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AT 1 DIREITOS HUMANOS E RESSOCIALIZAÇÃO 2 32 S U M Á R IO 2 3 UNIDADE 1 - Introdução 4 UNIDADE 2 - Direitos fundamentais 4 2.1 Os Direitos Fundamentais 4 2.2 Garantias fundamentais dos presos 9 2.3 Princípios aplicáveis 10 2.4 Responsabilidade do Estado em relação aos Detentos 11 2.5 As Consequências Jurídicas pela Afronta ao Princípio da Dignidade do Detento 16 UNIDADE 3 - Deveres dos presidiários 20 UNIDADE 4 - Restrição de direitos 22 UNIDADE 5 - Reabilitação moral 24 UNIDADE 6 - Prestações previdenciárias 27 UNIDADE 7 - Assistência pessoal 29 UNIDADE 8 - Cuidados sanitários 31 UNIDADE 9 - Reintegração / Reinserção / Ressocialização 34 9.1 Trabalho e renda 36 9.2 “Boas práticas” 37 9.3 Ética e moral 39 9.4 Valores e afetividade 41 9.5 Objetivos da ressocialização 44 REFERÊNCIAS 2 333 UNIDADE 1 - Introdução Grosso modo, os direitos do homem são os direitos naturais, intrínsecos ao ho- mem e reconhecidos em documentos in- ternacionais, já os direitos fundamentais têm a marca da positivação, isto é, é um direito reconhecido pelo sistema. Os direitos humanos além de funda- mentais são inatos, absolutos, inviolá- veis, intransferíveis, irrenunciáveis e im- prescritíveis, porque participam de um contexto histórico, perfeitamente delimi- tado. Sobre eles e outros direitos como reabi- litação moral, prestações previdenciárias, assistência pessoal, cuidados sanitários, bem como deveres e restrições de direito aos presos que trataremos neste módulo. Reintegração, reinserção e ressocia- lização utilizando trabalho, renda, ética, moral, valores, afetividade e boas práti- cas fecham a unidade. Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clás- sicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o cará- ter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se ou- tras que foram ora utilizadas, ora somen- te consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos es- tudos. 4 54 UNIDADE 2 - Direitos fundamentais 2.1 Os Direitos Fundamen- tais Um dos mais relevantes direitos do preso é o da preservação de sua dignida- de, cidadania e civilidade, uma vez que a prisão cerceia o exercício de muitos dos poderes da individualidade, em particular o da liberdade física. Com limitações inerentes à sua con- dição penal, outras idealizações do ser humano permanecem à sua disposição; muitas dessas garantias serão examina- das em particular nos capítulos seguintes. Excetuadas aquelas garantias próprias do privado das liberdades físicas, os presidi- ários gozam de todas as demais faculda- des humanas. Em seu art. 3º, a LEP diz: “Ao condenado e ao internado serão assegu- rados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”. Vimos em outro momento do curso que, em vez de condenado, o certo é ler “preso” ou “apenado”. Após consagrar “o respeito à integridade física e moral dos condena- dos e dos presos provisórios” (art. 40), a LEP enuncia 16 “direitos do preso” (LEP, art. 41, l a XVI). Entre esses benefícios do cidadão não está o de fugir. Aliás, a ten- tativa e a consumação da evasão, ao con- trário, constituem infrações disciplinares graves. No entendimento de Martinez (2010), como a sociedade evolui e materialmente logra alcançar alguns benefícios conquis- tados pela tecnologia, amanhã se discu- tirá quais são os limites dessas intenções dos presidiários. Com certeza, no início prevalecerá a ideia enraizada na mente dos povos de que eles não fazem jus aos supérfluos. 2.2 Garantias fundamen- tais dos presos Os direitos fundamentais do preso jus- tificam as seguintes considerações: a) Vida – afirmar o direito dos presos à vida, uma garantia óbvia devida a todo ser humano, avulta na medida em que ele permanece ameaçado, no comum dos ca- sos, pelos próprios colegas de infortúnio (a despeito do dever da autoridade de zelar pela sua segurança pessoal). Pouco significando agora o que eles tenham fei- to para serem apenados, melhor dizendo, exatamente por isso. Destacando-o como um dos principais, Barros (2006) assinala que essa defesa fundamental está inscul- pida lapidarmente na Carta Magna. b) Segurança – no seu art. 38, o Código Penal diz que “o preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda de liber- dade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e mo- ral”. Quando a situação requerer, o preso será beneficiado pelas normas de prote- ção à testemunha. c) Dignidade – o respeito à dignidade da pessoa humana é uma exigência po- tencializada quando de sua prisão. Daí, todo o tempo, precisamos nos lembrar da teoria jurídica do dano moral. d) Igualdade – significa pouco o que aconteceu antes da condenação; todos 4 55 os presos iguais têm de receber o mes- mo tratamento. Brasileiros e estrangei- ros usufruem os mesmos direitos. Serem brancos, mulatos ou negros, nada disso é relevante. Evidentemente, essa regra é excepcionada quando houver exigência da individualização da pena que o distin- ga de outros colegas (LEP, art. 41, XII). A igualdade é uma conquista do ser humano. As distinções que beneficiam as mulhe- res, os idosos, os doentes e os deficientes não quebram esse princípio da igualdade, válido para cada um desses segmentos. e) Individualidade – a personalidade do preso há de ser respeitada. Ainda que use uniforme, ele deve ser identificado pelo seu nome (LEP, art. 41, XI). Não pode ser considerado um número como nas his- tórias que ridicularizam as pessoas. f) Segregação – nas mesmas condições da necessidade de proteção, quem tem sua vida ameaçada ou é jurado de morte cumprirá a pena em cela ou pavilhão sepa- rado, com maior segurança. A autoridade que não promove essa garantia mínima comete ilicitude seriíssima e pode ser res- ponsabilizada. g) Remoção – sempre que perfeita- mente justificada e nos termos da lei exigir-se-á a transferência do preso para outro local em que cumprirá a pena, pre- ferivelmente no Estado de origem ou nas proximidades da residência familiar. h) Consciência – o preso tem o poder de pensar e de se manifestar sobre o que quiser. Escolherá o partido de sua prefe- rência, o clube de futebol de sua paixão, será ateu, gnóstico ou religioso. Enfim, desfruta de toda a liberdade de pensa- mento garantida pela Carta Magna para os brasileiros. i) Sexualidade – a Constituição Fede- ral veda a discriminação a qualquer pes- soa por conta de sua orientação sexual. Significa que os homossexuais receberão visita íntima de parceiro do mesmo sexo nas mesmas condições que os heterosse- xuais (MARTINEZ, 2008). j) Religião – a escolha da religião, sei- ta ou convicção de qualquer ordem, ou mesmo a adoção de um novo pensamen- to filosófico depois de ter sido preso, são asseguradas dentro da liberdade de ter a crença que deseja. Não é obrigado a par- ticipar de cultos e optar pelo absenteísmo religioso, pois isso faz parte do seu direito. k) Mulheres – as mulheres cumprem as penas separadas dos homens. Mantê-las numa cela masculina, ainda que por pouco tempo e sob a alegação de não existir es- paço, delegacia ou presídio adequado, não é justificativa, devendo ser severamente responsabilizada a autoridade que adotar essa prática.l) Cultura – o acesso à cultura deve ser diversificado, operado mediante estudo, empréstimo de livros, leitura de jornais e revistas, oitiva de rádio e TV, e também a utilização da internet. Todo presídio é obrigado a possuir uma biblioteca, permi- tindo que o presidiário consulte as obras ou as leve para a cela (RIEP – Regime In- terno dos Estabelecimentos Penitenciá- rios, art. 127). m) Educação – não apenas se profis- sionalizar; o presidiário precisa educar-se em todos os sentidos dessa pretensão ou de melhorar o seu nível de convivência so- cial. 6 7 n) Ressocialização – sem embargo de ser difícil nos tempos atuais ou ser quase impossível em face das desídias peniten- ciárias, a ressocialização é um mecanismo importante para a recuperação do apena- do. Ela implica em: 1) opção política, filosó- fica ou religiosa; 2) desenvolvimento pro- fissional; 3) trabalho interno ou externo; 4) aquisição de conhecimento humanís- tico; 5) compreensão do papel inibidor da pena, etc. o) Reabilitação – a reabilitação, um processo de recuperação do apenado, em relação a uma infração penal deve ser considerada todo o tempo. Não só no que diz respeito à atitude contrária ao regime disciplinar, como no que se refere à pró- pria punição. p) Profissionalização – a mais ade- quada forma de recuperação do indivíduo legado às celas, de ocupá-lo e de reabili- tá-lo socialmente, preparando-o para o reingresso na sociedade, é torná-lo apto para o exercício de profissão, se ele não tinha um ofício, e aperfeiçoar a ocupação que exercia. Os direitos políticos são bastante cer- ceados, limitados a algumas hipóteses. O direito democrático de se candidatar não é estendido ao presidiário. Como não pode exercer todas as atividades profis- sionais ou tomar posse como servidor, é descabido pensar em concurso público, mas não o será em relação a quem está próximo de cumprir a pena. Diz o art. 15 da CF/88, que é: “Vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (. ..) III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos”. Logo, o preso não condenado tem o direi- to de votar. Isso já foi regulamentado em alguns Estados brasileiros. a) Sindicalização – embora trabalhe, ainda não se pode pensar em sindicaliza- ção, mas manterá a filiação ao