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Fascículo completo Argumentação jurídica lógica e raciocínio lógico

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Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
 
 
 
 
ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: 
LÓGICA E RACIOCÍNIO LÓGICO 
Magna Campos 
 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
2 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
 
Ms. Magna Campos 
Ao longo dos anos, muitos bacharéis de direito se formam com extensa bagagem teórica e 
pouco conhecimento da realidade jurídica. É cada vez mais comum, a produção de peças 
processuais redigidas de forma ambígua e sem argumentações consistentes e plausíveis, 
bem como, discursos argumentativos fracos e desconexos para a audiência. 
Diante de tal situação, é importante que os profissionais do direito compreendam a 
necessidade da retórica1 na construção do discurso jurídico. Pois, ainda que haja 
conhecimento técnico, é preciso dominar a arte da persuasão e do convencimento, 
fundamentais para a adesão do juiz e demais participantes do processo às ideias e 
proposições defendidas. 
Tendo em vista essa realidade, procuro com estas aulas, argumentar em prol da importância 
de os cursos de Direito dedicarem atenção especial ao ensino da argumentação, como 
temática essencial a ser trabalhada na formação dos estudantes desde a graduação. Desta 
forma, descrevo algumas questões básicas relacionadas à lógica na argumentação jurídica 
em sua relação com a lógica clássica, fonte de parte de sua base argumentativa. 
A temática, além da importância sabida, vem recebendo ainda mais atenção após a entrada 
em vigor do Novo Código de Processo Civil (NCPC), tendo em vista que o documento traz 
em seu artigo 489, no parágrafo 1º, o dever de o juiz fundamentar de forma substantiva as 
decisões judiciais, nas quais se deve primar pelo ônus da dialeticidade2 e pelo ônus 
argumentativo3. De acordo com o disposto no artigo mencionado: 
 
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela 
interlocutória, sentença ou acórdão, que: 
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem 
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; 
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo 
concreto de sua incidência no caso; 
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; 
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, 
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; 
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar 
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob 
julgamento se ajusta àqueles fundamentos; 
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente 
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em 
julgamento ou a superação do entendimento. (BRASIL, Lei 13.105, 2015)
4
 
 
A decisão judicial quer seja interlocutória, sentença ou acórdão que violar as obrigações 
acima dispostas, será impugnável. Desta forma, o NCPC enfatiza a garantia constitucional 
de a parte obter uma decisão fundamentada substancialmente. O que, de certa forma, leva 
a entender que, se o juiz precisa realizar a fundamentação analítica, as partes assim 
também o devem proceder, portanto, o advogado do autor não pode limitar a pretensão em 
juízo a apenas fazer a indicação, a reprodução ou a paráfrase da lei, da jurisprudência ou da 
 
1
 Retórica aqui usada na acepção de argumentação. 
2
 De cotejar as principais argumentações das partes e não apenas a que tem mais a ver com sua decisão. 
3
 Não apenas dizer a decisão, mas fundamentá-la e defendê-la, mostrar a relação entre causa e decisão. 
4
 BRASIL. Lei 13.105 de 16 de março de 2015: dispõe sobre o Novo Código de Processo Civil. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm .Acesso em: 
03 jun. 2017. 
Magna Campos 
doutrina, sem explicar e/ou argumentar sua relação de causa com o caso concreto. 
Estabelecendo-se, desta forma o ônus argumentativo, entretanto, alguns autores, como é o 
caso Sivolella (2016) explicam que esse ônus refere-se aos argumentos relevantes à lide, 
mas não a todo e qualquer argumento apresentado. 
 Assim, 
A ‘tridimensionalidade’ do contraditório busca elevar o papel do Juiz que 
concede a oportunidade de manifestação, ao Juiz que efetivamente 
considera as razões expendidas pelas partes na sua convicção, como meio 
de construção participativa da fundamentação das decisões judiciais, que 
remete, volto a dizer, à fundamentação ampla dos argumentos relevantes à 
resolução da lide, e não de ‘todo e qualquer’ argumento apresentado. Essa 
é a compreensão ‘segundo a Constituição’ que deve permear a 
fundamentação substantiva da sentença. (SIVOLELLA, 2016, 161)
5
 
