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Arbitragem em Contratos: Análise Econômica

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FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS 
Curso de Mestrado em Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARBITRAGEM EM CONTRATOS: 
análise econômica 
 
 
 
 
TATIANA DE OLIVEIRA GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nova Lima 
2010 
 
TATIANA DE OLIVEIRA GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARBITRAGEM EM CONTRATOS: 
análise econômica 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Curso de 
Mestrado da Faculdade de Direito Milton 
Campos, como requisito parcial à 
obtenção de título de Mestre em Direito. 
 
Área de concentração: Direito 
Empresarial. 
 
Orientador: Professor Doutor Jason 
Soares de Albergaria Neto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOVA LIMA 
Faculdade de Direito Milton Campos 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico estas reflexões aos meus pais, Pedrilho e Lúcia, 
que sempre me incentivaram a buscar meus sonhos, 
e ao meu noivo, Daniel, 
pelo carinho, paciência e tolerância nos 
momentos de mau-humor. 
Agradeço à minha família, pelo amor. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço ao Professor Doutor Jason Albergaria Neto, pela orientação, atenção e 
incentivo. 
 
Aos meus amigos e colegas do Mestrado, pela cumplicidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A arbitragem é uma forma alternativa de solução de conflitos sobre direitos 
patrimoniais disponíveis, regulada no Brasil pela Lei nº 9.307/96. A opção pelo 
uso da arbitragem é feita pelas partes, com a inserção de cláusula 
compromissória em contrato ou, ainda, por meio do compromisso arbitral, se o 
litígio já tiver ocorrido. Os árbitros que julgam a controvérsia são livremente 
escolhidos pelas partes, em função de sua experiência e conhecimento sobre o 
assunto do litígio. Além dos árbitros, as partes podem escolher as regras de 
direito a serem aplicadas ao processo, bem como o prazo para a sua conclusão. 
O procedimento arbitral é sigiloso e flexível, facilitando o relacionamento entre as 
partes. A sentença arbitral resolve definitivamente o litígio, não estando sujeita a 
recursos ou à homologação pelo Poder Judiciário e, sendo condenatória, permite 
execução forçada contra a parte vencida. 
 
 
Palavras-chave: Arbitragem. Poder Judiciário. Análise econômica do Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
Arbitration is an alternative dispute resolution mechanism of conflicts related to 
rights which the parties may dispose, regulated by Brazilian Law nº 9.307/96. The 
option for the use of arbitration is made by the parties, either by inserting an 
arbitration clause into their contracts, or by signing an arbitration agreement upon 
the occurrence of the dispute. The arbitrators are selected by the parties, based 
on their experience and expertise on the matter of the dispute. The parties may 
also choose the rules of law applicable to the proceedings, as well as the term 
within which the award must be given. The arbitral proceedings are confidential 
and flexible, facilitating the relationship between the parties. The arbitral award 
solves the conflict at once and is not subject to an appeal or ratification by the 
judicial courts, which allows for the direct enforcement of the award against the 
losing party. 
 
 
Key words: Arbitration. Judicial Courts. Economic analysis of law. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
Anoreg Associação Nacional dos Notários e Registradores 
Anp Agência Nacional do Petróleo 
Ccee Câmara de Comercialização de Energia Elétrica 
CCI Câmara de Comércio Internacional 
CF Constituição Federal 
CNJ Conselho Nacional de Justiça 
CPC Código de Processo Civil 
ECT Economia dos Custos de Transações 
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais 
IBAPE-MG Instituto Mineiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de 
Minas Gerais 
IE-SP Instituto de Engenharia de São Paulo 
NCC Novo Código Civil 
PJ Poder Judiciário 
PL Projeto de lei 
Ppp Parceria Público-Privada 
SINDCALGE-MG Sindicato da Indústria de Cal e Gesso do Estado de Minas 
Gerais 
SINDUSCON-MG Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais 
STF Supremo Tribunal Federal 
TCT Teoria dos Custos de Transação 
UNCITRAL Lei Modelo da Comissão das Nações Unidas para o 
desenvolvimento do Comércio Internacional 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO1 
 
 
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 10 
 
2 ARBITRAGEM............................................................................................ 12 
2.1 Arbitragem e jurisdição............................................................................. 12 
2.2 Conceito................................................................................................... 18 
2.3 Precedentes históricos............................................................................. 22 
2.4 Natureza jurídica da arbitragem............................................................... 26 
2.5 Limites estabelecidos para o procedimento arbitral................................. 28 
 
3 CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM.............................................................. 32 
3.1 Cláusula compromissória......................................................................... 33 
3.1.1 Conceito................................................................................................ 33 
3.1.2 Cláusula compromissória cheia e cláusula compromissória vazia....... 33 
3.1.3 Forma da cláusula compromissória: Convenção de Nova Iorque......... 36 
3.1.4 Execução da cláusula compromissória................................................. 36 
3.1.5 A autonomia da cláusula compromissória............................................. 38 
3.2 Compromisso arbitral............................................................................... 39 
3.3 Termo de arbitragem................................................................................ 41 
 
4 ARBITRAGEM EM CONTRATOS: ANÁLISE ECONÔMICA...................... 43 
4.1 Direito e Economia................................................................................... 43 
4.2 Função social e boa-fé objetiva............................................................... 44 
4.3 Teoria Econômica dos Contratos............................................................. 46 
4.4 Tratados internacionais, princípios e normas jurídicas relacionados aos 
aspectos econômicos.....................................................................................
 
49 
4.4.1 Convenção de Nova Iorque................................................................... 50 
4.4.2 Princípio da eficiência........................................................................... 53 
4.5 Instituições jurídicas................................................................................. 54 
4.6 Teoria dos Custos de Transação (TCT)................................................... 57 
 
 
1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas. 
 
4.7 Cláusula de Arbitragem: ferramenta de minimização dos custos de 
transação dos contratos................................................................................. 
 
60 
 
5 RESULTADO DA PESQUISA DE CAMPO................................................ 65 
 
6 CONCLUSÃO.............................................................................................. 68 
 
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 70 
 
APÊNDICE E ANEXO....................................................................................74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 10
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O presente trabalho busca analisar o instituto arbitral sob o enfoque da 
análise econômica do Direito. 
Tem-se notado que o Poder Judiciário não se mostra eficiente para 
solucionar os conflitos que estão surgindo, principalmente na esfera do Direito 
Empresarial. A crise do judiciário está relacionada ao baixo número de juízes, que 
possuem assoberbada carga de trabalho, o que gera congestionamento do 
sistema e morosidade na prestação jurisdicional. 
O fenômeno chamado globalização trouxe nova roupagem para as 
relações nacionais e internacionais, requerendo que os conflitos advindos dessas 
relações sejam resolvidos em tempo exíguo. A celeridade tornou-se necessária. 
Nesse contexto, destaca-se a arbitragem, por ser um procedimento eficaz, que é 
conduzido por especialistas na matéria em litígio. 
Com o advento da Lei 9.307/96 (ANEXO A), o conceito de jurisdição teve 
que se modernizar. A referida lei atribuiu jurisdição ao procedimento arbitral e à 
função exercida pelo árbitro, uma vez que estabeleceu que o árbitro é juiz de fato 
e de direito e equiparou a sentença arbitral à sentença judicial. Com isso, a 
jurisdição não é mais vista como o poder do Estado de dizer o direito, não é 
monopólio estatal, podendo os demandantes se valer da jurisdição privada. 
A Lei de Arbitragem inovou-se em dois aspectos importantes: atribuiu 
execução específica à cláusula compromissória e previu a desnecessidade de 
homologação prévia da sentença arbitral doméstica. 
Em matéria de arbitragem internacional, busca-se firmar tratados 
internacionais para melhor disciplinar o instituto arbitral. A Convenção de Nova 
Iorque, de 1958, promulgada no Brasil em 2002 por meio do Decreto 4.311, é a 
mais importante das Convenções já firmadas até os dias de hoje. Assinada por 
mais de 140 países, a Convenção de 1958 trata do reconhecimento e execução 
de sentenças arbitrais estrangeiras. 
Para analisar, sob uma perspectiva econômica, as vantagens 
proporcionadas pela arbitragem, há que se estudar o diálogo entre o Direito e a 
 11
Economia, a Teoria Econômica dos Contratos e os princípios e normas com 
repercussão econômica. 
Faz-se aqui breve estudo das mudanças advindas do Novo Código Civil 
acerca dos contratos. É feita análise crítica dos princípios da boa-fé objetiva e da 
função social que norteiam, nesse novo cenário, a formação e a interpretação dos 
contratos. 
O presente trabalho avalia os fatores supramencionados, para, 
posteriormente, adentrar na esfera dos custos de transação e dos benefícios da 
arbitragem em face do Poder Judiciário. 
Vários fatores influenciam as pessoas e as empresas a optarem pela 
utilização ou não da arbitragem, tais como questões culturais, insegurança de 
usar um instituto “novo” no ordenamento jurídico brasileiro, resistência dos 
advogados e falta de conhecimento. 
O objetivo principal é demonstrar a importância da arbitragem para o 
desenvolvimento econômico de um país. 
As reflexões apresentadas neste trabalho têm, ainda, o intuito de contribuir 
para o melhor aperfeiçoamento da arbitragem no Brasil, tendo em vista a 
repercussão das instituições jurídicas na performance econômica do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12
2 ARBITRAGEM 
 
 
2.1 Arbitragem e jurisdição 
 
Muito já se discutiu sobre a definição de jurisdição e a existência ou não de 
atividade jurisdicional na arbitragem. 
Para alguns, a jurisdição é um monopólio estatal e somente poderá ser 
exercida pelo Estado, a partir da atividade dos juízes togados. 
É o que entende Giuseppe Chiovenda2: 
 
Pode definir-se a jurisdição como a função do Estado que tem por 
escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, 
pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de 
outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no 
torná-la, praticamente, efetiva. 
 