órgão de classe ao qual pertencia, se o Estatuto So- cial não contiver norma impeditiva. b) Filiação – a filiação partidária não é impossível. Os direitos civis são inúmeros. a) Casamento – a LEP permite a ceri- mônia do casamento civil de presidiários entre si ou com pessoas em liberdade. b) União estável – caso o presidiário mantenha uma união estável (CF, art. 226, § 3º), heterossexual ou homossexual, ela poderá ser continuada na prisão, inclusive com o direito de solicitar à direção do pre- sídio que declare a ocorrência de visitas familiares e íntimas para os fins de Direito (Ação Civil Pública nº 2000.00.71.09347- 0). c) Adoção – tendo em vista as severas obrigações respeitantes à educação diu- turna de menores, os apenados não têm condição para adotar nem serem adota- dos (Lei nº 8.069/90). d) Reparação – provada a inocência parcial ou total, o Estado fica à mercê de uma ação reparatória por erro judiciário. Enfatizando a liberdade como um bem su- premo, Meirelles (2004) ressalta o direito do preso ilegalmente de processar o Esta- do. O preso receberá a indenização de um processo iniciado antes da execução da pena por intermédio dos procuradores. e) Representação – requerer e repre- 6 7 sentar são faculdades plenamente as- seguradas. f) Propriedades – exceto no que diz respeito ao sequestro do valor correspondente a eventual reparação por crime cometido, o patrimônio do condenado permanece íntegro e ao seu dispor, administrado conforme as circunstâncias de cada caso. Por in- termédio de procurador, comprar ou vender os seus bens; terá autorização para exercer qualquer ato civil que preserve a família e o seu patrimônio (RIEP, art. 23, IV). A pena de um detento ou recluso aliviar-se-á na medida em que ele pos- sa comunicar-se com o que o rodeia. a) Mundo exterior – nada impede o contato com o mundo fora das grades, por meio de mídia, leituras, recepção de correspondência, etc. O uso de ce- lular tem sido vedado. b) Audiências – para se informar, tomar conhecimento de fatos, espe- cialmente no regime disciplinar, re- presentar verbalmente, denunciar alguma irregularidade penitenciária, o preso estará a sós com o Diretor do Presídio (LEP, art. 41, XIII). c) Defensor – o mínimo da assistên- cia judiciária é permitir periodicamen- te uma visita do defensor do preso ou com ele manter correspondência. A Lei nº 4.214/63, em seu art. 89, II, já assegurava esse potencial e ele foi mantido no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (LEP, art. 41, IX). d) Correspondência – o sigilo da correspondência é garantido pelo art. 5º, XII, da CF, disciplinado no art. 3º, c, da Lei nº 4.958/62 e contemplado no art. 151 do Código Penal. Como mui- tos autores, Miguel Lucena associa-se àqueles que entendem que os presos não têm esse direito porque as car- tas podem se constituir em meios que atentam contra os demais presos e a segurança dos presídios e põem em risco as pessoas. Observadas as regras de segurança do regime prisional, é di- reito do preso comunicar-se e receber as missivas (RIEP, arts. 124/126). e) Visitas – são autorizadas visitas familiares, inclusive as íntimas (LEP, art. 41, X). Em relação à assistência individual, quem está preso carece de atenção de variada ordem. Saber que não foi es- quecido pelos familiares, pelos amigos e pelas autoridades é de grande im- portância para resistir ao duro regime prisional. a) Judiciária – aspecto de suma im- portância consiste na assistência judi- ciária, do Estado ou particular. Possuir livros de Direito, entrevistar-se com seu defensor e saber das mudanças da legislação é o mínimo desejável. b) Sanitária – em vários momen- tos a norma jurídica destaca o dever do Estado de ministrar cuidados sani- tários aos que estão sob sua custódia. Conforme o art. 23, XIII, do RIEP, é ga- rantido: “tratamento médico-hospi- talar e odontológico gratuito, com os recursos humanos e materiais da pró- pria unidade ou do Sistema Unificado de Saúde Pública”. Carente de atendi- 8 9 mento médico especializado, o preso do- ente contratará facultativo particular de sua confiança. O art. 43 da LEP diz que “é garantida a liberdade de contratar médico de confian- ça pessoal do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus fami- liares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento”. c) Social – o Serviço Social lhe é asse- gurado, sendo estendido à sua família, que deve ser informada de todos os direi- tos, em especial do auxílio-reclusão previ- denciário. Sobre o trabalho do educando, repetin- do o que já foi dito em outros momentos, o esforço físico pessoal é muito eficaz na recuperação social do apenado. a) Trabalho – o labor remunerado in- terno ou externo é um direito subjetivo do apenado. b) Divisão – o estabelecimento penal é obrigado a dividir proporcionalmente o tempo dedicado às atividades, aos des- cansos diurno e noturno e à recreação. c) Higiene – todas as disposições com- patíveis das Normas Regulamentadoras do Trabalho - NR (Lei nº 6.514/77) são invocadas em favor dos presidiários que trabalhem interna ou externamente. Em relação à previdência social, se an- tes da prisão era um segurado, poderá contribuir como facultativo e, trabalhan- do, como contribuinte individual, confor- me dita a Instrução Normativa do lNSS nº 20/07. Desejando, o preso celebrará um contratode seguro privado, inclusive con- tra acidentes do trabalho. O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) celebrou um protocolo de in- tenções que vai possibilitar a concessão de benefícios da Previdência Social aos detentos e seus familiares. De variados modos o cumprimento da pena pode ser afetado, podendo ser dimi- nuída ou aumentada. a) Revisão – todo o tempo, respeitadas as normas processuais, subsiste o direito do sentenciado de ter sua pena revista. b) Perdão – o perdão judicial, o indulto e a anistia são regulados na LEP. c) Regalias – é vedada prática de jo- gos de azar no estabelecimento penal. O presidiário autorizado a jogar na loteria ou participar de um concurso assumirá a pro- priedade do prêmio. d) Regressividade – em cada caso, da mesma forma como disciplinada a pro- gressividade, a lei garante mudanças no regime prisional com a regressividade da pena (LEP, art. 112). e) Remição – atendido a LEP com o seu trabalho ou o estudo, o apenado tem a pena diminuída (art. 126). f) Prescrição – a prescrição põe fim à punibilidade e liberta alguém preso inde- vidamente. g) Livramento – segundo o CPP, o li- vramento condicional se dá nas hipóteses legais. h) Cela especial – existem casos em que se imporá o cumprimento da pena em celas especiais, vedado o uso de solitárias ou celas escuras. i) Saídas – a legislação regula as dife- 8 9 rentes hipóteses em que são possíveis as saídas autorizadas. j) Pecúlio – quem tem renda constitui- rá um pecúlio. k) Fiança – nas condições previstas na lei, a pessoa pagará a fiança estabelecida pela autoridade policial e responderá ao processo em liberdade. l) Recursos – todos os remédios jurídi- cos previstos na CF e no CPP ficam à dis- posição de quem está com a sua liberdade restringida. m) Inocência – ainda que tenha sido condenado em sentença transitada em julgado, um dos mais relevantes direitos do presidiário é o de tentar provar a sua inocência. n) Sensacionalismo – o Diretor do Pre- sídio tomará todas as providências para evitar que o presidiário seja objeto de sensacionalismo, especialmente da mídia televisionada. Se não quiser, este último não é obrigado a dar entrevistas a nin- guém. o) Dano moral – provado que o Estado é responsável pela diminuição do patri- mônio material ou moral do indivíduo, nas inúmeras hipóteses em que isso é possí- vel de acontecer num presídio, impõe-se o processo de dano moral (MARTINEZ, 2007). Quanto à soltura e reabilitação, à evi- dência, no dia seguinte, ao término da pena, o presidiário deve ser libertado. Não será preso nem um só dia a mais, respon- dendo o culpado por sua retenção. A norma, impondo condições, regula as hipóteses, circunstâncias e casos em que aquele que foi penalizado possa tentar reabilitar-se moralmente perante a socie- dade. Por fim, sobre as condições carcerá- rias, é importante saber: a) Alimentação – no mínimo, os presos farão jus a três refeições diárias (LEP, art. 41, I). Quando elas provierem de tercei- ros deverão ser previamente examinadas (RIEP, art. 23, II, a). b) Vestuário – as roupas devem se ade- quadas às condições do presídio e à esta- ção do ano (RIEP, art. 23, II, b). c) Repouso – o descanso noturno é as- segurado na medida do possível. Quem trabalha faz jus a descanso diário. d) Habitabilidade – será ofertada em condições normais “conforme padrões es- tabelecidos pela Organização Mundial de Saúde” (RIEP, art. 23, II, c). e) Recreação – o entretenimento diu- turno é saudável para o cumprimento da pena. f) Atividades esportivas – praticar es- portes, preferivelmente coletivos, é sem- pre recomendado. g) Guarda de bens – a unidade prisio- nal incumbe-se da preservação dos bens do presidiário, liberando-os quando de sua soltura. 