 
Se aprender sobre argumentação e a argumentar adequadamente já era desejável aos 
estudantes e necessário aos profissionais do direito, pós NCPC, isso se torna pré-requisito 
indispensável. 
O conhecimento jurídico propriamente dito representa, então, uma série de 
informações que se encontram à disposição do argumentante, mas elas por 
si mesmas não garantem a capacidade de persuasão. Informações puras 
não se combinam, não fazem ninguém chegar a conclusão alguma, a não 
ser que sejam intencionalmente dirigidas, articuladas para convencer 
alguém a respeito de algo. (RODRÍGUEZ, 2005, p. 6)
6 
Neste sentido, o estudo da argumentação via lógica clássica, além de outros elementos 
pertencentes à teoria e prática argumentativa7, tem muito a contribuir para a formação do 
profissional da área. 
 
Raciocínio lógico demonstrativo X Raciocínio lógico dialético 
 
Ao contrário das ciências exatas, o Direito, por pertencer às ciências sociais, não é uma 
ciência demonstrativa, como muitos tentam reduzi-lo. O sistema jurídico não é 
demonstrativo, mas dialético e, por isso mesmo, retórico. Por isso, a afirmativa positivista 
que já se tornou lugar comum de que: CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS, é uma 
tentativa de apagar o papel argumentativo e dialético presente no direito. Pois CONTRA 
FATOS, HÁ SIM A POSSIBILIDADE DE ARGUMENTAR, afinal os argumentos existem para 
confrontar e refutar coisas, inclusive fatos. 
Os que assumem essa falácia entendem que o fato “fala por si mesmo”, reduzindo o papel 
do profissional do direito apenas ao de descrevê-lo tal como ele é, sem tirar, nem pôr. 
Todavia, o Direito não se reduz à descrição, mas é essencialmente, uma área da 
argumentação e da dialeticidade. 
Por exemplo: uma folha de antecedentes criminais do réu juntada aos autos 
de um processo constituiu uma informação, assim como um livro de 
doutrina jurídica representa também um conteúdo informativo denso em 
 
5
 SIVOLELLA, Roberta Ferme. A sentença e a fundamentação substantiva no novo CPC. Revista 
Fórum Trabalhista, Belo Horizonte, ano 5, n. 20, p. 153-163, jan./mar. 2016. 
6 RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Argumentação jurídica: técnicas de persuasão e lógica informal. 4. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 2005. 
7
 Convencer, persuadir, manipular, argumentação falaciosa, argumentação não falaciosa, sistema retórico dentre 
outros, por exemplo. 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
4 
relação a um caso concreto que se pretenda defender. Eles não têm função 
autônoma para alterar o resultado de um processo judicial qualquer, a não 
ser que sejam invocados como razão, intencionalmente, por um trabalho de 
raciocínio: a folha de antecedentes, revelando primariedade do acusado, 
pode convencer o juiz a aplicar-lhe uma pena no mínimo legal, assim como 
uma citação de um trecho do livro da doutrina jurídica pode convencer a 
respeito de determinada tese, explicada e defendida por uma reconhecida 
autoridade no campo do Direito. Em ambos os casos, à informação foi 
aplicada um raciocínioargumentativo, e somente a partir disso ela passou a 
surtir um efeito prático. (RODRÍGUEZ, 2005, p. 7) 
Entretanto, a parte contrária do processo pode trabalhar essas mesmas informações para 
refutá-las, combatê-las ou enquadrá-las em outro discurso argumentativo, diminuindo-lhe ou 
mesmo anulando-lhe a importância. 
Por isso, o prof. Fábio Ulhôa (2004)8 afirma que em lugar do raciocínio demonstrativo, o que 
predomina no sistema jurídico é o raciocínio dialético e o raciocínio argumentativo, ou seja, 
lados diferentes apresentam visões diferentes e com base nelas formulam argumentações 
distintas, sobre as quais alguém tem que decidir qual a mais razoável, qual a mais plausível, 
portanto, qual a mais verossímil. Diferentemente, do raciocínio lógico demonstrativo que é 
analítico e fundado numa verdade absoluta, sem espaço para o contexto e para a dialética. 
Assim, a argumentação em lugar da demonstração. 
 
