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PROCESSO CIVIL I Resumo Processo Jurisdicional Democrático

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TRABALHO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I: 
 
RESUMO DA OBRA “PROCESSO JURISDICIONAL DEMOCRÁTICO” 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O Direito Processual teve sua autonomia em relação ao Direito Civil em meados 
do séc XIX. Nesse período, que perdurou até pouco depois da Segunda Guerra 
Mundial, pode-se dizer que o direito processual passou por duas fases, frutos dos 
paradigmas Estatais, havendo a transição de um liberalismo processual para uma 
socialização do processo. 
 Em ambas visões do direito processual, tanto liberal quanto a socializadora, o 
processo assume um papel de mero instrumento de jurisdição, ou seja, sua função 
seria a de um instrumento técnico de resolução de conflitos de interesses, visando 
soluções práticas. 
 O processo liberal do séc. XIX era marcado pela escrita e o domínio das partes. 
Diante de movimentos reformistas do sistema processual iniciados no final do mesmo 
século, a tendência era a transição desse processo para um que seguia as 
perspectivas da oralidade e do princípio autoritário, marcado pelo ativismo judicial. 
Nesse modelo processual, haveria a atribuição da direção do processo por parte do 
juiz, não apenas no aspecto formal de regular e promover a ordem e o ritmo dos atos 
do processo, mas também no aspecto material, que diz respeito ao controle e iniciativa 
oficiosa na constituição do fato a ser julgado. Dessa forma, esvaziou-se 
completamente a participação dos indivíduos. 
 Em meados do século XX, o processo deixa de ser visto apenas como um 
instrumento de jurisdição e passa a ser visto como, segundo palavras de FAZZALARI 
(1958, p. 875), um “instituto fomentador democrático”, ou seja, como um meio que 
permita aos indivíduos influir na tomada de decisões jurisdicionais. A proposta que 
surge, então, é de um processo que conjugue ambas as perspectivas, tanto liberal 
quanto social, garantindo a participação de todos os interessados nos procedimentos 
deliberativos de decisões. Tal estruturação do processo só encontra respaldo em um 
Estado democrático e será um meio de obtenção e garantia de direitos fundamentais 
muitas vezes não assegurados ordinariamente. 
 Na segunda metade do séc XX, observa-se no âmbito do processo jurisdicional 
uma predominância e busca por resultados práticos, que apresentassem uma solução 
rápida das controvérsias com o mínimo de atividade jurisdicional, visando alcançar um 
processo em “tempo razoável”. No entanto, tal busca não pode negligenciar o papel 
importante que o processo possui, enquanto garantidor da participação dos indivíduos 
e de direitos fundamentais. 
 O aumento dos poderes judiciais, com a decorrente delimitação de um 
protagonismo do juiz, a importância da estrutura processual balizadora dos discursos 
jurídicos da aplicação e a reinterpretação de alguns dos princípios processuais 
constitucionais, hoje, são temas importantes do direito processual que devem ser 
debatidos para se buscar um processo mais democrático e que garanta a 
comparticipação de todos os interessados nos procedimentos deliberativos de 
decisões. 
DA RECONSTRUÇÃO DO SISTEMA PROCESSUAL, A PARTIR DA FASE PRÉ-
LIBERAL E DO LIBERALISMO PROCESSUAL 
 
