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A nadificação sartreana

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UFSCar – Universidade Federal de São Carlos
A angústia: um panorama da filosofia sartreana
Aluno – Tauami Sales de Paula
RA – 614483
Trabalho desenvolvido com o intuito de
obtenção de nota na
 matéria História da filosofia contemporânea II.
Prof. Silene Torres Marques
Polo São Carlos - 2017
Introdução 
“É na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade, ou, se se prefere, a angústia é o modo de ser da liberdade como consciência de ser; é na angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesmo em questão” (SARTRE).
Fazendo a leitura do trecho acima, da obra O Ser e o Nada, do filósofo Jean-Paul Sartre, compreendemos que a liberdade tem um papel fundamental em seu pensamento. Entretanto, para sermos capazes de enxergamos a totalidade dessa afirmação, precisamos atravessar alguns pontos da filosofia sartreana. Decidimos trabalhar com os pontos basilares dessa filosofia, à saber: a interrogação, os seres da consciência, o Nada, a angústia e a liberdade. Acreditamos que, ao fazer isso, seremos capazes de demonstrar com sucesso as razões por detrás a sentença acima e clarificar a complexidade do filosofo francês. 
A interrogação 
Comecemos nosso trabalho buscando esclarecer a causa primeira do processo de nadificação. Segundo Sartre, tudo se inicia através da interrogação. Esse processo, diz o filosofo, é uma conduta dotada de significado (SARTRE, 2001, pg. 44). Sempre que fazemos uma pergunta, estamos, necessariamente, buscando uma resposta. Uma atitude que gera perguntas surgirá diante de uma situação que o sujeito possuí o mínimo de familiaridade. O indivíduo observa o local onde ele está inserido e dali extrai uma questão. Sartre afirma que perguntamos “sobre o fundo de uma familiaridade pré-interrogativa com o ser” (SARTRE, 2001, pg. 45). 
Sartre, ao constatar que o mundo surge diante de uma consciência, percebe que o ato de interrogar parte do sujeito que questiona. Com esse questionamento, surge uma relação do sujeito com ele mesmo. O ser se percebe e passa a se relacionar com si. Esse ato surge como primordial na conduta humana, pois ele cria o contato inicial desse com o mundo. Através dessa atividade interrogativa, o humano permite que o mundo surja para ele, através de repostas negativas ou positivas. Quem interroga se coloca em uma condição de não-determinação. 
Esse estado de não-determinação pode ser visto como esse local onde se aguarda a resposta daquilo que se questiona. No momento da pergunta, habitamos a dúvida que precede a resposta positiva ou negativa. Além disso, também temos a dupla natureza da não-determinação. Da mesma forma como o aquele que pergunta não sabe a respostas, e por isso se torna um não-ser, ele também fica em estado suspensão da própria existência ao perceber que existe uma não-ser diante do seu ser (SARTRE, 2001, pg.45). Com isso, surge a possibilidade de um não-ser fora do ser, que surge toda a vez que questionamos algo. Essa aparição é responsável pelo condicionamento das questões feitas à cerca do ser. 
Através dessa constatação, Sartre passa a se perguntar sobre a origem do nada que surge dentro do espaço gigantesco que aparece diante do sujeito que se questiona. Para o filosofo, esse nada não pode ser percebido fora do ser. Caso o nada fosse visto fora do ser, ele desaparecia enquanto tal, tendo sua existência efêmera surgindo apenas enquanto uma afirmação do ser. O nada surge de dentro do ser no momento em que o mesmo se percebe enquanto aquele que questiona, mas também se distância da questão – pois busca a reposta para a mesma (SARTRE, 2001, pg.64).
Então, podemos dizer que o nada é um ser-para-si, pois o ser a própria existência aparece através da constatação do nada. O ato de questionar propicia o pleno vislumbre do abismo. Nesse sentido, a negação tem um papel crucial. Sendo ela um das possibilidades de interrogação e essa última sendo uma das atitudes mais básicas da conduta humana, constatamos que é através do ato de interrogar que o nada toma forma no mundo, ainda que dependa do humano para isso. 
Para deixar isso mais claro, Sartre se propõe a explicar uma processo que chama de recuo nadificador. Fazendo a leitura do complexo jogo de palavras utilizado pelo filosofo, Perdigão (1995) tenta deixar mais claro esse sofisticado conceito. O comentador fala que o Para-si (sujeito enquanto aquele que se percebe, não sendo percebido em-si, mas enquanto algo “externo” a si) não é o Ser, pois só aparece na distância que surge entre os dois no momento da interrogação. Gomes (2010) busca simplificar ainda mais: o Ser se desloca do para-si no momento do questionamento. O Para-si não é o que é, pois encontrasse distante do ser – recuado do ser. Ao se encontrar nessa condição, o para-si torna-se um não é. Ele se nadifica, cercando o ser humano de nada. 
