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PPGD 2019 - MESTRADO UNESP - PONTO 2 CONSTRUÇÃO DA ORDEM FICHAMENTO

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CARVALHO, José Murilo de Carvalho, A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Relume/Dumará, 1996.
FICHAMENTO
CAPÍTULO 1: ELITES POLÍTICAS E CONSTRUÇÃO DO ESTADO
- Para Mosca, a classe política constrói e mantém o domínio na medida em que suas habilidades possuam algum sentido social, na medida em que controle alguma “força social” (dinheiro, terra, conhecimento, religião) que seja predominante. (p. 25)
- Estudos históricos mais recentes de elites políticas europeias indicam causação recíproca entre sua constituição e o processo de formação dos Estados modernos. Em outras palavras, as elites políticas europeias formaram-se ao longo de um processo de tensão polar, tendo de um lado a expansão do poder dos funcionários reais e de outro a pressão de grupos sociais por representação política. (p. 26)
- As franquias eleitorais iniciadas em 1832 e reforçadas em 2867 [na Inglaterra] permitiram aos poucos a entrada na elite de membros da burguesia comercial e industrial e posteriormente da classe operária. Mas entre 1886 e 1916 a metade dos ministros ainda era de origem aristocrática. Esses aristocratas, sobretudo os que chegavam a postos de gabinete, eram na maioria pessoas que viviam de rendas, da terra, ou de investimentos. Isso lhes proporcionava o ócio necessário para se dedicarem a lazeres diversos, entre os quais as atividades políticas. A política para eles não era vocação nem profissão, pois raramente dela dependiam para sua subsistência material. (p. 29)
- Os juristas e magistrados exerceram um papel de grande importância na política e na administração portuguesa e posteriormente na brasileira. Tratava-se de uma elite sistematicamente treinada, sobretudo graças ao ensino do direito na Universidade de Coimbra, fundada em 1290. O direito ensinado em Coimbra era profundamente influenciado pela tradição romanista trazida de Bolonha. O direito romano era particularmente adequado para justificar as pretensões de supremacia dos reis. Tratava-se de um direito positivo cuja fonte era a vontade do príncipe e não o poder da Igreja ou o consentimento dos barões. Os monarcas que se salientaram na luta pela criação de Estados modernos quase sempre se cercavam de juristas. [...] O código Afonsino teve influencia do Corpus Juris Civilis. (p. 31/32)
- Weber parece não distinguir entre o papel dos juristas e o dos advogados. A distinção, no entanto, é esclarecedora. Os juristas estavam para os Estados absolutos como os advogados estavam para os Estados liberais. [...] Os advogados eram fruto da sociedade liberal e quanto mais forte esta, tanto maior sua influência e mais generalizada sua presença. Os juristas, no entanto, sobretudo os de tradição romana, preocupavam-se mais com a justificação do poder real e com a montagem do arcabouço legal dos novos Estados. (p. 36)
- A homogeneidade ideológica e o treinamento foram características marcantes da elite política portuguesa, criatura e criadora do Estado absolutista. Uma das políticas dessa elite foi reproduzir na colônia uma outra elite feita à sua imagem e semelhança. A elite brasileira, sobretudo na primeira metado do século XIX, teve treinamento em Coimbra, concentrado na formação jurídica, e tornou-se, em sua grande maioria, parte do funcionalismo público, sobretudo da magistratura e do Exército. (p. 37)
- Essa elite se reproduziu em condições muito semelhantes após a Independência, ao concentrar a formação de seus futuros membros em duas escolas de direito, ao fazê-los passar pela magistratura, ao circulá-los por vários cargos políticos e por várias províncias. (p. 39)
- A situação brasileira foi algo contraditória na medida em que os elementos mais reformistas da elite e da burocracia tiveram frequentemente que se aliar a elementos mais retrógrados da sociedade a fim de implementar as reformas. Esses desencontros levaram à incapacidade final do sistema em acompanhar as transformações políticas e à sua queda pela cisão entre os setores civil e militar da burocracia. (p. 43)