Argumento e verdade 
 
Perelman e Tyteca na obra Tratado da argumentação: a nova retórica, demonstram uma 
teoria da argumentação ou da retórica contra o racionalismo (Descartes), nela os autores 
desenvolvem a sua teoria (contra o racionalismo) esforçando-se por valorizar o verossímil 
relativamente ao necessário e por destacar a importância das opiniões por comparação com 
os fatos. 
Assim, as premissas no raciocínio jurídico não são propriamente dadas, mas escolhidas. O 
orador que as elege (advogado, promotor, juiz) deve, de início, buscar compartilhá-las com 
seu auditório (juiz, júri, tribunal, opinião pública etc.). Desta forma, por exemplo, o promotor, 
no júri, descreve detalhadamente a cena do crime, com o intuito de despertar nos jurados a 
certeza da culpa do acusado. Se conseguir, essa terá sido a versão dos fatos que a 
prevalecer, mesmo que a realidade tenha sido eventualmente outra. 
A argumentação não visa à adesão a uma tese exclusivamente pelo fato de 
ser verdadeira. Pode-se preferir uma tese à outra por parecer mais 
equitativa, mais oportuna, mais útil, mais razoável, mais bem adaptada à 
situação. (PERELMAN, 1998, p. 156)
9 
A argumentação preocupa-se, portanto, com o verossímil, ou seja, com o passível de 
verdade. Verossímil, segundo Citelli (1988, p. 14), "é, pois, aquilo que se constitui em 
verdade a partir de sua própria lógica”, ou seja, aquilo que é razoável, plausível e coerente. 
Mesmo o argumento demonstrativo, porém, no que concerne à discussão sobre 
verdade/verossimilhança, permite esta última porque a verdade material/real dos fatos é 
difícil de ser alcançada, mesmo com a utilização de argumentos ou raciocínios 
demonstrativos. E a argumentação pode relativizar essa verdade. Veja-se o caso adiante 
citado por Victor Gabriel Rodriguez: 
 
8
 ULHÔA, Fábio. Roteiro de lógica jurídica. São Paulo: Saraiva, 2004. 
9
 PERELMAN, Chaim. Lógica jurídica. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
Magna Campos 
Conta-se que, em plenário do Júri, o Promotor de Justiça exibia aos jurados as provas 
processuais. Procurava convencer os jurados a respeito de sua tese. Mostrava a eles, com 
muita propriedade – argumentando -, que o laudo elaborado pela Polícia Técnica concluía 
que havia 99% de chance de que o projétil encontrado no corpo da vítima fatal houvesse 
sido disparado pelo revólver de propriedade do réu. Queria dizer que o réu não poderia, 
diante daquela prova concreta, negar a autoria do crime. 
Diante de tal fortíssimo argumento, a probabilidade matemática, o defensor, em tréplica, 
formulou aos jurados a seguinte retórica: “Suponhamos que eu tivesse um pequeno pote 
contendo cem balinhas de hortelã. E que eu, então, pegasse uma delas, tirasse do papel 
celofane que a envolve e, dentro dela, injetasse uma dose letal de veneno. Em seguida, que 
eu embrulhasse novamente o caramelo letal, colocasse dentro do pote com as outras 99 
balinhas idênticas e misturasse todas. Teria algum dos jurados coragem para tirar do pote 
um caramelo qualquer, desembrulha-lo e saboreá-lo? Certamente não. Pois, se ninguém se 
arrisca à morte ainda que seja 99% de chance de apenas saborear um caramelo de hortelã, 
ninguém pode condenar o acusado, ainda que haja 99% de chance de haver disparado sua 
arma contra a vítima!”10 
 