Então, no que realmente consiste essa nada que praticamente soterra a existência humana? É o que falaremos a seguir. 
Os seres, os não-seres e o Nada
Em sua ontologia fenomenológica, Sartre concluí a existência de três faces da existência humana: 
O ser Em-si
O ser-Para-si 
Ser-Para-outro. 
O Em-si é o mundo dos objetos, fora da realidade humana. É um ser que não se percebe, que não se relaciona com nenhuma outro Em-si. Dele não se deriva nada e, também por isso, dele não se extraí nenhuma necessidade. Ele é um ser contingente, ou seja, sujeito as intemperes da realidade, sem justificativa para se como é ou surgir da forma como surge. Resumindo, o ser Em-si é exatamente aquilo que ele percebe de si, sem nenhuma possibilidade de percepção positiva ou negativa a cerca dele mesmo. Ele não habita a consciência, pois é nele mesmo, não sendo possível concebe-lo naquilo ele é. 
Essa afirmação torna o conhecimento uma negatividade pura. Sartre (pg. 232-286) diz que o conhecimento do Em-si não acrescenta nada a ele. Sermos capazes de perceber a realidade que está ao nosso redor apenas possibilita uma percepção de uma abertura de nossa consciência ao mundo. Em um exemplo disso, o filosofo fala sobre a percepção que um determinado indivíduo tem de uma mesa. A mesa está do lado de fora da consciência – ela está lá, em um determinado espaço, próxima de outros objetos. Nada disso fala sobre a mesa. Esse objeto, a mesa, é algo que adormece distante da consciência tendo sua existência validada apenas pelo que ela não é; daí a ideia de que o conhecimento é pura negatividade. 
Em face do Em-si temos o Para-si. Esse último é visto para Sartre como a consciência. Antes do ser humano chegar a se perceber enquanto Para-si ele é plena positividade. Ele se percebe enquanto aquilo que percebe, um Em-si. Entretanto, em algum ponto do processo ele se questiona e caí na nadificação. Como já mostramos anteriormente, a nadificação surge diante da interrogação. Esse ato cria um desgarramento di ser em relação a si. O Em-si da consciência em relação a ela mesmo, diante disso, caí no Para-si. É aqui temos o princípio do Nada. 
No Para-si, ou na interrogação que propicia o surgimento dele, percebemos a existência do vazio absoluto. O Nada que habito o ser que se percebe enquanto Para-si se torna evidente e não é possível ignora-lo. Munidos dessa compressão, nos lançamos no mundo em condição de contingência, da mesma forma como o Em-si. O escancarar dessa condição gera a facticidade. Esse termo, em Sartre, pode ser entendido como uma contingência injustificável (SANTANA, 2006). Não podemos escolher essa aspecto da nossa existência – ela simplesmente surge para a condição humano e temos que aceita-la. 
Esse processo de constatação do Para-si também mostra a ausência de existência do ser. Não somos algo. Nos manifestamos, através da interrogação, enquanto ausência. Diante dessa ausência, o ser humano transcende a relação que possuí com o mundo (que é Em-si) e alcança suas próprias possibilidades dentro do mundo constatado. Esse processo de se perceber como o que não é Em-si mostra ao ser humano a real condiçãodo mundo – algo que não tem dentro de si positividade, no sentido de se afirmar. 
Surge então para a consciência um objetivo: a busca pelo seio do ser. Ao compreender que existe um ser que questiona e um ser que é questionado, a consciência vive um desespero de obtenção de resposta. Nesse processo, apenas nos percebemos mais e mais afundados no nada, ou melhor, na tripla concepção de nada que nos surge através de não-saberes: o não-saber do sujeito que questiona para si mesmo, buscando uma resposta, um não-saber que aparece através a emergência do novo ser que se mostra do recuo do ser diante de si mesmo e o não-ser que mostra o limite desse recém descoberto ser. 
O ato de interrogarmos sobre seja lá o que for traz para a luz a negação, coisa possível unicamente na condição humana (Para-si) e não no mundo (Em-si). Temos uma ressalva de Sartre que afirma que a negação não é só uma das funções que existe do julgamento humano sobre o mundo, mas é também uma atitude em face ao mundo. Entendam, nenhuma negação é possível dentro da consciência. Sendo assim, constata-se que ela surge apenas no mundo desprovida de qualquer conteúdo ou categoria. Ela, a negação, surge pura e translúcida. Aqui, temos mais um agravante do nada. O Não se mostra como consciência de ser consciência de não (SANTANA, 2006).
O Nada e a nadificação, na realidade humana surge através da interrogação que, ao tentar encontra um ser em sua consciência, se depara com o nada. Essa leitura sobre a condição humana não busca uma essência universal, ainda que, em Sartre, a interrogação possua uma vertente metafísica. Essa metafísica mostra que o interior do ser – constituído de seres e não-seres – habita o mais profundo nada. Isso é a base da ontologia do Para-si. Surge, então, algo novo com o pensamento sartreano. Se quebram os dualismo que colocam a essência acima da existência. 
