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Letícia Nano – Medicina Unimes Psicopatologia O exame psíquico avalia as funções cognitivas: Consciência neurológica, Atenção, Orientação (tempo/espaço), Memória, Inteligência, Linguagem, Pensamento; e as funções psíquicas e motoras: Consciência psíquica (eu), Pensamento, Juízo crítico da realidade, Sensopercepção, Afetividade, Vontade e Psicomotricidade. Consciência Consciência é a capacidade do indivíduo de entender o que está acontecendo dentro e fora de si mesmo. A clareza dessa consciência é traduzida pela lucidez. É o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Quando o paciente está desperto, recebendo e devolvendo informações com o meio ambiente, está lúcido. As alterações da consciência podem ser quantitativas e qualitativas. O primeiro elemento do sistema nervoso relacionado ao nível de consciência é o chamado sistema reticular ativador ascendente (SRAA). As principais características e propriedades do nível de consciência são: 1- O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido (p. ex., em situações de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados, e, ao mesmo tempo, a sensibilidade para outros, mais relevantes, pode estar aumentada, expressando o chamado estado de alerta). 2- O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos, emoções, recordações. 3- O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão. 4- O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). Em seu aspecto quantitativo, a consciência pode estar diminuída ou aumentada. 1o grau, obnubilação: turvação da consciência ou sonolência patológica leve. Trata-se do rebaixamento da consciência em grau leve a moderado. À inspeção inicial, o paciente pode já estar claramente sonolento ou parecer desperto, o que pode dificultar o diagnóstico desse estado. De qualquer forma, há sempre diminuição do grau de clareza do sensório, com lentidão da compreensão e dificuldade de concentração. Nota-se que o indivíduo tem dificuldade para integrar as informações sensoriais oriundas do ambiente. Assim, mesmo não se notando a sonolência do paciente de forma evidente, observa-se, nos quadros de obnubilação, que a pessoa se encontra um tanto perplexa, com a compreensão dificultada, podendo o pensamento que expressa revelar confusão mental. No geral, o indivíduo diminui a atenção para as solicitações externas, dirigindo-se para a sonolência. Já se pode observar alguma lentificação do traçado eletroencefalográfico. 2o grau, torpor: é um grau mais acentuado de rebaixamento da consciência. O paciente está evidentemente sonolento; responde ao ser chamado apenas de forma enérgica e, depois, volta ao estado de sonolência evidente. A resposta aos estímulos externos, quando solicitado energicamente, é mais curta do que nos estados de obnubilação, mas menos frustra que no estado de sopor. Na obnubilação e no torpor, o paciente pode ainda apresentar traços de crítica e pudor, tentando cobrir as partes íntimas de seu corpo com o cobertor, quando em uma enfermaria ou emergência de hospital. No sopor e no coma, tal pudor e crítica da situação não existe mais, estando o indivíduo totalmente indiferente à exposição de partes íntimas (o que deve ser evitado sempre que possível, em respeito à pessoa). 3o grau, sopor: é um estado de marcante e profunda turvação da consciência, de sonolência intensa, da qual o indivíduo pode ser despertado apenas por um tempo muito curto, por estímulos muito enérgicos, do nível de uma dor intensa. Nesse momento, o paciente pode revelar fácies de dor e ter alguma gesticulação de defesa. Retorna, então, muito rapidamente, em segundos, à quase ausência de atividade consciente. Portanto, aqui, ele sempre se mostra intensamente sonolento, quase em coma. Embora ainda possa apresentar reações de defesa muito esporádicas, é incapaz de qualquer ação espontânea. A psicomotricidade encontra-se mais inibida do que nos estados de obnubilação e de torpor. O traçado eletroencefalográfico acha-se global e marcadamente lentificado, podendo surgir as ondas mais lentas, do tipo delta e teta. 4o grau, coma: é a perda completa da consciência, o grau mais profundo de rebaixamento de seu nível. No estado de coma, não é possível qualquer atividade voluntária consciente. Além da ausência de qualquer indício de consciência, os seguintes sinais neurológicos podem ser verificados: movimentos oculares errantes com desvios lentos e aleatórios, nistagmo, transtornos do olhar conjugado, anormalidades dos reflexos oculocefálicos (cabeça de boneca) e oculovestibular (calórico) e ausência do reflexo de acomodação. Além disso, dependendo da topografia e da natureza da lesão Letícia Nano – Medicina Unimes cerebral, podem ser observadas rigidez de decorticação ou de decerebração, anormalidades difusas ou focais do EEG com lentificações importantes e presença de ondas patológicas. ➔ Perdas abruptas de consciência: Vários fatores e condições médicas e/ou psicopatológicas podem produzir a perda abrupta da consciência. Tal perda pode ser causada por fatores emocionais, neurofuncionais ou orgânicos de diversas naturezas. Podem também ser rapidamente reversíveis ou irreversíveis, indicando quadros orgânicos mais graves. As perdas abruptas e transitórias (duram geralmente segundos a minutos) da consciência recebem várias denominações médicas e populares: lipotimia, síncope, desmaios e perdas da consciência de outra natureza. A lipotimia se caracteriza por perda parcial e rápida da consciência (dura apenas segundos), geralmente com visão borrada, palidez da face, suor frio, vertigens e perda parcial e momentânea do tônus muscular dos membros, com ou sem queda do corpo ao chão. A pessoa tem a sensação desagradável de que vai desmaiar. A lipotimia é rápida e completamente reversível. Às vezes, utiliza- se o termo “lipotimia” para descrever a fase inicial da síncope. A síncope designa um colapso bem súbito, com perda abrupta e completa da consciência, perda total do tônus muscular, com queda completa ao chão. O mecanismo básico é a instalação rápida de irrigação cerebral insuficiente por causas diversas. A síncope pode ou não ser reversível, dependendo dos fatores causais envolvidos. O termo “desmaio” é uma designação não médica, da linguagem comum, que geralmente significa uma perda abrupta da consciência. Corresponde de forma genérica aos termos médicos “síncope” ou “lipotimia”. COMO IDENTIFICAR UM REBAIXAMENTO DE CONSCIÊNCIA? • Sono – alteração do ciclo vigília-sono • Labilidade emocional • Déficit de atenção • Sugestionabilidade • Lentificação/ agitação psicomotora/inquietação • Falsos reconhecimentos, ilusões, alucinações • Fala desorganizada, às vezes desconexa • Desorientação têmporo-espacial Qualitativamente, a consciência é avaliada como a aptidão em apreender todos os fenômenos interiores ou exteriores e integrá- los a um contexto real das circunstâncias ocorridas no presente, no passado e que ocorrerão futuramente. As alterações qualitativas são: 1- Estado crepuscular: É um estreitamento transitório da consciência, com a conservação de atividade mais ou menos coordenada e mais ou menos automática. Normalmente, há a falsa aparência de que o paciente está compreendendo a situação. Em geral, a percepção do mundo exterior é imperfeita ou de todo inexistente. Os estados crepusculares costumam desaparecer rapidamente, mas,em alguns casos, podem durar muitos dias. Apresentam-se e terminam de modo súbito, acompanhados de amnésia em relação às vivências acessuais. 