Lógica e Raciocínio lógico 
 
A Lógica dedica-se ao estudo rigoroso, sistemático, do raciocínio e, ao fazer isso, 
estabelece um instrumental útil a esta análise. 
No Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, André Lalande, menciona os seguintes 
significados para o termo lógica, do grego logiké: 
A. uma das partes da Filosofia: ciência que tem por objeto determinar, por entre todas as 
operações intelectuais que tendem para o conhecimento verdadeiro, as que são válidas e as 
que o não são. B. Maneira de raciocinar, tal como esta se exerce de fato. Diz-se algumas 
vezes, nesse sentido, lógica natural. C. Análise das formas e das leis do pensamento quer do 
ponto de vista racionalista e crítico, quer do ponto de vista experiencial e descritivo [...]. D. 
(oposto a ilogismo). Encadeamento regular e necessário quer das coisas, quer dos 
pensamentos [...]. 
Portanto, entende-se aqui que a lógica é uma área de estudo da forma de se estruturar 
operações intelectuais válidas. 
Em nosso dia a dia, e em nossos processos de análise e conclusões das situações vividas 
ou estudadas, empregamos, muitas vezes, sem sabermos nomear, formas de raciocínio 
lógico estruturadas conforme a relação de premissas e de conclusões. 
Todavia, é salutar distinguir o que será aqui denominado de Lógica Informal Clássica de 
Lógica Formal 
: 
 
10
 RODRÍGUEZ, 2005, p. 21-22. 
1. Lógica informal: sistematizada a partir de Aristóteles (384-322 
a.C)1, na Grécia Antiga, na obra intitulada Organon, e refere-se 
ao estudo das formas de estruturar a argumentação por meio 
do raciocínio lógico essencial para a distinção entre os 
raciocínios válidos (que seguem um padrão correto de 
pensamento) e inválidos (que não seguem um padrão correto 
de pensamento). Neste sentido, a Lógica foi concebida como 
um instrumento, como um meio para a análise e a 
compreensão dos raciocínios. 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
6 
 
A lógica informal considera uma série de elementos que abrangem o entendimento do que 
é raciocínio. A lógica investiga, por exemplo, o que é proposição, o que é premissa, o que é 
conclusão, o que é uma relação de consequência e, mesmo, o que é raciocínio. o propósito 
da Lógica é estudar um padrão básico de como se deve pensar, de como devem ser 
apresentados os raciocínios. Logo, o estudo desta unidade pode auxiliar você a melhor 
identificar o raciocínio; a construir raciocínios encadeados e coerentes; assim como lhe 
possibilite identificar e evitar os raciocínios dúbios e enganosos.11 
 
2. Lógica formal: mais relacionada à matemática, é desenvolvida a partir do séc. XIX e 
contém a lógica formal como caso particular, está preocupada com símbolos e tabelas 
de verdade. Nela, são usados elementos tais como:12 
 
Símbolos: 
 
 
Tabela de verdade: 
 
 
 
