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Uso de Agregado Reciclado em Argamassa

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ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 1 
USO DE AGREGADO MIÚDO RECICLADO EM ARGAMASSA 
USE OF RECYCLED FINE AGGREGATE IN MORTAR 
 
(1) Rafel da Costa Lima; (2) Kelvya Maria de Vasconcelos Moreira, 
 
(1) Acadêmico do Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA 
(2) Professora mestre do Curso de Engenharia Civil,Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA 
Travessa Francisco Cavalcante, 1026, São Benedito, Ceará, Brasil 
 
Resumo 
 
É fato que a atividade da construção civil vem crescendo rapidamente desde a última década, sendo um 
fator positivo para o desenvolvimento do País; no entanto, esse crescimento está vindo atrelado ao elevado 
consumo de matéria-prima natural que, por sua vez, tem gerado muito resíduo. O descarte deste resíduo da 
construção ocorre, muitas vezes, em lugares irregulares, podendo causar problemas de saúde para a 
população, assoreamento de córregos, devastação de áreas verdes, entre outros. Na tentativa de minimizar 
esse impacto negativo, controverso ao desenvolvimento econômico do País, em 2010 foi sancionada a Lei 
Federal Nº 12.305 que aborda, dentre outros tópicos de interesse ambiental, a obrigatoriedade dos resíduos 
de construção potencialmente recicláveis não serem descartados em aterros sanitários, sob pena de multa 
para o gerador e o transportador. Sob esta ótica, o trabalho propôs a utilização do resíduo da construção 
civil na produção de argamassas, fazendo um controle de suas características mecânicas e de durabilidade 
por meio de ensaios laboratoriais. A matéria-prima utilizada no estudo foram os resíduos de construção civil 
após beneficiamento para obtenção de agregado miúdo e incorporação nas argamassas. Foram produzidas 
três argamassas com 0%, 20% e 50% de substituição de agregado miúdo natural por agregado miúdo 
reciclado, mantendo-se constante a consistência. Após, foram realizados os ensaios de resistência à 
compressão axial, absorção de água por capilaridade, absorção de água por imersão e massa específica. 
Os resultados obtidos demonstraram a possibilidade de reutilização do entulho de obra como novo insumo 
na própria obra, podendo ser um potencial redutor de custo ou, até mesmo, uma alternativa para o processo 
de destinação final do entulho. 
Palavras-Chave: agregado reciclado, argamassa, reciclagem. 
 
Abstract 
 
It is fact that the civil construction activity has been growing rapidly over the last decade. This is a positive 
factor for the development of the country; however, this growth has been linked to the high consumption of 
natural material that, in turn, has generated a lot of waste. The disposal of construction waste occurs often in 
irregular places, may cause health problems for the population, siltation of streams, destruction of green 
areas and others. In an attempt to minimize this negative impact, controversial of economic development of 
the country, in 2010 was sanctioned federal law No. 12305 that addresses, among other topics of 
environmental interest, the requirement of construction waste potentially recyclable not be discarded in 
landfills under a assessment for the generator and the transporter. Under this view, the work proposed the 
use of construction waste in the production of mortars, making control of its mechanical and durability 
characteristics through laboratory tests. The materials used in the study were the building waste after 
processing to obtain fine aggregate and embedding in mortar. Three mortars with 0%, 20% and 50% 
replacement of natural fine aggregate by recycled fine aggregate were produced, keeping constant 
consistency. After, the testing of compressive strength, water absorption by capillarity, water absorption by 
immersion and density were performed. The results demonstrated the possibility of reuse of the rubble of 
construction as new input in the construction itself, may be a potential for reducing cost or even an 
alternative to the process of disposal of rubble. 
Keywords: recycled aggregate, mortar, recycling. 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 2 
1 Introdução 
O desenvolvimento das cidades acarreta no aumento da geração de resíduos sólidos da 
construção civil que, por sua vez, tem destinação irregular em aterros não autorizados, 
em pilhas de bota-fora de entulhos, que são “aceitos” por não ter impacto imediato, como 
acontece com o lixo doméstico. Como não se tem uma intensiva fiscalização da 
destinação final dada aos resíduos, ocorre a proliferação de deposições e bota-fora 
irregulares, impactando negativamente na qualidade da vida urbana, na drenagem urbana 
e multiplicação de transmissores de doenças, entre outros. 
 
