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Bases psicopatológicas - Resumo Dalgalarrondo

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Letícia Nano – Medicina Unimes 
Psicopatologia 
O exame psíquico avalia as funções cognitivas: Consciência neurológica, Atenção, Orientação (tempo/espaço), Memória, 
Inteligência, Linguagem, Pensamento; e as funções psíquicas e motoras: Consciência psíquica (eu), Pensamento, Juízo crítico da 
realidade, Sensopercepção, Afetividade, Vontade e Psicomotricidade. 
Consciência 
Consciência é a capacidade do indivíduo de entender o que está acontecendo dentro e fora de si mesmo. A clareza dessa 
consciência é traduzida pela lucidez. É o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Quando o paciente está desperto, 
recebendo e devolvendo informações com o meio ambiente, está lúcido. As alterações da consciência podem ser quantitativas e 
qualitativas. 
O primeiro elemento do sistema nervoso relacionado ao nível de consciência é o chamado sistema reticular ativador ascendente 
(SRAA). 
As principais características e propriedades do nível de consciência são: 
1- O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito 
está inserido (p. ex., em situações de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados, e, ao mesmo tempo, a sensibilidade 
para outros, mais relevantes, pode estar aumentada, expressando o chamado estado de alerta). 
2- O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, 
como pensamentos, emoções, recordações. 
3- O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o 
estímulo implica para o indivíduo em questão. 
4- O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de 
redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). 
Em seu aspecto quantitativo, a consciência pode estar diminuída ou aumentada. 
1o grau, obnubilação: turvação da consciência ou sonolência patológica leve. Trata-se do rebaixamento da consciência em grau 
leve a moderado. À inspeção inicial, o paciente pode já estar claramente sonolento ou parecer desperto, o que pode dificultar o 
diagnóstico desse estado. De qualquer forma, há sempre diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão 
e dificuldade de concentração. Nota-se que o indivíduo tem dificuldade para integrar as informações sensoriais oriundas do 
ambiente. Assim, mesmo não se notando a sonolência do paciente de forma evidente, observa-se, nos quadros de obnubilação, 
que a pessoa se encontra um tanto perplexa, com a compreensão dificultada, podendo o pensamento que expressa revelar 
confusão mental. No geral, o indivíduo diminui a atenção para as solicitações externas, dirigindo-se para a sonolência. Já se pode 
observar alguma lentificação do traçado eletroencefalográfico. 
2o grau, torpor: é um grau mais acentuado de rebaixamento da consciência. O paciente está evidentemente sonolento; responde 
ao ser chamado apenas de forma enérgica e, depois, volta ao estado de sonolência evidente. A resposta aos estímulos externos, 
quando solicitado energicamente, é mais curta do que nos estados de obnubilação, mas menos frustra que no estado de sopor. 
Na obnubilação e no torpor, o paciente pode ainda apresentar traços de crítica e pudor, tentando cobrir as partes íntimas de seu 
corpo com o cobertor, quando em uma enfermaria ou emergência de hospital. No sopor e no coma, tal pudor e crítica da situação 
não existe mais, estando o indivíduo totalmente indiferente à exposição de partes íntimas (o que deve ser evitado sempre que 
possível, em respeito à pessoa). 
3o grau, sopor: é um estado de marcante e profunda turvação da consciência, de sonolência intensa, da qual o indivíduo pode ser 
despertado apenas por um tempo muito curto, por estímulos muito enérgicos, do nível de uma dor intensa. Nesse momento, o 
paciente pode revelar fácies de dor e ter alguma gesticulação de defesa. Retorna, então, muito rapidamente, em segundos, à 
quase ausência de atividade consciente. Portanto, aqui, ele sempre se mostra intensamente sonolento, quase em coma. Embora 
ainda possa apresentar reações de defesa muito esporádicas, é incapaz de qualquer ação espontânea. A psicomotricidade 
encontra-se mais inibida do que nos estados de obnubilação e de torpor. O traçado eletroencefalográfico acha-se global e 
marcadamente lentificado, podendo surgir as ondas mais lentas, do tipo delta e teta. 
4o grau, coma: é a perda completa da consciência, o grau mais profundo de rebaixamento de seu nível. No estado de coma, não 
é possível qualquer atividade voluntária consciente. Além da ausência de qualquer indício de 
consciência, os seguintes sinais neurológicos podem ser verificados: movimentos oculares errantes com desvios lentos e 
aleatórios, nistagmo, transtornos do olhar conjugado, anormalidades dos reflexos oculocefálicos (cabeça de boneca) e 
oculovestibular (calórico) e ausência do reflexo de acomodação. Além disso, dependendo da topografia e da natureza da lesão 
 Letícia Nano – Medicina Unimes 
cerebral, podem ser observadas rigidez de decorticação ou de decerebração, anormalidades difusas ou focais do EEG com 
lentificações importantes e presença de ondas patológicas. 
➔ Perdas abruptas de consciência: Vários fatores e condições médicas e/ou psicopatológicas podem produzir a perda abrupta 
da consciência. Tal perda pode ser causada por fatores emocionais, neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. 
Podem também ser rapidamente reversíveis ou irreversíveis, indicando quadros orgânicos mais graves. As perdas abruptas e 
transitórias (duram geralmente segundos a minutos) da consciência recebem várias denominações médicas e populares: 
lipotimia, síncope, desmaios e perdas da consciência de outra natureza. 
A lipotimia se caracteriza por perda parcial e rápida da consciência (dura apenas segundos), geralmente com visão borrada, palidez 
da face, suor frio, vertigens e perda parcial e momentânea do tônus muscular dos membros, com ou sem queda do corpo ao chão. 
A pessoa tem a sensação desagradável de que vai desmaiar. A lipotimia é rápida e completamente reversível. Às vezes, utiliza- se 
o termo “lipotimia” para descrever a fase inicial da síncope. 
A síncope designa um colapso bem súbito, com perda abrupta e completa da consciência, perda total do tônus muscular, com 
queda completa ao chão. O mecanismo básico é a instalação rápida de irrigação cerebral insuficiente por causas diversas. A 
síncope pode ou não ser reversível, dependendo dos fatores causais envolvidos. O termo “desmaio” é uma designação não médica, 
da linguagem comum, que geralmente significa uma perda abrupta da consciência. Corresponde de forma genérica aos termos 
médicos “síncope” ou “lipotimia”. 
COMO IDENTIFICAR UM REBAIXAMENTO DE CONSCIÊNCIA? 
• Sono – alteração do ciclo vigília-sono 
• Labilidade emocional 
• Déficit de atenção 
• Sugestionabilidade 
• Lentificação/ agitação psicomotora/inquietação 
• Falsos reconhecimentos, ilusões, alucinações 
• Fala desorganizada, às vezes desconexa 
• Desorientação têmporo-espacial 
 
Qualitativamente, a consciência é avaliada como a aptidão em apreender todos os fenômenos interiores ou exteriores e integrá-
los a um contexto real das circunstâncias ocorridas no presente, no passado e que ocorrerão futuramente. As alterações 
qualitativas são: 
1- Estado crepuscular: É um estreitamento transitório da consciência, com a conservação de atividade mais ou menos 
coordenada e mais ou menos automática. Normalmente, há a falsa aparência de que o paciente está compreendendo a 
situação. Em geral, a percepção do mundo exterior é imperfeita ou de todo inexistente. Os estados crepusculares costumam 
desaparecer rapidamente, mas,em alguns casos, podem durar muitos dias. Apresentam-se e terminam de modo súbito, 
acompanhados de amnésia em relação às vivências acessuais. 
2- Dissociação da consciência: Ocorre fragmentação ou divisão do campo da consciência, com perda da unidade psíquica do 
ser humano. Observa-se estado semelhante ao sonho, podendo ocorrer em estados dissociativos e de ansiedade intensa. 
3- Transe: É o fenômeno em que a pessoa se sente transformada em outra, como uma “despersonalização”. Desaparece a 
relação entre o corpo e os objetos do meio exterior, como impossibilidade de estabelecer a distinção entre o que é próprio e 
o que pertence ao exterior. Pode ocorrer em contextos religiosos (não sendo patológico), casos neurológicos ou início de 
psicoses. 
4- Polarização da consciência ou estado hipnótico: É a orientação forçada da consciência em determinado sentido, segundo 
forte tendência afetiva. É uma atitude mais focal e profunda do que o estado crepuscular e nem sempre sugere estado 
patológico. É possível que, tocado por intensa motivação afetiva, o indivíduo concentre toda a sua consciência em um dado 
ponto (música ou imagem), desconsiderando os demais estímulos à sua volta. 
 