 O movimento de reforma do processo civil perpassou por dois extremos: de um 
lado o predomínio da escritura e da participação das partes e de outro o predomínio 
da oralidade e o ativismo do juiz. O primeiro extremo corresponde ao liberalismo 
processual, enquanto que o segundo corresponde à socialização processual. 
 A socialização processual, marcada pela oralidade e pelo aumento da 
ingerência do Estado no decorrer do processo possuía a pretensão de acelerar os 
atos processuais. 
 Essa estruturação técnica do procedimento retrata o próprio ideal do papel dos 
indivíduos de acordo com a época. A perspectiva liberal é fruto de um Estado Liberal-
burgues, que pressupõe a existência de cidadãos auto-suficientes, que não precisam 
do Estado para defender seus interesses. Já a perspectiva social, fruto do Estado 
Social, pressupõe indivíduos hipossuficientes, que necessitam da atuação do Estado 
para defender seus direitos. 
 Essas perspectivas levaram à sobrevalorização de princípios diversos. No 
processo liberal há o destaque do princípio do dispositivo, ou seja, aquele que prevê 
o monopólio das partes no que tange à provocação da análise dos conflitos e do 
prosseguimento do processo. Já no processo socializador há o reforço dos poderes 
do juiz, sobretudo oficiosos. 
 Ocorre que no Brasil, apesar da implementação legislativa de um modelo oral, 
há o predomínio das práticas escritas, em conformidade com o modelo liberal escrito 
de processo. Há, na verdade, um perfil neoliberal do processo, vez que possui 
características do liberalismo processual, cumuladas com uma lógica da massificação 
e da produtividade no exercício da jurisdição, na busca de uma suposta eficiência. 
 O ideal, que deve ser buscado, é unir as virtudes dos dois macromodelos até 
então apresentados e abandonar seus respectivos equívocos. 
 
 
 Sistemas processuais pré-liberais 
Processo Comum (Antigo Regime; sécs. XIII a XVIII) 
O processo apresentava-se como uma sucessão caótica de atos, estruturada 
tecnicamente mediante a escritura e a formalidade exacerbada. Desenvolvia-se 
prevalentemente entre os advogados das partes, mediante a troca de petições e 
réplicas ilimitadas. 
O juiz se apresentava como um mero espectador, não mantendo contato direto 
com as partes e as provas (veto à imediatidade), para garantir sua imparcialidade. 
Dessa forma, ele julgava apenas de acordo com os autos. 
Antes, o juiz estava subordinado ao pagamento da parte vencedora, desse 
modo, ele favorecia à parte mais rica. Em 1770, ocorreram alterações no sentido de 
que o juiz, agora, seria pago pelo Estado e seria pré-constituído, ou seja, criou-se a 
figura de juízes naturais. 
Em suma, as características do processo comum são: 
1) Monopólio do procedimento escrito 
2) Proibição da imediatidade do juiz com as partes e as provas 
3) Utilização do sistema de apreciação de provas tarifário 
4) Desenvolvimento do processo de modo descontínuo e fragmentado, devido 
à ausência de direção formal do procedimento pelo juiz 
5) Medidas protelatórias, recursos e manobras abusivas por parte dos 
advogados 
6) Enorme duração dos processos civis (décadas) 
Com a estruturação dos Estados Modernos, os soberanos reivindicam o 
monopólio da legislação processual, atingindo o processo. A legislação prussiana 
privilegiava a posição do juiz, buscando obtenção rápida da decisão dos fatos incertos. 
(Isso demonstra um afronta ao contraditório). 
 
 
 Da prévia percepção de ressonância de paradigmas jurídico liberal e 
social nos sistemas processuais 
A forma de estruturação do sistema jurídico, bem como do processo, guarda 
uma correlação com a organização estatal implementada em determinado momento 
histórico. 
Os dois maiores paradigmas a obterem maior êxito na história são o paradigma 
do Estado liberal, consolidado a partir da Revolução Francesa, e o paradigma do 
Estado social, consolidado a partir das lutas sociais e do desenvolvimento teórico do 
final do séc XIX e início do séc XX. 
 
 
 As reformas decorrentes da Revolução Francesa – da estruturação das 
bases do liberalismo processual 
Reformas empreendidas no campo processual em 1790 na Assembleia 
Constituinte, mas que são abolidas em 1793. 
 Juízes com mandato temporário e remunerados pelo Estado 
 Juízes de paz (resolução de controvérsias de menor valor) 
 Permissão à autodefesa em juízo pelas próprias partes 
 Atribuição ao bureaux a tarefa de desenvolver a função consultiva e 
preventiva para os pobres em suasdefesas jurídicas 
Restauração Napoleônica 
As leis napoleônicas (Código Civil de 1804, Código de Processo Civil de 1806 
e Lei de Organização Judiciária de 1810) culminaram no abandono dos ideais 
humanitários e igualitários, consumidos pelo autoritarismo da reforma napoleônica. 
O juiz passa a ser um funcionário do Estado, reduzindo a possibilidade do 
arbítrio e da incerteza. 
Havia uma regulamentação formal dos atos do processo e há o embasamento 
nos princípios da oralidade e da obrigatoriedade da motivação das decisões, no livre 
convencimento do juiz e na paridade formal das armas entre as partes. 
 
