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Introdução às Equações Diferenciais Ordinárias Prof. Bárbara Lopes Amaral September 28, 2016 Conteúdo Conteúdo 1 I Considerações Gerais sobre Equações Diferenciais 5 1 Equações Diferenciais Ordinárias 7 1.1 Problemas de Valor Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2 Solução de Equações Diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 II Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem 17 2 Considerações Gerais 19 2.1 EDO's de Primeira Ordem Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.1.1 Primeiro Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.1.2 Segundo método (método informal) . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.1.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.2 Respostas dos ExercÃcios Selecionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 1 2 Equações Diferenciais Ordinárias 3 Equações Lineares de Primeira Ordem 27 3.1 Pimeiro caso: P (x) = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.2 Segundo caso: P (x) 6= 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.4 Respostas dos exercícios selecionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4 Equações Diferenciais de Primeira Ordem Exatas 35 4.1 Método de Resolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.2 Fatores integrantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.3 Respostas dos Exercícios Selecionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 5 Soluções por Substituição 43 5.1 Equações Diferenciais Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.1.1 Método de Resolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 5.2 Equações de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.3 Respostas dos Exercícios Selecionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 6 Considerações qualitativas sobre Equações Diferenciais de Primeira Ordem: Campos de Direções 53 6.1 Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem Autônomas . . 57 6.2 Equações não-autônomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 7 Aplicações 65 III Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de Segunda Ordem 71 8 Teoria Geral das EDO's lineares de segunda ordem 73 8.1 Equações lineares homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 8.2 Determinando uma base para X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 8.3 Independência linear entre funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 8.4 O método de redução de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 8.5 Resposta dos Exercícios Selecionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 9 Equações lineares homogêneas de coeficientes constantes 85 9.1 Raízes reais distintas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 9.2 Uma única raiz real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 9.3 Raízes complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 9.3.1 A exponencial complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 9.3.2 Solução da equação no caso de raízes complexas . . . . . . . . . 90 10 Equações lineares de segunda ordem não-homogêneas com coefi- cientes constantes 95 Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 3 10.1 O método dos coeficientes a determinar . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 10.2 O método da variação de parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 10.3 O princípio da superposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 11 Aplicações: Sistemas massa-mola e circuitos elétricos 111 11.1 A lei de Hooke . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 11.2 Movimento livre não amortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 11.3 Movimento livre amortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 11.3.1 Movimento superamortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 11.3.2 Movimento criticamente amortecido . . . . . . . . . . . . . . . 114 11.3.3 Movimento subamortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 11.4 Movimento forçado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 11.5 Circuitos Elétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 11.5.1 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 11.5.2 Resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 11.5.3 Indutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 11.5.4 Geradores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 11.5.5 A segunda lei de Kirchoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 11.5.6 Circuitos RLC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 IVSéries de potência e trasformada de Laplace 123 12 Resolução de equações diferenciais através de séries de potência 125 12.1 Revisão de séries de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 12.1.1 Exemplos importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 12.1.2 Raio de convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 12.1.3 Operações com séries de potência . . . . . . . . . . . . . . . . 127 12.1.4 Funções analíticas e séries de Taylor . . . . . . . . . . . . . . 128 12.2 Resolução de EDO's através de séries de potência . . . . . . . . . . . 129 13 Transformada de Laplace 133 13.1 Transformadas Integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 13.2 Definição da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 13.2.1 Linearidade da Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . 134 13.3 Exemplos: cálculo da Transformada de Laplace para funções ele- mentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 13.4 Transformada de Laplace da derivada de uma função . . . . . . . . . 137 13.5 Resolução de Equações Diferenciais Lineares através da Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 13.6 Propriedades adicionais da transformada de Laplace . . . . . . . . . . 140 13.6.1 Deslocamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 13.7 Contração ou expansão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 13.8 A derivada da Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . 141 4 Equações Diferenciais Ordinárias 13.9 Transformada de Laplace de Funções Descontínuas . . . . . . . . . . 143 13.10A Função Delta de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 13.11Teorema da Convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 13.12Exercícios adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 Parte I Considerações Gerais sobre Equações Diferenciais 5 1 Equações Diferenciais Ordinárias Em matemática, uma equação diferencial é uma equação cuja incógnita é uma função de uma ou mais variáveis que aparece na equação juntamente com suas derivadas até uma certa ordem. As variáveis indepedentes também podem aparecer na equação. Exemplo 1. A equação x2 d2y dx2 + x dy dx + x2y = 0 (1.1) é uma equação diferencial em que a incógnita é a função de uma variável real y(x). O objetivo é descobrir se existe uma função y(x) que satisfaça essa equação e, se possível, encontrar essa função explicitamente. Exemplo 2. A equação ∂u(x, t) ∂t = α2 ∂2u(x, t) ∂x2 (1.2) em que α é uma constate real, é uma equação diferencial em que a incógnita é a função de duas variáveis reiais u(x, t). Ela aparece no estudo da condução de calor em uma barra metálica. O objetivo é descobrir se existe uma função u(x, t) que satisfaça essa equação e, se possível, encontrar essa função explicitamente.Uma equação diferencial pode ser obtida através das propriedades do problema que deve ser resolvido, leis físicas ou modelos e suposições sobre o comportamento de de- terminadas grandezas. O objetivo é encontrar a função desconhecida, que fornecerá informações adicionais sobre o que está sendo estudado. As equações diferenciais têm inúmeras aplicações práticas em medicina, engenharia, química, biologia, física e outras diversas áreas do conhecimento. As soluções destas equações são usadas, por exemplo, para projetar pontes, automóveis, aviões e circuitos elétricos. Vários problemas que envolvem taxas de variação nos levarão a uma equação diferencial. Deste modo, o estudo de equaç oes diferenciais é um campo extenso na matemática pura e na matemática aplicada. As equações diferenciais podem ser dividos em equações diferenciais ordinárias e equações diferenciais parciais. 7 8 Equações Diferenciais Ordinárias Definição 1. Uma equação diferencial é chamada equação diferencial ordinária (EDO) se tem como incógnita uma função de uma única variável independente. É chamada equação diferencial parcial (EDP) se tem como ingógnita uma função de mais de uma variável independente. Nesse último caso, as derivadas que aparecem na equação são as derivadas parciais da função desconhecida. Definição 2. Uma equação diferencial ordinária é chamada linear se pode ser escrita na forma an(x)y (n) + an−1(x)y(n−1) + . . .+ a1(x)y′ + a0(x)y = g(x), (1.3) onde os coeficientes a0(x), . . . , an(x) são funções conhecidas da variável x e an(x) não é identicamente nula. Quando g(x) for identicamente nula, dizemos que a equação (1.3) é homogênea. Se uma equação diferencial ordinária não for do tipo (1.3), dizemos que ela é não-linear. Exemplo 3. A equação x2 d2y dx2 + x dy dx + x2y = 0 é ordinária, pois envolve a função de uma variável real y(x). Ela também é linear, pois pode ser escrita na forma (1.3) com a0(x) = x 2 , a1(x) = x, a2(x) = x 2 e g(x) = 0. Ela também é homogêna. Já a equação ∂u(x, t) ∂t = α2 ∂2u(x, t) ∂x2 é parcial, pois envolve a função de duas variáveis reais u(x, t) e suas derivadas parciais. Já a equação y′′ + exy ′ = ln(xy) é uma equação diferencial ordinária não-linear pois não pode ser escrita na forma (1.3). Exercício 1. Nas equações diferenciais abaixo, da maneira que se apresentam, decida se as mesmas são Equações Diferenciais Ordinárias ou Equações Diferenciais Parciais, se são lineares ou não-lineares. Sempre que possível identifique a função incógnita e a(as) variável(is) independente(s). Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 9 (a) L d2Q(t) dt2 +R dQ(t) dt + 1 C Q(t) = E(t) (b) y′ + P (x)y +Q(x)y2 = f(x) (Ricatti) (c) (cos y)y˙ + 2x sen y = −2x (d) dy dt + P (x)y = Q(x)yn (Bernoulli) (e) p′ = p(a− b ln p) (Gompertz,1825) (f) dP dt = αP ( 1− P P∞ ) (Logística) (g) t2 d2y dt2 + t dy dt + 2y = sen t (h) (1 + y2) d2y dt2 + t dy dt + y = et (i) d4y dt4 + d3y dt3 + d2y dt2 + dy dt + y = 1 (j) utt = c 2uxx (onda) (k) d2θ dt2 + g ` sen θ = 0 (pêndulo simples) (l) ∂u(x, t) ∂t = α2 ∂2u(x, t) ∂x2 (calor) (m) ut + uxxx + uux = 0 (Korteweg-de Vries, KdV for short) (n)y˙ = αy (Malthus) (o) u¨+ ω2u = 0 (oscilador harmônico simples) (p) y′ = − y√ a2 − y2 (Perseguição) (q) x2 d2y dx2 + x dy dx + (x2 − α2)y = 0 (Bessel) (r) d dx [ (1− x2) d dx Pn(x) ] + n(n+ 1)Pn(x) = 0 (Legendre) (s) u′′(r) + N − 1) r u′(r) = 0 (Laplace, radial) (t)utt + uxx = 0 (Laplace) (u) dx dt = (R−Rc)x− ax3 (Landau) (v)ut + uux = 0 (Burgers) (x) Aρvtt(x, t) + EIvxxxx(x, t) + kvt(x, t) = −f(x, t)− Aρg (viga) (z) xny(n)(x) + an−1xn−1y(n−1)(x) + · · ·+ a0y(x) = 0 (Cauchy-Euler) Definição 3. Uma equação diferencial ordinária (EDO) é uma equação que envolve uma função de uma variável real desconhecida, y(x), suas derivadas até uma ordem n e 10 Equações Diferenciais Ordinárias a variável independente x; ou seja, é uma equação da forma f ( x, y, y′, y′′, ..., y(n) ) = 0. (1.4) Definição 4. A ordem de uma equação diferencial é a ordem da derivada de maior grau que aparece na equação. Exemplo 4. A ordem da EDO y′+y = 0 é 1. A ordem da equação y′′+3y′−2y = cos(x) é 2. A ordem da equação x2 d5y dx5 + x d3y dx3 + (x2 − α2)y = 0 é 5. Definição 5. Dizemos que uma função φ(x) é solução da equação (1.4) no intervalo I ⊂ R se a equação é satisfeita quando substituímos y por φ na equação para todo x ∈ I, ou seja, se f ( x, φ, φ′, φ′′, ..., φ(n) ) = 0. (1.5) A solução geral de uma equação diferencial é o conjunto de todas as soluções dessa equação. Em vários casos, as soluções de uma equação diferencial diferem umas das outras apenas por constantes aditivas ou multiplicativas, como veremos mais adiante. Exemplo 5. As funções y1(x) = e 5x e y2(x) = e −3x são soluções da EDO y′′ − 2y′ − 15y = 0 (1.6) no intervalo I = R. Para provar esse fato, basta calcular as derivadas de cada uma das funções e substituir na equação. Para a função y1, temos y ′ 1(x) = 5e 5x e y′′1(x) = 25e 5x . Substituindo na equação (1.6) temos 25e5x − 10e5x − 15e5x = 0, o que prova que y1 é solução de (1.6). Para a função y2, temos y ′ 2(x) = −3e−3x e y′′1(x) = 9e−3x. Substituindo na equação temos 9e−3x + 6e−3x − 15e−3x = 0 o que prova que y2 é solução de (1.6). Já a função y3(x) = e x não é solução de (1.6). Nesse caso todas as derivadas são iguais a própria função y3 e substituindo na equação temos ex − 2ex − 15ex = −16ex 6= 0. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 11 Exercício 2. Prove que as funções cos(x) e sen(x) são soluções da equação diferencial y′′ + y = 0 em toda reta real. Prove que y = cex , onde c é uma constante arbitrária é solução da equação diferencial y′ = y em toda reta real. Exercício 3. Verifique se as funções φ são soluções das EDO's no intervalo I indicado. 1. φ(x) = sen x, y′′ + y = 0 no intervalo I = R; 2. φ(x) = √ x(x+ 1), y′ = 1−2x 2y no intervalo I = (0, 1); 3. φ(x) = Aet +Be−t, y¨− y = 0 no intervalo I = R, sendo A e B constantes reais; 4. φ(x) = √ x(1− x), y′ = 1−2x 2y no intervalo I = (0, 1); 5. φ(x) = 2 lnx+ 4, x2y′′ − xy′ + y = 2 ln x no intervalo I = (0,+∞). Exercício 4. Para cada uma das equações abaixo determine o valor da constante r para que φ(t) = ert seja uma solução da EDO. 1. y′ + 3y = 0; 2. y′′ + 3y′ + 2y = 0; 3. y′′ − 4y = 0. Exercício 5. Determine o valor da constante r para que φ(x) = xr seja uma solução da equação x2y′′ − 4xy′ + 4y = 0 no intervalo I = (0,+∞). 1.1 Problemas de Valor Inicial Dada a equação (1.6), muitas vezes estamos interessados em soluções da mesma que satisfaçam também um conjunto de condições iniciais em um dado valor x0. Definição 6. Um problema de valor inicial (PVI) é uma equação diferencial de ordem n juntamente com n condições iniciais em um determinado valor x0:{ f ( x, y, y′, ..., y(n) ) = 0, y(x0) = y0, y ′(x0) = y′0, ..., y (n)(x0) = y n0 (1.7) Dizemos que uma função φ é solução do PVI (1.7) se além de ser solução da equação diferencial, φ também satisfaz todas as condições iniciais. 12 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 6. A função φ(x) = cos(x) é solução do PVI{ y′′ + y = 0 y(0) = 1, y′(0) = 0. De fato, já sabemos que φ(x) é solução da EDO e além disso temos φ(0) = 1, e portanto φ também a condição inicial. Exercício 6. Prove que a função φ(x) = cos(x) − sen(x) é solução do problema de valor inicial { y′′ + y = 0, y(0) = 1, y′(0) = −1. 1.2 Solução de Equações Diferenciais Uma vez dada a equação diferencial, em geral é uma tarefa extremamente difícil encontrar sua solução geral. Para algumas famílias especiaisde equações existem métodos que podemos utilizar para resolvê-las. Esse curso é dedicado a estudar alguns desses métodos. As equações diferenciais mais simples de resolver são aquelas em que podemos isolar uma das derivadas da função desconhecida y como uma função da variável independente x: y(n)(x) = g(x). Nesses casos, a equação pode ser resolvida através de integrações sucessivas. y(x) = ∫ ∫ ... ∫ ︸ ︷︷ ︸ n vezes g(x)dx . . . dxdx. Exemplo 7. Encontre a solução da equação y′ = x2. Solução. Para resolver essa equação basta utilizarmos o teorema fundamental do cálculo: y = ∫ y′dx+ c onde c ∈ R é uma constante arbitrária. Temos então que y = ∫ y′dx+ c = ∫ x2dx+ c = x3 3 + c, que é a solução geral da equação diferencial. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 13 Exemplo 8. Encontre a solução da equação y′′ = cos(x) Solução. Temos que y′ = ∫ y′′dx+ c1 = ∫ cos(x)dx+ c1 = sen(x) + c1. Repetindo o procedimento y = ∫ y′dx+ c2 = ∫ (sen(x)dx+ c1) dx+ c2 = − cos(x) + c1x+ c2 que é a solução geral da equação. Exercício 7. Resolva as equações diferenciais abaixo: 1. y′ = k, em que k é uma constante arbitrária; 2. y′′′ = e2x; 3. y′ = arctan(x); 4. y′′ = sen(x). Quando queremos encontrar a solução de um PVI precisamos encontrar a solução geral da equação diferencial envolvida e em seguida escolher qual dessas soluções também satisfaz as condições iniciais. Exemplo 9. Resolva o problema de valor inicial{ y′ = x2, y(0) = 1. Solução. Sabemos que a solução geral da equação diferencial y′ = x2 é y(x) = x 3 3 + c, em que c é uma constante arbitrária. Devemos encontrar qual é o valor de c para que a solução também satisfaça a condição inicial y(0) = 1. Essa condição implica que y(0) = 0 3 + c = c = 1. Logo a solução do PVI é y(x) = x 3 3 + 1. Exemplo 10. Resolva o problema de valor inicial{ y′′ = cos(x), y(0) = 0, y′(0) = 1 14 Equações Diferenciais Ordinárias Solução. Sabemos que a solução geral da equação diferencial y′′ = cos(x) é y(x) = − cos(x)+c1x+c2, em que c1 e c2 são constantes arbitrárias. Devemos encontrar o valor dessas constantes para que a solução satisfaça também as condições iniciais y(0) = 0 e y′(0) = 1 Essas condições implicam que y(0) = − cos(0) + c1 × 0 + c2 = −1 + c2 = 0⇒ c2 = 1; y′(0) = sen(0) + c1 = 1⇒ c1 = 1. Logo a solução do PVI é y(x) = − cos(x) + x+ 1. Exercício 8. Encontre a solução do PVI{ y′′′ = 1 y(1) = 5, y′(1) = 7, y′′(1) = 8 1.3 Aplicações Especialmente para os estudantes de engenharia, o mais importante é saber como pode- mos aplicar equações diferenciais em problemas de modelagem em diversas áreas do conhecimento. Boa parte do nosso curso será dedicado a estudar essas aplicações. Exemplo 11. Em uma população de bactérias, a taxa de natalidade é igual a kt, em que k é uma constante determinada experimentalmente e t é o tempo em minutos. A taxa de mortalidade é igual a t2. Encontre a população em função do tempo e descreva o que acontece quando o tempo é muito grande. Solução. A taxa de natalidade corresponde à taxa de crescimento da população em função do tempo. A taxa de mortalidade é a taxa de decrescimento em relação ao tempo. A taxa de variação da população em relação ao tempo é a taxa de crescimento menos a taxa de decrescimento. Sabemos também que a taxa de variação da população em relação ao tempo é a derivada da população em relação ao tempo. Se denotarmos a população por p(t) temos p′(t) = kt− t2, cuja solução geral é p(t) = k t2 2 − t 3 3 + c. A constante c será determinada pela população inicial. Quando t é grande, temos que lim t→∞ p(t) = −∞. No entanto, devemos lembrar que não faz sentido valores negativos de p(t), já que p representa a população de bactérias. Podemos concluir que a população começa maior Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 15 que zero e decresse até se extinguir (repare que a taxa de mortalidade é maior que a taxa de natalidade). Exemplo 12. Um objeto percorre uma trajetória unidimensional com aceleração dada por a(t) = − sen(t) em que t é o tempo em segundos. Encontre a posição do objeto em função do tempo, sabendo que em t = 0 o objeto se encontra na origem e que sua velocidade era de 1m/s. Solução. A partir da aceleração podemos encontrar a velocidade do objeto: v(t) = ∫ a(t)dt+ c1 = − ∫ sen(t)dt+ c1 = cos(t) + c1. A partir da velocidade podemos encontrar a posição: d(t) = ∫ v(t)dt = ∫ (cos(t) + c1) dt+ c2 = sen(t) + c1x+ c2. Devemos agora verificar quais são so valores de c1 e c2 para que a função d(t) satisfaça as condições iniciais d(0) = 0 e d′(0) = 1m/s. O leitor poderá verificar facilmente que essas condições implicam c1 = c2 = 0. Logo d(t) = sen(t). Ao longo do curso resolveremos diversos problemas desse tipo. Em breve poderemos resolver exercícios mais sofisticados e equações diferenciais mais interessantes que as mostradas acima. Exercício 9. Em uma população de bactérias, a taxa de natalidade é igual a ket, em que k é uma constante determinada experimentalmente e t é o tempo em minutos. A taxa de mortalidade é igual a t3. Encontre a população em função do tempo e descreva o que acontece quando o tempo é muito grande. Exercício 10. Em uma população de bactérias, a taxa de natalidade é igual a kt2, em que k é uma constante determinada experimentalmente e t é o tempo em minutos. A taxa de mortalidade é igual a ln(t). Encontre a população em função do tempo e descreva o que acontece quando o tempo é muito grande. Exercício 11. Um objeto percorre uma trajetória unidimensional com aceleração dada por a(t) = te2t em que t é o tempo em segundos. Encontre a posição do objeto em função do tempo, sabendo que em t = 0 o objeto se encontra na origem e que sua velocidade era de 1m/s. Dada uma equação diferencial, é importante levar em conta que uma solução pode ou não existir. Outra consideração importante é sobre a unicidade das soluções. Caso exista solução, ela pode ser única ou não. Em geral, uma equação diferencial possui várias soluções distintas. Para determinar unicamente uma solução, precisamos também especificar um conjunto de condições 16 Equações Diferenciais Ordinárias iniciais. Com algumas suposições sobre a equação diferencial é possível mostrar que um PVI sempre possui solução e ela é única. Esse resultado é conhecido como Teorema de Existência e Unicidade para Equações Diferenciais Ordinárias, mas está fora do escopo desse texto. Veremos casos particulares mais simples desse resultado quando estudarmos equações de primeira e segunda ordens nos próximos capítulos. Parte II Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem 17 2 Considerações Gerais Uma equação diferencial ordinária de primeira ordem envolve apenas a derivada primeira de uma função desconhecida y(x) e pode ser escrita na forma y′ = f(x, y). (2.1) Com algumas condições sobre a função f podemos garantir que todo problema de valor inicial { y′ = f(x, y) y(x0) = y0 (2.2) possui solução única em um intervalo I ⊂ R que contém x0. Teorema 1 (Teorema de Existência e Unicidade). Suponha que f(x, y) e sua derivada parcial fy(x, y) sejam contínuas no retângulo R = {(x, y) : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d} contendo o ponto (x0, y0). Então existe um intervalo aberto I 3 x0, I ⊂ (a, b), no qual PVI (2.2) possui uma única solução y = φ(x). A demonstração desse resultado está fora do escopo deste curso. Exemplo 13. Mostre que o PVI { y′ − y = 0 y(0) = 1 possui uma única solução em algum intervalo I contendo x0 = 0. Solução. Para mostrar que a solução existe e é única, vamos usar o Teorema 1. Para isso, devemos identificar a função f que aparece na equação diferencial. A EDO pode ser reescrita na forma y′ = y e portanto temos f(x, y) = y. Essaé uma função contínua em todo o plano, pois é um polinômio em y. Sua derivada parcial fy(x, y) = 1 também é uma função contínua em todo o plano. Logo a equação atende às hipóteses do teorema e ele pode ser utilizado. 19 20 Equações Diferenciais Ordinárias Com isso podemos garantir a existência de uma solução única para o PVI em um intervalo I contendo x0 = 0. O teorema não nos diz nada sobre a solução ou sobre o intervalo I. Veremos como encontrá-los em breve. Exercício 12. Mostre que o PVI { y′ = x2y − ey y(1) = 0 possui solução única em algum intervalo I contendo x0 = 1. 2.1 EDO's de Primeira Ordem Separáveis Definição 7. Uma EDO de primeira ordem é dita separável se existem funções g : R→ R e h : R→ R tais que y′ = g(x)h(y). (2.3) Se as funções g e h são contínuas, então a função f(x, y) = g(x)h(y) e sua derivada parcial fy(x, y) = g(x)h ′(y) são contínuas e portanto o teorema 1 garante que o PVI{ y′ = g(x)h(y) y(x0) = y0 (2.4) possui solução única em algum intervalo I 3 x0. Veremos agora como resolver uma EDO separável. 2.1.1 Primeiro Método Para resolver a EDO (2.3) devemos primeiramente reescrevê-la na forma y′ h(y) − g(x) = 0. Definindo n(y) = 1 h(y) e m(x) = −g(x) temos n(y)y′ +m(x) = 0. Sejam N(y) = ∫ n(y)dy e M(x) = ∫ m(x)dx. