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ADM PUBLICA 2018

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1 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
3 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Instituição Credenciada pelo MEC – Portaria 4.385/05 
 
 
 
 
Unis - MG 
Centro Universitário do Sul de Minas 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mantida pela 
Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas – FEPESMIG 
Varginha/MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todos os direitos desta edição reservados ao Unis-MG. 
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob qualquer 
meio, sem autorização expressa do Unis-MG. 
4 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SILVA, Guaracy. 
 
Guia de Estudos – Administração Pública – Guaracy Silva. 
Varginha, 2015. 
Revisão: 2017. 
 
66p. 
 
 
5 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
Reitor 
Prof. Ms. Stefano Barra Gazzola 
 
Superintendente Corporativo 
 
Prof. Dr. Guaracy Silva 
 
 Diagramação e Revisão 
Profa. Ma. Letícia Veiga Vasques 
 
 
Autor 
Guaracy Silva 
 
É Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, tendo realizado 
estágio sanduíche na Universidade de Lisboa. Possui graduação em Administração de Empresas 
pela Sociedade Riopretense de Ensino e Educação (1996) e mestrado em Administração pelo 
Centro Universitário de Franca - UNIFACEF (2005). Atualmente é Superintendente 
Corporativo do Grupo Educacional UNIS e professor dos programas de graduação e pós-
graduação da mesma instituição. Atuou em empresas como Ullian Esquadrias Metálicas e 
MGM Produtos Siderúrgicos, sendo responsável pelo RH. Pesquisa temas relacionados a gestão 
de instituições de ensino superior, tendências na oferta do ensino superior, políticas públicas 
para o ensino superior em especial o PNE. 
 
 
 
 
6 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
ÍCONES 
 
REALIZE. Determina a existência de atividade a ser realizada. Este ícone indica 
que há um exercício, uma tarefa ou uma prática para ser realizada. Fique atento a 
ele. 
 
PESQUISE. Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais 
informação. 
 
PENSE. Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a 
um questionamento. 
 
CONCLUSÃO. Todas as conclusões, sejam de ideias, partes ou unidades do curso 
virão precedidas desse ícone. 
 
IMPORTANTE. Aponta uma observação significativa. Pode ser encarado como 
um sinal de alerta que o orienta para prestar atenção à informação indicada. 
 
HIPERLINK. Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo 
impresso ou endereço de Internet. 
 
EXEMPLO.Esse ícone será usado sempre que houver necessidade de exemplificar 
um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou estudado. 
 
SUGESTÃO DE LEITURA. Indica textos de referência utilizados no curso e 
também faz sugestões para leitura complementar. 
7 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
APLICAÇÃO PROFISSIONAL. Indica uma aplicação prática de uso 
profissional ligada ao que está sendo estudado. 
 
CHECKLIST ou PROCEDIMENTO.Indica um conjunto de ações para fins de 
verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização de 
uma tarefa. 
 
SAIBA MAIS.Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado de forma 
a possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado. 
 
 
REVENDO. Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Sumário 
 
Objetivos Específicos da Disciplina ........................................................................................... 9 
Introdução .................................................................................................................................. 10 
1 Histórico da Administração Pública no Brasil .................................................................... 13 
1.1. Brasil Colônia ................................................................................................................... 14 
1.2. Brasil Império ................................................................................................................... 15 
1.3. Brasil República (República Velha) ................................................................................. 17 
2 Estratégias e Modernização da Administração Pública ..................................................... 20 
2.1. A evolução do Estado brasileiro ....................................................................................... 21 
3 Gestão do Estado: Problemas e Perspectivas ....................................................................... 32 
3.1. Patrimonialismo e Administração Patrimonial ................................................................. 33 
3.2. Administração Pública Burocrática .................................................................................. 34 
3.3. Administração Pública Gerencial ..................................................................................... 35 
3.4. Patrimonialismo Brasileiro Contemporâneo .................................................................... 38 
3.5. Do Estado máximo para o Estado mínimo ....................................................................... 41 
4 Relações entre Estado e Sociedade Civil .............................................................................. 44 
4.1. Conceitos e modalidades de Estado ................................................................................. 44 
4.2. Sociedade civil: cidadania, conselhos, organizações da sociedade civil e orçamento 
participativo ............................................................................................................................. 46 
5 A Ética na Administração Pública ........................................................................................ 52 
5.1. Efeitos da corrupção e medidas de combate à corrupção ................................................. 52 
5.2. A Administração Pública voltada para o cidadão: novo paradigma de gestão pública .... 54 
5.3. Ética na Administração Pública: ética do servidor público, Comissão de Ética Pública, 
rede ética e ordenamento jurídico ........................................................................................... 55 
6 E-governo ................................................................................................................................ 58 
6.1. Internet no setor público brasileiro: e-governo e tipos de serviços oferecidos ................ 59 
6.2. Compras no setor público ................................................................................................. 61 
Considerações Finais ................................................................................................................. 64 
Referencias Bibliográficas ........................................................................................................ 65 
 
 
 
9 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
Objetivos Específicos da Disciplina 
 
 
a) Descrever a evolução da Administração Pública, do início da colonização 
portuguesa até a presente data, situando-a no contexto econômico e sociocultural 
do país. 
b) Citar conceitos básicos de Administração Pública brasileira. 
c) Compreenderas recentes mudanças introduzidas na Administração Pública do 
país, nas três esferas de governo, bem como os principais marcos legais e 
institucionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Introdução 
 
Considerando os objetivos gerais do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em 
Gestão em Administração Pública, primeira fase do Curso de Gestão e 
Assessoramento de Estado-Maior (CGAEM), que são: 
1) Assessorar o gestor público em assuntos de Administração Pública; 
2) Planejar atividades administrativas; 
3) Coordenar o processo administrativo; 
4) Acompanhar, controlar, avaliar e aperfeiçoar o processo administrativo; 
5) Buscar o auto-aperfeiçoamento por meio da leitura de impressos especializados 
e do intercâmbio com profissionais da área de Administração Pública. 
E considerando ainda os objetivos particulares da disciplina Administração 
Pública, que são: 
1) Descrever a evolução da Administração Pública no Brasil, do início da 
colonização portuguesa até a presente data, situando-a no contexto econômico e 
sociocultural do país; 
2) Citar conceitos básicos de Administração Pública brasileira; 
3) Compreender as recentes mudanças introduzidas na Administração Pública do 
país, nas três esferas de governo, bem como os principais marcos legais e 
institucionais. 
Apresento na sequência aspectos que serão tratados em cada uma das seis 
Unidades Didáticas. 
 Na primeira unidade – “Histórico da Administração Pública no Brasil” - 
visitaremos os principais aspectos da Administração Pública brasileira, desde a sua 
origem no período colonial, passando pelo período imperial até o início do período 
republicano (República Velha). Veremos que durante o período colonial o Estado foi na 
verdade um “todo indiferenciado que abrangia o indivíduo, uma miríade de instâncias e 
jurisdições”. Já no período imperial constataremos que a “transferência da Corte 
portuguesa e de todo o seu aparato” contribuíram para a organização do Estado tal qual 
o consideramos atualmente. Na República Velha observaremos que houve, por parte do 
Estado, preocupação, ainda que inicial, com a eficiência administrativa e 
descentralização. 
11 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Na segunda unidade – “Estratégias de Modernização da Administração Pública”- 
compreenderemos a evolução do Estado brasileiro. Inicialmente visitaremos o primeiro 
governo Vargas, onde a marca principal foi a alternância entre centralização e 
descentralização do Estado e a criação de inúmeros organismos de governo e empresas 
estatais. No período imediatamente posterior, foi restaurada a harmonia entre os poderes 
e a autonomia dos estados, e o Estado ampliou direitos sociais. No segundo governo 
Vargas foram observadas iniciativas no sentido da reforma administrativa do Estado. Na 
presidência de Juscelino Kubitscheck foi criada a Comissão de Simplificação 
Burocrática – COSB. No ano de 1964, outra iniciativa no sentido da racionalização teve 
início, foi criada a Comissão Especial de Estudos da Reforma Administrativa - 
COMESTRA. Veremos ainda que em 1967 a reforma administrativa 
desenvolvimentista redesenhou a estrutura organizacional do Estado, ampliou sua 
descentralização, entre outras iniciativas. Nos governos Sarney e Collor, foram notadas 
a formulação de políticas de Recursos Humanos e contenção de gastos e uma robusta 
mutação no ambiente interno, respectivamente. 
Na terceira unidade – “Gestão do Estado: Problemas e Perspectivas” - 
revisitaremos o conceito clássico de patrimonialismo, considerando o contexto histórico 
em que foi criado. Passaremos a tratar da Administração Pública burocrática weberiana, 
e suas formas de dominação. Na sequência nos debruçaremos sobre a Administração 
Pública Gerencial, cujo maior teórico brasileiro foi Bresser-Pereira; trataremos de suas 
concepções sobre Estado, governo e sociedade. Infelizmente constataremos que o lado 
mais sombrio do patrimonialismo brasileiro resiste à adoção de práticas de uma 
Administração Pública mais efetiva e justa. Por fim, discutiremos as diferentes opiniões 
sobre a presença do Estado na esfera pública, contemplando os principais teóricos do 
Estado máximo e os seus antagonistas, que consideram que o Estado mínimo pode ser o 
ideal para a atualidade. 
 Na quarta unidade – “Relações entre Estado e Sociedade Civil” -, faremos uma 
breve leitura sobre os principais conceitos e modalidades de Estado, e entenderemos que 
o Estado moderno compreende quatro diferentes contextos: social, político, jurídico e 
econômico. Na mesma unidade, constataremos que a sociedade civil contemporânea 
identificou formas de participação efetiva nas decisões que lhe afetam; na atualidade são 
comuns no Brasil diferentes conferências no âmbito municipal, estadual e nacional que 
deliberam ações nas áreas da educação, saúde e assistência social, para ficarmos em um 
único exemplo. 
12 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 A “Ética na Administração Pública” é o tema da quinta unidade deste Guia de 
Estudos. Nela, trataremos dos efeitos nocivos da corrupção, prática arraigada na 
Administração Pública e, as medidas adotadas para o seu combate. Em posição 
antagônica à corrupção, veremos como está concebida uma Administração Pública de 
fato voltada para o cidadão, em grande medida apoiada nos avanços da tecnologia da 
informação. Discutiremos aspectos como a instituição da Comissão de Ética Pública e o 
surgimento e fortalecimento de organizações sociais comprometidas com a manutenção 
da ética na Administração Pública. 
 Na sexta e última unidade, analisaremos um tema muito próximo ao da quinta 
unidade: o “E-governo”, que, ao mesmo tempo, assegura maior eficiência ao Estado e se 
constitui em um obstáculo à adoção de más práticas em ações governamentais como nas 
compras públicas. 
 Considerando a profusão e extensão dos temas que serão tratados nesta 
disciplina, bem como o tempo exíguo de sua duração no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, optei pela análise conjunta (compreendendo os fundamentos, a evolução 
histórica e o contexto atual) dos diferentes conteúdos, proporcionando uma visão ao 
mesmo tempo ampla e pragmática dos conteúdos que serão desenvolvidos nas 
atividades e na avaliação presencial (prova). 
 Espero que o prazer que senti no desenvolvimento deste material seja 
compartilhado por vocês, neste próximo momento, quando refletiremos de forma 
conjunta sobre o mesmo! 
 Que tenhamos todos um significativo e rico período de aprendizado e reflexão! 
 