Nesse sentido, José Frederico Marques3 afirma: 
 
A jurisdição é a aplicação do direito objetivo em relação a uma 
pretensão. Inserindo-se no processo como função central na composição 
do litígio, ela pressupõe a existência deste e incide sobre a pretensão 
que o qualifica. O iudicium do magistrado recai no processo sob a 
pretensão de que, formulada por um dos interessados, dá origem ao 
procedimento. O poder estatal, que lhe pertence, de tornar efetiva a 
vontade concreta da lei tem por objeto essa pretensão. Julgando-a ou 
tomando-a efetiva e satisfeita ou repelindo-a, o juiz dará a cada um o 
que é seu, dizendo, de acordo com o direito objetivo, qual o interesse 
prevalente no conflito que é chamado a compor, em determinado 
processo. 
 
E continua o referido autor afirmando que “o princípio do juiz natural, da 
forma que vem expresso no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, impede que 
outros órgãos do Estado exerçam a função jurisdicional4”. 
Para os que seguem essa linha de raciocínio, a jurisdição é tida como um 
monopólio estatal, traduzindo no poder-dever do Estado de fazer valer o direito, 
 
2 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. 2 ed. Campinas: Bookseller, 
2000, v. II, p. 8. 
3 MARQUES, José Frederico. Instituições de Direito Processual Civil. 1 ed. Campinas: Revista 
do Tribunais - Millennium, 2000, v. I, p. 258. 
4 Op. cit., p. 260. 
 13
tendo como fundamento um princípio constitucional previsto no inciso XXXV, do 
art. 5º. 
Entretanto, tem-se que ter em mente que a jurisdição não é exclusividade 
do Poder Judiciário, uma vez que, em determinadas situações, como se verá 
adiante, a função jurisdicional pode ser exercida por agentes privados. 
O inciso XXXV, do art. 5º, da Constituição Federal, o qual preceitua que “a 
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, 
deve ser entendido como um direito a uma sentença de mérito assegurada pelos 
princípios do contraditório, da ampla defesa, do juiz natural e da isonomia. 
É o que salienta Pedro A. Batista Martins5 ao comentar o referido inciso 
XXXV: 
 
A garantia de acesso é o que se protege, não podendo o Legislativo ou o 
Executivo – destinatários da norma – vedar, compulsoriamente, por lei, o 
direito de qualquer pessoa acionar o Poder Judiciário para a tutela do 
seu direito. 
Contudo, não há empecilho legal de o cidadão, por espontânea vontade, 
optar por dirimir seus conflitos fora da arena judiciária. 
Não há no preceito constitucional, seja explícita ou implicitamente, 
nenhuma vedação que possa levar o intérprete a concluir pela 
impossibilidade de qualquer pessoa resolver suas controvérsias através 
de sujeição à justiça privada. 
Com efeito, se o dispositivo buscasse impor às partes o monopólio da 
justiça pelo Poder Judiciário, não seria viável a utilização do instituto da 
transação – autocomposição – para prevenir ou pôr fim a um litígio. 
 
O princípio constitucional em questão não deve ser entendido como 
obrigatório, pelo contrário, é uma faculdade que as partes possuem, podendo 
convencionar o meio pelo qual resolverão a controvérsia. A Constituição não 
impede que as partes escolham particulares para julgarem uma demanda de 
cunho privado. Necessário se faz, portanto, modernizar o conceito de jurisdição. 
Fredie Didier Jr.6 afirma que: 
 
 
 
 
 
5 MARTINS, Pedro A. Batista; LEMES, Selma M. Ferreira; CARMONA, Carlos Alberto. Aspectos 
fundamentais da lei de arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 23. 
6 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e processode 
conhecimento. 8 ed. Salvador: Edições JusPODIVM, 2007, v. I, p. 73. 
 14
Muito embora a jurisdição não seja função exclusiva aos órgãos do 
Poder Judiciário, pois induvidosamente há órgãos do Poder Legislativo, 
como o Senado, que podem exercer funções jurisdicionais. Entende-se 
que a atividade jurisdicional é monopólio do Estado. 
Com a remodelação da arbitragem do direito brasileiro, essa 
característica perdeu prestígio, tendo em vista que, atualmente, 
prevalece a concepção de que a arbitragem é atividade jurisdicional, com 
a diferenciação apenas quanto ao elemento confiança, que preside a 
arbitragem, estando ausente na jurisdição estatal, cujo órgão não pode 
ser escolhido pelas partes e cuja sentença lhes é imposta de forma 
coativa. 
 
Atualmente, tem-se observado a crise do Poder Judiciário brasileiro frente 
à necessidade crescente de se buscar soluções céleres, eficazes e mais técnicas, 
principalmente no que tange aos contratos de sociedade e às relações comerciais 
internacionais. 
A atual crise do judiciário e a consequente demora na prestação 
jurisdicional fazem com que as decisões judiciais tornem-se obsoletas em relação 
ao tempo em que forem proferidas. 
Devido à globalização e seus reflexos, as relações que se estabelecem 
hoje são altamente mutáveis financeiramente, necessitando de procedimentos 
rápidos, eficazes e muitas das vezes sigilosos, defronte a publicidade do processo 
judicial. 
Na arbitragem, além do processo ser confidencial, há mais flexibilidade de 
procedimento e as partes podem escolher as normas procedimentais e a lei a ser 
aplicada no julgamento da controvérsia. 
Para analisar as demandas advindas dessas relações, exige-se acurada 
especialização técnica do julgador. No processo judicial, o magistrado tem que se 
valer de vultosas e demoradas perícias, o que faz com que a marcha processual 
seja lenta. Na arbitragem, o árbitro também pode, quando julgar necessário, 
requerer a realização de perícias7. No entanto, devido à sua efetiva 
especialização e ao seu contato direto com o objeto do litígio, poderá julgar a 
causa com mais precisão. 
Dessa forma, constata-se a procura, cada vez mais acentuada, por meios 
alternativos de soluções de controvérsias, sendo a arbitragem um importante 
instituto nessa área de atuação. 
 
7 Art. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir testemunhas 
e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias, mediante 
requerimento das partes ou de ofício. 
 15
Nota-se que o Poder Judiciário, diante do cenário mundial, traz muita 
insegurança jurídica, principalmente para aqueles que realizam contratos 
comerciais internacionais, favorecendo, assim, o fortalecimento da arbitragem 
para dirimir controvérsias. 
Todavia, para a concreta solidificação da arbitragem no Brasil, é preciso 
acabar com a resistência em relação ao procedimento arbitral, essencialmente no 
que diz respeito à definição de jurisdição. 
É o que bem afirma Joel Dias Figueira Júnior8: 
 
Faz-se mister a realização da difícil tarefa de canalização de múltiplos 
fatores internos e externos em direção a um único quadro de superação 
da crise jurídica e jurisdicional que temos vivido nos últimos tempos, na 
busca de resultados diversificados que se materializem na efetividade e 
efetivação do processo civil através da rápida e eficiente solução de 
conflitos intersubjetivos, coletivos ou difusos dos jurisdicionados. Para 
que obtenhamos êxito concreto com a nova lei, nossas mentalidades 
precisam se adaptar aos novos tempos e às exigências hodiernas, a 
começar pela revisão conceito de jurisdição. 
 
A jurisdição não pode mais ser vista como um monopólio estatal. Esta 
definição não tem mais guarida nos tempos atuais, uma vez que estamos diante 
do robustecimento da jurisdição privada, a partir da arbitragem. 
José Virgílio Lopes Enei9 constata que, após a promulgação da Lei de 
Arbitragem, “passou-se a reconhecer a verdadeira natureza jurisdicional da 
arbitragem, atribuindo-se ao laudo arbitral os efeitos próprios de uma sentença”. 
Pelo estudo feito em torno da Lei 9.307/96, verifica-se que, a partir do seu 
advento, a arbitragem ganhou caráter jurisdicional, o que se pode comprovar pelo 
art. 18, o qual preceitua que “o árbitro é juiz de fato e de direito e a sentença que 
proferir não fica sujeita a recurso ou à homologação pelo Poder Judiciário”, e 
ainda, pelo art. 31, o qual dispõe que “a sentença arbitral produz, entre as partes 
e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do 
Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo”. 
Carlos Alberto Carmona10 assevera que: 
 
 
8 FIGUEIRA JR., Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução. 2 ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1999, p. 110. 
9 ENEI, José Virgílio Lopes. A arbitragem nas sociedades anônimas. São Paulo: Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, n. 129, p. 136-173, janeiro-março, 2003. 
10 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 234. 
 16
A busca de solução para a questão de saber qual a natureza jurídica do 
ato homologatório perdeu o interesse prático no que se refere à 
arbitragem após o advento da nova lei. 
Porém, o debate que a doutrina – sob a égide do Código de Processo 
Cível de 1973 – travou a respeito do tema, com amparo inclusive na lição 
de autores italianos de nomeada, serviu para alicerçar a conclusão de 
que a arbitragem tem mesmo cunho jurisdicional, tudo a amparar o 
sistema adotado pela Lei 9.307/96, que claramente arrola a sentença 
arbitral condenatória entre os títulos executivos judiciais (e não entre os 
extrajudiciais), como dá conta o art. 584, VI, do Estatuto de Processo. 
 
