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Unidade Curricular de Macroeconomia 1 Sara Vieira Ribeiro- A82058 O BCE e a Estabilidade dos Preços “Nem em 2020 a inflação será a ideal na Zona Euro, reconhece o BCE”, este é o título da notícia lançada pelo “Observador” a 14 de Dezembro de 2014 retratando o luta sem precedentes que o Banco Central Europeu (BCE) enfrenta atualmente para manter o seu objetivo de estabilidade de preços. O desafio que se propõe passa por compreender as ações do BCE para atingir a estabilidade dos preços. O BCE é uma instituição pública, criada em 1999 pelo Tratado de Maastricht, que gere a moeda de um país ou grupo de países e controla a oferta de moeda, mais especificamente, a quantidade de moeda em circulação. A principal função do BCE é executar a política monetária na Zona Euro, evitando que os preços cresçam significativamente (inflação) e evitando também períodos de queda contínua dos preços (deflação). Em conformidade com o n.º 2 do artigo 127.º do Tratado, as funções fundamentais cometidas pelo Eurosistema1 são: A definição e execução da política monetária da área do euro; A realização de operações cambiais; A detenção e gestão das reservas oficiais dos países da área do euro; A promoção do bom funcionamento dos sistemas de pagamentos. O n.º1 do artigo 127.º do Tratado define que “O objetivo primordial do [Eurosistema] é a manutenção da estabilidade dos preços”. Assim sendo, O 1 O Eurosistema compreende o BCE e o BCN dos Estados-Membros da União Europeia que adotaram o euro. Unidade Curricular de Macroeconomia 2 Sara Vieira Ribeiro- A82058 BCE pretende manter a taxa de inflação, medida pelo IHPC 2 (Índice Harmonizado de Preços ao Consumidor), num nível abaixo, mas próximo de 2% no médio prazo, de modo a proporcionar uma margem de segurança suficiente contra a deflação considerada prejudicial para o bem-estar dos cidadãos. Esta margem é igualmente importante para acomodar diferenciais de inflação dentro da área do euro, bem como eventuais enviesamentos no cálculo do IHPC. Com o objetivo de cumprir rigorosamente o controlo de inflação, o BCE toma as suas decisões sobre a política monetária procedendo a dois tipos de análise, a análise económica e a análise monetária - pilares da política do BCE. A análise económica pressupõe uma avaliação numa visão a curto/médio prazo da economia real e do impacto que esta pode ter na evolução do nível de preços. Neste pilar avalia-se a evolução de variáveis macroeconómicas como o produto global, a procura agregada, políticas orçamentais, entre outras. A análise monetária avalia a massa monetária numa perspetiva de médio/longo prazo, permitindo ao BCE avaliar a evolução de variações na oferta de moeda e os efeitos que essas variações originam mais tarde no nível geral dos preços (Marques, 2011). O objetivo de manutenção da estabilidade de preços é atingido convencionalmente através do controlo das taxas de juro. Assim, o Conselho do BCE define as taxas de juro oficiais do Eurosistema, ou seja, as taxas de juro a que o Eurosistema cede liquidez ao sistema bancário e absorve liquidez do sistema bancário. As taxas de juro oficiais do Eurosistema são: Taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento; Taxa de juro da facilidade permanente de cedência marginal de liquidez; Taxa de juro da facilidade permanente de depósito. 2 Cada um dos institutos nacionais de estatística envia os respetivos valores para o Eurostat, a quem compete calcular o IHPC para o conjunto da área do euro. Unidade Curricular de Macroeconomia 3 Sara Vieira Ribeiro- A82058 De forma a manter a estabilidade dos preços, o Eurosistema utiliza como instrumentos as operações de mercado aberto, as facilidades permanentes e a imposição às instituições de crédito de constituição de reservas mínimas. Este pode também adotar medidas não convencionais de política monetária, nomeadamente compras de ativos financeiros (Mankiw, 2013) No conjunto dos estados-membros da Zona Euro o comportamento da inflação é relativamente estável, principalmente entre 2002 e 2007, com variações na ordem dos 2%, valor definido pelo BCE como aceitável desde que não seja ultrapassado