2- Dissociação da consciência: Ocorre fragmentação ou divisão do campo da consciência, com perda da unidade psíquica do ser humano. Observa-se estado semelhante ao sonho, podendo ocorrer em estados dissociativos e de ansiedade intensa. 3- Transe: É o fenômeno em que a pessoa se sente transformada em outra, como uma “despersonalização”. Desaparece a relação entre o corpo e os objetos do meio exterior, como impossibilidade de estabelecer a distinção entre o que é próprio e o que pertence ao exterior. Pode ocorrer em contextos religiosos (não sendo patológico), casos neurológicos ou início de psicoses. 4- Polarização da consciência ou estado hipnótico: É a orientação forçada da consciência em determinado sentido, segundo forte tendência afetiva. É uma atitude mais focal e profunda do que o estado crepuscular e nem sempre sugere estado patológico. É possível que, tocado por intensa motivação afetiva, o indivíduo concentre toda a sua consciência em um dado ponto (música ou imagem), desconsiderando os demais estímulos à sua volta. Atenção A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. A atenção se refere, portanto, ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas. Os termos “consciência” e “atenção” estão estreitamente relacionados. As alterações podem ser na: direção, amplitude e manutenção Letícia Nano – Medicina Unimes A determinação do nível de consciência é essencial para a avaliação da atenção. Tomando-se em consideração a natureza da atenção, pode-se discernir dois tipos básicos de atenção: a voluntária, que exprime a concentração ativa e intencional da consciência sobre um objeto, e a espontânea, que é aquele tipo de atenção suscitado pelo interesse momentâneo, incidental, que desperta este ou aquele objeto. Esta última geralmente está aumentada nos estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário sobre sua atividade mental. Em relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas formas básicas: a atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos dos sentidos. Difere-se da atenção interna, que se volta para os processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais reflexiva, introspectiva e meditativa. Em relação à amplitude atencional, há a atenção focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente delimitado e restrito da consciência, em contraposição à atenção dispersa, que não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado. Existem a atenção voluntária (ativa e intencional – capacidade de ler um livro, por exemplo) e a espontânea (por algum interesse incidental e momentâneo por algum objeto – capacidade de parar de ler o livro para focar em algum barulho que acontece no momento, por exemplo). A tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar e manter sua atenção sobre determinado estímulo, em um tema da conversa ou em um campo de atenção. Na tenacidade, a atenção se prende a certo estímulo, fixando- se sobre ele. A vigilância é definida como o aspecto da atenção relacionado a mudança de foco, de um objeto para outro. Alterações: 1. Atenção: normal ou euprosexia; 2. Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada; 3. Hipoprosexia: diminuição global da atenção; 4. Aprosexia: abolição total da capacidade de atenção; 5. Hipertenacidade: atenção voltada, demasiadamente, a algum estímulo específico, com diminuição da atenção espontânea; 6. Hipotenacidade: atenção afastada com demasiada rapidez do estímulo específico, com diminuição da atenção voluntária. Obs.: as alterações na atenção são inespecíficas, podem ocorrer na maioria dos transtornos mentais. Orientação Pode-se definir orientação como um complexo de funções psíquicas pelo qual tomamos consciência da situação real em que nos encontramos. A orientação pode ser inferida da avaliação do estado de consciência e está intimamente ligada às noções de tempo e espaço.Em geral, o primeiro sentido de orientação perdido é o do tempo; depois, o do espaço, que envolve deslocamento e localização e, em um estado mais grave, a “desorientação do próprio eu” (identidade e corpo). A capacidade de orientar-se requer, de forma consistente, a integração das capacidades de nível de consciência preservado, atenção, percepção e memória. Alterações de atenção e retenção (memória imediata e recente), moderadas ou graves, costumam resultar em alterações globais da orientação. Além disso, a orientação é excepcionalmente vulnerável aos efeitos da disfunção ou do dano cerebral. A desorientação é um dos sintomas mentais mais frequentes e sensíveis das doenças cerebrais. Apesar disso, cabe lembrar que a orientação preservada não significa necessariamente que o sujeito não apresente qualquer alteração cognitiva ou atencional. Orientação: 1. Autopsíquica: o paciente reconhece dados de identificação pessoal e sabe quem é; Questionar o paciente: Quem é você? Qual o seu nome? O que faz? Qual a sua profissão? Quem são seus pais? Qual a sua idade (verificar a idade real do paciente)? Qual o seu estado civil? 2. Alopsíquica: o paciente reconhece os dados do ambiente: a) Temporal: dia, mês e ano em que está; em que parte do dia se localiza (manhã, tarde e noite); Letícia Nano – Medicina Unimes A orientação temporal necessita de uma adequada percepção do tempo e da sequência de intervalos temporais, de sua correspondente representação mental e do processamento mental da temporalidade. O examinador pode perguntar: há quanto tempo o senhor está neste local? Há quanto tempo trabalhou (ou se alimentou) pela última vez? Faz quanto tempo que o senhor não me vê? b) Espacial: em que lugar se encontra e para que está lá; a cidade onde está; como chegou ao consultório. Por orientação espacial entende-se vários subtipos de orientação: quanto ao local onde o sujeito está no momento (o local específico, o tipo de edifício, distância entre onde está e sua casa, etc.), orientação topográfica (ter a noção do arranjo e da organização de seu quarto, de sua casa, saber se localizar em seu bairro, sua cidade), orientação geográfica (saber onde fica sua cidade, seu país, saber localizar-se em relação a mapas), julgamento de distância (quão longe é o hospital de sua casa, sua cidade de outras cidades conhecidas, etc.) e capacidades de navegação (conseguir seguir caminhos e rotas previamente conhecidos ou com pistas suficientes) A orientação espacial é investigada perguntando-se ao paciente o lugar exato onde ele se encontra, a instituição em que está, o andar do prédio, o bairro, a cidade, o estado e o país. Sensopercepção Define-se sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Os estímulos sensoriais fornecem a alimentação sensorial aos sistemas de informação do organismo. As diferentes formas de sensação são geradas por estímulos sensoriais específicos, como visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos, proprioceptivos e cinestésicos. Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Arbitrariamente, então,se atribui à sensação a dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz respeito à dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes. A sensação é considerada, portanto, um fenômeno passivo; estímulos físicos (luz, som, pressão) ou químicos atuam sobre sistemas de recepção do organismo. Já a percepção seria fenômeno ativo; o sistema nervoso e a mente do sujeito constroem um percepto por meio da síntese dos estímulos sensoriais, confrontados com experiências passadas registradas na memória e com o contexto sociocultural em que vive o indivíduo e que atribui significado às experiências. Tal percepto, ou seja, a percepção final, é, dessa forma, apreendido pelo sujeito consciente. Podem acontecer alterações quantitativas e qualitativas. Quantitativas 1. Hiperestesia: a) Intoxicação por alucinógenos, epilepsia; b) Aumento das formas de sensibilidade. 