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Escola de Regulação Francesa e o Capitalismo

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Aula 1- Educação Profissionale o Contexto Econômico ePolítico
A Escola de Regulação Francesa
• As transformações atualmente em curso nos cenários econômico,
político e social têm sido analisadas por diferentes correntes do
pensamento teórico. Entre elas se destaca a interpretação da
Escola de Regulação Francesa (que tem como principais
defensores Aglietta e Coriat). Parte-se da compreensão de que a
teoria da regulação é a explicação que fornece o melhor
instrumental teórico para analisar e compreender a reestruturação
urbana e industrial atual
Dois conceitos são caros à Teoria da Regulação:
• O regime de acumulação, que busca compreender o modo como
se dá o processo de acumulação capitalista e mostra como esse
processo está assentado sobre princípios gerais de organização do
trabalho e de uso das técnicas que constituem um paradigma
tecnológico.
• O modo de regulação, que busca explicar como esse regime de
acumulação funciona e se consolida através de mecanismos
superestruturais, isto é, de mecanismos jurídicos e políticos.
A Escola Francesa de Regulação vê as transformações pelas quais o capitalismo da atualidade vem passando como fruto de uma crise do regime fordista de acumulação (e do seu modelo de organização do trabalho, o taylorismo) e do seu modo de regulação (o Welfare State). 
• O processo de acumulação capitalista, durante os 30 anos que se seguiram à segunda guerra mundial, foi marcado pela presença do paradigma tecnológico fordista e por um conjunto de relações econômicas, sociais e políticas (o Estado de Bem Estar Social), que garantiram a conquista de um nível elevado de produção e consumo, eficaz na preservação do processo de acumulação do capital. 
• Assim, o regime de acumulação fordista estava fundamentado numa produção e num consumo de massas, em economias de escala e estava associado a um determinado marco institucional – o Estado de Bem-estar social, que implementava amplos sistemas de seguridade social e atendia a demandas sociais de vários tipos, regulando o processo de acumulação capitalista
 O paradigma taylorista-fordista
Assim, o processo de acumulação capitalista esteve estava assentado no fordismo, que envolvia um modo de organização da produção e do trabalho próprio da maquinaria, uma forma de organização do trabalho e um estilo de gestão específicos. Esse paradigma, denominado por muitos de paradigma taylorista-fordista, se caracteriza pela presença da grande empresa e pela estrutura oligopólica, e é marcado pelo uso da máquina em grandes unidades produtivas e pela incorporação de grandes massas de trabalhadores
Características da estrutura produtiva que se consolidou no pós-guerra:
• crescimento internacional da produção e da produtividade; 
• presença da indústria como centro que irradia e sinaliza a evolução dos demais setores da economia;
 • liderança dos setores industriais voltados para a produção em massa de bens de consumo duráveis; 
• incremento do comércio internacional; 
• crescimento dos mercados internos dos países do capitalismo central; 
• aumento da participação do emprego industrial e nos serviços (que passam a assumir a lógica industrial); 
• queda da participação do emprego agrícola;
 • abandono das fontes sólidas de energia, que são substituídas pelo petróleo.
 O paradigma taylorista-fordista
• Nesse período, os princípios tayloristas de organização do trabalho, introduzidos desde o fim do século XIX, consolidam-se na indústria e, paulatinamente, se expandem para o setor de serviços.
 • A indústria operava com equipamentos rígidos, adequados à produção em larga escala e era provocadora de grande rotatividade da força de trabalho. Adotava-se um processo de trabalho igualmente rígido, onde havia uma intensa divisão e fragmentação do trabalho, com acentuado controle da supervisão, adequados ao funcionamento de linhas de produção. Os trabalhadores passavam a exercer tarefas específicas, fixas, repetitivas e monótonas. Articulada à produção em massa de produtos de consumo padronizados, a organização do trabalho fordista se impõe como uma importante estratégia de racionalização da produção
 Princípios do taylorismo
• Separação entre Concepção e Execução do processo de trabalho
 • Intensificação do trabalho pela sua racionalização científica, pelo estudo dos tempos e movimentos dos trabalhadores, eliminando os movimentos inúteis pela determinação das formas “adequadas” para a realização do trabalho→ the one best way
. • Controle de tempos e movimentos → fim da porosidade 
• Cada tarefa → um posto → recrutamento →melhor homem para o lugar.
 • Estímulo → prêmios por produção. 
• Estrutura hierarquizada
 Ford e as linhas de montagem
• Ford amplia a lógica taylorista, aplicando os princípios tayloristas nas produções em larga escala, instituindo as linhas de montagem. No fordismo, a obrigação de respeitar os tempos determinados não está mais ligada a esquemas de recompensa e prescrição, nem à adoção dos movimentos “adequados”, mas à velocidade da esteira. O ritmo de trabalho é deslocado do individual para o coletivo. 
• Arrumados em fila, cada operário executa apenas uma parcela do trabalho. Os operários não saem do seu posto de trabalho e a esteira leva o produto. Com a esteira mecânica, não era mais necessário realizar os movimentos corretos, mas sim obedecer ao ritmo da esteira. Assim, eram eliminados os tempos mortos e o trabalho intensificado. Quanto mais depressa a esteira se movia, mais intenso era o ritmo de trabalho dos operários
Características do fordismo: 
• a separação entre concepção e execução se intensifica
 • concepção → trabalho qualitativo → fora de linha produção
 • execução do trabalho – trabalho fragmentado e repetitivo → desqualificação 
• salário elevado
 • controle e disciplina fabris → para eliminar a autonomia e o tempo ocioso.
 • lotes padronizados
 • consumo de massa
 • máquinas rígidas
 • velocidade e ritmo do trabalho estabelecidos pelas 
• mecanização - produção em larga escala tendo em vista ao consumo de massas.
 • linha de montagem - esteira → fluxo contínuo de peças → redução de tempos mortos. 
• Os trabalhadores tanto no taylorismo quanto no fordismo eram desqualificados, pois apenas executavam uma parcela do processo de trabalho. No taylorismo, bastava executar os movimentos planejados pela gerência, e no fordismo, obedecer o ritmo ditado pela esteira
 O ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL
• O padrão de acumulação fordista supunha a presença de um Estado planejador, regulador do processo de acumulação, articulador dos interesses conflitantes entre capital e trabalho. 