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 21 Temos que d dx (N(y) +M(x)) = d dx (N(y)) + d dx (M(x)) = dN dy dy dx + dM dx = n(y)y′ +m(x). Utilizando a EDO podemos concluir que d dx (N(y) +M(x)) = 0 o que implica que N(y) +M(x) = c (2.5) em que c ∈ R é uma constante real. Note que a equação (2.5) não é uma equação diferencial e sim uma equação algébrica envolvendo x e y. Essa equação define y implicitamente e em alguns casos é possível isolar y escrevendo-a como uma função explícita de x. Exemplo 14. Resolva a EDO y′ = yx. Solução. Primeiramente reescremos a equação na forma y′ y − x = 0. Nesse caso temos n(y) = 1 y e m(x) = −x. O próximo passo é integrar para encontrar as funções N(y) e M(y): N(y) = ∫ 1 y dy = ln |y| M(x) = ∫ −xdx = −x 2 2 . Nesse ponto não é necessário somar as constantes de integração pois a constante apare- cerá no final da solução. Sabemos que a equação N(y) +M(x) = c define y implicita- mente. Logo temos que ln |y| − x 2 2 = c. Nesse caso é possível escrever y explicitamente isolando-o na equação acima: y(x) = ±ex 2 2 +c. Essa função pode ser reescrita na forma y(x) = ±ex 2 2 ec = ke x2 2 , em que k = ±ec é uma constante real que será determinada pela condição inicial. 22 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 13. Resolva a EDO y′ = x2 y utilizando o método apresentado acima. ?? 2.1.2 Segundo método (método informal) Podemos utilizar a notação de derivada para construir um método informal e bastante prático de resolver equações diferenciais separáveis. Reescrevemos a equação na forma: dy dx = g(x)h(y) e separamos 1 dy de dx, deixando de um dos lados da equação somente a variável y e do outro lado somente a variável x: dy h(y) = g(x)dx. Em seguida integramos ambos os lados∫ dy h(y) = ∫ g(x)dx o que fornecerá uma equação algébrica que define y implicitamente. Exemplo 15. Resolva a EDO y′ = yx. Solução. Reescrevemos a equação separando y e x: dy y = xdx. Em seguida integramos ambos os lados:∫ dy y = ∫ xdx o que nos leva a equação ln |y| = x 2 2 + c. Aqui podemos colocar a constante de integração em apenas uma das integrais, pois as duas constantes se somam gerando apenas uma constante no final. 1 Lembre-se que separar dy de dx não é uma operação válida em matemática, pois esses objetos não possuem significado isoladamente. Esse é um truque que utilizamos para tornar a resolução de alguns problemas mais prática. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 23 Exercício 14. Obtenha as soluções das seguintes EDOs: 1. y′ = kx; 2. y′ = (1 + y)/(1 + x); 3. y′ = (1 + x)(1 + y); 4. y′ = 2xy + x; Exercício 15. Para as equações anteriores determine a solução do problema de valor inicial com y(0) = 1. Diga os domínios de definição das soluções. Exercício 16. Resolva cada um dos problemas de valor inicial a seguir e desenhe os gráficos das soluções para diversos valores de y0. 1. dy dt = −y + 5 y(0) = y0 2. dy dt = −2y + 5 y(0) = y0 3. dy dt = −2y + 10 y(0) = y0 2.1.3 Aplicações Muitas aplicações nos levam a EDO's separáveis. Veremos agora alguns exemplos. Exemplo 16. Suponha que a taxa de decomposição de um material radioativo seja diretamente proporcional à quantidade de massa existente em cada unidade de tempo. Numa amostra desse material há uma perda de 50% em 1600 anos. 1. Escreva a equação diferencial que descreve o processo. 2. Determine a constante de decomposição do material. 3. Determine a quantidade de massa perdida em 800 anos. 24 Equações Diferenciais Ordinárias Solução. A taxa de decomposição de um material determina a quantidade de material que se perde ao longo do tempo. Se essa taxa é proporcional à quantidade de material presente em cada instante de tempo temos que q′ = −kq em que q(t) é a quantidade de material no instante t e k é uma constante positiva. O sinal de menos aparece porque o material está se decompondo, ou seja, a quantidade de material decresce ao longo do tempo. Essa equação diferencial é uma equação separável e pode ser facilmente resolvida. Separando as variáveis q e t temos dq q = −kdt e integrando obtemos ∫ dq q = − ∫ kdt ln |q| = −kt+ c. Dessa equação podemos escrever q(t) explicitamente: q(t) = e−kt+c = q0e−kt. A constante q0 é igual a quantidade inicial de material presente uma vez que q(0) = q0. Em seguida devemos encontrar o valor da constante k. Para isso vamos usar a informação de que após 1600 anos resta 50% do material, ou seja q(1600) = q0 2 . Daí temos que q0 2 = q0e −k×1600 1 2 = e−k×1600 o que implica que k = − ln ( 1 2 ) × 1 1600 . O valor explícito de k pode ser encontrado com o auxílio de uma calculadora. Por fim devemos encontrar a fração de material presente após 800 anos. Para isso basta substituirmos na equação para q(t): q(800) = q0e −k×800 o que implica que a fração de material presente em t = 800 é e−k×800. Com o valor de k encontrado acima e com o auxílio de uma calculadora é fácil encontrar esse valor. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 25 Exemplo 17. Em uma colônia de bactérias a quantidade de bactérias aumenta à uma taxa proporcional à quantidade de bactérias presentes em cada instante de tempo. Suponhamos que no tempo considerado a taxa de mortalidade das bactérias é de- sprezível. Se em 4 horas a quantidade de bactérias triplica, em que tempo ela será 27 vezes a quantidade de bactérias inicial? Solução. A taxa de natalidade em um determinado instante de tempo é proporcional a quantidade de bactérias naquele instante. Se denotarmos a população de bactérias em um instante t por p(t) temos que p′ = kp em que k é uma constante de proporcionalidade positiva, já que a taxa de mortalidade é desprezível. O leitor não terá dificuldades em resolver essa equação. Exercício 17. Em uma colônia de bactérias a população cresce à uma taxa proporcional à quantidade de bactérias presentes em cada instante de tempo. Em cada minuto morrem 1000 bactérias por ação de fatores externos. Se em 2 horas a quantidade de bactérias triplica, em que tempo ela será 9 vezes a quantidade de bactérias inicial? Exercício 18. Volterra fez o seguinte modelo matemático para descrever a competição dentre duas espécies que dividem o mesmo meio ambiente x˙ = x(a1 + a2y) y˙ = y(b1 + b2x) , utilizandoa regra da cadeia o sistema pode ser reduzido à equação dy dx = y(b1 + b2x) x(a1 + a2y). Ache a solução geral dessa equação. Exercício 19. Uma poderosa ferramenta em pesquisa arqueológica é a datação por carbono radiotativo, que permite determinar a idade de determinados restos de plantas e portanto de objetos encontrados junto com elas. Esse procedimento foi desenvolvido pelo químico americano Willard Libby no início da década de 50, e lhe rendeu o prêmio Nobel em Química de 1960. O procedimento utiliza o fato de que algumas plantas acumulam um isótopo do carbono chamado carbono-14, que começa a decair após sua morte. Através de medidas adequadas feitas em laboratório, a proporção de carbono-14 remanescente pode ser determinada e através dessa proporção é possível saber a idade da planta. 1. Sabendo que a meia-vida 2 do carbono-14 é de 5730 anos e que a taxa de de- composição do carbono-14 na planta é proporcional à quantidade de carbono-14 naquele instante de tempo, encontre uma expressão para Q(t); 2 A meia-vida de um material é o tempo necessário para que 50% do material tenha se decom- posto. 26 Equações Diferenciais Ordinárias 2. Suponha que foram descobertos restos de plantas em que a quantidade de carbono- 14 atual é igual a 20% da quantidade original. Determine a idade dos restos. 2.2 Respostas dos ExercÃcios Selecionados ExercÃcio ??: 3y2 − 2x2 = c. ExercÃcio 4: 1. y(x) = kx 2 2 + c; 2. y(x) = k(x+ 1)− 1; 3. y(x) = ke x2 2 +x − 1; 4. y(x) = ke x2−1 2 . ExercÃcio 16: 1. y(t) = ke−t + 5; 2. y(x) = ke −2t+5 2 ; 3. y(x) = ke −2t+10 2 . 3 Equações Lineares de Primeira Ordem Uma equação diferencial linear é uma equação diferencial que pode ser escrita na forma an(x) dny dxn + an−1(x) dn−1y dxn−1 + ...+ a1(x) dy dx + a0(x)y = g(x). O nome linear vem do fato de que todos os coeficientes são funções de x e a função y e as suas derivadas têm todas expoente 1 (ou 0). A equação x2y′′′ + sen(x)y′′ + arctan(x)y′ + ex 3 y = x cos(x) é um exmeplo de equação linear (de ordem 3). Já a equação( d2y dx2 )3 − 2xy = 1 é um exemplo de uma equação não linear. Alguns casos particulares: 1. Quando g(x) = 0, a equação é chamada de equação diferencial linear homogênea. 2. Quando ai(x) forem funções constantes, a equação é chamada de equação difer- encial linear com coeficientes constantes. Nessa seção, estudaremos equações diferenciais lineares de primeira ordem, que são equações da forma a1(x) dy dx + a0(x)y = g(x) com a1(x) 6= 0. Dividindo toda a equação por a1(x) obtemos dy dx + P (x)y = Q(x). (3.1) Nesse caso, a função f(x, y) que aparece na equaçao (2.1) é f(x, y) = −P (x)y + Q(x). Essa função e sua derivada parcial fy(x, y) serão contínuas desde que P (x) e 27 28 Equações Diferenciais Ordinárias Q(x) sejam funções continuas de x. Sob essas condições o teorema de Existência e Unicidade pode ser aplicado e podemos garantir que o PVI{ dy dx + P (x)y = Q(x) y(x0) = y0 possui solução única definida em um intervalo I contendo x0. Veremos em breve como encontrar essa solução. Começaremos pelo caso trivial. 3.1 Pimeiro caso: P (x) = 0 Quando P (x) = 0 caímos novamente no caso visto na seção 1.2. A equação assume a forma dy dx = Q(x). Como vimos, essa equação pode ser resolvida com uma integração simples: y(x) = ∫ Q(x)dx. Quando integrarmos aparecerá uma constante que será determinada posteriormente a partir da condição inicial. Exemplo 18. Resolva o PVI { dy dx = x sen(x) y(0) = 0. Solução. Temos que y(x) = ∫ x sen(x)dx. A integral acima pode ser resolvida através do método de integração por partes, com u = x e dv = sen(x)dx. Completando o cálculo da integral o leitor concluirá que y(x) = −x cos(x) + sen(x) + c. A condição inicial implica que a constante c é igual a zero e portanto temos que a solução do PVI acima é y(x) = −x cos(x) + sen(x). Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 29 3.2 Segundo caso: P (x) 6= 0 Para resolvermos essa equação vamos manipulá-la para que ela tome a forma dh dx = m(x), em que h(x) e m(x) são funções relacionadas a y(x), P (x) e Q(x). Uma vez que isso tenha sido feito, basta aplicar o método visto na seção anterior para encontrar h(x), o que nos levará facilmente a y(x) como veremos em breve. O método consiste em encontrar uma função u(x) de modo que, ao multiplicarmos a equaÃão 3.1 por u(x), a equaà ao resultante u(x) dy dx + u(x)P (x)y = u(x)Q(x) possa ser reescrita na forma d dx (u(x)y(x)) = u(x)Q(x). (3.2) Se isso for possível, temos que u(x)y(x) = ∫ u(x)Q(x)dx, e isso implica que y(x) = ∫ u(x)Q(x)dx u(x) , de modo que a equação estará resolvida. Resta saber se é possível encontrar a função u(x) que satisfaça essa condição. Precisamos encontrar uma função u(x) tal que a derivada d dx (u(x)y(x)) (3.3) seja igual a u(x) dy dx + u(x)P (x)y. Aplicando a regra do produto à equação (3.3), temos que d dx (u(x)y(x)) = u(x) dy dx + du dx y(x). Daí temos que u(x) dy dx + u(x)P (x)y = u(x) dy dx + du dx y(x). 30 Equações Diferenciais Ordinárias Para que essa igualdade seja verdadeira precisamos que du dx = uP (x) que é uma equação diferencial separável para u(x). Vamos agora resolver essa equação. O primeiro passo é separar de um lado da equação tudo que envolve a função u e do outro tudo que envolve a variável x: du u = P (x)dx. Integrando ambos os lados obtemos∫ du u = ∫ P (x)dx ln |u| = ∫ P (x)dx o que implica que u(x) = e ∫ P (x)dx. Com isso conseguimos mostrar a existência de uma função u(x) que leva a equação (3.1) em uma equaçao da forma (3.2). Logo a solução da EDO (3.1) é y(x) = ∫ u(x)Q(x)dx u(x) em que u(x) = e ∫ P (x)dx. A função u(x) é chamada fator integrante. Exemplo 19. Resolva o PVI { dy dx + y = 1 y(0) = 2. Solução. A equação diferencial que aparece no PVI acima é uma EDO linear com P (x) = 1 e Q(x) = 1. O primero passo para resolvê-la é encontrar o fator integrante u(x). Para isso, multiplicamos ambos os lados da equaà ao por u(x), obtendo uy′ + uy = u. Devemos encontrar u de modo que d dx (uy) = uy′ + u′y︸ ︷︷ ︸ Regra da Cadeia = uy′ + uy︸ ︷︷ ︸ Lado esquerdo da EDO . Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 31 Essa condição implica que u′ = u que é uma EDO separável para u(x). Essa equação pode ser resolvida facilmente, fornecendo u(x) = e ∫ dx = ex. Daí temos que d dx (exy(x)) = ∫ exdx e portanto y(x) = ex + c ex = 1 + ce−x em que c é uma constante que será determinada pela condição inicial. Como a condição inicial impõe y(0) = 2 temos que y(0) = 1 + c = 2 o que implica que c = 1. Logo a solução do PVI é y(x) = 1 + e−x. Exemplo 20. Resolva o PVI { y′ x − 2y x2 = x cos(x) y(pi) = 0. Solução. Primeiramente devemos reescrever a equação na forma usual, multiplicando todos os termos por x. Isso fornece a equação y′ − 2y x = x2 cos(x). Em seguida devemos encontrar o fator integrante u(x) = e ∫ P (x)dx = − ∫ 2dx x = e−2 ln(x) = 1 x2 . Usando o fator integrante podemos escrever a equação diferencial na forma d dx ( y x2 ) = cos(x) o que implica que y(x) = x2 sen(x) + cx2. O leitor não terá dificuldades em mostrar que a condição inicial y(pi) = 0 implica que c = 0 de modo que a solução do PVI acima é y(x) = x2 sen(x). 32 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 20. Resolva as EDO's lineares que encontrar na lista abaixo. 1. y′ + 2xy = 0; 2. y′ + ln(xy) = cos(xy); 3. y′ + y = sen(x); 4. y′ + xy = xy2; 5. xy′ − 2y = x3 cos(4x). Exercício 21. Resolva cada um dos problemasde valor inicial a seguir e desenhe os gráficos das soluções para diversos valores de y0. (a) dy dt = −y + 5 y(0) = y0 (b) dy dt = −2y + 5 y(0) = y0 (c) dy dt = −2y + 10 y(0) = y0 Observe que você já resolveu essas equações na seção anterior. Compare as respostas obtidas utilizando os dois métodos diferentes. Exercício 22. Mostre que se y = φ(t) é uma solução de y′+p(t)y = 0, então y = cφ(t) também é uma solução para qualquer valor da constante c. 3.3 Aplicações Equações lineares possuem inúmeras aplicações em diversas áreas do conhecimento. Veremos aqui alguns exemplos. Exemplo 21. Em um tanque há 500l de água limpa. a partir de um certo instante de tempo, uma solução salina entra no tanque a uma taxa de 2l por minuto. A concentração de sal na água que entra é de 50g por litro. A solução é bem misturada dentro do tanque e sai dele também a uma taxa de 2l por minuto. Encontre a quantidade de sal dentro do tanque como uma função do tempo. Solução. O problema nos fornece informações sobre a taxa de entrada e saída de sal do tanque, ou seja, a partir do enunciado do problema podemos descobrir qual é a taxa de variação da quantidade de sal em relação ao tempo. Denotando a quantidade de sal no instante de tempo t por Q(t), devemos encontrar Q′(t). Para isso devemos encontrar a taxa de entrada de sal e a taxa de saída de sal do tanque. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 33 A taxa de entrada de sal será a quantidade de sal que entra no tanque, em gramas, a cada minuto. Em um minuto entram no tanque 2l de solução salina, sendo que cada litro contém 50g de sal. Logo a taxa de entrada de sal é de 2l/min× 50g/l = 100g/min. Vejamos agora qual é a quantidade de sal que sai do tanque. A cada minuto saem do tanque 2l de solução bem misturada. A quantidade de sal em cada litro de água que está dentro do tanque é Q(t) 500 . Logo a taxa de saída de sal do tanque é de 2l/min× Q(t) 500 g/l = Q(t) 250 g/min. Desse modo a equação diferencial que modela o processo é Q′(t) = 100− Q(t) 250 que é uma equação linear e portanto pode ser resolvida utilizando os métodos mostrados nesse capítulo. Exercício 23. Em um tanque há 500l de água limpa. A partir de um certo instante de tempo, uma solução salina entra no tanque a uma taxa de 4l por minuto. A concentração de sal na água que entra é de 200g por litro. A solução é bem misturada dentro do tanque e sai dele também a uma taxa de 4l por minuto. Encontre a quantidade de sal dentro do tanque como uma função do tempo. Exercício 24. Em um tanque há 5kg de sal dissolvidos em 500l. A partir de um certo instante de tempo, o tanque começa a ser lavado e água limpa entra a uma taxa de 4l por minuto. A solução é bem misturada dentro do tanque e sai dele também a uma taxa de 4l por minuto. Quanto tempo demora para que a quantidade de sal dentro do tanque seja 10% do valor inicial? 3.4 Respostas dos exercícios selecionados Exercício 20: 1: y(x) = ce−x 2 . 3: y(x) = sen(x) 2 − cos(x) 2 + ce−x. 5: y(x) = x 2 sen(4x) 4 + cx2. As equações dos itens 2 e 4 não são lineares. Exercício 23: Q(t) = 100.000 ( 1− e −t125 ) . Exercício 24: Q(t) = 10e −t 125 . Aproximadamente 4, 8 horas. 4 Equações Diferenciais de Primeira Ordem Exatas Observe atentamente o exemplo abaixo. Exemplo 22. Resolva o PVI xy′ + y = 0 y(1) = 1 . Solução. A equação diferencial que aparece no PVI acima é uma equação linear bem simples e pode ser facilmente resolvida se utilizarmos o método visto no capítulo anterior. No entanto, vamos resolvê-la usando um método diferente. Observe que o lado esquerdo da equação é igual à derivada em relação a x da função φ(x) = xy(x), uma vez que pela regra do produto temos φ′(x) = xy′ + y. Logo a equação diferencial pode ser reescrita na forma d dx φ(x) = 0 , cuja solução é φ(x) = c, em que c é uma constante real qualquer. Assim temos que xy(x) = c ⇒ y(x) = c x e temos a solução geral da equação. O leitor não terá dificuldades em verificar que para que a condição inicial y(1) = 1 seja satisfeita devemos ter c = 1. Muitas outras equações podem ser resolvidas de modo semelhante. Essas equações são chamadas equações exatas. Definição 8. Dizemos que uma equação diferencial de primeira ordem é exata se existe uma função Ψ : R2 → R tal que, definido φ(x) = Ψ (x, y(x)), a equação pode ser reescrita na forma d dx φ(x) = 0. (4.1) 35 36 Equações Diferenciais Ordinárias No exemplo acima, temos Ψ(x, y) = xy. Uma vez encontrada a função Ψ o problema está resolvido: a função y é dada implicitamente pela equação φ(x) = c em que c é uma constante real qualquer. Obviamente, nem toda equação de primeira ordem pode ser reescrita nessa forma. Em seguida veremos como verificar se isso é possível e, em caso afirmativo, veremos como encontrar a função Ψ. Dada uma função Ψ(x, y), a regra da cadeia para funções de várias variáveis implica que d dx φ(x) = d dx Ψ (x, y(x)) = ∂Ψ ∂x + ∂Ψ ∂y dy dx . Isso implica que para que a equação seja exata, ela deve ser da forma M(x, y) +N(x, y)y′ = 0 em que M(x, y) = ∂Ψ ∂x e N(x, y) = ∂Ψ ∂y . Sabemos que, se M e N são contínuas e possuem derivadas parciais contínuas, vale ∂ ∂y ∂Ψ ∂x = ∂ ∂x ∂Ψ ∂y Daí temos que, se a equação é uma equação exata , My = Nx. Teorema 2. Uma equação diferencial ordinária de primeira ordem é exata se, e somente se, pode ser reescrita na forma M(x, y) +N(x, y)y′ = 0 (4.2) em que My = Nx. (4.3) 4.1 Método de Resolução Uma vez que a equação seja exata, devemos encontrar a função Ψ para resolvê-la. Sabemos que Ψx = M(x, y) e que Ψy = N(x, y). O primeiro passo é escolher qualquer uma das condições acima e integrar em relação à variável correspondente. Vamos escolher a primeira, mas tudo pode ser feito de maneira Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 37 análoga se escolhemos a segunda. Integrando a primeira condição em relação a x temos que Ψ(x, y) = ∫ M(x, y)dx+ h(y). A função h(y) funciona como a constante de integração nesse caso. Como a integração é somente em relação a x, a �constante� de integração pode depender da variável y. Vamos agora usar a segunda condição para encontrar a função h(y). Sabemos que ∂Ψ ∂y = ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx+ h′(y) = N(x, y) o que implica que h′(y) = N(x, y)− ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx. Logo temos que h(y) = ∫ ( N(x, y)− ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx ) dy e a função Ψ(x, y) está determinada. Com isso, temos a solução y(x, y) definida im- plicitamente pela equação Ψ(x, y) = c em que c é uma constante a ser determinada através da condição inicial. Exemplo 23. Mostre que a EDO 2x+ 3 + (2y − 2)y′ = 0 é exata e resolva-a. Solução. A EDO é de fato exata, já que M(x, y) = 2x + 3 e N(x, y) = 2y − 2, o que implica que My = Nx = 0. Para resolver a equação devemos encontrar a função Ψ. Começamos com a condição ∂Ψ ∂x = 2x+ 3. Integrando em relação a x temos Ψ(x, y) = x2 + 3x+ h(y). Vamos agora usar a condição ∂Ψ ∂y = 2y − 2 para encontrar a função h(y). Temos que ∂Ψ ∂y = h′(y) = 2y − 2 38 Equações Diferenciais Ordinárias o que implica que h(y) = y2 − 2y. Logo Ψ(x, y) = x2 + 3x+ y2 − 2y e a equação x2 + 3x+ y2 − 2y = c define a solução y(x) implicitamente. Exemplo 24. A EDO 1 + ( x y − sen(y) ) y′ = 0 não é exata. De fato, My = 0 e Nx = 1 y . Exemplo 25. Resolva o PVI 2xy + (x2 − 1) dy dx = 0 y(0) = −2 Solução. Antes de fazer qualquer conta, devemos verificar se a equação é exata. Nesse caso temos My = Nx = 2x e de fato ela é exata. Para encontrar a função Ψ(x, y) vamos agora começar da segunda condição ∂Ψ ∂y = x2 − 1. Integrando em relaçãoa y temos Ψ(x, y) = x2y + y + h(x). Agora utilizamos a primeira condição para encontrar a função h(x). Temos que ∂Ψ ∂x = 2xy + h′(x) = 2xy o que implica que h′(x) = 0 e portanto podemos usar h(x) = 0. Daí temos que Ψ(x, y) = x2y − y e a equação x2y − y = c define y implicitamente. Isolando y temos y(x) = c x2 − 1 . O leitor não terá dificuldades em mostrar que para que a condição inicial y(0) = −2 seja satisfeita devemos ter c = 2. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 39 Exercício 25. Resolva o PVI xy2 − cos(x) sen(x)− y(1− x2)dy dx = 0 y(0) = 2 Exercício 26. Resolva as equações diferenciais exatas que encontrar na seguinte lista: 1. (x− y)y′ + (−x+ y + 2) = 0; 2. y′ = y − x+ 1 −x+ y + 3 ; 3. (x2 + y2)y′ + xexy + 1 = 0; 4. y′ = √ y. Exercício 27. Encontre a solução geral das EDOs exatas que econtrar na lista abaixo: 1. e2y − y cos(xy) + (2xe2y − x cos(xy) + 2y) y′ = 0; 2. ( 2y − 1 x + cos(3x) ) y′ + y x2 − 4x3 + 3y sen(3x) = 0; 3. (x2 − 4xy) + 5xy′ = 0; 4. (x+ y)2 + (2xy + x2 − 1)y′ = 0. Exercício 28. Encontre o valor da constante k tal que (y3 + kxy4 − 2x) + (3xy2 + 20x2y3)y′ = 0. 4.2 Fatores integrantes Em alguns casos, uma equação diferencial que não é exata pode ser transformada em uma equação exata se usarmos um fator integrante u(x, y). Essa função tem a propriedade de que quando a multiplicamos em ambos os lados da equação ela passa a ser uma equação exata. Seja M(x, y) +N(x, y)y′ = 0 uma equação que não é exata. Queremos saber se existe uma função u(x, y) de modo que u(x, y)M(x, y) + u(x, y)N(x, y)y′ = 0 40 Equações Diferenciais Ordinárias seja exata. Para que isso aconteça, u(x, y) deve ser tal que ∂ ∂y u(x, y)M(x, y) = ∂ ∂x u(x, y)N(x, y) que pela regra do produto implica que uy(x, y)M(x, y) + u(x, y)My(x, y) = ux(x, y)N(x, y) + u(x, y)Mx(x, y). (4.4) Essa é uma equação diferencial parcial para u(x, y) que em geral é muito difícil de re- solver. Podemos no entanto supor que a função u dependa apenas de uma das variáveis, apenas de x, u(x), ou apenas de y, u(y). Se u depende apenas de x, a equação (4.4) passa a ser uMy(x, y) = N(x, y) du dx + uMx(x, y) e pode ser reescrita na forma du dx = My −Nx N u. Isso só é possível se My −Nx N é uma função que depende apenas de x. Teorema 3. Uma equação diferencial M(x, y) +N(x, y)y′ = 0 possui um fator integrante u(x) que depende apenas de x se, e somente se, My −Nx N depende apenas de x. Exemplo 26. Mostre que a equação cos(x) + ( 1 + 2 y ) sen(x)y′ = 0 possui um fator integrante que depende apenas de x. Solução. Nesse caso, temos My −Nx N = 0− ( 1 + 2 y ) cos(x)( 1 + 2 y ) sen(x) = cos(x) sen(x) , Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 41 que é uma função apenas de x. Logo a equação diferencial u′ = cos(x) sen(x) u é uma EDO separável que fornece o fator integrante u(x). Assim temos que u(x) cos(x) + u(x) ( 1 + 2 y ) sen(x)y′ = 0 é uma equação exata e pode ser resolvida através do método mostrado anteriormente. Exercício 29. Encontre a solução geral da equação 2y2 + 3x+ 2xyy′ = 0. Exercício 30. Mostre que uma equação diferencial M(x, y) +N(x, y)y′ = 0 possui um fator integrante u(y) que depende apenas de y se Nx −My M depende apenas de y. Exercício 31. Mostre que a equação 1 + ( x y − sen(y) ) y′ = 0 possui um fator integrante que depende apenas de y. Encontre a solução geral dessa equação. Exercício 32. Uma porção de uma corrente com 1m de comprimento é ligeiramente enrolada ao redor de uma estaca na borda de uma plataforma horizontal elevada, e o restante da corrente fica em repouso ao longo da borda da plataforma. Suponha que o comprimento da corrente enrolada é de 30cm e que o peso da corrente é de 1kg. O peso da porção da corrente que não está enrolada faz com que a corrente se desenrole suavemente até cair no chão. Quando todas as forças de resistência são ignoradas, o comprimento da corrente que não está enrolada x(t) obedece a equação xv dv dx + v2 = 32x Em que v é a velocidade da corrente. Encontre a velocidade com que a corrente deixa a plataforma. 