Abraços, 
 
Prof. Guaracy Silva 
 
 
 
 
 
13 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
1 
 
 
 
Objetivo específico 
 
 
Identificar as etapas históricas da Administração Pública no Brasil. 
 
 
A humanidade, ao longo dos últimos séculos, vivenciou diversas 
mudanças em relação ao papel do Estado. Observa-se que o Estado, 
após a transição do absolutismo para o Estado de Direito na idade 
moderna, fica submetido à lei. As revoluções inglesa, francesa e 
americana foram as responsáveis pela disseminação do “Estado 
Liberal e Democrático”, no qual o Estado fica também sujeito à 
sociedade. Finalmente, após um processo lento de incorporação das 
conquistas éticas à ordem jurídica, o Estado passa a se sujeitar à 
moral (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 55). 
 
O Estado brasileiro nasceu e se consolidou como Estado monárquico, portanto 
no período do Brasil Colônia a Administração Pública aqui existente tratava-se, de fato, 
de uma representação da Metrópole que visava prioritariamente atender aos interesses 
de Portugal. Durante o Brasil Império, e devido às circunstâncias, em especial à vinda 
da família real portuguesa para o Brasil, foram registradas ações para a estruturação de 
uma Administração Públicamais efetiva e que contribuiu sobremaneira para o 
desenvolvimento de algumas das principais instituições brasileiras, ainda que com 
características que precisariam ser posteriormente desenvolvidas, conforme 
analisaremos. No período republicano, que é polissêmico e complexo, com diferentes 
fases, o Estado brasileiro foi sendo administrado com ênfases e finalidades distintas. 
Nesta primeira Unidade Didática analisaremos o período republicano até os anos de 
1930. 
1. Histórico da Administração Pública no Brasil 
 
14 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
1.1. Brasil Colônia 
 
Tomar o desembarque da Coroa portuguesa no Rio de Janeiro, em 
1808, como marco para a construção do Estado nacional não 
significa dizer que nada existisse em termos de aparato institucional e 
administrativo. Havia na colônia uma ampla, complexa e ramificada 
administração (COSTA, 2008, p. 832). 
 
A Administração Pública presente no Brasil Colônia, ao longo de três séculos, 
não pode ser compreendida como única ou composta por modelos ou instrumentos tal 
como conhecemos atualmente. Portanto, ao analisarmos o período colonial, 
precisaremos abdicar da compreensão contemporânea de Estado (esfera pública e 
privada, níveis de governo, poderes distintos) e seus aparatos. Para Caio Prado Junior 
(1979, p. 299-300) o Estado representado pela administração colonial foi, ao mesmo 
tempo, um todo indiferenciado que abrangia o indivíduo em todos os aspectos e uma 
miríade de instâncias e jurisdições que iam do rei até o seu mais modesto servidor. O 
mesmo autor definiu o Estado de então como um cipoal de ordenamentos gerais, 
encargos, atribuições, circunscrições, disposições particulares e missões extraordinárias 
que não obedeciam a princípios uniformes de divisão do trabalho, simetria e hierarquia. 
Para Prado Junior (1979, p. 299-300) o caos legislativo convivia e permitia em 
alguns lugares funções que não existiam em outros, assim como permitia que servidores 
estabelecessem vínculos de subordinação direta que subvertiam a hierarquia e minavam 
a autoridade. 
São marcas do Estado presente na Colônia o vazio de autoridade, por um lado, e 
a extrapolação da mesma, por outro. O imenso território, o furor das populações 
indígenas e o perfil de muitos colonizadores contribuíram para que a Metrópole agisse, 
ao mesmo tempo, de forma autoritária, frágil e ineficaz. 
A centralização de decisões na Metrópole esvaziava a atuação dos governadores 
e juízes na Colônia. Havia uma miríade de regulamentos prescritos e todas as decisões, 
ainda que recursais, eram tomadas pela Coroa portuguesa e seu aparato administrativo. 
A lentidão na troca de mensagens provocava a inoperância ou a insubordinação dos 
prepostos aqui alocados (COSTA, 2008, p. 834). 
15 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Conforme brilhante síntese do ex-ministro Beltrão, estavam no Brasil Colônia 
alguns dos fundamentos que marcariam a Administração Pública no Brasil por muitos 
séculos: 
A verdade é que o Brasil já nasceu rigorosamente centralizado e 
regulamentado. Desde o primeiro instante, tudo aqui aconteceu de 
cima para baixo e de trás para adiante. Quando Tomé de Souza 
desembarcou na Bahia em 1549, nomeado governador-geral pelo 
regime absolutista e centralizador vigente em Portugal, já trouxe 
consigo um “Regimento” pronto e acabado, elaborado em Lisboa, que 
representou na verdade a primeira Constituição do Brasil. Ainda não 
havia povo nem sociedade, mas já existia, pré-fabricado e imposto, de 
alto e de longe, o arcabouço administrativo que deveria moldar a 
ambos (BELTRÃO, 1984, p. 18). 
Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil mais um capítulo da 
história da administração pública começou a ser escrito. 
 
1.2. Brasil Império 
 
É verdade que, até 1808, existia no Brasil e, sobretudo, na sede do 
governo geral (vice-reino) uma administração colonial relativamente 
aparelhada. Mas a formação do Reino Unido de Portugal, Brasil e 
Algarves e a instalação de sua sede na antiga colônia tornaram 
irreversível a constituição de um novo Estado nacional. Todo um 
aparato burocrático, transplantado de Lisboa ou formado aqui, em 
paralelo à antiga administração metropolitana, teve que ser montado 
para que a soberania se afirmasse, o Estado se constituísse e se 
projetasse sobre o território, e o governo pudesse tomar decisões, 
ditar políticas e agir (COSTA, 2008, p. 831). 
 
A transferência da Corte portuguesa acabou por ocasionar a criação de 
instituições e organismos úteis e necessários ao país tais como: o Banco do Brasil, os 
Correios, a Academia de Marinha, a de Artilharia e Fortificações, o Arquivo Militar, a 
Tipografia Régia, a Fábrica de Pólvora entre outros. Por outro lado, considerando os 
aproximadamente quinze mil portugueses que acompanharam a Corte portuguesa, foram 
também criados cargos e organismos desnecessários, entre os quais o Desembargo do 
Paço, o Conselho de Fazenda, cuja finalidade era a acomodação de alguns poucos 
privilegiados. 
 
