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ASPECTOS CULTURAIS DA MORTE E DO MORRER NO OCIDENTE E NO ORIENTE • Assim como o nascer, a morte faz parte do processo de vida do ser humano. • É algo natural do ponto de vista biológico, mas, caracterizado, principalmente, pelos aspectos simbólicos, ou seja, pelo significado ou pelos valores que ele imprime às coisas. INTRODUÇÃO Em relação à morte e ao processo de morrer , cada sociedade tem comportamentos, hábitos, crenças e atitudes, que oferecem aos indivíduos uma orientação de como devem se comportar e o que devem ou não fazer, refletindo a cultura de cada região INTRODUÇÃO • A morte é um fato biológico, mas, além disso, tem aspectos sociais, culturais, históricos, religiosos, legais, psicológicos, de desenvolvimento, médicos e éticos, e, muitas vezes, eles estão intimamente relacionados. • A crença religiosa professada pelo indivíduo é muito importante, pois é por meio dessa crença que ele fará a interpretação da morte. INTRODUÇÃO Cada realidade cultural tem a sua lógica interna, por isso é relevante conhecê-la para atribuir sentido às suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam INTRODUÇÃO Os aspectos culturais da morte incluem: •O cuidado e o comportamento perante os moribundos e os mortos •O contexto onde a morte geralmente acontece •Os costumes e os rituais de luto INTRODUÇÃO “Pesquisas demonstram que pessoas com forte grau de envolvimento religioso, independente da crença, geralmente têm menos medo da morte”, afirma a psicóloga Maria Júlia Kovácz, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM) da USP e autora de Morte e Desenvolvimento Humano. “A fé ajuda a superar a ansiedade em relação à ideia de finitude”, diz ela. Para o psicanalista Roosevelt Cassorla, “na religião o indivíduo convive melhor com a finitude porque lá encontra certezas sobre por que vive, por que morre e o que acontece após a morte.” INTRODUÇÃO • As concepções do Oriente e do Ocidente referem-se a duas regiões geográficas diferenciadas principalmente em aspectos culturais. • A identificação do Ocidente como uma unidade começou com o contato militar (As Cruzadas) e o comércio com países culturalmente muito diferentes da Europa que agora conhecemos como Oriente: as culturas árabe, muçulmana e asiática em geral. ORIENTE X OCIDENTE • Por outro lado, o continente americano, que foi totalmente colonizado pelas culturas europeias, é considerado o Ocidente, mas não precisamente por sua localização na Europa Ocidental, mas por sua identificação cultural com a cultura de origem ORIENTE X OCIDENTE A MORTE NO ORIENTE • Os orientais não têm a mesma visão da morte que os ocidentais. • A morte para chineses, japoneses, tibetanos e indianos, influenciados pela cultura budista, é ocasião de júbilo. • O budista chora quando nasce uma criança e ri quando se vai um morto. Acreditam que morte é renascimento. Em vez de preto, usa branco para celebrar o luto. A MORTE NO ORIENTE • Na filosofia oriental, existem práticas específicas de preparação para a morte. A principal delas é a meditação, que tem o objetivo de domar a mente, a ansiedade e as emoções negativas sempre – mas especialmente no momento em que a pessoa se aproxima da morte. • A maior tranquilidade dos orientais em relação à finitude se expressa também no maior respeito em relação aos velhos. As pessoas que se encaminham para o final da vida são respeitadas. E, não raro, têm suas existências festejadas. Não são tornadas invisíveis e indesejáveis, como ocorre com frequência no mundo ocidental. A MORTE NO ORIENTE •Crença na possibilidade de libertação do sofrimento. A Arte de Morrer - Enfrentamento da morte não só de forma lúcida, calma e heróica, mas com o intelecto corretamente dirigido para a superação e sublimação mental da dor e do