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Alterações psicopatológicas

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Alterações psicopatológicas 
A sensopercepção- Apreendemos as informações que vêm do meio ambiente através das sensações. Essas informações são captadas por neurorreceptores e enviadas ao cérebro, que as interpretam. Dalgalarrondo (2008, p. 120) define sensação como “o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados originados fora ou dentro do organismo”. Sensação, então, é a forma como o estímulo é captado por nosso organismo e que vai alimentar seus sistemas de informação. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos físicos visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos proprioceptivos e cinestésicos – luz, som, calor, pressão, sabor, cheiros, enfim, tudo que permite ao sujeito se orientar no mundo. Não paramos nunca de receber informações do meio ambiente, o que permite que o sujeito se autorregule e organize essas informações em prol da sobrevivência e da convivência social. 
capítulo 2 • 47
 A percepção, que diz respeito à dimensão neuronal, é a tomada de consciência, pelo sujeito, desse estímulo sensorial, ainda não plenamente consciente no processo de sensopercepção. Ou seja, a sensação é um fenômeno passivo e a percepção, um fenômeno ativo (DALGALARRONDO, 2008, p. 120). A mente do sujeito constrói uma síntese dos estímulos sensoriais confrontados com experiências passadas e com o contexto sociocultural. Dessa forma, o sujeito vai atribuindo significado às suas experiências e a percepção é apreendida pelo sujeito consciente. Podemos dizer, portanto, que a sensopercepção é a associação entre a sensação e a percepção.
 Imagem e representação 
Como você já deve ter percebido, o elemento fundamental da sensopercepção é a imagem perceptiva real, ou simplesmente a imagem, que se caracteriza pelas seguintes qualidades: Nitidez – imagem com contornos precisos. 
Corporeidade – a imagem é viva, corpórea, tem luz, brilho e cores. 
Estabilidade – a imagem percebida é estável. 
Extrojeção – a imagem que vem do espaço exterior é percebida nesse espaço. Ininfluenciabilidade voluntária – o sujeito não consegue alterar voluntariamente a imagem percebida. 
Completude – a imagem é completa com todos os detalhes. 
Imagem real não pode ser confundida com a representação mental dessa imagem. A representação é uma revivescência da imagem real, sem que a imagem real esteja presente. Dalgalarrondo (2008, p. 122) aponta que, na representação, a imagem tem outras características: 
Nitidez – imagem com contornos imprecisos ou borrados. Corporeidade – a imagem é uma representação; não tem vida. 
Estabilidade – a imagem desaparece facilmente. 
Extrojeção – a representação é percebida no espaço interno. 
Incompletude – a imagem é incompleta, indeterminada. 
Outros tipos de imagem representativa: 
Imagem eidética – é a evocação de uma imagem guardada na memória.
 Pareidolias – são imagens visualizadas voluntariamente a partir de estímulos imprecisos do ambiente. Por exemplo: ver fi guras humanas ou animais nas nuvens. 
Imaginação – é uma atividade psíquica voluntária, em que os sujeitos invocam imagens do passado ou criam novas imagens. A imaginação geralmente ocorre na ausência de estímulos sensoriais.
 Fantasia – é uma produção imaginativa organizada na imaginação. Para a psicanálise, a fantasia ajuda os sujeitos a lidarem com as frustrações cotidianas. Usei da minha poesia para criar minha fantasia... E foi nesse turbilhão de emoção que deixei o meu coração emaranhado por uma doce ilusão. 
Concita Braga Alterações quantitativas da sensopercepção 
Nas alterações quantitativas, as imagens perceptivas têm intensidade anormal, aumentada ou diminuída. Cheniaux (2014, p. 35-36) mostra alguns exemplos: 
Agnosia – é um distúrbio do reconhecimento dos estímulos visuais, auditivos ou táteis, na ausência de déficits sensoriais. Exemplo: na agnosia visual, o sujeito é capaz de descrever a cor e a forma de um objeto, mas não consegue identificá-lo, nem explicar sua utilidade. 
Hiperestesia – é um aumento global da intensidade perceptiva: as impressões sensoriais tornam-se mais intensas, mais vívidas ou mais nítidas. É o que acontece nos quadros de mania, na intoxicação por anfetamina, no uso de cocaína, maconha e alucinógenos (LSD, mescalina), em algumas crises epiléticas, em quadros dissociativos, e no hipertireoidismo. Nos quadros auditivos, um pequeno barulho pode tornar-se muito intenso e desagradável. Acontece principalmente na depressão, em quadros de ansiedade, na enxaqueca, na ressaca pós-intoxicação alcoólica. 
Hipoestesia – é a diminuição global da intensidade perceptiva. O mundo parece mais cinza, sem brilho; a comida não tem gosto; os sons são abafados. Aparece nos casos estuporosos relacionados à depressão, à esquizofrenia ou ao delirium.
 Anestesia – consiste na abolição da sensibilidade (perda das sensações dolorosas). Ocorre nas mesmas condições que na hipoestesia e ainda nos quadros conversivos, na intoxicação alcoólica e no coma. 
Parestesias – sensações táteis incômodas, como formigamentos nas mãos, adormecimentos, picadas ou queimações. 
Macropsia – os objetos parecem aumentados de tamanho. 
Micropsia – os objetos parecem menores do que realmente são.
 Alterações qualitativas da sensopercepção Dalgalarrondo (2008, p. 37) nos ajuda a compreender as alterações. Ele diz que as alterações qualitativas são as mais importantes para a psicopatologia. 
Ilusão – é a percepção deformada de um objeto presente.
 As ilusões ocorrem em três condições: 
1. Rebaixamento do nível da consciência, por turvação da consciência; 
2. Por fadiga grave;
 3. Em alguns estados afetivos intensos: perdas, dor intensa.
 Alucinação – é a percepção de um objeto sem que ele esteja presente.
 Ilusão – percepção com a presença do objeto. Alucinação – percepção sem a presença do objeto 
A alucinação é a percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído, imagem) sem a presença do objeto estimulante real. As alucinações verdadeiras têm todas as características de uma imagem perceptiva real (nitidez, corporeidade, projeção no espaço exterior, constância) Esse transtorno ocorre com frequência em pacientes que sofrem de transtornos mentais graves. Mas um estudo de Tien (1991, p. 27) revelou que alucinações ocorrem em 4% a 5% da população normal, sendo as alucinações visuais mais comuns que as auditivas. A seguir, veremos quais são os tipos de alucinações auditivas mais comuns.
