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Crimes em Espécie I

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Crimes em Espécie I:
 
Rodrigo Ferro
Introdução ao Estudo da Parte Especial do Código Penal
Parte Geral
1. Princípios Gerais do Sistema Penal
2. Conceito de Crime
3. Sanções Penais Admitidas
Parte Especial
1. Tipos Penais
2. Pena em Abstrato
PRINCÍPIOS
“o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui.”(Luis Roberto Barroso)
“as linhas mestras, os grandes nortes, as diretrizes magnas do sistema jurídico.” Tais linhas, “apontam os rumos a serem seguidos por toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos órgãos do governo (poderes constituídos)” ( Geraldo de Ataliba)
1. Expressos:
 Princípio da Pessoalidade/Personalidade das Penas/Intranscendência da Pena (Art. 5º, XLV, CF)
“Nunca se pode interpretar uma lei penal de que a pena transcenda da pessoa que é autora ou partícipe do delito. A pena é uma medida de caráter estritamente pessoal, haja vista ser uma ingerência ressocializadora sobre o condenado.” (Eugênio Raul Zaffaroni)
“A intransmissibilidade da pena traduz postulado de ordem constitucional. A sanção penal não passará da pessoa do delinquente. Vulnera o princípio da incontagiabilidade da pena a decisão judicial que permite ao condenado fazer-se substituir, por terceiro absolutamente estranho ao ilícito penal, na prestação de serviços à comunidade.” (STF, HC 68.309, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 27-11-1990, Primeira Turma, DJ de 8-3-1991.)
Princípio da Individualização (Art. 5º, XLVI, CF):
· Legislativa (crimes mais graves tem sua pena em abstrato mais alta);
· Judiciária (aplicação);
· Judiciária (execução);
“Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.” (Súmula Vinculante 26.)
Princípio de Humanidade das Penas (Art. 5º, XLVII, CF)
·”princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e de prisão perpétua.” (Cezar Roberto Bitencourt)
Pena de Morte
“O ordenamento positivo brasileiro, nas hipóteses em que se delineia a possibilidade de imposição do supplicium extremum, impede a entrega do extraditando ao Estado requerente, a menos que este, previamente, assuma o compromisso formal de comutar, em pena privativa de liberdade, a pena de morte, ressalvadas, quanto a esta, as situações em que a lei brasileira – fundada na CF (art. 5º, XLVII, a) – permitir a sua aplicação, caso em que se tornará dispensável a exigência de comutação.” (Ext 633, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 28-8-1996, Plenário, DJ de 6-4-2001.) No mesmo sentido: Ext 1.201, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 17-2-2011, Plenário, DJE de 15-3-2011.
Pena Perpétua
"Extradição e prisão perpétua: necessidade de prévia comutação, em pena temporária (máximo de 30 anos), da pena de prisão perpétua – Revisão da jurisprudência do STF, em obediência à Declaração Constitucional de Direitos (CF, art. 5º, XLVII, b). A extradição somente será deferida pelo STF, tratando-se de fatos delituosos puníveis com prisão perpétua, se o Estado requerente assumir, formalmente, quanto a ela, perante o Governo brasileiro, o compromisso de comutá-la em pena não superior à duração máxima admitida na lei penal do Brasil (CP, art. 75), eis que os pedidos extradicionais – considerado o que dispõe o art. 5º, XLVII, b, da CF, que veda as sanções penais de caráter perpétuo – estão necessariamente sujeitos à autoridade hierárquico-normativa da Lei Fundamental brasileira. Doutrina. Novo entendimento derivado da revisão, pelo STF, de sua jurisprudência em tema de extradição passiva." (Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 26-8-2004, Plenário, DJ de 1º-7-2005.) No mesmo sentido: Ext 1.201, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 17-2-2011, Plenário, DJE de 15-3-2011.
Pena de Banimento
Pena de Trabalhos Forçados
Penas Cruéis
Pelo princípio de humanidade, é tido como inconstitucional “qualquer pena ou consequência do delito que crie uma deficiência física (morte, amputação, castração esterilização intervenção neurológica, etc.), como também qualquer consequência jurídica inapagável do delito (Eugênio Raul Zaffaroni)
Princípio da Legalidade (Art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º, CP)
d.1) Princípio da Estrita Legalidade ou da Reserva Legal (Analogia in bonam partem e in malam partem)
d.2) Princípio da Taxatividade
1) Norma Penal em branco
2) Tipo Penal Aberto
Anterioridade (Art. 5º, LX, CF)
A Parte especial e o nullum crimen sine lege.
Código Soviético de 1922: “definia o crime como ‘toda ação ou omissão contra sociedades soviéticas”
Código Penal Alemão de 1935: “” crime como ‘fato que mereça pena tendo em vista o sentimento do povo”
(Paulo José da Costa Junior. Curso de Direito Penal. p,. 348.
 