42 Equações Diferenciais Ordinárias 4.3 Respostas dos Exercícios Selecionados Exercício 25: y(x) = √ sen2(x)−4 x2−1 ; Exercício 4: 1. xy − y2 2 − x2 2 + 2x = c; 2. 3y − xy + y2 2 + x 2 2 − x = c; 3. Não é exata; 4. Não é exata. Exercício 4: 1. xe2y − sen(xy) + y2 = c; 2. Não é exata; 3. Não é exata; 4. −y + x2y + xy2 + x3 3 = c. Exercício 28: k = 10. Exercício 29: x2y2 + x3 = c. Exercício 31: xy + y cos(y)− sen(y) = c. 5 Soluções por Substituição Algumas equaç�es não se encaixam em nenhum dos casos vistos nos capítulos anteriores. No entanto, é possível fazer uma mudança de variáveis que transforma a equação em uma outra que sabemos como resolver. Existem inúmeras maneiras de fazer isso e nesse capítulo veremos alguns dos exemplos mais importantes. Exemplo 27. A equação diferencial y′ = (x− y + 1)2 não é separável, nem linear, nem exata. Não temos, portanto, meios de resolvê-la através dos métodos vistos até agora. No entanto, essa equação pode ser levada a uma equação diferencial separável através da mudança de variáveis z(x) = x− y + 1. Com a função z(x) definida dessa forma temos z′(x) = 1− y′(x). Utilizando a equação diferencial temos que z′ = 1− (x− y + 1)2 = 1− z2 de modo que z(x) satisfaz z′ = 1− z2, uma equação separável que conseguimos resolver. Separando x e z na equação acima obtemos dz 1− z2 = dx que por sua vez fornece ln |z + 1| 12 + ln |z − 1|− 12 = x+ c. 43 44 Equações Diferenciais Ordinárias Aplicando a exponencial a ambos os lados obtemos (z + 1) 1 2 (z − 1)− 12 = kex em que k = ±ec. Essa equação define z implicitamente. Utilizando o fato de que z = x− y + 1 obtemos a equação (x− y + 2) 12 (x− y)− 12 = kex que define y implicitamente. A ideia do exemplo acima é introduzir uma nova função z(x) relacionada a y(x) de modo que a equação diferencial para y(x) implique uma equação diferencial para z(x) que caia em algum dos casos para os quais existe um método de solução. Uma vez resolvida a equação para z(x) podemos utilizar a relação entre essa função e y(x) para recuperar y(x), a solução da equação original que queríamos resolver. Essa é a mesma ideia envolvida em todas as soluções de EDO's através de substituição. O que muda de um caso para outro é formato da nova função z(x). Exercício 33. Mostre que a equação diferencial y′ = f(Ax+By + C) pode ser transformada em uma equação diferencial separável através da substituição z(x) = Ax+By + C. 5.1 Equações Diferenciais Homogêneas Definição 9. Dizemos que uma função f(x, y) é homogênea se existe α ∈ R tal que f(cx, cy) = cαf(x, y). A constante α é chamada de grau da função homogênea f(x, y). Exemplo 28. A função f(x, y) = x4 − y4 é homogênea de grau 4, uma vez queremos f(cx, cy) = c4x4 − c4y4 = c4(x4 − y4) = c4f(x, y). Já a função g(x, y) = x2 − 3y2 − 5xy é homogênea de grau 2, como o leitor não terá dificuldades de mostrar. A função h(x, y) = x+ y2 + 1 não é homogênea já que h(cx, cy) = cx+ c2y2 + 1 6= cα(x+ y2 + 1) não importa qual seja o valor de α. Exercício 34. Verifique se as seguintes funções são homogêneas e determine o grau: 1. f(x, y) = x2 − 4xy + 6y2; Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 45 2. f(x, y) = x4 + y4; 3. f(x, y) = x4 + y4 + 4; 4. f(x, y) = 3 √ x2 + y2; 5. f(x, y) = x 3y + 5. Definição 10. Dizemos que uma equação diferencial ordinária de primeira ordem é homogênea se ela pode ser escrita na forma F (x, y) +G(x, y)y′ = 0 em que as funções F (x, y) e G(x, y) são homogêneas de mesmo grau.Exemplo 29. A equação ( x2 + y2 ) + ( x2 − xy) y′ = 0 é homeogênea pois F (x, y) = x2 + y2 e G(x, y) = x2 − xy são homogêneas de grau 2. Já equação ( x3 + y3 ) + ( x2 − xy) y′ = 0 não é homeogênea pois F (x, y) = x3 + y3 é homogênea de grau 3 e G(x, y) = x2 − xy é homogênea de grau 2. A equação( x3 + y3 + 1 ) + ( x2 − xy) y′ = 0 não é homogênea porque a função F (x, y) = x3 + y3 + 1 não é homogênea. 5.1.1 Método de Resolução Equações homogêneas podem ser resolvidas através da substituição y(x) = xz(x). Por serem funções homogêneas F (x, y) e G(x, y) podem ser reescritas na forma F (x, y) = F (x× 1, x× z(x)) = xαF (1, z(x)) G(x, y) = G (x× 1, x× z(x)) = xαG (1, z(x)) . Substituindo na equação diferencial temos xαF (1, z) + xαG (1, z) y′ = 0 Utilizando a regra do produto temos que y′ = z + xz′. Daí temos que a equação diferencial pode ser reescrita na forma xαF (1, z) + xαG (1, z) (z + xz′) = 0. 46 Equações Diferenciais Ordinárias Vamos agora manipular essa equação para mostrar que ela é uma equação separável para a funçãoz(x). Temos que (z + xz′) = −xαF (1, z) xαG (1, z) = −F (1, z) G (1, z) o que nos leva a xz′ = −F (1, z) G (1, z) − z o que implica que dz −F (1,z) G(1,z) − z = dx x . Observe que uma equação homogênea pode ser escrita na forma y′ = f(x, y) em que a função f(x, y) = −F (1, z) G (1, z) depende apenas de z = y x . Desse modo é equivalente dizer que uma equação é ho- mogênea se pode ser escrita na forma y′ = f (y x ) . Independente do modo como a equação esteja escrita, a mudança de variável z(x) = xy(x) transforma a equação em uma equação separável que pode ser resolvida facil- mente. Exemplo 30. A equação diferencial y′ = 2x− y y é uma equação diferencial homogênea já que pode ser escrita na forma y − 2x+ yy′ = 0 em que M(x, y) = 2x − y e N(x, y) = y são funções homogêneas de grau 1. Para resolvê-la utilizamos a mudança de variável y(x) = xz(x). Temos que y′ = z + xz′ e por isso a equação pode ser reescrita na forma xz − 2x+ xz(z + xz′) = 0 Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 47 que pode ser simplificada para z − 2 + z2 + xzz′ = 0, que em seguida pode ser escrita na forma z′ = −z 2 + z − 2 xz . Essa é uma equação separável que pose ser facilmente resolvida. Separando de um lado a função z e do outro a variável x temos zdz z2 + z − 2 = − dx x . Integrando ambos os lados e observando que a integral do lado esquerdo pode ser feita através de frações parciais temos ln |z + 2| 23 + ln |z − 1| 13 = − ln |x|+ c. Aplicando a exponencial em ambos os lados temos que (z + 2) 2 3 (z − 1) 13 = k x em que k = ±ec é uma constante real arbitrária. Essa equação define a função z(x) implicitamente e substituinto z = y x temos que(y x + 2 ) 2 3 (y x − 1 ) 1 3 = k x . A constante k pode ser encontrada a partir das condições iniciais. Exemplo 31. Encontre a solução geral da equação( y2 + yx ) + x2y′ = 0. Solução. Fazendo a substituição y(x) = xz(z) a equação pode ser reescrita na forma( x2z2 + x2z ) + x2 (z + xz′) = 0 que pode ser simplificada para ( z2 + 2z ) + xz′ = 0. Separando z e x temos dz z2 + 2z = −dx x 48 Equações Diferenciais Ordinárias cuja solução geral é z 1 2 (z + 2)− 1 2 = kx−1 que define z implicitamente. Substituindo z por y x temos que a equação( y(x) x ) 1 2 ( y(x) x + 2 )− 1 2 = kx−1 define a solução y implicitamente. Exercício 35. Resolva as equações diferenciais homogêneas abaixo: 1. (x2 + y2) + (x2 − xy) y′ = 0; 2. ( 2 √ xy − y)+−xy′ = 0; 3. (2x3y) + (x4 + y4) y′ = 0; Exercício 36. Resolva as equações homogêneas que encontrar na lista abaixo. 1. 5x− y + 3xy′ = 0; 2. x2 + y2 − 2xy′ = 0; 3. xy′ + y = 3; 4. xy + 1 + y2y′ = 0; 5. ey/x + y′ − y x = 0. 5.2 Equações de Bernoulli Definição 11. Dizemos que uma equação diferencial ordinária de primeira ordem é uma equação de Bernoulli se pode ser escrita na forma y′ + P (x)y = Q(x)yn (5.1) Para a resolver uma equação de Bernoulli, podemos fazer uma substituição que leva a equação a uma equação diferencial linear de primeira ordem, que já sabemos resolver. Começamos dividindo ambos os membros por yn, o que nos leva a equação y−ny′ + P (x)y1−n = Q(x). (5.2) Definimos agora z(x) = (y(x))1−n Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 49 cuja derivada é z′ = (1− n)y1−n−1y′ = (1− n)y−ny′. Multiplicando ambos membros da equação (5.2) por 1− n, obtemos (1− n)y−ny′ + (1− n)P (x)y1−n = (1− n)Q(x)! que pode ser reescrita na forma z′ + (1− n)P (x)z = (1− n)Q(x). A última equação é uma equação diferencial linear que (supondo, como acima, P(x) e Q(x) contínuas) pode ser resolvida pelo processo anteriormente descrito. A partir da solução dessa equação linear podemos chegar à solução y(x) se substituirmos z por y1−n. Exemplo 32. Resolva a seguinte equação diferencial dy dx + 1 x y = xy2. Solução. Dividindo ambos os lados da equação por y2 obtemos y′y−2 + 1 x y−1 = x. Vamos agora utilizar a seguinte mudança de variáveis: z(x) = y−1. Calculando a derivada de z(x) temos z′ = −y−2y′. Podemos então reescrever a equação diferencial na forma z′ − 1 x z = −x (5.3) que é uma equação diferencial linear para z(x). Vamos agora resolver essa equação. Temos que P (x) = −1 x e Q(x) = −x o que implica ∫ P (x) dx = ∫ −1 x dx = − lnx = lnx−1 que por sua vez implica que u(x) = e ∫ P (x) dx = elnx −1 = x−1. 50 Equações Diferenciais Ordinárias Daí temos que( x−1y(x) ) = ∫ e ∫ P (x) dxQ(x) dx = ∫ −x−1x dx = ∫ −1 dx,= −x. Assim a solução geral da equação (5.3) é dada por x−1z = −x+ c. Para x 6= 0, essa equação é equivalente a z = −x2 + cx, ou seja, temos z(x) = −x2 + cx. Substituindo z por y−1, temos y−1 = −x2 + cx, o que equivale a, y(x) = 1 −x2 + cx. Exercício 37. Resolva as equações de Bernoulli abaixo: 1. y′ + 1 x y = (cosx)y−2; 2. dy dx + x2y = x2y4. Exercício 38. Mostre que a equação (cos y)y′+2x sen y = −2x pode ser transformada em uma equação linear. (Sugestão: z = sen y). Exercício 39 (Equação de Ricatti). A equação y′ + P (x)y +Q(x)y2 = f(x) (5.4) é chamada Equação de Ricatti. 1. Mostre que se y1(x) e y2(x) são soluções da equação (5.4), então, a função z(x) = y2(x)− y1(x) é a solução da equação de Bernoulli z′ = (P + 2y2Q)z −Qz2. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 51 2. Sabendo que y(x) = x é uma solução da equação de Ricatti y′ + x3y − x2y2 = 1, determine as demais soluções. 3. Sabendo que y(x) = x2 é uma solução da equação de Ricatti y′ = y2 + 2x− x4, determine as demais soluções. 5.3 Respostas dos Exercícios Selecionados Exercício 34: 1. A função é homogênea de grau 2; 2. A função é homogênea de grau 4; 3. A função não é homogênea; 4. A função é homogênea de grau 2 3 ; 5. A função é homogênea de grau 0. Exercício 35: 1. ln ∣∣ y x + 1 ∣∣2 |x| = y x + c; 2. (√ y x − 1)2 = kx; 3. ∣∣∣ y4x4 + 3∣∣∣ 16 ∣∣ yx∣∣ 13 = kx . Exercício 36: 1. ( y x + 5 ) 3 2 = k x ; 2. A equação não é homogênea; 3. y(x) = −x ln (ln |x|+ c) ; 52 Equações Diferenciais Ordinárias 4. A equação não é homogênea; 5. A equação não é homogênea. Exercício 37: (Atenção! Esse exercício foi modificado!) 1. y(x) = 1 3 √ 1+cex3 ; 2. x3y3 = x(x2 − 6) sen(x) + 3(x2 − 2) cos(x) + c. 6 Considerações qualitativas sobre Equações Diferenciais de Primeira Ordem: Campos de Direções Quando estamos trabalhando com equações diferenciais ordinárias de primeira ordem, podemos obter várias informações qualitativas sobre o comportamento da solução mesmo quando a equação não pode ser resolvida.Como a solução da equação se comporta na vizinhança de um determinado ponto? Qual é o comportamento da solução quando x tende a infinito? Veremos que perguntas como essas e várias outras podem ser respondidas a partir do Campo de Direções da equação. A utilidade do campo de direções está ligada ao importante fato do cálculo diferencial: A derivada dy dx (x0) de uma função y(x) representa a inclinação da reta tangente ao gráfico de y no ponto (x0, y(x0)) . Além disso, se a inclinação é positiva a função y(x) é crescente e se a inclinação é negativa a função y(x) é decresente. Em geral, se soubermos a inclinação da função y(x) em todos os pontos onde ela está definida poderemos responder várias perguntas sobre seu comportamento. Exemplo 33. A figura abaixo mostra o gráfico da função f(x) = x2. Na primeira parte da figura o gráfico aparece sozinho e na segunda parte ele aparece acompanhado de vários segmentos de reta azuis que representam a inclinação da reta tan- gente ao gráfico naqueles pontos. A terceira parte da figura mostra apenas os segmentos de reta. Observe que a partir deles é possível ter uma ideia razóavel do comportamento da função , mesmo sem ter o seu gráfico completo. Usaremos um procedimento semel- hante para estudarmos o comportamento das soluções de uma equação diferencial de primeira ordem. 53 54 Equações Diferenciais Ordinárias Quando uma equação diferencial ordinária de primeira ordem está escrita na forma dy dx = f(x, y) é fácil descobrir qual é a inclinação da solução em cada ponto do plano (x, y). Para isso, em cada ponto do plano podemos desenhar um pequeno segmento de reta com inclinação dada por f(x, y). Esse pequeno segmento de reta ilustra a inclinação da reta tangente ao gráfico da solução y(x) que passa por esse ponto. Esses pequenos segmentos de reta são chamados elementos lineares. Se calcularmos o valor de f(x, y) em uma malha retangular de pontos no plano e em cada um desses pontos desenharmos o elemento linear correspondente, obteremos uma coleção de pequenos segmentos de reta que é chamada de Campo de Direções da equação diferencial. Em cada ponto da malha o segmento de reta do campo de direções representa a inclinação da reta tangente ao gráfico da solução que passa por aquele ponto. Visualmente o campo de direções sugere a aparência ou a forma das soluções da equação diferencial. Em geral é possível vizualizar determinados aspectos qualitativos das soluções, como regiões de crescimento ou decrescimento, comportamento no infinito, etc. Cada uma das soluções da equação deve acompanhar o padrão determinado pelo campo: quando a solução passa por um ponto da malha ele deve ser tangente ao elemento linear correspondente. Exemplo 34. Os exemplos abaixo mostram vários campos de direções e algumas soluções exatas são representadas geometricamente. Observe como as soluções seguem o fluxo determinado pelo campo. 56 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 35. O campo de direções da equação y′ = −y mostrado nas duas figuras abaixo foi contruído utilizando um programa de computador. A diferença entre ois dois campos está na malha retangular utilizada. Observe que na segunda figura são utilizados mais pontos na malha, o que facilita a vizualização do comportamento da solução. Uma das soluções dessa equação diferencial é exibida. Observe como ela acompanha o fluxo determinado pelo campo de direções. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 57 Exemplo 36. A figura abaixo mostra um campo de direções para a equação y′ = sen(x+ y) construído a partir de um programa de computador. A figura também mostra uma das soluções da mesma equação diferencial. Observe como a solução acompanha o fluxo determinado pelo campo. 6.1 Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem Autônomas Definição 12. Dizemos que uma equação diferencial de primeira ordem é autônoma se a variável independente x não aparece explicitamente, ou seja, se ela pode ser escrita na forma dy dx = f(y). (6.1) Equações autônomas são sempre separáveis, pois podemos reêscrevê-las na forma dy f(y) = dx 58 Equações Diferenciais Ordinárias separando a função y da variável x. No entanto, a integral envolvida pode ser complicada e pode ser útil obter informações qualitativas sobre y a partir do campo de direções. Para uma equação autônoma o valor de y′ pode ser encontrado a partir de y, uma vez que x não aparece na equação. Por isso, é bem mais fácil desenhar o campo de direções nesses casos. Exemplo 37. A figura abaixo mostra o campo de direções da equação diferencial y′ = −y 2 . Observe que para um mesmo valor de y (linhas horizontais) todos os elementos lineares são iguais. A figura também mostra uma das soluções da equação diferencial. Definição 13. Dizemos que uma solução constante y(x) = c da equação autônoma y′ = f(y) (6.2) é uma solução de equilíbrio. Observe que a função constante y(x) = c é solução da equação (6.2) se, e somente se, f(c) = 0. No exemplo 37 temos uma única solução de equilíbrio, a saber, a solução constante y(x) = 0. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 59 Exemplo 38. As figuras abaixo mostra o campo de direções da equação diferencial y′ = y(y2 − 4) 2 . Observe que para um mesmo valor de y (linhas horizontais) todos os elementos lineares são iguais, o que é uma consequência do fato de que a equação diferencial é autônoma. As soluções de equilíbrio nesse caso são y(x) = 2, y(x) = 0 e y(x) = −2. A primeira figura mostra uma das soluções da equação diferencial com condição inicial 0 < y(0) < 2 e a segunda figura mostra uma das soluções com condição inicial y(0) > 2. Observe que o comportamento da solução depende fortemente da condição inicial. 60 Equações Diferenciais Ordinárias Observe no exemplo acima que as soluções com condição inicial y(0) próxima de 0 se aproximam da solução estável y(x) = 0. Quando isso acontece dizemos que a solução é uma solução de equilíbrio estável. Caso contrário, dizemos que é uma solução de equilíbrio instável. Observe que no exemplo acima as soluções y(x) = 2 e y(x) = −2 são soluções de equilíbrio instável. 6.2 Equações não-autônomas Quando temos uma equação diferencial que não é autônoma o desenho do campo de direções é mais complexo porque nesse caso os elementos lineares dependem também de x. A melhor estratégia é encontrar primeiro o conjunto de pontos do plano em que os elementos lineares são horizontais, ou seja, encontrar o conjunto de pontos do plano onde temos y′ = f(x, y) = 0. Em seguida devemos fixar um valor c ∈ R e encontrar o conjunto de pontos do plano que satisfazem y′ = f(x, y) = c. Nesse conjunto de pontos todos os elementos lineares serão idênticos e sua inclinação será dada pelo valor de c. Exemplo 39. As figuras abaixo mostram o campo de direções da equação diferencial y′ = x− y. O conjunto de pontos para os quais y′ = 0 é a reta y = x. Observe que sobre essa reta todos os elementos lineares no campo são horizontais. Fixado c o conjunto de pontos Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 61 em que o elemento linear possui inclinação c é a reta y = x− c, que é uma reta paralela à reta y = x. Observe que sobre essas retas todos os elementos lineares são idênticos. 62 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 40. Para as equações diferenciais abaixo, desenhe um campo de direções e determine o comportamento de y quando t torna-se muito grande. Se esse comporta- mento depender do valor inicial y(0), descreva essa dependência. (a) y′ = 3− 2y (b) y′ = 2y − 3 (c) y′ = 3 + 2y (d) y′ = y(4− y) (e) y′ = −y(5− y) (f) y′ = y2 (g) y′ = y(y − 2)2 (h) y′ = −2 + t− y (i) y′ = te−2t − 2y (j) y′ = 3 sen(t) + 1 + y Exercício 41. A equação diferencialdP dt = P (aP − b) com a e b constantes positivas é um modelo populacional bem conhecido, chamado de modelo logísitico. Esboce o campo de direções da equação diferencial e verifique o que acontece com a população quando o tempo é muito grande. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 63 Exercício 42. Outro modelo populacional é dado pela equação dP dt = kP − h em que k e h são constantes positivas. Esboce o campo de direções dessa equação diferencial e verifique para quais valores da população inicial o modelo prediz que a população será extinta. Após resolver esses exercícios você pode conferir a sua resposta plotando o campo de direções das equações no link http://www.im.ufrj.br/waldecir/calculo2/interativo/ campo_dir.html 7 Aplicações Exemplo 40. Por volta do ano de 1840, o matemático e biólogo belga P. F. Verhulst interessou-se por modelos matemáticos para predizer a população humana de vários países. Uma das equações estudadas por ele foi a equação dP dt = rP ( 1− P k ) , onde r e k são constantes positivas relacionadas às taxas de natalidade e mortalidade e migração respectivamente. Essa equação ficou conhecida como equação logística e sua solução como função logística. A equação dP dt = kP não fornece um modelo preciso quando a população é muito grande, uma vez que em caso de superpopulação, devemos considerar os efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente como poluição e competição por alimentos e outros rescursos, o que implica em um fator que inibe o crescimento populacional. O termo −bP 2 pode ser interpretado como esse termo de �inibição�. Observe que quando a população é pequena o termo positivo domina, o que implica em um crescimento da população. Quando a população é muito grande o termo negativo domina, o que leva a um decrescimento da população. A equação logística é uma equação linear e pode ser resolvida facilmente, fornecendo a solução P (t) = kP0e rt k + P0 (ert − 1) . Quando o tempo é muito grande, t→∞ temos que a população se estabiliza próxima ao valor k. A figura abaixo mostra um exboço da solução. 65 66 Equações Diferenciais Ordinárias O modelo logístico é particularmente bom para modelar populações de determinados tipos de bactérias, vírus, protozoários e de alguns insetos, como a pulga-d'água e a mosca da fruta. Além disso, a equação logística possui inúmeras aplicações em outras áreas: medicina, para modelar o crescimento de tumores; química, para modelar reações; em economia, para modelar o sucesso de uma inovação; Em linguística, para modelar como uma língua varia ao longo do tempo, entre outras. Exercício 43. Suponha que um estudante portador de um vírus da gripe frequênte um campus isolado com cerca de 1000 estudantes. Supondo que a taxa de propagação do vírus seja proporcional tanto ao número de estudantes infectados quanto ao número de estudantes não infectados, determine o número de estudantes infectados após seis dias se for observado que após 4 dias 50 estudantes foram infectados. Exemplo 41. Uma poderosa ferramenta em pesquisa arqueológica é a datação por carbono radiotativo, que permite determinar a idade de determinados restos de plantas e portanto de objetos encontrados junto com elas. Esse procedimento foi desenvolvido pelo químico americano Willard Libby no início da década de 50, e lhe rendeu o prêmio Nobel em Química de 1960. O procedimento utiliza o fato de que algumas plantas acumulam um isótopo do carbono chamado carbono-14, que começa a decair após sua morte. Através de medidas adequadas feitas em laboratório, a proporção de carbono-14 remanescente pode ser determinada e através dessa proporção é possível saber a idade da planta. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 67 1. Sabendo que a meia-vida do carbono-14 é de 5730 anos e que a quantidade de carbono-14 na planta em função do tempo Q(t) satisfaz a equação diferencial Q′ = −rQ, determine a constante de decaimento r para o carbono-14; 2. Encontre uma expressão para Q(t); 3. Suponha que foram descobertos restos de plantas em que a quantidade de carbono- 14 atual é igual a 20% da quantidade original. Determine a idade dos restos. Solução. Como o leitor pode facilmente verificar, a solução para a equação diferencial Q′ = −rQ é Q(t) = Q0e−rt em que Q0 é a quantidade de carbono original na amostra. A meia-vida de um elemento quuímico é o tempo necessário para que metade da amostra tenha decaído. Isso quer dizer que para o carbono 14 Q(5730) = Q0 2 ou seja, e−r5730 = 1 2 . Aplicando a função ln em ambos os lados e com o auxílio de uma calculadora é possível encontrar o valor de r da equação acima. Para resolver o último item, precisamos encontrar o valor de t para o qual Q(t) = 0.2Q0, ou seja, e −rt = 0.2. Com o valor de r encontrado no item anterior e com o auxílio de uma calculadora encontramos o valor de t desejado. Exercício 44. Foi encontrado um osso fossilizado que contém um milésimo da quanti- dade original de C-14. Estime a idade do fóssil. Exemplo 42. Suponha que um empréstimo é feito a uma taxa de r% ao mês. Suponha que os juros sejam compostos continuamente, ou seja, suponha que em cada instante de tempo o aumento no valor dos juros a serem pagos é proporcional ao valor devido naquele instante de tempo. Isso quer dizer que dV dt = rV o que fornece a solução V = VP · er·t em que V é o Valor Futuro, VP é o Valor Presente e r é a taxa de juros continuamente composta. Exercício 45. Resolva os problemas de modelagem enunciados abaixo. 68 Equações Diferenciais Ordinárias 1. Após um experimento, um tanque contém 200 l de uma solução de tinta a uma concentração de 1 g/l. Um novo experimento será feito e para isso é necessário que o tanque seja limpo. O tanque é lavado com água fresca, que entra a uma taxa de 2 l/min. A solução bem misturada sai à mesma taxa. Encontre o tempo necessário para que a concentração de tinta atinja 1% do seu valor inicial. 2. Um tanque contém 500 l de água fresca. é despejada uma solução contendo 300 g de sal a cada 5 litros a uma taxa de 10 l/min e a mistura sai do tanque à mesma taxa. Após 10 min o processo é parado e é despejada água fresca a uma taxa de 10 l/min e a mistura sai à mesma taxa. Encontre a quantidade de sal no tanque após mais 10 min. 3. Um tanque contém 500 l de água e 2 Kg de sal. água contendo uma concentração de sal de 1+sen(t) 4 g/l entra no tanque a uma taxa de 10 l/min e a mistura no tanque sai à mesma taxa. a) Encontre a quantidade de sal no tanque em qualquer instante; b) Desenhe a solução para um período de tempo suficientemente grande, de modo que você possa ver o comportamento limite da solução; c) O comportamento limite da solução é uma oscilação em torno de um valor limite. Qual é esse nível? Qual é a amplitude da oscilação? 4. Pablo investe k reais por ano a uma taxa anual de rendimento r. Suponha que os investimentos sejam feitos continuamente e que o rendimento é composto contin- uamente. a) Determine a quantia S(t) acumulada em qualquer instante t; b) Se r = 7, 5%, determine k de modo que esteja disponível R$1 milhão para a aposentadoria de Pablo após 40 anos; c) Se k = 2000 reais/ano, determine a taxa de rendimento r para se ter R$1 milhão após 40 anos. 5. Lucas e Silmara se casaram e desejam comprar um imóvel, mas não querem pagar mais que 2 mil reais por mês de prestação do financiamento. Suponha que a taxa de juros é de 9% ao ano e que o financiamento é de 20 anos. Suponha que os juros são compostos continuamente e que os pagamentos sejam feitos continuamente. a) Determine o empréstimo máximo que eles podem pedir; b) Determine os juros totais pagos durante todo o empréstimo. 6. Geraldo tem uma quantia S(t) investida que rende juros a uma taxa anual r composta continuamente.São feitas retiradas para as despesas a uma taxa de k reais por ano, também continuamente. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 69 a) Se o valor inicial do investimento é S0, determine S(t) em qualquer instante t; b) Supondo S0 e r fixos, determine k para que S(t) permaneça constante; c) Se k excede o valor k0 encontrado no item anterior, S(t) diminui até se tornar nulo. Encontre o instante t0 para o qual S(t0) = 0; d) Determine t0 se r = 8% e k = 2k0; e) Suponha que uma pessoa que se aposenta com capital S0 deseja efetuar retiradas a uma taxa k por não mais de t0 anos. Calcule a taxa máxima de retirada; f) Qual é o valor do investimento inicial que permite uma retirada anual de 12 mil reais por ano durante 20 anos, supondo uma taxa de juros de 8% ao ano? 7. A população de mosquistos em determinada área cresce a uma taxa proporcional à população atual e a população dobra a cada semana. Existem inicialmente 20.000 mosquitos na área e os predadores comem 20.000 mosquitos por dia. Determine a população de mosquitos em qualquer instante de tempo t. Qual é a população de equilíbrio? 8. A lei de resfriamento de Newton diz que a temperatura de um objeto muda a uma taxa proporcional à diferença de temperatura entre ele e o ambiente que o rodeia. Suponha que a temperatura de uma xícara de café obedeça à lei de resfriamento de Newton. Se o café estava a uma temperatura de 90◦C quando colocado na xícara e um minuto depois esfriou para 80◦C em uma sala a 30◦C, determine quando o café atinge a temperatura de 50◦C. O que acontece com a temperatura do café quando esperamos um intervalo bem grande de tempo? 9. Quando um bolo é retirado do forno a sua temperatura é de 150◦C. Dez minutos mais tarde sua temperatura é de 100◦. Quanto tempo levará para o bolo atingir a temperatura de 50◦? 10. Suponha que uma sala contenha 30m3 de ar sem monóxido de carbono. Começando no instante t = 0, é introduzida fumaça de cigarro contendo 4% de monóxido de carbono a uma taxa de 0, 025 m3/min e permite-se que a mistura, bem circulada, saia da sala à mesma taxa. a) Encontre uma fórmula para a concentração de monóxido de carbono na sala em função do tempo; b) O monóxido de carbono possui uma afinidade química com a hemoglobina cerca de 250 vezes maior que o oxigênio. Quando a carboxihemoglobina é formada, a capacidade que os glóbulos vermelhos possuem de transportar oxigênio aos tecidos é reduzida. As células privadas de oxigênio morrem por inanição. Portanto, o CO age como um agente asfixiante. Exposição longa a uma concentração de monóxido de carbono tão baixa quanto 0, 00012 faz 70 Equações Diferenciais Ordinárias mal ao corpo humano. Encontre o instante em que essa concentração é atingida. 11. Uma bola de massa 0, 15 Kg é atirada para cima com velocidade inicial 20 m/s do teto de um edifício com 30 m de altura. Despreze a resistência do ar. a) Encontre a altura máxima acima do chão atingida pela bola; b) Supondo que a bola não bate no prédio ao descer, encontre o instante em que ela atinge o solo; c) Desenhe os gráficos da velocidade e da altura em função do tempo. 12. Repita o exercício anterior supondo uma força de resistência do ar igual a −v. 13. Um corpo de massa m é atirado para cima a uma velocidade inicial v0 em um meio em que a resistência do ar é −kv. a) Encontre uma equação para v(t); b) Use o resultado do item anterior para calcular limk→0 v(t). O que isso sig- nifica? Esse resultado coincide com o esperado? c) Use o resultado obtido no primeiro item para calcular limm→0 v(t). O que isso significa? 14. Três forças agem em um corpo caindo em um fluido denso: o peso, uma força de resistência e uma força de empuxo. A força de empuxo é igual ao peso do volume de fluido deslocado pelo objeto. Para um corpo esférico de raio r a força de resistência é dada pela leo de Stokes: FR = krv, em que k é uma constante que depende do fluido (coeficiente de viscosidade) e v é a velocidade do objeto. a) Encontre a velocidade limite de um objeto de raio r e densidade ρo em queda livre em um meio de densidade ρm e coeficiente de viscosidade k; b) Suponha que o objeto descrito no item anterior seja uma gotícula de oléo e que essa gotícula possua uma carga elétrica e. Se a gotícula cai em um meio com campo elétrico E, existe uma força elétrica adicional Ee agindo sobre ela. Suponha que o campo E tenha sido ajustado para que v = 0. Encontre uma fórmula para e. Esse procedimento foi usado pelo físico americano R. A. Millikan para determinar a carga do elétron. Parte III Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de Segunda Ordem 71 8 Teoria Geral das EDO's lineares de segunda ordem Uma equação diferencial linear de ordem n tem a forma geral a0(x)y (n) + a1(x)y (n−1) + . . .+ an−1(x)y′ + an(x)y = f(x) em que a0 não é a função identicamente nula (se fosse, teríamos uma equação de ordem n− 1). Por simplicidade estudaremos a equação de ordem 2, mas os resultados obtidos podem ser facilmente generalizados ao caso de ordem n. Dividindo os dois lados da equação linear de segunda ordem por a0, obtém-se a forma padrão y′′ + p(x)y′ + q(x)y = g(x). Para esse tipo de equação diferencial também podemos provar o teorema de existência e unicidade: Teorema 4 (Existência e Unicidade). Se as funções p(x), q(x) e g(x) são contínuas num intervalo (a, b) contendo o ponto x0, existe uma única solução do problema de valor inicial { y′′ + p(x)y′ + q(x)y = g(x) y(x0) = y0, y ′(x0) = y′0 definida no intervalo (a, b). Observe que nesse caso podemos garantir a existência da solução em todo intervalo (a, b), o que não acontecia no teorema de existência e unicidade para equações de primeira ordem. Isso se deve ao fato de que estamos estudando uma classe bastante restrita de equações de segunda ordem, o que nos permite encontrar resultados mais fortes sobre suas soluções. Exemplo 43. Determine, sem resolver a equação, o maior intervalo no qual o problema de valor inicial { (x2 − 4)y′′ + xy′ + 1 x+ 1 y = 2 x− 3 , y(1) = 1, y′(1) = 0 admite, com certeza, solução única. 73 74 Equações Diferenciais Ordinárias Solução. Primeiramente, escrevemos a equação no formato usual: y′′ + x (x2 − 4)y ′ + 1 (x2 − 4)(x+ 1)y = 2 (x2 − 4)(x− 3) . As funções p(x) = x (x2−4) , q(x) = 1 (x2−4)(x+1) e g(x) = 2 (x2−4)(x−3) são contínuas exceto em x = ±2,−1 ou 3. Assim o maior intervalo em que essas funções são contínuas e que contém a condição inicial x0 = 1 é o intervalo (−1, 2). Pelo Teorema de Existência e Unicidade, o problema de valor inicial possui solução única definida, pelo menos, no intervalo I = (−1, 2). Exercício 46. Determine, sem resolver a equação, o maior intervalo no qual o problema de valor inicial (x2 − 3)y′′ + xy′ + lnx x− 0, 5y = 0, y(1) = √ 2, y′(1) = pi admite, com certeza, solução única. No caso geral de ordem n, as condições iniciais serão o valor da função e das primeiras n − 1 derivadas num ponto x0, e as condições de existência e unicidade serão a con- tinuidade das n+ 1 funções que aparecem na forma padrão da equação. 8.1 Equações lineares homogêneas A forma geral da equação linear homogênea de segunda ordem é y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0 (8.1) Seja X = {φ : R→ R;φ′′ + p(x)φ′ + q(x)φ = 0} o conjunto de todas as soluções da equação diferencial (8.1). Teorema 5. X e um espaço vetorial, ou seja, X é preservado pelas operações de soma de função e multiplicação de função por constante. Demonstração. Para mostrar que X é um espaço vetorial devemos mostrar que as op- erações de soma e multiplicação por escalar estão bem definidas em X, ou seja, devemos mostrar que ao somarmos duas funções pertencentes a X permanecemos em X e que ao multiplicarmos uma função pertencente a X por um escalar qualquer permanecemos em X. Isso equivale a mostrarque dadas duas soluções y1 e y2, qualquer combinação linear das duas soluções φ(x) = c1y1(x) + c2y2(x) Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 75 é também solução. Isso pode ser facilmente provado, substituindo φ na equação difer- encial e mostrando que os dois lados da equação são iguais: φ′′ + p(x)φ′ + q(x)φ = (c1y1 + c2y2) ′′ + p(x)(c1y1 + c2y2)′ + q(x)(c1y1 + c2y2) = (c1y ′′ 1 + c2y ′′ 2) + p(x)(c1y ′ 1 + c2y ′ 2) + q(x)(c1y1 + c2y2) = c1 (y ′′ 1 + p(x)y1 + q(x)y1)︸ ︷︷ ︸ =0 +c2 (y ′′ 2 + p(x)y2 + q(x)y2)︸ ︷︷ ︸ =0 = c1 × 0 + c2 × 0 = 0. Os termos entre parênteses no lado esquerdo da penúltima linha são iguais a zero, uma vez que estamos assumindo que y1 e y2 são soluções da equação (8.1). As outras propriedade que precisam ser verificadas para que um conjunto seja um espaço vetorial são válidas para X uma vez que X é um subconjunto do conjunto de todas as funções reais, que é um espaço vetorial com a soma de funções e o produto de função por escalar usuais. O fato de X ser um espaço vetorial nos dá uma ferramenta poderosa para encontrar- mos a solução geral da equação: espaços vetoriais possuem bases, que são conjuntos de vetores a partir dos quais podemos gerar todos os outros elementos do espaço vetorial através de combinações lineares. Desse modo, para determinar a solução geral bastará então determinar uma base para X, e qualquer outra solução será escrita como uma combinação linear das soluções que formam a base. Atenção. o conjunto de soluções de uma equação diferencial é um espaço vetorial apenas se ela for uma equação linear e homogênea. Caso contrário isso não é verdade! Exercício 47. Mostre que o conjunto de soluções da equação diferencial y′′ + y = 1 não é um espaço vetorial, ou seja, o conjunto de solução não é preservado pela soma de funções ou pelo produto de uma função por escalar. 8.2 Determinando uma base para X Vamos agora estudar as propriedades que devem ser satisfeitas por um conjunto de soluções para que ele seja uma base para X. Definição 14. Dadas duas funções f, g : R→ R definimos uma nova função W [f, g] (x) = f(x)g′(x)− f ′(x)g(x) = det ∣∣∣∣ f(x) g(x)f ′(x) g′(x) ∣∣∣∣, chamada Wronskiano de f e g. 76 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 48. Calcule o Wronskiano dos seguintes pares de funções: 1. eλ1x e eλ2x com λ1 6= λ2; 2. eαx cos(βx) e eαx sen(βx); 3. eλx e teλx; Exercício 49. Se o Wronskiano de f e g é 3e4x e se f(x) = e2x, encontre g(x). Exercício 50. Se o Wronskiano de f e g é x2ex e se f(x) = x, encontre g(x). Exercício 51. Se W (f, g) é o Wronskiano de f e g e se u = 2f − g e v = f + 2g, encontre o Wronskiano W (u, v) de u e v em função de W (f, g). Soluções independentes Definição 15. Dizemos que duas soluções y1(x) e y2(x) formam um conjunto funda- mental de soluções para a equação diferencial (8.1) se W [y1, y2] (x) 6= 0 para todo x no domínio de y1 e y2. Exemplo 44. Mostre que y1(x) = e x e y2(x) = e −x formam um conjunto fundamental de soluções para e equação diferencial y′′ − y = 0. Solução. A verificação que ambas funções são de fato soluções da equação diferencial é trivial, basta calcular as derivadas, substituir na equação e verificar que a igualdade é satisfeita. Resta então mostrar que essas funções formam um conjunto fundamental de soluções. Para isso, basta mostrar que o Wronskiano delas é diferente de zero: W [y1, y2] (x) = det [ ex e−x ex −e−x ] = −2 6= 0. Exercício 52. Mostre que y1(x) = e x e y2(x) = e 2x formam um conjunto fundamental de soluções para e equação diferencial y′′ − 3y′ + 2y = 0. Vamos provar agora que um conjunto fundamental de soluções é uma base para X. Para isso precisamos mostrar primeiramente que {y1, y2} gera X, isto é, que toda solução φ pode ser escrita como combinação linear de y1 e y2. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 77 Teorema 6. Seja {y1, y2} um conjunto fundamental de soluções para a equação (8.1) definidas no intervalo (a, b). Se φ é outra solução de (8.1) no intervalo (a, b) então existem constantes k1 e k2 ∈ R tais que φ(x) = k1y1(x) + k2y2(x), para todo x ∈ (a, b). Demonstração. Tomando x0 qualquer em (a, b), definimos o PVI{ y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0 y(x0) = φ(x0), y ′(x0) = φ′(x0) . (8.2) Vamos mostrar que existem constantes k1, k2 ∈ R tais que k1y1 + k2y2 é solução desse PVI. Já sabemos que qualquer combinação linear desse tipo é solução da equação difer- encial, e portanto resta verificar a existência das constantes k1, k2 de modo que as condições iniciais sejam satisfeitas. Para que isso aconteça precisamos que{ k1y1(x0) + k2y2(x0) = φ(x0) k1y ′ 1(x0) + k2y ′ 2(x0) = φ ′(x0) que é um sistema linear para as constantes k1 e k2, que pode ser reescrito na forma matricial [ y1(x0) y2(x0) y′1(x0) y ′ 2(x0) ] [ k1 k2 ] = [ φ(x0) φ′(x0) ] . Esse sistema terá solução única se det [ y1(x0) y2(x0) y′1(x0) y ′ 2(x0) ] = W [y1, y2](x0) 6= 0 condição que é verificada uma vez que y1 e y2 formam um conjunto fundamental de soluções. Logo podemos garantir a existência de k1 e k2 tais que k1y1 + k2y2 é solução do PVI (8.2). Claramente φ também é solução de (8.2). Pelo teorema de existência e unicidade vale que φ(x) = k1y1(x) + k2y2(x) como queríamos provar. Para provar que um conjunto fundamental de soluções é uma base para X, resta provar que seus elementos são linearmente independentes (l.i.). 8.3 Independência linear entre funções Definição 16. Diz-se que duas funções f(x) e g(x) são linearmente dependentes (l.d.) se existem duas constantes c1 e c2 não ambas nulas tais que c1f(x) + c2g(x) = 0 78 Equações Diferenciais Ordinárias para qualquer valor de x. Caso contrário dizemos que f e g são linearmente indepen- dentes (l.i.). Teorema 7. Duas funções f e g são l.d. se, e somente se, W [f, g](x) = 0 para todo x. Demonstração. Dada a combinação linear c1f(x) + c2g(x) = 0 podemos derivar os dois lados da equação para obter c1f ′(x) + c2g′(x) = 0. Temos então o seguinte sistema linear para c1 e c2:{ k1y1(x0) + k2y2(x0) = 0 k1y ′ 1(x0) + k2y ′ 2(x0) = 0 que pode ser escrito na forma matricial[ y1(x0) y2(x0) y′1(x0) y ′ 2(x0) ] [ k1 k2 ] = [ 0 0 ] . Esse é um sitema linear homogêneo, que sempre possui a solução trivial c1 = c2 = 0. Esse sistema terá solução única c1 = c2 = 0 se det [ y1(x0) y2(x0) y′1(x0) y ′ 2(x0) ] = W [y1, y2](x0) 6= 0 e possuirá soluções não triviais se det [ y1(x0) y2(x0) y′1(x0) y ′ 2(x0) ] = W [y1, y2](x0) = 0. No primeiro caso, podemos concluir que a única combinação linear de f e g que gera a função nula é com c1 = c2 = 0, o que implica que f e g são l.i. . No segundo caso, existe uma combinação linear de f e g que resulta em 0 sem que as constantes sejam ambas nulas, o que implica que f e g são l.d.. Concluímos então que se o Wronskiano for sempre zero em um intervalo, podemos encontrar as constantes não ambas nulas e as funções são linearmente dependentes no intervalo. Para que as funções sejam linearmente independentes basta que o Wronskiano seja diferente de zero em um único ponto do intervalo. Esses casos não aparecem no estudo das soluções das equações lineares, como veremos em breve. Provamos então que um conjunto fundamental de soluções gera X e é linearmente independente e portanto esse conjunto é uma base para X. Isso implica que qualquer outra solução φ(x) ∈ X pode ser escrita na forma φ(x) = k1y1(x) + k2y2(x) Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 79 com k1, k2 ∈ R. Dessa forma, para encontrar a solução geral da equação (8.1) basta encontrar um conjunto fundamental de soluções. Veremos que isso nem sempre é uma tarefa fácil. Exercício 53. Encontre a solução geral da equação diferencial y′′ − 3y′ + 2y= 0. Exercício 54. Mostre que y1(x) = x 1/2 e y2(x) = x −1 formam um conjunto funda- mental de soluções para a equação diferencial 2x2y′′ + 3xy′ − y = 0, t > 0, e encontre a solução geral dessa equação. Exercício 55. Provamos que o conjunto de soluções de uma equação linear homogênea de segunda ordem forma um espaço vetorial. Qual é a dimensão desse espaço? O Wronskiano de duas funções pode ser nulo em alguns pontos do domínio mas ser não nulo em outros. Isso não acontece quando as duas funções em questão são soluções de uma equação linear homogênea. Nesse caso, ou o Wronskiano é identicamente nulo ou o Wronskiano é sempre não nulo. Teorema 8 (Abel). Se y1(x) e y2(x) são soluções da equação diferencial y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0 então o Wronskiano W [y1, y2](x) é dado por W [y1, y2](x) = ce − ∫ p(x)dx onde c é uma constante que depende das funções y1 e y2 mas não depende de x. O resultado acima implica o que mencionamos anteriormente: se c = 0, o Wronskiano de y1 e y2 é identicamente nulo, mas se c 6= 0 o Wronkiano é sempre diferente de zero, uma vez que a exponencial nunca se anula. Exercício 56. Sejam y1(x) e y2(x) são duas soluções de y ′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0, em que p e q são contínuas num intervalo I. Mostre que se y1 e y2 possuem máximos ou mínimos num mesmo ponto x0 ∈ I então elas são linearmente dependentes nesse intervalo. 8.4 O método de redução de ordem Para resolver uma equação linear homogênea do tipo y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0 80 Equações Diferenciais Ordinárias vimos que é necessário encontrar duas soluções linearmente independentes. Isso nem sempre é fácil, mas se conhecermos uma solução é possível encontrar uma segunda facilmente de maneira que as duas soluções conhecidas sejam l.i. . Suponhamos que y1 é solução da equação linear homogênea (8.1). Vamos procurar por uma segunda solução na forma y2(x) = u(x)y1(x) em que u(x) é uma função a ser determinada. Para que y2 seja solução de (8.1) é necessário que y′′2 + p(x)y ′ 2 + q(x)y2 = 0. Sabemos que y′2 = u ′y1 + uy′1 e que y ′′ 2 = u ′′y1 + 2u′y′1 + uy ′′ 1 . Substituindo na equação acima temos (u′′y1 + 2u′y′1 + uy ′′ 1) + p(x)(u ′y1 + uy′1) + q(x)uy1 = 0. Isolando os termos em u′′, u′ e u, a equação acima pode ser reescrita na forma u′′y1 + u′ (2y′1 + p(x)y1) + u (y ′′ 1 + p(x)y1 + q(x)y1)︸ ︷︷ ︸ =0 = 0. O último termo do lado esquerdo da equação é zero, uma vez que y1 é solução da equação. Isso implica que u′′y1 + u′ (2y′1 + p(x)y1) = 0. Definindo v(x) = u′(x) essa equação passa a ser v′ + (2y′1 + p(x)y1) v = 0 que é uma equação de primeira ordem separável para v, e portanto pode ser facilmente resolvida. A partir de v encontramos u através de integração direta, o que nos leva a uma segunda solução y2(x) = [∫ v(x)dx ] y1(x). Observe que ao resolver a equação diferencial para v podemos tomar a solução mais simples, uma vez que precisamos apenas de uma solução para essa equação e não a solução mais geral. Devemos apenas ter em mente que queremos uma solução independente de y1 e portanto v não pode ser identicamente nula. Para verificar se as duas soluções y1 e y2 são de fato l.i., calculamos W [y1, y2](x) = det [ y1(x) u(x)y1(x) y′1(x) u ′(x)y1(x) + u(x)y′1(x) ] = u′(x) (y1(x)) 2 6= 0 uma vez que u′(x) = v(x) não é identicamente nula. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 81 Exemplo 45. Encontre a solução geral da equação x2y′′ − 4xy′ + 6y = 0 sabendo que y1(x) = x 2 é solução. Solução. Sabendo uma solução podemos encontrar outra através do método de redução de ordem. Procuramos por outra solução da forma y2(x) = u(x)x 2 que para ser solução da equação dada deve satisfazer x2y′′2 − 4xy′2 + 6y2 = 0. Calculando as derivadas de y2 e substituindo na equação acima temos x2 ( 2u+ 4xu′ + x2u′′ )− 4x (2xu+ x2u′)+ 6x2u = 0. Isolando os termos com u′′, u′ e u podemos reescrever a equação acima na forma x4u′′ + u′ ( 4x3 − 4x3)+ u (2x2 − 8x2 + 6x2) = 0 ou seja, temos x4u′′ = 0 o que implica que u′′ = 0. Dessa maneira temos que u(x) = c1x + c2. Podemos escolher a solução mais simples desde que u(x) não seja constante, pois dessa forma obteríamos uma segunda solução linearmente dependente da primeira, o que não nos levaria à solução geral. Podemos então escolher u(x) = x, de modo que y2(x) = u(x)y1(x) = x 3. Daí temos que a solução geral da equação é y(x) = k1x 2 + k2x 3. Exemplo 46. Sabendo que y1(x) = x é solução da equação diferencial (x2 + 1)y′′ − 2xy′ + 2y = 0 encontre a solução geral da mesma. Solução. Para encontrar a solução geral devemos encontrar uma segunda solução, que supomos da forma y2 = xu(x). 