz-se necessário esclarecer o que é um movimento social. Para isso utilizaremos a definição de Ilse Scherer-Warren, onde movimento social é definido como um “grupo mais ou menos organizado, sob uma liderança determinada ou não; possuindo programa, objetivos ou plano comum; baseando-se numa mesma doutrina, princípios valorativos ou ideologia; visando um fim específico ou uma mudança social”(1987, p. 13).
Dessa forma podemos determinar movimento negro como sendo uma luta, uma mobilização dos negros com o propósito de resolver seus problemas no meio social, particularmente aqueles derivados de preconceito ou discriminações raciais. A opressão sofrida pelos negros desde a época da escravidão não deixou de existir no Brasil; pode ser mais branda nos dias atuais mas não sumiu por completo. A consequência dessa opressão é a marginalização do negro nos mais diversos setores da vida social como no mercado de trabalho, na educação, na política, etc.
Para o movimento, a ideia de etnia e de identidade racial são os elementos de mobilização e também os elementos motivadores da organização, do arranjo do grupo em volta de um objetivo e de um plano de ação comum. O movimento negro organizado teve impulso inicial após a abolição da escravatura que se deu em 1988. Definitivamente o movimento já era visível antes disso, porém eram clandestinos e sua finalidade era libertar os negros. Exemplo disso são as revoltas e as fugas para os quilombos que ocorreram, que demonstraram a resistência do negro ao racismo, a discriminação e a escravidão. Mas, ainda com a proclamação da República, com o estabelecimento da democracia, “com o governo do povo”, em 1889, a situação não mudou para os negros, eles não tiveram conquistas garantidas e continuaram sendo marginalizados pela sociedade e governo. Para fins didáticos, o movimento negro pós-república foi dividido em três partes e vamos discorrer sobre cada uma.
A Velha República e início do século XX
O fato de que com a chegada da república e da “democracia” os negros não obtiveram os ganhos de forma igualitária na sociedade, do contrário, tiveram seus direitos limitados, cortados muitas vezes, por conta da impossibilidade de total participação social, política e econômica, marcos da sua situação anterior de escravo, levou ao fortalecimento da ideia de movimento negro e o início de sua organização.
Os movimentos de cunho racial na Velha República tiveram início como vários grupos, clubes e associações formados por escravos libertos, escravos e seus descendentes em alguns estados brasileiros. Esses grupos almejavam exercer um papel importante de conscientização e mobilização racial. O grupo negro mais antigo desse período foi o Clube 28 de Setembro de São Paulo fundado em 1897 e, os maiores foram o Grupo Dramático e Recreativo Kosmos, criado em 1908, e o Centro Cívico Palmares de 1926.
Alguns desses grupos, da primeira metade da década de 1900 em São Paulo foram o Clube 13 de Maio dos Homens Pretos e o Centro Literário dos Homens de Cor, na segunda metade da década também existiram a Sociedade União Cívica dos Homens de Cor e a Associação Protetora dos Brasileiros Pretos. Outros estados como Rio de Janeiro Santa Catarina também abrigaram associações negras.
A maioria dessas associações era de caráter assistencialista, recreativo e/ou cultural e conseguiam reunir um bom número de pessoas. Algumas delas tinham bases determinadas por classes de trabalhadores, tais como: portuários, ferroviários e ensacadores, constituindo uma espécie de entidade sindical.
Também existiam associações constituídas somente por mulheres, como a Sociedade Brinco das Princesas, 1925, de São Paulo e a Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul, 1908, de Pelotas-RS. Segundo a pesquisadora Muller, existem registros de 72 grupos negros em Porto Alegre, entre 1889 a 1920.