O autor demonstra que a Lei 9.307/96 foi elaborada com o intuito de 
estabelecer caráter jurisdicional à arbitragem. Apesar de posições contrárias, há 
função jurisdicional no procedimento arbitral, ao passo que se pode estabelecer 
relação entre a jurisdição arbitral e a jurisdição estatal. 
Na arbitragem há supressão do conhecimento da demanda pelo Estado, 
sendo que a jurisdição estatal pode comparecer em caráter subsidiário, 
complementar e controlador. 
O caráter subsidiário está relacionado com o apoio que a jurisdição estatal 
presta ao procedimento arbitral, o que é notado quando se faz necessário o uso 
da força, como nos casos de testemunha renitente. 
O complemento de jurisdição realiza-se em questões que surgirem no 
curso da arbitragem, relacionadas a direitos patrimoniais indisponíveis, as quais 
estão submetidas à jurisdição estatal, conforme previsto no art. 25 da Lei 
9.307/9611. 
O caráter controlador revela-se a partir do poder do Estado de dizer sobre 
a validade da sentença arbitral. O art. 32 da Lei de 9612 traz os casos em que a 
sentença arbitral pode ser considerada nula, sendo que a parte que se sentir 
 
11 “Art. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e 
verificando-se que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal 
arbitral remeterá as partes à autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o 
procedimento arbitral. 
Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial e juntada aos autos a sentença ou acórdão 
transitados em julgado, terá normal seguimento a arbitragem.” 
12 “Art. 32. É nula a sentença arbitral se: 
I – for nulo o compromisso; 
II – emanou de quem não podia ser árbitro; 
III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; 
IV – forproferida fora dos limites da convenção de arbitragem; 
V – não decidir todo o litígio submetido à arbitragem; 
VI – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; 
VII – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e 
VIII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei.” 
 17
lesada poderá pleitear a decretação da nulidade da sentença arbitral perante o 
Poder Judiciário, de acordo com o art. 33 da Lei de Arbitragem13. 
Observa-se que o Estado é o guardião do devido processo legal e prestará 
auxílio ao procedimento arbitral quando houver necessidade, visto que o árbitro 
possui jurisdictio, mas não tem o imperium, que é o poder de coerção exclusivo 
do juiz. 
Nessa linha de raciocínio, Carlos Alberto Carmona14 acrescenta: 
 
[...] a arbitragem é um mecanismo extrajudicial de solução de conflitos, 
de tal sorte que a intervenção do Poder Judiciário ou não existirá ou 
então será invocada quando houver necessidade de utilizar a força 
diante de resistência de uma das partes ou de terceiros (condução de 
testemunhas, implementação de medidas cautelares, execução e 
provimentos antecipatórios ou execução de sentença arbitral). 
 
Dessa maneira, procura-se desafogar o Poder Judiciário de demandas que 
podem ser solucionadas por outros meios, possibilitando, assim, mais celeridade 
e eficácia ao sistema judiciário, no que tange às matérias de sua inteira e 
exclusiva competência. 
Nesse sentido, Joel Dias Figueira Júnior constata: 
 
[...] diante da facultatividade concedida aos jurisdicionados para 
buscarem a solução de seus conflitos de interesses de natureza privada, 
tende o Estado-juiz a fortalecer-se gradativamente, à medida que for 
necessariamente provocado quando o litígio versar sobre direitos 
indisponíveis, em que sua atuação é imprescindível em face da natureza 
da relação conflituosa no plano material15. 
 
Percebe-se, então, que é imprescindível fixar o conceito de jurisdição para 
que não pairem dúvidas sobre a constitucionalidade da arbitragem. 
Dos conceitos apresentados, podem-se extrair os elementos que 
constituem a jurisdição, quais sejam: a necessidade de uma lide16, visto que sem 
ela não há motivo para provocar a jurisdição; a presença de um terceiro, o qual irá 
dar solução à demanda que se instalou, sendo que não precisa ser, 
 
13 “Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a 
decretação da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta lei”. 
14 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 53. 
15 FIGUEIRA JR., Joel Dias. Arbitragem: legislação nacional e estrangeira e o monopólio 
jurisdicional. São Paulo: LTr, 1999, p. 22. 
16 Ver, sobre o conceito de lide, as considerações de THEODORO JR., Humberto. Curso de 
Direito Processual Civil. 38. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, v. I, p.30. 
 18
necessariamente, quando a controvérsia versar sobre direito patrimonial 
disponível, um ente estatal; e, por fm, a substituição da vontade das partes, assim 
entendida como a delegação de poderes jurisdicionais a um terceiro estranho à 
relação, para que este profira decisão vinculativa entre as partes. 
Esses elementos formam o conceito de jurisdição, o qual ganhou 
roupagem nova, adequando-se à nova realidade mundial. 
Assim, conforme demonstrado, a Lei da Arbitragem afastou qualquer 
dúvida em relação à forma de jurisdição privado-convencional do instituto arbitral. 
 
 
2.2 Conceito 
 
A definição do que é arbitragem faz-se necessária para que o 
procedimento arbitral não seja confundido com outros institutos, tais como o 
arbitramento, a transação, a conciliação e a mediação17. 
Joel Dias Figueira Júnior18 define o instituto arbitral: 
 
Trata-se de um mecanismo reconhecido internacionalmente pelos povos 
cultos e internamente sistematizado por norma específica, que viabiliza a 
transformação de lides sociológicas em lides jurídicas, as quais serão 
levadas ao conhecimento e decisão de mérito de particulares investidos 
de autoridade decisória e poder jurisdicional, que lhes é outorgado pelas 
próprias partes envolvidas em determinados conflitos de interesses de 
natureza civil ou comercial. 
 
Marcelo Dias Gonçalves Vilela19 chega à conclusão que a arbitragem é 
uma “instituição pela qual, mediante a manifestação da vontade dos litigantes, o 
conflito é dirimido por um terceiro que não represente o Poder Judiciário estatal, 
sendo que tal decisão assume força jurisdicional”. 
Carlos Alberto Carmona20 conceitua: 
 
17 No comércio internacional, tem-se observado a utilização de vários métodos de solução de 
controvérsias, como o factfinding, o ombuds, o baseball (last-offer) arbitration, o minitrial, o 
partnering. Sobre tais meios alternativos, ver os comentários de GARCEZ, José Maria Rossani. 
Técnicas de negociação - resolução alternativa de conflitos: ADRS, mediação, conciliação e 
arbitragem. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002, p. 75. 
18 FIGUEIRA JR., Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. 2. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1999, p. 123. 
19 VILELA, Marcelo Dias Gonçalves. Arbitragem no direito societário. Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2004, p. 41. 
20 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 51. 
 19
A arbitragem – meio alternativo de solução de controvérsias através da 
intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma 
convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção estatal, 
sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença 
judicial – é colocada à disposição de quem quer que seja, para a solução 
de conflitos relativos a direitos patrimoniais acerca dos quais os litigantes 
possam dispor. 
 
Observa-se que a Lei 9.307/96 não estabelece o conceito de arbitragem. 
Porém, traz os elementos formadores do conceito do instituto arbitral em seu art. 
1º, o qual prescreve que “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da 
arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”. Desse 
artigo podem-se extrair informações que formam o conceito de arbitragem, a qual 
pode ser institucional, de acordo com as regras de um órgão arbitral já 
estabelecido, ou ad hoc, criada exclusivamente para o conflito que surgiu. 
Do referido art. 1º da Lei da Arbitragem, percebe-se que se faz necessária 
a existência de uma lide, ou seja, de uma pretensão resistida, para se instituir o 
juízo arbitral. Por isso, a arbitragem não se confunde com o instituto chamado de 
arbitramento, previsto no art. 485 do Código Civil, o qual prevê que um terceiro irá 
escolher o objeto do contrato. Nota-se que não há litígio, a relação contratual 
ainda não foi estabelecida, visto que está pendente do arbítrio do terceiro 
escolhido pelas partes. Na arbitragem, o negócio jurídico está perfeito e acabado, 
versando a controvérsia justamente sobre seu cumprimento. 
É também chamado de arbitramento o procedimento previsto no art. 475-C 
do Código de Processo Civil, o qual prevê a liquidação de sentença por 
arbitramento. Tal procedimento decorre de situações21 que exigem conhecimento 
técnico para dar liquidez à sentença. Desta feita, nomear-se-ão peritos. 
Desses conceitos, verifica-se que para a instauração da arbitragem é 
imprescindível a presença de um terceiro que não seja um ente estatal. Assim, a 
arbitragem não se confunde com a transação, em que não há a intervenção de 
um terceiro. 
Humberto Theodoro Júnior22 define transação da seguinteforma: 
 
 
21 “São exemplos de arbitramento: estimativa de desvalorização de veículos acidentados de lucros 
cessantes por inatividade de pessoa ou serviços, de perda parcial da capacidade laborativa, etc.”. 
(THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 34. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2003, v. II, p. 91). 
22 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 38. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2002, v. I, p. 289. 
 20
É, como o reconhecimento do pedido, forma de autocomposição da lide, 
que dispensa o pronunciamento do juiz sobre o mérito da causa. A 
intervenção do juiz é apenas para verificar a capacidade das partes, a 
licitude do objeto e a regularidade formal do ato, integrando-o, afinal, ao 
processo se o achar em ordem. 
 