82 Equações Diferenciais Ordinárias Substituindo na equação temos (x2 + 1)(2u′ + xu′′)− 2x(u+ xu′) + 2xu = 0 (x2 + 1)u′′ + 2u′ = 0. Esta última equação pode ser considerada uma equação de primeira ordem em que a variável dependente é v = u′ . Separando as variáveis e integrando obtém-se ∫ dv v = −2 ∫ dx x(x2 + 1) v = 1 + 1 x2 o que implica que u(x) = x− 1 x e a segunda solução é y2(x) = x 2 − 1. Desse modo a solução geral da equação é y(x) = c1x+ c2(x 2 − 1). Exercício 57. Mostre que y1(x) = x −1 é solução da equação 2x2y′′ + 2xy′ − 2y = 0, x > 0, e encontre a solução geral da mesma. Exercício 58. Utilize o Método da Redução de Ordem para encontrar uma segunda solução de cada equação diferencial dada. 1. x2y′′ + 2xy′ − 2y = 0; x > 0; y1(x) = x 2. x2y′′ + 3xy′ + y = 0; x > 0; y1(x) = x−1 3. x2y′′ − x(x+ 2)y′ + (x+ 2)y = 0, x > 0; y1(x) = x 4. (x− 1)y′′ − xy′ + y = 0, x > 1; y1(x) = ex Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 83 8.5 Resposta dos Exercícios Selecionados Exercício 48: 1. W [f, g] (x) = (λ2 − λ1) e(λ1+λ2)x. 2. W [f, g] (x) = βe2αx. 3. W [f, g] (x) = e2λx. Exercício 49: g(x) = 3e2x + cex. Exercício 51: W [u, v] (x) = 5W [f, g] (x). Exercício 53: Dica: ver o exercício 52. Solução geral: y(x) = c1e x + c2e 2x. Exercício 54: Solução geral: y(x) = c1x 1 2 + c2x −1. Exercício 55: Dimensão dois. Exercício 57: Solução geral: y(x) = c1 x + c2x 2. Exercício 58: 1. Solução geral: y(x) = c1x+ c2 x2 . 2. Solução geral: y(x) = c1 x + c2 ln(x) x . 3. Solução geral: y(x) = c1x+ c2xe x. 4. Solução geral: y(x) = c1e x + c2x. 9 Equações lineares homogêneas de coeficientes constantes A equação ay′′ + by′ + cy = 0 (9.1) em que a, b e c ∈ R é chamada equação linear homogênea de coeficientes constantes. Esse é o caso mais simples de equação linear homogênea de segunda ordem. Exemplo 47. A equação diferencial y′′ − y = 0 é uma equação linear homogênea de segunda ordem com coeficientes constantes. Ree- screvendo a equação na forma y′′ = y podemos ver que y1(x) = e x e y2(x) = e −x são soluções dessa equação. Exercício 59. Mostre que as soluções y1(x) = e x e y2(x) = e −x formam um conjunto fundamental de soluções para a equação y′′ − y = 0 e encontre a solução geral da mesma. Para encontrar a solução geral da equação (9.1), vamos verificar primeiramente em que condições existe uma solução na forma φ(x) = erx (9.2) onde r é uma constante real. Para que essa função seja solução de (9.1) é preciso que ay′′ + by′ + cy = ar2erx + brerx + cerx = (ar2 + br + c)erx = 0. Como a exponencial nunca se anula, concluímos que φ(x) é solução se, e somente se ar2 + br + c = 0. 85 86 Equações Diferenciais Ordinárias O polinômio ar2 + br+ c é chamado polinômio caraterístico da equação diferencial. Se encontrarmos alguma raiz desse polinômio encontraremos uma solução na forma (9.2). Polinômios de segundo grau podem ser divididos em três casos: aqueles que pos- suem duas raízes reais distintas, aqueles que possuem uma única raizreal e aqueles que possuem duas raízes complexas distintas. Vamos estudar cada um desses casos separadamente. 9.1 Raízes reais distintas Suponhamos que r1 e r2 sejam as raízes de ar 2+br+c = 0 e que r1 6= r2. Isso acontece quando ∆ > 0. Cada uma dessas raízes nos dá uma solução para a equação (9.1), de modo que temos duas soluções distintas y1(x) = e r1x e y2(x) = e r2x. É fácil mostrar que o Wronskiano dessas duas soluções é não nulo. De fato, W [y1, y2] (x) = det [ y1(x) y2(x) y′1(x) y ′ 2(x) ] = det [ er1x er2x r1e r1x r2e r2x ] = (r1−r2)e(r1+r2)x 6= 0 o que implica que {y1, y2} é um conjunto fundamental de soluções e portanto uma base para o conjunto de soluções de (9.1). Logo concluímos que a solução geral de (9.1) é y(x) = k1e r1x + k2e r2x em que k1 e k2 serão determinadas pelas condições iniciais. Exemplo 48. Encontre a solução geral da equação y′′ − 5y′ + 6y = 0. Solução. Primeiramente procuramos por soluções da forma y(x) = erx, o que equivale a encontrar raízes do polinômio r2 − 5r + 6 = 0. Esse polinômio possui duas raízes reais distintas, r1 = 2 e r2 = 3, que fornecem as soluções y1(x) = e 2x e y2(x) = e 3x . Sabemos que essas funções formam um conjunto fundamental de soluções para a equação e portanto a solução geral da mesma é y(x) = c1e 2x + c2e 3x. Exercício 60. Resolva o PVI{ y′′ − 4y′ − 5y = 0 y(0) = 2, y′(0) = −2 . (9.3) Exercício 61. Resolva as equações diferenciais y′′−y = 0 e y′′−3y′+2y = 0 utilizando o método visto nessa seção e compare com resultados anteriores. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 87 9.2 Uma única raiz real Quando ∆ = 0, existe uma única raiz real r para o polinômio cracterístico da equação e portanto existirá uma única solução exponencial y1x) = e rx. Para resolver a equação completamente precisamos encontrar uma outra solução y2 tal que y1 e y2 sejam l.i.. Isso pode ser feito através do método de redução de ordem. Procuramos por uma solução na forma y2(x) = u(x)e rx. Derivando y2 e substituindo na equação temos a ( u′′erx + 2ru′erx + r2uerx ) + b (u′erx + ruerx) + cuerx = 0 o que implica, após todas as simplificações terem sido realizadas, que u′′ = (−2r − b)u′. Como a raiz do polinômio caraterístico é r = −b 2 , uma vez que ∆ = 0, obtemos uma equação simples que permite calcular u u′′ = 0 e podemos tomar u(x) = x. Desse modo obtemos uma segunda solução y2(x) = xe rx que, como já mostrado, forma um conjunto l.i. juntamente com y1. Assim obtemos uma base para o conjunto de soluções e a solução geral é y(x) = (k1 + k2x)e rx. Exemplo 49. Encontre a solução geral de y′′ − 4y′ + 4y = 0. Solução. Procuramos inicialmente soluções da forma y(x) = erx. Para que y seja solução r deve ser raiz do polinômio r2 − 4r + 4 = 0. Esse polinômio possui uma única raiz real r = 2 e temos, portanto, uma única solução exponencial y1(x) = e 2x. A segunda solução é y2(x) = xe 2x , de modo que a solução geral é y(x) = c1e 2x + c2xe 2x. Exercício 62. Encontre a solução geral de y′′ + 2y′ + y = 0. 88 Equações Diferenciais Ordinárias 9.3 Raízes complexas Quando o polinômio característico possuir ∆ < 0, teremos duas raízes complexas dis- tintas. De fato, uma delas é o complexo conjugado da outra. Teorema 9. Se r1 ∈ C é raiz de ar2 + br + c = 0 então r2 = r∗1 também é, em que ∗ denota a conjugação complexa. Demonstração. Sabemos que ar21 + br1 + c = 0. Tomando o conjugado em ambos os lados e utilizando as propriedades da conjugação complexa temos( ar21 + br1 + c )∗ = 0∗ a∗(r21) ∗ + b∗r∗1 + c ∗ = 0 a(r∗1) 2 + br∗1 + c = 0 ou seja, r2 é raiz de ar 2 + br + c = 0. Desse modo, quando temos uma raiz complexa r1 = α + iβ, a outra também será complexa e será igual a r2 = α− iβ. Estamos interessados apenas em soluções reais, mas vamos ignorar isso por um momento e supor que a solução seja uma função complexa y : R→ C. Se a expressão y(x) = erx fizer sentido mesmo quando r é um número complexo e se valerem as mesmas pro- priedades da exponencial real sabemos que y será solução de (9.1). Veremos que de fato isso acontece. 9.3.1 A exponencial complexa A função exponencial real pode ser definida a partir de sua série de potências ex = ∞∑ n=0 xn n! . Essa série converge para todo x ∈ R e portanto a expressão acima define uma funcão exp : R→ R que é a função exponencial a que estamos habituados. A mesma expressão pode ser usada para definir a exponencial complexa. Dado z ∈ C construímos a série ez = ∞∑ n=0 zn n! . Essa série converge para todo z ∈ C e portanto a expressão acima define uma funcão exp : C → C que é a generalização da função exponencial a que estamos habituados para números complexos. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 89 Podemos provar que valem também para a exponencial complexa as mesmas pro- priedades que valem para a exponencial real, entre elas a importante relação ez1+z2 = ez1ez2 . A partir da definição de ez utilizando uma série de potências é possível encontrar uma expressão bem mais prática para o cálculo da exponencial complexa. Suponhamos inicialmente que z = iβ seja um imaginário puro. Substituindo na série que define ez e lembrando que i2 = −1, i3 = −i e i4 = 1 temos eiβ = ∞∑ n=0 (iβ)n n! = ∞∑ n=0 inβn n! Se n é par, temos que in = ±1 e se n é ímpar temos que in = ±i. Podemos então dividir a soma acima em duas parcelas eiβ = ∑ npar inβn n! + ∑ nmpar inβn n! = ∑ npar (±1)β n n! + ∑ nmpar (±i)β n n! = ∞∑ k=0 (−1)k · β2k (2k)!︸ ︷︷ ︸ cos(β) +i ∞∑ k=0 (−1)k · β2k+1 (2k + 1)!︸ ︷︷ ︸ sen(β) = cos(β) + i sen(β). Na antipenúltima linha o sinal usando em ±1 e ±i depende do valor de n, como explici- tado na penúltima linha. Na última linha, utilizamos as séries de Taylor para as funções seno e cosseno cos(x) = ∞∑ k=0 (−1)k · x2k (2k)! , sen(x) = ∞∑ k=0 (−1)k · x2k+1 (2k + 1)! , familiares do cálculo. Temos então uma maneira fácil de calcular a exponencial de um imaginário puro: eiβ = cos(β) + i sen(β). Essa expressão é conhecida como fórmula de Euler. A partir dela e das propriedades da exponencial podemos calcular a exponencial de qualquer número complexo z = α+ iβ: eα+iβ = eαeiβ = eα (cos(β) + i sen(β)) . 90 Equações Diferenciais Ordinárias Nessa expressão, α e β são números reais e cos, sen e e são as funções cosseno, seno e exponencial usuais definidas em R. Exercício 63. Utilize a Fórmula de Euler para escrever a expressão dada na forma a+ iβ: 1. e1+2i; 2. eipi; 3. 21−i; 4. e2−3i; 5. e2− ipi 2 ; 6. e2pii; 7. e ipi 2 . Exercício 64. Utilize a Fórmula de Euler para provar que cos(x) = eix + e−ix 2 e sen (x) = eix − e−ix 2i . Exercício 65. Utilize a Fórmula de Euler para provar que, se z1 e z2 são números complexos quaisquer, então ez1+z2 = ez1ez2 . Exercício 66. Utilizando a Fórmula de Euler, mostre que d dx ( eλx ) = λeλx. 9.3.2 Solução da equação no caso de raízes complexas Ignorando um momento o fato de que estamos interessados somente em soluções reais para a equação (9.1), vamos usar as raízes complexas r1 = a + ib e r2 = a − ib para gerar as soluções complexas y1(x) = e r1x = e(α+iβ)x = eαx (cos(βx) + i sen(βx)) y2(x) = e r2x = e(α−iβ)x = eαx (cos(βx)− i sen(βx)) . Mesmo considerando soluções complexas, o fato de que o conjunto de soluções é um espaço vetorial continua válido, já que as mesmas propriedades de soma e multipli- cação por constante valem também para funções complexas. Isso faz com que qualquer combinação linear das soluções y1 e y2 seja também solução da equação (9.1). Vamos procurar duas combinações lineares desse tipo que nos forneçam funções reais. Se somarmos y1 e y2 temosy1(x) + y2(x) = 2e αx cos(βx) e se subtrairmos y1 e y2 temos y1(x)− y2(x) = 2ieαx sen βx. Desse modo φ1(x) = y1(x) + y2(x) 2 = eαx cos(βx) e φ2(x) = y1(x)− y2(x) 2i = eαx sen(βx) Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 91 são duas soluções reais da equação (8.1). Obtemos assim duas soluções da equação em que não aparecem números complexos, como gostríamos. Além disso, as duas soluções obtidas são l.i., uma vez que W [y1, y2] (x) = det [ eαx cos(βx) eαx sen(βx) eαx (α cos(βx)− β sen(βx)) eαx (α sin(βx) + β cos(βx)) ] = βe2αx 6= 0. Temos assim duas soluções reais que são linearmente independentes e a solução geral será y(x) = c1e αx cos(βx) + c2e αx sin(βx). Exemplo 50. Encontre a solução geral de y′′ + 2y′ + 8y = 0. Solução. O polinômio caraterístico da equaçãoé r2 + 2r + 8 = 0 que possui duas raízes complexas r1 = −1 + i √ 7 r2 = −1− i √ 7. Assim obtemos o conjunto fundamental de soluções φ1(x) = e −x cos (√ 7x ) e φ2(x) = e −x sin (√ 7x ) E a solução geral é y = e−x [ c1 sen (√ 7x ) + c2 cos (√ 7x ) ] . Exercício 67. Encontre a aolução geral de y′′ + y = 0. O problema abaixo mostra uma segunda maneira de encontrar as soluções reais da equação (9.1) a partir de uma solução complexa. Exercício 68. Suponha que as funções reais p(x) e q(x) sejam contínuas em um inter- valo aberto I. Seja φ(x) = u(x) + iv(x), em que u e v são funções reais, uma solução da equação diferencial y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0. 92 Equações Diferenciais Ordinárias 1. Mostre que u e v também são soluções da equação diferencial acima. (Sugestão: Substitua y por φ na equação diferencial e separe em partes real e imaginária.) 2. Mostre que, se a equação ar2 + br + c = 0 possui duas raízes complexas α± iβ, então eαx cos(βx) e eαx sen(βx) são soluções de ay′′ + by′ + cy = 0. Exercício 69. Considere o problema de valor inicial{ y′′ + 5y′ + 6y = 0, y(0) = 2, y′(0) = k em que k > 0. 1. Resolva o problema de valor inicial; 2. Determine as coordenadas (tm, ym) do ponto de máximo da solução como função de k. Exercício 70. Resolva as equações diferenciais abaixo: 1. y′′ − 5y′ + 6y = 0; 2. y′′ + 2y′ − 3y = 0; 3. y′′ − 4y′ + 4y = 0; 4. y′′ − 3y′ + 2y = 0; 5. y′′ − 2y′ + 2y = 0; 6. y′′ + 6y′ + 9y = 0; 7. y′′ − 4y = 0; 8. y′′ + 9y = 0; 9. y′′ − 2y′ + y = 0. Exercício 71. Encontre a solução para o problema de valor inicial{ 2y′′ − 3y′ + y = 0, y(0) = 2, y′(0) = 1 2 e determine o valor máximo que a solução pode assumir. Encontre também o ponto onde a solução se anula. Exercício 72. Encontre a solução para o problema de valor inicial{ y′′ − y′ − 2y = 0, y(0) = k, y′(0) = 2. Encontre k de modo que a solução tenda a zero quando t tende a infinito. Exercício 73. Determine os valores de k, se existirem, para os quais todas as soluções da equação diferencial y′′ − (2k − 1)y′ + k(k − 1)y = 0 tendam a zero quando t tende a infinito. Determine também os valores de k para os quais todas as soluções não-nulas tornam-se ilimitadas quando t tende a infinito. Exercício 74. Resolva o problema de valor inicial{ 9y′′ + 12y′ + 4y = 0, y(0) = a, y′(0) = 2. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 93 Respostas dos Exercícios selecionados Exercício 60: y(x) = 2e−x. Exercício 62: y(x) = c1e −x + c2xe−x. Exercício 67: y(x) = c1 cos(x)c2 sen(x). Exercício 69: y(x) = (k − 4)e−3x + (6− k)e−2x. Exercício 70: 1. y(x) = c1e 2x + c2e 3x. 2. y(x) = c1e −3x + c2ex. 3. y(x) = c1e 2x + c2xe 2x. 4. y(x) = c1e x + c2e 2x. 5. y(x) = c1e x cos(x) + c2e x sen(x). 6. y(x) = c1e −3x + c2xe3x. 7. y(x) = c1 cos(2x) + c2 sen(2x). 8. y(x) = c1 cos(3x) + c2 sen(3x). 9. y(x) = c1e x + c2xe x. Exercício 71: y(x) = 3e x 2 − ex. Exercício 72: k = −2. Exercício 73: Todas as soluções tendem a zero: k < 0. Todas as soluções não-nulas se tornam ilimitadas: k > 2. Exercício 74: y(x) = [ a+ ( 2 + 2a 3 ) x ] e−2x. 10 Equações lineares de segunda ordem não-homogêneas com coeficientes constantes Vamos agora estudar equações do tipo y′′ + p(x)y′ + q(x)y = g(x). (10.1) Veremos inicialmente que podemos encontrar a solução geral sabendo apenas uma solução para essa equação e a solução geral da equação homogênea correspondente. Teorema 10. Dadas duas soluções da equação linear (10.1) a diferença entre elas é solução da equação homogênea associada y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0. De maneira recíproca, qualquer soma de uma solução da equação linear mais uma solução da equação homogênea associada, é também solução da equação linear. Demonstração. Suponhamos que yp(x) seja solução da equação (10.1) e que φ(x) seja uma outra solução qualquer. Então definindo y(x) = φ(x)− yp(x) temos y′′ + p(x)y′ + q(x)y = (φ− yp)′′ + p(x) (φ− yp)′ + q(x) (φ− yp) = (φ′′ + p(x)φ′ + q(x)φ) + (y′′ + p(x)y′ + q(x)y) = g(x)− g(x) = 0, ou seja, y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0 e y é solução da equação homogênea associada. Isso implica que se soubermos uma solução para a equação (10.1), chamada solução particular yp, e se soubermos resolver a equação homogênea associada poderemos en- contrar sua solução geral φ(x) utilizando a relação φ(x) = y(x) + yp(x) em que y é a solução geral da equação homogênea. 95 96 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 51. Encontre a solução geral para a equação y′′ + y = 1 sabendo que yp(x) = 1 é uma solução dessa equação. Solução. Sabemos que a solução geral da equação homogênea associada y′′ + y = 0 é y(x) = c1 cos(x) + c2 sen(x). Logo a solução geral da equação dada é φ(x) = c1 cos(x) + c2 sen(x) + 1. Exercício 75. Mostre que yp(x) = e 2x é solução da equação y′′ − 3y′ + 4y = 2e2x e encontre a solução geral da mesma. Para resolver uma equação linear começamos por resolver a equação linear ho- mogênea associada e depois encontramos uma solução particular yp. Vamos estudar agora como encontrar yp. 10.1 O método dos coeficientes a determinar Dada uma equação linear não-homogênea, vamos estudar métodos para encontrar uma solução particular yp(x). Como vimos, essa solução particular juntamente com a solução da equação homogênea associada nos leva à solução geral da equação não homogênea. O método apresentado nessa seção funciona para equações do tipo ay′′ + by′ + cy = g(x) (10.2) em que g(x) possua um formato especial que veremos mais adiante. Exemplo 52 (Funções exponenciais). Resolva a equação y′′ + 3y′ + 2y = 2e3x. Solução. Como as derivadas da função exponencial são múltiplos da própria função, esperamos que existam soluções particulares da forma1 y = Ae3x onde A é um coeficiente a ser determinado. As derivadas da função são y′ = 3Ae3x y′′ = 9Ae3x Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 97 e substituindo na equação diferencial y′′ + 3y′ + 2y = 20Ae3x e para que a função seja solução da equação, A deverá ser igual a 1 10 . Logo obtemos uma solução particular para a equação yp(x) = e3x 10 . A solução feral será obtida somando à solução particular a solução geral da equação homogênea, que é y(x) = c1e −x + c2e−2x. Assim, a solução geral da equação dada é y(x) = c1e −x + c2e−2x + e3x 10 . O primeiro método que vamos usar para determinar uma solução particular para a equação não homogênea é chamado método dos coeficientes a determinar. A ideia é supor uma forma para a solução yp(x), baseado nos tipos de funções que compõem a função g(x). Esse método funcionará sempre que a função g(x) for da forma: g(x) = pn(x)e δx cos (γx) ou da forma g(x) = pn(x)e δx sen (γx) em que pn(x) é um polinômio de grau n. Nesse caso, sempre podemos encontrar uma solução particular da forma yp(x) = x s [ p1n(x)e δx cos (γx) + p2n(x)e δx sen (γx) ] em que p1n(x) e p 2 n(x) são polinômiosde grau n cujos coeficientes devemos determinare s é o número de vezes que δ + iγ é raiz da equação ar2 + br + c = 0, podendo então ser igual a 0, 1 ou 2. Cada um dos polinômios pin(x) tem n+ 1 coeficientes e para encontrar essas 2n+ 2 constantes devemos calcular as derivadas de yp, substituir na equação diferencial dada e exigir que os dois lados sejam iguais. Esse processo pode ser extremamente trabalhoso se n for grande. Vamos ver alguns exemplos de como utilizar esse método. Exemplo 53 (Polinômios). Consideremos agora uma equação em que o lado direito é um polinômio y′′ − 4y′ + 2y = 2x2. Vamos encontrar a solução geral dessa equação. Solução. Primeiramente, observemos que a função g(x) = 2x2 satisfaz o requisito exigido para que possamos aplicar o método dos coeficientes a determinar. Em seguida, 98 Equações Diferenciais Ordinárias vamos identificar os parâmetros que aparecem em g(x) para que possamos construir nosso palpite para yp(x). Nesse exemplo temos δ = 0, pois não aparece o fator exponencial, γ = 0, pois não aparece o cosseno, e n = 2, pois aparece um polinômio de grau 2. Isso implica que nosso palpite para a solução particular deve ser da forma yp(x) = x s [ p12(x)e 0×x cos(0× x) + p22(x)e0×x sen(0× x) ] = xsp12(x) em que p12(x) e p 2 2(x) são polinômios de grau 2. Resta agora descobrir qual é o valor do parâmetro s. O valor de s é o número de vezes que δ + iγ = 0 é raiz de r2 − 4r + 2 . Essa equação possui as raízes 2±√2, de modo que δ + iγ não é raiz nenhuma vez e s = 0. Desse modo, nosso palpite para solução particular é yp(x) = p 1 2(x) = Ax 2 +Bx+ C em que A,B,C são constantes a determinar. Queremos que yp seja solução de y ′′ − 4y′ + 2y = 2x2. Vamos então calcular as derivadas de yp e substituir na equação: y′′p − 4y′p + 2yp = 2x2 2A− 4 (2Ax+B) + 2 (Ax2 +Bx+ C) = 2x2 2Ax2 + (2B − 8A)x+ (2A− 4B + 2C) = 2x2 Como dois polinômios só são iguais se os seus coeficientes o forem, a igualdade acima é verificada se, e somente se, 2A = 2 2B − 8A = 0 2A− 4B + 2C = 0 ou seja, A = 1, B = 4 e C = 7. Assim temos a solução particular yp = x 2 + 4x+ 7. Para encontrar a solução geral da equação precisamos encontrar a solução da equação homogênea associada, que é y(x) = c1e (2+ √ 2)x + c2e (2−√2)x. Assim a solução geral procurada é φ(x) = c1e (2+ √ 2)x + c2e (2−√2)x + x2 + 4x+ 7. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 99 Exemplo 54 (Funções seno ou cosseno). Encontre a solução geral da equação y′′ − 3y′ + 2y = 10 sen(2x). Solução. Nesse exemplo temos δ = 0, pois não aparece o fator exponencial, γ = 2 e n = 0, já que aparece um polinômio de grau 0. Assim, nosso palpite para yp assume a forma yp(x) = x s [A cos(2x) +B sen(2x)] . Resta encontrar o valor do parâmetro s. As raízes da equação r2 − 3r + 2 = 0 são 1 e 2, de modo que δ + iγ = 2i não é raiz da equação de segundo grau nenhuma vez e s = 0. Temos portanto yp(x) = A cos(2x) +B sen(2x) em que A e B são constantes a determinar. Calculando as derivadas de yp e substituindo na equação devemos terceira y′′p − 3y′p + 2yp = 10 sen(x) (−4A− 6B + 2A) cos(2x) + (−4B + 6A+ 2B) sin(2x) = 10 sen(x) (−2A− 6B) cos(x) + (−2B + 6A) sen(x) = 10 sen(x). Esta última igualdade só pode ser verificada se −2A− 6B = 0 −2B + 6A = 10. A solução deste sistema é A = 3 2 , B = −1 2 e a solução particular é yp(x) = 3 2 cos(2x)− 1 2 sen(2x). Como a solução da equação homogênea associada é y(x) = c1e x + c2e 2x , a solução geral da equação dada é φ(x) = c1e x + c2e 2x + 3 2 cos(2x)− 1 2 sen(2x). Exemplo 55. Encontre a solução geral da equação y′′ − 3y′ − 4y = e−x. Solução. Nesse exemplo temos δ = −1, γ = 0 e n = 0 e a solução particular terá a forma yp(x) = x sAe−x. 100 Equações Diferenciais Ordinárias Resta determinar o valor do parâmetro s. As raízes do polinômio r2− 3r− 4 = 0 são 4 e −1. Desse modo δ+ iγ = −1 é raiz da equação de segundo grau uma vez e portanto s = 1, o que implica que a solução particular é da forma yp(x) = Axe −x em que A é uma constante a ser determinada. Calculando as derivadas de yp e substituindo na equação temos:(−2Ae−x + Axe−x)− 3 (Ae−x − Axe−x)− 4Axe−x = e−x (−2A+ Ax− 3A+ 3Ax− 4Ax) e−x = e−x −5A = 1 o que implica que A = −1 5 e a solução particular é yp(x) = −xe−x 5 que fornece a solução geral φ(x) = c1e −x + c2e4x + −xe−x 5 . Exemplo 56 (Produtos de polinômios, exponenciais e seno ou cosseno). Encontre o formato para a solução particular da equação y′′ − 6y′ + 9y = (2 + x)e3x cos(2x) que deve ser usada no método dos coeficientes a determinar. Solução. Nesse caso temos δ = 3, γ = 2 e n = 1. Desse modo, o palpite que vamos usar para a solução particular é yp(x) = x s [ p11(x)e 3x cos(2x) + p21(x)e 3x sen(2x) ] em que p11(x) e p 2 1(x) são polinômios de grau 1. Resta determinar o valor do parâmetro s. A equação r2 − 6r + 9 = 0 possui uma única raiz real r = 3. Logo δ + iγ = 3 + 2i não é raiz da equação de segundo grau nehuma vez e s = 0. Assim a solução particular será da forma yp = (Ax+B) e 3x cos(2x) + (Cx+D) e3x sen(2x). As constantes A,B,C e D devem ser determinadas substituindo yp e suas derivadas na equação diferencial. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 101 Exemplo 57. Encontre o formato para a solução particular da equação y′′ − 6y′ + 9y = (2 + x)e3x que deve ser usada no método dos coeficientes a determinar. Solução. Nesse caso temos δ = 3, γ = 0 e n = 1. Assim a solução particular é da forma yp(x) = x s (Ax+B) e3x. Sabemos que r2 − 6r + 9 = 0 possui uma única raiz real r = 3. Logo δ + iγ = 3 é raiz da equação de segundo grau duas vezes e por isso s = 2, o que nos leva a yp(x) = ( Ax3 +Bx2 ) e3x. As constantes A e B devem ser determinadas substituindo yp e suas derivadas na equação diferencial. Exercício 76. Encontre a solução geral da equação y′′ − 6y′ + 9y = e3x. Exercício 77. Obtenha uma solução particular de cada equação diferencial dada pelo Método dos Coeficientes a Determinar. Em seguida, encontre a solução geral da mesma. 