11
 SELL, Sérgio; MACHADO, Renato; PACHECO, Leandro. Lógica I. Palhoça: UnisulVirtual, 2011. 
 
12
 Não será aqui estudada. Para saber mais, consulte: Gyorgy Laszlo Gyuricza: Lógica da 
Argumentação. 
Magna Campos 
Raciocínio lógico 
Leia o trecho do conto O signo dos Quatro, com o famoso personagem Sherlock Holmes, 
para pensar no raciocínio lógico desenvolvido: 
Mas você falava há pouco de observação e lógica. Até certo ponto uma implica 
a outra, não é verdade? 
— Não, senhor. Só raramente — respondeu ele, recostando-se voluptuosamente na sua 
cadeira, e tirando do cachimbo finos anéis de fumaça azulada. — Por exemplo, a 
observaçãome mostra que você esteve esta manhã na agência postal da Wigmore Street, 
mas a lógica me faz saber que, ao chegar lá, expediu um telegrama. 
— Correto — exclamei. — Correto em ambos os pontos! Mas confesso não perceber como 
possa ter chegado a isso. Foi uma coisa que de repente me deu na telha, e não a mencionei 
a ninguém. 
— Pois é a própria simplicidade — afirmou ele, rindo da minha surpresa. Tão absurdamente 
simples que torna supérflua qualquer explicação. Contudo, pode servir para definir os limites 
da observação e da lógica. A observação me diz que você tem um pequeno torrão 
avermelhado preso à sola do sapato. Exatamente em frente à agência postal da Wigmore 
Street, abriram a calçada, deixando um pouco de terra no caminho, de forma que é difícil 
não pisá-la ao entrar. A terra é de um vermelho típico, que, até onde sei, não se encontra 
em qualquer outro lugar das redondezas. Tudo isso é observação. O resto é lógica. 
— Como deduziu, então, que mandei um telegrama? 
— Ora, evidentemente, eu sabia que não tinha escrito uma carta, uma vez que passei toda a 
manhã sentado à sua frente. Vejo, além disso, que há uma folha de selos na sua 
escrivaninha e um grosso maço de postais. Para que iria, então, à agência postal, senão 
para mandar um telegrama? Elimine todos os outros fatores, e o que restar deve ser a 
verdade. 
Questão: Como Sherlock chega às conclusões apontadas? 
Entendendo o raciocínio lógico 
No raciocínio lógico, o argumento é constituído de uma ou mais premissas e de uma 
conclusão delas extraída e de proposição. 
Para entender o que é premissa, é necessário antes relembrar o que é 
sentença/enunciado. 
 
Sentenças declarativas 
 
O advogado do caso é o Bruno Landel. 
O dia está quente. 
Marcos tem 05 anos. 
A aluna Rita mora em Mariana. 
Sentenças interrogativas 
 
Que horas são? 
Você tem estudado? 
 
Sentenças imperativas Faça o que quiser. 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
8 
 Pare, por favor. 
Ajude-me. 
Sentenças exclamativas 
 
Que dia lindo! 
Ai, que sono! 
 
Observe as sentenças anteriores e perceba que as sentenças declarativas expressam um 
fato, um evento, uma situação ou episódio acerca do mundo e que nós podemos julgar 
como verdadeiro ou falso. São essas sentenças que formam as premissas: 
PREMISSA 
As premissas são formadas por sentenças 
declarativas, pois a premissa é uma sentença 
declarativa que compõe o raciocínio lógico e 
que podemos julgar como verdadeira (V) ou 
como falsa (F). Cada item que compõe o 
raciocínio lógico/ cada declaração ou razão 
apresentada no argumento para sustentar a 
conclusão. Podem ser: PM (premissa maior) e 
Pm (premissa menor). 
 
O outro elemento que compõe o raciocínio lógico é a conclusão. 
CONCLUSÃO 
é uma inferência lógica gerada a partir das 
premissas. Pode ser válida ou não. Geralmente, 
introduzida por termos como: então, logo, 
portanto... 
 
E ao conjunto formado pela(s) premissa(s) e conclusão, chama-se de proposição. 
PROPOSIÇÕES 
todo o conjunto de palavras (de caráter 
declarativo) que exprimem um pensamento de 
“sentido completo” lógico ou ideia, mais a 
conclusão lógica dele extraída. 
As premissas podem ser classificadas como: 
 Premissa maior (PM): caráter universal, geral, amplo. 
 Premissa menor (Pm): caráter particular, restrito, singular. 
Exemplo 01 de raciocínio lógico: 
Premissa 
Premissa 
Conclusão 
Todo homem é mortal. 
Sócrates é homem. 
Logo, Sócrates é mortal. 
PM 
Pm 
C 
 
Atenção: 
 A validade e a não validade são propriedades dos argumentos. 
 A verdade e a falsidade são propriedades premissas. 
 