Dessa forma, observa-se que, na transação, as partes, sem a interferência 
de um terceiro, chegam a um acordo. 
Na mediação e na conciliação, a presença do terceiro representa apenas 
um auxílio para as partes resolverem o conflito, ele não decide pelos litigantes, 
não há substituição de vontade. 
José Maria Rossani Garcez23 esclarece que na mediação “um terceiro, 
imparcial, auxilia as partes a chegarem, por elas próprias, a um acordo entre si, 
através de um processo estruturado”. 
Em relação à conciliação, constata-se que há mais interferência do terceiro. 
É o que verifica Joel Dias Figueira Júnior24: 
 
[...] na conciliação, o terceiro imparcial chamado a mediar o conflito, o 
conciliador, não só aproxima as partes, como ainda realiza atividades de 
controle das negociações, aparando as arestas porventura existentes, 
formulando propostas, apontando as vantagens ou desvantagens, 
buscando sempre facilitar e alcançar a autocomposição. 
 
As propostas do mediador e do conciliador não vinculam as partes, que 
podem ou não adotá-las. A diferença entre a mediação e a conciliação é muito 
tênue, estando a distinção na intensidade da intervenção do terceiro. 
A sentença arbitral é vinculativa, obriga as partes a cumpri-la, posto que o 
árbitro é equiparado ao juiz, sendo a decisão arbitral equivalente à sentença 
judicial. 
É o que ensina Irineu Strenger25: 
 
A arbitragem é instância jurisdicional praticada em função de regime 
contratualmente estabelecido, para dirimir controvérsias entre pessoas 
de direito privado e/ou público, com procedimentos próprios e força 
executória perante tribunais estatais. 
 
 
23 GARCEZ, José Maria Rossani. Técnicas de negociação - resolução alternativa de conflitos: 
ADRS, mediação, conciliação e arbitragem. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002, p. 53. 
24 FIGUEIRA JR, Joel Dias. Arbitragem: legislação nacional e estrangeira e o monopólio 
jurisdicional. São Paulo: LTr, 1999, p.31. 
25 STRENGER, Irineu. Comentários à lei brasileira de arbitragem. São Paulo: LTr, 1998, p. 17. 
 21
Extrai-se, desse trecho, o caráter jurisdicional da arbitragem e a 
consequente força vinculativa da sentença proferida pelo árbitro. 
Outro ponto a ser mencionado no que diz respeito à definição de 
arbitragem é o acordo de vontades. Para a concreta formação do juízo arbitral, é 
indispensável a convenção das partes no sentido de renunciarem à jurisdição 
estatal, optando por um meio alternativo de soluções de controvérsias. 
O nosso Código Comercial de 185026 previa que a arbitragem seria 
obrigatória nos casos que envolvessem contratos de sociedade, o que é, 
atualmente, inconstitucional, diante do princípio previsto no inciso XXXV, art. 5º, 
da Constituição Federal. A escolha pelo procedimento arbitral é sempre 
voluntária, uma vez que a autonomia da vontade das partes tem que ser 
respeitada. No Brasil, a arbitragem obrigatória foi abolida em 1866. 
Vale ressaltar que a renúncia ao juízo estatal só pode existir em relação a 
direitos patrimoniais disponíveis. “Nem todos os litígios possuem uma natureza 
que permita a resolução via jurisdição arbitral. O legislador é quem delimita as 
matérias que fazem parte do domínio arbitral”27. 
Trilha nessa linha de raciocínio a constatação de Carlos Alberto 
Carmona28: 
 
De maneira geral, não estão no âmbito do direito disponível as questões 
relativas ao direito de família – e em especial ao estado das pessoas 
(filiação, pátrio poder, casamento e alimentos) – aquelas atinentes ao 
direito de sucessão, as que têm por objeto as coisas fora do comércio, 
as obrigações naturais, as relativas ao direito penal, entre tantas outras, 
já que ficam estas matérias todas fora dos limites em que pode atuar a 
autonomia da vontade dos contendentes. 
 
Como se vê, a arbitrabilidade determina a capacidade de ser parte, vez que 
diz respeito ao direito material em conflito. 
O direito patrimonial é a capacidade do titular de dispor livremente do bem, 
sendo que a questão de ser disponível ou não decorre da lei ou de contrato. 
 
26 “Art. 294. Todas as questões sociais que se suscitarem entre os sócios durante a existência da 
sociedade ou companhia, sua liquidação ou partilha, serão decididas em juízo arbitral.” 
27 LEE, João Bosco. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul. Curitiba: 
Juruá, 2002, p. 51. 
28 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 56. 
 22
A capacidade de estar em juízo diz respeito à situação que autoriza uma 
pessoa a atuar, sem a necessidade de ser representada ou assistida, na defesa 
de seus interesses. 
Contudo, “considerando-se que a instituição de juízo arbitral pressupõe a 
disponibilidade do direito, não podem instaurar processo arbitral aqueles que 
tenham apenas poderes de administração, bem como os incapazes29”. 
Feitas tais considerações, conclui-se que a arbitragem é um procedimento 
instituído a partir de uma convenção, sendo qualificada como um meio alternativo 
de soluções de controvérsias, as quais dizem respeito a direitos patrimoniais 
disponíveis, levando-se em conta o poder jurisdicional da decisão proferida. 
 
 
2.3 Precedentes históricos 
 
A arbitragem não é um instituto recente, pois, segundo os comentários de 
José Virgílio Lopes Enei30, “no que diz respeito à arbitragem internacional, 
historiadores registram seu emprego para solução de controvérsias entre cidades-
estado da Babilônia cerca de 3.000 anos antes de Cristo”. 
Entretanto, constata-se que é no Direito Romano que se encontram as 
raízes mais profícuas da arbitragem31. 
A evolução da arbitragem no Brasil remonta à Constituição Imperial de 
1824, que dispunha, no seu art. 160: “Nas causas cíveis e nas penais civilmente 
intentadas, poderão as partes nomear árbitros. Suas sentenças são executadas 
sem recurso, se assim o convencionarem as partes”32. 
Joel Dias Figueira Júnior33 relata: 
 
 
 
 
29 Op. cit., p. 55. 
30 ENEI, José Virgílio Lopes. A arbitragem nas sociedades anônimas. São Paulo: Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, n. 129, p. 136-173, janeiro-março, 2003. 
31 Cf. FIGUEIRA JR., Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução. 2. ed., São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 1999, p. 25. 
32 Cf. ROSSI, Lívia. A arbitragem na lei das sociedades anônimas. São Paulo: Revista de Direito 
Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, n. 129, p. 186-205, janeiro-março, 2003. 
33 Op. cit., p. 32. 
 23
A obrigatoriedade de instituição do juízo arbitral para as demandas que 
envolvessem seguro e locação ocorreu através das Leis de 1831 e 1837, 
ampliando-se com o advento do Código Comercial, em 1850, para 
abranger todas as controvérsias de natureza mercantil. Por sua vez, os 
processos pertinentesa essas causas passaram, a partir de 25.11.1850, 
a ser disciplinados pelo Regulamento 737 (art. 411 et seq.), que fazia 
distinção entre arbitragem voluntária e necessária. 
 
O Código Comercial de 1850 previa a arbitragem obrigatória para 
controvérsias oriundas de contratos de sociedade. A arbitragem forçada sofreu 
várias críticas, sendo revogada pela Lei nº 1.350/1866, a qual determinou a 
arbitragem facultativa. 
O Código de Processo Civil de 1939 tratou do instituto arbitral nos seus 
artigos 1.031 a 1.046. 
O Código Civil (Lei 3.071/16) dispunha sobre a necessidade de 
homologação do laudo arbitral pelo Poder Judiciário, disciplinando o procedimento 
arbitral nos artigos 1.037 a 1.048. Com isso, a celeridade desejada pelas partes, 
quando da escolha do instituto arbitral, era obstada pela necessidade de 
homologação judicial, tendo em vista a morosidade da justiça estatal. 
Além da necessidade de homologação da decisão arbitral, o Código de 
1916 não tratou da cláusula compromissória, que era tida como simples promessa 
de contratar, sendo que o seu inadimplemento se resolveria em perdas e danos. 
 O Código de Processo Civil de 1973 pouco inovou, tratando da arbitragem 
nos seus artigos 1.072 a 1.096; não fez menção alguma à cláusula 
compromissória e manteve a necessidade de homologação judicial do laudo 
arbitral. 
Por essas razões, a arbitragem foi caindo em desuso. 
Nesse sentido, Carlos Alberto Carmona34 salienta: 
 
Basicamente, eram dois os grandes obstáculos que a lei brasileira criava 
para a utilização da arbitragem: em primeiro, o legislador simplesmente 
ignorava a cláusula compromissória (o Código Civil de 1916 e o Código 
de Processo Civil não exibiam qualquer dispositivo a esse respeito); 
depois, o diploma processual, seguindo a tradição de nosso direito, 
exigia a homologação judicial do laudo arbitral. 
 