Alucinações auditivas
 Tais alucinações podem ser alucinações auditivas simples, quando se ouve ruídos como zumbidos, burburinhos, cliques, estalidos. Podem ser contínuos ou intermitentes. O paciente também pode ouvir vozes que em geral o ameaçam ou o insultam, e cujos conteúdos são depreciativos ou de perseguição. Algumas são vozes de comando, que ordenam que o paciente se mate ou mate outras pessoas. Em alguns casos, as vozes comentam todas as ações cotidianas do paciente – o que ele faz, o que come, aonde vai e com quem deve ir. 
Na esquizofrenia, outros tipos de alucinação também podem ocorrer:
 1. Sonorização do pensamento – o paciente acredita que está ouvindo os próprios pensamentos, escuta no próprio momento em que pensa. 
2. Sonorização do pensamento como vivência alucinatória-delirante – o paciente acredita que colocaram pensamentos em sua cabeça e ele agora ouve esses pensamentos. 
3. Eco do pensamento – é a sensação que seu pensamento ecoa dentro da cabeça. 
4. Publicação do pensamento – o paciente tem a certeza de que as pessoas ouvem o ele pensa, na hora em que está pensando. Essas alucinações ocorrem, em geral, na esquizofrenia, tendo o paciente a certeza subjetiva da verdade de suas experiências. Podem ocorrer também na depressão grave, em geral com conteúdo negativo de ruína ou de culpa. (Na mania, pode haver alucinações com conteúdo de grandeza ou místico religioso.) Exemplo: paciente masculino, de 25 anos, reclama que ouve constantemente o diabo mandando que ele ande na linha do trem. Ele conta que o diabo fala “Se joga, se joga agora. Você é burro, não serve paranada, se joga agora!”. Outro paciente, de 20 anos, conta que o diabo fala o tempo todo com ele para arrancar o próprio coração. Segundo o paciente, o diabo fala: “Tira o coração, pra quê você quer o seu coração? Tira logo!”. Fique atento aos vários tipos de alucinações. Alucinações musicais As alucinações musicais são como uma audição de tons musicais, ritmos, harmonias e melodias, sem que haja no espaço externo música alguma (DALGALARRONDO, 2008, p. 126). Pacientes com perdas auditivas, ou com depressão são mais propensos a vivenciarem essas alucinações. Exemplo: uma paciente feminina, de 56 anos, ouvia diariamente a banda escolar de sua infância. Enquanto ouvia, ela dançava animadamente. 
Alucinações visuais Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 126) as alucinações são visões nítidas e claras, sem a presença do estímulo visual externo. As alucinações visuais podem ser simples ou complexas.
 Alucinações visuais simples- As alucinações visuais simples aparecem com mais frequência em pacientes com doenças oculares, mas podem aparecer na esquizofrenia. O paciente vê bolas, pontos brilhantes, cores (DALGALARRONDO, 2008, p. 126). Exemplo: paciente feminina, 29 anos, reclama durante a consulta que seus olhos estão cheios de bolinhas coloridas. Diz que as bolinhas estão lá porque ela é uma pessoa muito alegre e colorida.
 Alucinações visuais complexas -São imagens de pessoas, partes do corpo, genitais, caveiras. Demônios, santos, objetos, animais ou criança. Quando as alucinações são cenas completas, como uma igreja sendo destruída pelo demônio, chamamos de alucinações cenográficas. Esse tipo de alucinação aparece em diversas psicoses (DALGALARRONDO, 2008, p. 127). Exemplo: paciente masculino, 25 anos, vê diariamente o diabo diante de si. Geralmente, o diabo fica olhando o paciente fazer as coisas cotidianas. 
Alucinações liliputiana -O sujeito vê cenas com personagens minúsculos, entre os objetos e pessoas reais de sua residência (DALGALARRONDO, 2008, p. 127). Exemplo: paciente masculino, 56 anos, aparece na emergência levado por sua família porque diz ver pequenos policiais andando por sua casa e espiando a sua vida. 
Alucinações táteis- O paciente sente estranhas sensações em seu corpo, como espetadas, choques, beliscões, pequenos animais correndo por sua pele, apertos nos genitais, penetrações nos genitais. Essas alucinações são frequentes nas esquizofrenias (DALGALARRONDO, 2008, p. 127). Exemplo: paciente feminina, internada no hospital psiquiátrico, grita por socorro. Ela acredita que estão espetando sua vagina com uma espada. 
Alucinações olfativas e gustativas- Em geral, o paciente sente o cheiro de coisas podres, de cadáver, de fezes, de enxofre. São relativamente raras e se manifestam em algumas esquizofrenias e alguns quadros neurológicos (DALGALARRONDO, 2008, p. 127). 
Exemplo: uma paciente, de 65 anos, reclamava com a direção do hospital que sua refeição vinha sempre com cheiro de podre.
 Alucinações cenestésicas- O paciente experimenta sensações alteradas em seu corpo. Essas alucinações aparecem em alguns quadros esquizofrênicos (DALGALARRONDO, 2008, p. 128). Exemplo: paciente feminino, 25 anos, reclama na consulta que seu cérebro está diminuindo de tamanho e diz temer que em breve sua cabeça desaparecera. 
Alucinações cinestésicas- Sensação alteradas de movimentos do corpo. Como sentir o corpo afundando, as pernas andando mesmo estando deitado em uma cama ou os braços se elevando. Aparecem em quadros esquizofrênicos (DALGALARRONDO, 2008, p. 128). Exemplo: paciente feminina, 27 anos, relata que não consegue dormir porque tem a sensação de que suas pernas voam. 
Alucinações cenestésicas: sensações alteradas no corpo Alucinações cinestésicas: sensações alteradas de movimentos do corpo 
Alucinação extracampina -Alguns pacientes relatam ver imagens de pessoas ou animais às suas costas ou atrás das paredes. Essas alucinações são raras e aparecem em quadros psicóticos. (DALGALARRONDO, 2008, p. 128). Exemplo: paciente feminina, 25 anos, conta que consegue ver através das paredes. Alega ter visto seus pais fazendo sexo no quarto enquanto ela estava na sala. 