Atenção 
A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado 
objeto. A atenção se refere, portanto, ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar 
e organizar as informações em unidades controláveis e significativas. Os termos “consciência” e “atenção” estão estreitamente 
relacionados. As alterações podem ser na: direção, amplitude e manutenção 
 Letícia Nano – Medicina Unimes 
A determinação do nível de consciência é essencial para a avaliação da atenção. Tomando-se em consideração a natureza da 
atenção, pode-se discernir dois tipos básicos de atenção: a voluntária, que exprime a concentração ativa e intencional da 
consciência sobre um objeto, e a espontânea, que é aquele tipo de atenção suscitado pelo interesse momentâneo, incidental, 
que desperta este ou aquele objeto. Esta última geralmente está aumentada nos estados mentais em que o indivíduo tem pouco 
controle voluntário sobre sua atividade mental. 
Em relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas formas básicas: a atenção externa, projetada para fora do mundo 
subjetivo do sujeito, voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos 
dos sentidos. Difere-se da atenção interna, que se volta para os processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais 
reflexiva, introspectiva e meditativa. 
Em relação à amplitude atencional, há a atenção focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente 
delimitado e restrito da consciência, em contraposição à atenção dispersa, que não se concentra em um campo determinado, 
espalhando-se de modo menos delimitado. 
Existem a atenção voluntária (ativa e intencional – capacidade de ler um livro, por exemplo) e a espontânea (por algum interesse 
incidental e momentâneo por algum objeto – capacidade de parar de ler o livro para focar em algum barulho que acontece no 
momento, por exemplo). 
A tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar e manter sua atenção sobre determinado estímulo, em um tema da 
conversa ou em um campo de atenção. Na tenacidade, a atenção se prende a certo estímulo, fixando- se sobre ele. A vigilância é 
definida como o aspecto da atenção relacionado a mudança de foco, de um objeto para outro. 
Alterações: 
1. Atenção: normal ou euprosexia; 
2. Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada; 
3. Hipoprosexia: diminuição global da atenção; 
4. Aprosexia: abolição total da capacidade de atenção; 
5. Hipertenacidade: atenção voltada, demasiadamente, a algum estímulo específico, com diminuição da atenção 
espontânea; 
6. Hipotenacidade: atenção afastada com demasiada rapidez do estímulo específico, com diminuição da atenção voluntária. 
Obs.: as alterações na atenção são inespecíficas, podem ocorrer na maioria dos transtornos mentais. 
 
Orientação 
Pode-se definir orientação como um complexo de funções psíquicas pelo qual tomamos consciência da situação real em que nos 
encontramos. A orientação pode ser inferida da avaliação do estado de consciência e está intimamente ligada às noções de tempo 
e espaço.Em geral, o primeiro sentido de orientação perdido é o do tempo; depois, o do espaço, que envolve deslocamento e 
localização e, em um estado mais grave, a “desorientação do próprio eu” (identidade e corpo). A capacidade de orientar-se requer, 
de forma consistente, a integração das capacidades de nível de consciência preservado, atenção, percepção e memória. 
Alterações de atenção e retenção (memória imediata e recente), moderadas ou graves, costumam resultar em alterações globais 
da orientação. Além disso, a orientação é excepcionalmente vulnerável aos efeitos da disfunção ou do dano cerebral. A 
desorientação é um dos sintomas mentais mais frequentes e sensíveis das doenças cerebrais. Apesar disso, cabe lembrar que a 
orientação preservada não significa necessariamente que o sujeito não apresente qualquer alteração cognitiva ou atencional. 
Orientação: 
1. Autopsíquica: o paciente reconhece dados de identificação pessoal e sabe quem é; Questionar o paciente: Quem é você? 
Qual o seu nome? O que faz? Qual a sua profissão? Quem são seus pais? Qual a sua idade (verificar a idade real do paciente)? 
Qual o seu estado civil? 
2. Alopsíquica: o paciente reconhece os dados do ambiente: 
a) Temporal: dia, mês e ano em que está; em que parte do dia se localiza (manhã, tarde e noite); 
 Letícia Nano – Medicina Unimes 
A orientação temporal necessita de uma adequada percepção do tempo e da sequência de intervalos temporais, de sua 
correspondente representação mental e do processamento mental da temporalidade. O examinador pode perguntar: há quanto 
tempo o senhor está neste local? Há quanto tempo trabalhou (ou se alimentou) pela última vez? Faz quanto tempo que o senhor 
não me vê? 
b) Espacial: em que lugar se encontra e para que está lá; a cidade onde está; como chegou ao consultório. 
Por orientação espacial entende-se vários subtipos de orientação: quanto ao local onde o sujeito está no momento (o local 
específico, o tipo de edifício, distância entre onde está e sua casa, etc.), orientação topográfica (ter a noção do arranjo e da 
organização de seu quarto, de sua casa, saber se localizar em seu bairro, sua cidade), orientação geográfica (saber onde fica sua 
cidade, seu país, saber localizar-se em relação a mapas), julgamento de distância (quão longe é o hospital de sua casa, sua cidade 
de outras cidades conhecidas, etc.) e capacidades de navegação (conseguir seguir caminhos e rotas previamente conhecidos ou 
com pistas suficientes) 
A orientação espacial é investigada perguntando-se ao paciente o lugar exato onde ele se encontra, a instituição em que está, o 
andar do prédio, o bairro, a cidade, o estado e o país. 
 
 Sensopercepção 
Define-se sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora 
ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Os estímulos sensoriais fornecem a 
alimentação sensorial aos sistemas de informação do organismo. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos 
sensoriais específicos, como visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos, proprioceptivos e cinestésicos. 
Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Arbitrariamente, então,se atribui à 
sensação a dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz respeito à 
dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos puramente sensoriais em 
fenômenos perceptivos conscientes. 
A sensação é considerada, portanto, um fenômeno passivo; estímulos físicos (luz, som, pressão) ou químicos atuam sobre sistemas 
de recepção do organismo. Já a percepção seria fenômeno ativo; o sistema nervoso e a mente do sujeito constroem um percepto 
por meio da síntese dos estímulos sensoriais, confrontados com experiências passadas registradas na memória e com o contexto 
sociocultural em que vive o indivíduo e que atribui significado às experiências. Tal percepto, ou seja, a percepção final, é, dessa 
forma, apreendido pelo sujeito consciente. 
Podem acontecer alterações quantitativas e qualitativas. 
Quantitativas 
1. Hiperestesia: 
a) Intoxicação por alucinógenos, epilepsia; 
b) Aumento das formas de sensibilidade. 
2. Hipoestesia: 
a) Quadros depressivos; 
b) Diminuição das formas de sensibilidade. 
3. Anestesia: abolição de todas as formas de sensibilidade. 
* Parestesias são sensações táteis desagradáveis (embora não sentidas propriamente como dor), em geral espontâneas, descritas 
pelos pacientes como “formigamentos, adormecimentos, picadas, agulhadas ou queimação” mais ou menos intensas. 
**As disestesias táteis são sensações anômalas, em geral dolorosas, desencadeadas por estímulos externos; assim, ao estimular 
a pele do paciente com calor, este refere sensação de frio, e, após um leve roçar sobre a pele, refere dor (aqui, a disestesia 
assemelha-se à hiperpatia). As parestesias diferem das disestesias pelo fato de aquelas ocorrerem de forma espontânea, e estas 
serem desencadeadas por estímulos externos. 
 