2. Hipoestesia: a) Quadros depressivos; b) Diminuição das formas de sensibilidade. 3. Anestesia: abolição de todas as formas de sensibilidade. * Parestesias são sensações táteis desagradáveis (embora não sentidas propriamente como dor), em geral espontâneas, descritas pelos pacientes como “formigamentos, adormecimentos, picadas, agulhadas ou queimação” mais ou menos intensas. **As disestesias táteis são sensações anômalas, em geral dolorosas, desencadeadas por estímulos externos; assim, ao estimular a pele do paciente com calor, este refere sensação de frio, e, após um leve roçar sobre a pele, refere dor (aqui, a disestesia assemelha-se à hiperpatia). As parestesias diferem das disestesias pelo fato de aquelas ocorrerem de forma espontânea, e estas serem desencadeadas por estímulos externos. Letícia Nano – Medicina Unimes Qualitativas 1. Ilusão: é a percepção deformada da realidade, de um objeto real e presente, uma interpretação errônea do que existe. Pode acontecer em rebaixamento do nível de consciência ou esgotamento afetivo e fadiga grave; As ilusões são encontradas, com maior frequência, nos quadros de delirium, em que há rebaixamento do nível de consciência e consequente distorção do processo perceptivo. Há, nessa síndrome, uma perturbação da capacidade de perceber com clareza, ficando o indivíduo mais suscetível a experimentar as ilusões dos sentidos. Por exemplo, um crucifixo na parede parece um morcego pronto para atacar o paciente, ou uma roupa pendurada no cabide parece uma pessoa ou um monstro que irá atacá-lo. 2. Alucinação: é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado; portanto, será real para ela. As alucinações podem ser auditivas (dentre elas, podem ocorrer sonorização do pensamento, quando o paciente ouve os próprios pensamentos, e publicação do pensamento, quando o paciente sente que as pessoas escutam o que ele pensa), auditivo-verbais (mais comuns), visuais, olfativas, gustativas, cenestésicas (corpórea – “cabeça encolhendo”), cinestésicas (movimento – “corpo voando”) e sinestésicas (envolvem mais de um sentido). Também existem as alucinações hipnagógicas (ao adormecer) e hipnopômpicas (ao despertar); 3. Pseudoalucinação: não apresenta os aspectos vivos e corpóreos da alucinação e é menos nítida. Ocorre em casos de psicoses orgânicas, intoxicações ou estados afetivos intensos; Na pseudoalucinação, a voz (ou imagem visual) percebida é pouco nítida, de contornos imprecisos, sem vida e sem corporeidade. A vivência é projetada no espaço interno; são “vozes que tipicamente vêm de dentro da cabeça, do interior do corpo”. O paciente relata que “parece uma voz (ou, no caso visual, uma imagem) ...” ou que “... é como se fosse uma voz (ou imagem), mas não é bem uma voz, confunde-se com um pensamento muito marcante”. 4. Alucinose: é um quadro alucinatório sem perda da consciência da realidade; o paciente percebe a alucinação como estranha à sua pessoa. Acontece em casos de alcoolismo; 5. Despersonalização: o paciente tem a sensação de que seu corpo não lhe pertence; 6. Desrealização: o ambiente ao redor parece estranho e irreal. Obs.: O elemento básico do processo de sensopercepção é a imagem perceptiva real, ou simplesmente “imagem”. A imagem sensoperceptiva se caracteriza pelas seguintes qualidades: 1- Nitidez (a imagem é nítida, seus contornos são precisos); corporeidade (a imagem é viva, corpórea, tem luz, brilho e cores vivas); 2- Estabilidade (a imagem percebida é estável; enquanto estiver presente o objeto estimulador, a imagem não muda de um momento para outro); 3- Extrojeção (a imagem, provinda do espaço exterior, também é percebida nesse espaço); 4- Ininfluenciabilidade voluntária (o indivíduo não consegue alterar voluntariamente a imagem percebida); 5- Completude (a imagem apresenta desenho completo e determinado, com todos os detalhes diante do observador). Obs.: diferenciar uma imagem perceptiva real de uma representação é importante. Representação é, portanto, a reapresentação de uma imagem na consciência, sem a presença real, externa, do objeto que, em um primeiro momento, gerou uma imagem sensorial. A representação (imagem representativa ou mnêmica) se caracteriza por: 1- Pouca nitidez (os contornos, geralmente, são borrados); 2- Pouca corporeidade (a representação não tem a vida de uma imagem real); instabilidade (a representação aparece e desaparece facilmente do campo de consciência); 3- Introjeção (a representação é percebida no espaço interno); 4- Incompletude (a representação demonstra um desenho indeterminado, apresentando-se geralmente incompleta e apenas com alguns detalhes). X Ilusão Representação Alucinação verdadeira Definição Interpretação errônea da realidade Reapresentação de uma imagem na consciência Percepção real de um objeto inexistente (sem estímulo externo) Percepção Deformada da realidade Irreal Clara e real Objeto Existente e presente Inexistente Inexistente Imagem Variável Pouca nitidez, introjeção, incompletude... Nítida, estável, completude... Letícia Nano – Medicina Unimes Um paciente sob alucinação consegue descrever os detalhes do que está ouvindo, vendo etc. importante para diferenciar indivíduos que fingem alucinações (em ações criminais, por exemplo). A imaginação é uma atividade psíquica, geralmente voluntária, que consiste na evocação de imagens percebidas no passado (imagem mnêmica) ou na criação de novas imagens (imagem criada). A imaginação, ou processo de produção de imagens, geralmente ocorre na ausência de estímulos sensoriais. A fantasia, ou fantasma, é uma forma de imaginação, uma produção imaginativa, produto minimamente organizado do processo imaginativo. No sentido psicanalítico, a fantasia pode ser consciente ou inconsciente. Ela se origina de desejos, temores e conflitos tanto conscientes como inconscientes. A produção de fantasias é muito frequente e intensa em crianças e tem uma importante função psicológica: ajudar o indivíduo a lidar com as frustrações, com o desconhecido e, de modo geral, com seus conflitos. Muitas pessoas encontram grande prazer em suas atividades fantasmáticas, e os profissionais da criatividade (artistas, inventores, poetas, etc.) dependem basicamente de sua capacidade de produzir, desenvolver e elaborar fantasias. Memória Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos passados. Primeiro, a memória não é um processo unitário. Ela écomposta de múltiplos elementos, que podem ser organizados e expostos de distintas formas e exigem redes e estruturas cerebrais diferentes. Segundo, a memória não é um processo passivo e fidedigno de fixação de elementos e de evocação exata e realista do que foi arquivado. Nesse sentido, ela é muito mais um processo ativo, no qual vários elementos do indivíduo participam da codificação e da evocação, como elementos sensoriais, imaginativos, semânticos e afetivos. A memória é frequentemente reeditada, ou seja, as informações de eventos, cenas e acontecimentos do passado, que já foram armazenadas, podem ser reconfiguradas com acréscimos de elementos novos (vividos ou imaginados pelo próprio indivíduo ou instigados por estímulos externos, conscientes ou não). Assim, há um processo de recriação e reinterpretação no arquivo de longo prazo de nossas memórias. Elas frequentemente não são “o filme realista do que aconteceu”, mas “reedições criativas” de vários “diretores” que influem no conteúdo do arquivo de memórias. Há quatro dimensões principais do seu funcionamento: 1. Percepção: modo como o sujeito percebe os fatos e atitudes em seu cotidiano e reconhece-os psiquicamente; 2. Fixação: capacidade de gravar imagens na memória; 3. Conservação: tudo o que o sujeito guarda para o resto da vida (a memória aparece como um todo e é um processo tipicamente afetivo); 4. Evocação: atualização dos dados fixados (nem tudo pode ser evocado). Ou 1- Codificação: captar, adquirir e codificar informações. 