Alucinação autoscópica -É um tipo de alucinação que conjuga as alucinações visuais, táteis e cenestésicas. O paciente vê o seu próprio corpo, como se estivesse fora dele, contemplando-o. Aparece em quadros epiléticos e esquizofrênicos (DALGALARRONDO, 2008, p. 128). Exemplo: paciente feminina, 25 anos, conta que, ao acordar à noite, vê o seu corpo flutuando pelo quarto. 
Alucinose -Esse tipo de alucinação é um fenômeno bem curioso. O paciente percebe sua alucinação como estranha a sua pessoa. Embora veja coisas estranhas, ouça vozes de comando ou algum ruído, falta a certeza subjetiva que normalmente o paciente tem. Ou seja, o sujeito sabe que aquilo é estranho e patológico e não tem nada a ver com ele. 
Alucinose visual -A alucinose visual ocorre com mais frequência por conta de intoxicações devidas a substâncias alucinógenas, como LSD, mescalina e anticolinérgicos (DALGALARRONDO, 2008, p. 129). Alucinose: o paciente percebe a alucinação como algo patológico 
Alucinose auditiva -A forma mais comum de alucinose auditiva é a alucinose alcoólica: os dependentes de álcool ouvem vozes que falam delas na terceira pessoa (DALGALARRONDO, 2008, p. 130). Exemplo: Pedro, quando está sob efeito do álcool, afirma ouvir vozes que falam: “Olha como o Pedro está todo sujo hoje. Pedro não gosta de banho”. Apesar de vários estudos sobre o fenômeno das alucinações, ainda são controversos os resultados desses estudos. Dalgalarrondo (2008, p. 130) mostra que “o fato dos medicamentos antipsicóticos terem eficiência na redução dos vários tipos de alucinações sugere mecanismos comuns para os fenômenos alucinatórios”. 
Resumos das características da alucinação nas psicoses Tem longa duração. Vai de minutos a horas Conteúdo persecutório ou depreciativo Complexidade Sem alteração do nível de consciência Falta de crítica do estado patológico Tabela 2.1 – Fonte: Tabela modificada do texto de Dalgalarrondo (2008, p. 132). capítulo 2 • 55 Alterações do pensamento 
O pensamento é o ensaio da ação. Sigmund Freud (54)
[...] pensar é o ensaio da ação; assim, pensar permite antecipar os acontecimentos, construir cenários e testar seu funcionamento. Os neurônios são a base para o pensamento. A rede neural são os responsáveis por influenciar nossos comportamentos e por produzir processos cognitivos, como raciocínio, abstração, memória, atenção, entre outras funções. São as conexões neurais as responsáveis pela formação do pensamento. (FREUD, 1860, p. 160) Nosso córtex cerebral – a porção mais superficial do cérebro, conhecida também como substância cinzenta – desempenha os papéis principais do pensamento, pois é ali que são elaborados. Atividades do pensamento Cheniaux (2014, p. 71) mostra que as atividades centrais do pensamento são: elaboração de conceitos, a formação de juízos e o raciocínio.
Conceito – é o que há de mais particular e único que forma o objeto ou fenômeno. Está relacionado à abstração e à generalização, e se forma a partir de representações. Os conceitos são exclusivamente cognitivos, intelectivos. Não é possível pegá- -lo, senti-lo ou visualizá-lo. Exemplo: céu e amor são conceitos. Juízo – é a capacidade de estabelecer relação entre dois conceitos. É onde afirmamos ou negamos alguma qualidade de um objeto ou fenômeno. Na nossa estrutura da língua, é necessário que o juízo seja composto por um sujeito, verbo de ligação e um predicado. Exemplo: As mães são boas. Raciocínio – é a capacidade mental de relacionar juízos levando a novos juízos ou a outras conclusões. O raciocínio pode ser indutivo (do particular para o geral), dedutivo (do geral para o particular) ou analógico, que é o raciocínio que compara características similares entre duas coisas aparentemente distintas. Exemplo de raciocínio indutivo: Tomei esse antidepressivo e fiquei melhor. Logo, todos os antidepressivos melhoram o humor. Exemplo de raciocínio dedutivo: Todos os esquizofrênicostêm alucinações; sou esquizofrênico, logo, essas vozes que ouço são alucinações. Exemplo de raciocínio analógico: picada de injeção e picada de mosquito são parecidas. Diferentes dimensões do pensar Segundo Cheniaux (2014, p. 72), o processo de pensar é constituído por diferentes dimensões: O curso do pensamento – é a forma como o pensamento flui. A velocidade e o ritmo, a quantidade de ideias apresentadas em determinado momento. A forma do pensamento – está relacionada à estrutura do pensamento, à relação entre as ideias. O conteúdo do pensamento – diz respeito à temática do pensamento, às características das ideias.
As alterações do pensamento Figura 2.3 – Fonte: Google Classificar as alterações do pensamento é uma das tarefas mais difíceis em psicopatologia. Vários autores propõem diferentes formas de classificação. Aqui ficaremos com a classificação proposta por Dalgalarrondo (2008, p. 195-196). Alteração dos conceitos Desintegração dos conceitos – os conceitos perdem seu significado original, e uma palavra passa a ter significados completamente diferentes. Exemplo: A filha do paciente conta que certo dia, seu pai ouviu a palavra “amando”, ele entendeu – a mando de alguém – e, portanto, passou a considerar que queriam matá-lo. Condensação dos conceitos – o paciente condensa dois ou mais conceitos. Exemplo: Durante uma tempestade, no hospital, um dos pacientes grita que está “relampeidando”. Alteração dos juízos Juízo deficiente ou prejudicado – é um juízo falso que em geral é emitido por pessoas com deficiência intelectual e pobreza cognitiva. O raciocínio é pobre. Os juízos são simplistas ou concretos. Em geral, não são persistentes nem irredutíveis e a temática é variável.