16 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 O retorno de d. João VI e a permanência do príncipe herdeiro alterariam, de 
forma significativa, os rumos do Brasil, como bem demonstrou Costa: 
Com a derrocada de Napoleão I, a reorganização geopolítica da 
Europa e as agitações dos liberais no Porto, em 1821, d. João VI teve 
que retornar a Portugal e reassumir o controle político da metrópole. 
Ficaram no Brasil o príncipe herdeiro, na condição de regente dessa 
parte do Reino, e todo o aparato administrativo instalado pelo rei. D. 
Pedro I nomeou seu próprio ministério. 
(...) 
Os conflitos em matéria fiscal, as propostas em discussão nas cortes 
para a retomada da condição colonial do Brasil e a exigência do 
retorno do príncipe a Lisboa colocaram-no em franca oposição aos 
interesses da metrópole, ensejando a realização de uma sequência de 
atos políticos de peso que culminaram com a independência, pouco 
mais de um ano depois da partida de d. João VI. A sete de setembro de 
1822, d. Pedro I declarou a independência e instituiu o governo do 
Brasil, valendo-se do aparato da regência do Reino Unido que se 
partia (COSTA, 2008, p. 837). 
A primeira Constituição do Brasil (1824) manteve a monarquia e constituiu um 
Estado unitário e centralizador, cujo território foi dividido em províncias, que 
substituíram as antigas capitanias hereditárias. 
Após dez anos de exercício de poder no Brasil, d. Pedro I abdicou do trono em 
favor de seu filho Pedro II, então com apenas cinco anos de idade, em meio a uma crise 
de grandes proporções. A Regência Trina que assumiu o poder enfrentou, assim como 
as que lhe sucederam, uma série de crises que terminaram por ensejar, em 1841, a 
declaração da maioridade do imperador menino, aos 15 anos de idade (COSTA, 2008, 
p. 838). Costa observou o movimento de descentralização do Estado imperial: 
Logo no início do período regencial, em 1832, foi feita uma reforma 
constitucional, que instituiu a Regência Uma, aboliu o Conselho de 
Estado e criou as assembleias provinciais, em substituição aos 
conselhos gerais. Tratava-se de um pequeno passo no sentido da 
descentralização, uma vez que instituía o Poder Legislativo provincial 
e a divisão de rendas entre o governo central e os governos provinciais 
(COSTA, 2008, p. 838). 
Conflitos entre as classes dominantes, instabilidade política, pressões 
abolicionistas, clamores pela maior descentralização de poder e renda para as províncias 
e debilidade na saúde do imperador foram as marcas dos últimos dez anos do Império, 
como bem observou Costa: 
Neste ambiente político, germinava um incipiente movimento 
republicano, apoiado num vago programa de reformas que tentava 
conciliar interesses opostos de monarquistas liberais e de 
escravocratasdescontentes com a política abolicionista do Império. O 
movimento republicano se dividia em dois polos – o federalismo e o 
17 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 liberalismo. O primeiro era protagonizado pelas lideranças políticas de São Paulo e do Rio Grande do Sul e o segundo representado pelos 
políticos da cidade do Rio de Janeiro. Os republicanos do Rio de 
Janeiro defendiam a participação política da população e os gaúchos e 
paulistas partidários do federalismo pregavam uma maior autonomia 
regional. As críticas mais comuns recaíam sobre a centralização 
excessiva do regime monárquico, que restringia a liberdade política e 
econômica das províncias (COSTA, 2008, p. 839). 
 
 Para muitos teóricos, foi a transferência da Corte portuguesa e de todo o aparato 
compreendido, em um primeiro momento, bem como todo o período Imperial que 
marcaram, de forma severa, a gênese do Estado nacional. 
As repetidas crises dos gabinetes imperiais geravam um clima de instabilidade 
política que dava força ao movimento republicano. Pequenos incidentes entre líderes 
militares e o governo acabaram dando o último estímulo aos oficiais descontentes para 
que deflagrassem a proclamação da República em 15 de novembro de 1898. 
 
1.3. Brasil República (República Velha) 
 
Salienta-se que o Estado, no Brasil, nasceu e se consolidou como 
Estado monárquico. A República herdou da Monarquia um Estado 
organizado de modo centralizado e já com alguma tradição 
burocrática (VIEIRA, et al, 2014, p. 533). 
 
No Brasil, entre o ocaso do Império e a afirmação da República, grupos 
interessados posicionaram-se ativamente diante das instituições promovendo um 
processo de mudança institucional do tipo gradual e transformativa. Antes, à margem do 
poder lutando para mudar o sistema político do país e, depois, como coalizão dominante 
lutando para sustentar a mudança, republicanos civis e militares acabaram por 
proporcionar a estabilidade da República e a organização da Administração Pública 
brasileira (VIEIRA, et al, 2014, p. 533). 
Como bem observado por Costa, a descentralização de poder nos primórdios da 
República intensificou a importância das oligarquias regionais: 
A República federalista, com estados politicamente autônomos, 
consagrou um novo pacto político que acomodava os interesses das 
elites econômicas do Centro-Sul e do resto do país. O governo federal 
ocupava-se de assegurar a defesa e a estabilidade e proteger os 
18 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 interesses da agricultura exportadora através do câmbio e da política de estoques, com reduzida interferência nos assuntos “internos” dos 
demais estados. Lá vicejavam os mandões locais, grandes 
proprietários de terra e senhores do voto de cabresto, e as grandes 
oligarquias, que controlavam as eleições e os governos estaduais e 
asseguravam as maiorias que apoiavam o governo federal. (...) Esse 
sistema era marcado pela instabilidade dos governos estaduais 
passíveis de serem derrubados e substituídos em função da emergência 
de novas oligarquias (COSTA, 2008, p. 840). 
 
 A Administração Pública na Primeira República como problema de pesquisa em 
estudos organizacionais revela-se paradoxal. Parte integrante da Política dos Estados 
aplicada por Campos Sales (1898-1902) pautava-se no princípio republicano de não 
intervenção nos estados levado ao extremo, mas, ao mesmo tempo, havia a 
concentração dos meios de administração organizados burocraticamente na figura do 
presidente (VIEIRA, et al, 2014, p. 534). Este autor destaca que: 
A partir do governo Campos Sales, a República sofreu um processo de 
rotinização que combinava (ou buscava combinar) o máximo de 
eficácia administrativa com o máximo de autonomia das elites 
regionais. Esse processo obteve um status de legitimidade que 
permitiu a institucionalização da República, ou seja, o estabelecimento 
de procedimentos e valores legítimos que propiciaram estabilidade e 
continuidade ao novo regime político (VIEIRA, et al, 2014, p. 534). 
A República Velha transcorreu em cerca de quarenta anos, ao término deste 
período já se mostrava insuficiente para as respostas necessárias na ocasião, embora 
tenha cumprido um relevante papel de transição a partir do Império, conforme apontado 
por Costa: 
Aos poucos [a República Velha] foi se tornando disfuncional ao Brasil 
que se transformava, pela diversificação da economia, pelo primeiro 
ciclo de industrialização, pela urbanização e pela organização política 
das camadas urbanas. Novos conflitos de interesse dentro dos setores 
dominantes, entre as classes sociais e entre as regiões punham em 
causa o pacto oligárquico, as eleições de bico de pena e a política 
café-com-leite. Por outro lado, desde a Guerra do Paraguai (1864-
1870), o Exército passou a ser um ator político cada vez mais 
importante, como arena de revoltas ou sujeito de ações determinantes, 
perseguindo ideais modernizadores ou salvacionistas (COSTA, 2008, 
p. 840). 
 
Bico de Pena - Assim eram chamadas as eleições que então se 
realizavam, cujos resultados favoráveis às oligarquias dominantes 
eram ajustados nos mapas eleitorais, ao bico de pena. 
 
19 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 No período denominado como República Velha foi possível registrar a postura 
ativa das elites civis republicanas que contribuíram para a mudança de regime político e 
depois se mantiveram engajadas em busca de sua consolidação (VIEIRA, et al, 2014, p. 
544). 
 
 
No próximo item discutiremos sobre as estratégias e a modernização da 
Administração Pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
1 
 
 
 
Objetivo específico 
 
 
Relacionar as características das principais reformas administrativas 
a partir dos anos 1930 com as políticas dos respectivos governos. 
 
A narrativa precedente dá conta do processo de formação do Estado 
nacional, a partir de suas raízes coloniais, ao longo do Império 
(1882-1889) e da chamada República Velha (1889-1930). Embora 
seja desse período a cristalização das principais características do 
Estado brasileiro apontadas anteriormente, observa-se que a própria 
diferenciação do aparelho de Estado e a criação de novas instituições 
fazem parte da dinâmica de instauração da modernidade. Estado e 
mercado, autônomos com relação à ordem do sagrado e à dominação 
patriarcal e cada vez mais separados entre si, constituem as bases da 
formação social moderna. Seu desenvolvimento, consideradas as 
características do contexto local, se dá no sentido da racionalização. 
A burocracia está no horizonte da administração pública que se 
consolida e atualiza. Se esse movimento se deu de forma lenta e 
superficial nos primeiros 100 anos de história do Brasil independente, 
ele vai encontrar seu ponto de inflexão e aceleração na Revolução de 
1930 (COSTA, 2008, p. 841). 
 
 O período imediatamente posterior à República Velha foi marcado pela tomada 
do poder por novos grupos oligárquicos, com o enfraquecimento das elites agrárias e 
pela forte influência da burocracia weberiana. Tais movimentos significaram a transição 
do Brasil agrário para o Brasil industrial. 
 