2- Armazenamento: reter as informações de modo fidedigno. 3- Recuperação ou evocação: também denominada de lembranças ou recordações; é fase em que as informações são recuperadas para distintos fins. A memória pode ser também classificada pelo tipo de estruturas cerebral utilizada. Esses quatro tipos são afetados de forma diferente nas doenças e condições que diminuem ou destroem a memória (p. ex., demências). São eles: Memória de trabalho A memória de trabalho situa-se entre os processos e habilidades da atenção e os da memória imediata. São exemplos de memória de trabalho ouvir um número telefônico e retê-lo na mente para, em seguida, discá-lo, assim como, ao dirigir em uma cidade desconhecida, perguntar sobre um endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, executar o itinerário de forma progressiva. De modo geral, todas as condições que afetam as regiões pré-frontais causam alteração da memória de trabalho. Elas ocorrem em distintas condições clínicas, mas sobretudo nas demências, como: demência frontotemporal (DFT), sobretudo na variante frontal da DFT, demência de Alzheimer (sobretudo na variante frontal desta demência), demências vasculares e demência com corpos de Lewy. Letícia Nano – Medicina Unimes Memória episódica Trata-se de memória explícita, de médio e longo prazos, relacionada a eventos específicos da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em determinado contexto. Relatar o que foi feito no último fim de semana é um típico exemplo de memória episódica. Ela corresponde a eventos específicos e concretos, comumente autobiográficos, bem circunscritos em determinado momento e local. Refere-se, assim, à recordação consciente de fatos reais. ->Nesse sentido, a perda de memória episódica obedece à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos recentemente adquiridos e, depois, os mais antigos). As perdas de memória episódica ocorrem principalmente nos transtornos neurocognitivos, sobretudo na demência de Alzheimer. Nesses casos, os déficits de memória instalam-se de forma lenta e progressiva. Também nos transtornos neurocognitivos especificamente associados à memória, como na síndrome de Wernicke-Korsakoff, ocorre prejuízo marcante da memória episódica. Memória semântica Esse tipo de memória se refere ao aprendizado, à conservação e à utilização do arquivo geral de conceitos e conhecimentos do indivíduo (os chamados conhecimentos gerais sobre o mundo). Assim, conhecimentos como a cor do céu (azul) ou de um papagaio (verde), ou quantos dias há na semana (sete), são de caráter geral e se cristalizam por meio da linguagem, ou seja, também são de caráter semântico. Ela é, enfim, a representação de longo prazo dos conhecimentos que temos sobre o mundo, entre eles o significado das palavras, dos objetos e das ações. Na demência de Alzheimer, há alterações pronunciadas da memória semântica. Isso ocorre devido à deterioração das regiões mediais e ventrais dos lobos temporais e de regiões temporoparietais do hemisfério esquerdo. Na DFT, na variante que afeta mais os lobos temporais (variante semântica da DFT), ocorre significativa perda da memória semântica, o que leva a dificuldades nas tarefas de nomeação e compreensão de palavras isoladas, além de empobrecimento dos conhecimentos gerais (condição descrita por alguns autores como demência semântica Memória de procedimentos Trata-se de um tipo de memória automática, não consciente. Exemplos desse tipo de memória são habilidades motoras e perceptuais mais ou menos complexas (andar de bicicleta, digitar no computador, tocar um instrumento musical, bordar, etc.), habilidades visuoespaciais (como a capacidade de aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e habilidades automáticas relacionadas ao aprendizado de línguas (regras gramaticais incorporadas na fala automaticamente, decorar a conjugação de verbos de uma língua estrangeira, etc.). A doença de Parkinson (assim como a síndrome de Parkinson por causas vasculares, tumorais, etc.) é a condição mais frequente em que se observa perda da memória de procedimentos. Outras doenças que comprometem a memória de procedimentos são doença de Huntington, paralisia supranuclear progressiva e degeneração olivopontocerebelar. Também tumores, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), hemorragias, degenerações e outras lesões nos núcleos da base ou no cerebelo (degeneração cerebelar) podem prejudicar a memória de procedimentos. A função mnésica pode ser avaliada pela rapidez, precisão e cronologia das informações oferecidas pelo próprio paciente, assim como a observação da capacidade de fixação. A memória pode ser imediata, de curto ou de longo prazo. Podem existir as alterações quantitativas: hipermnésia (aceleração psíquica) e hipomnésias ou amnésias. As últimas podem ser anterógradas (o paciente não consegue fixar memória a partir do evento que causou o dano cerebral) ou retrógradas (perda da memória para fatos ocorridos antes do trauma). Podem, também, ocorrer amnésias lacunares, ou seletivas. O exame da memória passada (retrógrada) é feito com perguntas sobre o passado do paciente e data de acontecimentos importantes. Contradições nas informações podem indicar dificuldades. Com relação à memória recente (anterógrada), podem ser feitas perguntas rápidas e objetivas, como “O que você fez hoje?”, ou dizer um número de quatro ou cinco algarismos ou uma série de objetos e pedir para que o paciente os repita após alguns minutos. Para o exame da memória de retenção, pode-se pedir a ele que repita algarismos na ordem direta e depois inversa. A maior parte das alterações da memória provém de síndromes orgânicas (amnésia, hipermnésia ou hipomnésia). As alterações qualitativas, ou paramnésias, são lembranças deformadas, que não correspondem à sensopercepção original. Alterações qualitativas da memória: Letícia Nano – Medicina Unimes 1. Ilusões mnêmicas: acréscimos de elementos falsos a um núcleo verdadeiro; 2. Alucinações mnêmicas: criações imaginativas; 3. Confabulações: fantasias que preenchem vazios de memória (podem ocorrer na síndromede Korsakoff). Obs.: diferenciar alteração de memória com alteração de reconhecimento As alterações do reconhecimento dividem-se em dois grandes grupos: as diferentes formas de agnosias, de origem essencialmente cerebral, e as alterações de reconhecimento psicopatológicas, mais frequentemente associadas aos transtornos mentais, sem base orgânica definida. Agnosias As agnosias são fenômenos relativamente raros, definidos como déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais de objetos e fenômenos, que não podem ser explicados por um déficit sensorial elementar, por distúrbios da linguagem e da