2.3 Princípios aplicáveis Para os operadores do Direito, os ter- mos usados em vários momentos deste curso são conhecidos e corriqueiros, mas com certeza, para você educador, em se tratando de educação no sistema prisio- nal, mesmo não sendo de seu domínio, 10 11 eles tem seu lugar, uma vez que os pre- sos, na maioria das vezes, conhecem seus direitos e deveres e em muitas situações conversará com você utilizando-se des- ses conhecimentos. Em cada ramo do direito encontramos princípios próprios, mas todos os ramos seguem primeiro aos princípios comuns a todos os ramos que são os princípios gerais (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006). Princípios são normas que fornecem coerência e ordem a um conjunto de ele- mentos sistematizando-o, são funda- mentos que servem para regular as rela- ções entre as pessoas. São proposições que se colocam na base da Ciência Jurídica Processual e auxiliam na compreensão do conteúdo e extensão do comando inseri- do nas normas jurídicas e em caso de la- cuna da norma, servem como fator de in- tegração. A palavra princípio, em sua raiz latina última, significa “aquilo que se toma pri- meiro” (primum capere), designando iní- cio, começo, ponto de partida. Princípios de uma ciência, segundo Cretella Júnior (1989, p. 129), “são as proposições bási- cas, fundamentais e típicas que condicio- nam todas as estruturas subsequentes”. Pois bem, em se tratando do regime dos presídios, os princípios que o regem prati- camente são os mesmos do Direito Penal e Processual Penal, adaptados quando convier. Falaremos brevemente sobre eles: Princípio da absoluta legalidade – uma vez que a população carcerária é enorme e subjetivos são os seus desejos e anseios, é premissa básica para se buscar uma con- vivência pacífica, ou seja, definir regras de comportamento e formas de inibição da transgressão que sejam seguidas dentro da legalidade. Seguir o princípio da dignidade huma- na também é imprescindível, pois mesmo tendo cometido um delito, o presidiário é um ser humano. Este é um dos chamados princípios estruturantes do Estado Demo- crático de Direito. Princípio da integridade física, embora haja disputa de poder e busca por privilé- gios dentro das prisões, que podem levar a violência entre presos, esta não deve prevalecer e o preso tem direito de viver e conviver preservando-se sua integridade corporal e moral. O presidiário tem o direito de recorrer da condenação da pena e eventual puni- ção que sofre por força do regime repres- sivo do presídio, respeitando-se o princí- pio da inconformidade jurídica. A preservação da personalidade é ou- tro princípio que deve ser respeitado, por exemplo, deve o presidiário ser chamado pelo nome, de preferência de senhor. Afi- nal, como já dito, ele não é um número, mas um indivíduo do grupo. Outros princípios seriam: individualiza- ção da disciplina; tratamento igualitário; recuperação o apenado e participação do juízo, ou seja, conhecer as normas, os re- gulamentos penitenciários para compre- ender sua situação (MARTINEZ, 2010). 2.4 Responsabilidade do Estado em relação aos De- tentos 10 11 O preso não tem somente deveres a cumprir, mas é sujeito de direitos, que de- vem ser reconhecidos e amparados pelo Estado. Quando o sentenciado estiver re- cluso, seja por qualquer motivo, não está sem direitos, exceto aqueles limitados em face da sua condenação (KLOCH; MOTTA, 2008). Por isso, a sua condição jurídica não é suprimida, mas sim, é igual a das pessoas não condenadas. Quando o apenado estiver sob a cus- tódia do Estado, passa a ser deste a res- ponsabilidade de manter a integridade e a dignidade do detido, bem como, salva- guardar seus direitos e deveres. O desrespeito à integridade física e psíquica deprecia a personalidade do apenado sem motivo justificável e apli- ca inconscientemente a pena de tortura, tornando-se instrumento para solicitar indenização por danos morais, devidospelo Estado. Para Carrara (2002, p. 419), “é a tortura a mais bárbara, a mais execrá- vel e a mais ilógica das sugestões reais”. O Estado é responsável pela prática da tor- tura, quando realizada por seus agentes ou por intermédio de terceiros, quando o ofendido estiver sob sua custódia. A constante insegurança nas celas; o fato de ser atacado por outro detento; as lesões; a morte; a perda dos sentidos; são atos considerados desumanos, não pre- vistos em nenhuma lei brasileira vigente como forma de castigo. Por isso, é verda- deiramente uma afronta aos princípios fundamentais da dignidade humana, não resguardando os direitos da personalida- de, positivados na legislação brasileira. Manter a integridade física e psíquica do detento é dever indelével do Estado; sua violação gera responsabilidade civil, por atos de seus agentes, seja pela ação ou omissão. Se é dever do Estado re(educar), (re)so- cializar e (re)inserir o condenado (preso) ao convívio social, evitando que reincida na criminalidade, então é de sua respon- sabilidade indenizá-lo quando não efeti- vou sua obrigação. A partir do momento em que o preso reivindicar indenizações, por ineficiência da execução penal, o Poder Público certa- mente admitirá que a forma em que está sendo executada a pena, na maioria dos casos, é inoperante, falida, antiética e onerosa. Se o Estado enclausura um delinquen- te analfabeto por quase dez anos, deveria transformá-la num profissional culto, mas quando consegue mantê-lo aprisionado, apenas o deixa apreender as artimanhas da criminalidade organizada. 2.5 As Consequências Jurí- dicas pela Afronta ao Princí- pio da Dignidade do Deten- to Segundo estudos de Kloch e Mattos (2008), o descaso com a tutela do direi- to à personalidade do detento, especial- mente com relação à integridade física e psicológica, reflete em vários segmentos sociais, pois são tidos como atos negati- vos no tocante à recuperação e até para a punição do apenado. As consequências geradas pelo desrespeito à dignidade do apenado podem refletir: 12 13 em reincidência, gerando aumento da criminalidade, como instrumento de repú- dio ao ato praticado pelo Poder Público; em desrespeito ético-legal, perante a sociedade; em prejuízos financeiros ao Estado, em face da indenizabilidade dos danos causados aos condenados que cumprem pena sob cárcere; na instigação social da exclusão e a brutalidade, pois é praticado em nome do Estado; em afronta aos direitos do Estado Democrático de Direito; como sinônimo de falência do Estado Disciplinador, gerando uma revolta social em razão da insegurança pública. O condenado que cumpre sua pena sob tortura ou qualquer ato que atenta contra sua dignidade, não absorverá sua punição como educativa. Terá sim, enriquecido seu desejo de vingança contra uma sociedade falsa e sem princípios éticos. Certamen- te, este sujeito maltratado será mais um reincidente à criminalidade. Os atos prati- cados serão levados a cabo, com a teleolo- gia de revidar àqueles praticados pelo Po- der Público, seja por omissão ou por ação. Quanto ao desrespeito à integridade do detento, além de ser ilegal, é abusivo e antiético. A sociedade, em geral, verá como um Estado impotente, que tenta in- timidar pela brutalidade e não pela norma ou pelo exemplo disciplinador. Consequentemente, tais atos resultam em inúmeros prejuízos ao Estado, inclu- sive financeiro, pois tem o dever de inde- nizar os danos causados aos condenados segregados, seja por valores atribuídos à moral, estético ou material. A afronta ao direito à integridade ex- pressada na lei em vigor gera uma sensa- ção de vingança, agravada por ser prati- cada em nome do Estado. Tal fato poderá levar à instigação da exclusão e à brutali- dade, pois traz consequências sociais im- previsíveis. O descumprimento das normas que guarnecem o Direito à Personalidade, gera condutas atentatórias contra a dig- nidade da pessoa humana, afrontando aos princípios gerais do Estado Democrá- tico de Direito e os alicerces daquilo que se busca como justo. Estão resguardados os direitos ineren- tes à personalidade a todos os seres hu- manos, inclusive aos delinquentes apena- dos, pois somente lhes é tolhido o direito à liberdade. A principal consequência pela afronta ao princípio da dignidade do detento é a demonstração real da falência do Estado Disciplinador, que por si só gera uma re- volta social e a perda do controle do sis- tema. As consequências são evidentes, den- tro e fora do Sistema Prisional, como as rebeliões em massa, as fugas, o aumento do terror pelos crimes organizados e os ataques às instituições públicas que de- veriam garantir a segurança. Tanto a doutrina como a jurisprudência são pacíficas com relação aos danos cau- sados por atos decorrentes de afrontas ao princípio da dignidade do detento, seja praticada pelos agentes penitenciários, pelos policiais, por erro judiciário ou até 12 13 mesmo pelos outros detentos, pois o ape- nado quando segregado está sob a res- ponsabilidade do Estado. Os danos podem ser físicos, psíquicos ou intelectuais, causados muitas vezes pela falta de ética, por um serviço não efetivo, pela brutalidade e descontrole do poder disciplinador do Estado-Penal. O compromisso ético e valorativo é de- finido com propriedade por Zeni (2006, p. 15), ao ensinar que: A propósito do direito, considera-se um arsenal de normas jurídicas logica- mente concatenadas e hierarquizadas, representando a vontade do contra- to social, que, por ficção, decorre da vontade da maioria, merecendo uma interpretação restritiva diante dos mi- tos de certeza e segurança jurídica que procuram encampar via positivação. Quando não, captam-se fatos e o tor- nam, por si só, direito, sem um compro- misso ético e valorativo descompro- metido com fins, senão com fórmulas racionais engendradas à padronização dos