Magna Campos 
Tipos de raciocínio lógico 
No raciocínio lógico, um argumento é constituído por uma proposição, ou seja, uma 
conclusão e as premissas que devem apoiá-la. Definição, portanto: um conjunto de 
declarações, uma das quais é a conclusão e as outras são premissas, no qual as premissas 
devem apoiar a conclusão. 
O argumentador poderá valer-se de raciocínios lógicos dedutivo, indutivo, silogístico e 
sofismático (este último é uma falha do raciocínio lógico e deverá, portanto, ser evitado) 
por meio dos quais poderá desenvolver seu raciocínio e, assim, persuadir ou convencer seu 
interlocutor. 
Raciocínio lógico dedutivo 
 O raciocínio lógico dedutivo: é uma inferência que parte da premissa maior para 
a(s) premissa(s) menor(es), produzindo dessa relação uma inferência lógica. 
Considera-se que um raciocínio é dedutivo quando, a partir de determinadas 
afirmações (premissas) aceitas como verdadeiras, o argumentador chega a uma 
conclusão lógica sobre uma dada questão discutida no processo. A aceitação da 
conclusão depende das premissas: se elas forem consideradas verdadeiras, a 
conclusão será verdadeira. 
 Podem assumir duas estruturas: 
PM 
Pm 
C 
PM 
Pm1 
Pm2 
... 
C 
 
Exemplo 1: 
PM. Todos os mamíferos têm coração. 
Pm. Todos os cachorros são mamíferos. 
C. Logo, todos os cachorros têm coração. 
 
Exemplo 2: 
PM. A lei brasileira pressupõe que toda pessoa que matar alguém, salvo em legítima defesa, 
deve ser punida. 
Pm. Ora, José Carlos matou alguém e não foi em legítima defesa. 
C. Logo, José deve ser punido, conforme previsão legal. 
 
Exemplo 3: 
 
PM. A Empresa Samarco S.A colocou todos os funcionários em sistema de layouff 
Pm1.José trabalha na Samarco. 
Pm2. Cláudio trabalha na Samarco. 
C. Portanto, José e Cláudio estão no sistema de layouff. 
 
Resumindo: um argumento dedutivamente válido é aquele em que é impossível 
que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. 
 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
10 
ANÁLISE DE CASO JURÍDICO 01: 
 
 
José Carlos dos Santos foi flagrado em blitz da polícia rodoviária federal, no último dia 
28/05/2015, na BR 040, quando dirigia seu caminhão com fita adesiva encobrindo as letras 
da placa, a fim de se furtar da responsabilidade por multas e para dificultar a fiscalização em 
pedágios. O caminhoneiro confessou que fazia isso há 02 anos, ensinado por outros 
colegas de profissão que, cansados de perderem pontos na carteira e de pagarem multas e 
pedágio, adotaram a tática ilegal. O mais incrível é que, não bastasse o flagrante 
mencionado, 15 minutos após pararem José Carlos dos Santos, seu filho, Washington 
Assunção dos Santos, que viajava pouco atrás do pai pela mesma rota (vindo de Manhuaçu 
com destino a Petrópolis-RJ), foi parado na mesma blitz e seu caminhão também 
apresentava a placa adulterada. A polícia federal afirma que vários motoristas, 
especialmente, caminhoneiros encobrem os dados da placa para manterem na impunidade 
as condutas ilegais praticadas, tais como: excesso de velocidade, ultrapassagem em local 
proibido, “furo” de pedágios sem pagamento, dentre outras. O agente federal ensina que as 
placas de um automóvel são sinais identificadores externos do veículo, obrigatórios, 
conforme dispõe o Código de Trânsito Brasileiro. Ainda, conforme art. 115 do referido 
código, a adulteração de placas não pode ser considerada mera infração administrativa e 
deverá ser julgada pelo Código Penal como crime, pois, em sendo a finalidade precípua da 
norma a autenticidade dos sinais identificadores dos veículos automotores, a potencialidade 
lesiva mostra-se evidente na coisa mesma, podendo acarretar a pena de reclusão, de 3 
(três) a 6 (seis) anos, e multa. 
 
Atividade) Coloque-se no lugar do promotor de justiça, ou seja, daquele que acusa. 
a) Com base no caso apresentado abaixo, elabore dois Raciocínios Lógicos válidos do tipo 
Dedutivo, que apresentem a seguinte estrutura: PM, Pm, C. 
b) Com base no caso apresentado abaixo, elabore um Raciocínio Lógico válido do tipo 
Dedutivo, que apresente a seguinte estrutura: PM, Pm1, Pm2, C. 
NoRaciocínio Lógico elaborado, deverá apresentar antes de cada uma das proposições, ou 
seja, de cada item, a sigla correspondente (se é PM, Pm1, Pm2 ou C.). 
 
