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A Revolução Iraniana – Osvaldo Coggiola

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A Revolução Iraniana – Osvaldo Coggiola 
Com a barganha mundial do petróleo, o xá tentou transformar o Irã na “quinta nação mais poderosa do mundo”. Em outubro de 1971 celebrou, em Persepolis, o aniversário da fundação do Império Persa por Ciro. 
Enquanto a festa acontecia, a guerrilha mujaheedeen conseguia fazer explodir a central elétrica de Teerã.
A repressão contra a esquerda tornou-se selvagem, com torturas e milhares de fuzilamentos clandestinos. 
Os mujaheedeen islâmicos foram se aproximando da guerrilha fadayin de declarada inspiração marxista, influenciada pela ala marxista da Organização para a Libertação da Palestina. (A atividade guerrilheira cresceu muito daí por diante).
A maioria do povo assistia com indignação crescente ao festival de esbanjamento dos ricos antigos e dos novos ricos, e de seus comparsas internacionais. 
O boom do petróleo viera acompanhado da inflação, da emigração agraria para zonas urbanas, da escassez de moradia e infraestrutura insuficiente, e de um enorme abismo de desigualdade nas rendas da população. 
A decadência do regime foi bem ilustrada com a comemoração dos 2500 anos da fundação do Império Persa: três dias de celebrações a um custo de US$ 300 milhões. 
Em 1965, haviam entrado no Irã 522 milhões de dólares na quantidade de investimento estrangeiro; em 1969, 938 milhões. 
Foram gastas enormes somas com o aparato do Estado, infraestrutura e promoção industrial.
Com o aumento dos preços do petróleo em 1973, a economia cresceu rapidamente. O barril do petróleo chegou a 11,65 dólares no mercado mundial, que antes era 1,79 dólares em 1971.
Os investimentos externos saltaram para 22 bilhões de dólares em 1974. 
Surgira, os planos econômicos de desenvolvimento. Os salários dos trabalhadores qualificados aumentaram.
O Irã passou para um estágio de crescimento desordenado. 
Na década de 1970, a cada ano migravam para as cidades 380 mil pessoas, o que teve impacto negativo para a agricultura, com queda de produção e aumento dos preços dos alimentos. 
O Irã que antes era autossuficiente em produção de alimentos, tornou-se gradativamente dependente de importação para 50% do consumo. 
Com a emigração da população para as zonas urbanas, os novos contingentes vieram agravar a carência de infraestrutura sanitária, serviços médicos e escolas, sem falar no desemprego. 
Em apenas dois anos, os alugueis em Teerã aumentaram 300%. A inflação afetou duramente os trabalhadores, os camponeses e a pequena burguesia urbana. 
Internacionalmente, o xá Reza Pahlevi tinha ao seu favor um insólito consenso internacional. Até o último momento, seu governo teve o apoio de países como China, EUA e até a União Soviética. 
Apoiada em forte esquema repressivo e em suas relações com os EUA, a monarquia iraniana montou um vasto sistema de corrupção e privilégios, e sob Reza Pahlevi, o Irã foi o único membro da Opep a ignorar o embargo de petróleo a Israel, decretado pelos Árabes em 1973.
O regime de xá, decidiu em 1975, empreender um novo esforço para controlar a sociedade iraniana. O esforço visava, entre outra coisas a diminuir o papel do islamismo na vida do reino.
Em 1976, o calendário islâmico, lunar foi banido do uso público e substituído por um calendário solar. 
Também foram divididas terras das instituições religiosas (o que diminuiu a renda delas) e concedido o direito de voto às mulheres. 
Com os bilhões de dólares do petróleo, o xá fortaleceu e aumentou suas Forças Armadas. 
A brutal polícia política – a Savak – deu ao Irã, em 1977, segundo a organização Anistia Internacional, o primeiro lugar no mundo entre os países violadores de direitos humanos. 