Alteração do raciocínio e do estilo de pensar O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal, pela realidade e pela racionalidade da cultura em que o sujeito está inserido. Tipos alterados do pensamento Dalgalarrondo (2008, p. 197) apresenta os vários tipos de alteração do pensamento que podem aparecer tanto nos transtornos de personalidade como nos quadros esquizofrênicos: Pensamento mágico – é o pensamento que fere a lógica formal. O pensamento mágico segue os caminhos do desejo, das fantasias, dos medos e dos temores. Esse tipo de pensamento acomete os esquizofrênicos, histriônicos, borderline e narcisistas e nos rituais compulsivos. Exemplo: Paciente masculino, 42 anos. Conta que, se ele olhar fixamente para a rua onde os carros estão passando com rapidez, ele consegue fazer com que os carros diminuam a velocidade e obedeçam aos comandos de seus pensamentos. Pensamento concreto – é o tipo de pensamento onde não ocorre a distinção entre o abstrato e simbólico. O sujeito não consegue entender ou usar as metáforas. Exemplo: O técnico fala para o paciente. Como está calor, parece que ligaram uma fornalha aqui dentro. O paciente responde: “Fornalha? Que fornalha?” Isso é porque o sol está muito quente. Não tem fornalha alguma! Pensamento dereístico – é o tipo de pensamento submetido apenas aos desejos e vontades do sujeito. O sujeito distorce a realidade para que ela se adapte aos seus desejos. Exemplo: Uma paciente, apesar de todas as dicas de que o companheiro ia deixá-la, tirando suas coisas de casa, separando as contas, continuava acreditando que ele fazia isso tudo só para preparar a sua festa de aniversário. Pensamento inibido – ocorre inibição do pensamento quando o raciocínio, os conceitos e os juízos diminuem a quantidade e também a velocidade do pensar, tornando-se lento, rarefeito. Exemplo: Durante a entrevista, o paciente, que ia relatando sua história, inesperadamente para de falar, fica com o olhar perdido, e não consegue reatar a conversa. Pensamento prolixo – é quando o pensar do sujeito dá muitas voltas sobre o mesmo ponto. São explicações longas e desnecessárias.
Exemplo: O paciente é indagado sobre o seu nome. Ele não consegue responder objetivamente. Conta muitas histórias de sua família para poder depois contar o seu nome. Pensamento deficitário (oligofrênico) – é um pensamento pobre de conceitos, abstrações e juízos. Tende a ser concreto. Exemplo: O técnico pergunta para o paciente como foi sua infância. O paciente responde: “Boa!”. Pensamento demencial – é um pensamento pobre. O sujeito tem dificuldades para encontrar palavras, por isso usa termos mais genéricos. Exemplo: Como o paciente não se lembra do nome correto da coisa – bolsa –, ele a descreve: aquilo onde você coloca seus documentos quando vai sair. Pensamento confusional – é um pensamento incoerente; o sujeito não consegue apresentar de forma clara suas ideias. Ocorre principalmente nas síndromes confusionais agudas. Nesses casos, o paciente não consegue concatenar duas ideias ou mais. Fala coisas desconexas. Exemplo: Na entrevista de primeira vez, o técnico pergunta como vai ao usuário, que responde: “— Vou sinaleira, às vezes verde, outras, vermelho.” Pensamento desagregado – é o tipo de pensamento incoerente, onde os conteúdos e juízos não se articulam. É uma salada de palavras sem sentido. Aparece nas esquizofrenias graves. Exemplo: O pensamento é desorganizado, desconexo. Pensamento obsessivo – são ideias absurdas, com conteúdo mágico, que invadem o sujeito e contra as quais o usuário tenta resistir mentalmente, mas sem sucesso. Exemplo: Paciente feminina de 29 anos acredita que se tomar oito banhos por dia vai conseguir impedir que sua mãe adoeça. Alteração do curso do pensamento Essa alteração diz respeito ao tempo que o pensamento se expressa. Pode ser muito rapidamente, e fica difícil de acompanhar, ou muito lentamente, chegando até o bloqueio do pensamento. Aceleração do pensamento – o pensamento fica muito acelerado; uma ideia aparece atrás da outra, sem interrupção e rapidamente. Ocorre nas manias, em estados de ansiedade, na esquizofrenia e nas psicoses tóxicas (anfetamina e cocaína). Lentificação do pensamento – o pensamento flui muito lentamente, com dificuldades. Ocorre em depressões grave, em intoxicações por substâncias sedativas e em psicoses orgânicas.
Bloqueio ou interceptação do pensamento – ocorre quando, sem nenhum motivo aparente, o paciente interrompe seu pensamento. O paciente, quando indagado, afirma que o pensamento sumiu. Ocorre principalmente na esquizofrenia. Alteração da forma do pensamento A alteração da forma do pensamento diz respeito ao modo como o pensamento se organiza. As alterações da forma do pensamento, podem ser: Fuga de ideias – é uma alteração associada à aceleração do curso do pensamento. Uma ideia se segue a outra de forma rápida impossibilitando a associação de ideias. Dissociação do pensamento – os pensamentos não seguem uma sequência lógica e organizada, os conteúdos e juízos não se articulam uns com os outros. Afrouxamento das associações – as associações não estão bem articulas. São mais livres. Descarrilamento do pensamento – o pensamento não mantém um curso lógico, toma atalhos incoerentes, sem sentidos, supérfluos. Está associado à distraibilidade. Desagregação do pensamento – o pensamento é totalmente incoerente, aparecem apenas pedaços de pensamentos, conceitos ou ideias. Não tem uma articulação lógica. Conteúdo do pensamento Alguns autores classificam os delírios como alteração do pensamento, mas Dalgalarrondo (2008, p. 203-204) opta por não seguir por esse caminho: “O conteúdo do pensamento é aquilo que preenche a estrutura do processo de pensar. Corresponde à temática do pensamento. Assim, não se pode falar em alterações patológicas do conteúdo do pensamento”. Essa distinção tem muito sentido, já que a sensação de ser perseguido por um professor ou pelo chefe pode ocorrer, mas o que diferencia é a atribuição de realidade absoluta. Por exemplo: no caso de um psicótico, ele vai ter certeza subjetiva de que essas perseguições são verdadeiras. Ele