Em 2010 foi publicada a Lei Federal N° 12.305 que institui a Política Nacional de 
Resíduos Sólidos (PNRS). Essa Lei estabelece princípios, objetivos, instrumentos e 
diretrizes relativos à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos 
os perigosos, e define as responsabilidades dos geradores para fazerem logística reversa 
e reciclagem, bem como a responsabilidade do poder público. 
 
A indústria da construção civil também é contemplada nessa Lei, pois produz muito 
resíduo potencialmente reciclável que, disposto de forma irregular, gera impacto ao meio 
ambiente. Em períodos de chuvas, estes resíduos são carreados podendo obstruir 
bueiros ou assorear rios e córregos e, por serem produzidos em grandes volumes, 
ocupam vias prejudicando a circulação, além de atrair vetores de doenças e ocasionar a 
degradação da paisagem urbana. Assim, o setor da construção civil ficará obrigado a dar 
destinação final ambientalmente adequada aos seus Resíduos de Construção e 
Demolição (RCD), não podendo mais encaminhá-los aos aterros. 
 
Hoje, diversos países já perceberam a necessidade de reciclar o agregado da construção 
civil, podendo-se encontrar pesquisas sobre a aplicação deste resíduo em pavimentos 
rodoviários, concretos sem função estrutural e em pré-moldados. Pode-se considerar que 
a sociedade e o meio ambiente serão grandes beneficiados com a utilização de agregado 
reciclado da construção civil, pois reduziria a extração de matéria-prima, preservando o 
ecossistema e diminuindo a obstrução de vias públicas (LEVY, 2007). 
 
Ainda segundo Levy (2007), a produção de agregados reciclados, utilizando a fração 
cerâmica do entulho de construção como fonte de matéria-prima é uma atividade que, nos 
últimos anos, tem se consolidado no território nacional. Assim, as empresas se 
interessaram em produzir agregados de diferentes granulometrias para a execução de 
pavimentos, de pré-moldados e concretos sem fins estruturais, substituindo parcial ou 
totalmente o agregado natural. 
 
Alguns pesquisadores recomendam a substituição de até 50% dos agregados naturais 
pelos reciclados. Alguns países, como a Holanda e o Japão, já normatizaram essa 
incorporação de agregado reciclado, sendo que recomendam, respectivamente, 20% e 
30% na mistura sem que apresente nenhum efeito danoso (CABRAL, 2007). 
 
No entanto, para incorporar o agregado reciclado no mercado como matéria-prima para 
ser reutilizada na construção civil, deve-se convencer os projetistas, construtores e 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 3 
consumidores finais que esse produto apresenta algumas vantagens competitivas e 
baixos riscos técnicos e ambientais. 
 
Vários estudos vêm sendo desenvolvidos, no Brasil, para analisar o percentual ideal de 
uso de agregado reciclado, produzido a partir dos resíduos de construção da região, em 
argamassas e concretos, em substituição à matéria-prima natural, especialmente em 
regiões com escassez de material para extração. 
 
Dentre os estudos nacionais, pode-se citar o trabalho de Malta, Silva e Gonçalves (2013) 
que substituíram teores de até 50% de agregadomiúdo natural por RCD, advindo de uma 
obra em Salvador/BA, na produção de argamassas. Os resultados do trabalho mostraram 
que as misturas com agregado miúdo reciclado apresentaram-se menos resistentes e 
mais absorventes em relação às de referência. 
 
Pedrozo (2008) estudou a influência da substituição de 0%, 25%, 50%, 75% e 100% do 
agregado miúdo natural por agregado reciclado fino, obtido na central de reciclagem de 
Belo Horizonte/MG, nas propriedades de concretos e argamassas, chegando a conclusão 
que a fração fina de RCD afeta os comportamentos, no estado fresco, dos concretos e 
argamassas, reduzindo a trabalhabilidade, alterando a cinética de hidratação dos 
concretos e melhorando no controle da retração plástica. 
 