 
 Letícia Nano – Medicina Unimes 
Qualitativas 
1. Ilusão: é a percepção deformada da realidade, de um objeto real e presente, uma interpretação errônea do que existe. 
Pode acontecer em rebaixamento do nível de consciência ou esgotamento afetivo e fadiga grave; As ilusões são encontradas, com 
maior frequência, nos quadros de delirium, em que há rebaixamento do nível de consciência e consequente distorção do processo 
perceptivo. Há, nessa síndrome, uma perturbação da capacidade de perceber com clareza, ficando o indivíduo mais suscetível a 
experimentar as ilusões dos sentidos. Por exemplo, um crucifixo na parede parece um morcego pronto para atacar o paciente, ou 
uma roupa pendurada no cabide parece uma pessoa ou um monstro que irá atacá-lo. 
2. Alucinação: é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção 
é real, tendo em vista a convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado; portanto, será real para ela. 
As alucinações podem ser auditivas (dentre elas, podem ocorrer sonorização do pensamento, quando o paciente ouve os próprios 
pensamentos, e publicação do pensamento, quando o paciente sente que as pessoas escutam o que ele pensa), auditivo-verbais 
(mais comuns), visuais, olfativas, gustativas, cenestésicas (corpórea – “cabeça encolhendo”), cinestésicas (movimento – “corpo 
voando”) e sinestésicas (envolvem mais de um sentido). Também existem as alucinações hipnagógicas (ao adormecer) e 
hipnopômpicas (ao despertar); 
3. Pseudoalucinação: não apresenta os aspectos vivos e corpóreos da alucinação e é menos nítida. Ocorre em casos de 
psicoses orgânicas, intoxicações ou estados afetivos intensos; Na pseudoalucinação, a voz (ou imagem visual) percebida é pouco 
nítida, de contornos imprecisos, sem vida e sem corporeidade. A vivência é projetada no espaço interno; são “vozes que 
tipicamente vêm de dentro da cabeça, do interior do corpo”. O paciente relata que “parece uma voz (ou, no caso visual, uma 
imagem) ...” ou que “... é como se fosse uma voz (ou imagem), mas não é bem uma voz, confunde-se com um pensamento muito 
marcante”. 
4. Alucinose: é um quadro alucinatório sem perda da consciência da realidade; o paciente percebe a alucinação como 
estranha à sua pessoa. Acontece em casos de alcoolismo; 
5. Despersonalização: o paciente tem a sensação de que seu corpo não lhe pertence; 
6. Desrealização: o ambiente ao redor parece estranho e irreal. 
Obs.: O elemento básico do processo de sensopercepção é a imagem perceptiva real, ou simplesmente “imagem”. A imagem 
sensoperceptiva se caracteriza pelas seguintes qualidades: 
1- Nitidez (a imagem é nítida, seus contornos são precisos); corporeidade (a imagem é viva, corpórea, tem luz, brilho e cores 
vivas); 
2- Estabilidade (a imagem percebida é estável; enquanto estiver presente o objeto estimulador, a imagem não muda de um 
momento para outro); 
3- Extrojeção (a imagem, provinda do espaço exterior, também é percebida nesse espaço); 
4- Ininfluenciabilidade voluntária (o indivíduo não consegue alterar voluntariamente a imagem percebida); 
5- Completude (a imagem apresenta desenho completo e determinado, com todos os detalhes diante do observador). 
Obs.: diferenciar uma imagem perceptiva real de uma representação é importante. 
Representação é, portanto, a reapresentação de uma imagem na consciência, sem a presença real, externa, do objeto que, em 
um primeiro momento, gerou uma imagem sensorial. A representação (imagem representativa ou mnêmica) se caracteriza por: 
1- Pouca nitidez (os contornos, geralmente, são borrados); 
2- Pouca corporeidade (a representação não tem a vida de uma imagem real); instabilidade (a representação aparece e 
desaparece facilmente do campo de consciência); 
3- Introjeção (a representação é percebida no espaço interno); 
4- Incompletude (a representação demonstra um desenho indeterminado, apresentando-se geralmente incompleta e 
apenas com alguns detalhes). 
X Ilusão Representação Alucinação verdadeira 
Definição Interpretação errônea da 
realidade 
Reapresentação de uma imagem 
na consciência 
Percepção real de um 
objeto inexistente (sem 
estímulo externo) 
Percepção Deformada da realidade Irreal Clara e real 
Objeto Existente e presente Inexistente Inexistente 
Imagem Variável Pouca nitidez, introjeção, 
incompletude... 
Nítida, estável, 
completude... 
 
 Letícia Nano – Medicina Unimes 
Um paciente sob alucinação consegue descrever os detalhes do que está ouvindo, vendo etc. importante para diferenciar 
indivíduos que fingem alucinações (em ações criminais, por exemplo). 
A imaginação é uma atividade psíquica, geralmente voluntária, que consiste na evocação de imagens percebidas no passado 
(imagem mnêmica) ou na criação de novas imagens (imagem criada). A imaginação, ou processo de produção de imagens, 
geralmente ocorre na ausência de estímulos sensoriais. 
A fantasia, ou fantasma, é uma forma de imaginação, uma produção imaginativa, produto minimamente organizado do processo 
imaginativo. No sentido psicanalítico, a fantasia pode ser consciente ou inconsciente. Ela se origina de desejos, temores e conflitos 
tanto conscientes como inconscientes. A produção de fantasias é muito frequente e intensa em crianças e tem uma importante 
função psicológica: ajudar o indivíduo a lidar com as frustrações, com o desconhecido e, de modo geral, com seus conflitos. Muitas 
pessoas encontram grande prazer em suas atividades fantasmáticas, e os profissionais da criatividade (artistas, inventores, poetas, 
etc.) dependem basicamente de sua capacidade de produzir, desenvolver e elaborar fantasias. 
 