Imprensa Negra
Nessa época surgiu a imprensa negra, eram jornais empenhados em lutas contra o racismo publicados por negros. A principal finalidade desta imprensa era de ser o veículo de formação e informação da comunidade negra, devido sua exclusão pela grande imprensa branca e, o primeiro deles foi Menelik, em 1915. Esses jornais tiveram forte influência na formação de uma ideologia étnica do negro paulista e influirá, de certa maneira, no seu comportamento. (Moura, 1992) Não eram publicadas notícias de acontecimentos em geral, neles pode-se perceber várias correntes do pensamento negro da época. A imprensa conseguia agregar um número considerável de indivíduos para o combate ao racismo. Alguns jornais paulistanos são O Menelick (1915), o Bandeirante (1918), a Liberdade (1919) e o Kosmos (1992). Apareceram outros jornais do mesmo tipo em outrosestados e o Alvorada de Pelotas foi o jornal da imprensa negra que mais durou no país.
Esses periódicos se concentravam principalmente nas dificuldades e empecilhos que afetavam o povo negro na vida social. Era um ambiente propício para pensar em soluções concretas para a discriminação dos negros, que era frequente. A segregação racial era bem visível nesse tempo e os negros eram impedidos de frequentar clubes recreativos, escolas, praças, teatros, restaurantes e estabelecimentos comerciais e religiosos. “Nesta etapa, o movimento negro organizado era desprovido de caráter explicitamente político, com um programa definido e projeto ideológico mais amplo.” (DOMINGUES, 2007, p. 105)
A Frente Negra Brasileira
Em 1931 foi criada a Frente Negra Brasileira por lideranças do movimento negro, em decorrência dos efeitos da crise de 1929 e do sentimento de esperança na revolta de 1930 que, dentre suas promessas incluía a de garantir os direitos da população negra. Esse fato foi um marco da história do movimento negro, a FNB foi estabelecida primeiro na cidade de São Paulo e também no interior do estado e se estendeu para outros estados reunindo milhares de militantes em seus vários núcleos no país.
A Frente era influenciada pela ideia de democracia racial e buscava a defesa da pátria, a integração social e ascensão social através da educação e do bom comportamento. Para alcançar a destruição dos limites sociais impostos aos negros, seus militantes denunciavam os atos de racismo. Seus membros eram incentivados ainda para ideias de organização familiar, incentivo à poupança, respeito à mulher, etc, além de formarem uma organização paramilitar.
A FNB era sistematizada com hierarquia específica, que atribuía ao presidente da organização as tomadas de decisões. Possuía diversos departamentos como o Grande Conselho, composto por vinte indivíduos que dirigiam a organização e escolhiam o presidente e o secretário geral. Também havia o Conselho Auxiliar e os departamentos jurídico, esportivo, doutrinário, etc. As domingueiras eram as reuniões semanais, formais que tinha o propósito de formar a consciência da importância dos cidadãos para a formação do Brasil.(Mendonça, 1996; Pinto, 1993)
A principal crítica a FNB está ligada à influência da ideologia fascista. Arlindo Veiga dos Santos, que foi presidente da organização era também o Chefe Geral da Ação Imperial Patrianovista Brasileira. E, o patrianovismo era um movimento antissemita, nacionalista, monarquista antirrepublicano e anticomunista. Grupos de militantes da imprensa negra ligados a criação da FNB acabaram rompendo com associação por conta de suas posições ideológicas em 1932. Um jornal que fazia críticas e sátiras acerca das posições da FNB teve sua redação destruída por um grupo de indivíduos ligados a organização após fazer apenas duas publicações.
1932 foi um ano de crise interna na Frente Negra Brasileira com relação a posição da organização frente a Revolução Constitucionalista. A FNB passou por um processo de descrédito o que levou a mudança no cargo de diretor da associação para os que combateram em 1932. E, apesar de não estar em seus objetivos iniciais, a FNB foi se envolvendo com a política partidária e até lançou uma candidatura à Assembleia Constituinte de 1934, mas acabou sem vencer. Em 1936 se fundou como partido que foi fechado com o golpe de 1937.