não terá dúvida alguma. Seguindo essa orientação, levamos para o capítulo de alterações do juízo de realidade a discussão sobre os delírios. Aqui veremos os principais conteúdos que preenchem os sintomas psicológicos.Persecutório – essa vivência é uma das mais comuns, provavelmente por causa da violência cotidiana. A possibilidade de ser atacado e destruído produz as ideias persecutórias. Temas como ruína, culpa, poder e riqueza estão associadas ao esquema de sobrevivência. Religiosos – temas religiosos ou místicos são frequentes em todos os grupos humanos, por isso os temas religiosos são presentes nas alterações psicopatológicas. Hipocondríacos – relacionado ao risco e ao medo do adoecimento. Alteração do juízo de realidade Delírio são juízos patologicamente falsos. Jaspers (1987, p. 663) indica as seguintes características: os sujeitos possuem uma convicção extraordinária (o sujeito acredita numa ideia com toda a sua força), da qual dificilmente são demovidos, cujo conteúdo é impossível, estranho ou bizarro. O delírio está diretamente relacionado à formação de juízos falsos. Isso ocorre pela incapacidade de o sujeito distinguir o real do imaginário. Nem todo juízo falso é delirante; em algumas vezes, o juízo falso (erro) pode ser fruto de ignorância, de julgamento apressado ou baseado em falsas premissas. Ocorre erro de julgamento quando tomamos coisas parecidas ou semelhantes por iguais; estabelecemos relação entre causa e efeito de coisas ou situações que a princípio não têm relação alguma; aceitamos as impressões dos nossos sentidos como verdades indiscutíveis. Alguns juízos considerados delirantes não são falsos. Um juízo que coincide com a realidade, mas é delirante, ocorre quando há uma incoerência entre aquilo que o sujeito acredita e as evidências que ele apresenta para justificá-las. Por exemplo: O sujeito que acredita que sua esposa quer envenená-lo e afirma saber disso porque ouviu o latido de um cão. Mas de fato sua esposa quer matá-lo. Vemos que o juízo é verdadeiro, mas o raciocínio é patológico. (DALGALARRONDO, 2008, p. 207) O delírio e a cultura Uma das questões mais fundamentais da psicopatologia é conseguir distinguir o patológico do cultural. Dalgalarrondo (2008, p. 207) estabelece a seguinte distinção:
As crenças culturalmente compartilhadas com um grupo social e aceitas não podem ser descritas como delírios, mesmo que sejam bizarras ou absurdas. Algumas seitas religiosas são um exemplo claro de comportamentos bizarros socialmente compartilhados. 
Alterações patológicas do juízo São ideias errôneas sobrevaloradas ou prevalentes por superestimação afetiva Tais ideias que, por serem muito importantes afetivamente para o sujeito, acabam por se sobrepor a todos os outros pensamentos, isto é, permanecem de forma obstinada na mente. Não podemos confundir as ideias prevalentes com a ideias obsessivas. As ideias prevalentes são egossintônicas (aceitas pelo sujeito que as produz), e fazem sentido para o sujeito. Podemos dizer que ele se identifica plenamente com essas ideias. Dalgalarrondo (2008, p. 208) menciona as seguintes características das ideias prevalentes: a. A ideia é sustentada por forte convicção; b. A ideia é egossintônica; c. Está associada a uma grande carga afetiva; d. Desenvolve-se em personalidade alterada; e. Tem relação com sua história pessoal; f. Causa sofrimento no sujeito ou nos que estão a sua volta; g. Induz o sujeito a agir; h. Pode progredir para delírio verdadeiro; i. O sujeito, em geral, não procura ajuda profissional. Nem todas as ideias sobrevaloradas podem ser consideradas patológicas. Apenas com uma análise mais aprofundada da situação do sujeito e de seu contexto será possível estabelecer um diagnóstico apropriado. Exemplo: Ideias de conteúdo político ou religioso, defendidas de forma apaixonada pelos sujeitos. Na anorexia, o(a) paciente acredita muito firmemente que está gordo(a), mesmo que o espelho e as pessoas em voltam desmintam essa afirmação.
 capítulo 2 • 63 O delírio Karl Jaspers (2008, p. 159) afirma que ideias delirantes são juízos patologicamente falsos. Se é assim, podemos dizer que delírio é um erro de ajuizar, que tem origem nos transtornos mentais. Jaspers apresenta algumas características para a identificação clínica do delírio: 1. Convicção extraordinária – uma certeza subjetiva que produz uma crença total. O paciente não tem dúvidas, ele acredita de verdade. 2. É impossível modificar o delírio pela experiência – nem argumentos lógicos ou provas objetivas conseguem remover a convicção. O delírio é irremovível; apesar de todas as indicações do real de que a ideia está incorreta, o paciente despreza as evidências e segue com suas convicções. 3. O delírio – é, quase sempre, um juízo falso e seu conteúdo é impossível. O paciente, por exemplo, acredita que alguém instalou um chip em sua cabeça para colocar os seus pensamentos na televisão. 4. É uma produção associal – geralmente é a convicção de uma pessoa só. Mesmo no convívio de vários pacientes, cada um segue com seus próprios delírios.
 Dimensões do delírio 1. Grau de convicção – na esquizofrenia o grau de convicção é muito marcante. A certeza é intensa. O paciente não coloca em dúvida as suas convicções. 2. Extensão – a ideia delirante abrange diversas áreas da vida do paciente. Mudanças na forma de se vestir e de se relacionar com os amigos e vizinhos. 3. Bizarrice – são crenças que se dissociam das experiências do grupo em que o paciente está inserido. São sempre ideias próprias e únicas dessa pessoa. 4. Desorganização – verifica-se se os delírios têm lógica própria, se são sistematizados ou não. Se são desintegrados, parciais e sem conexão. 5. Pressão ou preocupação – verificar o quanto o paciente está preocupado com suas crenças delirantes e o quanto se sente pressionado por eles. 6. Resposta afetiva – verificar o quanto as ideias delirantes afetam o paciente, o quanto ele fica ansioso, triste ou irritado com seus delírios. 7. Comportamento desviante – verifica o quanto o paciente age em função dos seus delírios. Se o paciente pratica atos estranhos, ou até perigosos.