 
Caracteres técnicos do processo liberal – Liberalismo processual 
Os princípios do domínio das partes no processo, a escritura, a igualdade 
formal e o princípio do dispositivo são caracteres técnicos do processo liberal que 
buscavam a manutenção da imparcialidade e de um comportamento passivo por parte 
do juiz. 
O processo seria, então, nos moldes do processo liberal, um mero instrumento 
de resolução de conflitos, um instrumento privado, delineado em benefício das partes. 
 
 
Igualdade Formal 
Se refere à inexistência de disparidades entre os indivíduos, seria tratar todos 
os cidadãos de um modo perfeitamente igual, sem atender as suas qualidades 
pessoais e a sua posição econômica, permitindo que entre eles se estabelecesse uma 
competição ininterrupta. 
Tal concepção gera no processo uma impossibilidade de compensação das 
desigualdades (sociais e econômicas), de exercer estratégias corretivas, tanto por 
parte do juiz, quanto do Estado ao oferecer advogados. Todas as partes são tratadas 
da mesma forma no tocante à alocação dos instrumentos processuais. 
O contraditório se reduz, dessa forma, a uma mera bilateralidade de audiência. 
(A um direito de resposta) 
 
 
Do princípio dispositivo 
Refere-se ao poder monopolístico das partes de participar do processo. 
Desse princípio se extrai o veto ao juiz de instaurar e manifestar-se de ofício, 
ou seja, ele está sujeito à provocação das partes, tanto na abertura do processo, 
quanto para qualquer impulso processual, de modo que a tramitação do processo, os 
prazos e o término das fases procedimentais dependiam do livre-arbítrio das partes. 
O juiz, nessa perspectiva liberal, apresentava-se, então, como um mero 
espectador, passivo e imparcial do debate, sem quaisquer ingerências interpretativas. 
Ele apenas age diante provocação das partes. 
 
 
 
O SURGIMENTO DO SOCIALISMO JURÍDICO – DAS BASES INICIAIS DA 
SOCIALIZAÇÃO DO PROCESSO NO ÂMBITO DA LEGISLAÇÃO E DOUTRINA – 
SUA RESSONÂNCIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX 
 
 Anton Menger e Franz Klein – inspiradores da socialização processual, no 
âmbito legislativo. 
Anton Menger criticava a lógica liberal processual de liberdade de jogo das 
foças e econômica e defendia uma maior intervenção legislativa e a reestruturação de 
alguns institutos jurídicos processuais. Menger criticava a igualdade formal no 
processo, a medida em que afirma que os mais ricos sempre eram beneficiados em 
virtude dessa. Sua proposta, então, era de um modelo processual em que, através da 
intervenção da figura do juiz, fosse estabelecido um maior equilíbrio entre as partes. 
Segundo Menger, deveria haver um reforço do papel judiciário, que assumiria 
duas funções: de educador e de representante dos pobres. Como educador, ele 
atuaria extraprocessualmente, com o dever de instruir todo cidadão acerca do direito 
vigente, de modo a auxiliá-lo na defesa de seus direitos. Como representante dos 
pobres, o juiz teria uma atuação endoprocessual, vez que ele deveria assumir a 
representação da classe mais pobre. A resposta de Menger para a melhoria do 
sistema jurídico seria, portanto, a boa escolha de juízes de juízes sociais. 
As propostas de Menger influenciaram a primeira legislação tipicamente 
socializadora, a Ordenança processual civil do império austro-húngaro, de 1895, 
ÖZPO, elaborada por seu aluno, Franz Klein. Foi delineado um modelo de processo 
claramente antiliberal e autoritário, à medida em que limitava a liberdade das partes 
mediante a atribuição do papel de senhor do juízo ao magistrado. 
Klein acentua a prioridade da função social do processo, sobre as funções 
políticas e econômicas, e, para tanto, estrutura um modelo técnico de procedimento 
oral, caracterizado pelo reforço dos poderes do juiz, que participa mais intensamente 
da direção do processo e influi mais ativamente no acertamento dos fatos. Ainda, há 
a oferta de um processo rápido, vez que a rapidez do processo seria um anseio da 
sociedade. 
 Primeiras ressonâncias da legislação de Klein nas legislações – sistemas 
alemão, italiano e brasileiro 
Alemanha 
A primeira legislação processual liberal a sofrer a ressonância do movimento 
socializador de Klein foi a ZPO alemã de 1877. Ela passou por duas grandes reformas, 
em 1924 e 1933, as quais, em conjunto, retiraram das partes o domínio sobre os 
prazos do processo e tornaram o juiz ativista. 
Haveria um protagonismo do juiz, que passa a ser, assim, o protetor dos valores 
do povo, que aplica o direito de acordo com a atual vontade jurídica, com a ideia 
concreta do direito da comunidade. Pode-se dizer, então, que o juiz do período nazista 
não era, então, estritamente positivista, vez que era portador de uma concepção 
privilegiada de valores uniformes compartilhados. 
 
