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ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA ANIMAIS QUE VIVEM EM CATIVEIROS

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ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA 
ANIMAIS QUE VIVEM EM CATIVEIROS
Lilian Barbosa Pereira1, Alexsandra Roberta Vicente de Almeida2 e Anísio Francisco Soares3.
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1. Primeiro Autor é Aluno do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de 
Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: lilian.bp@hotmail.com
2. Segundo Autor é Aluno do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de 
Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: alexsandra_rva@hotmail.com
3. Terceiro Autor é Professor Adjunto I do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Área de Fisiologia e Farmacologia, Universidade 
Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: asoares@dmfa.ufrpe.br
Introdução
Há séculos o homem utiliza animais em 
experimentos na busca do conhecimento científico e 
benefício para a saúde de ambos. Porém, durante muito 
tempo os animais utilizados foram vistos em segundo 
plano dentro do contexto científico. Apenas 
recentemente, percebeu-se a importância do animal e 
seu bem-estar para os resultados de um experimento.
O bem-estar animal refere-se a uma boa ou 
satisfatória qualidade de vida, que inclui parâmetros 
predeterminados como: sentimentos, como saúde e 
prazer. Ou seja, trata-se de um estado do ser em certo 
momento e da forma com a qual ele se adapta ao 
ambiente. Desta maneira é possível medir o grau de 
bem-estar como adequado ou pobre [1].
Toda espécie animal apresenta um comportamento 
normal padrão. A presença de comportamentos 
anormais pode ser considerada um indicador de que o 
bem estar desses seres vivos não está sendo 
alcançando. Sabe-se que o cativeiro é um fator 
limitante, e leva muitos animais a terem um 
comportamento diferenciado, até neurótico, sendo 
considerado um comportamento anormal, já que os 
locais onde permanecem confinados não proporcionam 
a eles as mesmas condições que seu habitat natural, 
interferindo no seu bem-estar [2]. 
A gaiola para um animal de laboratório representa 
mais que uma casa, é o seu mundo, contudo devem 
oferecer conforto aos animais [3]. Um importante 
aliado é o enriquecimento ambiental (EA), que objetiva 
tornar estes locais mais favoráveis a vida desses 
animais [4].
O EA consiste em uma técnica que insere estímulos 
no ambiente do animal, com isso é possível simular 
situações que ocorreram na natureza, evitar estresse e 
comportamentos anormais desempenhados pelo animal 
[4]. Abrangendo uma variedade de técnicas originais, 
criativas e engenhosas para obter ambientes mais 
estimulantes [5]. Tem sido uma prática cada vez mais 
constante em cativeiros do mundo todo e visa o 
melhoramento das condições de vida dos animais 
alojados.
O tipo de enriquecimento utilizado deve ser 
apropriado à espécie em questão, pois ao desenvolvê-lo 
é preciso conhecer os hábitos do animal. Sendo assim, 
as diferentes técnicas de enriquecimento utilizadas podem
ser divididas em cinco grandes grupos:
1) Físico: Consiste em introduzir aparatos nos recintos que 
os deixem semelhantes ao habitat de cada uma das 
espécies (vegetações, diferentes substratos, estruturas 
para se pendurar ou se balançar, como cordas, troncos 
ou mangueiras de bombeiro, entre outros);
2) Sensorial: Consiste em estimular os cinco sentidos dos 
animais, introduzindo, por exemplo, sons de 
vocalizações, ervas aromáticas, urina e fezes de outros 
animais;
3) Cognitivo: Consiste em colocar dispositivos mecânicos, 
como quebra-cabeça, para os animais manipularem;
4) Social: Consiste na interação intra-específica ou inter-
específica que pode ser criada dentro de um recinto. Os 
animais têm a oportunidade de interagir com outras 
espécies que naturalmente conviveriam na natureza ou 
com indivíduos da mesma espécie;
5) Alimentar: Seria oferecer ocasionalmente, alimentos 
que consomem em seu habitat natural e não fazem parte 
do cardápio em cativeiro, e variar a maneira, freqüência 
e horário como estes são oferecidos [4;5].
Existe, como se pode verificar, uma preocupação 
crescente com o bem-estar de animais, pelo stress 
manifestado pelos mesmos em cativeiro, o que vem a 
influenciar na investigação da aplicação do enriquecimento 
ambiental.
Material e métodos
Foram realizados levantamentos de dados e pesquisas 
bibliográficas em livros, artigos científicos e sites, a fim de 
obter informações mais especificas e necessárias para o 
esclarecimento do tema abordado.
Resultados
O EA em alojamentos de animais de laboratório é uma 
pequena atitude que pode causar um enorme impacto 
positivo no bem-estar dos animais. Como já foi 
mencionado este enriquecimento consiste em incluir 
elementos adicionais ao ambiente e na exposição dos 
animais a estimulação sensorial, gerada por objetos
inanimados, como rodas de atividades, dispositivos 
mecânicos, alimentos, canos de PVC, caixas de ovos, 
tocas de garrafas de plástico e outros (Figuras. 1, 2 e 
3).
Em relação aos animais de laboratório, vários 
parâmetros podem ser alterados com o EA, por 
exemplo: a) melhora nas condições gerais de saúde; b) 
diminuição dos níveis de agressão; c) diminuição dos 
níveis circulantes de hormônios associados ao estresse; 
d) maior taxa de sucesso de acasalamento; e e) melhora 
do comportamento social com o grupo [6]. 