Oliveira e Cabral (2011) produziram argamassas de revestimento substituindo o agregado 
natural por agregado reciclado de Fortaleza/CE nos teores de 0%, 10%, 20%, 30%, 40% 
e 50%. Os resultados apontaram que a substituição dos agregados naturais pelos 
agregados reciclados requereu mais água para manter a mesma trabalhabilidade, 
entretanto melhorou a resistência à compressão e a resistência de aderência ao 
substrato. 
 
Dado os fatos, pretendeu-se estudar o potencial de reutilização dos resíduos gerados pelo 
setor da construção civil na cidade de Sobral/CE, a partir da reciclagem na forma de 
agregado miúdo para produção de argamassas que sejam utilizadas na própria 
construção ou outras, podendo, assim, diminuir o custo da obra e, consequentemente, 
dispor menos resíduo em locais inadequados, prática comum em pequenas cidades, mas 
que vem sendo combatida fortemente em Sobral/CE. 
 
 
2 Metodologia 
2.1 Obtenção do agregado miúdo reciclado 
 
O Resíduo de Construção e Demolição (RCD) foi obtido de obras do interior do Campus 
da CIDAO da Universidade Estadual Vale do Acaraú, em Sobral/CE. 
 
Este RCD caracterizava-se como um material heterogêneo (misto), possuindo em sua 
composição fragmentos de concreto, argamassa, tijolos cerâmicos, revestimento 
cerâmico polido e telhas. Como o material obtido estava com grandes dimensões (figura 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 4 
1a) foi necessário reduzir seu tamanho com o auxílio de uma marreta para, 
posteriormente, colocá-lo no moinho de bolas a fim de triturá-lo (figura 1b). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – (a) RCD misto e (b) moinho de bolas (pessoal, 2013). 
 
Após o material estar parcialmente triturado, utilizou-se uma tampa perfurada, com malha 
de abertura 4,80mm, do próprio moinho de bolas para peneiramento do agregado 
reciclado e armazenamento numa bandeja (figura 2). A granulometria desejada era de 
2,40mm, então voltou-se o material para o moinho de bolas e efetuou-se nossa trituração, 
obtendo-se a granulometria próxima a desejada (figura 3). 
 
Como o beneficiamento do resíduo de construção heterogêneo gera muito material fino, 
efetuou-se o peneiramento na malha de abertura 2,40mm para coletar apenas os grãos 
que ficavam retidos na peneira, pois estes eram objeto da pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Agregado reciclado logo após trituração inicial no moinho de bolas (pessoal, 2013). 
 
 
 
 
(a) 
 
(b) 
 
 
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Peneira (mm) massa individual (g) % retida %acumulada
4,75 39,5 7,9 7,9
2,4 19,4 3,88 11,78
1,2 48,5 9,7 21,48
0,6 200 40 61,48
0,3 123 24,6 86,08
0,15 53,1 10,62 96,7
fundo 16,5 3,3 100
total 500 100
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3 – Agregado reciclado após segunda trituração no moinho de bolas (pessoal, 2013). 
 
 
2.2 Agregado Miúdo Natural 
 
O agregado miúdo natural utilizado no estudo era uma areia quartzosa de leito de rio. 
Efetuou-se o ensaio para determinação da composição granulométrica, segundo a ABNT 
NBR NM 248:2003, obtendo-se os resultados expostos na tabela 1. 
 
 
Tabela 1 – Determinação da composição granulométrica do agregado miúdo natural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como se pode observar pela tabela 1, o diâmetro máximo do agregado miúdo natural não 
era o necessário para o estudo (2,40mm). Assim, para que a substituição do agregado 
natural pelo reciclado ocorresse com uma única granulometria, procedeu-se ao 
peneiramento do agregado natural na peneira de malha de abertura 4,80mm para utilizar 
apenas os grãos que passavam pela peneira. Com o agregado peneirado efetuou-se o 
ensaio de massa especifica obtendo-se o valor de 2,59 g/cm³. 
 