atenção ou por perdas cognitivas globais. As agnosias são sempre de modalidades sensoriais específicas, nas quais o indivíduo perde a capacidade de reconhecimento (de objetos, faces, sons, etc.) por determinada via sensorial (visão, audição ou tato), mas pode reconhecer os objetos por outra via sensorial. As agnosias mais importantes são as visuais e as auditivas. ->> alterações de reconhecimento não delirantes Os fenômenos apresentados a seguir não são, de modo geral, associados a psicose e podem estar presentes em condições neurológicas, psicopatológicas e em indivíduos sadios. Fenômenos do já visto (mais raramente do já ouvido, já vivido; do francês déjà-vu, déjà entendu, déjà vécu) São também chamados de fenômenos déjà. O indivíduo tem a nítida impressão de que o que está vendo, ouvindo ou vivenciando no momento já foi visto, já foi experimentado no passado. As experiências do tipo déjà (já visto, já ouvido, já vivido) são mais frequentes em quadros de epilepsia, sobretudo do lobo temporal, nas crises parciais simples. Tem sido proposto que disfunções nos lobos temporais, sobretudo nas áreas para-hipocampais, estariam relacionadas à base orgânica desses fenômenos. Em pessoas sadias, os fenômenos déjà são também observados, não estando claro seu significado neuropsicológico Além disso, são observados em pessoas sadias em estado de fadiga importante ou em estados de ansiedade. Fenômenos do jamais visto. Mais raramente, descrevem-se os fenômenos do jamais visto (jamais-vu), assim como os do jamais ouvido e jamais vivido. Eles ocorrem quando o paciente, apesar de já ter passado por determinada experiência, tem a forte sensação de que nunca a viu, ouviu, pensou ou viveu. Seu significado ainda não é claro. O QUE SIGNIFICA TER ALTERAÇÃO DE MEMÓRIA Transitória: por um acidente craniano, intoxicação, crise epiléptica, estados emocionais, estados depressivos Permanente: lesão, demência, deficiência intelectual Afetividade A afetividade compreende o estado de ânimo ou de humor, os sentimentos, as emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. É ela que determina a atitude geral do indivíduo diante de qualquer experiência vivencial, promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível, confere disposição indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre dois polos: depressão e euforia. Há cinco tipos básicos de vivências afetivas: 1- Humor ou estado de ânimo: é definido como o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica, a lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma cor particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes, modificando a natureza e o sentido das experiências vivenciadas. 2- Emoções: podem ser definidas como reações afetivas momentâneas, agudas, desencadeadas por estímulos significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como reação do indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes, não conscientes ou inconscientes. Letícia Nano – Medicina Unimes 3- Sentimentos: são estados e configurações afetivas estáveis; em relação às emoções, são mais atenuados em sua intensidade e menos reativos a estímulos passageiros. Os sentimentos estão comumente associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e, em geral, não implicam concomitantes somáticos. Constituem fenômeno muito mais mental do que somático. Ex: melancolia, saudade, tristeza, raiva 4- Afetos: Define-se como a qualidade e o tônus emocional que acompanham uma ideia ou representação mental. É a expressão do sentimento 5- Paixões: é um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os demais interesses. Nessa linha, a paixão intensa impede o exercício de uma lógica imparcial. A afetividade divide-se, basicamente, em: Algumas alterações de humor são: Distmia: a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição como no sentido da exaltação. a) Hipertimia: euforia; b) Hipotimia: depressão; c) Disforia: irritabilidade, mau humor. Apatia: É a diminuição da excitabilidade emocional. Os pacientes queixam-se de não poder sentir nem alegria, nem tristeza, nem raiva, nem nada... Na apatia emocional, em alguns indivíduos acometidos, apesar de saberem da importância afetiva que determinada experiência deveria ter para eles, não conseguem sentir nada, não reagem afetivamente. O paciente torna-se hiporreativo; é um “tanto faz quanto tanto fez” para tudo na vida. Alterações afetivas: 1. Labilidade afetiva: estado especial em que se produz a mudança rápida e imotivada do humor, sempre acompanhada de extraordinária intensidade afetiva; abrupta, rápida e inesperada de um estado afetivo para outro. O paciente está falando de algo ameno e começa a chorar, passando, logo a seguir, a sorrir de forma tranquila, e daí a pouco volta a chorar. 2. Ambivalência afetiva: acentuações afetivas opostas e, basicamente, simultâneas nos indivíduos; 3. Embotamento afetivo: perda de todo tipo de vivência afetiva; ausência dos nexos afetivos; 4. Anedonia: incapacidade de sentir prazer com determinadas atividades da vida antes prazerosas; muito comum nas depressões; 5. Hipomodulação: inadequação ou distanciamento afetivo. Pensamento Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por ele que se elaboram conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara-se, solucionam-se problemas, elaboram-se conhecimentos adquiridos e ideias, transforma-se e cria-se. O curso do pensamento é o modo como o pensamento flui, sua velocidade e seu ritmo ao longo do tempo. Já a forma do pensamento é sua estrutura básica, sua arquitetura, preenchida pelos mais diversos conteúdos e interesses do indivíduo. Por sua vez, o conteúdo do pensamento pode ser definido como aquilo que lhe dá substância, seus temas predominantes, o assunto em si. Há tantos conteúdos de pensamento quantos são os temas de interesse do ser humano. Curso Trata-se da velocidade com que o pensamento é expresso e pode ir do acelerado ao lentificado. Aceleração do pensamento: O pensamento flui de forma muito acelerada, com uma ideia se sucedendo à outra rapidamente, podendo até ser difícil acompanhar o ritmo do indivíduo. Pode ocorrer nos quadros de mania, em alguns pacientes com esquizofrenia, eventualmente nos estados de ansiedade intensa, nas psicoses tóxicas (sobretudo por anfetamina e cocaína) e na depressão ansiosa. Letícia Nano – Medicina Unimes Lentificação do pensamento: Nesse caso, o pensamento progride lentamente, de forma lenta e dificultosa. Há certa latência entre as perguntasformuladas e as respostas. Ocorre principalmente em pacientes gravemente deprimidos, em alguns casos de rebaixamento do nível de consciência, em certas intoxicações (por substâncias sedativas) e em quadros psico-orgânicos que afetam estruturas subcorticais. Bloqueio ou interceptação do pensamento: Verifica-se o bloqueio do pensamento quando o indivíduo, ao relatar algo, nomeio de uma conversa, brusca e repentinamente interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo aparente. O paciente pode relatar que, sem saber por que, “o pensamento para”, é bloqueado. Trata-se de alteração quase exclusiva da esquizofrenia. Roubo do pensamento: É uma vivência, frequentemente associada ao bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente estranho, por uma máquina, uma antena, etc. O roubo do pensamento é um tipo de vivência de influência Trata-se de uma alteração característica da esquizofrenia. Forma Alterações de forma de pensamentos: 1. Fuga de ideias: pessoas afetadas mudam de assunto a todo instante, sem concluí-los ou dar continuidade, em uma aceleração do fluxo do pensamento; é a forma extrema do taquipsiquismo (comum na mania); (pode ser alteração do curso ou forma) 2. Afrouxamento das associações: Nesse caso, embora ainda haja concatenação lógica entre as ideias, nota-se já o afrouxamento dos enlaces associativos. As associações parecem mais livres, não tão bem articuladas. Manifesta-se nas fases iniciais da esquizofrenia e em TPs (sobretudo TP esquizotípica). 