 
2. Estratégias e Modernização da Administração Pública 
 
21 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 2.1. A evolução do Estado brasileiro 
 
A reforma e a modernização do Estado devem ser entendidas como 
uma das principais prioridades na agenda política dos países, 
particularmente os países em desenvolvimento. Tais esforços visam 
permitir que os governantes, além de atuar com maior transparência 
na gestão pública, alcancem maior eficiência, eficácia e efetividade 
na qualidade dos serviços públicos ofertados à população, criando 
umambiente favorável para a inclusão social e o fortalecimento da 
capacidade de formulação e implementação de políticas públicas 
(MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 9). 
 
Após a Revolução de 1930 e durante a maior parte do século XX, o Brasil 
empreendeu um meandroso, porém contínuo, processo de modernização das estruturas e 
processos do aparelho de Estado. Como resposta a transformações econômicas e sociais 
de largo alcance, esse esforço se desenvolveu ora de forma assistemática, pelo 
surgimento de agências governamentais, que se pretendia, fossem ilhas de excelência 
com efeitos multiplicadores sobre o Estado e sua estrutura, ora de forma mais orgânica 
ou sistematizada, por meio das reformas realizadas no governo federal, em 1938, 1967 e 
1995 (COSTA, 2008, p. 841). 
O ponto de partida desta transformação ocorreu no primeiro período Vargas 
(1930-1945), onde houve significativa alternância entre o centralismo de poder e 
recursos e a descentralização. Costa identificou marcos deste período: 
 
O primeiro período de Vargas na presidência durou 15 anos, sendo 
quatro de governo provisório, três de governo constitucional e oito de 
ditadura. No período inicial houve uma grande concentração de 
poderes nas mãos do Executivo federal, em consequência da 
dissolução dos corpos legislativos e da nomeação de interventores 
para os governos estaduais. 
(...) 
A centralização e a suspensão das franquias constitucionais geraram 
crescente insatisfação em setores liberais, sobretudo em São Paulo, 
desencadeando uma série de revoltas, entre as quais a Revolução de 
1932 que, depois de sufocada, ensejou a convocação de uma 
Constituinte e, em seguida, a promulgação da Constituição de 1934 
(COSTA, 2008, p. 843). 
 
Após os anos iniciais, o governo Vargas foi marcado pela Constituição de 1934 
que, no que diz respeito à Administração Pública, devolveu autonomia para os estados e 
introduziu o princípio do mérito para os servidores públicos. No entanto, o respectivo 
22 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 diploma legal não consentiu a volta dos mesmos níveis de descentralização que 
vigoravam na República Velha. No tocante à distribuição de recursos e encargos, a 
Constituição Federal concentrou competências no nível da União. Foi nesta 
oportunidade que o federalismo cooperativo foi consagrado pela primeira vez, prevendo 
a repartição dos tributos pela União, estados e municípios. No entanto, a referida 
Constituição Federal teve vida breve, em novembro de 1937 foi instituído o Estado 
Novo. 
 A partir de 1937 a centralização passou a se constituir em um princípio de 
organização do Estado brasileiro que se aplicava de forma sistemática em todos os 
setores e níveis de estruturação territorial. Costa compreendeu como o ímpeto 
desenvolvimentista provocou a assunção, por parte do governo central, do papel de 
coordenação de decisões econômicas: 
Mantendo a política de proteção às matérias-primas exportadas, o 
governo lançou-se de maneira franca e direta no projeto 
desenvolvimentista, criando as bases necessárias da industrialização – 
a infraestrutura de transporte, a oferta de energia elétrica e a produção 
de aço, matéria-prima básica para a indústria de bens duráveis. Mais 
do que isso, assumiu papel estratégico na coordenação de decisões 
econômicas. Para tanto, teve que aparelhar-se. As velhas estruturas do 
Estado oligárquico, corroídas pelos vícios do patrimonialismo, já não 
se prestavam às novas formas de intervenção e domínio econômico, na 
vida social e no espaço político remanescente. Urgia reformar o 
Estado, o governo e a administração pública (COSTA, 2008, p. 844). 
 
Consequentemente, e conforme já apresentado, a partir de 1937 foram 
implantadas alterações no aparelho de Estado, tanto na forma quanto na essência da 
Administração Pública de então. 
A reforma da Administração Pública nos anos 1930, inspirada no serviço 
público britânico e considerada por muitos como a implantação da Administração 
Pública burocrática no Brasil, previu critérios profissionais para o ingresso no serviço 
público, desenvolvimento de carreiras e regras de promoção baseadas no mérito, como 
bem observaram Lima e Costa: 
Dois aspectos devem ser destacados na reforma de 1930: primeiro, por 
estar voltada para o processo, ou seja, para o modo de fazer as coisas, 
teve destaque o agente desse processo: o servidor público. Foi uma 
reforma com ênfase na política de recursos humanos. O Departamento 
Administrativo do Serviço Público – DASP – é o ícone desta reforma. 
O segundo aspecto refere-se ao peso dos valores arraigados tanto na 
própria administração pública (valores patrimonialistas) quanto do 
governo (práticas populistas) que fizeram com que, ainda hoje, se fale 
23 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 em reforma da administração pública que elimine esses valores e práticas (LIMA, 2007, p. 19). 
A mais emblemática [medida] foi a criação do Departamento 
Administrativo do Serviço Público. (...) O DASP foi efetivamente 
organizado em 1938, com a missão de definir e executar a política 
para o pessoal civil, inclusive a admissão mediante concurso público e 
a capacitação técnica do funcionalismo, promover a racionalização de 
métodos no serviço público e elaborar o orçamento da União. O 
DASP tinha seções nos estados, com o objetivo de adaptar as normas 
vindas do governo central às unidades federadas sob intervenção 
(COSTA, 2008, p. 844). 
Na concepção de Costa, a primeira experiência de reforma de largo alcance 
[1937] teve como inspiração o modelo weberiano de burocracia. Combatia, portanto, o 
patrimonialismo e visava tornar a administração pública mais racional e eficaz: 
A reforma administrativa do Estado Novo foi, portanto, o primeiro 
esforço sistemático de superação do patrimonialismo. Foi uma ação 
deliberada e ambiciosa no sentido da burocratização do Estado 
brasileiro, que buscava introduzir no aparelho administrativo do país a 
centralização, a impessoalidade, a hierarquia, o sistema de mérito, a 
separação entre o público e o privado. Visava constituir uma 
administração pública mais racional e eficiente, que pudesse assumir 
seu papel na condução do processo de desenvolvimento, cujo modelo 
de crescimento, baseado na industrialização via substituição de 
importações, supunha um forte intervencionismo estatal e controle 
sobre as relações entre os grupos sociais ascendentes (MARCELINO, 
1987 apud COSTA, 2008, p. 846). 
Mais uma vez, os avanços registrados foram minimizados pelos grupos de 
diferentes interesses, conforme observação de Martins: “Entretanto, pressões populistas-
clientelistas limitariam o escopo dessa ambiciosa reforma” (MARTINS, 1997, p. 34). 
Além do que já foi apresentado, cabe o registro de que no período do primeiro 
governo Vargas foram criados inúmeros organismos especializados e empresas estatais. 
Até 1930 existiam no Brasil 12 empresas públicas; de 1930 a 1945, foram criadas 13 
novas empresas, sendo 10 do setor produtivo, entre elas a Companhia Vale do Rio Doce 
e a Companhia Siderúrgica Nacional, ambas já privatizadas. 
A Constituição de 1946 restabeleceu o estado de direito e as garantias 
individuais, restaurou a divisão e harmonia entre os poderes da República, devolveu a 
autonomia aos estados, ampliou os direitos sociais dos trabalhadores, reorganizou o 
Judiciário. Como resultado imediato, fortaleceu-se o federalismo cooperativo, por meio 
de novos mecanismos de coordenação e transferência de rendas entre regiões. A partir 
de 1946 o presidente Dutra realizou um governo legalista e conservador, onde foi criada 
a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (COSTA, 2008, p. 847). 
24 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Cinco anos depois de deixar o governo, Getúlio Vargas foi eleito presidente da 
República, pelo voto direto,em 3 de outubro de 1950. Em seu novo governo, foram 
criadas 13 empresas estatais, entre elas a Petrobras e o Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico (BNDE), grande pilar da política de fomento nacional. 
Durante o segundo governo Vargas, também se pretendeu retomar os esforços 
reformistas pela designação, em 1952, de um grupo de trabalho com a missão de 
elaborar um projeto de reforma administrativa que resultou num projeto de lei que 
previa a reorganização administrativa do ministério entre outros temas (COSTA, 2008, 
p. 847). 
No governo de Juscelino Kubitscheck, iniciado em 1956, houve uma fase de 
grande euforia e de afirmação nacionalista consubstanciados no “Plano de Metas” que 
propugnava 36 objetivos que contemplavam a industrialização acelerada, em especial a 
de base, apoiada na associação entre capitais nacionais e estrangeiros. 
Para Lima (2007, p. 20), o primeiro registro oficial de preocupação da 
Administração Pública com o excesso de burocracia data de 1956 (Decreto Nº 39.510 
de 4 de julho de 1956) no qual o presidente Juscelino Kubitscheck criou a Comissão de 
Simplificação Burocrática – COSB, com a finalidade de “promover a simplificação nas 
normas e rotinas administrativas, de modo a evitar a duplicidade de atribuições, excesso 
de pareceres e despachos interlocutores”. 
Costa (2008) realizou uma síntese irreparável sobre o período 1952-1962, 
citando as tentativas de reforma, o movimento de descentralização e a constituição 
deliberada de ilhas de excelência na Administração Pública: 
Do ponto de vista institucional, a década que vai de 1952 a 1962 foi 
marcada pela realização de estudos e projetos que jamais seriam 
implementados. A criação da Cosb (Comissão de Simplificação 
Burocrática) e da Cepa (Comissão de Estudos e Projetos 
Administrativos), em 1956, representam as primeiras tentativas de 
realizar as chamadas reformas globais. A primeira tinha como objetivo 
principal promover estudos visando à descentralização dos serviços, 
por meio da avaliação das atribuições de cada órgão ou instituição e 
da delegação de competências, com a fixação de sua esfera de 
responsabilidade e da prestação de contas das autoridades. A Cepa 
teria a incumbência de assessorar a presidência da República em tudo 
que se referisse aos projetos de reforma administrativa. 
Esse período se caracteriza por uma crescente cisão entre a 
administração direta, entregue ao clientelismo e submetida, cada vez 
mais, aos ditames de normas rígidas e controles, e a administração 
descentralizada (autarquias, empresas, institutos e grupos especiais ad 
hoc), dotados de maior autonomia gerencial e que podiam recrutar 
25 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 seus quadros sem concursos, preferencialmente entre os formados em think thanks especializados, remunerando-os em termos compatíveis 
com o mercado. Constituíram-se assim ilhas de excelência no setor 
público voltadas para a administração do desenvolvimento, enquanto 
se deteriorava o núcleo central da administração (COSTA, 2008, p. 
848). 
 Torres (2004), presente em Costa (2008) ampliou o período de análise, porém 
apontou convergências entre os governos de Vargas, Kubitscheck, Jânio e João Goulart. 
Para o pesquisador, no período foram preservadas práticas clientelistas e a 
transformação, quando tentada, era promovida “de fora para dentro” com a constituição 
de estruturas paralelas: 
Embora tenha havido avanços isolados durante os governos de Getúlio 
Vargas, Juscelino Kubitscheck, Jânio Quadros e João Goulart, o que 
se observa é a manutenção de práticas clientelistas, que 
negligenciavam a burocracia existente, além da falta de investimento 
na sua profissionalização. A cada desafio surgido no setor público, 
decorrente da própria evolução socioeconômica e política do país, a 
saída utilizada era sempre a criação de novas estruturas alheias à 
administração direta e o consequente adiamento da difícil tarefa de 
reformulação e profissionalização da burocracia pública existente 
(TORRES, 2004 apud COSTA, 2008, p. 849). 
 