Delírio primário ou ideias delirantes verdadeiras O verdadeiro delírio é primário, como mostra Jaspers (1987, p. 181). Isso significa que ele não corresponde à experiência psíquica. [...] é incompreensível e impenetrável. É resistente à apresentação de argumentação lógica. Geralmente é inteiramente novo para o paciente. As primeiras ideias delirantes são um susto para o paciente que não entende o que está acontecendo com ele, esses primeiros momentos são de grande sofrimento por causa do estranhamento. Delírio secundário ou ideias deliroides Os dois tipos de delírios são muito semelhantes. A diferença está mais relacionada à ligação com as áreas da atividade mental de onde surgem e que indiretamente vão produzir falsos juízos. Dalgalarrondo (2008, p. 212) afirma que, ao analisarmos a história do surgimento dos delírios, é possível rastrear de onde eles surgem. Exemplo: Na depressão, podem surgir ideias deliroides de ruína ou culpa associadas à mudança de humor do paciente. Nos quadros de mania, ideias deliroides de grandeza são comuns e estão relacionadas á mudança do humor. Estrutura dos delírios Os delírios podem ser classificados em: simples (monotemático) ou complexos (pluritemáticos), sistematizados ou não sistematizados: 1. Delírios simples (monotemáticos) – São delírios que persistem em um só tema. Exemplo: o paciente produz sempre ideias de perseguição. 2. Delírios complexos (pluritemáticos) – São delírios que envolvem vários temas e ideias. Religioso, de perseguição, de ruína, de ciúme. 3. Delírios sistematizados – são delírios bem organizados, estruturados com histórias ricas, consistentes. Esses delírios se mantêm ao longo do tempo com riqueza de detalhes.
4. Delírios não sistematizados – são delírios fragmentados, caóticos, desarticulados. Os detalhes mudam a cada momento e não fazem lógica alguma, não contam uma história. Estados pré-delirantes De acordo com Jaspers (2008, p. 315), os delírios aparecem após um período pré-delirante que ele denominou de humor delirante. O paciente fica agitado, tem aflição e ansiedade intensa. Alguns pacientes referem que nesse período sentem que algo terrível está para acontecer.Predominam: sensação de fim de mundo, estranheza, perplexidade. O humor delirante desaparece após o paciente iniciar a atividade delirante, e em muitos casos o paciente se acalma como se houvesse encontrado uma explicação para o seu desassossego.
 Tipos de delírios segundo seus conteúdos Podemos relacionar quatorze formas principais de delírios. As formas apresentadas a seguir são as mais comuns, mas os sujeitos são singulares e podem apresentar outros tipos ou formas de delírios. Delírios de perseguição – o sujeito acredita ser vítima de um complô para matá-lo. Acredita estar sendo perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas. O sujeito pode sentir-se perseguido pela máfia, PM, Polícia Federal, pelos pais, chefes, vizinhos, amigos. Pensa que pode ser preso, envenenado ou morto. Delírio de referência – nesse tipo de delírio, o sujeito tende a experimentar fatos comuns do cotidianos, como se fossem referidos diretamente à sua pessoa. Diz estar sendo constantemente caluniado. Ao passar próximo a dois vizinhos, acredita que eles estão falando dele, referindo-se a ele; pode pensar que os vizinhos o chamam de ladrão. Tudo de refere a ele. Esse tipo de delírio ocorre associado à temática da perseguição. Delírios e o mecanismo de projeção – o sujeito, para se defender, projeta no mundo externo ideias, temores e desejos que para ele são insuportáveis. Outro mecanismo é que o sujeito reluta em admitir o seu fracasso e projeta nos outros os aspectos negativos da sua vida. Exemplo: O paciente atribui a sua esposa traição, quando na verdade ele está impotente e sem desejo sexual algum.
Delírio de relação – o sujeito estabelece conexões entre fatos do cotidiano que não têm conexão alguma. Exemplo: A chuva que caiu durante toda a tarde é uma prova incontestável do fim do mundo. Delírio de influência ou de controle – o sujeito acredita que está sendo comandado, controlado por uma força ou entidade externa. Muitos pacientes pensam que uma máquina (antena, computador, aparelho eletrônico) envia raios que controlam seus pensamentos e sentimentos. Um ser extraterrestre, uma entidade paranormal também pode aparecer nesse tipo de delírio. Muitas vezes, os pacientes param de resistir a esses comandos e se entregam totalmente. Nesses casos, eles relatam que seus pensamentos “são feitos”, “seus sentimentos são feitos”, “que são robôs teleguiados”. Os delírios de influência são indicativos de esquizofrenia e mostram como a distinção entre o mundo externo e o mundo interno é permeável na esquizofrenia. Delírio de grandeza – o sujeito acredita ser extremamente especial, dotado de capacidades e poderes. Pensa que terá um destino espetacular, que é um ser superior. O delírio é dominado por ideias de poder e riqueza. O sujeito acredita que pode tudo, que tem poderes mentais, místicos ou religiosos superiores. Tem a autoestima elevada. Esse tipo de delírio ocorre principalmente nos quadros maníacos. Delírio místico ou religioso – o sujeito acredita ser um novo messias, um deus, Jesus, um santo poderoso, e às vezes um demônio. Sente que tem poderes místicos, uma missão religiosa importante, uma mensagem religiosa para transmitir para o mundo. Esse delírio aparece na esquizofrenia. Delírio de ciúmes – o sujeito acredita estar sendo traído pelo cônjuge de forma vil e cruel. Acha que a companheira tem vários amantes, que o trai com parentes. O sentimento de ciúmes intenso é desproporcional em indivíduos muito possessivos. Esse delírio pode ocorrer na esquizofrenia, mas é mais comum no alcoolismo crônico. Delírio erótico (erotomania) – o sujeito acredita que uma pessoa de destaque social, geralmente artista, cantor, ator, milionário de qualquer área, está apaixonado por ele. E por isso acredita que vão se casar. Ocorre mais em mulheres e a pessoa amada é geralmente rica, mais velha e de status social elevado. É comum que a pessoa escolhida seja o médico do sujeito. Ocorre com frequência em transtornos delirantes.