1. y′′ + 2y′ + 5y = 3 sen 2x 2. y′′ − 2y′ − 3y = −3xe−x 3. y′′ + 2y′ = 3 4. y′′ + 9y = x2e3x 5. y′′ + 2y′ + y = 2e−x 6. 2y′′ + 3y′ + y = x2, x 7. y′′ + y = x cosx Exercício 78. Determine a solução dos problemas de valor inicial a seguir. 1. { y′′ + y′ − 2y = 2x y(0) = 0, y′(0) = 1 2. { y′′ + 4y = 3 sen 2x y(0) = 2, y′(0) = −1 3. { y′′ + 2y′ + 5y = 4e−x cos 2x y(0) = 1, y′(0) = 0 102 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 79. Considere a equação y′′ − 3y′ − 4y = 2e−x. (10.3) 1. Verifique que y1(x) = e −x e y2(x) = e 4x formam um conjunto fundamental de soluções da equação homogênea associada. 2. Adaptando o Método da Redução de Ordem, procure uma solução da equação não-homogênea da forma Y1(x) = u(x)y1(x) = u(x)e −x , em que u(x) deverá ser determinado. Substitua Y (x), Y ′(x) e Y ′′(x) na Equação (10.3) e mostre que u(x) deverá satisfazer u′′ − 5u′ = 2. 3. Faça u′(x) = v(x) e mostre que v(x) deve satisfazer v′ − 5v = 2. Resolva essa equação para v(x). 4. Integre v(x) para encontrar u(x) e, depois, mostre que Y1(x) = −2 5 xe−x é a solução particular desejada. 5. Conclua que a solução geral da Equação (1) é Y (x) = c1e −x + c2e4x − 2 5 xe−x. Exercício 80. O Método da Redução de Ordem também pode ser usado para a equação não homogênea y′′ + p(x)y′ + q(x)y = g(x), (10.4) desde que se conheça uma solução y1 da equação homogênea associada. Seja y(x) = u(x)y1(x) e mostre que y satisfaz a Equação (2) se u for solução de y1(x)u ′′ + [2y′1(x) + p(x)y1(x)]u ′ = g(x). Resolvendo essa equação , obtem-se u(x) e, assim, obtemos a solução particular da Equação (2). Utilizando o método esquematizado acima, resolva as equações diferenciaisa seguir. 1. x2y′′ − 2xy′ + 2y = 4x2, x > 0, y1(x) = x. 2. x2y′′ + 7xy′ + 5y = x, x > 0, y1(x) = x−1 3. xy′′ − (1 + x)y′ + y = x2e2x, x > 0, y1(x) = 1 + x 4. (1− x)y′′ + xy′ − y = 2(x− 1)2e−x, 0 < x < 1, y1(x) = ex Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 103 10.2 O método da variação de parâmetros O método da Variação de Parâmetros ou Método de Lagrange é usado para encontrar uma solução particular de uma equação diferencial não homogênea. Consiste em supor que as constantes (parâmetros) presentes na solução geral da equação homogênea as- sociada são funções da variável independente e impor que esta nova função seja uma solução particular da EDO. A principal vantagem do método está no fato dele ser um método geral, podendo ser aplicado a qualquer equação sem que se saiba inicialmente a forma da solução. O método consiste em obter a solução geral da equação homogênea associada e substituir as constantes presentes por duas funções u1(x) e u2(x) e impor que esta nova função yp(x) = u1(x)y1(x) + u2(x)y2(x) seja solução particular da equação. Substi- tuindo yp e suas derivadas na equação diferencial podemos determinar u1(x) e u2(x) e consequentemente a solução particular. Dada a EDO de segunda ordem y′′ + p(x)y′ + q(x)y = g(x), (10.5) suponhamos já conhecida a solução geral da equação homogênea associada y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0. Se y1(x) e y2(x) formam um conjunto fundamental de soluções para a equação, vamos procurar uma solução para a equação não-homogênea (10.5) da forma yp(x) = u1(x)y1x) + u2(x)y2(x). Derivando a função yp em relação a x temos: y′ = (u1y1)′ + (u2y2)′ = u′1y1 + u1y ′ 1 + u ′ 2y2 + u2y ′ 2. A equação obtida acima é geral demais para que possamos encontrar as funções u1 e u2. Vamos então adicionar uma condição extra. Esperamos que essa condição não vá impedir a existência de uma solução particular na forma considerada. A condição que deve-se impor é que a soma dos termos envolvendo u′1(x) e u ′ 2(x) seja igual a zero. Temos então u′1y1 + u ′ 2y2 = 0⇒ y′ = u1y′1 + u2y′2 Derivando obtemos y′′ = u′1y ′ 1 + u1y ′′ 1 + u ′ 2y ′ 2 + u2y ′′ 2 . Devemos agora substituir as derivadas obtidas na EDO u′1y ′ 1 + u1y ′′ 1 + u ′ 2y ′ 2 + u2y ′′ 2 + p(x)[u1y ′ 1 + u2y ′ 2] + q(x)[u1y1 + u2)y2] = g(x). Simplificando temos u1(y ′′ 1 + py ′ 1 + qy1) + u2(y ′′ 2 + py ′ 2 + qy2) + u ′ 1y ′ 1 + u ′ 2y ′ 2 = g(x). 104 Equações Diferenciais Ordinárias Como y1 e y2 são soluções da equação homogênea correspondente temos (y′′1 + py ′ 1 + qy1) = 0 e (y ′′ 2 + py ′ 2 + qy2) = 0 e a equação se reduz a: u′1y ′ 1 + u ′ 2y ′ 2 = g(x). Em suma, tem-se o seguinte sistema:{ u′1y1 + u ′ 2y2 = 0 u′1y ′ 1 + u ′ 2y ′ 2 = g(x) Este sistema possui solução única em u′1 e u ′ 2, pois W (y1, y2)(x) 6= 0. Resolvendo esse sistema através do método da substituição temos: u′1 = −y2g(x) W (y1, y2) (x) e u′2 = y1g(x) W (y1, y2) (x) o que fornce através de integração direta u1(x) = − ∫ y2g(x) W (y1, y2(x)) dx e u2(x) = ∫ y1g(x) W (y1, y2(x)) dt. Isso implica que uma solução particular é dada por yp(x) = [ − ∫ y2g(x) W (y1, y2) (x) dt ] y1(x) + [∫ y1g(x) W (y1, y2) (x) dt ] y2(x). Exemplo 58. Encontre a solução geral da equação y′′ + y = tan(x) Solução. A solução da equação homogênea associada é y(x) = c1 cos(x) + c2 sen(x). Vamos procurar por uma solução particular para a equação não-homogênea na forma yP (x) = u1(x) cos(x) + u2(x) sen(x). Vamos agora derivar a equação acima em relação à variável x. Temos então: y′P = u ′ 1 cos(x) + u2 sen(x)− u1 sen(x) + u2 cos(x). A condição imposta será: u′1(x) cos(x) + u ′ 2(x) sen(x) = 0. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 105 Dessa forma, y′P = −u1 sen(x) + u2 cos(x) e y′′P = −u′1 sen(x)− u1 cos(x) + u′2 cos(x)− u2 sen(x). Substituindo o valor de y′′P e yP na EDO, temos: y′′P + yP = tan(x) −u′1 sen(x)− u1 cos(x) + u′2 cos(x)− u2 sen(x) + u1 cos(x) + u2 sen(x) = tan(x) −u′1 sen(x) + u′2 cos(x) = tan(x). Temos então o sistema: { u′1 cos(x) + u ′ 2 sen(x) = 0 −u′1 sen(x) + u′2 cos(x) = tan(x) Resolvendo o sistema acima através do método da substituição temos u′(x) = sen2(x) cos(x) e u′2(x) = sen(x). Integrando as equações acima, temos: u1(x) = − ∫ − sen2(x) cos(x) dx⇒ u1(x) = sen(x)− ln (sec(x) + tan(x)) e u2(x) = ∫ sen(x)dx⇒ u2(x) = − cos(x). Assim, uma solução particular para a equação diferencial y′′ + y = tan(x) é: yp(x) = [sen(x)− ln (sec(x) + tan(x))] cos(x)+[− cos(x)] sen(x) = − ln (sec(x) + tan(x)) cos(x) e a solução geral dessa equação é φ(x) = c1 cos(x) + c2 sen(x)− cos(x) ln (sec(x) + tan(x)) . 106 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 59. Encontre a solução geral da equação y′′ − y = 1 x . Solução. A solução geral da equação homogênea associada é y(x) = c1e x + c2e −x. Vamos procurar uma solução particular na forma yp(x) = u1(x)e x + u2(x)e −x. As funções devem satisfazer o sistema{ u′1y1 + u ′ 2y2 = 0 u′1y ′ 1 + u ′ 2y ′ 2 = g(x) em que y1 e y2 são as soluções fundamentais da equação homogênea, ou seja,{ u′1e x + u′2e −x = 0 u′1e x + u′2e −x = 1 x Resolvendo esse sistema através do método da substituição temos u′1(x) = − e−x 2x , u′2(x) = − ex 2x . As integrais acima não são integrais elementares e portanto não podemos resolvê-las explicitamente. Assim, o melhor que podemos fazer é escrever yp(x) = − [∫ e−x 2x dx ] ex − [∫ ex 2x dx ] e−x e a solução geral da equação é φ(x) = c1e x + c2e −x − [∫ e−x 2x dx ] ex − [∫ ex 2x dx ] e−x. As integrais acima podem ser resolvidas facilmente com a ajuda de um programa de computador. Exercício 81. Utilize o Método da Variação de Parâmetros para obter uma solução particular de cada equação diferencial dada e, em seguida, determine a solução geral da mesma. Nos ítens (g) e (h), g(x) é uma função contínua. 1. y′′ + y = tan x, 0 < x < pi 2 2. y′′ + 9y = 9 sec2 3x, 0 < x < pi 6 Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 107 3. y′′ + 4y′ + 4y = x−2e−2x, x > 0 4. y′′ + 4y = 3 cossec 2x, 0 < x < pi 2 5. 4y′ + y = 2 sec x 2 , pi < x < pi 6. y′′ − 2y′ + y = ex 1+x2 , 7. y′′ − 5y′ + 6y = g(x) 8. y′′ + 4y = g(x) Exercício 82. Verifique que as funções y1 e y2 dadas satisfazem a equação homogênea associada. Em seguida, obtenha uma solução particular da equação não homogênea associada pelo Método da Variação de Parâmetros. Nos ítens, (g) e (h), g(x) é uma função contínua. 1. x2y′′ − 2y = 3t2 − 1, x > 0; y1(x) = x2, y2(x) = x−1 2. x2y′′ − x(x+ 2)y′ + (x+ 2)y = 2t3, x > 0; y1(x) = x, y2(x) = tex 3. xy′′ − (1 + x)y′ + y = x2e2t, x > 0; y1(x) = 1 + x, y2(x) = ex 4. (1− x)y′′ + xy′ − y = 2(x− 1)2e−x, 0 < x < 1; y1(x) = ex, y2(x) = x 5. x2y′′ − 3xy′ + 4y = x2 lnx, x > 0; y1(x) = x2, y2(x) = x2 lnx 6. x2y′′ + xy′ + ( x2 − 1 4 ) y = 3x 3 2 sen x, x > 0; y1(x) = x − 1 2 sen x, y2(x) = x− 1 2 cosx 7. (1− x)y′′ + xy′ − y = g(x), 0 < x < 1; y1(x) = ex, y2(x) = x 8. x2y′′+ xy′+ ( x2 − 1 4 ) y = g(x), x > 0; y1(x) = x − 1 2 sen x, y2(x) = x − 1 2 cosx 10.3 O princípio da superposição As soluções de uma equação diferencial não-homogênea não constituem um espaço vetorial, pois uma combinação linear de duas soluções não é necessariamente solução da equação. No entanto existe uma propriedade de linearidade importante, chamada principio de superposição. Teorema 11 (Princípio da superposição). Consideremos a equação de segunda ordem y′′ + p(x)y′ + q(x)y = f(x) com uma solução y1p(x), e a equação y′′ + p(x)y′ + q(x)y = g(x) 108 Equações Diferenciais Ordináriascom outra solução y2p(x). Então para quaiquer constantes k1 e k2 a função yp(x) = k1y 1 p(x) + k2y 2 p(x) é uma solução particular da equação y′′ + p(x)y′ + q(x)y = k1f(x) + k2g(x). Demonstração. Calculando as derivadas de yp e substituindo na equação temos y′′p + p(x)y ′ p + q(x)yp =( k1y 1 p + k2y 2 p )′′ + p(x) ( k1y 1 p + k2y 2 p )′ + q(x) ( k1y 1 p + k2y 2 p ) = k1 ( (y1p) ′′ + p(x)(y1p) ′ + q(x)y1p )︸ ︷︷ ︸ f(x) +k2 ( (y2p) ′′ + p(x)(y2p) ′ + q(x)y2p )︸ ︷︷ ︸ g(x) = = k1f(x) + k2g(x). Esse resultado nos permite aumentar muito a família de equações não-lineares que podemos resolver. Exemplo 60. Encontre uma solução particular para a equação y′′ + y′ + 2y = 5x+ 3ex. Solução. Podemos usar o princípio da superposição e escrever a solução particular para essa equação como uma soma yp(x) = y 1 p(x) + y 2 p(x) em que y1p(x) é uma solução particular para y′′ + y′ + 2y = 5x e y2p(x) é uma solução particular para y′′ + y′ + 2y = 3ex. Ambas soluções particulares podem ser obtidas através do método de coeficientes a determinar, que fornece y1p(x) = 5 2 (x− 1) e y2p(x) = 3 4 ex. Logo temos que yp(x) = 5 2 (x− 1) + 3 4 ex. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 109 O princípio da superposição pode ser aplicado a qualquer número de fatores na soma do lado direito da equação. Após separar a equação em várias equações mais simples, não há necessidade que o mesmo método seja usado em cada uma delas. Exercício 83. Para cada equação dada, determine sua solução geral. 1. y′′ + y = sec(x) + ex 2. y′′ + y = cos2(x) + x2 3. y′′ + 3y′ = 2x4 + x2e−3x + sen 3x 4. y′′ + y = x(1 + sen x) 5. y′′ − 5y′ + 6y = ex cos 2x+ e2x(3x+ 4) sen x 6. y′′ + 2y′ + 2y = 3e−x + 2e−x cosx+ 4e−xx2 sen x 7. y′′ − 4y′ + 4y = 2x2 + 4xe2x + x sen 2x 8. y′′ + 4y = x2 sen 2x+ (6x+ 7) cos 2x 9. y′′ + 3y′ + 2y = ex(x2 + 1) sen 2x+ 3e−x cosx+ 4ex 10. y′′ + 2y′ + 5y = 3xe−x cos 2x− 2xe−2x cosx 11. 2y′′ + 3y′ + y = x2 + 3 sen x 12. y′′ + 2y′ = 3 + 4 sen 2x 13. y′′ + 9y = x2e3x + 6 14. y′′ + y = 3 sen 2x+ x cosx 15. y′′ + y = tan(x) + e2x + x. Exercício 84. Encontre a solu�ao dos problemas de valor inicial: 1. { y′′ + 4y = x2 + 3ex y(0) = 0, y′(0) = 2 2. { y′′ − 2y′ + y = xex + 4 y(0) = 1, y′(0) = 1 11 Aplicações: Sistemas massa-mola e circuitos elétricos Um sistema massa-mola consiste no acoplamento de um corpo de massa m a uma mola com constante de deformação k > 0, enquanto a outra extremidade está ligada a um ponto fixo conforme mostrado na Figura 11.1. Se tal sistema encontra-se em equilíbrio a posição da massa é denotada por x = 0 e toda vez que tentamos tirar o o sistema desse ponto O, surgirá uma força restauradora que tenta trazê-lo de volta a situação inicial. Se puxarmos o bloco e, em seguida, o soltarmos, o sistema oscilará em torno da posição de equilíbrio O. Para descrever completamente o corpo precisamos encontrar a posição dele em função do tempo, x(t). Figure 11.1: Sistema massa-mola. 11.1 A lei de Hooke A lei de Hooke é a lei da física relacionada à elasticidade de corpos, e é ela que devemos utilizar para calcular a força de restauração exercida pela mola sobre o corpo. Segundo essa lei, a força de restauração é dada por F = kx 111 112 Equações Diferenciais Ordinárias em que x é o deslocamento do corpo em relação à posição inicial 0. Nota-se que a força produzida pela mola é diretamente proporcional ao seu deslo- camento do estado inicial. O equilíbrio na mola ocorre quando ela está em seu estado natural, ou seja, sem estar comprimida ou esticada. Após comprimi-la ou esticá-la, a mola sempre faz uma força contrária ao movimento, calculada pela expressão acima. 11.2 Movimento livre não amortecido Quando a única força agindo sobre o corpo é a força produzida pela mola temos, pela segunda lei de Newton mx′′ = −kx e o movimento do corpo é modelado pela equação diferencial mx′′ + kx = 0 ou x+ ω20x = 0, (11.1) em que ω0 = √ k m é chamada de frequência natural do movimento. Essa é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem, linear e com coeficientes constantes e portanto pode ser facilmente resolvida. O polinômio característico da equação é r2 + ω20 = 0 que tem comos raízes ±ω0i, de modo que as soluções fundamentais da equação (11.1) são x1(x) = cos(ω0t), x2(t) = sen(ω0t). Assim, a solução geral para a equação é x(t) = c1 cos(ω0t) + c2 sen(ω0t). As constantes c1 e c2 serão determinadas pelas condições iniciais. Em geral, são dadas a posição e a velocidade iniciais x(0) = x0 e x ′(0) = x′0. Exemplo 61. Um corpo de massa 1Kg está preso a uma mola de constante de defor- mação k = 4N/m. O corpo é empurrado para trás, comprimindo a mola 4cm. O corpo é solto a partir do repouso. Determine a equação de movimento desse corpo. Solução. Precisamos resolver o seguinte problema de valor inicial{ x′′ + 4x = 0 x(0) = −0.04, x′(0) = 0. A solução geral da equação diferencial é x(t) = c1 cos(2t) + c2 sen(2t) Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 113 e as condições iniciais implicam que c1 = −0.04 e que c2 = 0, como o leitor não terá dificuldades em verificar. Logo a equação de movimento que descreve o comportamento do corpo é x(t) = −0.04 cos(2t). Exercício 85. Um corpo de massa 5kg está preso a uma mola de constante elástica 20N/m. O objeto parte da posição de equilíbrio com velocidade de 1m/s para a direita. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. 11.3 Movimento livre amortecido A equação diferencial anterior é uma descrição muito simplificada de um sistema massa- mola real. Em geral, é impossível eliminar outras forças que agem sobre o corpo além da força elástica, como por exemplo a força de atrito entre o corpo e a superfície onde ele está colocado. Vamos agora verificar como a equação de movimento é modificado na presença de tais forças. As forças de atrito são difíceis de modelar em geral, já que elas dependem muito da estrutura da superfície em questão. Um bom modelo para a maior parte das superfícies é considerar a força de atrito proporcional à velocidade do corpo Fa = −ηx′ em que η é uma constante que modela a rugosidade da superfície (quanto mais rugosa é a superfície, maior o valor de η e maior o valor da força de atrito). O sinal − aparece porque as forças de atrito são sempre contrárias ao movimento do objeto. Nesse caso, a segunda lei de Newton fornece: mx′′ = −kx− ηx′ que pode ser reescrita na forma x′′ + 2λx′ + ω2x = 0. (11.2) em que 2λ = η m e ω = √ k m . O polinômio característico dessa equação é r2 + 2λr + ω20 = 0 cujas raízes são r1 = −λ+ √ λ2 − ω2, r2 = −λ− √ λ2 − ω2. Podemos agora distinguir três casos possíveis, dependendo do sinal de λ2 − ω2. 114 Equações Diferenciais Ordinárias 11.3.1 Movimento superamortecido Dizemos que o movimento do corpo é superamortecido se λ2−ω2 > 0, ou seja, quando a constante de amortecimento é grande se comparada à constante elástica da mola. A solução da equação (11.2) nesse caso é x(t) = e−λt ( c1e √ λ2−ω2t + c2e− √ λ2−ω2t ) . As constantes c1 e c2 deverão ser determinadas a partir das condições iniciais. Essa equação representa um movimento oscilatório. Nesse caso, a solução se aproxima de 0 quando t cresce. Isso significa que o corpo tende a voltar à posição de equilíbrio quando o tempo passa. Exemplo 62. Um corpo de massa 2kg está preso a uma mola de constante elástica 4N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 6N ×s/m. O objeto é solto a partir da posição de equilíbrio com velocidade de 1m/s para a direita. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. Solução. A equação diferencialobtida a partir da segunda lei de Newton é x′′ + 3x′ + 2x = 0. O polinômio característico da equação é r2 + 3r + 2 = 0, cujas raízes são r = −1 e r = −2. Logo temos a solução geral x(t) = c1e −t + c2e−2t e o movimento é superamortecido. As condições iniciais são x(0) = 0 e x′(0) = 1. Elas implicam que c1 = 1 e c2 = −1. Logo a equação de movimento que descreve o comportamento do objeto é x(t) = e−t − e−2t. Exercício 86. Um corpo de massa 3kg está preso a uma mola de constante elástica 9N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 12N × s/m. O objeto parte da posição inicial x(0) = −1 com velocidade de 2m/s para a direita. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. 11.3.2 Movimento criticamente amortecido Dizemos que o movimento do corpo é criticamente amortecido se λ2 − ω2 = 0. A solução da equação (11.2) nesse caso é x(t) = c1e −λt + c2te−λt. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 115 As constantes c1 e c2 deverão ser determinadas a partir das condições iniciais. Essa equação não representa um movimento oscilatório. Nesse caso, a solução se aproxima de 0 quando t cresce. Isso significa que o corpo tende a voltar à posição de equilíbrio quando o tempo passa. Exemplo 63. Um corpo de massa 3kg está presa a uma mola de constante elástica 3N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 6N × s/m. O objeto é solto a partir da posição x(0) = −1 com velocidade de 1m/s para a esquerda. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. Solução. A equação diferencial obtida a partir da segunda lei de Newton é x′′ + 2x′ + x = 0. O polinômio característico da equação é r2 + 2r+ 1 = 0, que possui uma única raiz real r = −1. Logo temos a solução geral x(t) = c1e −t + c2te−t e o movimento é superamortecido. As condições iniciais são x(0) = −1 e x′(0) = −1. Elas implicam que c1 = 0 e c2 = −1. Logo a equação de movimento que descreve o comportamento do objeto é x(t) = −te−t. Exercício 87. Um corpo de massa 1kg está preso a uma mola de constante elástica 1N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 2N × s/m. O objeto parte da posição de equilíbrio com velocidade de 1m/s para a esquerda. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. 11.3.3 Movimento subamortecido Dizemos que o movimento do corpo é subamortecido se λ2−ω2 < 0, ou seja, quando a constante de amortecimento é pequena se comparada à constante elástica da mola. A solução da equação (11.2) nesse caso é x(t) = e−λt ( c1 cos( √ ω2 − λ2t) + c2 sen( √ ω2 − λ2t) ) . As constantes c1 e c2 deverão ser determinadas a partir das condições iniciais. Essa equação não representa um movimento oscilatório. Nesse caso, a solução se aproxima de 0 quando t cresce. Isso significa que o corpo tende a voltar à posição de equilíbrio quando o tempo passa. Essa equação representa um movimento oscilatório, mas devido ao fator e−λt a amplitude de oscilação tende a 0 quando t cresce. 116 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 64. Um corpo de massa 1kg está presa a uma mola de constante elástica 5N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 2N × s/m. O objeto é solto a partir do repouso na posição x(0) = 2 . Encontre a equação de movimento que descreveo comportamento desse objeto. Solução. A equação diferencial obtida a partir da segunda lei de Newton é x′′ + 2x′ + 5x = 0. O polinômio característico da equação é r2+2r+5 = 0, que possui duas raízes complexas r = −1± 2i. Logo temos a solução geral x(t) = e−t (c1 cos(2t) + c2 sen(2t)) e o movimento é superamortecido. As condições iniciais são x(0) = 2 e x′(0) = 0. Elas implicam que c1 = 2 e c2 = 2. Logo a equação de movimento que descreve o comportamento do objeto é x(t) = 2e−t (cos(2t) + sen(2t)) . Exercício 88. Um corpo de massa 5kg está preso a uma mola de constante elástica 2N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 1N × s/m. O objeto parte da posição de equilíbrio com velocidade de 1m/s para a direita. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. 11.4 Movimento forçado Além das forças de amortecimento e elástica podem haver outras forças agindo sobre o corpo. Podemos por exemplo considerar o caso em que o corpo continua a ser empurrado depois de t = 0. Vamos chamar essa força adicional de f(t). Utilizando a segunda lei de Newton temos: mx′′ = −kx− ηx′ + f(t) que pode ser reescrita na forma x′′ + 2λx′ + ω2x = g(t) em que 2λ = η m , ω = √ k m e g(t) = f(t) m . Nesse caso, a equação diferencial que descreve o objeto é uma equação não-homogênea, e por isso a resolução dependerá do formato da força adcional f(t). Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 117 Exemplo 65. Um corpo de massa 3kg está preso a uma mola de constante elástica 3N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 6N×s/m. Além disso, o corpo está sujeito a uma força adicional que varia com o tempo igual a f(t) = 3 cos(t). O objeto parte da posição de equilíbrio com velocidade de 1m/s para a direita. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. Solução. A equação diferencial obtida a partir da segunda lei de Newton é x′′ + 2x′ + x = cos(t). Uma solução particular para essa equação pode ser encontrada a partir do método dos coeficientes a determinar. Nesse exemplo, os parâmetros para a aplicação do método são n = 0, δ = 0 e γ = 1. Como δ+ iγ = i não é raiz de r2 + 2r+ 1 = 0 temos s = 0. Logo a solução particular terá a forma xp(t) = A cos(t) +B sen(t) em que A e B devem ser determinados substituindo yp na equação. Procedendo dessa maneira obtemos (−A cos(t)−B sen(t)) + 2 (−A sen(t) +B cos(t)) + (A cos(t) +B sen(t)) = cos(t) (−A+ A+ 2B) cos(t) + (−B − 2A+B) sen(t) = 0 2B cos(t) +−2A sen(t) = cos(t) o que implica que A = 0 e B = 1 2 . Logo a solução particular é xp(t) = sen(t) 2 . Para encontrar a solução geral resta encontrar a solução da equação homogênea, que é xH(t) = c1e −t + c2te−t. Assim a solução geral da equação diferencial é x(t) = c1e −t + c2te−t + sen(t) 2 . As condições iniciais são x(0) = 0 e x′(0) = 1. Elas implicam que c1 = −14 e c2 = 14 . Logo a equação de movimento que descreve o comportamento do objeto é x(t) = e−t 4 + te−t 4 + sen(t) 2 . 118 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 89. Um corpo de massa 1kg está preso a uma mola de constante elástica 2N/m e está sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade, com constante de amortecimento igual a 3N×s/m. Além disso, o corpo está sujeito a uma força adicional que varia com o tempo igual a f(t) = t2. O objeto parte da posição de equilíbrio com velocidade de 1m/s para a direita. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. Exercício 90. Um corpo de massa 1kg está preso a uma mola de constante elástica 4N/m e não está sujeita a nenhuma força de atrito Além disso, o corpo está sujeito a uma força adicional que varia com o tempo igual a f(t) = sen(t). O objeto parte da posição inicial x(0) = −2 com velocidade de 2m/s para a esquerda. Encontre a equação de movimento que descreve esse objeto. 11.5 Circuitos Elétricos Vamos inicialmente relembrar as propriedades de três tipos de dispositivos elétricos: capacitores, resistores e indutores. 