- A essa altura, no último quartel do século XIX, a elite já perdera também parte de sua homogeneidade inicial, sobretudo pela grande redução no número de funcionários públicos e pelo aumento dos advogados. Em parte, a mudança se dera em função das pressões por maior representação de interesses dentro do Estado. Uma das manifestações dessa demanda era a exigência do afastamento dos funcionários públicos, sobretudo magistrados, do exercício de mandatos representativos. (p. 43)
CAPÍTULO 2: A ELITE POLÍTICA NACIONAL: DEFINIÇÕES
- O debate frequentemente se desviava para questões de métodos de localização dessas pessoas ou grupos. Desenvolveram-se dois métodos principais, um chamado de posição e o outro de decisão. O primeiro definia a elite política como se constituindo das pessoas que ocupavam posições formais de poder. O segundo alegava que o poder formal podia não coincidir com o poder real e sugeria o exame de decisões concretas para que fosse detectado o poder em ação e as pessoas que realmente o exerciam. (p. 51)
- Era razoável supor que as decisões de política nacional eram tomadas pelas pessoas que ocupavam os cargos do Executivo e do Legislativo, isto é, além do imperador, os conselheiros de Estado, os ministros, os senadores e os deputados. (p. 51)
- Houve momentos em que se formaram sociedades políticas, às vezes abertas, às vezes secretas, que chegaram a exercer influência considerável, sobretudo na Regência. Mas em geral duraram pouco tempo e além disso vários de seus líderes ocupavam também posições formais de poder. (p. 51)
CAPÍTULO 3: UNIFICAÇÃO DA ELITE: UMA ILHA DE LETRADOS
- Elemento poderoso de unificação ideológica da elite imperial foi a educação superior. E isto por três razões. Em primeiro lugar, porque quase toda a elite possuía estudos superiores, o que acontecia com pouca gente fora dela: a elite era uma ilha de letrados num mar de analfabetos. Em segundo lugar, porque a educação superior se concentrava na formação jurídica e fornecia, em consequência, um núcleo homogêneo de conhecimentos e habilidades. Em terceiro lugar, porque se concentrava, até a Independência, na Universidade de Coimbra e, após a Independência, em quatro capitais provinciais, ou duas, se considerarmos apenas a formação jurídica. A concentração temática e geográfica promovia contatos pessoais entre estudantes das várias capitanias e províncias e incutia neles uma ideologia homogênea dentro do estrito controle a que as escolas superiores eram submetidas pelos governos tanto de Portugal como do Brasil. (p. 65)
- Dado que até 1850 a grande maioria dos membros da elite foi educada em Coimbra, será necessária breve notícia sobre essa Universidade e sobre a atmosfera intelectual que lá dominava. (p. 65)
- Foi política sistemática do governo português nunca permitir a instalação de estabelecimentos de ensino superior nas colônias. Quando em 1768 a capitania de Minas Gerais pediu permissão para criar por conta própria uma escola de medicina, o Conselho Ultramarino respondeu que a questão era política, que a decisão favorável poderia enfraquecer a dependência da colônia e que “um dos mais fortes vínculos que sustentava a dependência das colônias era a necessidade de vir estudar a Portugal”. (p. 70)
- Em contraste marcante com essa política, a Espanha permitiu desde o início a criação de universidades em suas colônias. (p. 70) [...] Solicitações de novas universidades usavam como argumento a dificuldade apresentada pelas viagens ao México e ao Peru e a necessidade de formar quadros religiosos adequados para a defesa e propagação da religião. O último argumento aponta para uma das características básicas dessas universidades – sua forte vinculação com instituições e objetivos religiosos. (p. 70/71)
