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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE CARATINGA – FUNEC CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD ZOOTECNICA II NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 2 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO ANIMAL 1. INTRODUÇÃO Tem sido notável o rápido aumento na população global. No começo do século XX, o planeta abrigava cerca de 1,5 bilhões de pessoas. Ao adentrar os anos 2000, esse número disparou para 6 bilhões. Estimativas da Organização das Nações Unidas indicam que até 2050, a população mundial poderá exceder 9 bilhões. Porém, esse avanço vem acompanhado de desafios significativos: aproximadamente 1 bilhão de indivíduos vivem em condições de extrema pobreza, enquanto mais de 800 milhões enfrentam fome e desnutrição, com a África sendo o continente mais impactado. Alarmantemente, a fome é responsável pela morte de uma pessoa a cada três segundos, totalizando cerca de 28.000 mortes por dia. Neste contexto, a indústria de produção animal encara o desafio de alimentar uma população em constante crescimento, contribuindo simultaneamente para reduzir a pobreza e a fome globais. Até 2035, espera-se que seja necessário elevar a produção alimentar de origem animal em percentuais significativos para atender ao aumento da demanda por proteínas: 30% para frutos do mar, 50% para ovos, 65% para carne de frango, 35% para carne suína e 20% para carne bovina. Paralelamente, a obesidade se torna uma preocupação crescente, afetando quase 2 milhões de pessoas mundialmente, com a América Latina representando um quarto desse total. Mudanças nos hábitos alimentares têm levado a uma dieta cada vez mais rica em açúcar, sal e gorduras, ao mesmo tempo em que persiste a "fome oculta", caracterizada pela deficiência de micronutrientes essenciais como ferro, zinco, iodo e vitamina A, afetando negativamente a saúde e o desenvolvimento humano. A nutrição animal emerge como um campo vital para enfrentar esses desa- fios, tanto na luta contra a fome quanto na mitigação dos problemas relacionados à má nutrição. Representando entre 60 a 70% dos custos de produção animal, uma alimentação adequada é fundamental. O domínio dos princípios de nutrição animal permite ao nutricionista desenvolver dietas que satisfaçam as necessidades nutrici- AULA 1 mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 3 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II onais dos animais de forma econômica. Assim, o aprofundamento em nutrição ani- mal não apenas eleva a eficiência produtiva, como também garante a oferta de pro- teínas de alta qualidade aos consumidores, respeitando os princípios de bem-estar animal, segurança alimentar e as expectativas dos consumidores. 2. HISTÓRIA DA NUTRIÇÃO ANIMAL A evolução da nutrição animal acompanhou o progresso das civilizações, desde a era Paleolítica com sociedades nômades dependentes de caça e coleta, até a revolução agrícola do Neolítico, que introduziu a agricultura e a domesticação de animais. Registros históricos mostram a domesticação de animais desde 10000 a.C. no Egito, com a prática de ordenhar animais surgindo em 3100 a.C. Documentações antigas, como o Código de Hamurabi e o Código dos Hititas, descrevem práticas de pastoreio e criação de gado. Referências históricas também evidenciam a compre- ensão antiga da relação entre alimentação e saúde, como os egípcios associando dieta e doenças em 1900 a.C. e Heródoto observando a importância da vitamina D para a saúde óssea em 525 a.C. Avanços significativos ocorreram entre os séculos XVI e XVIII, com Santorio Sanctorius, estabelecendo as bases dos estudos metabólicos ao medir a diferença entre o peso dos alimentos consumidos e o das excreções. Hipócrates especulou sobre um nutriente universal essencial, enquanto Ulissi Aldrovani notou o impacto do cálcio no desenvolvimento ósseo. William Harvey, no século XVII, revolucionou a compreensão da fisiologia com a descoberta da circulação sanguínea. No século XVIII, a identificação de gases atmosféricos e experimentos de Lazzaro Spallanzani sobre digestão ampliaram o conhecimento sobre a química da vida e os processos digestivos. Esses desenvolvimentos históricos sublinham a evolução contínua da ci- ência da nutrição e seu papel fundamental na saúde dos animais. O século XIX foi crucial para os avanços na nutrição, com a descoberta da cistina em 1810 e a composição dos lipídios por Michel Eugene em 1814, delineando a importância de uma dieta diversificada e balanceada. François Magendie demons- trou a essencialidade das proteínas através de experimentos com cães em 1816, enquanto Willian Prout classificou os alimentos em carboidratos, lipídios e proteínas. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 4 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Contribuições de Jean Boussingault e Jan Mulder aprofundaram o entendimento so- bre nitrogênio e proteínas, com Mulder cunhando o termo "proteína" e Johann Kjel- dahl desenvolvendo um método de análise proteica ainda usado. No século XX, a nutrição avançou com a padronização de conceitos e a in- trodução do valor biológico da proteína por Karl Thomas em 1909. A descoberta da tiamina por Casimir Funk em 1912 destacou a conexão entre nutrição e prevenção de doenças. Pesquisas com aminoácidos por William Rose e estudos sobre a dieta de vacas leiteiras por Babcock, Humphrey e Hart expandiram o conhecimento sobre nutrição e desempenho animal. Avanços na pesquisa de aminoácidos, vitaminas e minerais marcaram a década de 1940. Métodos como a digestibilidade in vitro por Baumgardt e Tiley e Terry, e a análise de fibra por Van Soest na década de 1960, melhoraram a avaliação da ali- mentação animal. Em 1992, Baker e Han introduziram o conceito de proteína ideal, revolucionando a formulação de dietas com ênfase nos aminoácidos digestíveis, transformando a abordagem nutricional, especialmente para animais monogástricos. 3. CONCEITOS BÁSICOS EM NUTRIÇÃO ANIMAL A definição de alguns conceitos se faz necessária para que os princípios tratados sejam entendidos corretamente sob a ótica da nu- trição animal. Nutrição: mecanismo pelo qual os seres vivos recebem e utilizam os nu- trientes necessários à vida. Alimento: todo material que, após a ingestão, é digerido, absorvido e utili- zado pelos animais. Alimentação: processo de fornecimento do alimento ao animal. Nutrientes: todos os compostos orgânicos e inorgânicos que participam diretamente dos processos metabólicos. Nutrientes essenciais: todos os nutrientes essenciais para o desenvolvi- mento do animal. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 5 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Metabolismo: o conjunto de reações que permitem o funcionamento das células e a manutenção da vida. Digestão: todos os processos químicos e físicos responsáveis pela trans- formação do alimento em nutrientes. Absorção: processos químicos e físicos relacionados ao transporte de nu- trientes. Ingrediente: todo alimento que fará parte de uma ração. Aditivo: de acordo com o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), aditivo étoda substância, microrganismo ou produto formu- lado adicionado intencionalmente aos produtos e não é utilizado normal- mente como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo. Ele deve melhorar as características dos produtos destinados à alimentação animal dos produtos animais, melhorar o desempenho dos animais sadios ou atender às neces- sidades nutricionais. Ração balanceada: o cálculo da quantidade de alimento que fornece as exigências nutricionais dos animais. Alimentos volumosos: todos os alimentos que apresentam mais de 18% de fibra bruta, como fenos, palhadas, silagens e pastagens. Alimentos concentrados: todos os alimentos que apresentam menos de 18% de fibra bruta. Podem ser classificados em energéticos e/ou proteicos. Concentrados energéticos: são todos os alimentos que apresentam me- nos de 18% de fibra bruta e menos de 20% de proteína bruta. Destacam-se o milho e o sorgo. Concentrados proteicos: são todos os alimentos que apresentam menos de 18% de fibra bruta e mais de 20% de proteína bruta. São, de maneira geral, os farelos, como a soja, o girassol e a canola. 4. PRINCÍPIOS DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 6 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II Conforme a sociedade avança, acumulamos um crescente volume de infor- mações científicas, que aprimoram nosso entendimento sobre as necessidades nu- tricionais dos animais. No entanto, é importante observar certos princípios ao alimen- tar os animais para garantir sua saúde e bem-estar. Ausência de substâncias nocivas ou tóxicas para os animais Muitos alimentos contêm fatores antinutricionais que podem afetar negativa- mente a saúde dos animais ou até mesmo levar à morte. Os animais monogástricos, em particular, são mais vulneráveis a esses fatores em comparação com os rumi- nantes. Um exemplo significativo é a contaminação por micotoxinas, que são subs- tâncias tóxicas produzidas por fungos sob condições específicas de temperatura e umidade. Essas toxinas podem comprometer o desempenho dos animais ou causar sua morte. A contaminação de alimentos para animais domésticos por melanina, proveniente da China para os Estados Unidos, é outro caso notório, resultando na morte de vários animais e em indenizações milionárias. Ausência de substâncias ou microrganismos nocivos aos humanos A contaminação por dioxinas, príons causadores da doença da vaca louca e salmonelas são questões de grande preocupação. Ingredientes contaminados por dioxinas podem afetar carnes, leites e ovos, colocando em risco a saúde humana ao diminuir a imunidade, afetar a fertilidade e aumentar o risco de câncer. A crise da doença da vaca louca na Europa levou à proibição do uso de farinha de carne e outros produtos de origem animal na alimentação de ruminantes para evitar a trans- missão da doença aos humanos. Além disso, a salmonela, uma bactéria responsável por doenças transmitidas por alimentos, pode contaminar carnes e ovos, mas pode ser prevenida por práticas nutricionais adequadas e consumo cuidadoso. Evitar resíduos na produção Nos últimos tempos, a discussão sobre o emprego de antibióticos na alimen- tação animal tem sido intensa, sobretudo por preocupações acerca de seu potencial para incentivar a resistência bacteriana, o que poderia impactar negativamente a sa- úde humana, aumentando o risco de doenças infecciosas que poderiam levar a mor- mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 7 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II tes em grande escala. A principal inquietação