sofrimento proporcionados pela enfermidade do corpo, como se praticado corretamente a Arte de Viver (KÒVACS). • Na abordagem budista, a vida e a morte são vistas como um todo, sendo a morte o começo de um novo capítulo de vida. A morte é um espelho no qual o inteiro significado da vida é refletido (RINPOCHE, 1999) • A morte é vista como um processo que favorece a evolução do ser humano e por isso deve se propor ensinamentos que propiciem o crescimento ainda em vida – busca a iluminação como ocorrido com Buda A MORTE NO ORIENTE • Para os budistas, paraíso e inferno nada mais são do que ilusões criadas pela consciência alienada, das quais é necessário que nos desembaracemos o mais depressa possível. • O Budismo desenvolve uma verdadeira “pedagogia da morte”, algo que o mundo ocidental moderno, consumista e materialista, simplesmente desconhece. A MORTE NO ORIENTE • Os budistas reconhecem o Princípio da Impermanência ou da transformação incessante, a que todos os seres estão sujeitos. • O ser humano há que cultivar o desprendimento, o desapego e o altruísmo, fatores que enfraquecem os laços os mantêm exilados nas trevas e facilitam o encontro com a Sabedoria Libertadora A MORTE NO ORIENTE • Certas escolas budistas como o Lamaísmo Tibetano desenvolvem complexas disciplinas mentais destinadas a fazer do instante da morte física uma preciosa oportunidade para a Libertação Espiritual. A MORTE NO ORIENTE • Outras, como a Verdadeira Escola da Terra Pura, preferem criar uma situação em que já na nossa consciência ordinária do dia a dia estaremos preparados para enfrentar a morte, sem necessidade de um treinamento especial visando ao instante final. Essa preparação se faz ouvindo constantemente os ensinamentos budistas e refletindo sobre nossas vidas à luz dos mesmos. A MORTE NO ORIENTE A MORTE NO ORIENTE Bel Cesar (2001) escreveu uma obra baseada na filosofia budista (Morrer não se improvisa): • é necessária preparação para o processo de morrer envolvendo paciente e familiares •Na morte ocorre apenas a desintegração do corpo, mas a mente continua o processo de desenvolvimento, transição e transformação •Morremos como sempre vivemos, observando-se um forte entrelaçamento entre vida e morte • Para os tibetanos, a consciência da morte e o alerta são fundamentais • Upanishads – ensinamentos oferecidos pelos sábios iogues – desenvolvimento psicológico e espiritual para que não se perca tempo com trivialidades e tentações • A morte é transição para novas reencarnações • Livro tibetano dos mortos (Bardo Thodol) - “Libertação pela Audição no Plano do Pós-morte” - é um método iogui de se chegar ao Nirvana (felicidade eterna / ausência de sofrimento) A MORTE NO ORIENTE BARDO THODOL • A morte é um processo iniciativo para uma nova vida • Engloba três estágios: A MORTE NO ORIENTE • Chikkai bardo- momento da morte • Chonyd bardo - estado de sonho logo após a morte: experimentação da realidade • Sidpa bardo - renascimento • Cada um destes com sua especificidades e instruções detalhadas para uma melhor vivência e o autoconhecimento De acordo com os tibetanos ➔ Existem três estágios de disciplina que levam ao autoconhecimento: •Escuta; •Reflexão e •Meditação; ➔ Seguindo o ensinamento do “Livro”, a vida e a morte serão encaradas de forma diferente. ➔Vivência pacífica da morte: através da correta prática de uma fidedigna Arte de Morrer, a morte terá então perdido o seu estado negativo e redundará em vitória. • Avanços da tecnologia (antibióticos, cirurgia, exames,entre outros) aumento da expectativa de vida. • Familiares e amigos negam a morte. • Os profissionais, “onipotentes” prolongam a “vida”- o médico é o profissional que define a questão da vida e da morte. • O homem angustia-se frente ao seu ser mortal. Adoecer e morrer são, então, suas preocupações