comportamentos sociais. Para Stoco (1997, p. 413), “é o que po- der-se-ia denominar de ‘erro judiciário’, que não se confunde com o erro judicial em processos criminais e previsto no art. 5º, LXXV, da CF/88, e no art. 630 do Códi- go de Processo Penal”. O erro judiciário é aquele advindo de ato jurisdicional que ocorre por equivo- cada apreciação dos fatos ou do Direito aplicável, levando o juiz a proferir sen- tença passível de revisão. Enquanto o excesso de prisão ocorre no período da execução da pena, quando o condenado não é liberto, após regular cumprimento da pena estabelecida na sentença. O art. 37, § 6º, da CF/88, estabelece essa responsabilidade, quando expressa que as pessoas jurídicas de Direito Pú- blico responderão pelos danos que seus agentes causarem a terceiros. Por intermédio de seus agentes, o Es- tado é responsável quando desencadeia um infortúnio por erro, e lança uma pes- soa e/ou seus familiares em descrédito, que fere a honra, que transforma e abala um convívio social e familiar, que produz traumas e sequelas invariáveis. Havendo inércia do Estado e se esta for a causa direta do não impedimento do evento, causadora da afronta à integri- dade física, psíquica e intelectual do se- gregado, será de sua responsabilidade a reparabilidade do dano causado (KLOCH; MATTOS, 2008). O fato de o preso ter sido agredido por outro detento não caracteriza ato de terceiro, uma vez que a obrigação do Es- tado decorre do dever de vigilância e de cuidado em relação a quem está sob sua custódia. O Estado responde civilmente, independentemente da culpa do agente público. O Estado responderá não pelo fato que diretamente gerou o dano, mas sim por não ter ele providenciado ações sufi- cientes para evitar o dano ou mitigar seu resultado, quando o fato for notório ou perfeitamente previsível.O Poder Público tem o dever legal de zelar pela segurança, pela vida e pela integridade física e moral do preso, en- 14 15 quanto se encontra acautelado ao seu poder. O apenado perde tão somente a liberdade, devendo ser resguardada sua vida e sua dignidade, bens inerentes ao direito da personalidade. Os direitos ligados à personalidade são de maneira perpétua e permanente, es- pecialmente o direito à vida e à integri- dade. São direitos não patrimoniais e, por conseguinte, inalienáveis, intransmis- síveis, imprescritíveis e irrenunciáveis. Nesses termos, todos da sociedade de- vem respeito a esses direitos oponíveis. A sua violação está a exigir uma sanção e/ou uma indenização pelo dano causado ao custodiado. O dano moral resulta da dor intensa, da frustração causada e da humilhação a que foi submetida a vítima. É certo que sua fixação deve levar em consideração a natureza de real reparação do abatimen- to psicológico causado (KLOCH; MATTOS, 2008). Em 1988, a Constituição Federal pas- sou a admitir com relevância o dano mo- ral, especificamente nos incisos V e X do art. 5º, que relacionou, entre os direitos e garantias fundamentais, consideradas como cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, CF/88): “o direito de resposta, proporcio- nal ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”, e de- clarou serem invioláveis “a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pes- soas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Constatada a hipótese de deficiência do serviço estatal, que tem compromis- so com uma justiça de qualidade, cumpre seja restabelecido o status quo ante, ou seja, o modo em que se encontrava an- tes, compensando-se economicamente quem sofreu o dano. A indenização deve conter o valor que possibilite a reintegração social, dando- -se ao injustamente condenado, ou que sofreu por erro, uma reparação patrimo- nial proporcional à privação de sua liber- dade e às lesões morais e econômicas sentidas, atingido em sua honra, reputa- ção, liberdade, crédito, estima, dignida- de, enfim os direitos da personalidade. A agressão física, psicológica e inte- lectual, praticada por agentes públicos, é ofensa ao direito da personalidade, ou seja, atinge a honra, a imagem e a digni- dade do ser humano, portanto deve ser indiscutivelmente reparável, quando a prova é concreta e o nexo de causalidade é verificado. Quando a integridade física de uma pessoa for maculada, por ter sido sub- metido à tortura, seja nas delegacias de polícia, nas unidades prisionais, pelas condições aviltantes da cela em que foi detido, mesmo que sejam psicológicas, será o poder público responsabilizado. Em consequência de tais fatos, torna- -se depressivo o ato praticado em nome do Estado ou não, devendo arcar com as consequências nos termos do artigo 5º, incisos XLIX e LXI, da CF/88. De qualquer sorte, abstraída uma maior discussão a respeito, o certo é que a obrigação de indenizar é inescusável, quando o Estado, representado por seus agentes, ofende a integridade física e emocional de um cidadão que se encon- trava sob sua tutela direta, causando-lhe 14 15 sequelas psíquicas irreversíveis. Assim, a Constituição Federal e o Código Civil em vigor asseguram a integridade física e moral, reservando o direito à liberdade quando suprimida por sentença conde- natória. A doutrina vem estabelecendo certos parâmetros a serem observados quando do arbitramento do valor pelo dano mo- ral. Carlos Alberto Bittar (1993, p.220) afirma que: A indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o comportamento assumido, ou o even- to lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em confli- to, refletindo-se, de modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resul- tado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente significati- va, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante. É tormentosa a quantificação da repa- ração de dano por erro do Judiciário, em razão da subjetividade que lhe é caracte- rística, mas é sabido que a ele deve ser a responsabilidade de reparar. Quanto à valoração da indenização por dano moral, em decorrência de um dever violado, seja pela ação ou omissão do Es- tado, Reis (2003, p. 26) afirma com pro- priedade que diante da posição firmada pelos Tri- bunais Brasileiros, observamos incon- gruências quanto ao conteúdo da va- loração dos danos morais. As decisões proclamam que nas indenizações dos danos morais deverá ser observado o binômio pena-compensação, o que constitui uma situação contraditória em relação ao verdadeiro sentido do processo indenizatório. Portanto, a condenação sob a ótica da responsabilidade civil não deve ser confun- dida com o efeito punitivo e repreensivo, pois este pertence à esfera dos danos pe- nais. “A indenização dos danos morais, não possuindo função punitiva, senão essen- cialmente indenizatória, deverá proporcio- nar ao lesado uma ideia de restituição ao status quo ante [...]”. (REIS, 2003, p. 230). Na fixação do quantum indenizatório, há de se considerar que o abalo moral diz res- peito aos fatos provocados pela inércia ou ineficiência do Estado para com o autor. Se este, esteve preso ilegalmente, o nexo cau- sal confirma-se por si só, devendo ser leva- dos em consideração o tempo e a forma em que permaneceu segregado. Em se tratando de violação aos direitos inerentes à dignidade do apenado, as cir- cunstâncias devem ser sopesadas quando do arbitramento do valor a título indeniza- tório, a evidenciar a manutenção do Estado anterior em que se encontrava o lesionado. Cabe ao Estado a responsabilidade de- corrente da atividade administrativa de guarda dos presos, não somente porque a lei determina, mas por questão ética e mo- ral (KLOCH; MOTTA, 2008). 16 1716 UNIDADE 3 - Deveres dos presidiários As relações das pessoas recolhidas à prisão entre elas, com as visitas e em face das autoridades penitenciárias, são atípicas. O regime de condutas imposto a quem está apenado, insatisfeito com a prisão, não vendo a hora de ser livre, im- põe regras de comportamento cujo lema é a disciplina (MARTINEZ, 2010). Os deveres do apenado quando do cum- primento de sua pena estão inseridos nos arts. 38 e 39 da LEP que dizem: Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu es- tado, submeter-se às normas de execução da pena. Art. 39. Constituem deveres do conde- nado: I - comportamento disciplinado e cum- primento fiel da sentença; II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacio- nar-se; III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de sub- versão à ordem ou à disciplina; V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar im- posta; VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores; VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto pro- porcional da remuneração do trabalho; IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservação dos objetos de uso pessoal. Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto nes- te artigo. Analisando os deveres do apenado a começar pelo comportamento disciplina- do e o fiel cumprimento de sua sentença, temos que a disciplina é obrigação do ape- nado, assim como sua resignação diante de sua pena, apóso seu trânsito em jul- gado, assim, a participação do apenado em rebeliões ou qualquer forma de des- respeito às normas do estabelecimento prisional, o que não quer dizer que o ape- nado não possa protestar contra abusos ou restrições aos seus direitos, mas esses devem ser feitos pelos meios legais. A segunda e terceira obrigações previs- tas pela LEP dizem respeito ao trato com os servidores e demais apenados, que deve pautar-se pelos princípios de respei- to e cordialidade, que deve ser mútua, de- vendo o servidor por sua vez, também tra- tar o apenado com cordialidade e respeito. A quarta obrigação ao apenado tra- ta do dever de, além de não participar de qualquer movimento subversivo ou com o intuito de evadir-se do estabelecimento prisional, deve opor-se a estes e inclusive comunicar à administração e aos servido- 16 1717 res do estabelecimento prisional sobre eventuais tentativas dos outros presos. Esse tema é bastante controverso, pois dentro do nosso estabelecimento prisio- nal é sabido que existe um código de ética entre os presos, e dentro deste a punição para o preso delator é a morte, e assim, sempre deve ser preservada a fonte das informações obtidas pela administração entre os presos. A obrigação de cumprir os trabalhos, tarefas e ordem recebidas deve receber a ressalva de que as ordens que não pos- suam previsão legal ou atentem contra os direitos do preso ou qualquer outro direi- to não devem ser cumpridas, bem como as ordens com o intuito de colocar o detento em situação de risco ou vexatória e humi- lhante, devendo, nesse caso, comunicar o juiz da execução sobre a desobediência e o seu motivo. Constitui-se ainda em dever do apena- do a indenização da vítima e de sua famí- lia, e ao Estado pelas despesas decorren- tes de sua manutenção. Esses deveres na grande maioria dos casos não são cumpri- dos, uma vez que na nossa realidade car- cerária, a grande maioria dos apenados não possuía condições de manter o seu sustento com dignidade fora dos presí- dios, o que dirá dentro destes, constituin- do-se na maioria dos casos esse dever em letra morta diante da impossibilidade de sua execução, o que não quer dizer que perdeu sua validade, devendo sempre ser aplicada quando o apenado possuir con- dições financeiras de reparar a vítima ou seus familiares como custear as suas des- pesas. E por fim, como já dissemos, deve o preso manter a ordem e a higiene de sua cela e conservar os seus objetos de uso pessoal, essa limpeza e ordem de sua cela e objetos fica prejudicada diante da su- perlotação de nossos estabelecimentos prisionais onde os presos em sua maioria são mantidos em ambientes superlotados e sem as mínimas condições de humani- dade, fica difícil a cobrança dessas obriga- ções (MARTINEZ, 2010). Diante dessas obrigações, quando não observadas as mesmas pelos apenados estes poderão sofrer sanções disciplina- res com o intuito de manter a disciplina do estabelecimento prisional, de acordo com o disposto no art. 44 da LEP. (IANOWICH FILHO, SILVA, PORTO JUNIOR, 2006). O RIEP fixa as garantias dos presidiários (art. 23) e também as suas obrigações, que chama de deveres (art. 27). São enu- merativos, específicos e minuciosos. Autoridade Penitenciária – um dos polos da relação, a direção do presídio exerce certa liderança na condução da disciplina e carece de se impor administra- tivamente. Nesse sentido, os deveres dos presos são: a) respeitar as autoridades, servidores e companheiros presos. b) acatar as determinações emanadas de qualquer servidor no desempenho de suas funções. c) observar as normas contidas no Re- gimento Interno, referentes às visitas. d) submeter-se às normas disciplinado- ras da concessão de saídas externas pre- vistas em lei. e) cumprir à requisição das autoridades 18 19 judiciais, policiais e administrativas. f) atender à requisição dos profissio- nais de qualquer área técnica para exa- mes ou entrevistas. g) dar atendimento às condições das medidas cautelares. Índole Pessoal – alguns dos ônus próprios dos presidiários são bastante pessoais: a) zelar pela higiene pessoal e ambien- tal. b) não fazer de sua cela uma cozinha. c) aceitar a revista pessoal, de sua cela e dos seus pertences. d) submeter-se às normas que discipli- nam áreas de saúde, assistência jurídica, psicologia, serviço social, diretoria, servi- ços administrativos em geral, atividades escolares, desportivas, religiosas, de tra- balho e de lazer e assistência religiosa. e) não utilizar objetos, para fins de de- coração ou proteção de vigias, portas, ja- nelas e paredes, que prejudiquem a vigi- lância. f) devolver ao setor competente os ob- jetos fornecidos pela unidade e destina- dos ao uso próprio. g) não desviar, para uso próprio ou de terceiros, materiais dos diversos setores da unidade prisional. h) não negociar objetos de sua proprie- dade, de terceiros ou do patrimônio do Es- tado. i) não preparar ou ceder bebida alcoó- lica ou substância que possa provocar re- ações adversas às normas de conduta ou dependência física ou psíquica. j) não apostar em jogos de azar de qual- quer natureza. k) zelar pelos bens patrimoniais e mate- riais que lhe forem destinados, reparando o Estado ou terceiros por danos materiais que causar, de forma culposa ou dolosa. l) informar-se sobre as normas a serem observadas na unidade prisional, respei- tando-as. m) manter comportamento adequado em todo o decurso da execução da pena, progressiva ou não. n) acatar a sanção disciplinar imposta. SEGURANÇA PRÓPRIA E DE TERCEI- ROS – diante do tipo de relacionamento interno nos presídios, a segurança física é muito importante: a) abster-se de fazer ou possuir instru- mentos capazes de ofender a integridade física de terceiros. b) evitar procedimentos que possam contribuir para ameaçar ou obstruir a se- gurança das pessoas e da unidade prisio- nal. c) adotar quaisquer práticas que pos- sam causar transtornos aos demais pre- sos, bem como prejudicar o controle de segurança e disciplina. d) não transitar ou permanecer em lo- cais não autorizados. e) não dificultar ou impedir a vigilância. f) acatar a ordem de contagem da po- pulação carcerária, respondendo ao sinal convencionado para o controle de segu- rança e disciplina. 18 19 g) não participar de movimento indivi- dual ou coletivo de tentativa e consuma- ção de fuga. h) não liderar, participar ou favorecer movimentos de greve e subversão da or- dem e da disciplina. CIRCULAÇÃO E MOVIMENTAÇÃO – a entrada e a saída do estabelecimento pe- nal é tema que diz respeito à segurança de todos. Daí: a) submeter-se às normas de transfe- rência e remoção de ordem judicial, técni- co-administrativa e às solicitadas. b) cumprir rigorosamente o horário de retorno quando de saídas temporárias. c) observar a segurança imposta pela Polícia Militar e outras autoridades incum- bidas de efetuar a escolta externa. Desenvolvimento Da Cultura – to- dos os aspectos que envolvam a cultura devem ser estimulados, por isso o apena- do tem de respeitar as regras da bibliote- ca no que diz respeito ao empréstimo de livros. Assistir às palestras educativas é muito importante para o aperfeiçoamen- to cultural dos presidiários. Atividades Escolares – submeter-se ao regular funcionamento das atividades escolares do estabelecimento prisional condiz com a intenção de se recuperar, de aprender e de se profissionalizar. Práticas Desportivas – podendo, é relevante para a comunidade dos aprisio- nados que cumpram as condições para as práticas desportivas e de lazer. Empenho Laboral – ninguém é for- çado a trabalhar, mas o apenado deve co- laborar com a política de labor do regime prisional, esforçando-sepor participar das atividades laborais internas e exter- nas. Cultos Religiosos – não só respeitar as opções religiosas dos demais detentos como submeter-se às condições para a prática religiosa coletiva ou individual. Participação Geral – alguns aspec- tos da convivência pacífica devem ser res- saltados. Observar as condições para a posse e uso de aparelho de radiodifusão e aparelho de TV e atender às condições das sessões cinematográficas, teatrais, artísticas e socioculturais (MARTINEZ, 2010). 20 2120 UNIDADE 4 - Restrição de direitos A substituição da pena privativa da liberdade por outro tipo de sanção jurí- dica constitui um avanço em termos de execução penal. Efetivamente, diante do elevado número de infrações sociais, com menor ou maior poder ofensivo, a serem inibidas, entendeu o legislador de tentar coibir essas condutas antissociais com punições alternativas do regime carcerá- rio (MARTINEZ, 2010). Neste momento, a lei está se referindo a algum tipo de de- linquente, aquele que justifica um trata- mento diferenciado. Somente no sentido lato aqui adota- do podemos chamar esses indivíduos de presos. São sentenciados, mas não são recolhidos à prisão, cumprem o seu débito penal em liberdade e mediante políticas públicas de respeitável interesse para a comunidade. Somente numa hipótese o autor da ili- citude será preso, na verdade detido, e por curto espaço de tempo (“limitação de fim de semana”, CP, art. 43, VI). Considera-se pena restritiva de direi- tos a decorrente de uma condenação judi- cial que obsta o usufruto de algumas das garantias elementares de cidadão (que ele prefere abster-se em favor de uma pu- nição mais severa). Uma das exigências para esse relevan- te benefício é não ser reincidente (CP, art. 44, II). Quando o apenado não cumpre o que lhe fora recomendado, a restrição de di- reitos pode ser tornar pena restritiva de liberdade (CP, art. 44, § 4º). Em seu art. 43 o Código Penal fixa cinco restrições: a) Valor pecuniário. b) Perda de bens e valores. c) Prestação de serviços. d) Interdição temporária de direitos. e) Limitações no fim de semana. a) Valor Pecuniário – trata-se de um montante em