reside no fato de que, embora os pro- motores de crescimento utilizados na alimentação animal possam acabar contami- nando produtos como carne, leite e ovos, e dessa forma, serem consumidos por humanos, a resistência bacteriana é mais frequentemente associada ao uso inade- quado e excessivo de antibióticos sem a devida orientação médica. Este cenário não se restringe apenas aos antibióticos, mas se estende a todos os compostos que pos- sam apresentar riscos à saúde dos animais e, por consequência, à saúde humana. A preocupação global com a segurança alimentar reforça a necessidade de uma nutrição animal responsável e bem planejada. Não contaminação do ambiente A produção animal sustentável exige uma reflexão sobre o impacto ambien- tal das práticas de alimentação. Originário da Europa, o movimento pela sustentabi- lidade ganhou força em resposta à poluição do solo e da água, motivando mudanças significativas no manejo alimentar e na densidade populacional de certas espécies criadas. A mitigação da poluição por fósforo, em particular, recebe atenção especial, visto que a excreção animal é uma fonte primária de liberação desse mineral no ambiente, superada apenas pela atividade humana. O uso da enzima fitase na ali- mentação de animais representa uma estratégia eficaz para reduzir a excreção de fósforo, contribuindo assim para a proteção ambiental. A adoção de minerais orgâni- cos e enzimas exógenas também exemplifica o esforço para minimizar a liberação de nutrientes não assimilados ao ambiente. No Brasil, a atração de empresas do setor agropecuário reflete a busca por áreas produtivas ainda não saturadas pela alta concentração de atividades agropecuárias, o que representa uma oportunidade para práticas mais sustentáveis de produção animal, evitando a degradação ambi- ental observada em outras regiões. Formulação de dieta de custo mínimo Ao planejar a dieta de animais, é essencial considerar suas necessidades nutricionais específicas para possibilitar a expressão plena de seu potencial gené- tico. Desta forma, uma dieta considerada econômica é aquela que maximiza a pro- dutividade do animal ao menor custo possível. Isso implica que animais com alto mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 8 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II potencial genético demandam uma nutrição mais sofisticada, composta por ingredi- entes de alta digestibilidade, para alcançarem sua capacidade produtiva máxima. Por outro lado, animais de potencial genético inferior podem não justificar investi- mentos significativos em sua alimentação, dada a limitação natural em sua resposta produtiva. Portanto, a seleção dos ingredientes deve ser cuidadosamente ajustada não apenas à espécie, mas também à categoria específica dentro de uma mesma espécie, visando otimizar os resultados. Além disso, é importante considerar que certos ingredientes usados na nu- trição animal também são consumidos por humanos. Essa sobreposição pode gerar uma competição por recursos, especialmente em cenários onde a produção de pro- teína animal é intensiva. Assim, a gestão responsável dos recursos alimentares torna-se um elemento chave, tanto para garantir a eficiência produtiva quanto para minimizar o impacto sobre a disponibilidade de alimentos para consumo humano. Essa dinâmica sublinha a importância de abordagens sustentáveis e bem planejadas na produção animal, que levem em conta o equilíbrio entre as necessidades nutrici- onais dos animais e os impactos socioeconômicos mais amplos. ATIVIDADES DE FIXAÇÃO 1 - Qual é a definição de nutrição segundo o texto? a) Processo pelo qual os seres vivos armazenam nutrientes. b) Mecanismo pelo qual os seres vivos recebem e utilizam os nutrientes neces- sários à vida. c) Apenas a ingestão de alimentos pelos animais. d) O estudo científico dos alimentos.2 - O que são nutrientes essenciais, conforme descrito no texto? a) Nutrientes que podem ser omitidos da dieta dos animais. b) Nutrientes que não são absorvidos durante a digestão. c) Todos os nutrientes essenciais para o desenvolvimento do animal. d) Compostos que não participam dos processos metabólicos. 3 - Qual das seguintes opções é um exemplo de aditivo conforme definido no texto? a) Fenos e palhadas. b) Qualquer ingrediente de ração. mailto:secretariaead@funec.br NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 9 secretariaead@funec.br GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: Zootecnia II c) Microrganismos adicionados intencionalmente aos alimentos. d) Compostos com grande valor nutritivo 4 - Qual é a principal preocupação associada ao uso de antibióticos na alimentação animal? a) Redução no custo dos alimentos. b) Aumento do peso dos animais. c) Resistência bacteriana afetando a saúde humana. d) Melhoria no sabor dos produtos animais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) ANDRIGUETTO, José Milton et al. As bases e os fundamentos da nutrição ani- mal. Reimpressão. São Paulo: Nobel, 2006. 2) ARAÚJO, Lúcio Francelino. A importância da nutrição animal. In: ARAÚJO, Lúcio Francelino; ZANETTI, Marcus Antônio (Eds.). Nutrição Animal. Barueri: Manole, 2019. 3) PESSOA, Ricardo Alexandre Silva. Nutrição animal: conceitos elementares. 1. ed. São Paulo: Editora Érica, 2014. mailto:secretariaead@funec.br
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