Magna Campos 
Raciocínio lógico indutivo 
 
Antes de se tratar teoricamente do raciocínio indutivo, leia o conto O Cão e o Cavalo, de 
Voltaire, no anexo I deste fascículo. 
 
 O raciocínio lógico indutivo: quando se parte do particular (Pm) para o geral (PM), 
ou apenas do conjunto de particulares se extrai uma conclusão lógica. Caracteriza-
se essencialmente por apresentar conclusões provavelmente verdadeiras e não 
necessariamente verdadeiras. Muitas vezes, parte de indícios, evidências para gerar 
uma conclusão. 
 
Pode assumir as seguintes estruturas: 
Pm 
PM 
C 
Pm1 
Pm2 
Pm3 
... 
C 
Pm1 
Pm2 
... 
PM 
C 
 
Exemplo 1: 
Pm. Aqui temos um cão. 
PM. A maioria dos cães são amigáveis. 
C. Então, este cão é provavelmente amigável 
 
Exemplo 2: 
Pm. Há uma Lei Municipal que impede a criação de centros de Umbanda em Itabira. 
PM. A Constituição Federal afirma que toda lei que limite a liberdade religiosa deve ser 
considerada inconstitucional. 
C. Sendo assim, a Lei Municipal de Itabira que impede a criação de centros de Umbanda 
deve ser considerada inconstitucional. 
 
Exemplo 3: 
Pm1.Vi um cisne branco no lago 
Pm2.Vi dois cisnes brancos no lago 
Pm 3. Vi três cisnes brancos no lago. 
C. Logo, todos os cisnes no lago devem são brancos. (conclusão) 
 
Exemplo 4: 
Pm1. Célio está se bacharelando em Direito. 
Pm2. Carmen está se bacharelando em Direito. 
PM. Estudos da FGV mostram que bacharéis em Direito têm mais oportunidade de emprego 
que a média dos bacharéis no Brasil. 
C. Sendo assim, Célio e Carmem, provavelmente, terão mais oportunidade de emprego que 
a média dos bacharéis. 
 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
12 
ESTUDO DE CASO JURÍDICO 02: 
 
Luís Fernando de Oliveira foi flagrado pela polícia rodoviária, no dia 21/07/2016, às 10h da 
manhã, dirigindo seu veículo sem os faróis acesos. A Lei 13290/2016, decretada pelo 
Congresso Nacional em 13 de maio de 2016, dispõe que, a partir de 08 de julho de 2016, 
“todos os carros devem andar com os faróis baixos acesos, mesmo durante o dia, em 
rodovias brasileiras”, justificando-se que o uso do farol baixo, diminuiria a quantidade de 
acidentes no trânsito. O valor desta infração e de R$ 85, 12 reais e acrescenta 04 pontos 
na carteira, considerando-se uma infração média. Entretanto, a Justiça Federal em 
Brasília, em decisão liminar, proibiu em 02/09/2016 os órgãos de fiscalização de aplicarem 
multas a motoristas que dirigirem em rodovias com faróis desligados durante o dia, até 
que ocorra a correta sinalização das rodovias brasileiras. A alegação é de que os estados 
brasileiros não apresentam placas devidamente colocadas, delimitando o que é rodovia, 
estrada e apenas uma rua simples. Cabe, assim, ao motorista que se sentir penalizado e 
recebeu multa desde que a lei supramencionada entrou em vigor, recorrer ao DETRAN 
para legalizar sua situação. 
 
Atividade) Com base no caso jurídico real acima, elabore: 
a) Um Raciocínio Lógico válido do tipo Indutivo, que apresente a seguinte estrutura: Pm, 
PM, C. 
b) Um Raciocínio Lógico válido do tipo Indutivo, que apresente a seguinte estrutura: Pm1, 
Pm2, PM, C. 
No Raciocínio Lógico elaborado, deverá apresentar antes de cada uma das proposições, ou 
seja, de cada item, a sigla correspondente (se é PM, Pm1, Pm2 ou C.). 
 