permanentes. A MORTE NO OCIDENTE • A partir do século XII ocorreram mudanças significativas nas representações da morte no ocidente. • Gerava-se a incerteza do que viria depois da morte. • A igreja seria a intermediária no julgamento final que aconteceria imediatamente após a morte e resultaria na descida ao inferno (no sofrimento eterno) ou ascensão aos céus (na alegria eterna) – morte clericalizada A MORTE NO OCIDENTE • Na cultura ocidental, a morte é uma provação • Cada vez mais a morte é escondida, pois é considerada um momento de fragilidade e vergonha. Deve acontecer em silêncio para não incomodar ninguém – morte invertida; • Preparação e embelezamento para os mortos, e o cuidado de tudo referente ao morto é feito por profissionais e não pelos familiares. A MORTE NO OCIDENTE • O corpo do morto passou a se tornar insuportável • No início, o corpo era costurado em uma mortalha, depois passou a ser ocultado em um cercueil (caixão) • Surgiram os cemitérios • Sepultamentos individualizados - movimento de individualização das sepulturas e preocupação em saber onde o morto está enterrado A MORTE NO OCIDENTE •Negação da morte •Maranhão (1986) afirma que a sociedade ocidental contemporânea tem estabelecido, através de formas culturais, a redução da morte e tudo o que está relacionado a ela no intuito de negar a experiência da mesma. A MORTE NO OCIDENTE • As transformações em relação à morte atingem os ritos funerais os quais passam a ter cerimônias mais discretas, condolências breves e o encurtamento no período dos lutos (SOUZA, 2002) • É comum as crianças receberem informações sobre a morte, relacionando-a com uma “viagem”, “descanso”, “virou estrelinha”, “foi para o céu” A MORTE NO OCIDENTE • Segundo Souza (2002), este fenômeno ocorre não só em função da morte deixar de ser vivenciada, mas também pelo fato da cultura ocidental passar a priorizar a preservação da felicidade. • A interdição da morte na atualidade se dá em função do contraste que esta provoca numa sociedade cada vez mais tecnológica e totalmente voltada para a produção e para o progresso (COE, 2005; MARANHÃO, VILAR, 2000). A MORTE NO OCIDENTE NO ORIENTE Preparação ● Estado de transição e principalmente de evolução, para o qual deve haver um preparo: a morte é apenas uma iniciação numa outra vida. NO OCIDENTE Negação ● fim, ● ruptura ● fracasso ● São procedimentos de ocultamento, vergonha, raiva, temor. A MORTE... • Mesmo no mundo ocidental, no entanto, sobrevivem tradições que, ao festejar a morte, celebram a vida. O “Dia dos Mortos”, no México, é um exemplo disso. “Ainda existem aldeias que desenterram os mortos nesse dia. Trata- se de um costume indígena milenar. As refeições são feitas no cemitério e as crianças ganham doces e bombons em forma de caveiras”, diz o historiador Leandro Karnal • “No interior do país, sobrevive a prática de conversar com os mortos para colocá-los a par do que aconteceu durante o ano.” As famílias preparam altares para seus falecidos e neles colocam os objetos de predileção do parente morto: livros, cigarros, comidas, fotografias. INTERESSANTE SABER • O medo da morte é um sentimento inerente ao processo de desenvolvimento humano. • Aparece na infância, a partir das primeiras experiências de perda. E tem várias facetas: trata-se de um medo do desconhecido, somado ao medo da própria extinção, da ruptura da teia afetiva, da solidão e do sofrimento. CONCLUSÕES • “O medo da morte é fundador da cultura”, diz a socioantropóloga Luce Des Aulniers, da Universidade de Quebec, em Montreal, Canadá. “Esse medo funciona como pivô e como motor de todas as civilizações. • A partir do desejo de perenidade, se desenvolvem as instituições, as crenças, as ciências, as artes, as técnicas e mesmo as organizações políticas e econômicas.” CONCLUSÕES