Passou-se a perceber, então, a necessidade de melhor disciplinar o 
instituto arbitral, garantindo-lhe mais segurança e efetividade. 
 
34 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 22. 
 24
É o que leciona João Bosco Lee35: 
 
[...] no começo dos anos 80, o governo brasileiro se engajou num 
movimento de reforma da legislação sobre a arbitragem. Três 
anteprojetos de lei foram elaborados, mas tiveram sucessivamente o 
mesmo destino, o esquecimento. Finalmente, em 1992, um projeto foi 
apresentado pelo Senador Marco Maciel ao Senado brasileiro. E após 
quatro anos de espera, o Brasil foi dotado de uma nova lei sobre 
arbitragem, a Lei 9.307/96 de 23.09.1996, publicada no Diário Oficial de 
24.09.1996. 
 
Com a promulgação da Lei 9.307/96, os dispositivos do Código Civil de 
1916 e normas do Código de Processo Civil que tratavam do procedimento 
arbitral foram revogados. 
A arbitragem ganhou força, sendo revigorada pelas inovações trazidas pela 
Lei de Arbitragem. As duas grandes vantagens percebidas com o advento dessa 
Lei dizem respeito à cláusula compromissória e à desnecessidade de 
homologação da decisão arbitral. 
A cláusula compromissória passou a ser tratada como negócio jurídico, de 
acordo com o disposto no art. 104 do Código Civil36. 
 A Lei 9.307/96 equiparou a cláusula compromissória ao compromisso 
arbitral, conforme dispõe o art. 3º: “as partes interessadas podem submeter a 
solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim 
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral”. 
O desrespeito à cláusula compromissória comporta execução específica. 
As partes são obrigadas a cumpri-la, tendo em vista o seu efeito vinculante. Uma 
vez eleita a arbitragem para resolver eventuais controvérsias relacionadas a 
determinado contrato, afasta-se a competência do judiciário para julgar o mérito 
do litígio. 
A Lei de Arbitragem também equiparou a decisão arbitral à sentença 
judicial, atribuindo-lhe força de título executivo. Em verdade, a executoriedade do 
laudo arbitral já existia. O que de fato ocorreu foi a desnecessidade de 
homologação prévia do laudo para a obtenção de eficácia da decisão. 
 
35 LEE, João Bosco. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul. Curitiba: 
Juruá, 2002, p. 45. 
36 “Art.104. A validade do negócio jurídico requer: 
I – agente capaz; 
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
III – forma prescrita ou não defesa em lei.” 
 25
Expressivo avanço no tocante à arbitragem foi a promulgação da 
Convenção de Nova Iorque no Brasil, a qual dispõe sobre o reconhecimento e a 
execução de sentenças arbitrais estrangeiras. 
Vale acrescentar que, em 30 de abril de 2004, foi publicado o acórdão37 
proferido pelo Supremo Tribunal Federal, que julgou e admitiu a 
constitucionalidade da arbitragem frente ao princípio do livre acesso ao judiciário 
(art. 5º, XXXV, CF/88). 
Assim, após percorrer longo caminho no Congresso Nacional, enfrentar 
inúmeras dificuldades e esperar quatro anos para ser aprovada, a Lei de 
Arbitragem completou, em 2009, 13 anos de vigência - importante conquista que 
proporcionou significativa integração do sistema jurídico brasileiro no cenário 
comercial mundial. 
Nesse período de 13 anos da Lei 9.307/96, a legislação brasileira foi 
modernizada para garantir segurança jurídica e credibilidade à arbitragem. 
Verifica-se que houve referência específica à arbitragem em vários 
diplomas legais, como, por exemplo, no âmbito do direito societário, a partir da Lei 
10.303/01, que modificou o § 3º do art. 109 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei 
6.404/76)38, o qual prevê a possibilidade de inserção da cláusula compromissória 
no estatuto das sociedades. 
Várias leis autorizam expressamente a adoção da arbitragem para solução 
de conflitos com a Administração Pública (Lei 11.079/04 – PPPs – parcerias 
público-privadas39; Lei 10.848/04 - Câmara de Comercialização de Energia 
Elétrica (CCEE)40; Lei 10.233/01 - Reestruturação dos transportes aquaviário e 
 
37 Agravo Regimental em sentença estrangeira n. 5.206, Reino da Espanha, Rel. Ministro 
Sepúlveda Pertence; Agte.: MBV Comercial and Export Management Establishment; Agdo.: Resil 
Indústria e Comércio Ltda. Julgamento: 12/12/01. Acórdão publicado em 30/4/2004. 
38 “Art. 109. [...] 
§ 3º. O estatuto da sociedade pode estabelecer que as divergências entre acionistas e a 
companhia, ou entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários, poderão ser 
solucionadas mediante arbitragem, nos termos em que especificar.” 
39 “Art. 11 [...] III – o emprego dos mecanismos privados de resolução de disputas, a ser realizada 
no Brasil, e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307/96, para dirimir conflitos decorrentes 
ou relacionados ao contrato.” 
40 “Art. 4o [...] § 5o As regras para a resolução das eventuais divergências entre os agentes 
integrantes da CCEE serão estabelecidas na convenção de comercialização e em seu estatuto 
social, que deverão tratar do mecanismo e da convenção de arbitragem, nos termos da Lei 9.307, 
de 23 de setembro de 1996.” 
 26
terrestre41; Lei 9.478/97 - ANP - Agência Nacional do Petróleo42; Lei 9.472/97 - 
organização dos serviços de telecomunicações, criação e funcionamento de um 
órgão regulador43; Lei 8.987/95 – Concessões44). 
Além da legislação, vários livros e artigos foram escritos, conferências e 
seminários estão sendo realizados com o objetivo de difundir a cultura arbitral no 
Brasil. 
O instituto arbitral teve crescimento bastante relevante, sendo utilizado em 
vários setores da economia, principalmente de petróleo e gás, energia elétrica, 
automobilísticoe de seguros - setores esses que o Estado se mostra bastante 
ineficiente em relação à prestação jurisdicional. 
Nota-se, então, que a arbitragem ganhou espaço e eficácia com o advento 
da Lei 9.307/96. Apesar de o instituto arbitral permanecer em constante ameaça 
por projetos de lei45 que distorcem a arbitragem, os 13 anos da Lei de Arbitragem 
devem ser comemorados com muito afinco pela sociedade brasileira. 
 
 
2.4 Natureza jurídica da arbitragem 
 
Muito se tem discutido sobre a natureza jurídica da arbitragem. Formaram-
se três correntes a esse respeito: a contratualista, a publicista e a intermediária. 
 