Memória 
Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos passados. Primeiro, a memória não é um processo unitário. Ela écomposta de múltiplos elementos, que podem ser organizados e expostos de distintas formas e exigem redes e estruturas 
cerebrais diferentes. Segundo, a memória não é um processo passivo e fidedigno de fixação de elementos e de evocação exata e 
realista do que foi arquivado. Nesse sentido, ela é muito mais um processo ativo, no qual vários elementos do indivíduo participam 
da codificação e da evocação, como elementos sensoriais, imaginativos, semânticos e afetivos. A memória é frequentemente 
reeditada, ou seja, as informações de eventos, cenas e acontecimentos do passado, que já foram armazenadas, podem ser 
reconfiguradas com acréscimos de elementos novos (vividos ou imaginados pelo próprio indivíduo ou instigados por estímulos 
externos, conscientes ou não). Assim, há um processo de recriação e reinterpretação no arquivo de longo prazo de nossas 
memórias. Elas frequentemente não são “o filme realista do que aconteceu”, mas “reedições criativas” de vários “diretores” que 
influem no conteúdo do arquivo de memórias. 
Há quatro dimensões principais do seu funcionamento: 
1. Percepção: modo como o sujeito percebe os fatos e atitudes em seu cotidiano e reconhece-os psiquicamente; 
2. Fixação: capacidade de gravar imagens na memória; 
3. Conservação: tudo o que o sujeito guarda para o resto da vida (a memória aparece como um todo e é um processo 
tipicamente afetivo); 
4. Evocação: atualização dos dados fixados (nem tudo pode ser evocado). 
Ou 
1- Codificação: captar, adquirir e codificar informações. 
2- Armazenamento: reter as informações de modo fidedigno. 
3- Recuperação ou evocação: também denominada de lembranças ou recordações; é fase em que as informações são recuperadas 
para distintos fins. 
A memória pode ser também classificada pelo tipo de estruturas cerebral utilizada. Esses quatro tipos são afetados de forma 
diferente nas doenças e condições que diminuem ou destroem a memória (p. ex., demências). São eles: 
Memória de trabalho 
A memória de trabalho situa-se entre os processos e habilidades da atenção e os da memória imediata. São exemplos de memória 
de trabalho ouvir um número telefônico e retê-lo na mente para, em seguida, discá-lo, assim como, ao dirigir em uma cidade 
desconhecida, perguntar sobre um endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, executar o itinerário 
de forma progressiva. 
De modo geral, todas as condições que afetam as regiões pré-frontais causam alteração da memória de trabalho. Elas ocorrem 
em distintas condições clínicas, mas sobretudo nas demências, como: demência frontotemporal (DFT), sobretudo na variante 
frontal da DFT, demência de Alzheimer (sobretudo na variante frontal desta demência), demências vasculares e demência com 
corpos de Lewy. 
 
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Memória episódica 
Trata-se de memória explícita, de médio e longo prazos, relacionada a eventos específicos da experiência pessoal do indivíduo, 
ocorridos em determinado contexto. Relatar o que foi feito no último fim de semana é um típico exemplo de memória episódica. 
Ela corresponde a eventos específicos e concretos, comumente autobiográficos, bem circunscritos em determinado momento e 
local. Refere-se, assim, à recordação consciente de fatos reais. 
->Nesse sentido, a perda de memória episódica obedece à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos recentemente 
adquiridos e, depois, os mais antigos). 
As perdas de memória episódica ocorrem principalmente nos transtornos neurocognitivos, sobretudo na demência de Alzheimer. 
Nesses casos, os déficits de memória instalam-se de forma lenta e progressiva. Também nos transtornos neurocognitivos 
especificamente associados à memória, como na síndrome de Wernicke-Korsakoff, ocorre prejuízo marcante da memória 
episódica. 
Memória semântica 
Esse tipo de memória se refere ao aprendizado, à conservação e à utilização do arquivo geral de conceitos e conhecimentos do 
indivíduo (os chamados conhecimentos gerais sobre o mundo). Assim, conhecimentos como a cor do céu (azul) ou de um papagaio 
(verde), ou quantos dias há na semana (sete), são de caráter geral e se cristalizam por meio da linguagem, ou seja, também são 
de caráter semântico. Ela é, enfim, a representação de longo prazo dos conhecimentos que temos sobre o mundo, entre eles o 
significado das palavras, dos objetos e das ações. 
Na demência de Alzheimer, há alterações pronunciadas da memória semântica. Isso ocorre devido à deterioração das regiões 
mediais e ventrais dos lobos temporais e de regiões temporoparietais do hemisfério esquerdo. 
Na DFT, na variante que afeta mais os lobos temporais (variante semântica da DFT), ocorre significativa perda da memória 
semântica, o que leva a dificuldades nas tarefas de nomeação e compreensão de palavras isoladas, além de empobrecimento dos 
conhecimentos gerais (condição descrita por alguns autores como demência semântica 
Memória de procedimentos 
Trata-se de um tipo de memória automática, não consciente. Exemplos desse tipo de memória são habilidades motoras e 
perceptuais mais ou menos complexas (andar de bicicleta, digitar no computador, tocar um instrumento musical, bordar, etc.), 
habilidades visuoespaciais (como a capacidade de aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e habilidades automáticas 
relacionadas ao aprendizado de línguas (regras gramaticais incorporadas na fala automaticamente, decorar a conjugação de 
verbos de uma língua estrangeira, etc.). 
A doença de Parkinson (assim como a síndrome de Parkinson por causas vasculares, tumorais, etc.) é a condição mais frequente 
em que se observa perda da memória de procedimentos. Outras doenças que comprometem a memória de procedimentos são 
doença de Huntington, paralisia supranuclear progressiva e degeneração olivopontocerebelar. Também tumores, acidentes 
vasculares cerebrais (AVCs), hemorragias, degenerações e outras lesões nos núcleos da base ou no cerebelo (degeneração 
cerebelar) podem prejudicar a memória de procedimentos. 
 
A função mnésica pode ser avaliada pela rapidez, precisão e cronologia das informações oferecidas pelo próprio paciente, assim 
como a observação da capacidade de fixação. A memória pode ser imediata, de curto ou de longo prazo. 
Podem existir as alterações quantitativas: hipermnésia (aceleração psíquica) e hipomnésias ou amnésias. As últimas podem ser 
anterógradas (o paciente não consegue fixar memória a partir do evento que causou o dano cerebral) ou retrógradas (perda da 
memória para fatos ocorridos antes do trauma). Podem, também, ocorrer amnésias lacunares, ou seletivas. 
O exame da memória passada (retrógrada) é feito com perguntas sobre o passado do paciente e data de acontecimentos 
importantes. Contradições nas informações podem indicar dificuldades. 
Com relação à memória recente (anterógrada), podem ser feitas perguntas rápidas e objetivas, como “O que você fez hoje?”, ou 
dizer um número de quatro ou cinco algarismos ou uma série de objetos e pedir para que o paciente os repita após alguns minutos. 
Para o exame da memória de retenção, pode-se pedir a ele que repita algarismos na ordem direta e depois inversa. 
A maior parte das alterações da memória provém de síndromes orgânicas (amnésia, hipermnésia ou hipomnésia). As alterações 
qualitativas, ou paramnésias, são lembranças deformadas, que não correspondem à sensopercepção original. 
Alterações qualitativas da memória: 
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1. Ilusões mnêmicas: acréscimos de elementos falsos a um núcleo verdadeiro; 
2. Alucinações mnêmicas: criações imaginativas; 
3. Confabulações: fantasias que preenchem vazios de memória (podem ocorrer na síndromede Korsakoff). 
 