Entretanto, vemos que a metafísica é o cerne da filosofia de Sartre. Com novos regras, é evidente, onde os interesses principais são os processos existenciais de cada indivíduo e de cada singularidade. Novamente, a existência é prioridade e a essência se perde, pois ela não é. 
A angústia e a liberdade
Para Sartre, toda a consciência é a consciência de algo. Dotada de intencionalidade, a consciência posiciona os objetos do mundo. Ela apreende os fenômenos e une a aparência e o ser deles em um, destruindo toda e qualquer forma de dualismo que poderia sair daí. Isso permite ao ser cognoscente como absoluto. Com absoluto, devemos compreender algo que é independente de qualquer outra coisa: ela, a consciência, é por si. 
Contudo, ao mesmo tempo que a consciência faz esse processo de posicionar os fenômenos no mundo ela não é capaz de posicionar ela mesma. O ser humano, devido a isso, não é capaz de pensar a si mesmo e, caso o tente, se deparará com o nada. A consciência não pode alcançar o seu própria ser; por consequência é destituída do mesmo. 
A consciência, segundo o filosofo francês, consegue perceber a si mesmo no momento em que ganha conhecimento de um objeto transcendente. Em outra palavras, a consciência é percebe a si todo o tempo em que tem consciência de um objeto. Essa seria a maior prova da existência da consciência – o fato da consciência ter consciência da consciência. A consciência possuí um objeto do qual tem consciência que não é ela mesma. 
Continua aqui! A consciência, então, se apresenta em duas instâncias; uma consciência não-posicional de si mesma, pré-reflexiva que se enxerga enquanto um ser que encontra-se no seu próprio ser, ou seja, no nada. Essa instância da consciência é pura negatividade e o que é responsável por essa nadificação é o posicionamento aberto nela para o mundo. Em resumo, a consciência pré-reflexiva permite que a consciência surja diante de um objeto que não é ela. 
Ao percebemos que nossa consciência é nada ganhamos a liberdade. No Para-si, o nada que surge de ser manifesta-se em vazio, permitindo total liberdade para o indivíduo. Todas as possibilidades se tornam, de fato, possíveis. Não há um sentido estipulado no Para-si, da mesma forma como acontece no Em-si. No nada, temos a invasão da liberdade dentro do cerne humano. A liberdade, no pensamento Sartreano, se mostra como liberdade de escolha (SARTRE, 2002, pg. 595). 
Essa liberdade não é algo que habita a existência humana, ela é a própria existência humana. Sendo assim, da mesma forma como acontece com o ser humano, ela também não possuí uma essência. A liberdade é esse abismo monstruoso que surge diante das lacunas não preenchidas existentes no Para-si. Ela, a liberdade, condena a existência humana a plena liberdade pois como não somos capazes de escolher a existência do nada, também não seriamos capazes de decidir as consequência dele. 
Como então a liberdade se manifesta? Na angústia. Da mesma forma que o nada torna a experiência da liberdade palpável, ele também cria meios para que a angústia surja. Quando o Para-si compreende o nada de ser e todas as liberdades envolvidas nesse ser que tem como ancoradouro o nada ele experimenta a angústia. Da mesma forma como acontece com a liberdade, a angústia brota do âmago humano na ausência de quaisquer conteúdos da consciência. 
A angústia é a consciência de si diante das possibilidades desveladas ao ser que se percebe desprovidos das arramas existentes no Em-si. Tornamo-nos livres em nossas condutas, em nossas possibilidades e, por isso, também angustiados. Ao decidir me condicionar a certo comportamento, em meio a tantos outros possível, percebo que é apenas mais uma possibilidade e que nada – absolutamente nada – pode me forçar a mantê-lo. Somos, então, condenados a liberdade ao nos percebermos cercados de nada. Com essa percepção, também compreendemos todas as possibilidades de nossa existência e, devido a isso, vivemos em angústia. 
 
Bibliografia
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica.
Petrópolis – RJ: Vozes, 2001. 
PERDIGÃO, P. Existência & liberdade: uma introdução à filosofia de Sartre. Porto
Alegre: L&PM, 1995
GOMES, Raimundo Wagner Gonçalves de Medeiros, A questão do nada em Heidegger e Sartre, Marília - SP, UNESP, Revista Kínesis, Vol. II, n° 04, Dezembro-2010, p. 259 
SANTANA, Marcos Ribeiro de, (O) Nada como princípio Metafísico na Constituição da Consciência em Sartre, Revista Urutágua – Quadrimestral, n°06 – Abr/Mai/Jun/Jul, 2006, Maringá – PR, ISSN 1519.6178

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