Em 1964 foi instituída a COMESTRA (Comissão Especial de Estudos da 
Reforma Administrativa), presidida pelo ministro extraordinário para o planejamento de 
coordenação econômica. Dos trabalhos dessa comissão e das revisões que se seguiram 
resultou a edição do Decreto-Lei cuja finalidade era a Reforma Administrativa. O 
Decreto-Lei Nº 200 de 25 de fevereiro de 1967, que dispôs sobre a organização da 
Administração Federal, estabelecendo diretrizes para a Reforma Administrativa, previu 
princípios fundamentais em seu Art. 6º: 
 
As atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes 
princípios fundamentais: 
I – Planejamento. 
II – Coordenação. 
III – Descentralização. 
IV – Delegação de Competência. 
V – Controle. 
 
A reforma desenvolvimentista de 1967 teve como foco o Estado como um todo, 
mas sua maior ênfase, mais uma vez, se concentrou no ingresso de servidores públicos e 
no redesenho da estrutura organizacional do Estado, resultando em novos modelos de 
gestão, baseados principalmente na autonomia gerencial. “ Foi uma ambiciosa reforma 
26 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 das estruturas do Estado e dos procedimentos burocráticos, embora com resultados nem 
sempre esperados” (MARTINS, 1997, p. 48). 
 Para Lima (2007, p. 22-23) foram destaques da reforma de 1967: a) o desenho 
da estrutura organizacional que previu uma administração direta (presidência da 
república e ministérios) e uma administração indireta integrada por quatro categorias de 
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria – as autarquias; as empresas 
públicas, as sociedades de economia mista, e as fundações públicas; b) a ampla 
descentralização da Administração Pública federal, com ênfase na regulação; c) a 
delegação de competência, com o objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade às 
decisões, situando-as na proximidade dos fatos, das pessoas ou dos problemas a atender; 
d) a relação de controle, que foi intensificado e apoiado na prestação de contas e no 
desempenho da responsabilidade legal e regulamentar; e) menções ao rendimento e 
produtividade, que foi mais aplicado nas empresas públicas e nas sociedades de 
economia mista, em influenciar de forma mandatória as fundações, as autarquias e a 
administração direta. 
 Costa (2008, p. 850) destacou os cinco princípios fundamentais da reforma: 
 - o planejamento (princípio dominante); 
- a expansão das empresas estatais (sociedades de economia mista e 
empresas públicas), bem como de órgãos independentes (fundações 
públicas) e semi-independentes (autarquias); 
- a necessidade de fortalecimento e expansão do sistema do mérito, 
sobre o qual se estabeleciam diversas regras; 
- diretrizes gerais para um novo plano de classificação de cargos; 
- o reagrupamento de departamentos, divisões e serviços em 16 
ministérios. 
 E, comentou sobre as reformas de base propostas na mesma: 
Elaborou o Estatuto da Terra, promoveu uma reforma tributária, 
reorganizou o sistema bancário, reestruturou o ensino universitário e 
realizou uma ampla reforma administrativa. Em 1965 teve início a 
reforma tributária que se consolidou com a Constituição de 1967, 
uniformizando a legislação, simplificando o sistema e reduzindo o 
número de impostos. Ela trouxe brutal concentração de recursos nas 
mãos da União, esvaziando financeiramente estados e municípios que 
ficaram dependentes de transferências voluntárias (COSTA, 2008, p. 
851). 
 