Obs.: diferenciar alteração de memória com alteração de reconhecimento 
As alterações do reconhecimento dividem-se em dois grandes grupos: as diferentes formas de agnosias, de origem essencialmente 
cerebral, e as alterações de reconhecimento psicopatológicas, mais frequentemente associadas aos transtornos mentais, sem 
base orgânica definida. 
Agnosias 
As agnosias são fenômenos relativamente raros, definidos como déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais de objetos e 
fenômenos, que não podem ser explicados por um déficit sensorial elementar, por distúrbios da linguagem e da atenção ou por 
perdas cognitivas globais. 
As agnosias são sempre de modalidades sensoriais específicas, nas quais o indivíduo perde a capacidade de reconhecimento (de 
objetos, faces, sons, etc.) por determinada via sensorial (visão, audição ou tato), mas pode reconhecer os objetos por outra via 
sensorial. As agnosias mais importantes são as visuais e as auditivas. 
->> alterações de reconhecimento não delirantes 
Os fenômenos apresentados a seguir não são, de modo geral, associados a psicose e podem estar presentes em condições 
neurológicas, psicopatológicas e em indivíduos sadios. 
Fenômenos do já visto (mais raramente do já ouvido, já vivido; do francês déjà-vu, déjà entendu, déjà vécu) São também 
chamados de fenômenos déjà. O indivíduo tem a nítida impressão de que o que está vendo, ouvindo ou vivenciando no momento 
já foi visto, já foi experimentado no passado. As experiências do tipo déjà (já visto, já ouvido, já vivido) são mais frequentes em 
quadros de epilepsia, sobretudo do lobo temporal, nas crises parciais simples. Tem sido proposto que disfunções nos lobos 
temporais, sobretudo nas áreas para-hipocampais, estariam relacionadas à base orgânica desses fenômenos. Em pessoas sadias, 
os fenômenos déjà são também observados, não estando claro seu significado neuropsicológico Além disso, são observados em 
pessoas sadias em estado de fadiga importante ou em estados de ansiedade. 
Fenômenos do jamais visto. Mais raramente, descrevem-se os fenômenos do jamais visto (jamais-vu), assim como os do jamais 
ouvido e jamais vivido. Eles ocorrem quando o paciente, apesar de já ter passado por determinada experiência, tem a forte 
sensação de que nunca a viu, ouviu, pensou ou viveu. Seu significado ainda não é claro. 
O QUE SIGNIFICA TER ALTERAÇÃO DE MEMÓRIA 
Transitória: por um acidente craniano, intoxicação, crise epiléptica, estados emocionais, estados depressivos 
Permanente: lesão, demência, deficiência intelectual 
 
Afetividade 
A afetividade compreende o estado de ânimo ou de humor, os sentimentos, as emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade 
de experimentar sentimentos e emoções. É ela que determina a atitude geral do indivíduo diante de qualquer experiência 
vivencial, promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível, confere disposição 
indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre dois polos: depressão e euforia. Há cinco tipos básicos 
de vivências afetivas: 
1- Humor ou estado de ânimo: é definido como o tônus afetivo do indivíduo, o 
estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo 
que penetra toda a experiência psíquica, a lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma cor 
particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes, modificando a natureza e o sentido 
das experiências vivenciadas. 
2- Emoções: podem ser definidas como reações afetivas momentâneas, agudas, desencadeadas por estímulos 
significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como reação do 
indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes, não conscientes ou inconscientes. 
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3- Sentimentos: são estados e configurações afetivas estáveis; em relação às emoções, são mais atenuados em sua 
intensidade e menos reativos a estímulos passageiros. Os sentimentos estão comumente associados a conteúdos 
intelectuais, valores, representações e, em geral, não implicam concomitantes somáticos. Constituem fenômeno muito 
mais mental do que somático. Ex: melancolia, saudade, tristeza, raiva 
4- Afetos: Define-se como a qualidade e o tônus emocional que acompanham uma ideia ou representação mental. É a 
expressão do sentimento 
5- Paixões: é um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e 
dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os demais interesses. Nessa linha, a paixão 
intensa impede o exercício de uma lógica imparcial. 
A afetividade divide-se, basicamente, em: 
Algumas alterações de humor são: 
Distmia: a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição como no sentido da exaltação. 
a) Hipertimia: euforia; 
b) Hipotimia: depressão; 
c) Disforia: irritabilidade, mau humor. 
 
Apatia: É a diminuição da excitabilidade emocional. Os pacientes queixam-se de não poder sentir nem alegria, nem tristeza, nem 
raiva, nem nada... Na apatia emocional, em alguns indivíduos acometidos, apesar de saberem da importância afetiva que 
determinada experiência deveria ter para eles, não conseguem sentir nada, não reagem afetivamente. O paciente torna-se 
hiporreativo; é um “tanto faz quanto tanto fez” para tudo na vida. 
Alterações afetivas: 
1. Labilidade afetiva: estado especial em que se produz a mudança rápida e imotivada do humor, sempre acompanhada de 
extraordinária intensidade afetiva; abrupta, rápida e inesperada de um estado afetivo para outro. O paciente está falando de algo 
ameno e começa a chorar, passando, logo a seguir, a sorrir de forma tranquila, e daí a pouco volta a chorar. 
2. Ambivalência afetiva: acentuações afetivas opostas e, basicamente, simultâneas nos indivíduos; 
3. Embotamento afetivo: perda de todo tipo de vivência afetiva; ausência dos nexos afetivos; 
4. Anedonia: incapacidade de sentir prazer com determinadas atividades da vida antes prazerosas; muito comum nas 
depressões; 
5. Hipomodulação: inadequação ou distanciamento afetivo. 
 
 Pensamento 
Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por 
ele que se elaboram conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara-se, solucionam-se problemas, elaboram-se 
conhecimentos adquiridos e ideias, transforma-se e cria-se. O curso do pensamento é o modo como o pensamento flui, sua 
velocidade e seu ritmo ao longo do tempo. Já a forma do pensamento é sua estrutura básica, sua arquitetura, preenchida pelos 
mais diversos conteúdos e interesses do indivíduo. Por sua vez, o conteúdo do pensamento pode ser definido como aquilo que 
lhe dá substância, seus temas predominantes, o assunto em si. Há tantos conteúdos de pensamento quantos são os temas de 
interesse do ser humano. 
Curso 
Trata-se da velocidade com que o pensamento é expresso e pode ir do acelerado ao lentificado. 
Aceleração do pensamento: O pensamento flui de forma muito acelerada, com uma ideia se sucedendo à outra rapidamente, 
podendo até ser difícil acompanhar o ritmo do indivíduo. Pode ocorrer nos quadros de mania, em alguns pacientes com 
esquizofrenia, eventualmente nos estados de ansiedade intensa, nas psicoses tóxicas (sobretudo por anfetamina e cocaína) e na 
depressão ansiosa. 
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Lentificação do pensamento: Nesse caso, o pensamento progride lentamente, de forma lenta e dificultosa. Há certa latência entre 
as perguntasformuladas e as respostas. Ocorre principalmente em pacientes gravemente deprimidos, em alguns casos de 
rebaixamento do nível de consciência, em certas intoxicações (por substâncias sedativas) e em quadros psico-orgânicos que 
afetam estruturas subcorticais. 
Bloqueio ou interceptação do pensamento: Verifica-se o bloqueio do pensamento quando o indivíduo, ao relatar algo, nomeio de 
uma conversa, brusca e repentinamente interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo aparente. O paciente pode relatar 
que, sem saber por que, “o pensamento para”, é bloqueado. Trata-se de alteração quase exclusiva da esquizofrenia. 
Roubo do pensamento: É uma vivência, frequentemente associada ao bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo tem a nítida 
sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente estranho, por uma máquina, uma antena, etc. 
O roubo do pensamento é um tipo de vivência de influência Trata-se de uma alteração característica da esquizofrenia. 
Forma 
Alterações de forma de pensamentos: 
1. Fuga de ideias: pessoas afetadas mudam de assunto a todo instante, sem concluí-los ou dar continuidade, em uma 
aceleração do fluxo do pensamento; é a forma extrema do taquipsiquismo (comum na mania); (pode ser alteração 
do curso ou forma) 
2. Afrouxamento das associações: Nesse caso, embora ainda haja concatenação lógica entre as ideias, nota-se já o 
afrouxamento dos enlaces associativos. As associações parecem mais livres, não tão bem articuladas. Manifesta-se 
nas fases iniciais da esquizofrenia e em TPs (sobretudo TP esquizotípica). 
3. Descarrilhamento do pensamento: O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, 
desvios, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente está associado a 
marcante distraibilidade. O descarrilhamento é observado na esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos 
maníacos. 
4. Dissociação e incoerência do pensamento: É a designação para o tipo de desorganização do pensamento, perda ou 
afrouxamento das relações associativas de importância central na esquizofrenia. Em geral, quando o afrouxamento 
das associações se acentua, os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma sequência lógica e bem 
organizada, e os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros. De início, a incoerência pode ser 
discreta, ainda sendo possível captar aquilo que o indivíduo quer comunicar. Com o agravamento do processo 
patológico, o pensamento pode tornar-se totalmente incoerente e incompreensível. 
5. Desagregação do pensamento: Nesse caso, há profunda e radical perda dos enlaces associativos, total perda da 
coerência do pensamento. Sobram apenas “pedaços” de pensamentos, conceitos e ideia fragmentados, muitas vezes 
irreconhecíveis, sem qualquer articulação racional, sem que sejam detectadas uma linha diretriz e uma finalidade no 
ato de pensar. Trata-se de alteração típica de formas avançadas de esquizofrenia e de quadros demenciais. 
6. Prolixidade: é um discurso detalhista, cheio de rodeios e repetições, com certa circunstancialidade; há introdução de 
temas e comentários não pertinentes ao que se está falando; O paciente dá longas voltas ao redor do tema e mescla, 
de forma imprecisa, o essencial com o supérfluo. Há dificuldade em obter construção direta, clara e acabada, além 
de notável falta de capacidade de síntese. 
7. Arborização: há perda da direcionalidade, sem conclusão do raciocínio (comum nos episódios maníacos); 
8. Circunstancialidade: o paciente dá voltas em torno do tema sem conseguir atingi-lo (comum em casos de transtorno 
obsessivo-compulsivo); 
9. Descarrilamento: há mudança súbita do que se está falando; 
10. Perseveração: há repetição dos mesmos conteúdos de pensamento (comum nas demências). 
 