11.5.1 Capacitores Um capacitor é um componente que armazena energia num campo elétrico, acumulando um desequilíbrio interno de carga elétrica. C + − i A diferença de potencial em um capacitor é dada pela equação ∆V = Q C em que C é a capacitância, uma constante que mede acapacidade do dispositivo em armazenar carga elétrica e Q é a carga armazenada no capacitor. 11.5.2 Resistores Um resistor é um dispositivo elétrico muito utilizado em eletrônica, ora com a finalidade de transformar energia elétrica em energia térmica por meio do efeito joule, ora com a finalidade de limitar a corrente elétrica em um circuito. Resistores são componentes que têm por finalidade oferecer uma oposição à pas- sagem de corrente elétrica através de seu material. A oposição oferecida pelo material é representada por uma constante chamada resistência R do resistor. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 119 Resistores causam uma queda de tensão em alguma parte de um circuito elétrico, porém jamais causam quedas de corrente elétrica. Isso significa que a corrente elétrica que entra em um terminal do resistor será exatamente a mesma que sai pelo outro terminal, porém há uma queda de tensão. Utilizando-se disso, é possível usar os resistores para controlar a corrente elétrica sobre os componentes desejados. R + − i A queda de tensão em um resitor é dada pela equação ∆V = RI em que I é a corrente que passa pelo resistor. 11.5.3 Indutores Um indutor é um dispositivo elétrico que armazena energia na forma de campo mag- nético, normalmente combinando o efeito de vários loops de uma corrente elétrica. L + − i A indutância L é a constante física que mede a capacidade do indutor em gerar campo magnético a partir de uma corrente variável e é medida em Henry H. A tensão entre os terminais de um indutor é proporcional à taxa de variação da corrente que o atravessa. Matematicamente temos: ∆V = L dI dt . 11.5.4 Geradores Gerador é um dispositivo utilizado para a conversão da energia mecânica, química ou outra forma de energia em energia elétrica. A diferença de potencial gerada depende das características internas do gerador e pode depender do tempo de muitas maneiras diferentes. Essa diferença de potencial será representada pela função ε(t). +− V (t) i 120 Equações Diferenciais Ordinárias 11.5.5 A segunda lei de Kirchoff A segunda lei de Kirchoff afirma que em um circuito fechado, as variações de potencial em cada um dos elementos do circuito devem ter soma igual a zero. N∑ k=1 ∆Vk = 0 em que ∆Vk representam as variações de potencial elétrico em cada componente do circuito. 11.5.6 Circuitos RLC Um circuito RLC é um circuito fechado que possui um resistor, um indutor e um capac- itor, além de um gerador de potência elétrica, todos em série. Esses circuitos apresenta três características importantes: 1. Fornece apenas um caminho para a circulação da corrente elétrica; 2. A intensidade da corrente é a mesma ao longo de todo o circuito em série; 3. O funcionamento de qualquer um dos consumidores depende do funcionamento dos consumidores restantes. V (t) C L R Figure 11.2: Representação gráfica de um circuito RLC em série. O gerador aumenta a diferença de potencial entre suas extremidades, enquanto que capacitores, resistores e indutores diminuem a diferença de potencial entre suas extrem- idades. Aplicando a segunda lei de Kirchoff temos: −LdI dt −RI − Q C + ε(t) = 0 que pode ser reescrita na forma L dI dt +RI + Q C = ε(t). Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 121 Como I = dQ dt temos L d2Q dt2 +R dQ dt + Q C = ε(t) que é uma equação de segunda ordem linear, em geral não-homogênea, com coeficientes constantes. Exemplo 66. Um capacitor com C = 1 3 F , um resistor com R = 4 Ω e um indutor com L = 1 H estão ligados em série a um gerador que produz uma diferença de potencial igual a ε(t) = e−2t V . Encontre a carga armazenada no capacitor em função do tempo e a corrente que passa no circuito em função do tempo. Em geral utilizamos como condições iniciais o momento em que o gerador é ligado, em que tanto a carga armazenada no capacitor quanto a corrente elétrica no circuito são iguais a zero. Solução. A equação diferencial que modela o processo é d2Q dt2 + 4 dQ dt + 3Q = e−2t. Para encontrar a solução geral devemos inicialmente encontrar uma solução particular para a equação, o que pode ser feito através do método dos coeficientes a determinar. Assim obtemos Qp(t) = −e−2t. A solução da eqação homogênea associada é QH(t) = c1e −t + c2e−3t e a solução geral da equação de interesse é Q(t) = c1e −t + c2e−3t − e−2t. As condições iniciais são Q(0) = 0 e Q′(0) = 0. Essas restrições implicam que c1 = e c2 = e portanto a carga elétrica armazenada no capacitor em função do tempo é: Q(t) = 3 2 e−t + 1 2 e−3t − e−2t. Para obter a corrente que passa no circuito como função do tempo basta derivar a expressão acima em relação a t. Observação : Nos exercícios abaixo foram escolhidos valores que facilitam as contas na resolução das equações diferenciais. Os valores encontrados nos dispositivos elétricos usados no dia a dia são em geral muito diferentes dos utilizados abaixo. Exercício 91. Um capacitor com C = 1 4 F , um resistor com R = 4 Ω e um indutor com L = 1 H estão ligados em série a um gerador que produz uma diferença de potencial igual a ε(t) = e−t V . Encontre a carga armazenada no capacitor em função do tempo e a corrente que passa no circuito em função do tempo. 122 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 92. Um capacitor com C = 1 5 F , um resistor com R = 4 Ω e um indutor com L = 2 H estão ligados em série a um gerador que produz uma diferença de potencial igual a ε(t) = te−t V . Encontre a carga armazenada no capacitor em função do tempo e a corrente que passa no circuito em função do tempo. Exercício 93. Um capacitor com C = 1 9 F e um indutor com L = 1 H estão ligados em série a um gerador que produz uma diferença de potencial igual a ε(t) = cos(t) V . Encontre a carga armazenada no capacitor em função do tempo e a corrente que passa no circuito em função do tempo. Exercício 94. Um capacitor com C = 1 F e um indutor com L = 1 H estão ligados em série a um gerador que produz uma diferença de potencial igual a ε(t) = sec(t)V . Encontre a carga armazenada no capacitor em função do tempo e a corrente que passa no circuito em função do tempo. Parte IV Séries de potência e trasformada de Laplace 123 12 Resolução de equações diferenciais através de séries de potência 12.1 Revisão de séries de potência Em matemática, uma série de potência em uma variável é uma série infinita da forma f(x) = ∞∑ n=0 an (x− c)n = a0 + a1(x− c)1 + a2(x− c)2 + a3(x− c)3 + · · · onde an representa o coeficiente do termo de ordem n, c ∈ R é uma constante e x varia em torno de c. Por esta razão dizemos que a série é centrada em c. Em muitas situações c é igual a zero. Em tais casos , a série de potência assume a forma mais simples f(x) = ∞∑ n=0 anx n = a0 + a1x+ a2x 2 + a3x 3 + · · · . Séries de potência surgem em várias áreas da matemática, como por exemplo em análise, equações diferenciais, combinatória, teoria dos números e também em várias áreas da matemática aplicada. 12.1.1 Exemplos importantes Qualquer polinômio pode ser facilmente escrito como uma série de potências em torno de qualquer centro c, embora apenas um número finito dos coeficientes seja diferente de zero nesse caso. Por exemplo, o polinômio f(x) = x2 + 2x + 3 pode ser escrito como uma série de potência em torno do centro c = 0 f(x) = 3 + 2x1 + x2 + 0x3 + 0x4 · · · , ou em torno do centro c = 1, conforme 125 126 Equações Diferenciais Ordinárias f(x) = 6 + 4(x− 1) + 1(x− 1)2 + 0(x− 1)3 + 0(x− 1)4 · · · , ou em torno de qualquer outro centro c. Podemos ver séries de potência como �polinômios de grau infinito�, mas lembre-se que séries de potência em geral NÃO são polinômios e nem se comportam como polinômios.A fórmula para a série geométrica 1 1− x = ∞∑ n=0 xn = 1 + x+ x2 + x3 + · · · , que é válida para |x| < 1, é um dos mais importantes exemplos de uma série de potências, assim como a fórmula para a função exponencial ex = ∞∑ n=0 xn n! = 1 + x+ x2 2! + x3 3! + · · · , e a fórmula para as funções trigonométricas cosseno e seno cos(x) = ∞∑ n=0 (−1)n (2n)! x2n = 1− x 2 2! + x4 4! − x 6 6! + · · · , sen(x) = ∞∑ n=0 (−1)nx2n+1 (2n+ 1)! = x− x 3 3! + x5 5! − x 7 7! + · · · , válidas para todo x real. 12.1.2 Raio de convergência Uma série de potências pode convergir para alguns valores da variável x e pode divergir para outros. Todas as séries de potência f(x) em potências de (x − c) vão convergir em x = c. Se c não é o único ponto de convergência, há sempre um número r tal que 0 < r ≤ ∞ de modo que a série sempre converge se |x − c| < r e diverge quando |x− c| > r. O número r é chamado o raio de convergência da série de potência. O raio de convergência pode ser calculado através de qualquer critério de convergência de séries (por exemplo o teste da razão). Uma maneira rápida de calcular é através da fórmula r−1 = lim n→∞ ∣∣∣∣an+1an ∣∣∣∣ , se este limite existe. Essa relação pode ser facilmente obtida a partir do teste da razão para séries númericas. A série de potências converge absolutamente quando |x− c| < r. Para |x− c| = r, não podemos fazer qualquer declaração geral sobre a convergência ou a divergência da série. Cada caso deverá ser analisado separadamente. O conjunto dos pontos onde a série converge é chamado de intervalo de convergência da série. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 127 12.1.3 Operações com séries de potência Quando duas funções f e g são decompostas em série de potência em torno do mesmo centro c, a série de potência da soma ou da diferença das funções pode ser obtida através da adição e subtração termo a termo. Isto é, se f(x) = ∞∑ n=0 an(x− c)n e g(x) = ∞∑ n=0 bn(x− c)n então f(x)± g(x) = ∞∑ n=0 (an ± bn)(x− c)n. Com as mesmas definições acima referidas, a série de potência do produto pode ser obtida através da multiplicação termo a termo f(x)g(x) = ( ∞∑ n=0 an(x− c)n )( ∞∑ n=0 bn(x− c)n ) = ∞∑ i=0 ∞∑ j=0 aibj(x− c)i+j = ∞∑ n=0 ( n∑ i=0 aibn−i ) (x− c)n. Para definir a divisão de duas séries observe que f(x) g(x) = ∑∞ n=0 an(x− c)n∑∞ n=0 bn(x− c)n = ∞∑ n=0 dn(x− c)n f(x) = ( ∞∑ n=0 bn(x− c)n )( ∞∑ n=0 dn(x− c)n ) e em seguida utilize a fórmula para o produto e compare os coeficientes. Uma vez que a função é dada como uma série de potência, ela é diferenciável no interior do intervalo de convergência. Pode ser diferenciada e integrada com bastante facilidade, tratando cada termo separadamente: f ′(x) = ∞∑ n=1 ann (x− c)n−1 = ∞∑ n=0 an+1 (n+ 1) (x− c)n ∫ f(x) dx = ∞∑ n=0 an (x− c)n+1 n+ 1 + k = ∞∑ n=1 an−1 (x− c)n n + k. Ambas as séries têm o mesmo raio de convergência da série original. 128 Equações Diferenciais Ordinárias 12.1.4 Funções analíticas e séries de Taylor Uma função f definida em algum intervalo aberto I de R é chamada analítica se for dada localmente por uma série de potências convergente. Isto significa que cada c ∈ I tem uma vizinhança V , tal que existe uma série de potências com um centro em c que converge para f(x) para todo x ∈ V . Cada série de potência com um raio de convergência positivo é analítica no interior de seu intervalo de convergência. Somas e produtos de funções analíticas são analíticas, como são quocientes enquanto o denominador é diferente de zero. Se uma função analítica ela é infinitamente diferenciável, mas a recíproca não é geralmente verdadeira. Para uma função analítica, os coeficientes da série podem ser calculados através da fórmula an = f (n) (c) n! onde f (n)(c) indica a derivada enésima de f em c e f (0)(c) = f(c). Isso quer dizer que toda função analítica pode ser representada através da série de Taylor f(x) = ∞∑ n=0 f (n)(c) n! (x−c)n = f(c) (x− c)0+f ′(c) (x− c)1 1! + f ′′(c) (x− c)2 2! +...+ f (n)(c) (x− c)n n! +· · · . Exemplo 67. Encontre o intervalo de convergência e o raio de convergência da série de Taylor para a função f(x) = ex em torno de c = 1. Exemplo 68. Encontre o intervalo de convergência e o raio de convergência da série de Taylor para a função f(x) = 1 x em torno de c = 1. Exercício 95. Encontre o intervalo de convergência e o intervalo de convergência das séries de potência abaixo. 1. ∑∞ n=0 (x− 3)n; 2. ∑∞ n=0 n 2n xn; 3. ∑∞ n=0 2n n xn; 4. ∑∞ n=0 (−1)n 10n (x− 5)n; 5. ∑∞ n=0 100n n! (x+ 7)n. Exercício 96. Encontre a série de Taylor da função dada com centro no ponto c indi- cado. Calcule o raio e convergência e o intervalo de convergência das séries obtidas. 1. f(x) = cos(x) em torno de c = 0; Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 129 2. f(x) = sen(x) em torno de c = 0; 3. f(x) = ex em torno de c = 2; 4. f(x) = x2 em torno de c = −1; 5. f(x) = x em torno de c = 1; 6. f(x) = ln(x) em torno de c = 1. 12.2 Resolução de EDO's através de séries de potência Em matemática, o método de séries de potência é usado para buscar uma solução em série de potências para certas equações diferenciais. Em geral, uma tal solução pode ser escrita como uma série de potência com coeficientes desconhecidos. Substituindo o candidato a solução na equação diferencial podemos encontrar uma relação de recor- rência para os coeficientes, que nos permite explicitar a solução desejada. Observe que essa ideia é a mesma ideia usada no método dos coeficientes a determinar. A grande diferença é que agora temos infinitos coeficientes, que são os coeficientes an da série de potência em questão. Consideremos a equação diferencial linear, homogênea de segunda ordem R(x)y′′ + P (x)y′ +Q(x)y = 0. Vamos supor que R,P e Q são polinômios, mas equações de outros tipos podem ser resolvidas utilizando ideias semelhantes. Reescrevendo a equação na forma usual y′′ + p(x)y′ + q(x)y = 0 temos que p(x) = P (x) R(x) e q(x) = Q(x) R(x) são funções analíticas, exceto nos pontos onde R(x) = 0. As raízes de R(x) são chamados pontos sigulares da equação. Se um ponto não é singular, ele é chamado ponto ordinário da equação. Se x0 é um ponto ordinário da equação, o teorema de existência e unicidade para equações lineares garante que a solução da equação diferencial será uma função analítica em x0 e, portanto, existirá a série de potências para a solução y(x): y(x) = ∞∑ n=0 an (x− x0)n . Os coeficientes an são obtidos por substituição da série de potências acima (e das suas derivadas) na equação diferencial. Exemplo 69. Resolva a equação diferencial y′′ + y = 0 através do método de série de potências. 130 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 70. Resolva a equação diferencial y′′ − y = 0 através do método de série de potências. Exemplo 71. Resolva a equação diferencial y′′ − xy = 0 através do método de série de potência. Exemplo 72. Resolva a equação diferencial y′′ + y = 0 através do método de série de potências. Exercício 97. Reescreva o índice das séries abaixo de modo que apareça na soma potências de x na forma xn. 1. ∑∞ n=1 ncnx n+2 ; 2. ∑∞ n=3(2n− 1)cnxn−3. Exercício 98. Reescreva as somas de séries abaixo como uma única soma, colocando em evidência os termos de mesmo grau (será necessário reescrever o índice de pelo menos uma das séries). 1. ∑∞ n=1 2ncnx n−1 + ∑∞ n=0 6cnx n+1 ; 2. ∑∞ n=2 n(n− 1)cnxn + 2 ∑∞ n=2 n(n− 1)cnxn−2 + 3 ∑∞ n=1 ncnx n . Exercício 99. Verifique que as funções abaixo (dadas pro sériesde potências) são soluções das equações diferenciais indicadas. 1. y(x) = ∑∞ n=1 (−1)nxn n é solução de (x+ 1)y′′ + y′ = 0; 2. y(x) = ∑∞ n=0 (−1)nx2n 22nn! é solução de (xy′′ + y′ + xy = 0. Exercício 100. Verifique se x0 é ponto ordinário da equação diferencial dada. Em caso afirmativo resolva a equação utilizando o método de séries de potência. 1. y′′ − xy = 0, x0 = 0; 2. y′′ + x2y = 0, x0 = 0; 3. xy′′ + (x+ 1)y = 0, x0 = 0; Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 131 4. (x− 1)y′′ + y′ = 0, x0 = 1; 5. (x− 1)y′′ + y′ = 0, x0 = 0; 6. y′′ − xy′ − y = 0, x0 = 1; 7. x2y′′ − 2xy′ + 2y = 0, x0 = 2. Exemplo 73. Considere a equação (1− x)y′′ + xy′ − 2y = 0. 1. Encontre os pontos ordinários da equação acima; 2. Encontre a relação de recorrência dos coeficientes da solução em série de potências da equação acima em x0 = 0; 3. Encontre o raio de convergência dessa série; 4. Encontre pelo os cinco primeiros termos não-nulos das séries de y1 e y2; 5. Encontre a solução que satisfaz as condições iniciais y(0) = 0 e y′(0) = 1. Resposta dos exercícios selecionados Exercício 94 1. r = 1, I = (2, 4); 3. r = 1 2 , I = [−1 2 , 1 2 ) ; 4. r = 10, I = (−5, 15]. Exercício 95 4. ∑∞ n=0 x n , r = 1, I = (−1, 1); 7. ∑∞ n=0 (−1)n(x−1)n n ; r = 1, I = (0, 2). Exercício 96 1. ∑∞ n=3(n− 2)cn−2xn. Exercício 97 1. 2c1 + ∑∞ n=1 [2(n+ 1)cn+1 + 6cn−1]x n . Exercício 99 1. y(x) = a0 [ 1 + x 3 3×2 + x6 6×5×3×2 + x9 9×8×6×5×3×2 + · · · ] +a1 [ x+ x 4 4×3 + x7 7×6×4×3 + x10 10×9×7×6×4×3 + · · · ] ; 132 Equações Diferenciais Ordinárias 2. y(x) = a0 [ 1− x2 2! − 3x4 4! − 21x6 6! + · · · ] + a1 [ x+ x 3 3! + 5x 5 5! + 45x 7 7! + · · · ] ; 5. y(x) = a0 + a1 ∑∞ n=1 xn n ; 6. y(x) = a0 [ 1 + (x−1) 2 2 + (x−1) 3 6 + (x−1) 4 6 + · · · ] +a1 [ (x− 1) + (x−1)2 2 + (x−1) 3 2 + (x−1) 4 4 + · · · ] . 13 Transformada de Laplace A transformada de Laplace é uma transformação integral amplamente utilizada em matemática. Essa transformação foi nomeada em homenagem a Pierre- Simon Laplace e transforma a representação matemática de uma função na variável independente t (que na maior parte das aplicações representa o tempo) em função da variável independente s (que na maior parte das aplicações representa frequência). A transformada de Laplace pode ser invertida, isto é, existe a transformação inversa de Laplace que transforma uma função na variável s em uma função na variável t. Em física e engenharia a transformada de Laplace é utilizada para análise de sistemas lineares invariantes no tempo, tais como circuitos elétricos, osciladores harmônicos, dis- positivos ópticos e sistemas mecânicos. A transformada de Laplace fornece uma de- scrição alternativa que muitas vezes simplifica o processo de analisar o comportamento do sistema. Por exemplo, a transformada de Laplace transforma equações diferenciais em equações algébricas e portanto pode ser utilizada na resolução desse tipo de equação. 13.1 Transformadas Integrais A metodologia da transformada integral é uma importante metodologia empregadas na busca de soluções para equações diferenciais não triviais. Esta metodologia consiste em aplicar uma transformação definida a partir de uma integral específica a um determinado problema, reduzindo-o a um problema, em geral, mais simples de ser resolvido. Resolve- se o problema transformado e recupera-se a solução do problema original através da respectiva transformada inversa. A transformada é definida a partir de uma função de duas variáveis K(s, t), chamada núcleo da transformação e dois extremos de integração t1 e t2. Dada uma função f(t) obtemos sua transformada T (f) da seguinte forma T (f) = F (s) = ∫ t2 t1 f(t)K(s, t) dt. Alguns núcleos possuem núcleos inversos K−1(s, t) e extremos s1 e s2 que quando utilidados na transformada integral dão origem à transformação inversa da transformação 133 134 Equações Diferenciais Ordinárias gerada por K(s, t). Isso quer dizer que f(t) = ∫ s2 s1 K−1(s, t)F (s), ds. 13.2 Definição da transformada de Laplace A transformada de Laplace é uma transformada integral em que K(s, t) = e−st, t1 = 0 e t2 =∞, isto é F (s) = L{f(t)} = ∫ ∞ 0+ e−stf(t) dt. A transformada de Laplace é definida a partir de uma integral imprópria e portanto só está definida para os valores de s tais que a integral imprópria acima converge. Em geral a transformada de Laplace F (s) existe para todos os números reais s > a, onde a é uma constante que depende do comportamento de f(t). A transformada de Laplace possui inversa, isto é, dada a transformada de uma função F (s) de uma função f(t) é possível recuperar f(t) a partir de F (s), mas o cálculo da transformada de Laplace inversa a partir de uma integral é complicado (utiliza números complexos e o teorema dos resíduos) e portanto não vamos utilizá-la aqui. Para calcular a transformada inversa iremos utilizar a tabela 13.1 e algumas outras ferramentas que veremos em breve. 13.2.1 Linearidade da Transformada de Laplace Como toda transformada integral, a transformada de Laplace é uma operação linear, isto é, se f(t) e g(t) são funções na variável t e a e b são constantes reais, então L (af(t) + bg(t)) = aL (f(t)) + bL (g(t)) . Essa propriedade segue diretamente das propriedades de linearidade da integral, uma vez que L (af(t) + bg(t)) = ∫ ∞ 0 e(−st) [af(t) + bg(t)] dt = a ∫ ∞ 0 e(−st)f(t)dt+ b ∫ ∞ 0 e(−st)g(t)dt = aL (f(t)) + bL (g(t)) ATENÃÃO: propriedades similares não são válidas para outras operações entre funções. Por exemplo, mostra-se facilmente que a transformada de Laplace do produto é diferente do produto das transformadas. Por exemplo, se f(t) = g(t) = 1, então L{f · g} = L{1} = 1 s , como veremos no exemplo 74 abaixo, mas L{f} · L{g} = 1 s2 ou seja, em geral L{f · g} 6= L{f} · L{g}. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 135 13.3 Exemplos: cálculo da Transformada de Laplace para funções elementares Exemplo 74. Encontre a transformada de Laplace da função f(t) = 1. Solução. L(f) = F (s) = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ∫ ∞ 0 e−st dt = lim A→∞ ∫ A 0 e−st dt = lim A→∞ −e st s ∣∣∣∣A 0 = lim A→∞ [ −e sA s + 1 s ] . O limite acima existe se, e somente se, o argumento da exponencial é negativo, ou seja, se s > 0. Nesse caso temos lim A→∞ −e sA s = 0 e F (s) = 1 s . Se s < 0 o limite não existe (a exponencial vai para infinito) e portanto a transformada de Laplace F (s) não está definida. Esse exemplo corresponde à primeira linha da tabela 13.1. Exemplo 75. Encontre a transformada de Laplace da função f(t) = eat. Solução. L(f) = F (s) = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ∫ ∞ 0 e−steat dt = lim A→∞ ∫ A 0 e(−s+a)t dt = lim A→∞ e(−s+a)t −s+ a ∣∣∣∣A 0 = lim A→∞ [ e(−s+a)A −s+ a − 1 −s+ a ] . 136 Equações Diferenciais Ordinárias O limite acima existe se, e somente se, o argumento da exponencial é negativo, ou seja, se −s+ a > 0, o que implica que s > a. Nesse caso temos lim A→∞ e(−s+a)A −s+ a = 0 e F (s) = 1 s− a. Se s < a o limite não existe (a exponencial vai para infinito) e portanto a transformada de Laplace F (s) não está definida. Esse exemplo corresponde à terceira linha da tabela 13.1. Exemplo 76. Encontre a transformada de Laplace da função f(t) = sen(at). Solução. L(f) = F (s) = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt = ∫ ∞ 0 e−st sen(at) dt = lim A→∞ ∫ A 0 e−st sen(at) dt = lim A→∞ e−st −(a cos(at) + s sin(at)) s2 + a2 ∣∣∣∣A 0 = lim A→∞ [ e−sA −(a cos(aA) + s sin(aA)) a2+ s2 − 1 s2 + a2 ] . O limite acima existe se, e somente se, o argumento da exponencial é negativo, ou seja, se s > 0. Nesse caso temos lim A→∞ e−sA −(a cos(aA) + s sin(aA)) a2 + s2 = 0 e F (s) = 1 s2 + a2 . Se s < 0 o limite não existe (a exponencial vai para infinito) e portanto a transformada de Laplace F (s) não está definida. Esse exemplo corresponde à terceira linha da tabela 13.1. Exercício 101. Calcule a transformada de Laplace das funções abaixo a partir da definição. Utilize a tabela 13.1 para confirmar sua resposta. 1. f(t) = 2; 2. f(t) = t; Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 137 3. f(t) = t2 4. f(t) = exp(−2t); 5. f(t) = cos 2t; Utilize uma tabela de integrais. 6. f(t) = cosh(t). 