Após o seu fechamento, um de seus fundadores tentou lançar outra associação, com o nome de União Negra Brasileira, para substituir a FNB, mas acabou falhando devido a ditadura do Estado Novo. No ano seguinte, aniversário de 50 anos da abolição, órgãos da imprensa negra, FNB e a União Negra Brasileira foram eliminadas pelo estado. Apesar de todas as críticas, há de se reconhecer a importância da FNB por ter sido inédita e o primeiro movimento político dos negros de grande alcance.
Período Pós-Estado Novo
Como já foi citado, no período de vigência do Estado Novo, entre 1937 e 1945, vários movimentos foram silenciados devido à repressão política. Mas com o fim desse sistema de governo, o movimento negro organizado voltou a ser ativo com maior alcance do que antes. Para Guimarães, o movimento se ampliou por muitos motivos e os listou:
“Primeiro, porque a discriminação racial, à medida que se ampliavam os mercados e a competição, também se tornava mais problemática; segundo, porque os preconceitos e os estereótipos continuavam a perseguir os negros; terceiro, porque grande parte da população 'de cor' continuava marginalizada em favelas, mucambos, alagados e na agricultura de subsistência.” (2002, p. 88)
Uma das principais associações dessa época foi a União dos Homens de Cor – UHC, criada em 1943 por João Cabral Alves na cidade de Porto Alegre. O principal objetivo deste grupo era proporcionar o aumento do nível econômico e intelectual dos indivíduos negros para que estes pudessem ter uma participação efetiva na vida social e administrativa da nação, nos seus mais diversos setores, e constava logo no primeiro artigo de seu estatuto.
A UHC era constituída pelos cargos de presidente, secretário-geral, inspetor-geral, tesoureiro, chefe dos departamentos (de saúde e educação), consultor jurídico e diretores. Esses cargos eram ocupados pelos fundadores do agrupamento e a organização possuía uma complexa estrutura organizativa.
As atividades desse grupo eram o lançamento de debates na imprensa local, serviços assistencialistas nas áreas jurídica e médica, ensino do básico de educação, publicação de jornais próprios, atuação em campanhas eleitorais e atividades voluntárias. Com isso, a UHC conseguiu uma significativa expansão por grande parte do território nacional, possuindo, na segunda metade da década de 1940, representantes em pelo menos 10 estados, e não só nas suas capitais, mas também em muitas cidades do interior.
A UHC teve grande destaque nacional e seus representantes apresentaram ao presidente Getúlio Vargas um conjunto de reivindicações para a população negra quando foram recebidos em uma audiência. Outras organizações surgiram a partir da UHC e também tiveram atuação significativa no país. Entre elas podemos citar a União Catarinense dos Homens de Cor de 1962. Mas, com o golpe militar de 1964 o movimento negro foi acusado de tentar criar um problema, que segundo os militares, não existia no Brasil: o preconceito de cor.
Da Ditadura Militar ao Movimento Hip-Hop
Durante o período da ditadura militar a questão racial foi mais uma vez excluída do âmbito nacional. Apenas no fim da década de 1970 é que o movimento começou a dar sinais de volta as atividades junto com outros movimentos populares, como o estudantil. Mas as ações ainda eram fracionadas e só em 1978, com a criação do Movimento Negro Unificado é que o pensamento antirracista se organiza no país.
Nesse período existiram diversas lideranças externas que serviram de inspiração na luta contra a discriminação racial, como Martin Luther King nos EUA e os movimentos de libertação dos países africanos. No âmbito interno, a Convergência Socialista exerceu influência sobre o MNU defendendo que somente com a derrubada do capitalismo seria possível a construção de uma sociedade igualitária para todos.
Em 1982, o MNU publicou um programa de ação em que pleitava a desmitificação da democracia racial brasileira, a fundação de alianças para contribuir na luta contra o preconceito e exploração do trabalhador, organização dos sindicatos, luta pela inserção da disciplina de História da África e do Negro no Brasil no grade escolar, entre outras. A imprensa negra também voltou a ser ativa após o MNU.
Esse agrupamento foi de muita importância para a causa negra porque propôs a unificação da luta de todos os grupos antirracistas em escala nacional e objetivava fortalecer o poder político do negro.