Delírio de conteúdo depressivo – são os delírios de ruína ou miséria, culpa ou autoacusação, doenças e até o desaparecimento de partes do corpo. Típico dos quadros depressivos, o delírio é congruente com o humor. Delírio de ruína – também conhecido como delírio niilista. O sujeito acredita estar condenado à miséria, que ele e sua família vão morar na rua e passar fome. O futuro reserva apenas sofrimento e fracasso. Em alguns casos, o paciente pode acreditar que está morto. Delírio de culpa e de autoacusação – o sujeito acredita ser culpado por tudo de ruim que ocorre nas vidas das pessoas de sua convivência como também de todo o mundo. Acredita ser indigno, pecaminoso, vil. Ocorre principalmente na depressão grave. Delírio de negação de órgãos – o sujeito experimenta profundas alterações corporais, refere que seu corpo está destruído ou morto, que alguns de seus órgãos foram retirados. Que o cérebro está encolhendo, que seu fígado apodreceu. Ocorre nas depressões graves e na esquizofrenia. Delírio hipocondríaco – o sujeito crê que tem uma depressão grave, incurável, que está contaminado pelo vírus da AIDS, que irá morrer brevemente por câncer. Mesmo realizando todos os exames, não é demovido de suas convicções. Ocorre nos transtornos delirantes e na esquizofrenia.
 Alterações da afetividade Dalgalarrondo (2008, p. 156) apresenta a seguinte definição de afetividade: A vida afetiva é que dá cor, brilho e calor às vivências humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor. Cheniaux (2014, p. 87) estabelece as principais distinções entre emoção, sentimento, afetos e paixões: Emoções – reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos. Sentimentos – são estados afetivos mais estáveis que as emoções; mais atenuados e menos reativos a estímulos passageiros. Afetos – os afetos podem ser definidos como a qualidade ou o tônus emocional que acompanha uma ideia.
Paixões – estado afetivo extremamente intenso que domina a atividade psíquica como um todo. Alterações da afetividade Dalgalarrondo (2008, p. 168) mostra as graduações da afetividade e das emoções: Distimia – em psicopatologia é uma alteração básica do humor. Pode designar tanto a exaltação como a inibição do humor e não deve ser confundido com o sintoma distimia que no CID-10 aparece como transtorno depressivo leve crônico (p. 156). Distimia hipotímica – é a base afetiva do transtorno depressivo. Distimia hipertímica – humor patologicamente alterado no sentido da exaltação e da alegria. Alterações das emoções e dos sentimentos: Apatia – é a diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva. Alguns pacientes relatam que não sentem nem alegria, nem tristeza, nem raiva. Não sentem nada. Hipomodulação do afeto – é a incapacidade de o paciente reagir a determinadas situações com a carga afetiva correta. Inadequação do afeto – reação afetiva em desarmonia com as situações existenciais. Pobreza de sentimentos – perda progressiva e patológica das vivências afetivas. Embotamento afetivo – perda profunda de todo tipo de vivência afetiva (p. 170). Sentimento de falta de sentimento – é a incapacidade de sentir emoções. Os pacientes reclamam muito desse transtorno. Anedonia – é a incapacidade de sentir prazer com as atividades e experiências da vida. Labilidade afetiva e incontinência afetiva – são mudanças súbitas e imotivadas de humor. Ambivalência afetiva – sentimentos opostos em relação ao mesmo objeto, situação ou pessoa. Neotimia – são afetos muito estranhos para a própria pessoa. Aparece na esquizofrenia.
Medo Pode ser caracterizado como um estado progressivo de insegurança e angústia. Não é patológico e ajuda a proteger as pessoas dos perigos da vida. Os quadros patológicos, de acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 171), são: Fobias São medos desproporcionais e incompatíveis com o perigo real. A pessoa tem um medo terrível e descabido de alguma situação ou de determinado animal. Fobia simples – é o medo intenso e irracional de pequenos animais, geralmente baratas, sapos, cachorros. Fobia social – é o medo de contato e de interaçãosocial, principalmente, com pessoas que não fazem parte do seu círculo social. Agorafobia – medo de espaços amplos e aglomerações, medo de congestionamentos. Claustrofobia – é o medo de entrar e ficar preso em espaços fechados, como elevadores, salas e túneis. Pânico – é o medo intenso relacionado geralmente ao perigo imaginário de morte iminente. O pânico se manifesta com crises. As crises de pânico são agudas, intensas, de ansiedade, acompanhadas de severo temor da morte. As crises se caracterizam por taquicardia, sudorese fria, tremores, formigamento nos lábios ou ponta dos dedos, desconforto respiratório, dor no peito, náusea. A crise tem início abrupto, e um desejo de fugir e escapar da situação aflora no sujeito. Duram alguns minutos e tendem a repetir-se.
 Alterações da volição Definição A vontade é uma das funções psíquicas mais complexas, e envolve avaliar, julgar, analisar e decidir. Manifesta-se nas escolhas que fazemos; portanto, é direcionada para a ação. Podemos dizer que há cognição envolvida, mas, influenciada por fatores socioculturais, se realiza a partir dos impulsos.
Processo volitivo Para Dalgalarrondo (2008, p. 175), o processo volitivo é composto por algumas fases: 1. Intenção – aparecem as intenções e interesses; 2. Deliberação – o sujeito analisa todas as possibilidades; 3. Decisão – fase em que se faz as escolhas; 4. Execução – coloca-se em ação as decisões tomadas. Alterações da vontade Abolia/Hipobolia – diz respeito à diminuição da vontade até a falta completa de vontade. Está relacionada com a apatia. Hiperbolia – Pode ser descrito como um sentimento subjetivo de força, de energia, de disposição. Nota-se um aumento da iniciativa, da espontaneidade e do interesse para o mundo externo. O sujeito pode ficar desinibido e percebe-se um aumento da psicomotricidade. Ocorre em síndromes maníacas. Atos impulsivos e atos compulsivos Os atos impulsivos podem ser descritos como súbitos e incontroláveis. Pulam as etapas de tomada de decisão que relacionamos anteriormente. Ocorre um aumento da intensidade dos impulsos ou pode ocorrer uma diminuição dos mecanismos de controle, inibição e refreamento. Impulsos e compulsões agressivas ou heterodestrutivas Automutilação – é o impulso ou a compulsão para o comportamento de produzir lesões voluntárias. São pacientes que se cortam, se furam, arrancam os cabelos (tricotilomania). Tais comportamentos são mais comuns em pessoas que sofrem de transtorno borderline e deficiência mental. Frangofilia – impulso incontrolável de destruir os objetos que circulam o sujeito. Piromania – impulso de atear fogo em prédios, casas, lixeiras. Ocorre principalmente em sujeitos com transtorno de personalidade.