1. Irretroatividade da lei mais severa (Art. 5º, XL, CF)
Lex gravior:
novatio legis incriminadora
novatio legis inpejus
B) Retroatividade da lei mais benéfica (art. 2º, CP)
Lex mitior:
aboliticio criminis (art. 2º, par. único, CP)
novacio legis in mellius (art. 2º, caput, CP)
C) Ultra-atividade da lei excepcional ou temporária (art. 3º, CP)
Lei excepcional: só vigora em determinada situação anormal. Após cessada a situação, ela se auto-revoga.
Lei temporária: só vigora durante determinado prazo. Após cessado o prazo, ela se auto-revoga.
Ultra-atividade: ambas continuam se aplicando nos crimes cometidos na sua vigência.
Princípio da Insignificância
Reduzida lesividade da conduta
Reduzida periculosidade do agente
Reduzida reprovabilidade social da ação
Inexpressividade da lesão provocada
2. Implícitos:
A) Princípio da Exclusiva Proteção a Bens Jurídicos
B) Princípio Fragmentariedade (Corolário da intervenção mínima de da Reserva legal)
C) Princípio da Adequação Social
C) Princípio da Ofensividade ou Lesividade
D) Princípio da Subsidiariedade
“A tipicidade penal não pode ser percebida como o trivial exercício de adequação do fato concreto à norma abstrata. Além da correspondência formal, para a configuração da tipicidade, é necessária uma análise materialmente valorativa das circunstâncias do caso concreto, no sentido de se verificar a ocorrência de alguma lesão grave, contundente e penalmente relevante do bem jurídico tutelado.” (HC 97.772, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 3-11-2009, Primeira Turma, DJE de 20-11-2009.) Vide: HC 92.411, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 12-2-2008, Primeira Turma, DJE de 9-5-2008.
Tipos Penais encontrados na parte geral:
Tipos explicativos: é composto por elementos descritivos e valorativos. “os chamados elementos normativos do tipo são conceitos que descrevem com vocabulário do cotidiano, objetos da vida real, constatáveis factualmente (casa, local ermo, recipiente [...], casa de prostituição [...]). São incluídos conceitos jurídicos próprios referidos a valor ou a sentido, que encontram relação com o mundo dos fatos (matrimônio, documento, vantagem patrimonial, funcionário, atentado contra os bons costumes, dignidade humana, bom comportamento, desgraça particular [...]. (regra geral) 
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Tipos Permissivos: Estabelecem casos especiais de exclusão de ilicitude.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:  (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Outros tipos penais não incriminadores:Consignam escusas absolutórias
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:          (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL E PENAL. ACÓRDÃO RECORRIDO.
OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. RECEPTAÇÃO. DELITO ANTECEDENTE. ISENÇÃO DE PENA. ART. 181, II, DO CP. EXTENSÃO. INVIABILIDADE. DISPOSIÇÃO EXPRESSA. ART. 180, § 4º, DO CP.
1. O julgado recorrido não possui as omissões apontadas, apenas adotou tese diversa daquela defendida pelo recorrente.
2. O fato de o autor do crime antecedente ser isento de pena, por força da escusa absolutória prevista no art. 181, II, do Código Penal, não afasta a punibilidade do terceiro que pratica a receptação do bem objeto desse delito, segundo disposição expressa do art. 180, § 4º, do mesmo Estatuto.
3. Recurso especial parcialmente provido para reconhecer a punibilidade do crime de receptação e determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem, para que prossiga no julgamento da apelação defensiva, apreciando a tese de absorção do crime de receptação pelo de tráfico de drogas, como entender de direito.
(REsp 1419146/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 19/08/2014, DJe 10/10/2014)
Favorecimento pessoal
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
APELAÇÃO CRIMINAL. FAVORECIMENTO PESSOAL. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO PELO CRIME DE POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA, ANTE A AUSÊNCIA DO DOLO DE POSSUIR ARTEFATO BÉLICO.COMPROVAÇÃO DO DOLO DE AUXÍLIO À SUBTRAÇÃO DA AÇÃO DE AUTORIDADE PÚBLICA DE IRMÃO AUTOR DO DELITO PRINCIPAL. MANUTENÇÃO DA ISENÇÃO LEGAL DA PENA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. I – A conduta de auxiliar autor de crime de posse ilegal de arma de fogo com numeração suprimida, que é seu irmão, a subtrair-se de ação de autoridade policial é fato que se amolda ao artigo 348, § 2º, do Código Penal. II – Não há que se falar em condenação pela prática do crime previsto no artigo 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei 10.826/03, se quando da inversão da posse do artefato bélico ausente o dolo de possuir a arma de fogo, mas, apenas, de auxiliar seu irmão a furtar-se da ação de autoridade policial. III – No crime de favorecimento pessoal, quando o autor do delito é irmão do criminoso, fica o agente daquele delito isento de pena. IV – Recurso CONHECIDO e NÃO PROVIDO. (TJ-DF - APR: 20140510039914, Relator: JOSÉ GUILHERME, Data de Julgamento: 18/06/2015, 3ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 24/06/2015 . Pág.: 94)
Tipos que concedem o Perdão Judicial
Art. 121. Matar alguem:
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.  
Dos Crimes contra a Pessoa
 
 
“A pessoa humana, sob o duplo ponto de vista material e moral, é um dos mais relevantes objetos da tutela penal. Não a protege o Estado apenas por obséquio ao indivíduo, mas, principalmente, por exigência de indeclinável interesse público ou atinente a elementares condições da vida em sociedade. [...]
(Nelson Hungria. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, vol. V, 1958, pp. 15 e17)
Crimes contra a vida
Homicídio 
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio       (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:     (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.       (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 6º  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.       (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.      (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

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