dinheiro (ou outra forma acordada) a ser entregue à vítima, aos seus dependentes ou a alguma entidade pública ou privada, não inferior a um sa- lário mínimo nem superior a 360 salários mínimos (CP, art. 45, § 1º). Em 2010, era de R$ 510,00 a R$ 183.600,00. b) Perda de Bens e Valores – certa quantia fixada pela autoridade compe- tente a ser entregue ao Fundo Peniten- ciário Nacional, correspondendo ao “pre- juízo causado ou ao provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime” (CP, art. 45, § 3º). c) Prestação de Serviços – quando a pena a que foi condenado é superior a seis meses, ele pode cumpri-la na modalidade substitutiva de privação de certos direi- tos (LEP, art. 149). O trabalho será gratui- to, com oito horas semanais, preferivel- mente aos sábados, domingos e feriados. d) Interdição Temporária de Direitos – quase todas as restrições estão envolvi- das com o trabalho e suscitam o princípio constitucional correspondente. O Código Penal prevê quatro tipos de interdições: 20 2121 i) Proibição do exercício de cargo públi- co – o apenado não poderá exercer qual- quer cargo público. Pela importância da restrição, a hipótese reclama justificativa. ii) Proibição do exercício privado que dependa de “habilitação especial, de li- cença ou autorização do poder público” (CP, art. 47) – eis aqui outra severa restri- ção, aplicável quando fundadas as razões para isso. iii) Suspensão de autorização ou de ha- bilitação para dirigir veículo – da mesma forma como a vedação ao exercício de ati- vidade laboral pode atingir um motorista profissional. iv) Proibição de frequentar certos luga- res – esta é uma pena de grande interesse social especialmente no que diz respeito aos crimes cometidos contra as mulheres. e) Limitações no Fim de Semana – é uma obrigação de permanecer na Casa do Albergado ou em outro local indicado pela autoridade por cinco horas aos sábados e domingos (LEP, art. 151). As pessoas con- denadas a comparecem à Casa do Alber- gado terão de participar de cursos, pales- tras ou atividades educativas. f) Modificação da Pena – a qualquer momento, a autoridade competente po- derá alterar a pena de prestação de ser- viços à comunidade ou de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições pessoais do sentenciado e às caracterís- ticas do estabelecimento. Um médico po- derá trabalhar num hospital, um advogado na assistência jurídica e assim por diante. g) Independência das Punições – as penas restritivas de direito são autôno- mas, ou seja, um réu poderá compativel- mente ser condenado também à pena res- tritiva de liberdade. 22 2322 UNIDADE 5 - Reabilitação moral Qualquer que seja ela, atendidas algu- mas condições, quem cumpriu a pena tem permissão para requerer a reabilitação de sua personalidade, seu nome e sua repu- tação. À evidência, não se trata mais de um preso, mas de alguém que já se desobri- gou perante a sociedade. A hipótese de um apenado, durante o recolhimento à prisão, tentar reabilitar-se em relação a um crime anterior será rejeitada se ele for novamente condenado. O que fundamenta a reabilitação é o bom comportamento da pessoa humana na vida em sociedade. O Decreto nº 6.049/07, em seu art. 81, trata da reabilitação carcerária, fixando prazos para a reabilitação: a) 3 meses para faltas leves. b) 6 meses para faltas médias. c) 12 meses para faltas graves. E, d) 24 meses para faltas graves com vio- lência (art. 81, I / IV). a) Idealização Mínima – por intermé- dio da reabilitação, o indivíduo tentará apagar de sua vida todos os consectá- rios, desdobramentos e efeitos possíveis dos processos anteriores, da prisão e do cumprimento da pena. Para o art. 748 do CPP: “A condenação ou condenações an- teriores não serão mencionadas na folha de antecedentes do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, sal- vo quando requisitadas por juiz criminal”. O Código Penal reserva o Capítulo VII – Da Reabilitação (arts. 93/95), para tratar do tema. No Código de Processo Penal, os arts. 743/750 também dispõem sobre o assunto. b) Alcance da Providência – não há distinção quanto às punições que possam ser objeto da reabilitação (CP, art. 93). Ela se estende às penas de restrição de direi- to. Vale também para as ilicitudes comina- das da Lei das Contravenções Penais. c) Iniciativa Processual – o interes- sado é quem tem a iniciativa de promover sua reabilitação. Trata-se de uma relação intuitu personae, ou seja, em relação à pessoa, mas que, a rigor, também poderá ser intentada pelos seus sucessores. So- brevindo os efeitos próprios em relação a um falecido. Da decisão concessória há recurso de ofício (CPP, art. 746). d) Reedição da Concessão – exceto na hipótese de o indeferimento ter decorrido da falta ou insuficiência de documentos, negada a reabilitação, um novo pedido somente será instruído após dois anos e com a apresentação de novos elementos convincentes. e) Condições Administrativas – as exigências materiais e formais para que tenha o direito à reabilitação são as se- guintes: a) Residência no País há pelo menos dois anos. b) Tenha tido efetiva e constantemen- te um bom comportamento público e pri- vado. c) Prove que ressarciu a vítima ou que 22 2323 não tem condições de fazê-lo. f) DocumentosNecessários – o art. 744 do CPP elenca os documentos exigi- dos: a) Certidão comprobatória de proces- sos penais em andamento. b) Atestado de autoridades policiais persuasórias de bom comportamento. c) Atestadode bom comportamento firmado por pessoas para quem tenha tra- balhado ou servido. d) Quaisquer documentos que demons- trem a sua regeneração. e) Prova de haver ressarcido o dano causado pelo crime ou persistir a impossi- bilidade de fazê-lo. g) Prazo para o requerimento – o Código Penal fala em dois anos (art. 94), desde que: “I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efe- tiva e constante de bom comportamento público e privado; III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou nova- ção da dívida”. Conforme “se trate de condenado ou reincidente, contados do dia em que hou- ver terminado a execução da pena princi- pal ou da medida de segurança detenti- va”, “a reabilitação será requerida ao juiz da condenação”, após o decurso de quatro ou oito anos (CPP, art. 743). Se a solicita- ção for negada ela poderá ser reeditada a qualquer tempo (CP, art. 94, parágrafo único). h) Diligências Judiciais – o juiz po- derá determinar a apuração dos atos que envolvem a concessão da reabilitação (CPP, art. 745). Tendo em mãos todos os elementos processuais necessários, o juiz decidirá sobre a concessão ou não da rea- bilitação. i) Revogação da Medida – quando se impuser, a revogação será decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Minis- tério Público (CPP, art. 750). j) Consectários Práticos – para algu- mas finalidades, é como se a condenação anterior não tenha existido. Para o art. 202 da LEP: “Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestado ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qual- quer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei”. Praticamente o mesmo se colhe no art. 748 do CPP. 24 2524 UNIDADE 6- Prestações previdenciárias Na oportunidade de disciplinar a ocupa- ção do presidiário, o art. 39 do Código Pe- nal diz que “o trabalho do preso será sem- pre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência Social”. Como se vê, esse dispositivo de 1940 trata apenas dos direitos previdenciários do reeducando que trabalha e não ampla- mente dos direitos previdenciários do pre- so ocioso. Pretensões parcamente discipli- nadas na legislação e carentes de doutrina especializada (MARTINEZ, 2010). Embora já em 1960 a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) falasse da quali- dade de segurado do preso livre da cadeia, o tema só interessou ao legislador jus- previdenciarista com a Lei nº 10.666/03. Entretanto, de longa data, o Ministério da Previdência Social (MPS) havia se manifes- tado sobre a filiação e a contribuição. No que diz respeito ao recluso, releva também definir os direitos dos seus depen- dentes, enfaticamente no caso de fuga, recaptura ou morte. Cuida-se aqui daquele recolhido à prisão, já que em outras situa- ções como do regime semiaberto, da liber- dade condicional, da prisão domiciliar, etc., a pessoa tem mais possibilidade de se or- ganizar em matéria de previdência social. Aposentado presidiário que esteja cum- prindo pena mantém os direitos antes assegurados pelo INSS. Os seus depen- dentes, evidentemente, não farão jus ao auxílio-reclusão cujo pressuposto é a não percepção de renda. Caso queira, o presidiário celebrará um contrato de seguro de vida ou de outro tipo, que seja praticado por companhia se- guradora. Claro que o segurador levará em conta as condições atípicas do apenado. Ainda que não trabalhe, o presidiário é mantido pelo Estado e, nessas condições, raramente reunirá os requisitos da Lei nº 8.742/93. a) Filiação E Inscrição – a situação do presidiário deve ser considerada em três momentos básicos: i) antes; ii) durante o processo penal; e, iii) depois do recolhi- mento à prisão. Isto é, o que ele perde e o que ele adquire após essas datas-bases. Se filiado, regulamentado e inscrito como segurado obrigatório ou facultati- vo, portanto com qualidade de segurado, avaliar-se-á a manutenção desse status jurídico após a detenção. Pelo menos na condição de facultativo ele pode continuar