Impulso ou ato suicida – impulso para colocar fim à própria vida. Geralmente está associado a outros transtornos, como depressão e esquizofrenia. Impulsos relacionados à ingestão de substâncias ou alimentos Dipsomania – distúrbio relacionado à ingestão de uma grande quantidade de álcool. A pessoa bebe até ficar inconsciente, depois retoma a sua vida normal. Pode ocorrer amnésia retrógada para o episódio. Potomania – compulsão de beber água de forma exagerada, sem que haja excesso de sede. Polidipsia – o sujeito apresenta uma sede exagerada, geralmente causada por distúrbios metabólicos. Atos de compulsão de natureza sexual Fetichismo – o desejo sexual fica concentrado em partes do corpo, de vestimentas da pessoa desejada. Exibicionismo – é o impulso de exibir os órgãos sexuais para pessoas que não estão interessadas em vê-los. Voyeurismo – é o impulso de obter prazer observando as pessoas fazendo sexo. Pedofilia – é o desejo sexual por criança ou púberes. Gerontofilia – é o desejo sexual por pessoas consideravelmente mais velhas. Zoofilia (bestialismo) – desejo sexual por animais. Necrofilia – desejo sexual dirigido a cadáveres. Coprofilia – desejo sexual associado a uso de excrementos durante o ato sexual. Ninfomania – desejo sexual bastante aumentado nas mulheres. Satiríase – desejo sexual aumentado nos homens, geralmente associada a compulsão a masturbação. Ocorre na fase maníaca do transtorno bipolar. Clisteres – compulsão de introduzir objetos, frutas, legumes garrafas de vidro etc. no ânus ou na vagina. Cleptomania – é o roubo patológico, ato de roubar precedido de intensa ansiedade até que o roubo seja consumado. Jogos patológicos – é a compulsão por jogos de azar, fazer apostas, especular com dinheiro.
Negativismo – é a tendência do paciente em não fazer exatamente aquilo que lhe é solicitado. Se o médico pede que se sente, o paciente permanece obstinadamente em pé. Obediência automática – é o oposto do negativismo. O sujeito obedece automaticamente a qualquer tipo de solicitação ou comando. Fenômenos do eco (ecopraxia, ecolalia, ecomimia, ecografia) – é quando o paciente repete, de forma automática, durante a entrevista, os últimos atos, palavras ou sílabas, reações mímica ou escrita do entrevistador. É impossível para o paciente resistir a esses impulsos. Alterações do comportamento motor O ato motor é o componente fundamental do ato volitivo. É a forma como a nossa vontade se manifesta, se torna visível. Se queremos algo, agimos no sentido de adquirir o que buscamos. A psicomotricidade é a expressão final da nossa volição. A agitação psicomotora é uma das alterações mais comuns. Implica na aceleração e na exaltação de toda a atividade motora do sujeito, em geral associada ao taquipsiquismo acentuado. Quadros de hostilidade ou de heteroagressividade também podem aparecer. A lentificação psicomotora está dentro de um quadro de lentificação de toda a atividade psíquica. O bradipsiquismo é o nome que se dá pela diminuição da atividade psíquica. Toda a movimentação voluntária torna-se lenta, difícil, pesada, podendo haver período de latência (espaço de tempo) entre uma solicitação ambiental e a resposta motora do paciente.
As alterações da psicomotricidade, de acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 184-186), são as seguintes: Estupor – é a perda de toda a atividade espontânea que atinge o sujeito de forma global. Não se nota alteração do nível de consciência e da capacidade sensório-motora para reagir às solicitações do ambiente. O sujeito em estupor fica restrito ao leito, acordado, porém sem reação. É como se estivesse congelado. A pessoa pode chega a urinar e defecar no leito, e não se alimentar voluntariamente. Catalepsia – o corpo fica rígido, a pessoa permanece na mesma posição por longos períodos e com hipertonia muscular global de tipo plástico. Cataplexia – é a perda abrupta do tônus muscular. Geralmente o paciente cai abruptamente no chão. Está presente na narcolepsia (crises recorrentes de sono tipo REM no indivíduo desperto). O paciente dorme profundamente por longas horas ou vários dias. Estereotipias motoras – são repetições automáticas e uniformes de determinados gestos ou da face mostrando que o paciente perdeu o controle motor voluntário. O paciente repete o mesmo gesto com as mãos dezenas ou centenas de vezes em um mesmo dia. É um sintoma de esquizofrenia.
Flexibilidade cerácea – o paciente como um todo ou uma parte de seu corpo (braço, perna, cabeça) fica em determinada posição, mesmo que seja muito desconfortável, por longos períodos de tempo. O sujeito fica como se fosse um homem de cera, moldável. É um sintoma de esquizofrenia catatônica. Maneirismo – é um tipo de estereotipia motora caracterizada por movimentos bizarros e repetitivos, geralmente complexos, que buscam certo objetivo, mesmo que esdrúxulo. O paciente apresenta alteração do comportamento expressivo (mímica, gestos, linguagem) de forma estranha, e tem movimentos estranhos, exagerados, afetados ou bizarros. Tiques – são atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas, breves e intermitentes, envolvendo geralmente um grupo de músculos. Acentuamse muito com a ansiedade. Os tiques costumam ser reflexos condicionados. Podem aparecer em qualquer pessoa. Conversão motora – paralisias, contraturas conversivas, ataxias psicogênicas. Ocorre geralmenteem situação estressante, de ameaça ou conflito intrapsíquico ou interpessoal significativo para o sujeito. Exemplo: Paciente, feminina de 33 anos, aciona o Samu para conduzi-la ao hospital por não estar mais conseguindo andar. Ao chegar ao hospital, o psicólogo percebe tratar-se de um quadro de conversão histérica. Ouve a história da paciente, que conta que nessa data iniciaria o trabalho numa creche pública. Relata não estar preparada para assumir essa responsabilidade. Alterações da marcha Marcha do paciente histérico – é um andar irregular, mutável, bizarro, podendo ter elementos de ataxia, espasticidade e outras alterações, mas não tem um padrão neurológico. Há muitos movimentos supérfluos e balancear exagerado de um lado para outro, arremessos das pernas e tremores das extremidades. Alguns pacientes histéricos apresentam a camptocormia, que é o caminhar com o tronco fletido para a frente.

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