41 “Art. 35. O contrato de concessão deverá refletir fielmente as condições do edital e da proposta 
vencedora e terá como cláusulas essenciais as relativas a: [...] XVI – regras sobre solução de 
controvérsias relacionadas com o contrato e sua execução, inclusive a conciliação e a arbitragem.” 
42 “Art. 20. O regimento interno da ANP disporá sobre os procedimentos a serem adotados para a 
solução de conflitos entre agentes econômicos e entre estes e usuários e consumidores, com 
ênfase na conciliação e no arbitramento. 
Art. 43. [...] X - as regras sobre solução de controvérsias, relacionadas com o contrato e sua 
execução, inclusive a conciliação e a arbitragem internacional.” 
43 “Art. 93. O contrato de concessão indicará [...] XV - o foro e o modo para solução extrajudicial 
das divergências contratuais.” 
44 “Art. 23-A. O contrato de concessão poderá prever o emprego de mecanismos privados para a 
resolução de disputas decorrentes ou relacionadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser 
realizada no Brasil e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307/96” (Incluído pela Lei 
11.196/05). 
45 Exemplificando, o PL 4891/2005, que regula o exercício das profissões de árbitro e mediador. 
Não existe a profissão de árbitro. O árbitro não é arbitro e sim está arbitro. Seu papel acaba assim 
que a arbitragem é encerrada. Outra aberração é o projeto de Lei (PL – 5243/2009) elaborado pela 
Associação Nacional dos Notários e Registradores (Anoreg-Br), encaminhado ao Congresso, que 
visa à alteração do artigo 13 da Lei 9.307, de setembro de 1996. Pelo texto, "poderá ser árbitro 
qualquer pessoa capaz, ainda que titular de delegação do Poder Público, e que tenha a confiança 
das partes". A única ressalva prevista fica para as causas envolvendo interesses da 
administração. Para esses casos, notários e registradores não poderão arbitrar (Fonte: Jornal do 
Comércio do Rio de Janeiro, 04 de junho de 2009). 
 27
As duas primeiras preocupam-se com certo momento da arbitragem, uma dando 
maior enfoque à convenção e a outra ressaltando a finalidade do instituto. 
Para a corrente contratualista, a arbitragem tem caráter de ato privado, é 
um contrato entre as partes que deve ser regido pelas normas extraídas do direito 
das obrigações. Essa corrente considera que a arbitragem é despida de jurisdição 
e, consequentemente, o laudo arbitral não é equiparado a uma sentença judicial, 
sendo considerado título executivo extrajudicial. 
Os contratualistas atribuem mais importância à origem da arbitragem, 
relacionam todo o procedimento arbitral à convenção de arbitragem, a qual está 
dentro da esfera contratual. Não concordam com a ideia de que a arbitragem tem 
caráter de jurisdição, nem que a função que o árbitro exerce tenha cunho 
jurisdicional. Consideram o instituto arbitral como um simples pacto de vontade 
entre as partes demandantes. “Veem na arbitragem o produto de um mero acordo 
das partes, sem qualquer conotação jurisdicional”46. 
Entretanto, tal corrente encontra dificuldade em explicar a desnecessidade 
de homologação do laudo arbitral, prevista no art. 18 da Lei de Arbitragem47. 
Já os publicistas atribuem jurisdição à arbitragem e equiparam a sentença 
arbitral à sentença judicial. No entanto, não levam em conta o caráter contratual 
da arbitragem, deixando em segundo plano a vontade das partes. 
José Eduardo Carreira Alvim considera “publicistas ou processualistas os 
que sustentam o caráter verdadeiramente jurisdicional da arbitragem, vendo nela 
uma atividade que viceja ao lado da jurisdição estatal, com idêntica finalidade”48. 
Os publicistas observam apenas o procedimento arbitral, preocupam-se 
com a finalidade da convenção, que é de caráter jurisdicional. Esquecem-se de 
observar a importância da vontade das partes no momento de suprimir o 
conhecimento da demanda pelo Poder Judiciário. 
A corrente intermediária busca conciliar as duas posições. Considera a 
natureza contratual da arbitragem na sua origem e a natureza jurisdicional na 
finalidade do procedimento arbitral. 
 
46 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tratado geral da arbitragem (interno). Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2000, p. 60. 
47 “Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso 
ou à homologação pelo Poder Judiciário.” 
48 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tratado geral da arbitragem (interno). Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2000, p. 60. 
 28
Atualmente, a tendência é adotar a natureza mista da arbitragem, uma vez 
que, não obstante a Lei 9.307/96 ter atribuído caráter jurisdicional à arbitragem, 
não se pode afastar a natureza contratual do instituto, posto que a vontade é 
pressuposto indispensável para a formação do juízo arbitral. 
É o que confirma Marcelo Dias Gonçalves Vilela49: 
 
Não se pode, assim, aquartelar a natureza jurídica da arbitragem 
reduzindo-a a um de seus traços caracterizadores, contratual na origem 
(formação) e jurisdicional na finalidade (resultado), devendo assim 
admitir-se sua natureza híbrida ou mista. Isto porque a contratualidade e 
a jurisdicionalidade deverão funcionar como verdadeiros pêndulos no 
estudo e na utilização do instituto, demandando ao jurista o 
conhecimento da teoria geral das obrigações e dos contratos e da teoria 
geral do processo para enfrentar as questões e afastar eventuais 
perplexidades da utilização da própria arbitragem. 
 
Como se vê, as duas correntes opostas são bastante radicais. Admitir a 
natureza mista da arbitragem é aproveitar o que se tem de melhor em cada 
esfera. A corrente intermediária estabelece equilíbrio entre o público e o privado, 
o que resulta em melhor performance da arbitragem. 
 
 
2.5 Limites estabelecidos para o procedimento arbitral 
 
O cerne da arbitragem está na autonomia das partes, posto que o instituto 
arbitral somente é instaurado mediante a livre manifestação de vontade das 
partes. No entanto, essa liberdade tem seus limites impostos pela lei e pelos 
princípios constitucionais. 
Cândido Rangel Dinamarco50 afirma que há: 
 
 
 
 
 
 
49 VILELA, Marcelo Dias Gonçalves. Arbitragem no direito societário. Belo Horizonte: 
Mandamentos, 2004, p. 46. 
50 DINAMARCO, Cândido Rangel. Limites da sentença arbitral e de seu controle jurisdicional. In: 
MARTINS, Pedro A. Batista; ROSSANI GARCEZ, José Maria (coord). Reflexões sobre 
arbitragem: in memoriam do Desembargador Cláudio Vianna de Lima. São Paulo: LTr, 2002, p. 
328. 
 29
[...] plena incidência, sobre o processo arbitral, dos princípios e garantias 
constitucionais inerentes à tutela constitucional do processo. Quando se 
pensa no acesso à justiça, que é a magna condensação de todas as 
garantias constitucionais do processo, hoje é imperioso incluir nesse 
pensamento as aberturas para a tutela jurisdicional pela via da 
arbitragem, como alternativa às vias estatais. Quando se pensa no 
contraditório e na ampla defesa, deve-se pensar na participação dos 
sujeitos processuais no processo estatal e no arbitral também. Quando, 
enfim,se pensa no due process of law como princípio tutelar da 
observância de todos os demais princípios, não se pode excluir o devido 
processo legal arbitral como fonte de tutelas jurisdicionais justas e 
instrumento institucionalizado de pacificação social. 
 
 Verifica-se que as garantias constitucionais não desaparecem na 
arbitragem, uma vez que “serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os 
princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e 
de seu livre convencimento”, conforme dispõe o § 2º do art. 21 da Lei 9.307/96. 
A Lei de 1996 também previu limites para a escolha das regras que irão 
compor a arbitragem. É o que está previsto no seu art. 2º, § 1º: 
 
“Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das 
partes. 
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que 
serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons 
costumes e à ordem pública. (grifo nosso). 
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se 
realize com base nos princípios gerais do direito, nos usos e costumes e 
nas regras internacionais de comércio.” 
 
As partes podem optar pela arbitragem por equidade, que é aquela julgada 
de acordo com o espírito de justiça do árbitro ou do tribunal arbitral. Entretanto, o 
referido sentimento de justiça do árbitro esbarra nos limitadores da arbitragem: os 
bons costumes e a ordem pública. 
O termo bons costumes diz respeito às regras sob as quais vivem os 
indivíduos de determinada sociedade, estabelecendo o modo de vida e como 
deve ser entendido o conceito de ética e moral. 
Carlos Alberto Carmona51 preleciona: 
 
 
 
 
51 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 79. 
 30
A expressão bonimores – bons costumes – servia para indicar o 
complexo de regras e princípios impostos pela moral que traçavam a 
norma de conduta dos indivíduos em suas relações domésticas e 
sociais. Em última análise, pode-se dizer que a expressão continua hoje 
a expressar, genericamente, a honestidade e o recato que se espera das 
pessoas, bem com a dignidade e o decoro social. 
 
Percebe-se que a lei de arbitragem estabelece que o procedimento arbitral 
não pode fugir do que é considerado ideal para a harmonia da sociedade. 
Para melhor entendimento da norma em questão, os bons costumes têm 
que ser interpretados em conjunto com a expressão ordem pública. 
Para Irineu Strenger52, ordem pública é “um conjunto de princípios, implícita 
ou explicitamente conhecidos na ordenação jurídica, que, considerados 
fundamentais, impõem-se imperativamente, excluindo qualquer validade a 
relações jurídicas volitivas que lhes sejam contrárias”. 
A ordem pública leva em consideração dois fatores que a caracterizam: os 
valores, que são construídos por cada sociedade de acordo com a forma com que 
vive seu povo e seus princípios; e o momento, relacionado com o fator tempo, que 
é de grande relevância para a análise da ordem pública, posto que os valores de 
uma sociedade hoje não são os mesmos de 30 anos atrás. 
Nota-se, então, que o legislador estabeleceu limites à autonomia da 
convenção arbitral, o que deve ser observado para que não prejudique a decisão 
proferida pelo árbitro. 
Carlos Alberto Carmona53, assim, adverte: 
 
Sendo considerada inadmissível a escolha das partes relativamente às 
regras de direito a serem aplicadas pelo árbitro, por violação à ordem 
pública, considerará este ineficaz a escolha, procedendo ao julgamento 
com a aplicação das normas que entender adequadas, sem que a 
ineficácia da escolha da lei afete a validade do pacto arbitral. Se tocar ao 
juiz resolver a questão, este limita-se a recusar eficácia à escolha das 
partes (negando-se a aplicar ou efetivar as consequências decorrentes 
da aplicação da lei estrangeira). Por fim, se a sentença arbitral for 
proferida com violação à ordem pública, será o caso de anulá-la no 
termos e na forma da Lei de Arbitragem. 
 