- A política educacional da Espanha teve duas consequências importantes para a formação de elites. Em primeiro lugar, a ampla distribuição geográfica das universidades permitiu a formação de elites intelectuais praticamente em todas as subdivisões administrativasque posteriormente se transformaram em países independentes. (p. 71)
- Em segundo lugar, a política espanhola contribuiu para a difusão da educação superior em grau muito maior que o propiciado por sua congênere portuguesa. [...] O preço da homogeneidade da elite brasileira foi uma distribuição muito mais elitista da educação e a menor difusão de ideias que os governos da época consideravam perigosas. (p. 72)
- [...] As escolas dedicadas explicitamente à formação da elite política só surgiram após a Independência. Trata-se dos dois cursos de direito criados em 1827 e iniciados em 1828, um na cidade de São Paulo, outro em Olinda, transferido em 1854 para Recife. (p. 73)
- Após o Ato Adicional de 1834, a educação superior se tornou responsabilidade tanto do governo geral como dos governos provinciais, mas nenhuma escola superior foi criada pelas províncias durante o Império, reproduzindo-se internamente efeito semelhante ao buscado pela política colonial na centralização e homogeneização da formação das elites. (p. 74)
- De modo geral, os alunos das escolas de direito provinham de família de recursos. As duas escolas cobravam taxas de matrícula. (p. 74)
- Os cursos de direito foram criados à imagem do predecessor coimbrão. Os primeiros professores eram ex-alunos de Coimbra e alguns dos primeiros alunos vieram de lá transferidos. Mas houve importante adaptação no que se refere ao conteúdo das disciplinas. O direito romano foi abandonado em benefício de matérias mais diretamente relacionadas com as necessidades do novo país, tais como os direitos mercantil e marítimo e a economia política. A ideia dos legisladores brasileiros era a de formar não apenas juristas mas também advogados, deputados, senadores, diplomatas e os mais altos empregados dos Estado, como está expresso nos Estatutos feitos pelo visconde de Cachoeira adotados no início dos cursos. (p. 76)
- Além disso, o governo central manteve sempre estrita supervisão das escolas superiores, sobretudo as de direito. Diretores e professores eram nomeados pelo ministro do Império, programas e manuais tinham que ser aprovados pelo Parlamento. (p. 82/83)
- O ponto importante a guardar de toda a análise é que a síndrome educação superior/educação jurídica/educação em Coimbra deu à elite política da primeira metade do século aquela homogeneidade ideológica e de treinamento que apontamos como necessária para as tarefas de construção do poder nas circunstâncias históricas em que o Brasil se encontrava. (p. 84)
- Coimbra foi particularmente eficaz em evitar contato mais intenso de seus estudantes com o Iluminismo francês, politicamente perigoso. (Iluminismo português não foi libertário.) (p. 84)
- O isolamento a que estavam submetidos os alunos de Coimbra foi quebrado nas escolas de direito brasileiras. Mas as ideias radicais continuaram ausentes dos compêndios adotados. Desenvolveu-se uma orientação mais pragmática e eclética [...]. Segundo observa Mercadante, o compromisso e a adaptação foram a característica básica da elite política e intelectual, refletindo a situação do país em que um governo constitucional e uma constituição liberal tinham que coexistir com oligarquias rurais e com o trabalho escravo. (p. 86)
- A vida intelectual do país começou a mudar significativamente no início da década de 1870, com a introdução de outras correntes europeias de pensamento, sobretudo com o positivismo e o evolucionismo. A essa altura, a sólida homogeneidade da elite política começava a ser minada por vários fatores. O ensino das escolas de direito aprofundou a tendência à maior diversificação e pragmatismo já presentes nos estatutos iniciais. A reforma de 1879 dividiu o curso em ciências jurídicas e ciências sociais, as primeiras para formar magistrados e advogados, as segundas diplomatas, administradores e políticos. (p. 86)
