Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Literatura Portuguesa I Coordenador: Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira AP 1 – 2015. 1 Instruções: ● Escreva à tinta (azul ou preta) e com a maior legibilidade possível. ● Não escreva em tópicos. ● Escreva as respostas em texto coerente e coeso, em registro linguístico compatível com o trabalho acadêmico formal. ● Utilize o mínimo de 10 (dez) e o máximo de 15 (quinze) linhas para cada resposta. ● Devolva a folha de perguntas junto com as respostas. Pontuação: ● 3 (três) questões – 30 pontos cada; ● Objetividade, clareza, coerência, coesão e correção do texto – 10 pontos QUESTÕES - GABARITO 1. Que livro vem a ser afinal Viagens na minha terra de Almeida Garrett? Romance, crônica de viagem, depositário de reflexões filosóficas e políticas sobre Portugal, novela sentimental, “relato dos relatos” segundo Carlos Reis? Descreva algumas estratégias textuais utilizadas pelo autor em seu romance, partindo do fragmento abaixo: Neste despropositado e inclassificável livro das minhas VIAGENS, não é que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada meada. Vamos pois com paciência, caro leitor; farei por ser breve e ir direito quanto eu puder. (GARRETT, 1973, p.172) Resposta comentada O aluno deve desenvolver a sua resposta a partir das palavras de Garrett, identificando-as como parte do livro quando o narrador, espécie de ficção do próprio Garrett, como A., se refere ao “caro leitor”. Viagens na minha terra é um livro precursor do romance moderno ao reunir estratégias textuais diversas, a começar pela articulação de uma dupla narrativa que compreende a viagem a Santarém no presente e a história da menina dos rouxinóis no passado. Além de romance com personagens e tempo desdobrado, o livro pode ser considerado uma crônica de viagem já que o A. realiza uma viagem de Lisboa a Santarém, ao longo da qual vai apontando as dificuldades de Portugal no final do século XIX. Ao mesmo tempo faz reflexões filosóficas a partir de vários autores, destacando-se a relação entre materialismo e espiritualismo nas figuras de D. Quixote e Sancho Pança, concretizados nos personagens Frei Dinis e Carlos. Trata-se de um painel histórico das lutas entre liberais e conservadores até a vitória do liberalismo, apresentado pela percepção crítica, de uma narrador que defende a necessidade de conhecer a pátria por dentro. Assim, o livro abandona o imaginário dos deslocamentos marítimos e valoriza um deslocamento territorial que toma a forma de uma autognose da pátria pela escrita. 2. Que livro é este que Gonçalo Mendes Ramires escreve e publica em A Ilustre Casa de Ramires de Eça de Queiroz? Disserte sobre os enlaces que se podem traçar entre indivíduo e nação na obra do Eça e na novela do seu personagem, tomando como ponto de partida o seguinte trecho: Um ano depois da formatura, Gonçalo foi a Lisboa por causa da hipoteca da sua quinta (…) [ e ] esbarrou no Rossio com José Lúcio Castanheiro [que] ardia, como em Coimbra, na chama da sua ideia – “a ressurreição do sentimento português!” (…) e suplicou a Gonçalo Mendes Ramires que lhe cedesse para os Anais esse romance que ele anunciara em Coimbra, sobre o seu avoengo Tructesindo Mendes Ramires, alferes-mor de Sancho I.(…) Resposta comentada É preciso mostrar que A Ilustre Casa de Ramires é um romance da fase final de Eça de Queirós, cujo personagem principal é Gonçalo Mendes Ramires que escreve uma novela sobre os seus ancestrais nos primórdios da nação portuguesa (século XII), na qual são valorizadas qualidades que se perderam na época do próprio herdeiro Ramires do século XIX. Movido por sentimentos nem sempre muito nobres, o personagem resolve escrever sobre o seu antepassado por incentivo de um amigo (Castanheiro) preocupado em fazer “a ressurreição do sentimento português!” À medida que Gonçalo vai compondo a sua novela ambientada no passado medieval, a narrativa principal expõe as diferenças existentes entre o comportamento de Gonçalo e o de seus antepassados, numa forma de contrastar e criticar a pátria no presente. Ao longo e ao final do romance, Gonçalo é uma espécie de metonímia de Portugal, com qualidades e defeitos, o que deixa em aberto uma interpretação definitiva sobre o sentido da obra. O romance focaliza o Território português no presente e no passado sob o crivo de uma dupla Escrita - a de Gonçalo e a do narrador – e no seu desfecho ocorre um Deslocamento problemático que revitaliza o colonialismo português em África. 3. Assim começa “O sentimento dum ocidental” de Cesário Verde: Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam um desejo absurdo de sofrer. Comente o poema a partir do que afirma o crítico Helder Macedo: A cidade é Lisboa; o ‘sentimento’ do título é o do narrador, natural do extremo ocidental da Europa, um português. Mas a cidade também representa o todo da civilização ocidental a que Portugal pertence; e o sentimento que ela provoca é ao mesmo tempo um produto dessa civilização e um protesto contra ela (MACEDO, 1986, p.169). Resposta comentada É preciso comentar a referência a Lisboa na estrofe citada quando o poeta menciona a visão do rio Tejo que, juntamente com outras tantas coisas, o faz sofrer. No entanto o título do poema parece ampliar este limite nacional ao se referir ao “sentimento dum ocidental”, conforme comenta Helder Macedo. Esta diferença acentua a tensão do poeta que perambula pelas ruas da capital portuguesa dividido entre ser português e desejar evadir-se para outros lugares, como Londres, Paris, São Petersburgo. Neste sentido o poema é muito mais o sentimento de um indivíduo que se desloca pela parte mais ocidental da Europa, outrora denominada a “ocidental praia lusitana” do poema camoniano, ou seja, Portugal. Como herdeiro de uma pátria falida, o poeta rememora o passado com nostalgia (“E evoco, então, as crónicas navais:/ Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!”) mas só encontra diante de si uma “Dor humana” que “busca os amplos horizontes” mas tem marés de fel, como um sinistro mar”.
Compartilhar