• O Estado de um lado impede que os capitalistas ponham em risco o próprio sistema com sua ânsia por lucros. Nesse sentido intervem nos mercados, estabelecendo subsídios, preços mínimos, estoques reguladores. O Estado contribui para o processo de acumulação capitalista também quando constrói obras de infra-estrutura para diminuir os custos da circulação das mercadorias. De outro lado, o Estado de Bem-estar Social desenvolve uma política de pleno emprego e políticas sociais (tais como: saúde, habitação, educação, previdência social , etc) para que a classe trabalhadora tenha condições de consumir a produção fordista e garantir os lucros. Essas políticas sociais eram universais, isto é, valiam para todos. O Estado de bem-estar desenvolvia uma política de pleno emprego e a redução das desigualdades, através desta rede de serviços sociais. Ele foi o responsável pela distribuição de benefícios sociais e criou as condições de possibilidade de universalização dos direitos sociais de cidadania. Por isso os sindicatos e as classes trabalhadoras o legitimavam
• O Estado realizou de modo sistemático o planejamento e a administração econômica, de modo a garantir a reprodução ampliada do capital. A adesão da classe trabalhadora ao novo projeto político teve como núcleocentral o compromisso estatal com dois aspectos: o pleno emprego e a redução das desigualdades, obtida através da rede de serviços sociais gerados pelo Estado de bem-estar. 
• Neste período que se seguiu ao pós-guerra, o Estado de Bem-estar Social atuou como um regulador e assegurou um equilíbrio entre os níveis de salário, consumo e produtividade.
 A CRISE DOS ANOS 70
• A realidade do desenvolvimento das economias capitalistas dos anos dourados foi alterada pela crise que se iniciou nos anos 70. O dinamismo do padrão de industrialização esgotou-se, os mercados internacionalizados saturaram-se, cresceu a financeirização da riqueza produzida, ampliou-se a concorrência intercapitalista, o processo inflacionário foi iniciado e contatou-se uma retração dos investimentos. A elevação dos preços do petróleo em 1973 contribui para a ampliação da crise.
 • A globalização e o domínio do capital financeiro predominam no mundo após os anos 70. O capital financeiro passou a comandar o sistema. São os bancos que mantêm o domínio do capitalismo. Esse processo é chamado de financeirização da economia, por oposição ao processo anterior, onde a indústria predominava (processo de industrialização). 
• Deflagrada pelo esgotamento do bem-sucedido período de acumulação capitalista, essa crise inaugurou uma nova fase do capitalismo e determinou profundas transformações em todas as esferas da vida social
A INTERPRETAÇÃO NEOLIBERAL DA CRISE
 São muitas as leituras dos processos que demarcaram a crise. 
• Na avaliação do pensamento neoliberal, a promoção do crescimento por meio da associação das políticas fiscal e monetária com a concessão de benefícios sociais desenvolvidos pelo Estado de Bem-Estar Social teria levado à ampliação de déficits orçamentários que, por seu turno, acabaram por ampliar a dívida pública, restringir o investimento privado e provocar processos inflacionários. • Em síntese, a obstrução das leis espontâneas dos mercados imposta pelo corporativismo e pela intervenção estatal seria a responsável pela inflação, pelo aumento do desemprego e pelo baixocrescimento econômico, fenômenos que começam a surgir na década de 70
Os neoliberais e o combate à crise
• Segundo o receituário neoliberal, a economia só voltaria a crescer quando fossem abolidos os estímulos e as restrições impostas ao mercado. Nesse sentido, a cartilha neoliberal recomenda o combate aos mecanismos de intervenção e defende a eliminação das barreiras à livre movimentação de capital-dinheiro; a eliminação das políticas protecionistas às empresas, deixando os mercados de bens submetido à concorrência global; além da flexibilização das relações trabalhistas. 
• Os neoliberais defendem a reconstituição do mercado, da competição e do individualismo, como argumentos básicos para as mudanças realizadas tanto no âmbito da política econômica, quanto nas políticas sociais. 
• Propõem a eliminação da intervenção do Estado na economia, seja no que diz respeito ao planejamento mais sistemático, seja no que concerne à sua atuação enquanto produtor direto, através da desregulamentação das atividades econômicas e da privatização.
O ESTADO NEOLIBERAL
• O pensamento neoliberal, com suas críticas à ineficiência e ao caráter “desestabilizador” do Estado de bem-estar se torna hegemônico e sai vitorioso com a eleição dos governos conservadores, trazendo a necessidade de romper com as antigas estratégias de condução das políticas econômicas e sociais.
 • Busca-se adequar o Estado às exigências impostas pela adoção de um novo padrão de acumulação e desencadear uma nova etapa de expansão capitalista, atrelada a um novo ciclo de concentração de capital. Tratava-se de criar as condições políticas para a realização deste projeto, mediante a fragilização das organizações reivindicatórias da classe trabalhadora. Nessa perspectiva, a destruição das instituições de bem-estar contribuiriam para ampliar a competição entre os indivíduos e a competitividade das empresas.
 • Os anos 80 e 90 são marcados por mudanças no âmbito estatal que correspondem a alterações de rota na configuração das políticas sociais desenvolvidas pelos Estados de Bem-estar que se consolidaram nos países centrais no pós-guerra
A Acumulação flexível
A profunda recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, colocou em movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em conseqüência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político. No espaço social criado por todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos domínios da organização industrial e da vida social e política começaram tomar forma. Essas experiências representaram a constituição de um regime de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentação política e social bem distinta, o Estado Neoliberal. É neste momento que se inicia a transição do fordismo para o pós – fordismo, também denominado acumulação flexível
• A acumulação flexível é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos, dos produtos e dos padrões de trabalho e produção. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novos mercados e elevada inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas. 
• Importante ressaltar que grandes mudanças tecnológicas fundamentaram o início do pós – fordismo, sendo a Terceira Revolução Industrial responsável por diminuir as distâncias e transformar a organização da produção.
Exercício aula 1
		1-Nos modelos Taylorista/Fordista o trabalhador realiza _Atividades motoras____ repetitivas, de forma mecânica; já no modelo Toytista exige-se do trabalhador capacidade de abstração, de formação de conceitos, correlacionadas às Atividades cognitivas.
	