Conteúdo 
As perturbações no conteúdo do pensamento estão associadas a determinadas alterações, como as obsessões, as fobias e, 
especialmente, os delírios. O conteúdo pode ser: persecutórios depreciativos, de ataque à autoestima de poder, riqueza, grandeza 
ou missão religiosos, místicos, mágicos eróticos, sexuais, de ciúmes de culpa, conteúdos hipocondríacos. A importância desses 
conteúdos tem a ver com a constituição social e histórica do indivíduo, com o universo cultural no qual ele se insere, assim como 
com a estrutura psicológica e neuropsicológica do homem. 
Obs.: os delírios podem ser classificados como alterações do conteúdo do pensamento, ou alterações do juízo da realidade 
(Dalgalarrondo). Para classificar uma ideia como delirante, deve-se considerar alguns aspectos: a incorrigibilidade (não há como 
modificar a ideia delirante por meio de correções), a influencibilidade (a vivência é muito intensa; chega a ser mais fácil o delirante 
influenciar a pessoa dita normal) e a incompreensibilidade (não pode ser explicada logicamente). O delírio é uma convicção íntima 
e irremovível, contra a qual não há argumento. 
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Delírio 
Entretanto, cabe assinalar que não é tanto a falsidade do conteúdo que faz um juízo, uma crença, ser um delírio (embora quase 
sempre a crença delirante seja falsa), mas sobretudo a justificativa para a crença que o delirante apresenta, o tipo de evidência 
que lhe assegura que as coisas são assim. O modo como ela construiu seu ajuizamento e como mantém a crença são patológicos, 
determinados por fatores mórbidos. Entretanto, cabe reforçar: na maioria dos casos, o delírio é, de fato, um juízo falso. 
Ou seja, o teor do conteúdo de um pensamento não é um objeto fiel de estudo, e sim como o paciente chegou àquele raciocínio. 
Ex: pacientes que relatam uma tentativa prévia de assassinato e perseguição contra ele. Pelo conteúdo, não há como obter 
conclusões sobre distúrbios ou alterações psicopatológicas acerca do paciente. No entanto, se o paciente disse que chegou 
naquela conclusão pois todos no restaurante olhavam para ele e porque as “vozes” o contaram, deve-se investigar esse paciente. 
 
O indivíduo que apresenta o delírio tem convicção extraordinária, uma certeza subjetiva praticamente absoluta Sua crença é 
total; a seu ver, não se pode colocar em dúvida a veracidade de seu juízo delirante. É impossível a modificação do delírio pela 
experiência objetiva, por provas explícitas da realidade, por argumentos lógicos, plausíveis e convincentes. Assim, diz-se que o 
delírio é irremovível, irrefutável, incorrigível; mesmo pela prova de realidade mais cabal, ele não pode ser influenciado 
externamente por pessoas que queiram demover o delirante de suas crenças O delírio é, quase sempre, um juízo falso; seu 
conteúdo é impossível. O delírio é uma produção associal, idiossincrática em relação ao grupo cultural do paciente. Geralmente 
se trata de uma convicção de uma só pessoa. O delírio, no mais das vezes, não é nem produzido, nem compartilhado ou sancionado 
por um grupo religioso, político ou de outra natureza. Pelo contrário, ao delirar, o indivíduo se desgarra de sua trama social, do 
universo cultural no qual se formou, e passa, mesmo contra esse grupo cultural, a produzir suas crenças individuais. 
As alucinações podem ter relação com os delírios. Chamados de “delírios alucinatórios”, quando o delírio se manifesta depois do 
surgimento das alucinações quando, por exemplo, o paciente começa a “acreditar nas vozes”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Consciência do eu 
Este item refere-se ao fato de o indivíduo ter a consciência dos próprios atos psíquicos, a percepção do seu eu, como o sujeito 
apreende a sua personalidade. 
São características formais do eu: 
1. Sentimento de unidade: “Eu sou uno no momento”; 
2. Sentimento de atividade: consciência da própria ação; 
3. Consciência da identidade: “Sempre sou o mesmo ao longo do tempo”; 
4. Cisão sujeito-objeto: consciênciado eu em oposição ao exterior e aos outros. 
 
Alteração de unidade: paciente relata que sente que seu corpo está sendo habitado por ele e mais um ser, como o diabo; O 
indivíduo sente-se profundamente dividido, sente-se “anjo e demônio ao mesmo tempo”, ou “homem e mulher 
simultaneamente”. Tais vivências ocorrem, sobretudo, nas psicoses agudas. 
Alterações de identidade: alguns pacientes relatam que, atualmente, em comparação a sua vida anterior (em especial “antes do 
início da psicose”), o Eu não é a mesma pessoa. Diz um paciente: “...ao descrever a minha história, tenho a nítida consciência de 
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que apenas uma parte do meu Eu atual vivenciou tudo isso que aconteceu no passado” ou “O Eu de então me parece um anão 
dentro de mim”. Alguns pacientes com psicose chegam a usar a terceira pessoa para se referirem ao seu Eu do passado. 
Alteração cisão sujeito-objeto/ sujeito-mundo: é a perda da sensação de fronteira e oposição entre o Eu e o mundo. Os pacientes 
identificam-se completamente com os objetos (pessoas, animais, máquinas) do mundo externo. O indivíduo sente que seu Eu se 
expande para o mundo exterior e dele não mais 
se diferencia. Em alguns pacientes psicóticos, pode ocorrer a vivência de sentir-se transformado em um robô, em outra pessoa ou 
em um animal, denominada transitivismo (ver também adiante em “Alterações do self”). 
Alteração da atividade do eu: Essa alteração psicopatológica consiste na suspensão da sensação normal de existência do próprio 
Eu, corporal e psíquico. O indivíduo perde ou tem diminuída sua consciência do ser ele próprio, percebe um distanciamento do 
mundo perceptivo e perde mesmo a consciência do sentimento do Eu. É a condição na qual o ser humano existindo já não pode 
mais sentir sua existência. Alguns pacientes psicóticos (e, eventualmente, alguns com depressão muito grave) relatam que se 
sentem modificados, estranhos a si mesmos: “Sou apenas uma máquina, um autômato, um robô” ou “Sinto-me como um nada, 
como um morto”. 
 