a médio prazo. A instabilidade da inflação nos países 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Série1 2,3 2,1 2,2 2,2 2,2 2,2 3,3 0,3 1,6 2,7 2,5 1,3 0,4 0,0 0,2 1,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Inflação na Zona Euro (Taxa de Variação do Índice de Preços no Consumidor) Série1Total de Bens e Serviços-Zona Euro 19 Fontes de Dados: Eurostat|Institutos Nacionais de Estatística Fonte: PORDATA Última atualização: 2018-01-12 Unidade Curricular de Macroeconomia 4 Sara Vieira Ribeiro- A82058 da Zona Euro chegaria no período exato do começar da crise de 2008, quando esta variou 3,3%, desacelerando no ano seguinte com uma variação de 0,3%. A inflação na Zona Euro regista nos últimos anos uma tendência decrescente. Com o objetivo de salvar a Zona Euro dos perigos da deflação e tentar estimular o crescimento económico, o BCE decidiu estabelecer, em 2014, a taxa de juro referencial para 0,05%. Sendo que em 2016 esta atingiu um mínimo histórico de 0%, mantendo-se inalterada até aos dias de hoje. Esta medida de política monetária tem sido constantemente usada por parte do BCE desde o eclodir da crise financeira de 2008. Baixando ou aumentando a taxa de juros, o BCE influencia indiretamente o nível das taxas aplicadas pelos bancos em transações interbancárias, empréstimos e contas de poupança. Prevê-se que a diminuição das taxas de juro potenciará os empréstimos, permitindo um maior acesso ao crédito para a compra de habitação e outros bens e serviços, assim como o investimento por parte das empresas, contribuindo portanto para a recuperação económica. Evolução da Taxa de Juros Europeia Fonte: GLOBAL RATES Unidade Curricular de Macroeconomia 5 Sara Vieira Ribeiro- A82058 Porém, embora o BCE tenha baixado as taxas de juro, em 2014, para níveis próximos de 0%, tornando o dinheiro muito barato para os bancos, estes não o emprestavam, as empresas não investiam, e as pessoas não gastavam. Assim, o BCE iniciou o processo de flexibilização quantitativa (quantitative easing), que vigora até ao presente. Este processo consiste na compra de ativos aos bancos comerciais, incluindo títulos de dívida pública. Com a liquidez3 assim adquirida, espera-se que os bancos concedam mais crédito às famílias e às empresas. Contudo alguns economistas, tal como o João Loureiro (Dinheiro Vivo, 2014), defendem que “Não é pelo facto dos bancos terem mais dinheiro que o vão emprestar, nomeadamente às empresas, que já se encontram muito endividadas” O fim das compras de dívida no final de 2018 e a subida da taxa de juro em 2019 é o plano do BCE para o caminho da normalização da política monetária, depois de vários anos de taxas ultrabaixas e intervenções inéditas do banco central nos mercados. Porém ainda há um longo caminho a percorrer até que a inflação preencha os três critérios (convergência, confiança e resiliência) que o BCE espera concretizar. Neste sentido, o economista-chefe do BCE, Peter Praet (2018), afirmou que “Quando o Conselho de Governadores considerar que os três critérios de ajustamento sustentável foram cumpridos, a compra de ativos vai expirar, em linha com a nossa orientação”. Concluindo, adeclaração do Presidente do BCE, Mario Draghi (2018), “Embora possamos estar mais confiantes sobre o ritmo da inflação, é ainda necessário que sejamos pacientes e persistentes no que diz respeito à política monetária" espelha perfeitamente a realidade monetária da Zona Euro. Com efeito, são necessárias mais evidências das pressões inflacionistas, assim como é essencial que a taxa de inflação "convirja de forma duradoura em direção aos nossos objetivos" para a normalização da política monetária. 3 Com a injeção de liquidez no mercado, o BCE provoca uma desvalorização do euro. Unidade Curricular de Macroeconomia 6 Sara Vieira Ribeiro- A82058 Referências Carregueiro, N. (2018,05 de fevereiro).Draghi: BCE ainda não pode declarar vitória na inflação. Negócios. Retrieved May 6, 2018, from https://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica-monetaria/detalhe/draghi-bce- ainda-nao-pode-declarar-vitoria-na-inflacao Caetano, N. (2017,14 de Dezembro). 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