A partir da década de 2000, o movimento negro brasileiro conta também com o movimento hip-hop, um tipo diferente pois não tem um discurso vanguardista, mas sim atual. Esse movimento busca resgatar a autoestima do negro e traz na sua musicalidadeum protesto, como denúncia da discriminação racial e social, fazendo uma ligação entre o ativismo negro e outros setores marginalizados da sociedade.
As Principais Revoltas Negras No Brasil
A Revolta dos Malês
A Revolta dos Malês foi um conflito ocorrido em Salvador, entre 25 e 27 de janeiro de 1835. Os principais participantes desta revolta foram os negros de orientação islâmica, conhecidos como malês, que exerciam atividades livres, e que apesar de livres, ainda sofriam com a discriminação racial e a intolerância religiosa por seguirem o islamismo, não conseguindo ascender socialmente. 
Alguns anos antes do movimento fora proibido qualquer manifestação religiosa (que não fosse católica) em Salvador, a mesquita da “Vitória”, local de reunião dos negros mulçumanos, foi destruído e dois estimados chefes religiosos foram presos. Os rebeldes, em retaliação, começaram a planejar um motim para o dia 25 de janeiro. Tal data seria de perfeita serventia, pois aproveitariam que a cidade estaria vazia por conta de uma festa religiosa para deflagrar o movimento. Os escravos naquela data, conforme o costume local, não seriam vigiados pelos seus senhores. Os revoltosos planejavam sair pelos bairros da cidade, reunindo-se a outros malês, invadiriam os engenhos de açúcar e libertariam os escravos. Os malês defendiam a abolição da escravidão e desejavam a africanização de Salvador, através do extermínio dos brancos e mulatos. 
Mesmo com todo o plano arquitetado, a rebelião não ocorreu como planejado. O grupo malês foi delatado por dois negros libertos, o que iniciou um conflito com as tropas imperiais. Violentos combates aconteceram. As forças do império eram superiores as do malês, então o movimento foi contido e seus participantes punidos. A Revolta, apesar de não obter o sucesso esperado, gerou um abalo nas elites baianas, que temiam uma rebelião geral dos escravos. Na batalha morreram sete soldados e cerca de setenta revoltosos. Cerca de 200 participantes do movimento foram presos, todos julgados pelos tribunais. Os líderes foram condenados à morte. Outros rebeldes foram condenados a trabalhos forçados, açoites ou degredados. O governo local, temendo outras revoltas, decretou leis proibindo a circulação dos mulçumanos durante a noite e a prática de cerimônias religiosas. 
Conjuração Baiana
É também chamada de Revolta dos Alfaiates por conter vários destes profissionais no movimento. Ocorreu em 1798, na Bahia, sendo uma revolta de caráter popular. Teve influência dos ideais da Revolução Francesa, defendia importantes mudanças sociais e políticas e ainda era um movimento emancipacionista. Entre as causas desta revolta, estava a insatisfação da população com o preço elevado dos produtos e alimentos, além da falta de alguns alimentos. O ideal de independência existia também em vários setores, o que mostrava a forte insatisfação com a relação de domínio de Portugal sobre o Brasil.
A Conjuração Baiana queria o fim do pacto colonial, defendia emancipação política do país e a instauração da República; a liberdade comercial no mercado interno e externo; a igualdade entre as pessoas, o que significava o fim para os privilégios sociais de alguns e a abolição da escravidão e o aumento salarial para os soldados.
Contou com o apoio e a participação dos pobres, pequenos comerciantes, escravos e ex-escravos, padres e letrados. Entre seus líderes estavam Cipriano Barata, médico, filósofo e político baiano; Luiz Gonzaga das Virgens, soldado que participou da divulgação dos ideais do movimento; além dos alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira.
A revolta já estava planejada e marcada, mas o ferreiro e integrante do movimento, José da Veiga, encarregou-se de delatar o motim para o governador, passando a relatar o dia e a hora em que o evento aconteceria. As forças militares do governo baiano se organizaram para reprimir o movimento antes que ocorresse a revolta. Aconteceu que vários rebeldes foram presos, outros expulsos do país e quatro foram executados em Salvador, na Praça da Piedade.