As condições sociais declinantes foram causando profundo ressentimento nos trabalhadores, nos camponeses e até nas classes medias, ressentimento que se transformaria, depois, em movimento revolucionário da massas. 
Greves gerais chegaram a paralisar a produção petroleira. À medida que a desigualdade crescia, os protestos aumentavam, isso acontecia em um período de auge da economia iraniana, que fortaleceu enormemente o proletariado.
Uma nova onda de lutas operarias abalou o pais em 1977. Em 1976, o governo anunciara um programa de ajuste econômico, que dava fim ao “plano de desenvolvimento”. 
Foram reduzidos em 40% os projetos de expansão industrial. O desemprego aumentou e os salários baixaram, a classe operaria reagiu, explodindo greves no setor têxtil.
O choque entre uma crescente população jovem e um regime que não oferecia nem os avanços de um Estado moderno, nem a estabilidade de uma sociedade tradicional criou condições para um revolução. 
Em agosto de 1977, com a inflação por volta de 50% ao ano e uma dívida externa calculada em 10 bilhões de dólares, o governo resolveu restringir o credito. 
Para agravar a situação, o momento de frustração das expectativas abertas pelo petróleo coincidiu c0om uma tímida política de liberalização política. 
Ou seja, ao mesmo tempo que se aprofundava a insatisfação popular, abriam-se canais para sua manifestação.
Se continuasse a exportar 6 milhões de barris de petróleo por dia, como vinha fazendo, embora detentor da segunda maior reserva conhecida, esgotaria seu petróleo até 1990. 
Seu PIB estava crescendo espantosamente, mas sem beneficiar em nada a maior parte da população. 
Em 1977, os investimentos feitos deveriam gerar 2,1 milhões de empregos, mas só havia 1,4 milhão de pessoas qualificadas para ocupa-los.
Pior que tudo, surgiram evidencias de que as imensas compras de armamento já não se destinavam apenas a defender o pais de eventuais agressões externas, estavam sendo compradas armas para conter as reivindicações populares internas. 
Foi assim que o Irã chegou a consumir 25% do seu PIB em armamentos. 
No momento em que à megalomania, à incompetência e à corrupção se somou à revolta popular, terminou o sonho de restauração do Grande Império Persa, do “Japão do Oriente Médio”, guardião armado dos interesses dos países ocidentais industrializados. 
Manifestações de massas envolveram o Irã entre outubro de 1977 a fevereiro de 1978. Aproximadamente 90% dos iranianos colocaram-se contra o governo, demandando direitos democráticos e a partilha da riqueza do pais, os estudantes, e posteriormente a classe trabalhadora, desafiaram as forças repressivas. 
Em setembro, aconteceu o massacre da chamada “sexta-feira negra”, em que entre 2 mil e 4 mil pessoas foram mortas pelas forças de segurança do xá Pahlevi. 
Em 5 de setembro, o embaixador iraniano nos EUA, general Zahedi, chegou com um recados da suposta “pomba” Jimmy Carter e da CIA: era necessário um “golpe de força” para terminar com a agitação. Em poucas semanas, diante da revolução incontornável, os EUA mudariam de política... E ainda no mesmo mês de setembro, o acontecimento que mudaria o rumo da história do pais: começaram as greves que culminariam na greve geral dos trabalhadores do petróleo. 
As greves paralisaram toda a máquina estatal, sobretudo quando se somaram a elas os funcionários públicos, mas foram os 33 dias de greve dos trabalhadores do petróleo os que paralisaram o pais.
A greve petroleira provocara perdas superiores a 74 milhões de dólares diários. 
Em 8 de setembro de 1978, o Exército assassinara milhares de manifestantes em Teerã, em 9 de setembro, os trabalhadores da refinaria petroleira de Teerã entraram em greve para protestar contra o massacres do dia anterior e exigir o fim da lei marcial. No dia seguinte, a greve se estendera para várias cidades. 
As reivindicações econômicas rapidamente se transformaram em políticas: “Abaixo o xá”, “Abaixo a Savak”. 