 
 
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AR A20 A50
Cimento 150 150 150
Cal hidratada 225 225 225
Agregado 
miúdo natural 1050 840 525
Agregado 
miúdo reciclado - 210 525
Água 330 330 330
Realção a/c 2,2 2,2 2,2
material
massa para 1m³ (kg)
2.3 Cimento Portland 
O cimento Portland utilizado foi o CP II-Z-32-RS, disponível na região, cuja massa 
específica era 1,45 g/cm³. 
 
2.4 Determinação do Traço das Argamassas 
Para o estudo foram dosadas 3 argamassas: 
 argamassa de referência (AR) – utilização de 100% de agregado miúdo natural; 
 argamassa 20% (A20) – substituição, em massa, de 20% do agregado miúdo 
natural por agregado miúdo reciclado misto; 
 argamassa 50% (A50) – substituição, em massa, de 50% do agregado miúdo 
natural por agregado miúdo reciclado misto. 
 
O traço unitário da argamassa convencional foi de 1:1,5:7, em massa. A quantidade de 
material necessário para a produção de 1m³ de argamassa (figura 4) está sintetizado na 
tabela 2. 
 
Tabela 2 – Traço das argamassas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Relação a/c = relação água/cimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 – Materiais utilizados para a produção das argamassas. 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 7 
 
Ressalta-se que o traço unitário da argamassa foi obtido para uma argamassa de 
revestimento, tendo como base 1 parte de aglomerantes para 3 partes de agregado. Já a 
definição dos teores de substituição foi baseada nos estudos brasileiros desenvolvidos 
sobre o tema que mostraram o percentual de 50% como o máximo para a obtenção de 
resultados satisfatórios em termos de desempenho mecânico. 
 
2.4 Produção das argamassas e determinação da consistência 
 
A produção das argamassas visou o preenchimento de 19 corpos de prova (5cm x 10cm) 
para a realização do ensaio de resistência à compressão axial, de acordo com a ABNT 
NBR 13279:2005 aos 7, 14 e 28 dias de produção das argamassas; do ensaio de 
absorção de água por capilaridade, de acordo com a ABNT NBR 9779:2012 aos 7 e 28 
dias; e do ensaio de absorção de água por imersão, de acordo com a ABNT NBR 
9778:2005 aos 7 e 28 dias. 
 
Imediatamente após a produção de cada argamassa realizou-se o ensaio de índice de 
consistência, conforme preconizado pela ABNT NBR 13276:2005. Pela figura 5 pode-se 
visualizar o aspecto fluido da argamassa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5 – (a) Limpeza da mesa de consistência com o molde tronco-cônico preenchido com argamassa e 
(b) medição do índice de consistência da argamassa pelo paquímetro. 
 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 
 
3.1 Índice de Consistência 
 
A argamassa AR apresentou um índice de consistência média, após medida de 3 
diâmetros pelo paquímetro, de 29,50 cm. Como não se pretendia ter a consistência como 
uma variável do estudo, mas apenas o agregado reciclado, fixou-se a consistência da 
(a) 
 
(b) 
 
 
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argamassa AR como padrão. Assim, para a argamassa A20 foi obtido um valor médio de 
30 cm, compatívelcom a referência. 
 
Para a argamassa A50 foi necessário adicionar 3% a mais de água em relação ao volume 
inicial de água a fim de manter a consistência padrão, de tal forma que seu valor médio ao 
final foi de 30,17 cm. 
 
3.2 Resistência à Compressão Axial 
 
A figura 6 ilustra os resultados médios do ensaio de resistência à compressão axial das 
três argamassas aos 7, 14 e 28 dias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6 – Resultados de resistência à compressão axial das argamassas. 
 
Analisando-se apenas os resultados da argamassa AR percebe-se que o valor da 
resistência aos 14 dias (1,53 MPa) foi menor do que aos 7 dias (2,04 MPa), o que pode 
significar uma falha durante a execução do ensaio, dado que para as demais argamassas 
houve uma evolução normal ao passar dos dias, bem como a própria argamassa AR aos 
28 dias apresentou resultado satisfatório (4,08 MPa). 
 