contribuindo e somando tempo de serviço para fins de benefícios. Caso não seja, pode filiar-se como fa- cultativo (se não trabalhar no presídio) por sua vontade ou obrigatoriamente como contribuinte individual (se trabalhar den- tro ou fora do presídio). Normativamente, o correto parece ser o legislador definir um tipo de segurado, designado como presidiário, como fez com outros protegidos (MARTINEZ, 2010). b) Qualidade de Segurado – quem foi preso perderá a qualidade de segurado nos termos do art. 15 do Plano de Benefício da Previdência Social (PBPS). Mas poderá con- tribuir como facultativo ou contribuinte in- dividual (se trabalhar). Se já possuía, con- forme o inciso IV, manterá essa qualidade 24 2525 “até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso”. Quer dizer, cumprida a pena mesmo sem apartar contribuições, o ex-apenado fará jus ao auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez durante 12 meses + 45 dias (PBPS, art. 15, § 4º), caso atenda aos de- mais regulamentos da lei. Note-se o desenvolvimento da qualida- de de segurado: a) podia ser tida antes de ser preso; b) ser mantida durante o cum- primento da pena; e, c) estendida por 12 meses + 45 dias. Quem não a tinha não se beneficia dos 12 meses + 45 dias (caso não tome a iniciativa de contribuir dentro da prisão). Não detendo a condição de contribuinte individual, o detento ou recluso, caso quei- ra, filiar-se-á como segurado facultativo, fazendo jus a todos os benefícios ineren- tes a essa condição de ocioso. A alíquota é de 20% e a base de cálculo é de sua escolha, variando de R$ 678,00 até R$ 4.159,00, em 2013. Sua família pode- rá preencher o Carnê de Pagamento e ir à rede bancária fazer os recolhimentos men- sais. Vale relembrar que o presidiário não é empregado do Estado, do presídio nem da empresa para a qual eventualmente pres- te algum serviço externo; em raras hipóte- ses, a CLT será invocada em seu favor. Enquadrado no art. 12, V, h, do PCSS, a Lei nº 9.876/99 abrigou “a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não”. Olvidando essa desnecessária “nature- za urbana”, o RPS o tem como contribuin- te individual e igual se colhe na Instrução Normativa do INSS nº 20/07. Na condição de contribuinte individual, a empresa re- terá 11% da remuneração e a recolherá ao FPAS, juntamente com a parte patronal (20%). Em raríssimos casos, não fica descarta- da a possibilidade de ser entendido como empregado de uma empresa, se preencher com precisão os requisitos do art. 3º da CLT. c) BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE – fi- cando incapaz para o trabalho penitenciá- rio, o presidiário fará jus ao auxílio-doença ou à aposentadoria por invalidez. A inapti- dão para o trabalho poderá sobrevir no am- biente prisional ou nas empresas (trabalho externo). Ou de trajeto, do estabelecimen- to penal até a empresa. Caso ele tenha alguns dependentes e eles estejam recebendo o auxílio-reclusão terá de optar conforme a Lei nº 10.666/03. No ordenamento brasileiro, é impossí- vel um dependente fazer jus ao benefício outorgado por segurado (como o auxílio- -reclusão) se ele, ao mesmo tempo, estiver auferindo uma prestação. Contribuindo (como facultativo), ainda que não esteja trabalhando, esse segurado poderá requerer os benefícios se estiver incapaz para um trabalho (que não exerce). A possibilidade de haver reabilitação profissional depende apenas davontade do Estado e da organização penitenciária materialmente poder oferecer esses ser- viços pessoais de recuperação da aptidão para o trabalho. d) Aposentadorias Possíveis – preenchi- dos os requisitos legais subsiste o direito à aposentadoria por tempo de contribuição e por idade. Raramente fará jus à aposen- 26 2726 tadoria especial. Esses direitos podem ser inteiramente realizados no presídio, pelo menos para quem está condenado a 30 anos de prisão. Nenhum desses benefícios agora lembrados exige exame médico pe- ricial e bastará ao segurado preencher os requisitos legais. e) Salário-Maternidade – mulher sen- tenciada cumprindo pena que se filiou à previdência social fará jus ao salário-ma- ternidade na condição de contribuinte in- dividual ou facultativa. f) Salário-Família – em virtude do re- cluso não ser empregado é difícil configu- rar o direito ao salário-família. Recebendo benefício em razão de filhos e de um con- trato de trabalho (que foi suspenso ou até extinto), cessará a remuneração laboral e o benefício previdenciário. g) Prestações Acidentárias – traba- lhando, um detento ou recluso pode sofrer quatro tipos de infortúnios: i) acidente tí- pico (traumático); ii) doença do trabalho; iii) doença profissional; e, iv) acidente de qualquer natureza ou causa. Os três primeiros no exercício de ati- vidade profissional; o último, fora dessa atividade (por exemplo, durante o entrete- nimento esportivo). Durante o transporte de ida da cela para a empresa ou desta de volta à cela, poderá ser vítima de acidente. São devidos, portanto, o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez acidentária e o auxílio-acidente. h) Auxílio-Reclusão – o auxílio-reclusão, um direito dos dependentes do preso, é o benefício mais polêmico, principalmen- te por ocasião da fuga ou da percepção de remuneração ou benefício. A Lei nº 10.666/03 fornece duas informações: a) o benefício é acumulável com a remunera- ção do presidiário e b) não há direito ao au- xílio-doença (o legislador esqueceu-se da aposentadoria por invalidez) ou à aposen- tadoria combinada com o auxílio-reclusão. i) Previdência Complementar – a Lei Bá- sica da Previdência Complementar - LBPC (LC nº 109/01) não enfoca assinaladamen- te os presidiários. Entende-se que afas- tado temporariamente da empresa pa- trocinadora em virtude do recolhimento à prisão, ele poderá continuar contribuindo como autopatrocinado com aportes men- sais que serão materialmente operados pelos seus dependentes. Com a internação no presídio, sobrevin- do ruptura do vínculo trabalhista, pensar- -se-á no art. 14, l/IV (autopatrocínio, ves- ting, portabilidade ou resgate). No caso do assistido, continuará auferindo a comple- mentação antes devida. Estando em risco iminente, requererá o benefício a qualquer tempo. Nada impede que um presidiário filie-se a um plano aberto de previdência complementar. Da mesma forma, sacará os valores correspondentes como foi conven- cionado. j) Seguro-Desemprego – enquanto es- tiver recolhido à prisão e na condição de presidiário não há direito a essa prestação securitária; o desempregado vive custea- do pelo Estado. Se já auferia o benefício, os pagamentos serão suspensos com o reco- lhimento à prisão, imaginando-se que após o livramento possam ser retomados tais desembolsos. 26 2727 UNIDADE 7 - Assistência pessoal Quem deixa a liberdade física que des- frutava e é recolhido a um estabelecimen- to penal, onde ficará um longo período, vive com limitações dos seus movimentos e em circunstâncias especiais que afetarão sua personalidade. Além de ter afetado o seu ser, isolado do mundo familiar, grupal e social, alguns não mais terão contato com a evolução da tec- nologia e restarão defasados no mercado de trabalho. Os que não tinham um ofício desenvolvido poderão aprender alguma profissão. Nessas condições, derivando do afas- tamento da sociedade, retenção em cela individual ou coletiva, enfim, do cumpri- mento da pena, erodindo a dignidade e os direitos de cidadão, fica pelo Estado, por isso, o regime prisional, na medida do pos- sível, obriga-se a oferecer-lhe algum con- forto material e moral compatível com as circunstâncias. Ou seja, é dever do Estado assisti-lo em suas necessidades de pessoa física que cometeu um crime, uma vez que vive privado da liberdade num ambiente excepcional, com muitas restrições, e mais obrigações do que direitos. a) Assistência Material – o preso cum- prirá a pena em celas individuais, coletivas, colônias agrícolas, albergues ou na própria residência. No local em que o sistema pe- nitenciário estadual permitir. Vestir-se-á com as roupas trazidas pela família e con- forme o caso obrigado à utilização de uni- forme prisional. A alimentação será forne- cida pela cozinha do local do cumprimento da pena. O art. 41 da LEP - “constituem di- reitos do preso” – inicia os 16 itens, falando numa alimentação fornecida pelo detentor. Frequentemente são três refeições: desje- jum, almoço e jantar. Os doentes farão jus à refeição apropriada. Assegura, também, “instalações higiênicas” (art. 12). b) Defesa da Moral – a LEP não distin- guiu a assistência moral, provavelmente pulverizou-a em vários pequenos direitos, como é o caso da “proteção contra qualquer forma de sensacionalismo” (art. 41, VIII). O direito à personalidade carece ser respei- tado em toda a sua integridade. A despeito do crime que foi cometido, confessado ou não, e que determinou sua condenação, a punição prevista na lei é a que consta do CP, do CPC e da LEP. Todo o tempo o preso pensa na sua liberdade, usualmente me- diante a soltura legal. Na verdade, sem- pre ele deve ser preparado para isso, mas quando esse momento está para chegar é mais importante ainda. c) Assistência Social – a assistência social e familiar é prevista nos arts. 22/23 da LEP, devendo ser desenvolvida na medi- da do possível. d) Acompanhamento Jurídico – o preso tem direito à assistência jurídica, que é muito importante. Poderá contra- tar advogados, recebê-los e, se