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Súmula 595-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Súmula 595-STJ Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO DO CONSUMIDOR RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO SERVIÇO Indenização em caso de curso de ensino superior não reconhecido Súmula 595-STJ: As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017. Imagine a seguinte situação hipotética: João matriculou-se na primeira turma do curso de bacharelado em Direito da UNISABES (Universidade do Saber). Quando João se formou, em 2010, a Universidade ainda não havia conseguido obter o reconhecimento do curso junto ao Ministério da Educação, de forma que ela não pode emitir os diplomas de Bacharel em Direito. Assim, apesar de aprovado no exame da OAB, João não pode obter a sua inscrição como advogado. A situação somente foi resolvida 18 meses depois. Diante disso, o ex-aluno ingressou com ação de indenização por danos morais e materiais contra a UNISABES. Vale ressaltar que no momento em que o curso foi oferecido não se informou aos alunos que a Universidade ainda não havia conseguido o reconhecimento. Neste caso concreto, João terá direito de ser indenizado? SIM. Qual é a natureza da relação jurídica firmada entre João e o Instituto? Relação de consumidor e fornecedor. A relação jurídica firmada entre o aluno e a instituição de ensino particular é uma relação de índole consumerista considerando que o aluno é o destinatário final dos serviços prestados pela faculdade. Além disso, o aluno possui vulnerabilidade jurídica frente à instituição. Responsabilidade objetiva Como a relação é consumerista, a instituição possui responsabilidade civil objetiva pelos danos causados, nos termos do art. 14 do CDC: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Falha no dever de informação Fica evidente a responsabilidade objetiva da instituição, considerando que ela deveria ter informado previamente os alunos que o curso não estava ainda reconhecido, informação que era fundamental para que eles decidissem se desejariam ou não se matricular. Houve, portanto, descumprimento do dever de informar, gerando o direito à indenização. Súmula 595-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 O STJ sumulou o entendimento acima exposto: Súmula 595-STJ: As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017. “(...) não há como negar o sentimento de frustração e engodo daquele que, após anos de dedicação, entremeado de muito estudo, privações, despesas etc., descobre que não poderá aspirar a emprego na profissão para a qual se preparou, tampouco realizar cursos de especialização, pós-graduação, mestrado ou doutorado, nem prestar concursos públicos; tudo porque o curso oferecido pela universidade não foi chancelado pelo MEC. Some-se a isso a sensação de incerteza e temor quanto ao futuro, fruto da possibilidade de jamais ter seu diploma validado, bem como o ambiente de desconforto e desconfiança gerados no seio social: pais, parentes, amigos, conhecidos, enfim, todos aqueles que convivem com o aluno e têm como certa a diplomação.” (Min. Nancy Andrighi) Assim, “a instituição de ensino superior responde objetivamente pelos danos causados ao aluno em decorrência da falta de reconhecimento do curso pelo MEC, quando violado o dever de informação ao consumidor.” (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 651.099/PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 26/05/2015). E se os alunos tivessem sido previamente informados, no momento da matrícula, que o curso ainda não havia sido reconhecido pelo MEC e que as providências ainda seriam tomadas? Se a falta de reconhecimento do curso pelo MEC tivesse sido previamente informada aos alunos, de maneira clara e objetiva, a responsabilidade civil da Instituição poderia ser afastada, conforme já decidiu o STJ: (...) 2. Essa Corte reconhece a responsabilidade objetiva da instituição de ensino e o direito à compensação por danos morais a aluno de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação quando violado o dever de informação ao consumidor. 3. Na hipótese, a situação do curso era conhecida pelos alunos e as providências quanto ao seu reconhecimento oficial, após a conclusão da primeira turma, foram tomadas pela instituição. 4. A demora no reconhecimento do curso pelo MEC, não impediu que a recorrente fosse contratada por duas empresas do ramo farmacêutico, ou seja, não impediu que ela exercesse sua atividade profissional. 5. Como já eram previsíveis os aborrecimentos e dissabores por quais passou até o reconhecimento oficial do curso pelo MEC porque a recorrente foi informada da situação pela instituição de ensino, não ficou demonstrada a ocorrência do dano moral passível de compensação. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1230135/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/12/2012. Em caso de informação prévia, não se pode dizer que os alunos foram surpreendidos com a situação, tendo sido enganados pela instituição ao longo dos anos de curso. Não houve engodo ou violação do dever de informação. A situação do curso era conhecida por todos e as providências cabíveis foram tomadas pela Instituição, razão pela qual não há direito à indenização.
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