As argamassas contendo agregado reciclado se mostraram bastante resistentes, com 
valores superiores à referência. 
 
Aos 7 dias, a argamassa A20 apresentou valor de 2,67 MPa e a argamassa A50 foi 
3,31MPa. Já aos 14 dias, as argamassas A20 e A50 apresentaram 2,80 MPa e 4,84 MPa, 
respectivamente. 
 
Aos 28 dias, a argamassa A20 apresentou resultados maiores do que a argamassa A50, 
sendo 6,37 MPa e 5,35 MPa, respectivamente. 
 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 9 
100% 100%
131,25%
156,25%
162,50%
131,25%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
180%
7 dias 28 dias
AR A20 A50
Para ter uma visão mais ampla dos dados da figura 6, calcularam-se as resistências 
axiais em porcentagem, considerando a argamassa AR como o valor máximo de 
resistência (100%) e comparou-a com as demais argamassas, como ilustrado na figura 7. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7 – Resultados de resistência à compressão axial das argamassas em porcentagem. 
 
Devido ao equívoco no ensaio da argamassa AR aos 14 dias, os valores comparativos 
dessa idade podem não condizer a realidade, sendo ocultado para essa análise. 
 
A comparação por porcentagem oferece uma visão mais aguçada, mostrando com mais 
clareza o ganho de resistência ao passar do tempo. Comparando A20 com AR, aos 28 
dias verifica-se um acréscimo na resistência de 56,25%. Já a A50 em comparação com 
AR teve um acréscimo de 31,25% na resistência. 
 
Esse ganho de resistência entre uma argamassa apenas com agregado natural e as 
argamassas com agregado reciclado pode ser devido ao fato das substituições terem sido 
em massa, podendo ter ocasionado um maior volume de reciclado no compósito e, como 
ele apresenta uma granulometria mais fina do que a areia, pode ter preenchido melhor os 
poros do compósito favorecendo no ganho da resistência. 
 
 
3.3 Absorção de Água por Capilaridade 
 
O ensaio de absorção de água por capilaridade das argamassas foi realizado com base 
na ABNT NBR 9779:2012 aos 7 e 28 dias de idade de produção das argamassas (figura 
8). A tabela 3 expõe os resultados individuais alcançados. 
 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 10 
AR A20 A50
7 3,09% 3,11% 3,20%
7 2,99% 3,16% 3,25%
28 3,14% 3,12% 3,16%
28 3,05% 3,09% 3,17%
Argamassa
Idades (dias)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8 – Ensaio de absorção de água por capilaridade. 
 
Tabela 3 – Resultados do ensaio de absorção de água por capilaridade das argamassas. 
 
 
 
 
 
 
 
Como se pode visualizar pela tabela 3, analisando cada argamassa individualmente, 
praticamente não houve variação entre seus resultados aos 7 e 28 dias, ficando em torno 
de 2% para cada. 
 
Se forem analisados os valores médios apenas aos 7 dias entre uma argamassa e outra, 
verifica-se que A20 aumentou 1,45% em relação a AR e A50 aumentou 4,19% também 
em relação a AR. 
 
Da mesma forma, ao analisar apenas os valores médios aos 28 dias entre uma 
argamassa e outra, constata-se que não houve variação relevante. 
 
Essa paridade dos resultados entre uma argamassa de referência e as modificadas pode 
indicar que a quantidade de poros permeáveis para as três argamassas foi praticamente o 
mesmo. Embora o agregado reciclado, em geral, seja um material conhecidamente mais 
poroso do que um agregado natural, o fato de se ter um volume maior deste agregado 
reciclado permitiu que a quantidade de poros nas argamassas A20 e A50 não 
aumentasse significativamente em relação à referência. 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 11 
AR A20 A50
7 17,71% 18,32% 21,54%
7 18,37% 19,04% 20,84%
28 18,15% 18,69% 21,87%
28 18,14% 19,04% 21,08%
Idade (dias)
Argamassa
 
3.4 Absorção de Água por Imersão 
 
 
A tabela 4 apresenta os resultados individuais do ensaio de absorção de água por 
imersão das três argamassas aos 7 e 28 dias. 
 