A classe operaria conquistava um papel de protagonista independente na revolução.
A oposição “moderada” (burguesa), liderada pela Frente Nacional de Oposição de Mehdi Barzagan, que previamente havia limitado suas ambições em conseguir do xá a divisão de poder, foi forçada, no desenvolvimento de uma atmosfera “vermelha”, a adotar um programa “semissocialista”. 
A revolução iraniana desdobrou-se rapidamente, adquirindo conteúdode classe. O funcionamento público e os bancários tiveram papel fundamental na exposição da corrupção do regime. Escriturários de bancos abriram os livros para revelar que nos últimos 3 meses de 1978, um bilhão de libras tinham sido retiradas do pais por 178 membros da elite, assim como xá, que havia transferido quantia similar para os EUA. 
A autocracia e seus esbirros, incluída a polícia política, saquearam o Tesouro Nacional, e isso veio a público. As massas, furiosas, responderam queimando mais que 400 bancos. 
Em 25 de novembro, recomeçou a greve geral na refinaria de petróleo de Chahr-Rey, perto de Teerã. Em 4 de dezembro, a greve era geral.
A revolução democrática esboçava transformar-se em revolução proletária. 
Em 12 de dezembro, cerca de 2 milhões de pessoas inundaram as ruas de Teerã para protestar contra o xá.
Ainda em dezembro de 1978, em um dos momentos decisivos da revolução iraniana, os trabalhadores do setor do petróleo entraram em greve e deixaram de bombear os cerca de 6,5 milhões de barris que o pais produzia por dia. 
Mas a mais importante contribuição do clero para o movimento foi emprestar-lhe sua secular estrutura de comunicações no interior do pais. Quando os aiatolás ditavam palavras de ordem políticas para a população, elas eram imediatamente transmitidas para as camadas inferiores da população por uma rede de 18 mil mulás e ainda para um degrau mais inferior, para 600 mil saias, crentes considerados “descendentes diretos” de Maomé.
O Exército começou a se desintegrar, à medida que os soldados se recusavam a atirar nos manifestantes e passaram a desertar. 
O xá concordou em introduzir uma constituição, porem já era tarde demais para isso. Com a pressão do presidente norte americano Jimmy Carter, o regime fez concessões a última hora, libertando 300 prisioneiros políticos, relaxando a censura e reformando o sistema judicial. As medidas, ao contrário do esperado, provocaram o aumento dos protestos da oposição.
O ataque à figura do imã Khomeini na imprensa oficial do pois foi um evento em um ciclo ascendente de lutas. A maioria da população centrava suas expectativas em Khomeini e, quando ele pediu o fim completo da monarquia, o xá foi forçado a abandonar o pais, em 16 de janeiro de 1979. O rei transferiu o governo para Chapour Bakhtiar, advogado de 63 anos, “liberal”, tido como liderança moderada da oposição (Frente Nacional) ao regime. 
A política iraniana dos EUA entrara em colapso total. O embaixador em Teerã, William Sullivan, opunha-se a qualquer entendimento com o aiatolá Khomeini. 
Segundo o historiador Moniz Bandeiram os EUA queriam a liberalização do regime, mas somente depois que a ordem fosse restaurada, não importando os meios. 
Chapour Bakhtiar impôs como condição para assumir que o xá abandonasse o pais e comprometeu-se a substituir a monarquia por republica. 
Caso o governador de Bakhtiar não conseguisse abafar a crise, a opção seria implementar a execução de um golpe militar, para reprimir a insurreição e restaurar a ordem. 
Khomeini retornou da França em 1º de fevereiro de 1979, declarou sem efeito o regime imperial e conclamou a proclamação da “República Islâmica” do Irã. 
Khomeini deixava claro qual seria seu papel na revolução em curso: denunciou a dança e o cinema como anti-islâmicos e anunciou que a liberdade de expressão excluiria, de saída, tudo aquilo que não fosse “de interesse nacional”. 