 
Do sistema italiano e do projeto Solmi 
Na primeira metade do séc XX, a preocupação reformista foi centrada no 
princípio autoritário. 
O projeto Solmi de reforma, que serviu de base para o Código Italiano de 1940, 
afirmava que as vases do Estado deveriam se fazer presentes no processo, que é 
representado pela figura do juiz. Exaltava-se a busca pela celeridade, mediante um 
sistema preclusivo mais rigoroso e uma intervenção mais efetiva do juiz pela aplicação 
do princípio autoritário, que permitia ao juiz maiores poderes discricionários. 
Os movimentos reformistas, com destaque para o projeto Chiovenda, 
defendiam um processo marcado pelo princípio da oralidade e outros princípios 
técnico-processuais, que se apresentariam como condição de melhor eficácia do 
processo oral, que são eles: 
a) Imediatidade da relação entre o juiz e as pessoas cujas declarações ele 
deveria valorar (partes e testemunhas) 
b) Identidade física do juiz durante o desenvolvimento da causa 
c) Irrecorribilidade das interlocutórias 
d) Concentração do exame de causa num período único de debate, que será 
desenvolvido numa audiência ou em poucas audiências próximas 
e) Aumento dos poderes judiciais com a adoção do princípio autoritário 
 
 
 
 
 
Primeiras ressonâncias da socialização na legislação processual 
brasileira 
No Brasil, a tendência processual social foi evidente no Código de Processo 
Civil de 1939, o qual estabelecia a intervenção do Estado, através de um papel ativo 
do juiz, e um modelo oral e concentrado de processo de cognição. 
Entretanto, na prática, a oralidade quase nunca fora levada a sério, vez que as 
argumentações de convencimentos são, em grande parte, reduzidas a escrito. De 
fato, o único aspecto da socialização que se implementou no Brasil foi o de se reforçar 
o papel da magistratura e a crença de sua superioridade. 
 
 
As bases da socialização processual no âmbito doutrinário – teorias de 
Bülow – relação jurídico processual e aplicação jurídica solitária e sensível pelo 
julgador. 
Paralelamente ao esforço doutrinário de Klein, surgiu, na Alemanha, uma nova 
linha teórica, inaugurada por Oskar Bülow, denominada “processualismo científico”, 
segundo a qual o processo constitui uma relação jurídicalastreada primordialmente 
na figura do juiz, apresentando-se as partes como meros colaboradores. 
Tal teoria fora criticada por apresentar o processo como uma relação jurídica 
e, ainda, pela implementação do protagonismo judicial, que esvaziaria o papel técnico 
e institucional do processo. 
Bülow buscava uma aplicação livre e subjetiva do direito pelos juízes, que 
deveriam desenvolver sua função com sabedoria e sensibilidade, contribuindo para o 
progresso e completude da edificação do ordenamento jurídico, que a lei somente 
teria iniciado. 
Tais tendências socializadoras, àquela época, representavam um momento 
crítico em relação ao sistema processual liberal, ou seja, o protagonismo judicial 
defendido pode ser explicado pela luta travada pelos juristas contra aplicação liberal 
do direito. No entanto, atualmente, defender esse protagonismo, bem como defender 
a necessidade de uma melhor formação do juiz, e somente dele, implica admitir um 
esvaziamento exacerbado do papel das partes. 
 