- A mudança era em parte forçada pelos desequilíbrios entre oferta e demanda de graduandos. Já bem cedo começou a haver excesso de bacharéis em relação ao número de empregos abertos na magistratura. Certamente o desenvolvimento do país foi abrindo oportunidade de emprego no campo da advocacia. (p. 86)
- A maior importância política do desemprego dos bacharéis, no entanto, vinha do fato de serem mais habilitados a formular suas queixas em termos políticos e a servir de instrumento a grupos de oposição, incluindo os que buscavam a queda da monarquia. (p. 87)
CAPÍTULO 4: UNIFICAÇÃO DA ELITE: O DOMÍNIO DOS MAGISTRADOS
- O grosso dos profissionais liberais era formado de advogados. Havia duas razões principais para distingui-los dos magistrados com relação à capacidade e orientação políticas. A primeira é que foram quase todos educados no Brasil e não em Coimbra como os magistrados, e já vimos as diferenças entre as duas formações. A segunda é que o advogado tem uma relação com o Estado muito distinta da do magistrado. O último é empregado público, encarregado de aplicar a lei e defender os interesses da ordem. O advogado é um instrumento de interesses individuais ou de grupos, e como tal pode tornar-se porta-voz de oposições tanto quanto do poder público. Seu papel se tornaria mais importante em relação à construção do Estado em uma fase posterior, quando a participação se tornasse um problema mais básico do que a concentração de poder. (p. 101)
- As principais mudanças foram então dos magistrados de Coimbra para os magistrados formados nas escolas brasileiras, e desses para os advogados também formados no Brasil. Houve sem dúvida ao longo do processo uma redução da orientação estatizante e da capacidade para a construção do poder. Mas não foi mudança radical na medida em que permaneceu até o final a formação jurídica, além de outros traços que veremos no capítulo seguinte. (p. 102)
- Um ponto crucial nesses regimes e nesse tipo de elite é a absorção de maior participação política. Mesmo a elite turca, que era modernizadora, teve problemas em fazer essa absorção. [...] A composição da elite brasileira também se foi transformando lentamente em função de vários fatores, entre os quais se salientavam o próprio crescimento do estoque de elementos elegíveis para a elite e a crescente diversificação das tarefas polícias e administrativas. (p. 116)
CAPÍTULO 5: UNIFICAÇÃO DA ELITE: A CAMINHO DO CLUBE
- Uma carreira típica para o político cuja família não possuía influência bastante para levá-lo diretamente à Câmara começava pela magistratura. Como o sistema judicial era centralizado, todos os juízes eram nomeados pelo ministro da Justiça. Logo após a formatura, o candidato à carreira política tentava conseguir uma nomeação de promotor ou juiz municipal em localidade eleitoralmente promissora ou pelo menos um município rico. (p. 121)
- O mais difícil era entrar. Um diploma de estudos superiores, sobretudo em direito, era condição quase sine qua non para os que pretendessem chegar até os postos mais altos. A partir daí vários cainhos podiam ser tomados, o mais importante e seguro sendo a magistratura, secundariamente a imprensa, a advocacia, a medicina, o sacerdócio. Em alguns casos, a influência familiar era suficientemente forte para levar o jovem bacharel diretamente à Câmara. (p. 125)
- Podemos concluir a análise do processo de socialização e de treinamento da elite imperial. Os dados apresentados sobre educação, ocupação e carreira permitem-nos concluir que existiu no Brasil um grupo especial e políticos distinto do que se formou nos outros países da América Latina. A especificidade desse grupo não era devida à origem social. Ela se pendia à socialização e treinamento deliberadamente introduzidos para garantir determinada concepção de Estado e capacidade de governo. Tanto liberais como conservadores, nos períodos turbulentos de consolidação do poder, quando várias alternativas se colocavam como viáveis politicamente, concordavam em alguns pontos básicos referentes à manutenção da unidade do país, à condenação de governos militares de estilo caudilhesco ou absolutista, à defesa do sistema representativo, à manutenção da monarquiae, sem dúvida, também à necessidade de preservar a escravidão. (p. 138)