3. Descarrilhamento do pensamento: O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, desvios, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente está associado a marcante distraibilidade. O descarrilhamento é observado na esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos maníacos. 4. Dissociação e incoerência do pensamento: É a designação para o tipo de desorganização do pensamento, perda ou afrouxamento das relações associativas de importância central na esquizofrenia. Em geral, quando o afrouxamento das associações se acentua, os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma sequência lógica e bem organizada, e os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros. De início, a incoerência pode ser discreta, ainda sendo possível captar aquilo que o indivíduo quer comunicar. Com o agravamento do processo patológico, o pensamento pode tornar-se totalmente incoerente e incompreensível. 5. Desagregação do pensamento: Nesse caso, há profunda e radical perda dos enlaces associativos, total perda da coerência do pensamento. Sobram apenas “pedaços” de pensamentos, conceitos e ideia fragmentados, muitas vezes irreconhecíveis, sem qualquer articulação racional, sem que sejam detectadas uma linha diretriz e uma finalidade no ato de pensar. Trata-se de alteração típica de formas avançadas de esquizofrenia e de quadros demenciais. 6. Prolixidade: é um discurso detalhista, cheio de rodeios e repetições, com certa circunstancialidade; há introdução de temas e comentários não pertinentes ao que se está falando; O paciente dá longas voltas ao redor do tema e mescla, de forma imprecisa, o essencial com o supérfluo. Há dificuldade em obter construção direta, clara e acabada, além de notável falta de capacidade de síntese. 7. Arborização: há perda da direcionalidade, sem conclusão do raciocínio (comum nos episódios maníacos); 8. Circunstancialidade: o paciente dá voltas em torno do tema sem conseguir atingi-lo (comum em casos de transtorno obsessivo-compulsivo); 9. Descarrilamento: há mudança súbita do que se está falando; 10. Perseveração: há repetição dos mesmos conteúdos de pensamento (comum nas demências). Conteúdo As perturbações no conteúdo do pensamento estão associadas a determinadas alterações, como as obsessões, as fobias e, especialmente, os delírios. O conteúdo pode ser: persecutórios depreciativos, de ataque à autoestima de poder, riqueza, grandeza ou missão religiosos, místicos, mágicos eróticos, sexuais, de ciúmes de culpa, conteúdos hipocondríacos. A importância desses conteúdos tem a ver com a constituição social e histórica do indivíduo, com o universo cultural no qual ele se insere, assim como com a estrutura psicológica e neuropsicológica do homem. Obs.: os delírios podem ser classificados como alterações do conteúdo do pensamento, ou alterações do juízo da realidade (Dalgalarrondo). Para classificar uma ideia como delirante, deve-se considerar alguns aspectos: a incorrigibilidade (não há como modificar a ideia delirante por meio de correções), a influencibilidade (a vivência é muito intensa; chega a ser mais fácil o delirante influenciar a pessoa dita normal) e a incompreensibilidade (não pode ser explicada logicamente). O delírio é uma convicção íntima e irremovível, contra a qual não há argumento. Letícia Nano – Medicina Unimes Delírio Entretanto, cabe assinalar que não é tanto a falsidade do conteúdo que faz um juízo, uma crença, ser um delírio (embora quase sempre a crença delirante seja falsa), mas sobretudo a justificativa para a crença que o delirante apresenta, o tipo de evidência que lhe assegura que as coisas são assim. O modo como ela construiu seu ajuizamento e como mantém a crença são patológicos, determinados por fatores mórbidos. Entretanto, cabe reforçar: na maioria dos casos, o delírio é, de fato, um juízo falso. Ou seja, o teor do conteúdo de um pensamento não é um objeto fiel de estudo, e sim como o paciente chegou àquele raciocínio. Ex: pacientes que relatam uma tentativa prévia de assassinato e perseguição contra ele. Pelo conteúdo, não há como obter conclusões sobre distúrbios ou alterações psicopatológicas acerca do paciente. No entanto, se o paciente disse que chegou naquela conclusão pois todos no restaurante olhavam para ele e porque as “vozes” o contaram, deve-se investigar esse paciente. O indivíduo que apresenta o delírio tem convicção extraordinária, uma certeza subjetiva praticamente absoluta Sua crença é total; a seu ver, não se pode colocar em dúvida a veracidade de seu juízo delirante. É impossível a modificação do delírio pela experiência objetiva, por provas explícitas da realidade, por argumentos lógicos, plausíveis e convincentes. Assim, diz-se que o delírio é irremovível, irrefutável, incorrigível; mesmo pela prova de realidade mais cabal, ele não pode ser influenciado externamente por pessoas que queiram demover o delirante de suas crenças O delírio é, quase sempre, um juízo falso; seu conteúdo é impossível. O delírio é uma produção associal, idiossincrática em relação ao grupo cultural do paciente. Geralmente se trata de uma convicção de uma só pessoa. O delírio, no mais das vezes, não é nem produzido, nem compartilhado ou sancionado por um grupo religioso, político ou de outra natureza. Pelo contrário, ao delirar, o indivíduo se desgarra de sua trama social, do universo cultural no qual se formou, e passa, mesmo contra esse grupo cultural, a produzir suas crenças individuais. As alucinações podem ter relação com os delírios. Chamados de “delírios alucinatórios”, quando o delírio se manifesta depois do surgimento das alucinações quando, por exemplo, o paciente começa a “acreditar nas vozes”. Consciência do eu Este item refere-se ao fato de o indivíduo ter a consciência dos próprios atos psíquicos, a percepção do seu eu, como o sujeito apreende a sua personalidade. São características formais do eu: 1. Sentimento de unidade: “Eu sou uno no momento”; 2. Sentimento de atividade: consciência da própria ação; 3. Consciência da identidade: “Sempre sou o mesmo ao longo do tempo”; 4. Cisão sujeito-objeto: consciênciado eu em oposição ao exterior e aos outros. Alteração de unidade: paciente relata que sente que seu corpo está sendo habitado por ele e mais um ser, como o diabo; O indivíduo sente-se profundamente dividido, sente-se “anjo e demônio ao mesmo tempo”, ou “homem e mulher simultaneamente”. Tais vivências ocorrem, sobretudo, nas psicoses agudas. Alterações de identidade: alguns pacientes relatam que, atualmente, em comparação a sua vida anterior (em especial “antes do início da psicose”), o Eu não é a mesma pessoa. Diz um paciente: “...ao descrever a minha história, tenho a nítida consciência de Letícia Nano – Medicina Unimes que apenas uma parte do meu Eu atual vivenciou tudo isso que aconteceu no passado” ou “O Eu de então me parece um anão dentro de mim”. Alguns pacientes com psicose chegam a usar a terceira pessoa para se referirem ao seu Eu do passado. Alteração