 
52 STRENGER, Irineu. Comentários à lei brasileira de arbitragem. São Paulo: LTr, 1998, p. 23. 
53 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 81. 
 31
 Dessa forma, faz-se necessária muita cautela ao escolher as normas que 
irão reger a arbitragem, visto que a sentença arbitral poderá ser anulada com 
base na alegação de violação à ordem pública e aos bons costumes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 32
3 CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM 
 
 
A convenção de arbitragem é gênero da qual são espécies o compromisso 
arbitral e a cláusula compromissória. 
A Lei 9.307/9654 equiparou a cláusula compromissória ao compromisso 
arbitral, estabelecendo, dessa forma, que a convenção de arbitragem pode ser 
celebrada por meio de qualquer um dos referidos pactos. Ambos são aptos a 
afastar a competência do judiciário para julgar a demanda. 
A Convenção de Nova Iorque, promulgada por intermédio do Decreto 4.311 
de 23.7.2002, prevê em seu art. 2º que: 
 
Cada Estado signatário deverá reconhecer o acordo escrito pelo qual as 
partes se comprometem a submeter à arbitragem todas as divergências 
que tenham surgido ou que possam vir a surgir entre si no que diz 
respeito a um relacionamento jurídico definido, seja ele contratual ou 
não, com relação a uma matéria passível de solução mediante 
arbitragem. 
 
Da redação da referida Convenção podem-se extrair elementos descritivos 
da cláusula compromissória e do compromisso arbitral, aquela relacionada com 
conflitos futuros e este diz respeito a controvérsias presentes, todos os dois aptos 
a instaurar o juízo arbitral. 
 Portanto, a convenção de arbitragem, nas palavras de João Bosco Lee55, 
“é o acordo pelo qual as partes conferem aos árbitros o poder de dirimir seu litígio. 
Ela pode se manifestar de duas formas diferentes: a cláusula compromissória e o 
compromisso”. 
 
 
 
 
 
 
 
54 “Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral 
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso 
arbitral”. 
55 LEE, João Bosco. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul. Curitiba: 
Juruá, 2002, p. 49. 
 33
3.1 Cláusula compromissória 
 
3.1.1 Conceito 
 
A Lei 9.307/96, em seu art. 4º, conceitua a cláusula compromissória como 
a convenção a partir da qual as partes em um contrato comprometem-se a 
submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir relativos a esse contrato. 
Para Carlos Alberto Carmona56, a cláusula compromissória é um “pacto 
através do qual os contratantes avençam, por escrito, submeter à arbitragem a 
solução de eventual litígio que possa decorrer de uma determinada relação 
jurídica”. 
Nota-se que a cláusula compromissória diz respeito a controvérsias futuras. 
Entretanto, são conflitos determináveis, relacionados com o objeto do contrato em 
que ela foi inserida. Não se admite, portanto, indeterminação absoluta. 
A cláusula compromissória determina a arena competitiva do juízo arbitral e 
traça a potencialidade da instauração da arbitragem, estabelecendo, assim, a 
renúncia ao juízo estatal. 
Destarte, pactuar-se-á a cláusula compromissória no momento da 
celebração de um contrato em que as partes desejam que seus conflitos futuros 
sejam resolvidos por arbitragem. 
 
 
3.1.2 Cláusula compromissória cheia e cláusula compromissória vaziaCláusula compromissória cheia é aquela que possui todos os elementos 
que serão aptos a instaurar o juízo arbitral, sem a necessidade de se celebrar um 
compromisso arbitral. 
Tais elementos podem ser entendidos como os requisitos necessários para 
a formação da arbitragem, quais sejam: a previsão da forma de instituição da 
arbitragem, podendo ser institucional, de acordo com as regras preestabelecidas 
de uma Câmara Arbitral, ou a arbitragem ad hoc, criada exclusivamente para o 
conflito que surgiu; a forma de eleição dos árbitros, podendo a arbitragem se 
 
56 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 35. 
 34
formar com árbitro único ou com um tribunal arbitral, assim entendido como um 
conjunto de árbitros, sempre em número ímpar, aptos a dirimir a lide; as normas 
procedimentais a serem utilizadas, sendo que, no caso da arbitragem 
institucional, serão usadas as normas da Câmara escolhida e na arbitragem ad 
hoc as normas deverão ser criadas pelas partes e descritas pormenorizadamente 
na convenção arbitral; o idioma da arbitragem; e, por fim, constar se a arbitragem 
será julgada por equidade - se não, especificar as normas de direito material que 
serão aplicadas. 
Assim, no caso de cláusula compromissória cheia, a arbitragem pode ser 
instalada mesmo havendo resistência de umas das partes. 
É o que dispõe o art. 5º da Lei de Arbitragem: 
 
Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de 
algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem 
será instituída e processada de acordo com tais regras, podendo, 
igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro 
documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem. 
 
Nesse sentido, Eduardo Grebler57 assevera: 
 
[...] resultaria inteiramente inconsistente a exigência de que, tendo as 
partes estabelecido, entre as condições de seu negócio, regras 
institucionais para resolver por arbitragem eventuais disputas entre elas, 
lhes fosse exigido repetir o ato, contratando novamente o negócio 
jurídico processual que anteriormente celebraram, e sobre o qual 
nenhuma dúvida pairasse. Uma tal exigência, sobre ser ociosa, seria 
também uma dádiva ao revel, possibilitando-lhe procrastinar o 
cumprimento de sua obrigação, em conduta incompatível com os 
princípios da autonomia da vontade, da boa-fé e da efetividade do 
processo – elementos integrantes do negócio jurídico processual que 
caracterizam a arbitragem. 
 
Verifica-se, dessa citação, que não há necessidade de celebrar um 
compromisso arbitral, posto que as partes já estabeleceram na cláusula 
compromissória todos os elementos necessários para a instalação do juízo 
arbitral. 
Exigir a celebração de um compromisso, quando se está referindo à 
cláusula compromissória cheia, seria um desrespeito ao princípio da boa-fé 
 
57 GREBLER, Eduardo. A revelia no processo arbitral brasileiro. In: MARTINS, Pedro A. Batista; 
ROSSANI GARCEZ, José Maria (coord). Reflexões sobre arbitragem: in memoriam do 
Desembargador Cláudio Vianna de Lima. São Paulo: LTr, 2002, p. 324. 
 35
previsto no Código Civil, uma vez que a natureza jurídica de tal cláusula é de 
negócio jurídico perfeito e acabado. 
Já a cláusula compromissória vazia ou patológica, por si só, não basta para 
instituir a arbitragem, necessitando da celebração do compromisso. 
Dessa forma, havendo cláusula compromissória vazia e existindo 
resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte interessada 
requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o 
compromisso, conforme previsto no art. 7º, da Lei 9.307/96. 
Observa-se que na cláusula compromissória, mesmo sendo esta 
patológica, há renúncia ao Poder Estatal, cabendo ao juiz somente estabelecer as 
regras para a instalação da arbitragem, não tendo competência para adentrar no 
mérito da questão em litígio. 
Constata-se, então, que cláusula compromissória vazia não se confunde 
com a ausência de convenção arbitral, sendo que, nesse caso, mediante o litígio 
e se assim as partes o desejarem, firmar-se-á o compromisso arbitral. 
É o que bem ressalta Selma M. Ferreira Lemes58: 
 
[...] a cláusula compromissória não representa obrigação de 
comprometer, posto que comprometidas estão as partes desde o 
momento que firmaram o contrato e dispuseram sobre a solução de 
controvérsias por arbitragem (efeito vinculante da cláusula 
compromissória). A obrigação vindoura é a de instituir a arbitragem no 
momento do conflito. 
 
Nota-se, assim, que a arbitragem não é obrigatória. No entanto, sendo 
pactuada a cláusula compromissória, a instauração da arbitragem adquire cunho 
obrigacional, mesmo no caso de cláusula compromissória vazia ou patológica59. 
 
58 LEMES, Selma Maria Ferreira. Cláusulas arbitrais ambíguas ou contraditórias e a interpretação 
da vontade das partes. In: MARTINS, Pedro A. Batista; ROSSANI GARCEZ, José Maria (coord). 
Reflexões sobre arbitragem: in memoriam do Desembargador Cláudio Vianna de Lima. São 
Paulo: LTr, 2002, p. 191. 
59 “Ementa: Agravo de Instrumento - Medida Cautelar - Liminar impedindo a companhia de 
deliberar questões que possam atingir direitos das autoras - Acordo de Acionistas - Existência de 
cláusula arbitral - Competência câmara arbitral para solucionar conflito - Incompetência poder 
judiciário - Prejudicadas as demais matérias do recurso. Constatada a existência de cláusula 
compromissória no acordo de acionistas da sociedade, fica afastada a possibilidade das partes 
recorrerem ao poder judiciário para solucionar contenda relativa ao seu cumprimento” (Agravo de 
Instrumento n° 1.0400.08.030447-2/002 - Relatora: Des. Hilda Teixeira da Costa). 
 
