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Maquiavel Fortuna, virtu e teoria do poder

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3.3 “Fortuna”, “virtú” e teoria do poder
A fortuna de acordo com a Antiguidade Clássica e dos contemporâneos de Maquiavel, o acaso, o imprevisível, a sorte – ou boa ou má. Era representada por uma deusa romana de mesmo nome, que presenteava os homens de virtú com seus presentes: glória, honra e poder. 
Entretanto, a fortuna não era vista como uma força maligna e inexorável, mas como uma “boa deusa”. De acordo com a convicção dos antigos, “fortuna”, embora deusa, ainda assim é mulher e deixa-se atrair pelo homem verdadeiramente varonil, o homem de virtú. Ou seja, a “fortuna” favorece os bravos. 
Para Nicolau Maquiavel, a fortuna pode ter sua ação obstada pelo homem de virtú. 
Virtú, ou virtude é o atributo do verdadeiro homem varonil, atrair a simpatia da deusa e controlar os eventos. Assim, o homem de virtú é o indivíduo de ação que sonha com os bens mundanos.
Para Maquiavel, nem sempre o que é Moral é adequado quando se está no comando de um principado ou república. A política exige um comportamento, parte do dirigente estatal, que em muitos casos, contraria princípios éticos, mas que preserva o domínio. Logo, há uma ética própria à política que permite ao príncipe agir com liberdade em face das virtudes principescas e da ética cristã.
Assim, se ele agisse o tempo todo amarrado a elas, poderia perder seu reino, já que não teria capacidade de atuar com flexibilidade ante as vicissitudes da política, adequando-se às novas situações.
O campo político, portanto, possui uma ética de fins, não de meios, importando apenas o resultado da conduta principesca que deve preservar a polis. Deste modo, “alguém pode ser acusado pelas ações que cometeu, e justificado pelos resultados destas”. (Maquiavel, Nicolau, Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Livro I, Capítulo IX, p. 49).
Nas obras de Maquiavel, percebemos que deve haver sempre, na base das ações do governante, uma preocupação com o bem comum. Crimes podem ser praticados, fraudes cometidas, mas o resultado deve ser a observância do bem público.
Isto é, para impedir que o pior aconteça, e para que a consecução do interesse público mediante a manutenção da soberania seja alcançada, a isto dá se o nome de Razão de Estado.
3.4 Maquiavelismo e Razão de Estado
	É uma expressão usada especialmente na linguagem ordinária para indicar o modo de agir, na vida política ou em que qualquer outro setor da vida social, falso e sem escrúpulos, implicando o uso da fraude e do engano mais que da violência. 
“Maquiavélico” é considerado em particular, aquele que quer se mostrar como um homem que inspira sua conduta ou determinados atos por princípios morais e altruísticos, quando, na realidade, persegue fins egoísticos.
	Esta expressão constitui uma prova da reação que a doutrina de Maquiavel suscitou e continua suscitando na consciência popular e da tendência que considera essa doutrina como imoral. 
	Estes dois sentidos acima para o termo maquiavelismo, um calcado do senso comum e nas distorções que o pensamento de Maquiavel sofreu ao longo dos séculos, e outro que se refere à sua real doutrina, a Razão de Estado.
	A distinção entre o maquiavelismo político e sua deturpação, o maquiavelismo vulgar, consiste sempre na qualidade do resultado do que se busca. Se o escopo desejado é a satisfação de um interesse privado, ou se o que se pretende é realmente a defesa do Estado.
	O maquiavelismo político é a conduta do líder de uma nação na tentativa de proteger os interesses de seus concidadãos. Mesmo que sua atitude seja criminosa ou pérfida, será justificada já que visa manter a ordem e a defesa dos interesses públicos, visto sob esta ótica é uma noção equivalente a Razão de Estado.
	De acordo com Louis Gautier-Vignal: “A razão de Estado (...) é aquela necessidade que tem quem governa de tomar as medidas próprias para assegurar a continuidade do poder, nos períodos de crise, a salvação do Estado.” (Louis Gautier-Vignal, Maquiavelo, pp.104-105).
	Existe uma ética própria ao homem público. Isto, por que não é possível agir corretamente, quanto aos meios de ação, estando no poder. Essa é a essência da grande revolução do pensamento que Maquiavel produz, ele detecta que o universo da política é regido por leis próprias, havendo uma autonomia do cosmo político em relação à moral.
	Diante da dualidade entre política e moral, na vigência do Estado democrático, estas duas paralelas se aproximam devido à fiscalização do povo e da imprensa. Apesar disso, até mesmo as mais evoluídas democracias do mundo preveem, em suas Constituições, leis de emergência como o Estado de Sítio, realçando a ideia de que tais mecanismos são adotados nas Cartas Magnas dos países democráticos na clara intenção de reservar para situações especiais, de exceção, medidas arbitrárias que só poderão ser aplicadas em prazo determinado. 
	Isto significa, que se por um lado o Estado constitucional limita a onipotência do Estado Soberano como absoluto, por outro atesta que, em algum momento, como último recurso, as razões do Estado subverterão as razões democráticas. A sobrevivência do interesse coletivo será o último clamor, mas sempre será ouvido.

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