 
Para autores como Lima (2007, p. 24) a primeira proposta clara de reorientação 
da Administração Pública e de deslocamento do locus das reformas para o espaço em 
que se dá o relacionamento da organização pública com o cidadão data de 1979, com a 
27 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 instituiçãodo Programa Nacional de Desburocratização, cujo principal formulador foi 
Hélio Beltrão. 
 Beltrão, para quem era necessário “restabelecer na consciência dos 
administradores o conceito, às vezes esquecido, de que serviço público significa servir 
ao público” (1984, p. 37), afirmou: 
O Programa de Desburocratização não se destinava apenas a 
aperfeiçoar o funcionamento da máquina administrativa. Pretendia 
garantir o respeito à dignidade e à credibilidade das pessoas e protegê-
las contra a opressão burocrática (BELTRÃO, 1984, p. 41). 
Para Lima (2007, p. 26), apesar da orientação clara do programa para o cidadão, 
o papel que foi reservado ao mesmo no processo de desburocratização foi passivo, de 
destinatário apenas dos eventuais benefícios do programa. Ficou a cargo da inteligência 
da Administração Pública o papel de perceber os pontos negativos que pesavam sobre o 
cidadão e de conceder a solução que fosse melhor. O Programa Nacional de 
Desburocratização não tratou de empreender a mudança [o máximo de burocracia para o 
máximo de transparência e controle], e o resultado foi o aumento descontrolado da 
carga burocrática e, consequentemente, das exigências desnecessárias, conforme bem 
observado por Lima: 
Não é possível afirmar que essas reformas foram um fracasso. Mas 
seguramente o sucesso que alcançaram desfez-se no tempo, 
provavelmente pela força de práticas arraigadas, de uma certa 
regularidade de comportamento reciprocamente aceito pelos agentes 
da administração pública de um lado e pelos cidadãos de outro. 
O sucesso temporário dessas reformas voltadas para a simplificação, 
para a desburocratização, para o atendimento ao cidadão, vistas numa 
perspectiva histórica, mais parecem mutirões que têm efeito 
grandioso, mas efêmero (LIMA, 2007, p. 27). 
 Para Costa (2008, p. 855) a Reforma do Estado era uma das principais 
promessas da Nova República, que se consubstanciava em diversas ações, que 
transcendiam o rearranjo administrativo, uma vez que previam a: 
Vigência efetiva do império da lei, desobstrução do Legislativo, 
aparelhamento da Justiça, reforma tributária, descentralização e, 
subsidiariamente, reforma agrária, saneamento da previdência, 
implantação do sistema único de saúde, erradicação do analfabetismo, 
reforma do ensino básico, desenvolvimento regional. 
O governo Sarney instituiu em agosto de 1985 uma numerosa comissão com o 
objetivo de redefinição do papel do Estado, apoiado na racionalização das estruturas 
administrativas, formulação de uma política de recursos humanos e contenção de gastos 
28 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 públicos. Na prática, as medidas preconizadas não foram implementadas, conforme 
apontou Costa: 
A ampla reforma modernizadora e democrática foi deixada de lado 
para dar lugar a mais tradicional estratégia de reforma administrativa – 
a racionalização dos meios. Mas mesmo com a emulação suscitada 
pelo Plano Cruzado, o governo não foi capaz de reativar as antigas 
ilhas de eficiência do setor público – planejamento, arrecadação, 
comunicações, política agrícola – desmanteladas a partir do início da 
gestão de Delfim Neto na Secretaria de Planejamento, da presidência 
da República, no governo Figueiredo. Por outro lado, como medidas 
de racionalização, o governo Sarney extinguiu o Banco Nacional de 
Habitação (BNH), que enfrentava grave crise na lógica de 
financiamento da casa própria e, com ele, a política de habitação, cuja 
responsabilidade, em parte, foi transferida para a Caixa Econômica 
Federal (CEF). Também pouco avançou na implementação do Sistema 
Único de Saúde (SUS), duramente conquistado na Constituinte 
(COSTA, 2008, p. 857). 
 No mesmo período, a reforma da Administração Pública, a ampliação de seu 
espectro de ação e a ênfase no cidadão e seus direitos, eram temas centrais da 
Assembleia Nacional Constituinte, que foi instalada em primeiro de fevereiro de 1987 e 
atuou até o dia 2 de setembro de 1988, quando o texto final da nova constituição foi 
aprovado. Costa destacou alguns pontos da Carta Magna: 
Paralelamente às tentativas de reforma empreendidas pelo governo, 
tinham início os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, eleita 
em 1986 e instalada no começo de 1987. A Constituinte pretendia, 
com a nova Carta, refundar a República, estabelecendo outras bases 
para a soberania, a ordem social, a cidadania, a organização do Estado, 
as formas de deliberação coletiva, o financiamento do gasto público, 
as políticas públicas e a administração pública. A Constituição de 
1988 proclamou uma nova enunciação dos direitos de cidadania, 
ampliou os mecanismos de inclusão política e participação, 
estabeleceu larga faixa de intervenção do Estado no domínio 
econômico, redistribuiu os ingressos públicos entre as esferas de 
governo (...) Nesse sentido, a promulgação da Carta Magna 
representou uma verdadeira reforma do Estado (COSTA, 2008, p. 
858). 
Na visão do mesmo pesquisador (Costa), a Carta de 1988 retirou a flexibilidade 
proporcionada pela administração indireta, uma vez que o diploma legal adotou o 
Regime Jurídico Único: 
Entretanto, do ponto de vista da gestão pública, a Carta de 1988, no 
anseio de reduzir as disparidades entre a administração central e a 
descentralizada, acabou por eliminar a flexibilidade com que contava 
a administração indireta que, apesar de casos de ineficiência e abusos 
localizados em termos de remuneração, constituía o setor dinâmico da 
administração pública. Ela foi equiparada, para efeito de mecanismos 
de controle e procedimentos, à administração direta. A aplicação de 
um regime jurídico único (RJU) a todos os servidores públicos 
abruptamente transformou milhares de empregados celetistas em 
estatutários, gerando um problema ainda não solucionado para a 
29 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 gestão da previdência dos servidores públicos (...) Além disso o RJU institucionalizou vantagens e benefícios que permitiram um 
crescimento vegetativo e fora de controle das despesas com pessoal, 
criando sérios obstáculos ao equilíbrio das contas públicas e aos 
esforços de modernização administrativa em todos os níveis de 
governo (COSTA, 2008, p. 859). 
 Em 15 de março de 1990 tomou posse o presidente Fernando Collor de Melo. 
Em menos de vinte e quatro horas, editou vinte e três medidas provisórias, sete decretos 
e setenta e dois atos de nomeação, aos quais se seguiram inúmeras portarias ministeriais 
e instruções normativas autárquicas. Costa, observando as transformações induzidas 
pela miríade de instrumentos legais, ponderou: 
É claro que não houve um balizamento conceitual, um conteúdo 
estratégico bem definido e um planejamento da implementação 
suficientemente estruturado mas, ainda assim, constituiu-se um amplo 
processo de reforma administrativa do Poder Executivo, embora com 
uma inversão de fatores, ou seja, existia uma função à procura de um 
enredo (COSTA, 2008, p. 860). 
Torres, referindo-se ao mesmo período, do ponto de vista da Administração 
Pública, acentuou: 
A rápida passagem de Collor pela presidência provocou, na 
administração pública, uma desagregação e um estrago cultural e 
psicológico impressionantes. A administração pública sentiu 
profundamente os golpes desferidos pelo governo Collor, com os 
servidores descendo aos degraus mais baixos da autoestima e 
valorização social, depois de serem alvos preferenciais em uma 
campanha política altamente destrutiva e desagregadora (TORRES, 
2004, p. 170). 
Já no governo Itamar, conhecido como um período de transição, foram 
registradas poucas iniciativas relacionadas à Reforma do Estado. 
O governo Itamar Franco, dado o seu caráter de excepcionalidade, 
adotou uma postura tímida e conservadora com relação à reforma do 
Estado e mesmo à reforma administrativa. Para conservar a ampla 
basede apoio que possibilitou a sua emergência, persistiu na estratégia 
de ressuscitar ministérios extintos por Collor e restringiu-se a tocar, de 
forma hesitante, o programa de privatização (COSTA, 2008, p. 861). 
No período Fernando Henrique, o destaque foi para a atuação do acadêmico e, 
posteriormente, ministro de Estado Luis Carlos Bresser-Pereira, cuja principal 
contribuição foi o Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado – PDRAE (1995). 
Segundo Costa (2008, p. 862-863), o documento estava dividido em nove partes e 
apresentava, entre outros, os seguintes pontos: 
 
30 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 • Uma breve interpretação da crise do Estado; 
• Uma classificação evolutiva da administração pública; 
• Um histórico das reformas administrativas no Brasil a 
partir dos anos 1930; 
• Um diagnóstico da Administração Pública brasileira; 
• Um quadro referencial das formas de propriedade, setores 
do Estado e tipos de gestão; 
• Uma estratégia de mudança; 
• Os principais projetos de reforma do chamado aparelho de 
Estado. 
Em síntese, o PDRAE tinha como proposta inaugurar a chamada “administração 
gerencial” (que será melhor apresentada na próxima Unidade Didática); para tanto, o 
plano indicou como pilares do projeto de reforma do Estado: 
• Ajustamento fiscal duradouro; 
• Reformas econômicas orientadas para o mercado que, 
acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, 
garantissem a concorrência interna e criassem condições para o 
enfrentamento da competição internacional; 
• A reforma da previdência social; 
• A inovação dos instrumentos de política social, 
proporcionando maior abrangência e promovendo melhor 
qualidade para os serviços sociais; 
• A reforma do aparelho de Estado, com vistas a aumentar 
sua “governança”, ou seja, sua capacidade de implementar de 
forma eficiente políticas públicas. 
No governo Lula, os destaques relacionados à pauta da reforma do Estado foram 
o desenvolvimento do Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do 
Planejamento dos Estados Brasileiros e do Distrito Federal – PNAGE, cujo objetivo 
geral era melhorar a efetividade e a transparência institucional das administrações 
públicas dos Estados e do Distrito Federal, a fim de alcançar uma maior eficiência do 
gasto público. A implementação do Portal da Transparência do Governo Federal, 
31 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU), lançada em novembro de 2004, para 
assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos, foi outro ponto de destaque. 
Nos cinco anos do governo da presidente Dilma foram registradas apenas ações 
pontuais no que tange à eficiência da Administração Pública. Com relação ao presidente 
Michel Temer, mesmo se for considerado o seu período como interino, também não há 
registros de ações significativas em implantação. 
 
Ao longo dos 80 anos de Administração Pública aqui analisados 
podem-se notar, entre “idas e vindas”, alguns progressos. 
Entretanto, práticas clientelistas e patrimonialistas passaram de 
forma incólume ao longo de todo o período, resistindo com 
maior ou menor força à modernização definitiva da 
Administração Pública brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
1 
 
 
 
Objetivo específico 
 
 
Identificar problemas e perspectivas nas diferentes fases da 
Administração Pública. 
 
A reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da 
redefinição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto 
pelo desenvolvimento econômico e social, para se tornar seu 
promotor e regulador. O Estado assume um papel menos executor ou 
prestador direto de serviços mantendo-se, entretanto, no papel de 
regulador e provedor destes. Nesta nova perspectiva, busca-se o 
fortalecimento das suas funções de regulação e de coordenação, 
particularmente no nível federal, e a progressiva descentralização 
vertical, para os níveis estadual e municipal, das funções executivas 
no campo da prestação de serviços sociais e infraestrutura. 
Considerando essa tendência, pretende-se reforçar a governança – a 
capacidade de governo do Estado – por meio da transição 
programada de um tipo de administração pública burocrática, rígida 
e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para 
uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada 
para o atendimento da cidadania. Para isso, será necessária uma 
mudança em três planos: no plano institucional-legal, através da 
reforma da Constituição e das leis do país; no plano cultural, através 
da internalização de uma nova visão do que seja a administração 
pública; e no plano da gestão, onde afinal se concretiza a reforma 
(BRASIL, 1995, p. 14). 
 