 
 36
3.1.3 Forma da cláusula compromissória: Convenção de Nova Iorque 
 
A Lei de Arbitragem60 estabeleceu que a cláusula compromissória tem que 
ser celebrada por escrito, entretanto, pode estar em documento separado do 
contrato ao qual se refira. 
A Convenção de Nova Iorque também previu a forma escrita da cláusula 
compromissória: “entender-se-á por ‘acordo escrito’ uma cláusula arbitral inserida 
em um contrato ou acordo de arbitragem, firmado pelas partes ou contido em 
troca de cartas ou telegramas”. 
Constata-se que a Convenção foi além do que está previsto na Lei 
9.307/96, incluindo a troca de cartas ou telegramas no âmbito da celebração 
cláusula compromissória. 
No entanto, Carlos Alberto Carmona61 adverte: 
 
Não está descartada, igualmente, a contratação por via eletrônica, 
embora esta forma de consolidação da vontade das partes ainda careça, 
para sua total segurança, de alguma regulamentação que sistematize 
chaves de autenticação e senhas de confirmação de mensagens. 
 
O comentário do referido autor se mostra bastante pertinente, visto que o 
direito brasileiro não traz condições necessárias para a total segurança no que 
tange às transações feitas via internet e em outros meios eletrônicos. 
 
 
3.1.4 Execução da cláusula compromissória 
 
A cláusula compromissória, antes da Lei 9.307/96, era tida como uma 
simples promessa de contratar, sendo que quando surgisse o litígio as partes 
tinham que firmar o compromisso para a instauração do juízo arbitral. Se 
houvesse resistência de um dos demandantes, a pendenga se resolveria em 
perdas e danos. Com o advento da Lei de Arbitragem, a cláusula compromissória 
passou a ter execução específica, sendo equiparada ao compromisso arbitral. 
 
60 § 1º, do art. 4º, da Lei 9.307/96. 
61 CARMONA,Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 106. 
 37
Dessa forma, ressalta-se que a cláusula compromissória, uma vez 
pactuada, exclui a apreciação da demanda pelo Poder Judiciário. A renúncia ao 
juízo estatal, conforme demonstrado anteriormente, é constitucional62. 
Nessa linha de raciocínio, João Bosco Lee63 tece alguns comentários: 
 
A ação de execução da cláusula compromissória tem por objetivo 
principal ratificar o efeito maior desta cláusula: a afirmação da 
competência da jurisdição arbitral. Se uma parte tomou a iniciativa desta 
ação é porque a outra parte rejeita colaborar com a constituição do 
tribunal arbitral ou se recusa completamente a se submeter à arbitragem. 
Assim, através deste procedimento de execução, a parte mais diligente 
tem o meio de constituir o tribunal arbitral. 
 
O assunto foi tratado sob enfoque econômico pela Ministra Ellen Gracie, no 
julgamento do Agravo Regimental na Sentença Estrangeira 5.206, de que foi 
relator o Ministro Sepúlveda Pertence (DJ 30/04/2004), nos seguintes termos: 
 
Negar possibilidade a que a cláusula compromissória tenha plena 
validade e que enseje execução específica importa em erigir em privilégio 
da parte inadimplente o furtar-se à submissão à via expedita de solução 
da controvérsia, mecanismo este pelo qual optara livremente, quando da 
lavratura do contrato original em que inserida essa previsão. É dar ao 
recalcitrante o poder de anular condição que – dada a natureza dos 
interesses envolvidos – pode ter sido consideração básica à formação da 
avença. É inegável que, no mundo acelerado em que vivemos, ter ou não 
acesso a fórmulas rápidas de solução das pendências resultantes do fluxo 
comercial constitui diferencial significativo do poder de barganha dos 
contratantes. A instabilidade econômica dos mercados internacionais e a 
volatilidade de capitais e preços de mercadorias podem tornar mais 
onerosa às partes a manutenção de uma longa pendência, até mesmo 
uma solução desfavorável, pois o conteúdo de incerteza relativamente às 
posições devedoras e credoras se torna entrave ao planejamento e 
desenvolvimento empresarial. 
 
62 Sobre a constitucionalidade da execução específica da cláusula compromissória, vale citar parte 
da ementa do acórdão do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Agravo Regimental em 
sentença estrangeira n. 5.206, Reino da Espanha, ocorrido em 12 de dezembro de 2001. “[...] 3. 
Lei de Arbitragem (L. 9.307/96): constitucionalidade, em tese, do juízo arbitral; discussão incidental 
da constitucionalidade de vários dos tópicos da nova lei, especialmente acerca da compatibilidade, 
ou não, entre a execução judicial específica para a solução de futuros conflitos da cláusula 
compromissória e a garantia constitucional da universalidade da jurisdição do Poder Judiciário 
(CF, art. 5º, XXXV). Constitucionalidade declarada pelo plenário, considerando que o Tribunal, por 
maioria de votos, que a manifestação de vontade da parte na cláusula compromissória, quando da 
celebração do contrato, e a permissão legal dada ao juiz para que substitua a vontade da parte 
recalcitrante em firmar o compromisso não ofendem o artigo 5º, XXXV, da CF. Votos vencidos, em 
parte – incluído o do relator – que entendiam inconstitucionais a cláusula compromissória – dada a 
indeterminação de seu objeto – e a possibilidade de outra parte, havendo resistência quanto à 
instituição da arbitragem, recorrer ao Poder Judiciário para compelir a parte recalcitrante a firmar o 
compromisso, e, consequuentemente, declaravam a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei 
9.307/96 (art. 6º, parág. único; 7º e seus parágrafos e, no art. 41, das novas redações atribuídas 
ao art. 267, VII e art. 301, inciso IX do C. Pr. Civil; e art. 42), por violação da garantia da 
universalidade da jurisdição do Poder Judiciário. [...]”. 
63 LEE, João Bosco. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul. Curitiba: 
Juruá, 2002, p. 81. 
 38
 Salienta-se, enfim, que a execução específica da cláusula compromissória 
foi, sem dúvida, uma das grandes inovações trazidas pela Lei de Arbitragem, o 
que confere mais segurança jurídica ao instituto arbitral. Assim, nos dizeres de 
Arruda Alvim64, “a primordial razão de ser da Lei 9.307/96 foi a de, a partir da 
cláusula compromissória, ensejar a instauração do juízo arbitral. Com isto, o 
Direito brasileiro coloca-se ao lado de todo o direito comparado”. 
 
 
3.1.5 A autonomia da cláusula compromissória 
 
A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que 
estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a 
nulidade da cláusula compromissória, conforme dispõe o art. 8º, da Lei 9.307/96. 
Nota-se que a cláusula compromissória é independente em relação ao 
contrato no qual está inserida. Assim, mesmo estando o contrato eivado de vício, 
ela não perde sua validade. 
É o que afirma Carlos Alberto Carmona65: 
 
As partes, ao encartarem em determinado contrato uma cláusula arbitral, 
inserem nele relação jurídica diferente, manifestando vontade apenas no 
que se refere à solução de eventuais litígios pela via arbitral; esta 
vontade, portanto, não tem ligação (senão instrumental) com o objeto 
principal do negócio jurídico (uma compra e venda, uma associação, um 
contrato de prestação de serviços), de tal sorte que eventual falha que 
importe nulidade da avença principal não afetará a eficácia da vontade 
das partes (que permanecerá válida para todos os efeitos) de ver 
resolvidas suas controvérsias (inclusive aquela relacionada à eventual 
nulidade do contrato e seus efeitos) pela via arbitral. 
 
Vale mencionar que a lei – Modelo da UNCITRAL66, que dispõe sobre a 
arbitragem comercial internacional, também estabelece a competência do tribunal 
arbitral para se manifestar sobre a sua competência. 
 
64 ALVIM, Arruda. Exegese dos arts. 6º e 7º da Lei n. 9.307, de 1996. In: MARTINS, Pedro A. 
Batista; ROSSANI GARCEZ, José Maria (coord). Reflexões sobre arbitragem: in memoriam do 
Desembargador Cláudio Vianna de Lima. São Paulo: LTr, 2002, p. 174. 
65 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2 ed., São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 158. 
66 “Art.16 Competência do tribunal arbitral para decidir sobre a sua própria competência. 
1. O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência, aí incluída qualquer exceção 
relativa à existência ou à validade da convenção de arbitragem. Para este efeito, uma cláusula 
compromissória que faça parte de contrato é considerada uma convenção distinta das outras 
 39
Dessa forma, pode o árbitro, mediante o princípio da “competência-
competência”, julgar sobre sua própria competência. Tal princípio foi consagrado 
pelo parágrafo único do art. 8º, da Lei de 1996. 
 
 
3.2 Compromisso arbitral 
 
O compromisso arbitral se distingue da cláusula compromissória por dois 
fatores. 
Um deles é o fator tempo, tendo em vista que a cláusula compromissória 
diz respeito a uma controvérsia potencialmente futura. Já o compromisso arbitral 
é contemporâneo ao conflito. 
O outro aspecto está relacionado com a determinação do objeto do litígio. 
A cláusula compromissória tem objeto determinável, visto que é firmada antes do 
litígio surgir. Entretanto, no compromisso arbitral o objeto tem que ser 
determinado, posto que é avençado no momento em que já existia o conflito. 
Assim, compromisso arbitral é a convenção firmada por partes que se 
encontram em desavença, com a finalidade de resolverem a controvérsia por 
arbitragem. O compromisso pode ser judicial ou extrajudicial. 
O compromisso arbitral firmado judicialmente

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