Ações Afirmativas
Ações afirmativas é o conjunto de medidas tomadas pelo Estado ou pela iniciativa privada que tem o intuito de reduzir as desigualdades que historicamente se acumularam, gerando oportunidade e tratamento semelhante aos indivíduos e compensando suas perdas, resultado da discriminação e da marginalização, por motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros mais. São políticas que visam a correção das desigualdades e uma efetivação dos direitos, tentando garantir a todos os excluídos, participação e oportunidade na sociedade. A ação afirmativa se difere das políticas anti-discriminatórias, por ser um meio de prevenção à discriminação e também uma ferramenta de reparação dos efeitos discriminatórios. As políticas anti-discriminatórias servem como repressão e conscientização, para aqueles que cometam ou venham cometer qualquer ato de discriminação. No meio público e acadêmico, ações afirmativas são geralmente entendidas como uma política que visa assegurar aos excluídos, melhores condições de vida e uma inserção nas posições sociais, evitando a segregação.
Desde 1990, as ações afirmativas estão fazendo parte da política brasileira. Por meio da inclusão e da justiça, procura-se a correção das mazelas sociais, reconhecendo direitos que foram negados e corrigindo tais fatos. Desse modo, o governo procura desenvolver medidas que combatam a discriminação, seja de qualquer tipo, aumentando e assegurando a participação das minorias no processo político, garantido acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, proteção social e reconhecimento cultural.
Para executar as ações afirmativas, o governo encaminha recursos para as pessoas que pertencem a grupos que sofreram discriminação e foram vítimas da exclusão social e econômica, seja no passado ou no presente. Um exemplo evidente e bastante polêmico de ação afirmativa são as cotas para negros e afrodescendentes para concursos públicos, isso também inclui provas de vestibular nas universidades públicas. A população negra, no Brasil, é uma referência tradicional quando se fala de grupos carentes e alvo de uma persistente discriminação racial. As cotas, desta maneira, são uma forma designada para proporcionar a uma alternativa de ascensão social para as pessoas que sofrem discriminação, possibilitando uma mudança na maneira de como a população enxerga esses grupos. Já por outro lado, tais ações são alvos de críticas, especialmente sobre a maneira de como os grupos eleitos são beneficiados, como são escolhidos e a maneira de operar e interpretar a desigualdade do país. Acha-se que trazendo privilégios para um grupo ou grupos antes discriminados, contribui para a continuação da desigualdade (e até gera mais diferenças) entre os cidadãos de maneira indireta.
Movimento Negro Contemporâneo
Luta e resistência são características que sempre estiveram presentes na população negra no Brasil. O movimento negro é o movimento social brasileiro mais antigo. Apresenta mais de quatro séculos de luta, desde o quilombo até os movimentos sociais organizados. O primeiro navio negreiro aporta aqui em 1534 e os primeiros registros do Quilombo dos Palmares são datados de 1597. São séculos enfrentando a política, de maneira individual e coletiva, gerando experiências históricas negadas em sua maioria, pela classe e pela raça dominante.
Os Quilombos foram as primeiras formas de organização do movimento negro, estruturados na clandestinidade. Com a abolição da escravidão os movimentos negros passam a operar na legalidade com a criação de clubes e associações, isso se inicia em 1897 e passa a se intensificar durante o período de 1918 até 1924. Tais associações eram entidades “culturais e beneficentes”, que exerciam papéis importantes como meios de convívio e ferramentas de articulação da população negra.