13.4 Transformada de Laplace da derivada de uma função A transformada de Laplace da derivada de uma função f(t) pode ser facilmente rela- cionada a transformada de f(t). Essa é uma das propriedades mais importantes da trans- formada de Laplace e é ela que faz essa operação tão útil para a solução de equações diferenciais. A partir da definição de transformada de Laplace temos L{f(t)} = ∫ ∞ 0 e−stf(t) dt. utilizando integração por partes com u = e−st e dv = f ′(t)dt temos L{f ′(t)} = lim A→∞ ∫ A 0 e(−st)f ′(t)dt = lim A→∞ [ e(−st)f(t) ∣∣A 0 + s ∫ A 0 e(−st)f(t)dt ] = lim A→∞ [ e(−sA)f(A)− f(0) + s ∫ A 0 e(−st)f(t)dt ] = sL{f(t)} − f(0). No cálculo acima é importante notar que assumimos s > 0, uma vez que do contrário a integral imprópria não convergiria. Definindo F (s) = L{f(t)}, temos então L (f ′) = sF (s)− f(0). Utilizando essa equação podemos também relacionar a transformada de f ′′(t) a F (s). De fato L (f ′′) = sL (f ′)− f ′(0) = s (sF (s)− f(0))− f ′(0) = s2F (s)− sf(0)− f ′(0). Procedendo de maneira análoga podemos relacionar a transformada de todas as derivadas de f a L (f): L (f (n)) = snL (f)− s(n−1)f(0)− s(n−2)f ′(0)− ...− f (n−1)(0). 138 Equações Diferenciais Ordinárias 13.5 Resolução de Equações Diferenciais Lineares através da Transformada de Laplace A linearidade da transformada de Laplace e seu comportamento em relação à derivação permitem transformar uma equação diferencial linear com coeficientes constantes numa equação algébrica. Por exemplo, consideremos a equação y′′ − y′ − 2y = 0. A igualdade entre os dois lados da equação implicam a igualdade de suas transformadas de Laplace: L (y′′ − y′ − 2y) = L(0). Utilizando o fato de que L é uma transformação linear e L(0) = 0 temos L (y′′)− L (y′)− 2L (y) = 0. Definindo L (y) = Y (s) temos que L (y′) = sY (s)− y(0), L (y′′) = s2Y (s)− sy(0)− y′(0). Substituindo essas relações na equação diferencial temos[ s2Y (s)− sy(0)− y′(0)]− [sY (s)− y(0)]− 2Y (s) = 0( s2 − s− 2)Y (s)− (s+ 1)y(0)− y′(0) = 0 Y (s) = (s+ 1)y(0) + y′(0) s2 − s− 2 A ideia principal do cálculo acima é traduzir a equação diferencial para uma equação das transformadas de Laplace das funções envolvidas, que é uma equação algébrica para Y (s), que não envolve nenhuma derivada. Assim podemos obter facilmente Y (s) através de cálculos elementares. No entanto, a equação diferencial ainda não está resolvida. A função que nos interessa é a solução f(t) e não sua transformada Y (s). Para concluir a solução da equação, devemos encontrar a transformada inversa de Y (s), que será a solução procurada y(t). É possível encontrar a transformada inversa de (s+1)y(0)+y′(0) s2−s−2 mesmo deixando os valores de y(0) e y′(0) arbitrários. No entanto, é bem mais fácil fazer os cálculos necessários quando esses valores são conhecidos. Nesse sentido, em geral utilizamos a transformada de Laplace para resolver diretamente um problema de valor inicial, ao contrário dos métodos anteriores em que primeiro encontrávamos a solução geral da equação e em seguida substituíamos as condições iniciais para determinar as constantes que apareciam na solução geral. Para exemplificar, suponhamos que as condições iniciais são y(0) = 1 e y′(0) = 0. Nesse caso temos Y (s) = s+ 1 s2 − s− 2 . Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 139 Precisamos encontrar qual função na variável t dá origem a Y (s) através da transformada de Laplace. Vamos utilizar a segunda coluna da tabela 13.1. A função Y (s) acima não aparece diretamente, mas é possível reescrevê-la utilizando apenas funções que aparecem na tabela. Para isso vamos utilizar frações parciais. As raízes de s2 − s− 2 são s = −1 e s = 2, de modo que Y (s) pode ser escrita na forma Y (s) = A s− 2 + B s+ 1 . Utilizando o método de frações parciais encontramos A = 1 3 e B = 2 3 , de modo que Y (s) = 1 3 s− 2 + 2 3 s+ 1 . Utilizando a linearidade da transformada inversa temos L−1 (Y (s)) = 1 3 L−1 ( 1 s− 2 ) + 2 3 L−1 ( 1 s+ 1 ) = 2 3 e2t + 1 3 e−t. Assim, obtemos a solução do problema de valor inicial{ y′′ − y′ − 2y = 0 y(0) = 1, y′(0) = 0 que é a função y(t) = 2 3 e2t + 1 3 e−t. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a qualquer equação diferencial linear. Exemplo 77. Resolva o problema de valor inicial{ y(4) − y = 0 y(0) = 0, y′(0) = 1, y′′(0) = 0, y′′′(0) = 0 Solução. A igualdade entre os dois lados da equação implica a igualdade de suas transformadas de Laplace: L (y(4) − y) = L(0). Utilizando o fato de que L é uma transformação linear e L(0) = 0 temos L (y(4))− L (y) = 0. Definindo L (y) = Y (s) e utilizando as condições iniciais temos que L (y(4)) = s4Y (s)− s3y(0)− s2y′(0)− sy′′(0)− y′′′(0) = s4Y (s)− s2. 140 Equações Diferenciais Ordinárias Substituindo essas relações na equação diferencial temos s4Y (s)− s2 − Y (s) = 0( s4 − 1)Y (s)− s2 = 0 Y (s) = s2 s4 − 1 A função acima não aparece explicitamente na tabela, de modo que devemos reescrevê- la em termos de outras funções cujas transformadas inversas podem ser calculadas dire- tamente. Utilizando frações parciais temos Y (s) = 1 4 1 s+ 1 − 1 4 1 s− 1 + 1 2 1 s2 + 1 . Cada um dos três termos pode ser encontrado na tabela 13.1, de modo que y(t) = 1 4 e−t − 1 4 et + 1 2 sen(t) é a solução procurada. 13.6 Propriedades adicionais da transformada de Laplace 13.6.1 Deslocamento A transformada de Laplace da multiplicação de uma função pela função eat pode ser facilmente calculada a partir da derivada da função original. De fato, definindo L(f) = F (s), temos L{eatf(t)} = F (s− a) Para provar essa propriedade, utilizamos a definição da transformada de Laplace L (eatf(t)) = ∫ ∞ 0 e−steatf(t)dt = ∫ ∞ 0 e−(s−a)tf(t)dt = F (s− a). Exemplo 78. Calcule a transformada de Laplace da função g(t) = e2t cos(3t). Solução. Se f(t) = cos(3t), temos F (s) = s s2+9 . Assim L (e2t cos(3t)) = F (s− 2) = s− 2 (s− 2)2 + 9 . Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 141 13.7 Contração ou expansão A transformada de uma função obtida de outra através de uma contração ou expansão pode ser facilmente calculada a partir da transformada da função original. De fato L (f(ct)) = 1 c F (s c ) . Essa propriedade pode ser facilmente provada a partir da definição da transformada de Laplace e da substituição simples u = ct: L{f(ct)} = ∫ ∞ 0 e−stf(ct)dt = 1 c ∫ ∞ 0 e−s u c f(u)du = 1 c ∫ ∞ 0 e− s c uf(u)du = 1 c F (s c ) . 13.8 A derivada da Transformada de Laplace A derivada da transformada de F (s) de uma função f(t) corresponde a transformada da função g(t) = −tf(t), ou seja L{−tf(t)} = F ′(s). De fato F ′(s) = dF (s) ds = d ds ∫ ∞ 0 e−stf(t)dt = ∫ ∞ 0 d ds e−stf(t)dt = ∫ ∞ 0 −te−stf(t)dt = ∫ ∞ 0 e−st [−tf(t)] dt = L (−tf(t)) . Aplicando repetidamente a relação acima temos L{(−t)nf(t)} = F(n)(s), em que F (n)(s) representa a n-ésima derivada de F (s). 142 Equações Diferenciais Ordinárias Exemplo 79. Encontre a solução geral da equação 3y′′ − 12y′ + 12y = 4e2x sin(2x). Solução. Transformando os dois lados da equação e usando a propriedade de linearidade, obtemos: 3L (y′′)− 12L (y′) + 12L (y) = 4L (e2t sen(2t)) em que utilizamos L (e2x sen(2x)) = 2 (s− 2)2 + 4 . Substituindo as transformadas de y′′ e y′ temos 3s2Y − 3c1s− 3c2 − 12sY + 12c1 + 12Y = 8 (s− 2)2 + 4 onde c1 e c2 são duas constantes, iguais aos valores iniciais y(0) e y ′(0) respectiva- mente. Esta equação é uma equação algébrica que pode ser facilmente simplificada, o que nos leva a Y = 3C1s+ 3C2 − 3C1 3s2 − 12s+ 12 + 8 [(s− 2)2 + 4](3s2 − 12s+ 12) . A solução da EDO é a transformada inversa desta função. Usando a expansão em frações parciais: Y (s) = A s− 2 + B (s− 2)2 + 2C (s− 2)2 + 4 + D(s− 2) (s− 2)2 + 4 onde A, B, C e D são constantes que podem ser calculadas a partir do método de frações parciais: A = C1 B = C2 − 2C1 + 2 3 C = −1 3 D = 0 A transformada inversa de cada uma das frações parciais é facilmente identificada, usando a tabela 13.1. Assim, a solução geral da equação diferencial é: y(t) = c1(1− 2t) + c2t+ 2t 3 − 1 3 e2x sin(2t). Exercício 102. Resolva o problema de valor inicial{ y′ − y = 1 y(0) = 0. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 143 Exercício 103. Resolva o problema de valor inicial{ y′′ − 3y′ + 2y = e−4t y(0) = 1, y′(0) = 5. Exercício 104. Resolva o problema de valor inicial{ 2y′′′ + 3y′′ − 3y′ − 2y = e−t y(0) = 0, y′(0) = 0, y′′(0) = 1. Exercício 105. Resolva o problema de valor inicial{ y′′ − 6y′ + 9y = t2e−3t y(0) = 2, y′(0) = 17. Exercício 106. Resolva o problema de valor inicial{ y′ + 4y = e−4t y(0) = 2. Exercício 107. Resolva o problema de valor inicial{ y′′ − y′ = et cos(t) y(0) = 0, y′(0) = 0. Exercício 108. Resolva o problema de valor inicial{ y′ − y = t+ tet y(0) = 0. 13.9 Transformada de Laplace de Funções Descontínuas Uma das grandes vantagens do método de resolução de equações diferenciais através da transformada de Laplace é a possibilidade de considerar equações que envolvem funções descontínuas, ao passo que todos os outros métodos considerados supõem que as funções que aparecem na equação sejam contínuas. 144 Equações Diferenciais Ordinárias Figure 13.1: Gráfico da função uc(t). Para calcular a transformada de Laplace de funções descontínuas utilizaremos sempre a função degrau unitário, também conhecida comou função de Heaviside, definida da seguinte forma: uc(t) = { 0, t ≤ c 1, t > c A transformada de Laplace de uc pode ser facilmente calculada: L{uc(t)} = ∞∫ 0 e−stuc(t)dt = ∞∫ c e−stdt = lim A→∞ − e −st s ∣∣∣∣∞ c = lim A→∞ [ e−sc s + e−sA s ] = e−sc s Podemos escrever qualquer função descontínua através de funções do tipo uc(t). Se a < b, a função: f(t) = ua(t)− ub(t) Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 145 ígual a 1 no intervalo a < t < b e 0 fora desse intervalo. Assim, uma função definida em forma diferente em diferentes intervalos, por exemplo, f(t) = { f1(t) a ≤ t < b f2(t) c ≤ t < d pode ser escrita na forma compacta f(t) = [ua(t)− ub(t)]f1(t) + [uc(t)− ud(t)]f2(t) o que facilita o cálculo da sua transformada de Laplace. Exemplo 80. Seja f(t) = { 1, se 1 ≤ t < 2 0, caso contrário Expresse f em termos da função degrau unitário e calcule a transformada de Laplace de f(t). Solução. Note que f(t) = u1(t)− u2(t) e, portanto, F (s) = e−s s − e −2s s . Exemplo 81. Seja f(t) = 2, se 1 ≤ t < 2 1, se 2 ≤ t < 5 4, se 5 ≤ t < 8 0, caso contrário Expresse f em termos da função degrau unitário e calcule a transformada de Laplace de f(t). Solução. Note que f(t) = 2 (u1(t)− u2(t))+(u2(t)− u5(t))+4 (u5(t)− u8(t)) = 2u1(t)−u2(t)+3u5(t)−4u8(t), e, portanto, F (s) = 2 e−s s − e −2s s + 3 e−5s s − 4e −8s s . Dada uma função f cuja transformada de Laplace exista para s > a ≥ 0, é muito comum considerarmos g(t) = { 0, se t < c f(t− c), se t ≥ c 146 Equações Diferenciais Ordinárias Figure 13.2: Gráfico da função f(t) do exemplo 81. que pode ser representada da seguinte forma em termos da função degrau: g(t) = uc(t)f(t− c). A função g(t) é a função f(t) deslocada uma distância c no sentido positivo do eixo do tempo t, sendo nula para t < c. Calculando a transformada de Laplace temos: L{uc(t)f(t− c)} = c∫ ∞ f(t− c)e−stdt = 0∫ ∞ f(r)e−s(r+c)dr = e−cs 0∫ ∞ f(r)e−srdr = e−csF (s) em que F (s) denota a transformada de Laplace de f(t). Exemplo 82. Calcule a transformada de Laplace de f(t) = t2u1(t). Solução. Se fizermos t2 = f(t− 1), então, L (u1(t)t2) = L (u1(t)f(t− 1)) = e−sF (s). Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 147 Resta-nos calcular F (s). Note que se f(t−1) = t2, então, f(t) = (t+1)2 = t2+2t+1, e portanto F (s) = 2 s3 + 2 s2 + 1 s ou seja, L (u1(t)t2) = e−s [ 2 s3 + 2 s2 + 1 s ] . Exemplo 83. Seja f(t) = t2, se 1 ≤ t < 3 t, se 3 ≤ t < 5 0, caso contrário Expresse f em termos da função degrau unitário e calcule a transformada de Laplace de f(t). Solução. Note que f(t) = t2 [u1(t)− u3(t)] + t [u3(t)− u5(t)] = t2u1(t) + [ t− t2]u3(t)− tu5(t). Definindo f1(t− 1) = t2, f2(t− 3) = t− t2 e f3(t− 5) = −t temos f(t) = f1(t− 1)u1(t) + f2(t− 3)u3(t) + f3(t− 5)u5(t). E assim temos que F (s) = e−sF1(s) + e−3sF2(s) + e−5sF3(s) em que Fi(s) é a transformada de Laplace de fi(t). Resta agora encontrar as funções fi e suas transformadas Fi. Sabendo que f1(t− 1) = t2, f2(t− 3) = t− t2 e f3(t− 5) = −t temos que f1(t) = (t+ 1) 2 = t2 + 2t+ 1, f2(t) = (t+ 3)− (t+ 3)2 = −t2 − 5t− 6, f3(t) = −(t+ 5) e portanto F1(s) = 2 s3 + 2 s2 + 1 s F2(s) = − 2 s3 − 5 s2 − 6 s F3(s) = − 1 s2 − 5 s . 148 Equações Diferenciais Ordinárias Daí temos que F (s) = e−s [ 2 s3 + 2 s2 + 1 s ] + e−3s [ − 2 s3 − 5 s2 − 6 s ] + e−5s [ − 1 s2 − 5 s ] . Exemplo 84. Seja f(t) = t2, se 1 ≤ t < 2 t, se 2 ≤ t < 5 e3t, se 5 ≤ t < 8 0, caso contrário Expresse f em termos da função degrau unitário e calcule a transformada de Laplace de f(t). Solução. Note que f(t) = t2 (u1(t)− u2(t)) + t (u2(t)− u5(t)) + e3t (u5(t)− u8(t)) = t2u1(t) + [ t− t2]u2(t) + [e3t − t]u5(t)− e3tu8(t). Definindo f1(t − 1) = t2, f2(t − 2) = t − t2, f3(t − 5) = e3t − t e f4(t − 8) = −e3t podemos escrever f(t) = f1(t− 1)u1(t) + f2(t− 2)u2(t) + f3(t− 5)u5(t) + f4(t− 8)u8(t). Daí temos que F (s) = e−sF1(s) + e−2sF2(s) + e−5sF3(s) + e−8sF4(s) em que Fi(s) é a transformada de Laplace de fi(t). Resta agora encontrar as funções fi e suas transformadas Fi. Sabendo que f1(t−1) = t2, f2(t−2) = t− t2, f3(t−5) = e3t− t e f4(t−8) = −e3t temos que f1(t) = (t+ 1) 2 = t2 + 2t+ 1, f2(t) = (t+ 2)− (t+ 2)2 = −t2 − 3t− 2, f3(t) = e 3(t+5) − (t+ 5) = e15e3t − t− 5 f4(t) = −e3(t+8) = −e24e3t. e portanto F1(s) = 2 s3 + 2 s2 + 1 s F2(s) = − 2 s3 − 3 s2 − 2 s F3(s) = e15 s− 3 − 1 s2 − 5 s F4(s) = − e 24 s− 3 . Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 149 Daí temos que F (s) = e−s [ 2 s3 + 2 s2 + 1 s ] +e−2s [ − 2 s3 − 3 s2 − 2 s ] +e−5s [ e15 s− 3 − 1 s2 − 5 s ] +e−8s [ − e 24 s− 3 ] . Exemplo 85. Resolva o PVI { y′ + y = f(t) y(0) = 5 em que f(t) = { 0 se 0 ≤ t < pi 3 cos(t) se t ≥ pi. Solução. Antes de calcular a transformada de Laplace da equação vamos calcular a transformada de Laplace da função f(t) separadamente. Temos que f(t) = 3 cos(t)upi(t)e definindo g(t− pi) = cos(t) podemos reescrever f(t) = 3g(t− pi)upi(t). Assim temos F (s) = 3episG(s) em que G(s) é a transformada de Laplace de g(t). Precisamos agora calcular g(t) e G(s). Se g(t−pi) = cos(t) então g(t) = cos(t+pi) = − cos(t), de modo que G(s) = −s s2+1 , o que implica que F (s) = −3se −pis s2 + 1 . Podemos agora resolver a equação diferencial. Calculando a transformada de Laplace de ambos os lados temos sY (0)− y(0) + Y (s) = F (s) (s+ 1)Y (s)− 5 = −3se −pis s2 + 1 Y (s) = 5 s+ 1 − 3se −pis (s+ 1)(s2 + 1) . Utilizando o método de fraçoes parciais podemos reescrever Y (s) = 5 s+ 1 + 3 2 [ e−pis s+ 1 − e −pis s2 + 1 − se −pis s2 + 1 ] 150 Equações Diferenciais Ordinárias cuja transformada inversa é y(t) = 5e−t + 3 2 [ e−(t−pi)upi(t)− sen(t− pi)upi(t)− cos(t− pi)upi(t) ] que equivale a (utilizando a tabela e as identidades trigonométricas cos(t−pi) = − cos(t) e sen(t− pi) = − sen(t)) y(t) = { 5e−t se 0 ≤ t < pi 5e−t + 3 2 [−e−(t−pi) + sen(t) + cos(t)] se t ≥ pi. 13.10 A Função Delta de Dirac Considere a função definida por fε(t) = { 1 ε , se c ≤ t ≤ c+ ε 0, se t < c ou c+ ε < t. Essa função possui a seguinte propriedade:∫ ∞ −∞ fε(t)dx = 1. Tomando o limite quando ε tende a zero, obtemos funções que são não-nulas apenas em um intervalo muito pequeno, em que são constantes e assumem um valor alto, de modo que a área debaixo do gráfico seja sempre igual a um. A partir desse limite, definimos uma �função�, chamada Função Delta de Dirac δ(t− c), que possui as seguintes propriedades: 1. δ(t− c) = 0 se t 6= c; 2. δ(0) =∞; 3. ∫∞ −∞ δ(t− c)dx = 1; 4. ∫ b a δ(x− c)f(x)dx = f(c) para todo a < c < b e f(x) contínua em c. A última propriedade acima pode ser utilizada para calcularmos a transformada de Laplace de δ(t− c): L (δ(t− c)) = ∫ ∞ −∞ e−stδ(t− c)dx = e−cs. Analogamente podemos calcular a transformada de Laplace do produto f(t)δ(t− c): L (δ(t− c)) = ∫ ∞ −∞ e−stf(t)δ(t− c)dx = f(c)e−cs. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 151 Figure 13.3: Gráficos das funções f�(t) para vários valores de � = 1 n . Exemplo 86. Resolva o seguinte problema de valor inicial{ y′′ + y = δ(t− 2pi) y(0) = 0, y′(0) = 0. Solução. Se tomarmos a transformada de Laplace da equação acima e usarmos as condições iniciais, encontraremos Y (s) = e−2pis s2 + 1 = e−2pisF (s), onde F (s) = 1 s2+1 . Portanto temos y(t) = u2pi(t)f(t− 2pi), onde f(t) = sen(t), o que implica que y(t) = u2pi(t) sen(t). 152 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 109. Resolva o PVI { y′ + y = f(t) y(0) = 5 em que f(t) = { 0 se 0 ≤ t < 1 5 se t ≥ 1. Exercício 110. Resolva o PVI { y′ + y = f(t) y(0) = 0 em que f(t) = { 0 se 0 ≤ t < 1 5 se t ≥ 1. Exercício 111. Resolva o PVI { y′ + 2y = f(t) y(0) = 5 em que f(t) = { t se 0 ≤ t < 1 0 se t ≥ 1. Exercício 112. Resolva o PVI{ y′′ + 4y = sen(t)u2pi(t) y(0) = 1, y′(0) = 0. Exercício 113. Resolva o PVI { y′′ + y = f(t) y(0) = 0, y′(0) = 1 em que f(t) = 0 se 0 ≤ t < pi 1 se pi ≤ t < 2pi 0 se t ≥ 2pi. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 153 13.11 Teorema da Convolução Sejam f(t) e g(t) funções com transformadas de Laplace F (S) e G(S), respectiva- mente. Já mostramos que a transformada de Laplace do produto � diferente do produto das transformadas e a mesma observação pode ser feita para a transformada inversa. Veremos agora a operação de convolução que facilita o cálculo da transformada inversa do produto F (s)G(s). Em matemática, particularmente na área de análise funcional, a convolução úm operador linear que, a partir de duas funções dadas f(t) e g(t), resulta em uma terceira h(t), definida atrav± da fórmula h(t) = (f ∗ g)(t) = ∫ t 0 f(t− τ)g(τ)dτ = ∫ t 0 f(τ)g(t− τ)dτ. Exemplo 87. Calcule a convolução de f(t) = t e g(t) = 1. Solução. f ∗ g(t) = t∫ 0 f(t− τ)g(τ)dτ = t∫ 0 (t− τ)dτ = [ tτ − τ 2 2 ]∣∣∣∣t 0 = t2 2 . A convolução possui as seguintes propriedades: 1. Comutatividade: f ∗ g = g ∗ f ; 2. Associatividade: f ∗ (g ∗ h) = (f ∗ g) ∗ h; 3. Distributividade: f ∗ (g + h) = (f ∗ g) + (f ∗ h); 4. Associatividade em relação à multiplicação por escalar: c(f ∗ g) = (cf) ∗ g = f ∗ (cg), c ∈ R. A convolução se comporta muito bem em relação à transformada de Laplace. Esse comportamento a torna extremamente à o til na resolução de equações diferenciais atrav± dessa transformada, e ¢omumente conhecido como teorema da convolução. Teorema 12 (Teorema da Convolução). A transformada de Laplace da convolução de duas funções f(t) e g(t) ó produto das transformadas de Laplace de cada uma dessas funções, isto � , se as transformadas de Laplace de f(t) e g(t) são F (S) e G(S), respectivamente, então L{f(t) ∗ g(t)} = F (S) ·G(S). 154 Equações Diferenciais Ordinárias Demonstração. De fato, L{f(t) ∗ g(t)} = ∫ ∞ 0 e−st [∫ t 0 f(τ)g(t− τ)dτ ] dt. Introduzindo a mudança de variável t− τ = τ ′ podemos escrever L{f(t) ∗ g(t)} = ∫ ∞ −τ ∫ t 0 e−s(τ+τ ′ )f(τ)g(τ ′ )dτdτ ′. Definindo g(t) = 0 para t < 0, o limite superior em vez de t pode ser tomado ∞ e portanto L{f(t) ∗ g(t)} = ∫ ∞ 0 g(τ ′ )e−sτ ′ dτ ′ ∫ ∞ 0 f(τ)e−stdτ = F (S)G(S), isto � , a transformada de Laplace do produto de convolução ó produto das transformadas. Exemplo 88. Calcule a transformada inversa de Laplace de H(s) = 1 s(s2+1) . Solução. Note que se fizermos F (s) = 1 s e G(s) = 1 s2+1 , então, H(s) = F (s)G(s). As transformadas inversas de F e G são f(t) = 1 e g(t) = sen(t) e, pelo Teorema da Convolução, a transformada inversa de H(s) é h(t) = (f ∗ g)(t) = t∫ 0 sen(τ)dτ = 1− cos(t). Exemplo 89. Resolva o PVI { y′′ − 2y′ = 1 y(0) = 0, y′(0) = 0 Solução. Aplicando a transformada de Laplace a ambos os lados da equaçãoe substi- tuindo as condições iniciais obtemos s2Y (s)− 2sY (s) = 1 s . Isolando Y (s) temos Y (s) = 1 s2(s− 2) = 1 s2 × 1 s− 2 . Pelo teorema da convolução temos y(t) = f ∗ g(t) Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 155 em que f(t) = L−1 ( 1 s2 ) = t g(t) = L−1 ( 1 s− 2 ) = e2t. Assim temos que y(t) = e2t 4 − t 2 − 1 4 . Exercício 114. Resolva o PVI { y′′ − 2y′ = e3t y(0) = 0, y′(0) = 0 ATENÇÃO: será necessário usar convolução duas vezes. Exercício 115. Resolva o problema de valor inicial{ y′′ + 4y′ + 4y = f(t) y(0) = 2, y′(0) = −3 para uma funçõ f(t) arbitrária, em termos de uma integral de convolução . 13.12 Exercícios adicionais Respostas dos exercícios selecionados Exercício 102: R: y(t) = −16 5 et + 25 6 e2t + 1 30 e−4t. Exercício 103 R: y(t) = −8 9 e− t 2 + 1 9 e−2t + 5 18 et + 1 2 e−t. Exercício 104 R: y(t) = 2e3t + 11te3t + 1 12 t4e3t. 156 Equações Diferenciais Ordinárias Exercício 105 R: y(t) = te−4t + 2e−4t. Exercício 107 R: y(t) = 1 2 − 1 2 et cos(t) + 1 2 et sen(t). Exercício 109 R: y(t) = [ 5− 5e−(t−1)]u1(t). Exercício 110 R: y(t) = −1 4 + t 2 + e −2t 4 − u1(t) 4 − (t−1)u1(t) 2 + e −2(t−1)u1(t) 4 . Exercício 111 R: y(t) = cos(2t)− sen(2(t−2pi))u2pi(t) 6 + sen(t−2pi)u2pi(t) 3 . Exercício 112 R: y(t) = sen(t) + [1 + cos(t)]upi(t)− [1− cos(t)]u2pi(t). Exercício 113 R: y(t) = 1 2 [e3t − e2t − te2t] . Exercício 114 R: y(t) = t∫ 0 e2(tτ)(tτ)f(τ)dτ + 2e2t + te2t. Prof. Bárbara Amaral - DEFIM - UFSJ 157 f(t) = L−1{F (s)} F (s) = L{f(t)} 1 1 s , s > 0 tn n! sn+1 s > 0 eat 1 s− a, s > a sen at a s2 + a2 , s > 0 cos at s s2 + a2 , s > 0 eat sen bt b(s− a)2 + b2 , s > a eat cos bt s− a (s− a)2 + b2 , s > a tneat, n inteiro positivo n! (s− a)n+1 , s > a uc(t) e−cs s , s > 0 uc(t)f(t− c) e−csF (s) ectf(t) F (s− c) f(ct) 1 c F (s c ) , c > 0 (f ∗ g)(t) = ∫ t 0 f(t− τ)g(τ)dτ F (s)G(s) δ(t− c) e−cs f (n)(t) snF (s)− sn−1f(0)− sn−2f ′(0)− · · · f (n−1)(0) (−t)nf(t) F (n)(s) Table 13.1: Tabela de Transformadas de Laplace. Conteúdo Considerações Gerais sobre Equações Diferenciais Equações Diferenciais Ordinárias Problemas de Valor Inicial Solução de Equações Diferenciais Aplicações Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem Considerações Gerais EDO's de Primeira Ordem Separáveis Primeiro Método Segundo método (método informal) Aplicações Respostas dos ExercÃcios Selecionados Equações Lineares de Primeira Ordem Pimeiro caso: P(x)=0 Segundo caso: P(x) =0 Aplicações Respostas dos exercícios selecionados Equações Diferenciais de Primeira Ordem Exatas Método de Resolução Fatores integrantes Respostas dos Exercícios Selecionados Soluções por Substituição Equações Diferenciais Homogêneas Método de Resolução Equações de Bernoulli Respostas dos Exercícios Selecionados Considerações qualitativas sobre Equações Diferenciais de Primeira Ordem: Campos de Direções Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem Autônomas Equações não-autônomas Aplicações Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de Segunda Ordem Teoria Geral das EDO's lineares de segunda ordem Equações lineares homogêneas Determinando uma base para X Independência linear entre funções O método de redução de ordem Resposta dos Exercícios Selecionados Equações lineares homogêneas de coeficientes constantes Raízes reais distintas Uma única raiz real Raízes complexas A exponencial complexa Solução da equação no caso de raízes complexas Equações lineares de segunda ordem não-homogêneas com coeficientes constantes O método dos coeficientes a determinar O método da variação de parâmetros O princípio da superposição Aplicações: Sistemas massa-mola e circuitos elétricos A lei de Hooke Movimento livre não amortecido Movimento livre amortecido Movimento superamortecido Movimento criticamente amortecido Movimento subamortecido Movimento forçado Circuitos Elétricos Capacitores Resistores Indutores Geradores A segunda lei de Kirchoff Circuitos RLC Séries de potência e trasformada de Laplace Resolução de equações diferenciais através de séries de potência Revisão de séries de potência Exemplos importantes Raio de convergência Operações com séries de potência Funções analíticas e séries de Taylor Resolução de EDO's através de séries de potência Transformada de Laplace Transformadas Integrais Definição da transformada de Laplace Linearidade da Transformada de Laplace Exemplos: cálculo da Transformada de Laplace para funções elementares Transformada de Laplace da derivada de uma função Resolução de Equações Diferenciais Lineares através da Transformada de Laplace Propriedades adicionais da transformada de Laplace Deslocamento Contração ou expansão A derivada da Transformada de Laplace Transformada de Laplace de Funções Descontínuas A Função Delta de Dirac Teorema da Convolução Exercícios adicionais