O estresse causado pelo cativeiro pode ser expresso 
através de condições fisiológicas inadequadas, de 
comportamentos e padrões de atividade atípicos para a 
espécie e, em especial, através de comportamentos 
estereotipados. Esta definida como sendo um 
comportamento apresentado de maneira repetitiva e 
exagerada, muitas vezes associado ao tédio e a 
disfunções comportamentais do animal, por exemplo, 
beber água em excesso, mastigação falsa, entre outros. 
São, enfim, séries de movimentos de todo ou parte do 
corpo do animal que são repetidos regularmente e que 
não servem a nenhuma função aparente [3].
O EA influencia o desempenho de ratos em tarefas 
de condicionamento aversivo. Os animais criados em 
AE, quando submetidos a situações estressantes, 
apresentam menos sensíveis às condições aversas 
impostas do que animais criados em ambientes-padrão 
de laboratório, exibindo maior capacidade de adaptar-
se responder funcionalmente a estas situações.
O EA produz modificações morfológicas e 
funcionais no sistema nervoso de roedores.
M. V. Malacarne, entre o final do século XVIII e 
início do século XIX, foi o primeiro pesquisador que 
investigou a influência do EA sobre o sistema nervoso 
dos animais, tendo descoberto que pássaros treinados 
sobre condições enriquecidas apresentaram aumentos 
de volume do sistema nervoso central, principalmente 
no cerebelo, em relação a outros pássaros que não 
passaram pela situação de enriquecimento.
Ratos criados em ambientes enriquecidos exibem 
aumento do peso cerebral, apresentando o córtex cerca 
de 4% maior. Além disso, o hipocampo dos ratos 
parece tornar-se mais espesso [3].
A vascularização cerebral também pode responder 
adaptativamente à demanda aumentada de estimulação, 
pois os diâmetros dos capilares do córtex de ratos 
criados em ambientes enriquecidos são maiores do que 
aqueles dos ratos criados em ambientes não 
enriquecidos.
Animais expostos a ambientes enriquecidos 
apresentam razões mais altas de neurônios para células 
da glia, botões pré-sinápticos maiores, aumento da 
densidade de ramos dendríticos e sinapses, diminuição 
de mortes de neurônios por apoptose e neurogênese, 
inclusive em indivíduos adultos.
Atualmente já se sabe que o EA aprimora a 
cognição através da plasticidade neuronal. Os 
ambientes enriquecidos de estimulação sensorial e de 
situações que exigem soluções de problemas,como 
localização de alimentos, são associados a grandes 
mudanças morfológicas nas vias sensoriais primárias.
 A plasticidade cerebral tem importância, por exemplo, na 
produção dos fatores neurotróficos. Estes são proteínas que 
regulam o crescimento e a maturação dos neurônios, bem 
como as conexões entre eles. Animais expostos a ambientes 
enriquecidos apresentam níveis elevados de fatores 
neurotróficos, como o fator neurotrófico derivado do 
cérebro (BDNF, brain derived neurotrophic factor), um 
fator implicado na sobrevivência e no crescimento de 
neurônios, na regulação das conexões neuronais e na 
plasticidade cerebral [3;5]. 
Diante dos resultados observados conjuntamente, pode-
se perceber um melhoramento significativo fisiológicos do 
animal submetido à ambientais enriquecidos, como: a) o 
nível de excitabilidade dos animais diante dos 
procedimentos de manipulação no laboratório; b) as 
condições gerais de saúde; c) os níveis de agressão intra-
específica; d) os níveis circulantes de hormônios supra-
renais associados a estresse; e) a freqüência de 
comportamentos estereotipados; f) a incidência de perda de 
filhotes por infanticídio, canibalismo e negligência; g) as 
taxas de sucesso de acasalamento; e h) os comportamentos 
espécie-específicos [5;6].
Agradecimentos
Ao Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal 
(DMFA), em particular ao professor Dr. Anísio Francisco 
Soares.
Referências
[1] SANDERS, A. FEIJÓ, A. G. S. Uma reflexão sobre animais 
selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. Disponível em: 
http://www.sorbi.org.br/revista/4/artigo_SORBI-ZOOS.pdf. Acesso 
em: 14 de jun. de 2009.
[2] ANDERSEN, M. L. et all. Princípios éticos e práticos do uso de 
animais de experimentação. Ed. Universidade Federal de São Paulo –
UNIFESP. São Paulo – SP, 2004.
[3] VASCONCELLOS, A. S. Enriquecimento ambiental e bem-estar. 
Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. 
Disponível em: 
www.ip.usp.br/docentes/ebottoni/CompAnimal/arquivos/Enriquecim
ento_ambiental_e_bem-estar.doc. Acesso em:13 de jun. de 2009.
[4] BOSSO, P. L. Tipos de enriquecimento. Disponível em: 
http://www.zoologico.sp.gov.br/peca2.htm. Acesso em: 13 de jun. de 
2009.
[5] NUNES, C. R. O; GUERRA, R. F; BUSSAB, V. S. R. 
Enriquecimento ambiental, privação social e manipulação neonatal. 
In: Revista de Ciências Humanas, n. 34, p. 365-394. 2003. 
Disponível em: 
http://www.cfh.ufsc.br/~lpe/Nunes%20et%20al_2003.htm. Acesso 
em: 14 de jun. de 2009.
[6] M. FRAJBLAT; V. L. LÂNGARO AMARAL; E. A.B. RIVERA. 
Ciência em animais de laboratório. Disponível em: 
http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v60n2/a19v60n2.pdf. Acesso em 
jun. de 2009.
Figura. 1. Utilização de tubos e conexões para o enriquecimento 
ambiental.
Figura. 2. Bolas para golfinhos.
Figura. 3. Uvas espetadas em galhos secos.

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