* A despersonalização é vivência geralmente muito perturbadora, pois a experiência de perda ou transformação do Eu costuma 
assustar e inquietar o paciente marcadamente. O indivíduo sente-se estranho consigo mesmo, vive marcante transformação, na 
qual seu Eu familiar e cotidiano, inclusive seu próprio corpo, são vivenciados como algo estranho, diferente, bizarro. Isso ocorre, 
em geral, com sentimentos angustiantes e profunda perplexidade. Há frequentemente a sensação de que se está perdendo o 
controle ou mesmo enlouquecendo. 
** Comumente associada à despersonalização, pode ocorrer a desrealização, que é a transformação e a perda da relação de 
familiaridade com o mundo comum, familiar. O indivíduo passa a estranhar muitas das coisas que sempre lhe foram familiares, 
bem conhecidas, como sua própria casa, seus móveis, suas roupas, os lugares que frequenta. 
 
Linguagem 
A dimensão fônica (estudada pela disciplina fonologia) se refere aos fonemas, as unidades fonológicas mínimas, distintivas, de 
cada língua. A fonologia estuda, por exemplo, como os fonemas se organizam nas diferentes sílabas e como operam os traços 
mínimos que definem os diferentes fonemas. 
A dimensão semântica diz respeito à significação dos vocábulos, das palavras, utilizadas em determinada língua. Já a dimensão 
sintática implica a relação e a articulação lógica das diversas palavras entre si; 
Por sua vez, a dimensão da prosódia, a entonação da fala, essencial na transmissão e reconhecimento das emoções, utiliza a 
intensidade dos sons (forte ou fraca), sua frequência (aguda ou grave) e a duração de cada som para compor uma espécie de 
música da fala, fundamental ao sentido e poder da comunicação verbal. 
Por fim, a dimensão da linguagem conhecida como pragmática se refere ao emprego da linguagem em situações sociais concretas, 
os contextos, circunstâncias, implicações e repercussões da linguagem quando utilizada concretamente pelos seres humanos em 
suas vidas sociais. 
A linguagem é considerada um processo mental predominantemente consciente, significativo, além de ser orientada para o social. 
É um processo dinâmico que se inicia na percepção e termina na palavra falada ou escrita e, por isso, se modifica constantemente. 
As alterações mais comuns são disartrias (má articulação de 
palavras), afasias (perturbações por danos cerebrais que 
implicam dificuldade ou incapacidade de compreender e utilizar 
os símbolos verbais), verbigeração (repetição incessante de 
palavras ou frases), parafasia (emprego inapropriado de 
palavras com sentidos parecidos), neologismo (criação de 
palavras novas), jargonofasia (“salada de palavras”), mussitação 
(voz murmurada em tom baixo), logorreia (fluxo incessante e 
incoercível de palavras) e pararrespostas (responde a uma 
indagação com algo sem relação alguma com o que foi 
perguntado). 
 
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Vontade/volição 
A vontade, ou ato volitivo, é a capacidade de exercitar-se livremente, deliberar, escolher e realizar atos voluntários. A atividade 
voluntária normal compõe-se das seguintes fases: 
1. desejo: etapa afetiva 
2. intenção (propósito): etapa afetivo-cognitiva 
3. deliberação (apreciação e opção) 
4. execução: etapa psicomotora - pragmatismo 
O indivíduo pode apresentar-se normobúlico (vontade normal), ter a vontade rebaixada (hipobulia), uma exaltação patológica 
(hiperbulia), responder a solicitações repetidas e excessivas (obediência automática), concordar com tudo o que é dito, mesmo 
que sejam juízos contraditórios (sugestionabilidade patológica), realizar atos contra a sua vontade (compulsão), duvidar 
exageradamente do que quer (dúvida patológica), opor-se de forma passiva ou ativa às solicitações (negativismo), repetir de forma 
automática as palavras ou ações do entrevistador (ecolalia e ecopraxia). 
Os atos impulsivos apresentam as seguintes características: 
São realizados sem fase prévia de deliberação e decisão. São realizados, de modo geral, de forma egossintônica, ou seja, o 
indivíduo não percebe tal ato como inadequado, não tenta evitá-lo ou adiá-lo. O ato impulsivo frequentemente não é contrário 
aos valores morais e, sobretudo, aos desejos de quem o pratica. 
São geralmente associados a impulsos patológicos, de natureza inconsciente, ou à incapacidade de tolerância à frustração e à 
necessária adaptação à realidade objetiva. Da mesma forma, o indivíduo dominado pelo ato impulsivo tende a desconsiderar os 
desejos e as necessidades das outras pessoas. 
Atos e os rituais compulsivos apresentam as seguintes características: 
Há a vivência frequente de desconforto subjetivo por parte do indivíduo que realiza o ato compulsivo. São egodistônicos, isto é, 
experienciados como indesejáveis, contrários aos valores morais e anseios do paciente. Há a tentativa de resistir (ou pelo menos 
adiar) à realização do ato compulsivo; há luta entre a compulsão e a vontade do indivíduo (no ato impulsivo não há essa luta). Há 
a sensação de alívio ao realizar o ato compulsivo, alívio que logo é substituído pelo retorno do desconforto subjetivo e pela 
urgência em realizá-lo novamente. Os atos ocorrem frequentemente associados a ideias obsessivas muito desagradáveis, 
representando, muitas vezes, tentativas de neutralizar tais pensamentos. 
 
 Psicomotricidade 
Motricidade intimamente ligada ao funcionamento psíquico do indivíduo. As alterações da psicomotricidade frequentemente são 
a expressão final de alterações da volição. 
A motricidade pode estar aumentada (inquietação, agitação psicomotora) ou diminuída (estupor)A psicomotricidade pode estar 
normal, diminuída (hipocinesia),inibida (acinesia) ou exaltada (hipercinesia). O paciente pode apresentar maneirismos 
(movimentos bizarros e repetitivos), estereotipias posturais (repetições automáticas e uniformes), automatismos, flexibilidade 
cérea (tendência a manter-se na posição colocada pelo examinador), cataplexia (perda abrupta do tônus muscular), tiques 
motores e alterações na marcha. 
* catatonia: os sintomas de estupor em conjunto com uma série de outros sintomas, sobretudo psicomotores (catalepsia, 
flexibilidade cerácea, postura espontânea e ativa contrária à gravidade, mutismo, negativismo, maneirismo, estereotipias, 
agitação, caretas, ecolalia e ecopraxia). 
** apraxias: impossibilidade ou dificuldade em realizar atos intencionais, gestos complexos, voluntários, conscientes, sem que 
haja paralisias, paresias ou ataxias e sem que faltem também o entendimento da solicitação para fazê-lo ou a decisão de fazê-lo. 
 