Tabela 4 – Resultados do ensaio de absorção de água por imersão das argamassas. 
 
 
 
 
 
 
 
Percebe-se, da tabela 4, que os resultados de absorção de água por imersão 
apresentaram comportamento similar aos obtidos no ensaio de capilaridade tanto para 
cada argamassa individualmente entre os 7 e 28 dias como entre uma argamassa e outra. 
 
Ao se analisar os valores médios apenas aos 7 dias fica constatado que a argamassa A20 
aumentou 5,48% de absorção em relação a AR bem como a argamassa A50 aumentou a 
capacidade de absorção em 19,42% comparativamente a AR. 
 
Já para os valores médios aos 28 dias, percebe-se um aumento da capacidade de 
absorção de 3,97% e 18,35% para as argamassas A20 e A50, respectivamente, ambas 
em relação à referência. 
 
Assim, a argamassa contendo agregado reciclado, ao ser submersa, pode absorver um 
pouco mais de água do que uma argamassa apenas com agregado natural e esta 
capacidade de absorção será mais expressiva na medida em que se aumenta o teor de 
agregado reciclado. 
 
 
4 Conclusão 
Pelo resultado apresentado no estudo, a resistência axial das amostras de argamassa 
com substituição de agregado natural por agregado reciclado obteve respostas bastante 
favoráveis, sendo superiores à obtida pela argamassa de referência. Esses acréscimos 
das resistências possivelmente aconteceram em função da maior absorção de água dos 
agregados reciclados, fazendo com que as argamassas produzidas com estes retenham 
 
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mais água, propiciando uma melhor hidratação dos grãos de cimento e a formação de 
uma quantidade superior de cristais hidratados. 
 
Os ensaios ligados à durabilidade realizados mostraram que as argamassas contendo 
agregado reciclado até a porcentagem de 50% de substituição não provocaram aumento 
expressivo na capacidade de absorção de água, assim, não afetando a qualidade das 
argamassas. Esse fato pode ser explicado por que não houve um aumento expressivo no 
número de poros para as argamassas modificadas, dado que foi feita uma substituição 
parcial ao agregado natural e que a correção do índice de consistência foi mínimo. 
 
Pode-se, então, afirmar que é possível reincorporar o resíduo da construção na própria 
obra em que foi gerado para fins não estruturais, como na produção de bloquetes, meio-
fios ou pré-moldados, especificamente para este tipo de RCD produzido em Sobral/CE. 
 
 
5 Referências 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 13276 - Argamassa para 
Assentamento e Revestimento de Paredes e Tetos – Preparo, Rio de Janeiro, 2002. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 13279 - Argamassa para 
assentamento de paredes e revestimento de paredes e tetos - Determinação da 
resistência à compressão, Rio de Janeiro, 1995. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 13281 - Argamassa para 
Assentamentoe Revestimento de Paredes e Tetos – Requisitos, Rio de Janeiro , 2001. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 13749 - Revestimento de 
paredes e tetos de argamassa inorgânica – especificação, Rio de Janeiro 1996. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 7215 - Cimento Portland - 
Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro, 1996. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 9778. Argamassa e concreto 
endurecidos - Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. 
Rio de Janeiro, 2005. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 9779 - Argamassa e 
concreto endurecidos - Determinação da absorção de água por capilaridade, Rio de 
Janeiro, 1995. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR NM 248 - Agregados - 
Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro, 2003. 
 
 
ANAIS DO 56º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2014 – 56CBC 13 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15113. Resíduos 
sólidos da construção civil e resíduos inertes - Aterros - Diretrizes para projeto, 
implantação e operação. Rio de Janeiro, 2004. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15114. Resíduos 
sólidos da Construção civil - Áreas de reciclagem - Diretrizes para projeto, implantação e 
operação. Rio de Janeiro, 2004. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15115. Agregados 
reciclados de resíduos sólidos da construção civil. Execução de camadas de 
pavimentação – Procedimentos. Rio de Janeiro, 2004. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15116. Agregados 
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