 
 
 
 
 
DA SOCIALIZAÇÃO PROCESSUAL NO SEGUNDO PÓS-GUERRA – DO 
PROJETO FLORENÇA DE ACESSO À JUSTIÇA E SUA REPERCUSSÃO NOS 
SISTEMAS PROCESSUAIS 
 
 Passagem do Estado de Leis para o Estado de Juízes? 
A socialização processual representa, para muitos doutrinadores, uma 
diminuição da importância do legislador e uma potencialização do papel da 
magistratura. 
A partir do segundo pós-guerra, é possível observar uma a tendência à um 
movimento de socialização processual, no qual há uma simplificação procedimental 
que representaria uma possibilidade de permitir aos culturalmente menos dotados a 
acessibilidade, inclusive com a possiblidade de se defender pessoalmente perante o 
juiz. 
 
 
 Do socialismo processual dos países do Leste Europeu no segundo pós-
guerra 
Nos países do Leste Europeu, no pós segunda guerra, houve um aumento da 
ingerência da União Soviética, culminando em uma socialização processual. As 
finalidades do processo civil na URSS passam a consistir, então, no julgar e decidir 
rapidamente e corretamente as causas civis, com o escopo de proteger a estrutura 
socialista. 
O papel do advogado deixa de ser indispensável, como era no processo liberal, 
e se limita a ofertar um suporte psicológico e a buscar maior rapidez procedimental, 
ou seja, houve uma perda de importância no papel das partes. Os advogados e as 
partes passam a assumir uma postura passiva e espectadora. 
Além disso, os juízes ganharam poderes oficiosos, que permitiu a não 
vinculação desse às alegações e provas deduzidas pelas partes, estando autorizado 
a suscitar de ofício aspectos fáticos e questões relevantes para a decisão, podendo, 
inclusive atribuir formas de tutela não requeridas, se considerar apropriado para a 
questão. 
Verificou-se, desse modo, um aumento demasiado dos poderes judiciais, 
gerando, posteriormente, nesses sistemas uma enorme preocupação. Em 1971 foi 
realizado um congresso o qual discutia a necessidade de instrumentos práticos 
direcionados à indução das partes a um comportamento ativo e responsável, vez que 
a interação entre o juiz e o advogado deve ser vista em perspectiva comparticipativa. 
 
 
 Do ápice da socialização processual: do Projeto de Florença de Acesso à 
Justiça 
O Projeto Florença de acesso à justiça foi levado a cabo a partir de 1973 e 
serviu de base para os movimentos reformistas a partir de então. 
Em suma, o movimento idealizava: 
1) Procedimentos orais 
2) Aumento da ingerência dos juízes 
3) Assistência jurídica integral e gratuita 
4) Assegurar uma tutela efetiva dos interesses difusos ou coletivos, para 
proteção do consumidor e do meio ambiente 
5) Simplificação dos procedimentos e a utilização de formas privadas ou 
informais de solução de conflitos 
 
 
Exemplo Alemão: modelo Stuttgart e da reforma de simplificação 
Idealizado pelo professor Fritz Baur, o qual informava que as reformas 
processuais até então realizadas (de 1924 e 1944), que adotavam a oralidade o 
ativismo judicial, não foram suficientes para a resolução de problemas de demora do 
processo. Ainda, segundo o mesmo, a ausência da rapidez procedimental não 
dependia única e exclusivamente dos sujeitos processuais. 
A reforma empreendida deu-se no sentido de simplificar o processo, 
possibilitando a contração do procedimento e o aumento dos poderes judiciais, 
utilizando-se de uma preparação escrita e adequada dos sujeitos processuais, juiz e 
partes, para a audiência oral, de modo que estes vão para ela completamente 
preparados para um diálogo ativo e efetivo sobre os fatos e o direito. 
A partir desse modelo, instaurou-se no sistema alemão, no início da audiência 
principal, antecedida por uma fase preparatória desta, a observância de uma 
explanação judicial sobre os pontos controvertidos e aqueles que se consideram 
importantes para o julgamento da causa. 
A legislação Alemã representou uma das primeiras a demonstrar a 
preocupação com a fase técnica preparatória do procedimento cognitivo como 
mecanismo técnico de fomento ao debate e de implementação do contraditório e da 
visão comparticipativa. 
 