CAPÍTULO 6: A BUROCRACIA, VOCAÇÃO DE TODOS
- As burocracias profissionalizadas, como a militar, a eclesiástica e a judiciária, definiam com maior rigidez suas fronteiras, mas para quem conseguisse entrar a subida até o topo era sempre possível. Já os setores menos profissionalizados não definiam com precisão as fronteiras, mas, em compensação, a promoção aos postos mais altos era mais difícil. (p. 146)
- O fato de constituírem corporações mais ou menos estruturadas, com maior grau de coesão interna do que os outros setores, fez com que se tornassem atores políticos coletivos com muito maior poder de barganha. (p. 147)
CAPÍTULO 7: JUÍZES, PADRES E SOLDADOS: OS MATIZES DA ORDEM
- As normas que regiam a carreira judicial procuravam reduzir os contatos os magistrados com a via local, na suposição de que eles os afastariam do cumprimento de sua missão que era o serviço do rei. (p.173)
- A educação e a experiência de carreira dão aos magistrados grande competência para as funções legislativas, motivam-nos para se envolverem na política e lhes fornecem os necessários recursos de poder. (p. 178)
- Segundo Euzébio, a educação do magistrado o levava a estudar línguas (francês, inglês e latim); filosofia; vários ramos do direito (natural, romano, público, civil, criminal, administrativo e comercial); diplomacia e economia política. (p. 179)
CAPÍTULO 8: OS PARTIDOS POLÍTICOS IMPERIAIS: COMPOSIÇÃO E IDEOLOGIA
- Os liberais eram por maior autonomia provincial, pela Justiça eletiva, pela separação da polícia e da Justiça, pela redução das atribuições do poder moderador. Os conservadores defendiam fortalecimento do poder central, o controle centralizado da magistratura e da polícia, o fortalecimento do poder moderador. (p. 206)
- No que diz respeito às relações entre ocupação e filiação partidária, os dados mostram a tendência nítida de se concentrarem os funcionários públicos no Partido Conservador e os profissionais liberais no Partido Liberal. (p. 211)
CONCLUSÃO: A DIALÉTICA DA AMBIGUIDADE
- O núcleo da elite brasileira, pelo menos até um pouco além da metade do século, era formado de burocratas – sobretudo magistrados – treinados nas tradições do mercantilismo e absolutismo portugueses. A educação em Coimbra, a influência do direito romano, a ocupação burocrática, os mecanismos de treinamento, tudo contribuía para dar à elite que presidiu à consolidação do Estado imperial um consenso básico em torno de algumas opções políticas fundamentais. (p. 230/231)
- O fato ilustra a ideia da ambiguidade, já expressa por Joaquim Nabuco quando disse que se o governo era uma sombra da escravidão, era também a única força capaz de acabar com ela: “Essa é a força capaz de destruir a escravidão, da qual aliás dimana, ainda que, talvez, venham a morrer juntas”. O Estado Imperial se tornava, por sua elite, instrumento ao mesmo tempo de manutenção e de transformação das estruturas sociais. (p. 234)
- Vimos a existência no Brasil de uma elite deliberadamente treinada para as tarefas do governo. Essa elite pesou fortemente na opção política adotada pelo novo país, que não era a que se poderia chamar de mais provável. O mais provável seria o destino seguido pelas ex-colônias espanholas: intenso conflito intra-elite levando tanto à fragmentação territorial como à nacionalização dos conflitos locais e à maior dificuldade de organizar governos civis legítimos. A unidade básica da elite formada na colônia portuguesa, no entanto, evitou conflitos mais sérios entre seus próprios membros, estabeleceu um cordão sanitário que mantinha localizados nos municípios ou nas províncias os principais movimentos contestatórios, resguardou a integridade do país e a estabilidade do governo central. (p. 234/235)

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