 
Nesta unidade didática vamos conhecer as diferentes fases da Administração 
Pública e constatar, infelizmente, que alguns dos traços mais nefastos do processo de 
consolidação do Estado brasileiro ainda permanecem nas estruturas do poder e, por 
consequência, do Estado. 
 
 
 
3. Gestão do Estado: Problemas e Perspectivas 
 
33 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
3.1. Patrimonialismo e Administração Patrimonial 
 
Na administração patrimonial, os patrimônios público e privado 
estavam essencialmente fundidos; o Estado era concebido como 
propriedade do soberano. (...) Nesse quadro, o nepotismo e a 
corrupção eram a regra, embora isso não impedisse os burocratas 
patrimoniais de alto nível – que, juntamente com a aristocracia, 
exerciam grande poder político – de se entregarem à autoglorificação 
e à arrogância como mestres da racionalidade técnica (BRESSER-
PEREIRA, 2009, p. 206-207). 
 
 
O Estado moderno começa, em termos políticos, como absoluto; em termos 
econômicos, como mercantilista; e em termos administrativos, como patrimonial. A 
monarquia, que se confundia com o Estado, era um importante patrimônio econômico e 
político, recebendo receitas de impostos e da participação em empresas monopolistas. 
Ela usava esses recursos fiscais para manter uma aristocracia patrimonial dependente 
que vivia na corte, para cuidar da guerra, e uma burocracia patrimonial para cobrar 
impostos e administrar a justiça. 
A burocracia patrimonial, como as burocracias antigas ou clássicas anteriores, já 
era um grupo profissional contratado com base em sua experiência. Era, no entanto, 
permeada por todo tipo de nepotismo, carecendo da relativa independência do poder 
político que seria adquirida apenas no século XIX, como resultado das reformas 
burocráticas ou do serviço público, ocorridas na Europa. 
No Estado patrimonial não havia distinção nítida entre patrimônio público e 
patrimônio privado. Mas três das cinco características básicas do Estado moderno já 
estavam presentes: uma Constituição ou sistema jurídico, um serviço público e um 
governo presidindo a população de um dado território. O Parlamento independente e os 
partidos políticos só apareceriam no Estado liberal (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 42). 
A síntese acima, de Bresser-Pereira, identifica com rigor o patrimonialismo 
clássico e suas formas de sustentação. No entanto, o mesmo autor condenou as 
generalizações comuns com relação à administração patrimonial: 
 
Seria um erro ver essa administração patrimonial como meramente 
corrupta e ineficiente. Comprometidos com a reforma do serviço 
público que modernizou o Estado britânico, os críticos do século XIX 
exageraram as falhas do sistema anterior (BRESSER-PEREIRA, 
2009, p. 42). 
 
34 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Para Faoro (1994, p. 32) o patrimonialismo é resultado de uma integração 
disfuncional, caracterizado por alianças espúrias entre segmentos políticos eburocráticos em busca de rendas patrimoniais decorrentes de privilégios, proteção ou 
corrupção. 
 
3.2. Administração Pública Burocrática 
 
 
A administração pública burocrática, nascida no âmbito do 
capitalismo liberal – e não no da democracia liberal, que só se tornou 
predominante no século XX – mostrou-se lenta, dispendiosa, 
autocentrada, autoritária e não preocupada em atender às demandas 
dos cidadãos (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 208). 
 
 
Para Bresser-Pereira, um reconhecido crítico da administração burocrática, a 
mesma é baseada nos princípios administrativos do Exército prussiano, e resultou de 
uma série de reformas do serviço público implantadas na segunda metade do século 
XIX na Alemanha, na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, no início do século 
passado em países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália, e, no Brasil, em 1930, 
durante o primeiro governo Vargas (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 206). 
Para Matias-Pereira, a administração burocrática pressupõe certa racionalidade 
impessoal que, orientada por regras formais que padronizam e conferem igualdade no 
tratamento dos casos, estabelece com nitidez as relações de mando e subordinação, 
mediante a distribuição das atividades a serem executadas, tendo como referência os 
objetivos que busca atingir (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 57). 
O mesmo autor constatou que a administração burocrática pode significar o 
estabelecimento de um padrão prescritivo: 
 
Observa-se, por sua vez, que impessoalidade das normas, em geral, 
acaba transformando um padrão descritivo de critérios e relações em 
padrão prescritivo, sem espaço para a informalidade e o 
desenvolvimento de noções mais flexíveis de gerenciamento, em que 
o elemento humano termina por ser desconsiderado na organização. 
Essa rigidez burocrática tenderia a produzir desajustes, fontes de 
conflitos potenciais entre o público e o funcionário, visto que os 
objetivos formais se tornariam dogmas imutáveis, pois deveriam da 
norma burocrática, e esta enrijece qualquer tentativa de reformulação 
(MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 57). 
 
35 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Na mesma linha, Bresser-Pereira (2009) considerou que embora em uma mesma 
estrutura institucional burocrática possa haver práticas gerenciais de maior ou menor 
qualidade, fica cada vez mais claro que a administração pública burocrática é 
inerentemente irracional ou ineficiente, e utilizou a relação entre o “racional” e o “legal” 
para tanto: 
 
Weber descreveu-a como um tipo de dominação – a “dominação 
racional-legal”-, que se caracterizaria pela superioridade ou eficiências 
técnicas. Seu caráter “racional” aparecia sob a forma de racionalidade 
instrumental, consistindo na adoção dos meios mais apropriados para 
alcançar os objetivos pretendidos. Seu caráter “legal” significava que 
a lei definiria os meios mais apropriados para alcançar os objetivos 
também estabelecidos por lei. Esse sistema continha uma contradição 
intrínseca: em um mundo em mudança contínua e cada vez mais 
acelerada, é impossível ser ao mesmo tempo racional e legal. É 
impossível ser racional definindo em lei os objetivos específicos a 
serem alcançados e os meios a serem seguidos: a lei pode definir de 
modo genérico os objetivos e os meios, mas sua especificação 
competente depende necessariamente de uma tomada de decisão caso 
a caso (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 208-209). 
 
Ainda que autores mais recentes tenham criticado a administração burocrática 
weberiana, é inegável que a teoria contribuiu sobremaneira para o progresso da 
Administração Pública em todo o mundo e que suas premissas ainda influenciam no 
desenho de processos e na gestão moderna do Estado. O quadro 1, presente no item 3.3, 
demonstrará as principais diferenças entre a Administração Pública Burocrática e a 
Administração Pública Gerencial. 
 
 
3.3. Administração Pública Gerencial 
 
A reforma ou a reconstrução do Estado, particularmente pela via da 
Reforma Gerencial da administração pública, é uma resposta ao 
processo de globalização em curso, que ameaça reduzir a autonomia 
dos Estados na formulação e implementação de políticas, e, 
principalmente, à crise do Estado, que começou a se delinear em 
quase todo o mundo nos anos 70, mas que só assumiu plena definição 
nos anos 80. Uma primeira geração de reformas, nesses anos 80, 
promoveu o ajuste fiscal, de liberalização comercial e de 
liberalização de preços – e já iniciou a reforma do Estado, estrito 
senso, por meio dos programas de privatização. (...) Já nos anos 90, 
quando essa proposta se demonstrou ser irrealista do ponto de vista 
econômico (não produzia desenvolvimento) e político (não tinha 
apoio nos eleitores), surge uma segunda geração de reformas, 
encabeçadas pela reforma da administração pública, que têm como 
objetivo principal reconstruir o Estado. Na primeira geração de 
36 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 reformas, já se falava em reforma administrativa, mas esta era confundida com mero downsizing. Na segunda geração, a reforma 
administrativa implica aplicar os princípios e práticas da nova gestão 
pública, implantar a Reforma Gerencial (BRESSER-PEREIRA, 2011, 
p. 31). 
 
Para os críticos, a reforma do Estado se constituía simplesmente em uma 
reestruturação administrativa cujo objetivo exclusivo era o equilíbrio fiscal do Estado. 
Para Bresser-Pereira (2009, p. 261) abrangia mais do que geralmente se entendia por 
“nova gestão pública”; a reforma ia além das novas práticas e instituições gerenciais, 
preconizava os mecanismos de controle social e redefinia a lógica da organização do 
Estado e das funções do Estado1: 
 
A ideia básica é que as atividades que utilizam o poder do Estado 
devem ser desenvolvidas dentro da organização do Estado; as 
atividades sociais, culturais e científicas que envolvam externalidades 
e lidem com os direitos humanos básicos devem ser 
predominantemente financiadas pelo Estado, apesar de executadas por 
organizações públicas não estatais de serviço. Além disso, a reforma 
da gestão pública está preocupada com o caráter democrático das 
decisões dos funcionários governamentais. Assim, enquanto defende 
uma maior autonomia para os funcionários governamentais em suas 
decisões, dada a complexidade dos problemas que o governo enfrenta 
atualmente e a velocidade necessária a algumas decisões, requer, em 
compensação, maior transparência e responsabilização no processo 
decisório. Finalmente, o objetivo da reforma da gestão pública não é 
apenas tornar mais eficiente a organização do Estado, mas aumentar a 
capacidade do Estado (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 261). 
 