Já em 1931, a Frente Negra, que era dirigida pelos irmãos Isaltino e Arlindo Veiga dos Santos, foi fundada. Baseada no movimento nacionalista fascistaitaliano, exprimia um desejo de mudar a imagem do negro, deixando de lado a visão exótica e ocidental que ele tinha, para torna-lo mais brasileiro. Mostrava-se orgulho e satisfação ao exprimir o “mulatismo”, solução esta, que foi dada pelo país às questões raciais e que pregava o ajustamento inter-racial, simultaneamente que de forma contraditória, refletia uma autonomia do negro perante o branco, propondo uma economia dos negros. Estimulava-se também uma maior participação das mulheres nos movimentos e é nesse momento que que se organiza a Cruzada Feminina, além das Rosas Negras que articulavam várias atividades artísticas. Em 1937, a Frente Negra se transforma em partido político, porém, com a instauração da ditadura do Estado Novo é extinto juntamente com o restante dos partidos políticos. Foi o maior e mais abrangente movimento organizacional dos negros no país. 
Com o fim da ditadura Vargas, em 1945, o movimento negro retorna à sua organização de outras maneiras, principalmente através da resistência cultural, criando várias entidades, entre elas a Associação Cultural do Negro, a ACN, e também a União dos Homens de Cor. O Teatro Experimental do Negro (TEN), que foi criando em 1944 no Rio de Janeiro, foi responsável por uma grande produção teatral, onde se desejava conscientizar a população negra brasileira.
Em 1970, como reposta à ditadura militar implantada em 1964. No Rio Grande do Sul, o Grupo Palmares é criado, responsável por propor o dia 20 de novembro para simbolizar o dia da consciência negra, aprovado posteriormente pelo Congresso do Movimento Negro Unificado. No ano de 1974 foi criado o Ilê Ayê, bloco carnavalesco com caráter cultural que tinha como interesse o fortalecimento o da autoestima negra. Um ano depois, é fundado no Rio de Janeiro o Instituto de Pesquisa e Cultura Negra (IPCN). 7 de Julho de 1978 foi criado o Movimento Negro Unificado (MNU) em São Paulo, a maior e mais importante entidade organizacional negra desse período. O MNU surge com várias características marcantes: Influência ideológica da esquerda socialista; Organizava-se estreitamente com movimentos sociais e culturais; Buscava unir negros e mestiços, unificando as etnias negras.
Nos primeiros anos de existência, o MNU se afastava das religiões de origem africanas, blocos afros e afoxés, apontando-os como alienados por serem próximos, em sua maioria, com os políticos da direita. Mais tarde essa postura foi mudada, passou-se a reconhecer o papel histórico das religiões africanas na luta contra a opressão racial e como símbolo, em memória dos negros trazidos ao Brasil. Foi estimulada também a articulação dos blocos afros e afoxés, reconhecidos então, como organizações negras de visões políticas distintas. O fato é que era necessária uma aproximação e incorporação desses setores no debate dos problemas cruciais da população negra.
Como consequência negativa da política ideológica da esquerda tradicional, juntamente com a cultura machista que predominava a sociedade, o MNU dava privilégio à concepção de luta de classes e de raça e não compreendia a importância e por isso secundarizava o feminismo negro como frente de luta fundamental. Isso acontece até hoje, o que acabou provocando dissenções e afastou várias ativistas negras do movimento. Com o passar do tempo, várias lideranças deixam o MNU por diferenças políticas, disputando por espaços, originam outras organizações.
Marcos legais e Avanços Políticos Institucionais
No dia 03 de Julho de 1951 é aprovada a lei 1390 – Lei Afonso Arinos, que trata a discriminação racial como contravenção; Em 1969, o Brasil participa da Convenção Internacional que tem o intuito de eliminar todos os tipos de discriminação; A Lei nº 7.43720-12-1985 Caó, modifica a lei Afonso Arinos passando a estabelecer penalidades para as contravenções; Durante os 26 e 27 de Agosto, em 1986, acontece a Convenção Nacional do Negro Pela Constituinte, em Brasília, onde mais de 500 entidades são convidadas e representantes de 63 entidades comparecem. Nesta convenção se promove vários debates importantes, incluindo a lei 10.639, sobre o reconhecimento à propriedade territorial quilombola e também a discussão sobre o fim da tortura física e psicológica.