não tiver condições, contará com a assistência ju- diciária estatal, particularmente a previs- ta na Constituição Federal. Cada Estado da República tem obrigações legais para manter um sistema de atendimento jurídi- co. O amparo jurídico é relevantíssimo; os direitos do preso são complexos, de difícil realização e, em muitos casos, todo o pro- cesso que se seguiu à condenação pode 28 2928 estar sub judice. A possibilidade de provar sua inocência, que vigeu enquanto esteve em liberdade, prossegue com ênfase du- rante o cumprimento da pena. Existir um exemplar da Carta Magna, do Código Penal, do Código de Processo Penal e da Lei da Execução Penal na biblioteca da prisão em muito auxiliará a todos. e) Educação Profissional – a educação do preso é ampla. Ela significa curso de al- fabetização, ensinos fundamental e médio; principalmente cursos de profissionalização. Habilitar o egresso para o exercício de uma atividade laboral é um grande passo para permitir-lhe, se ele quiser, a ressocialização, isto é, a reinserção no mercado de trabalho e, por conseguinte, na comunidade. f) Cultura Humanística – estudo e cul- tura são importantes para sua remissão. g) Culto Religioso – observado o prin- cípio da diversidade confessional e de não obrigação de participação nas cerimônias, o presidiário tem direito à assistência religio- sa. O ideal é que exista um espaço físico para isso, pelo menos uma capela, onde ocorram os atos de devoção. h) Convivência Familiar – a assistência familiar consiste num conjunto complexo de ações, como a permissão de visitas, contatos telefônicos ou pessoais e até mesmo pela in- ternet. i) Atividades Esportivas – o estabeleci- mento penaltem o dever de manter insta- lações adequadas para a prática de esporte, pelo menos um campo de futebol, basquete ou vôlei. j) Desenvolvimento Artístico – o deten- to ou recluso não está impedido de aprender, desenvolver ou aperfeiçoar as suas aptidões artísticas. 28 2929 UNIDADE 8 - Cuidados sanitários O atendimento à saúde é um caso par- ticular da assistência material devida aos presos, bastante enfatizada quando da internação de inimputáveis determinada pelas medidas de segurança. Quando se fala em saúde se quer dizer a fisiológica e a psicológica, e também con- siderada a laboral, isto é, aquela que pro- picia a capacidade para o trabalho. Sempre que possível, com serviços de habilitação e reabilitação profissional. Claro, até mesmo com cuidados com o meio ambiente, parti- cularmente nas Colônias Agrícolas (MARTI- NEZ, 2010). a) Direito Constitucional – de forma lapidar, objetiva e bombástica, diz o art. 196 da Carta Magna que “a saúde é direi- to de todos e dever do Estado”, garantindo acesso universal igualitário às ações e ser- viços. Se for para todos, a fortiori também para os presidiários. b) Norma Legal – o art. 14 da LEP diz que o preso tem direito à assistência à saú- de compreendendo o “atendimento médi- co, farmacêutico e odontológico”. Como se verá, inclui também os serviços ambulato- riais e, conforme a necessidade, as cirur- gias hospitalares. Quer dizer, em caso de necessidade ele será atendido no próprio pronto-socorro penitenciário, no serviço médico do presídio ou fora dali, nas clíni- cas, no consultório ou nos hospitais do SUS ou particulares. c) Serviço Próprio – tal qual uma em- presa, o presídio terá o seu próprio sis- tema de atendimento médico e excep- cionalmente é que o apenado deixará o estabelecimento penal para ser atendido. Essa mesma instituição acompanhará a saúde do presidiário, fará exames, emitirá laudos e autorizará licença médica em re- lação ao trabalho. É evidente que cadeias públicas, centros e casas de detenção ou delegacias de polícia, em virtude de suas precárias instalações, não têm condições de oferecer o atendimento à saúde. d) Internações Hospitalares – as in- ternações em hospitais são promovidas nos casos imprescindíveis e com a devida segurança dos internados e demais pesso- as à sua volta. e) Autorizações para Saída – o art. 14,§ 2º, da LEP disciplina a saída dos presi- diários para tratamento fora do presídio. f) Cuidados Mínimos – o estabeleci- mento penal observará: i) Instalações sanitárias condizentes. ii) Campanhas sanitárias. iii) Ações de vigilância sanitária e epide- miológica. iv) Saneamento básico interno. v) Controle da cozinha, na preparação dos alimentos, fiscalizando-os, compreen- dido o controle de seu teor nutricional. g) Inspeção Médica – periodicamente devem ser realizadas inspeções médicas de todos os apenados, para a verificação do seu estado de saúde, em particular no que diz respeito às doenças infecciosas. Seria o caso, eventualmente, de pensar em exame de inclusão e de exclusão, ou seja, o apenado ser examinado por ocasião da prisão e de sua saída. Quando de medidas 30 3130 de segurança, a situação dos internados reclama uma atenção maior por parte das autoridades penitenciárias. h) Campanhas Profiláticas – o presi- diário deve ser objeto de todas as campa- nhas compatíveis, especialmente aquelas que impliquem em vacinações. i) Atendimento às Mulheres – a inter- nação de mulheres em penitenciária impõe um atendimento especializado em relação às suas necessidades. j) Inimputáveis e Semi-Imputáveis – aqueles que tiveram de ser internados em hospitais psiquiátricos são merecedores de uma atenção especial do sistema peniten- ciário. Se não for possível ressocializar, os demais apenados terão de usufruir de um cuidado muito maior (MARTINEZ, 2010). 30 3131 UNIDADE 9 - Reintegração / Reinserção / Ressocialização Antes de começarmos nossas reflexões sobre os temas acima, vamos tentar defini- -los da forma mais simples e breve possível: Segundo o Ministério da Justiça (DEPEN, 2007), as ações de reintegração social po- dem ser definidas como um conjunto de in- tervenções técnicas, políticas e gerenciais levadas a efeito durante e após o cumpri- mento de penas ou medidas de segurança, no intuito de criar interfaces de aproximação entre Estado, Comunidade e as Pessoas Be- neficiárias, como forma de lhes ampliar a re- siliência e reduzir a vulnerabilidade frente ao sistema penal. Partindo-se desse entendimento, vê-se que um bom “tratamento penal” não pode residir apenas na abstenção da violência fí- sica ou na garantia de boas condições para a custódia do indivíduo, em se tratando de pena privativa de liberdade: deve, antes dis- so, consistir em um processo de superação de uma história de conflitos, por meio da pro- moção dos seus direitos e da recomposição dos seus vínculos com a sociedade, visando criar condições para a sua autodeterminação responsável. A Ressocialização, por sua vez, busca de- senvolver relações sociais entre indivíduos que em algum tempo já o tiveram. A retira- da do homem da sociedade e de seu tempo, prendendo-o a um passado denominado de- lito, de forma alguma é capaz de restabele- cer socialização, partindo-se do pressuposto de que esse cidadão já ter sido considerado socializado. Não há como conciliar prisão e ressocialização. Reintegração social, é assim todo um pro- cesso de abertura do cárcere para a socieda- de e de abertura da sociedade para o cárcere e de tornar o cárcere cada vez menos cárce- re, no qual a sociedade tem um compromis- so, um papel ativo e fundamental. Enfim, a Reintegração do preso não será uma simples recuperação do mesmo, mas deverá supor a participação ativa dos mais diversos segmento sociais, visando reinte- grar o sentenciado no seio da sociedade (SU- SEPE, 2010). Falconi (1998) distingue os termos ree- ducação e reinserção social e faz a seguinte reflexão: ‘Reeducar’ pressupõe dar educação novamente. Ou será que o recluso re- cebeu a educação apropriada no tempo preciso?... Qual o conceito de educação para o sistema penitenciário?... estariam, ... ‘educados os próprios agentes e fun- cionários para desempenharem a função que exercem? Pelo que se vê, não. É claro que a regra guarda certa exceção, mas no caso em debate esta é mínima’ (FALCONI, 1998, p. 114). Para ele, o termo possui caráter de domi- nação, de acordo com o que se percebe pelo tom do relacionamento entre funcionários, gestores e internos das prisões brasileiras. O sistema é de obediência cega, correspon- dendo ao estilo militar, no qual o respeito às regras se impõe não pela conscientização, mas pela ameaça e, do outro lado, pelo temor ou pela “picardia” que o universo do cárcere lhe transmitiu. Para explicar a ressocialização, Falconi 32 33 (1998, p. 116) se vale do filósofo Espino- za e explica a existência de três correntes doutrinárias básicas a serem consideradas. A primeira que entende ser o delinquente pessoa passível de tratamento psiquiátri- co, de acordo com o disposto nas seguintes obras: “Correcionalismo”, “Defesa Social” e a “Pedagogia Criminal”. Outra corrente trata a problemática da pena como “medida que castiga para ressocializar”, essas embasa- das nas teorias Psicanalítica e na Marxista. A Psicanalítica afirma ter o Estado o direito de aplicar a pena, tendo se fundamentado nos ensinamentos de Freud, enquanto que a Marxista teve apoio nas interpretações de Adler. Por último Espinoza trata de teorias que explicam a necessidade da ressocializa- ção que são: “Ressocialização Legal”, “Teoria das Expectativas” e “Teoria da Terapia Social Emancipadora” que segundo essas, “o delito não é somente uma responsabilidade
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