Matias-Pereira (2012) também frisou as diferenças contidas na reforma do 
Estado, agregando ao fenômeno a consolidação do processo democrático e a justiça 
social: 
A reforma do Estado não se restringe à reestruturação administrativa e 
ao alcance do equilíbrio fiscal. Tem como principal objetivo a 
consolidação do processo democrático, a estabilidade econômica e o 
desenvolvimento sustentável com justiça social. Assim, a priorização 
da reforma do Estado é uma medida necessária para permitir que o 
governo possa atender de forma adequada às demandas da sociedade. 
O atendimento dessas demandas exige que o Estado atue de forma 
inteligente, ou seja, se torne cada vez mais eficiente, eficaz e efetivo 
na prestação de serviços públicos, com qualidade e menores custos 
para a sociedade. Assim a busca de uma cultura empreendedora na 
administração pública é essencial para a elevação do desempenho da 
1 As quatro formas distintas e relevantes de propriedade no capitalismo atual são: estatal, 
pública não-estatal, corporativa e privada. Os três tipos básicos de atividade em que o Estado costuma ser 
envolvido são: atividades exclusivas do Estado, atividades sociais e científicas, e produçãode bens e 
serviços para o mercado (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 261). 
 
37 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 gestão pública no Brasil, em termos de resultados e qualidade dos serviços públicos ofertados (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 117). 
 
 Ainda diferenciando a reforma da gestão pública, Bresser-Pereira (2009) 
asseverou que as reformas não podem ser confundidas com a adoção de novas práticas 
gerenciais: 
 
As reformas da gestão pública também não devem ser confundidas 
com a adoção de novas práticas ou estratégias gerenciais, sem as 
correspondentes mudanças nas instituições. (...) A busca de qualidade 
e eficiência na gestão é um processo diário e permanente. Um dos 
mais importantes princípios gerenciais é que não há trajetória 
equilibrada de crescimento ou mecanismo de “pilotagem automática” 
para as organizações. É um falso otimismo de gestores inexperientes – 
e de funcionários burocráticos – acreditar na existência de uma 
fórmula que se sustente por si só, seja válida em todas as situações e a 
qualquer tempo (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 263). 
 
O quadro 1, adaptado de Matias-Pereira apresenta as principais diferenças entre 
a administração pública gerencial (alvo de nossa atenção neste item) e a administração 
pública burocrática (objeto de análise do item anterior – 3.2): 
 
 
Quadro 1: Principais diferenças entre a administração pública burocrática e a gerencial 
Administração Pública Burocrática Administração Pública Gerencial 
 
1. Apoia-se na noção geral do interesse 
público; 
2. Garante cumprimento de 
responsabilidade; 
3. Obedece às regras e aos procedimentos; 
4. Opera sistemas administrativos; 
5. Concentra-se no processo; 
6. É autorreferente; 
7. Define procedimentos para contratação de 
pessoal, compra de bens e serviços; 
8. Satisfaz às demandas dos cidadãos; 
9. Controla procedimentos; 
10. Define cargos rígida e fragmentadamente; 
Tem alta especialização. 
 
 
1. Procura obter resultados valorizados 
pelos cidadãos; 
2. Gera accountability; 
3. Compreende e aplica normas; 
Identifica e resolve problemas; 
Melhora continuamente os processos; 
4. Separa serviços e controle; 
Cria apoio para normas; 
Amplia a escolha do usuário; 
Encoraja ação coletiva; 
Cria incentivos; 
Define, mede e analisa resultados; 
5. Orienta-se para resultados; 
6. Foca o cidadão; 
7. Luta contra o nepotismo e a corrupção; 
8. Evita adotar procedimentos rígidos; 
9. Define indicadores de desempenho – 
utiliza contratos de gestão; 
10. É multifuncional; 
Flexibiliza as relações de trabalho 
 
 
Fonte: Matias-Pereira (2012, p. 62). 
38 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 Por fim, e através de uma síntese irretocável, Bresser-Pereira afirmou que é 
decorrente da transformação do Estado o aumento de sua capacidade, e, por 
consequência, o seu melhor funcionamento. 
 
Ao tornar a organização do Estado mais eficaz e eficiente, a reforma 
da gestão pública passa a ser um elemento essencial da governança, 
juntamente com a sociedade civil e outras instituições. (...) A reforma 
da gestão pública está gradualmente mudando a organização do 
Estado, estabelecendo limites racionais para as suas ações, criando 
novos papéis para ela, aumentando sua capacidade de proteger a res 
publica e tornando os administradores públicos mais eficientes e 
responsáveis. Em outras palavras, está aumentando a capacidade do 
Estado (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 265). 
 
 Por mais que diferentes países, inclusive o Brasil, tenham adotado práticas 
gerenciais na administração do Estado e, com isso, melhorado sobremaneira a atuação 
dos governos, infelizmente em muitas ocasiões o patrimonialismo ainda impera, mesmo 
nos tempos atuais. Será esse o tema da próxima Unidade Didática deste Guia de 
Estudos. 
 
3.4. Patrimonialismo Brasileiro Contemporâneo 
 
 
O patrimonialismo, presente hoje sob a forma de clientelismo ou de 
fisiologismo, continua a existir no país, embora sempre condenado. 
Para completar a erradicação desse tipo de cultura pré-capitalista 
não basta condená-la, será preciso também puni-la (BRESSER-
PEREIRA, 2011, p. 25). 
 
Por mais que se propague a função principal do Estado-nação nos tempos atuais: 
 
A função principal do Estado-nação no mundo contemporâneo – 
realizada por meio do governo e da administração pública – é a de 
ampliar de forma sistemática as oportunidades individuais, 
institucionais e regionais. Deve preocupar-se, também, em gerar 
estímulos para facilitar a incorporação de novas tecnologias e 
inovações no setor público que proporcionem as condições exigidas 
para atender às demandas da sociedade contemporânea (MATIAS-
PEREIRA, 2012, p. 7). 
 
E que se reconheça o papel das instituições, das leis e dos valores morais: 
 
As instituições são essenciais, e as leis são necessárias no processo de 
ordenamento dos mercados, mas não são suficientes. Assim, além das 
instituições, encontram-se os valores morais aceitos por todos, que 
garantem o perfeito e o permanente relacionamento entre indivíduos e 
instituições (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 22). 
39 
 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 O patrimonialismo (estudado no item 3.1) ganha novas formas e se mantém 
presente na estrutura do Estado. Em alguns casos, o que se convencionou chamar de 
neopatrimonialismo é até aceito, ainda que tacitamente pela sociedade, como nos casos 
em que governantes e funcionários exploram o Estado, mas, em contrapartida, 
asseguram alguns poucos benefícios à sociedade. Segundo Ribeiro (2010, p. 8414) essa 
forma de “novo patrimonialismo” teria caráter altamente modernizador, legitimando-se 
pelo futuro, não pela reiteração do passado (RIBEIRO, 2010, p. 8414). 
 A autora busca caracterizar o neopatrimonialismo, que se transveste dos 
interesses dos cidadãos e o relaciona com traços culturais do brasileiro: 
 
O “neopatrimonialismo” possui três elementos essenciais: conecta-se à 
atuação de agentes pertencentes à própria sociedade; se apoia sobre 
novos motes, como o desenvolvimento econômico e social; utiliza-se 
de uma lógica dual, composta por uma “lógica racional-legal”, 
explícita, que se supõe baseada “na vontade do cidadão e nos quais 
impera a separação entre o público e o privado”; mas também por uma 
“lógica patrimonial, que segue operando oculta, possuindo 
dificuldades “para se legitimar no plano macro, conquanto no plano 
micro (aquele das pequenas propinas e apropriações que grande parte 
da população pratica) não haja maior questionamento de sua 
ilegitimidade formal” (RIBEIRO, 2010, p. 8415). 
 
 
 
A seguir, discutiremos um pouco mais sobre o 
neopratrimonialismo através de dois textos publicados no 
jornal Folha de São Paulo: “A derrocada dos campeões 
nacionais” e “Pressão patrimonialista”. Confiram em 
nossas atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem – 
AVA. 
 
 
 
 
 
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARA RELFEXÃO 1: A derrocada dos campeões nacionais 
O ano de 2013 foi catastrófico para os "campeões nacionais" eleitos pelo governo para se 
tornarem multinacionais verde-amarelas. O BNDES despejou quase R$ 30 bilhões nessas 
empresas e não está sobrando pedra sobre pedra. 
O lance mais recente é a fusão entre a Oi e a Portugal Telecom. Como é típico dessas 
operações complexas, não é possível saber ainda quem ficou com a empresa, mas ao que tudo 
indica a gestão será dos portugueses. 
O governo mudou as leis para permitir a fusão que criou a Oi e concedeu empréstimos 
vultuosos para a empresa, mas não adiantou. A "super" tele brasileira se viu atolada em 
dívidas e precisando desesperadamente

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