Com a vinda da Constituinte de 1988 e a redemocratização, a mobilização para o combate ao racismo e às desigualdades raciais foram ampliadas. Também nesse ano, ocorreram várias mobilizações críticas sobre os 100 anos de Abolição da Escravidão. O racismo foi taxado como crime inafiançável e imprescritível, no artigo 5º. A propriedade das terras quilombolas foi reconhecida no artigo 68º, no ADCT ou Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e a diversidade cultural é reconhecida como patrimônio para ser preservado e valorizado, nos artigos 215 e 216. Ainda em 1988, a Fundação Cultural Palmares é criada. No ano de 1995, ocorre a Marcha Zumbi dos Palmares, na luta contra o Racismo e pela Cidadania e a Vida, lembrando os 300 anos da morte de Zumbi. Com isso, foi instituído o Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra, no domínio do Ministério da Justiça. Durante a terceira Conferência Mundial contra os atos de Racismo, Discriminação, Xenofobia e Intolerância, evento ocorrido em Durban na África do Sul em 2001, houve um avanço na criação e instauração de políticas de reparação ao povo negro.
Em 2002 o Brasil confirma através do Decreto Legislativo de nº 143, a Convenção da Organização Internacional do Trabalho, de Junho de 1989. Tal convenção reconhecia como critério fundamental os elementos de auto-indentificação étnica. Decreto Nº 4.887, aprovado em 20 de novembro de 2003, que se encarrega de regulamentar o procedimento para identificar, reconhecer, delimitar, demarcar e titular as terras que foram ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, no qual trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Em 2003, no dia 9 de Janeiro, foi aprovada a lei 10.639, que obriga que a história e a cultura africana e afro-brasileira seja incluída no sistema de educação brasileira. Em 21 de Março de 2003, cria-se a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a SEPPIR. Ainda em 2003 é criado o Programa Universidade para Todos (ProUni), projeto de ações afirmativas do Ministério da Educação que gerou oportunidades para uma inserção de 203 mil alunos vindos de escolas públicas, que teriam direito a bolsas parciais ou integrais em universidades particulares.
Em 2011 acontece a gestão da Ministra Luiza Bairros na SEPPIR, em que foi priorizado no primeiro ano de sua gestão, o investimento de grandes esforços para incluir a política de igualdade racial no Plano Plurianual ou PPA. No dia 25 de Março de 2012, o STF julga como constitucional a política de cotas. De maneira unânime, o Supremo Tribunal Federal, numa quinta feira, dia 26, autorizou às universidades públicas a adoção de políticas de reserva de vagas, garantindo o acesso dos negros ao ensino superior. O Tribunal julgou como necessárias tais ações, a fim de corrigir o histórico de discriminação racial e ainda afirmou que as medidas estariam de acordo com a constituição.
Conclusão
A história do povo negro é repleta de sofrimento, luta e resistência. Várias medidas foram tomadas para corrigir e punir o comportamento discriminativo e preconceituoso, mas até chegar a tal conquista tivemos que passar por profundas mudanças, que ocorreram de maneira lenta e tiveram bastante resistência para acontecer. É com a conscientização da população, com uma política norteada pela equidade, que transformaremos a visão preconceituosa e indiferente quanto às causas da população negra, que lida com uma carga histórica recheada de sofrimentos.
A luta por benefícios ou simplesmente a luta por direito e proteção, pode às vezes não ser entendida, ou até gerar um sentimento de ofensa e de desigualdade por parte da população. Mas a asseguração dos direitos e a proteção para os grupos excluídos é nada menos que uma tentativa de correção na postura sociale uma busca por melhores condições e oportunidades de ascensão para quem muito já sofreu.
Referências
CUNHA JR, Henrique. Textos para o movimento negro, São Paulo, Edicon, 1992.
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SCHERER-WARREN, Ilse. Movimentos sociais: um ensaio de interpretação sociológica, 2.ed., Florianópolis, Ed. da UFSC, 1987, p. 13.

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