	
2-É possível caracterizar o Estado de Bem-estar Social como:
uma ação de intervenção na economia, voltada para o desenvolvimento de políticas sociais para todos
3-Assinale a opção que indica uma característica da produção fordista
produção em larga escala, onde há intensa divisão e fragmentação do trabalho	
4-Sobre o Estado de Bem-Estar Social, que surge no contexto das graves crises do capitalismo mundial no início do século XX, assinale a alternativa correta.
elevação do gasto público para manter os bens primários garantidos à população tais como: segurança, educação e saúde.	
5-As transformações atualmente em curso nos cenários econômico, político e social têm sido analisadas por diferentes correntes do pensamento teórico. Entre elas se destaca a interpretação da Escola de Regulação Francesa que tem como principais defensores Aglietta e Coriat. A partir da linha de pensamento da Escola de Regulação Francesa, assinale os conceitos defendidos pela mesma:
um sistema de precisa crescer, se expandir, se acumular. Ele se concentra nas mãos de um grupo cada vez menor. Passa por crises cíclicas e estruturais.
6-Após a crise de 1929 o Estado passou a intervir com maior vigor na economia para gerar empregos e melhorar a vida da população. A que política o texto se refere?
Estado de Bem Estar Social.
7-Segundo Deluiz (2004), num contexto de globalização econômica e de novas formas de organização da produção e do trabalho pode-se afirmar que:
Apenas as alternativas 1, 2, 3 e 5 estão corretas.
 1)A divisão técnica do trabalho ficou menos evidenciada e o trabalho em equipe passou a substituir o trabalho individualizado;
 2) As tarefas do posto de trabalho e o trabalho individualizado foram anuladas pelas funções polivalentes, nas chamadas ilhas de produção;
 3) O trabalho torna-se cada vez mais abstrato , mais intelectualizado, mais autônomo, coletivo e trabalhador;
 5) O trabalho repetitivo e prescrito dá lugar a um trabalho de arbitragem, de tomada de decisãoe resolução de problemas.
	
	8-Assinale a opção que NÃO indica uma característica da produção fordista:
	
	
1-uso da máquina em grandes unidades produtivas e incorporação de grandes massas de trabalhadores
2-o emprego migra do setor industrial para o setor de serviços, com a indústria perdendo a sua centralidade na organização da produção
3-a mecânica e a eletromecânica são aplicadas em máquinas rígidas, voltadas para a fabricação de produtos padronizados
4-ocorre a produção em larga escala, onde há uma intensa divisão e fragmentação do trabalho
5-os trabalhadores exercem tarefas específicas, fixas, repetitivas e monótonas, havendo uma real desqualificação operária.

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