Bastaram 11 dias da presença de Khomeini em Teerã, após um exilio de 15 anos, para que a insurreição iraniana, com uma alternativa política “visível”, ganhasse os contornos definitivos de um verdadeiro assalto popular ao poder. 
Mas, antes do retorno de Khomeini, colaboradores do aiatolá comunicaram que o líder xiita organizaria o “Conselho da Revolução Iraniana”, que governaria provisoriamente o Irã após a “queda do governo de Bakhtiar. 
Quando Khomeini apareceu na porta do avião, a multidão que cercava o aeroporto irrompeu em uma aclamação estrondosa, Protegidos por membro de uma “política islâmica” Khomeini foi conduzido ao salão de honra do aeroporto. 
Personalidades políticas e religiosas esperavam o aiatolá, entre elas o aiatolá Taleghani, líder religioso de Teerã; Karin Sanjabi, presidente da Frente Nacional de Oposição; representantes das igrejas síria e armênia; e inúmeros dirigentes religiosos xiitas. 
As primeiras declarações do líder xiita foram no sentido de que a luta contra a monarquia estava tendo êxito, mas “esta é apenas uma primeira etapa”. (Pela primeira vez, ouviu-se o hino da republica islâmica).
O aiatolá criticou a dinastia Pahlevi e afirmou que a Constituição monárquica de 1906 fora estabelecida pelos baionetas, contra a vontade da nação iraniana. 
Khomeini também não poupou críticas aos EUA e reiterou que expulsaria ao assessores militares norte-americanos do Irã.
Já na cidade norte-americana de Los Angeles, o xá Reza Pahlevi dava a última pá de cal a seu próprio regime, Dias antes de abandonar o Irã, ele dera aos seus chefes militares iranianos instruções de “atirar à vontade” contra os manifestantes, durante sua ausência, com o objetivo de provocar uma guerra civil prolongada e facilitar seu retorno ao poder. 
Como resposta ao xá, nas ruas de Teerã e nas principais cidades, homens e mulheres enchiam de terra sacos de estopa, levantavam barricadas com tijolos e madeiras, e muitos traziam faixas de tecido branco na testa, símbolo muçulmano da disposição de morrer em combate. 
E pelas esquinas de Farahabad, bairro de Teerã, jovens interrompiam as passantes para colocar-lhes nas mais uma metralhadora, um fuzil – o convite para se juntar à jihad, a guerra santa islâmica que começava a engolfar o Irã.
O sábado, 10 de fevereiro, foi um dia sangrento na capital do Irã. Durante todo o dia, multidões investiram contra quarteis, delegacias de política e outros postos de resistência da monarquia. 
Na manhã de domingo, finalmente, renderam-se os últimos oficiais leiais ao governo. 
De imediato, o primeiro ministro Bakhtiar, que, segundo as primeiras versões, teria se suicidado, apresentou sua renúncia. 
Com a vitória da insurreição doa dias 10 e 11 de fevereiro, a ordem antiga foi varrida para sempre. A população estava consciente de seu poder, mas não consciente de como organizar o poder eu agora estava em suas mãos. 
Antes de 1979, para o imperialismo norte-americano, o Irã era barreira crucial contra os avanços soviéticos no Oriente Médio e no sul da Ásia. Suas reservas de petróleo eram vitais para o interesse ocidental em geral. A revolução abria um período de incertezas para o ocidente. 
Segundo Ken Pollack, antigo analista da CIA e perito sobre o Irã, para evitar a expansão da revolução iraniana para outros países da região, os EUA fizeram um acordo com os malás em reunião secreta organizada pelo general norte-americano Gerry Huizer, que liderava uma missão em nome do presidente Jimmy Carter. 
Os EUA teriam deixado os mulás chagar ao poder porque temiam que, se a revolução continuasse, poderia dar lugar ao crescimento da forças mais radicais.

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