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Consciência em Sartre

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Aluno: Tauami Sales de Paula
RA: 614483
Disserte sobre a seguinte passagem: 
“A consciência segundo Sartre, é uma dimensão do ser. Ela é o ser congnoscente enquanto é e não enquanto é conhecido. É preciso abandonar a primazia do conhecimento se quisermos fundamenta-la. A consciência pode conhecer, e conhecer-se. Mas em si mesma é mais do que só conhecimento voltada a si.” 
Resposta: 
Antes de mais nada, é preciso apontar qual seria o ponto de partida de Sartre. O filosofo parte do ego cogito e daí vai até a relação entre sujeito-objeto. Em Sartre o cogito encontra-se aberto para o mundo e, por consequência, não pode se perder do mesmo (da forma como fez Descartes). Daqui já temos uma ideia daquilo que nos espera. A consciência existe no mundo e se relaciona com ele. O ser é aquilo que ele se mostra, pelo menos uma parte dele. Os fenômenos são relativos-absolutos. Eles carregam em si absolutamente tudo que é possível se dizer sobre a realidade dos mesmo em suas aparências. 
Como esse fenômeno é exatamente o que é, se torna possível descrevê-lo. Nessa descrição, sempre faremos um detalhamento ontológico de sua condição, uma vez que já entendemos que temos acesso a todas as facetas do fenômeno no momento de seu vislumbre. Isso é surpreende pois mostra que toda a realidade está na aparência e não além dela. A dicotomia essência-aparência desaparece e a essência se mostra apenas como mais uma entre as várias possibilidades de aparições sucessivas do fenômeno. Então, como fica o ser diante disso? Para Sartre o ser do fenômeno não poderia ser constituído pelo sujeito. O filosofo coloca que o ser deve estar em um momento anterior ao próprio pensar, em um cogito pré-reflexivo. 
Não existe, para Sartre, possibilidade do conhecimento ser absorvido pelo próprio conhecimento, é preciso admitir a existência de um ser (SARTRE, 1997). Ter consciência é sempre ter consciência de algo e essa consciência sempre é consciência em um ser. Pois bem, uma vez que isso é verdade, não seria possível para a consciência ser objeto de si mesma. Caso isso ocorresse a consciência seria objeto da consciência observando a si mesma. Isso geraria uma terceira consciência que estaria observando essa consciência que observa a si mesma. Esse processo tenderia ao infinito, caso acontecesse. Para sair disso, o filosofo coloca que a consciência é uma relação com um outro ser transcendente. A transcendência se torna a parte constitutiva da consciência humana. Sendo transcendente, esse ser deve existir independentemente de quem o percebe. 
Essa consciência é em-si. Ela é plena e não cabe nela o “nada”. Ela é ser-em-si. Sendo assim, não é possível investigar a respeito dela. Ela é fechada, incomunicável e opaca. Nada se projeta para fora dela e nem interage com ela. O em-si é impassível de determinação, possuindo apenas uma relação com o sujeito que mostra um certo acontecimento, chamado fenômeno. Esse em-si está além da temporalidade e nada pode lidar com a indeterminação dele. 
O ser é, pois é plena positividade, completo e perfeito. O ser é em-si pois não precisou de nada que o criasse. Ele não teve princípio. Não possuí atividade nem passividade, justamente por essas serem características da psique humana. Por fim, o ser é o que ele é. Uma identidade que existe de si para si mesmo. Desprovido de espaços vazios. Maciço e repleto de sua própria condição. É impossível determinar o ser-em-si devido a sua natureza. Existe apenas uma determinação dele no momento em que a consciência o vislumbra. Mas essa determinação apenas atesta a existência do mesmo, mostrando nele um relevo enquanto fenômeno. Ela em nada agrega a existência do ser-em-si. O ser-em-si e o ser-para-si são duas condições irredutíveis do ser.
O ser-para-si é aquele que percebe o ser-em-si, ou seja, o ser humano. Ele existe sempre dentro dessa relação. Ele é essa relação, sem nunca ser capaz de alcançar o ser-em-si, pois o mesmo é indecifrável, como vimos anteriormente. A consciência, dentro dessa situação onde ela apenas se relaciona com o ser-em-si, se joga para dentro do vazio, do nada, confundindo-se com o próprio nada que constitui o ser-em-si. Essa negação, que parece surgir sempre que buscamos pensar sobre o ser-em-si não emana do mesmo. Ela apenas é dessa forma pois vem daquele que busca conhece-lo. 
“O nada, pelas razões já explicitadas, não pode advir do ser-em-si. Ao mesmo tempo, sua presença é constante” (NOBERTO, 2007). O nada só pode vir de algo que seja, logo ele surgirá de um ser que não tenha em si a plenitude do ser-em-si. É preciso que exista nesse ser o nada constituindo a natureza. Esse ser é o próprio ser humano. O nada não é um conceito vazio. Ele é aquilo que elucida a realidade humana. O ser humano se constituí de ser e nada. 
Se o ser humano é nada em sua constituição, então ele é indeterminado. Não é possível criar desígnios em um lugar onde o nada é parte constitutiva. Sendo assim, o ser humano é livre por excelência. Quando o humano percebe a existência dessa liberdade dentro de si, uma angústia começa a se instaurar em seu ser. Esse angustia ou náusea se confunde com a natureza mais radical do próprio humano, o nada. É preciso retificar que a liberdade não está na essência do humano, mas é consequência da existência do nada que o preenche. 
A realidade da condição humana existe em relação com o mundo. Não podemos concebê-la fora dele. Isso se dá, por exemplo, no momento em que percebemos o deslocamento da consciência do passado para o presente. Caso a consciência estivesse presa ao passado, ela estaria fadada a existir em uma relação de causa e efeito que se daria através do infinito, pois nada de novo se apresentaria e a constância daquela situação ocorreria para sempre. Essa capacidade de perceber novas relações de causa e efeito é percebida pela consciência devido sua capacidade de perceber o mundo. Essa percepção se dá dentro do estado da angústia. 
A liberdade, pois, é parte constituinte da consciência. Caso não fosse, o consciência iria evanescer diante da plenitude do em-si, tornando todo o Universo percebido a perfeição maciça e opaca do ser-em-si. 
A angústia surge como uma forma de conscientizar o ser humano de sua não determinação em relação ao mundo. O ser humano se desespera no momento em que é capaz de perceber que em sua constituição habita o nada e que, devido a ele, a própria humanidade se torna indeterminação. Nos tornamos uma bússola descompassada. Desprovidos de polo magnético, nossas agulhas perecem flácidas dentro de um limbo giratório nauseabundo. Essa angústia surge não pela liberdade de se ter pleno controle dessa ou daquela ação, mas da percepção que a liberdade habita dentro do próprio ser humano. 
A consciência se mostra um complexo aparato completamente cercado pelo o nada. Em sua natureza é necessário que ela se lance constantemente no mundo. Ela sempre será a consciência de algo e aquilo que ela percebe sempre existira em relação com a própria consciência. Dentro desse processo de percepção, surge a angústia que leva o humano a uma fuga de si mesmo. Nessa fuga, a consciência se lança em uma busca anunciadamente fracassada pelo em-si que por sua vez jamais pode ser encontrado, apenas percebido enquanto relevo dentro de um fenômeno. 
Bibliografia
NOBERTO, Marcelo da Silva, Consicência em Sartre, Rio de Janeiro, 2007. Relatório PIBIC, Departamento de Filosofia, PUC – Rio.
SARTRE, J.P. O Ser e o nada. 11° ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1997

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