 
Exemplo português: adoção do princípio da cooperação intersubjetiva 
A reforma ao CPC português de 1939 tentou, além de implementar o ativismo 
judicial, estabelecer uma repartição da direção do processo entre partes e juiz, 
mediante a aplicação técnica do denominado princípio da cooperação intersubjetiva, 
que se propões a uma auto responsabilização de todos os sujeitos processuais. 
A aplicação de tal princípio cria para o magistrado os deveres de prevenção, 
esclarecimento, assistência às partes e, principalmente, consulta às partes sobre os 
pontos fáticos e jurídicos que cercam a demanda. 
Um dos principais momentos de instauração dessa cooperação é a “audiência 
preliminar’, na qual o Tribunal tenta conciliar as partes, aprecia as exceções dilatórias, 
permite o suprimento de insuficiências ou omissões na exposição da matéria de fato 
e seleciona, após um debate, a matéria de fato relevante a que constitui a base 
instrutória da causa. Há a preparação das diligencias probatórias que serão realizadas 
antes do julgamento. 
Instaurou-se um sistema condicionado pela oralidade e concentração, com uma 
fase de articulados e duas audiências, uma preliminar e outra de discussão e 
julgamento. 
O modelo lusitano trouxe, ainda, como inovação a agregação para as ações 
idênticas, chamadas de “litígios de massas”. 
 
 
Exemplo inglês: o ativismo judicial mediante a implementação do case 
management 
O processualismo inglês, e do common law de forma geral, partia do 
pressuposto da igualdade material entre as partes, da predominância do papel das 
partes e dos advogados (adversary) e da não intervenção da autoridade judiciária. No 
entanto, a partir de 1999, buscou-se, sem abandonar a tradição oral e adversarial do 
sistema, uma intervenção gerencial das cortes, visando a extirpar possíveis abusos 
do sistema. 
Com o princípio técnico do case management, que surgiu nesse movimento de 
reforma, foi estabelecida a intervenção judicial durante todo o iter processual a partir 
da citação, ou seja, houve a transferência da responsabilidade do controle do 
procedimento dos litigantes e seus advogados para a corte. 
Ademais, implementou-se uma forma de simplificação procedimental que 
impõe uma preocupação enorme com a celeridade processual, de modo que os juízes 
sejam incentivados claramente a um papel de direção que almeje a sua liberação do 
máximo de causas. 
O atual sistema inglês, na utilização do case management, adota um sistema 
bifásico no qual há uma fase preliminar em que fomenta-seo debate de modo a a 
escolher e preparar uma segunda fase de discussão. 
Ainda, criou-se um modelo opcional para o sistema de procedimentos especiais 
(tutelas diferenciadas), baseado na complexidade substancial das causas. 
 
 Da crise do Estado Social e da busca de novas perspectivas 
O modelo de socialização processual, característico do paradigma de Estado 
Social começou a entrar em crise, de modo mais evidente, a partir da década de 1970, 
momento em que a crise do Welfare State estava implementada, pela incapacidade 
do Estado provedor de cumprir e aplicar todas as suas promessas. 
A partir daí, busca-se, então, uma alternativa, cuja resposta se encontra em um 
terceiro paradigma, denominado “Estado Democrático de Direito”. 
A construção do sistema processual necessita, nesse momento, ser revista, 
não sob a perspectiva liberal ou social, mas, sim, mediante a unilateralidade das 
perspectivas e garantindo-se complementaridade entre as autonomias pública e 
privada, de modo que os direitos fundamentais não possam ser reduzidos nem a 
direitos liberais de defesa, nem mesmo a direitos de prestação positiva em face do 
Estado. 
O processo, nessa nova perspectiva deve assegurar a participação de todos os 
interessados na tomada de decisões, se preocupando com a normatividade interna 
do sistema jurídico e não apenas com sua eficiência.

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