Inteligência 
A inteligência é o conjunto das habilidades cognitivas da pessoa, a resultante, o vetor final dos diferentes processos intelectivos. 
Tais habilidades permitem ao indivíduo identificar e resolver problemas novos, reconhecer adequadamente as situações 
cambiantes da vida e encontrar soluções, as mais satisfatórias possíveis para si e para o ambiente, respondendo às exigências de 
adaptação às demandas do dia a dia. O que se faz na avaliação da inteligência não é o que chamamos de “avaliação fina”, realizada 
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por meio de testes; o objetivo é constatar se o paciente está dentro do considerado padrão de normalidade, conseguindo resolver 
os problemas básicos da vida. Devem-se considerar sempre o contexto sociocultural e a escolaridade do paciente. As deficiências 
de inteligência são os retardos mentais, em todos os seus níveis. 
Integração da compreensão de ideias complexas, planejamento, raciocínio, pensamento abstrato, aprendizagem rápida e a partir 
da experiência. 
• QI 
• domínio de conceitos 
• questão cultural 
• nível de escolaridade 
• Jargão 
• Capacidade de encontrar/criar soluções 
 
Exemplos práticos análise psicopatológica: 
Caso 1: HJ, 69 anos, levado ao médico com queixa de memória falha nos últimos meses. A esposa relata que ele esquece os nomes dos amigos 
e membros da família, se perde ao voltar do mercado e de modo geral não consegue lembrar novas informações. Relata que o comportamento 
de HJ está desorganizado (pôs o telefone celular no freezer e os sapatos na banheira) Ao exame, mostra-se alerta, sabe onde está, seu nome 
mas não se lembra do dia e ano atuais. O médico mostra-lhe um relógio, um lápis e uma cadeira, mas o paciente não sabe dizer o nome dos 
objetos 
Quais as alterações psicopatológicas descritas no texto? 
• Consciência: está normal, em bom estado de alerta. 
• Orientação auto e alo psíquica: A autopsíquica está preservada (sabe quem é ele), porém, a orientação alopsíquica está 
alterada quanto à orientação temporal, e preservada a orientação espacial e com a situação em que se encontra. 
• Atenção: não há descrição no texto para alguma alteração. 
• Memória: Dificuldade de lembrar informações novas, de lembrar nome de amigos (memória de fixação alterada e 
retrográda, também está prejudicada. Memoria executiva prejudicada pelo comportamento desorganizado em executar 
ações (põe o sapato na banheira, celular no freezer) 
• Linguagem: apresenta afasia nominativa (não sabe dar nome aos objetos mostrados). Não é possível dizer se há agnosia 
(reconhecimento de objetos pois não está descrito se o paciente sabe a função do objeto ou tem dificuldade apenas com 
o nome) 
• Pensamento - não há dados no texto 
 
Caso 2: LM, 64 anos, sexo masculino, internado no hospital . Fez uma cirurgia de revascularização miocárdica há 3 dias. Mostrava-se agitado, 
gritando que tinha homens desconhecidos em seu quarto. Quando o médico veio vê-lo, ele afirmava que na noite anterior, vira vários homens 
próximos à janela de seu quarto, mas que não falavam nada. Tem certeza que íam machucá-lo. Nunca teve episódio semelhante. No prontuário, 
as enfermeiras descreveram agitação noturna, torpor e desorientação para pessoa, lugar e data. Teve períodos em que ficou bem sem agitação. 
No dia seguinte, estava orientado. 
Quais são as alterações psicopatológicas? 
• Consciência: provável rebaixamento de consciência, há sinais de flutuação do quadro, com episódio único de agitação 
psicomotora, agudo após cirurgia, com sonolência e desorientação, déficit de atenção 
• Atenção: provável déficit de atenção global (torpor) 
• Orientação têmporo espacial e autosíquica prejudicadas (não sabia onde estava, quando e quem era) 
• Memória: Não há descrição suficiente no texto. 
• Pensamento: ideia deliróide/delirante (secundário ao estado de torpor) Acha que os desconhecidos iam matá-lo. 
Conteúdo persecutório, porém, focado na alucinação visual, isto não se expande para outros assuntos. 
• Sensopercepção: alucinações visuais? Ilusões? Se não tinha nenhum objeto, provavelmente foram alucinações (ver 
homens no quarto) 
• Afetividade Humor ansioso, assustado, gritos. 
• Psicomotricidade aumentada . 
 
 Letícia Nano – Medicina Unimes 
Caso 3: HG, 27 anos, sexo masculino. Trazido ao pronto-socorro pelos amigos que moram com ele, pois relatam que HG fica acordado à noite 
limpando o apartamento, cantando e dançando há 3 semanas. Neste período, comprou um computador novo, apesar de estar endividado. O 
paciente mostra-se irritável e exaltado, distrai-se com facilidade com qualquer som ao seu redor. Usando uma camisa Laranja, calça vermelha e 
meias que não são pares. Recusa-se a sentar, sua fala é rápida e alta, sendo difícil interrompê-lo. Emenda um assunto no outro, sendo difícil 
seguir o seu pensamento. Diz que está ótimo, feliz e muito zangado com os amigos que lhe trouxeram para o hospital, pois não tem nada. Ouve 
vozes dizendo que ele é o máximo. Acha que está destinado a algo maravilhoso e que seus amigos o invejam porque tem muito sucesso com as 
mulheres. Os amigos confirmam que ele tem saído com várias mulheres, o que não é o seu padrão habitual. Sabe dizer seu endereço e seus 
dados pessoais. Não usou drogas ou álcool. 
Quais as alterações psicopatológicas deste paciente? 
• Consciência: provavelmente preservada, vigil. Atenção: provável aumento de atenção espontânea (voltada para o 
exterior) e déficit de concentração (distraibilidade). 
• Orientado quanto à pessoa e lugar. 
• Pensamento acelerado, com perda de direção do pensamento (logorreia e fuga de ideias?), conteúdo de grandeza. 
Alucinações auditivas. 
• Humor exaltado polarizado para euforia e lábil. Juízo crítico da realidade prejudicado. 
• Psicomotricidade aumentada (não para de andar na sala). Hiperbulia. 
 
Caso 4: TR, 22 anos, sexo masculino, trazido à emergência com a queixa de que “estão me fazendo olhar para o céu”. O paciente de que os 
anjos o forçam a olhar para o céu, e desde esta manhã não consegue olhar para baixo e ver o diabo no inferno. Não sabe explicar por que os 
“anjos o forçam. Sente uma força entrando na cabeça e direcionando seus pensamentos e ações para olhar para o céu. Acha que os anjos usam 
o seu corpo para protegê-lo do diabo. Às vezes sente o corpo queimando como se estivesse em um incêndio, sente cheiro de alguma coisa 
queimada. Tem medo que o diabo se apodere de seu corpo. Está cooperativo, mas só responde o que lhe perguntam e não demonstra emoção. 
Fica parado na olhando para cima e falando baixo. Repetiu as últimas palavras que o médico disse umas três vezes. Sabe onde está, seu endereço, 
a data atual. 
Quais as alterações psicopatológicas do paciente? 
• Consciência vigil,alteração da consciência do eu (sente-se invadido por forças externas e sem controle sobre seu corpo, 
pensamento e ações). 
• Atenção preservada, orientado no tempo e no espaço quanto à pessoa. 
• Não há descrição de alteração de memória. 
• Pensamento tangencial com ideias delirantes de cunho religioso e persecutório 
• Afeto com baixa expressividade (embotamento afetivo) 
• Psicomotricidade alterada (posição contínua de olhar para cima). 
• Linguagem com ecolalia. 
• Alucinações olfativas e tácteis? Juízo crítico da realidade prejudicado. 
 
 
Referências bibliográficas: 
Dalgalarrondo, P Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre,2000

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