cisão sujeito-objeto/ sujeito-mundo: é a perda da sensação de fronteira e oposição entre o Eu e o mundo. Os pacientes identificam-se completamente com os objetos (pessoas, animais, máquinas) do mundo externo. O indivíduo sente que seu Eu se expande para o mundo exterior e dele não mais se diferencia. Em alguns pacientes psicóticos, pode ocorrer a vivência de sentir-se transformado em um robô, em outra pessoa ou em um animal, denominada transitivismo (ver também adiante em “Alterações do self”). Alteração da atividade do eu: Essa alteração psicopatológica consiste na suspensão da sensação normal de existência do próprio Eu, corporal e psíquico. O indivíduo perde ou tem diminuída sua consciência do ser ele próprio, percebe um distanciamento do mundo perceptivo e perde mesmo a consciência do sentimento do Eu. É a condição na qual o ser humano existindo já não pode mais sentir sua existência. Alguns pacientes psicóticos (e, eventualmente, alguns com depressão muito grave) relatam que se sentem modificados, estranhos a si mesmos: “Sou apenas uma máquina, um autômato, um robô” ou “Sinto-me como um nada, como um morto”. * A despersonalização é vivência geralmente muito perturbadora, pois a experiência de perda ou transformação do Eu costuma assustar e inquietar o paciente marcadamente. O indivíduo sente-se estranho consigo mesmo, vive marcante transformação, na qual seu Eu familiar e cotidiano, inclusive seu próprio corpo, são vivenciados como algo estranho, diferente, bizarro. Isso ocorre, em geral, com sentimentos angustiantes e profunda perplexidade. Há frequentemente a sensação de que se está perdendo o controle ou mesmo enlouquecendo. ** Comumente associada à despersonalização, pode ocorrer a desrealização, que é a transformação e a perda da relação de familiaridade com o mundo comum, familiar. O indivíduo passa a estranhar muitas das coisas que sempre lhe foram familiares, bem conhecidas, como sua própria casa, seus móveis, suas roupas, os lugares que frequenta. Linguagem A dimensão fônica (estudada pela disciplina fonologia) se refere aos fonemas, as unidades fonológicas mínimas, distintivas, de cada língua. A fonologia estuda, por exemplo, como os fonemas se organizam nas diferentes sílabas e como operam os traços mínimos que definem os diferentes fonemas. A dimensão semântica diz respeito à significação dos vocábulos, das palavras, utilizadas em determinada língua. Já a dimensão sintática implica a relação e a articulação lógica das diversas palavras entre si; Por sua vez, a dimensão da prosódia, a entonação da fala, essencial na transmissão e reconhecimento das emoções, utiliza a intensidade dos sons (forte ou fraca), sua frequência (aguda ou grave) e a duração de cada som para compor uma espécie de música da fala, fundamental ao sentido e poder da comunicação verbal. Por fim, a dimensão da linguagem conhecida como pragmática se refere ao emprego da linguagem em situações sociais concretas, os contextos, circunstâncias, implicações e repercussões da linguagem quando utilizada concretamente pelos seres humanos em suas vidas sociais. A linguagem é considerada um processo mental predominantemente consciente, significativo, além de ser orientada para o social. É um processo dinâmico que se inicia na percepção e termina na palavra falada ou escrita e, por isso, se modifica constantemente. As alterações mais comuns são disartrias (má articulação de palavras), afasias (perturbações por danos cerebrais que implicam dificuldade ou incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais), verbigeração (repetição incessante de palavras ou frases), parafasia (emprego inapropriado de palavras com sentidos parecidos), neologismo (criação de palavras novas), jargonofasia (“salada de palavras”), mussitação (voz murmurada em tom baixo), logorreia (fluxo incessante e incoercível de palavras) e pararrespostas (responde a uma indagação com algo sem relação alguma com o que foi perguntado). Letícia Nano – Medicina Unimes Vontade/volição A vontade, ou ato volitivo, é a capacidade de exercitar-se livremente, deliberar, escolher e realizar atos voluntários. A atividade voluntária normal compõe-se das seguintes fases: 1. desejo: etapa afetiva 2. intenção (propósito): etapa afetivo-cognitiva 3. deliberação (apreciação e opção) 4. execução: etapa psicomotora - pragmatismo O indivíduo pode apresentar-se normobúlico (vontade normal), ter a vontade rebaixada (hipobulia), uma exaltação patológica (hiperbulia), responder a solicitações repetidas e excessivas (obediência automática), concordar com tudo o que é dito, mesmo que sejam juízos contraditórios (sugestionabilidade patológica), realizar atos contra a sua vontade (compulsão), duvidar exageradamente do que quer (dúvida patológica), opor-se de forma passiva ou ativa às solicitações (negativismo), repetir de forma automática as palavras ou ações do entrevistador (ecolalia e ecopraxia). Os atos impulsivos apresentam as seguintes características: São realizados sem fase prévia de deliberação e decisão. São realizados, de modo geral, de forma egossintônica, ou seja, o indivíduo não percebe tal ato como inadequado, não tenta evitá-lo ou adiá-lo. O ato impulsivo frequentemente não é contrário aos valores morais e, sobretudo, aos desejos de quem o pratica. São geralmente associados a impulsos patológicos, de natureza inconsciente, ou à incapacidade de tolerância à frustração e à necessária adaptação à realidade objetiva. Da mesma forma, o indivíduo dominado pelo ato impulsivo tende a desconsiderar os desejos e as necessidades das outras pessoas. Atos e os rituais compulsivos apresentam as seguintes características: Há a vivência frequente de desconforto subjetivo por parte do indivíduo que realiza o ato compulsivo. São egodistônicos, isto é, experienciados como indesejáveis, contrários aos valores morais e anseios do paciente. Há a tentativa de resistir (ou pelo menos adiar) à realização do ato compulsivo; há luta entre a compulsão e a vontade do indivíduo (no ato impulsivo não há essa luta). Há a sensação de alívio ao realizar o ato compulsivo, alívio que logo é substituído pelo retorno do desconforto subjetivo e pela urgência em realizá-lo novamente. Os atos ocorrem frequentemente associados a ideias obsessivas muito desagradáveis, representando, muitas vezes, tentativas de neutralizar tais pensamentos. Psicomotricidade Motricidade intimamente ligada ao funcionamento psíquico do indivíduo. As alterações da psicomotricidade frequentemente são a expressão final de alterações da volição. A motricidade pode estar aumentada (inquietação, agitação psicomotora) ou diminuída (estupor)A psicomotricidade pode estar normal, diminuída (hipocinesia),inibida (acinesia) ou exaltada (hipercinesia). O paciente pode apresentar maneirismos (movimentos bizarros e repetitivos), estereotipias posturais (repetições automáticas e uniformes), automatismos, flexibilidade cérea (tendência a manter-se na posição colocada pelo examinador), cataplexia (perda abrupta do tônus muscular), tiques motores e alterações na marcha. * catatonia: os sintomas de estupor em conjunto com uma série de outros sintomas, sobretudo psicomotores (catalepsia, flexibilidade cerácea, postura espontânea e ativa contrária à gravidade, mutismo, negativismo, maneirismo, estereotipias, agitação, caretas, ecolalia e ecopraxia). ** apraxias: impossibilidade ou dificuldade em realizar atos intencionais, gestos complexos, voluntários, conscientes, sem que haja paralisias, paresias ou ataxias e sem que faltem também o entendimento da solicitação para fazê-lo ou a decisão de fazê-lo. Inteligência A inteligência é o conjunto das habilidades cognitivas da pessoa, a resultante, o vetor final dos diferentes processos intelectivos. Tais habilidades permitem ao indivíduo identificar e resolver problemas novos, reconhecer adequadamente as situações cambiantes da vida e encontrar soluções, as mais satisfatórias possíveis para si e para o ambiente, respondendo às exigências de adaptação às demandas do dia a dia. O que se faz na avaliação da inteligência não é o que chamamos de “avaliação fina”, realizada Letícia Nano – Medicina Unimes por meio de testes; o objetivo é constatar se o paciente está dentro do considerado padrão de normalidade, conseguindo resolver os problemas básicos da vida. Devem-se considerar sempre o contexto sociocultural e a escolaridade do paciente. As deficiências de inteligência são os retardos mentais, em todos os seus níveis. Integração da compreensão de ideias complexas, planejamento, raciocínio, pensamento abstrato, aprendizagem rápida e a partir da experiência. • QI • domínio de conceitos • questão cultural • nível de escolaridade • Jargão • Capacidade de encontrar/criar soluções Exemplos práticos análise psicopatológica: Caso 1: HJ, 69 anos, levado ao médico com queixa de memória falha nos últimos meses. A esposa relata que ele esquece os nomes dos amigos e membros da família, se perde ao voltar do mercado e de modo geral não consegue lembrar novas informações. Relata que o comportamento de HJ está desorganizado (pôs o telefone celular no freezer e os sapatos na banheira) Ao exame, mostra-se alerta, sabe onde está, seu nome mas não se lembra do dia e ano atuais. O médico mostra-lhe um relógio, um lápis e uma cadeira, mas o paciente não sabe dizer o nome dos objetos Quais as alterações psicopatológicas descritas no texto? • Consciência: está normal, em bom estado de alerta. • Orientação auto e alo psíquica: A autopsíquica está preservada (sabe quem é ele), porém, a orientação alopsíquica está alterada quanto à orientação temporal, e preservada a orientação espacial e com a situação em que se encontra. • Atenção: não há descrição no texto para alguma alteração. • Memória: Dificuldade de lembrar informações novas, de lembrar nome de amigos (memória de fixação alterada e retrográda, também está prejudicada. Memoria executiva prejudicada pelo comportamento desorganizado em executar ações (põe o sapato na banheira, celular no freezer) • Linguagem: apresenta afasia nominativa (não sabe dar nome aos objetos mostrados). Não é possível dizer se há agnosia (reconhecimento de objetos pois não está descrito se o paciente sabe a função do objeto ou tem dificuldade apenas com o nome) • Pensamento - não há dados no texto Caso 2: LM, 64 anos, sexo masculino, internado no hospital . Fez uma cirurgia de revascularização miocárdica há 3 dias. Mostrava-se agitado, gritando que tinha homens desconhecidos em seu quarto. Quando o médico veio vê-lo, ele afirmava que na noite anterior, vira vários homens próximos à janela de seu quarto, mas que não falavam nada. Tem certeza que íam machucá-lo. Nunca teve episódio semelhante. No prontuário, as enfermeiras descreveram agitação noturna, torpor e desorientação para pessoa, lugar e data. Teve períodos em que ficou bem sem agitação. No dia seguinte, estava orientado. Quais são as alterações psicopatológicas? • Consciência: provável rebaixamento de consciência, há sinais de flutuação do quadro, com episódio único de agitação psicomotora, agudo após cirurgia, com sonolência e desorientação, déficit de atenção • Atenção: provável déficit de atenção global (torpor) • Orientação têmporo espacial e autosíquica prejudicadas (não sabia onde estava, quando e quem era) • Memória: Não há descrição suficiente no texto. • Pensamento: ideia deliróide/delirante (secundário ao estado de torpor) Acha que os desconhecidos iam matá-lo. Conteúdo persecutório, porém, focado na alucinação visual, isto não se expande para outros assuntos. • Sensopercepção: alucinações visuais? Ilusões? Se não tinha nenhum objeto, provavelmente foram alucinações (ver homens no quarto) • Afetividade Humor ansioso, assustado, gritos. • Psicomotricidade aumentada . Letícia Nano – Medicina Unimes Caso 3: HG, 27 anos, sexo masculino. Trazido ao pronto-socorro pelos amigos que moram com ele, pois relatam que HG fica acordado à noite limpando o apartamento, cantando e dançando há 3 semanas. Neste período, comprou um computador novo, apesar de estar endividado. O paciente mostra-se irritável e exaltado, distrai-se com facilidade com qualquer som ao seu redor. Usando uma camisa Laranja, calça vermelha e meias que não são pares. Recusa-se a sentar, sua fala é rápida e alta, sendo difícil interrompê-lo. Emenda um assunto no outro, sendo difícil seguir o seu pensamento. Diz que está ótimo, feliz e muito zangado com os amigos que lhe trouxeram para o hospital, pois não tem nada. Ouve vozes dizendo que ele é o máximo. Acha que está destinado a algo maravilhoso e que seus amigos o invejam porque tem muito sucesso com as mulheres. Os amigos confirmam que ele tem saído com várias mulheres, o que não é o seu padrão habitual. Sabe dizer seu endereço e seus dados pessoais. Não usou drogas ou álcool. Quais as alterações psicopatológicas deste paciente? • Consciência: provavelmente preservada, vigil. Atenção: provável aumento de atenção espontânea (voltada para o exterior) e déficit de concentração (distraibilidade). • Orientado quanto à pessoa e lugar. • Pensamento acelerado, com perda de direção do pensamento (logorreia e fuga de ideias?), conteúdo de grandeza. Alucinações auditivas. • Humor exaltado polarizado para euforia e lábil. Juízo crítico da realidade prejudicado. • Psicomotricidade aumentada (não para de andar na sala). Hiperbulia. Caso 4: TR, 22 anos, sexo masculino, trazido à emergência com a queixa de que “estão me fazendo olhar para o céu”. O paciente de que os anjos o forçam a olhar para o céu, e desde esta manhã não consegue olhar para baixo e ver o diabo no inferno. Não sabe explicar por que os “anjos o forçam. Sente uma força entrando na cabeça e direcionando seus pensamentos e ações para olhar para o céu. Acha que os anjos usam o seu corpo para protegê-lo do diabo. Às vezes sente o corpo queimando como se estivesse em um incêndio, sente cheiro de alguma coisa queimada. Tem medo que o diabo se apodere de seu corpo. Está cooperativo, mas só responde o que lhe perguntam e não demonstra emoção. Fica parado na olhando para cima e falando baixo. Repetiu as últimas palavras que o médico disse umas três vezes. Sabe onde está, seu endereço, a data atual. Quais as alterações psicopatológicas do paciente? • Consciência vigil,alteração da consciência do eu (sente-se invadido por forças externas e sem controle sobre seu corpo, pensamento e ações). • Atenção preservada, orientado no tempo e no espaço quanto à pessoa. • Não há descrição de alteração de memória. • Pensamento tangencial com ideias delirantes de cunho religioso e persecutório • Afeto com baixa expressividade (embotamento afetivo) • Psicomotricidade alterada (posição contínua de olhar para cima). • Linguagem com ecolalia. • Alucinações olfativas e tácteis? Juízo crítico da realidade prejudicado. Referências bibliográficas: Dalgalarrondo, P Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre,2000
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