 
Magna Campos 
O silogismo: 
 é um tipo de argumento composto de três proposições: duas premissas (maior e 
menor) e uma conclusão, nesta ordem. É um tipo específico de raciocínio lógico 
dedutivo. 
PM 
Pm 
C 
 
De acordo com Paiva (2011, p. 88)13, “o raciocínio jurídico, em regra, desenvolve-se por 
meio de um silogismo: a sentença é a conclusão que decorre da lei (premissa maior) 
aplicada ao fato concreto (premissa menor)”. (PM (lei geral), Pm (caso particular), C 
(decisão)) 
Exemplo 01: 
PM: Pelo direito brasileiro, todos são considerados inocentes até prova em contrário. 
Pm: Ora, não conseguiram provar nada contra o ex-funcionário acusado. 
C: Logo, ele será considerado inocente. 
 
Exemplo 02: 
 
PM. O Código Penal estabelece punição para o motorista que for flagrado dirigindo sob a 
influência do álcool. 
Pm. João foi flagrado em uma blitz dirigindo sob a influência de álcool. 
C. Portanto, pelo estabelecido na lei, João deverá ser punido legalmente. 
 
Exemplo 03: 
 
PM. Quem age em legítima defesa não comete crime. 
Pm. Joaquim agiu em legítima defesa. 
C. Logo, Joaquim não cometeu crime. 
 
 
13
 PAIVA, Marcelo. Português jurídico. [S.L]: AVM Instituto, 2011. 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
14 
ESTUDO DE CASO JURÍDICO 03: 
Proibição de tatuagem a candidato de concurso público – julgado em 17/08/2016 (com base 
no Recurso Extraordinário 898.450, julgado pelo STF) 
Henrique Lopes Carvalho da Silveira interpôs Recurso Extraordinário em face da decisão do 
Centro de Seleção, Alistamento e Estudos de Pessoal da Polícia Militar do Estado de São 
Paulo, em 2014, por tê-lo excluído de concurso público para o preenchimento de vagas de 
Soldado PM de 2ª Classe do referido ente da federação. Alega que sua desclassificação se 
deu pelo fato de que, na etapa do exame médico, foi constatado que possui uma tatuagem 
tribal de grande dimensão em sua perna esquerda, que, segundo o centro de seleção 
mencionado, estaria em desacordo com as normas do edital do concurso. A entidade 
asseverou, na oportunidade da eliminação, que o edital estabeleceu, de forma objetiva, os 
parâmetros para que fossem admitidos candidatos que ostentassem tatuagens, aos quais o 
apelado não se enquadraria. Em julgamento, ocorrido no Supremo Tribunal Federal, em 
17/08/2016, o relator do processo, Ministro Luiz Fux, decidiu que “editais de concurso 
público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações 
excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. Por isso, a eliminação 
do candidato deve ser considerada inconstitucional”. A decisão foi tomada em respeito ao 
artigo 37, I da Constituição da República, que, expressamente, impõe que “os cargos, 
empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos 
estabelecidos em lei” revela-se inconstitucional toda e qualquer restrição ou requisito 
estabelecidos em editais, regulamentos, portarias, se não houver lei dispondo sobre a 
matéria, ferindo assim, os princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade. 
Atividade) Com base no caso jurídico apresentado, elabore um silogismo jurídico: PM, Pm, 
C. 
 
 
 
ESTUDO DE CASO JURÍDICO 04: 
 
Cassio processou o seu pai Modesto alegando que ele sempre foi um pai omisso, o que lhe 
trouxe abalos psicológicos consideráveis. Em razão disso, requereu indenização por danos 
morais em razão do abandono afetivo. Em sua resposta, o pai alegou que o amor não pode 
ser uma obrigação jurídica e que, da sua parte, sempre procurou dar ao filho o suporte 
material e psicológico necessário. Alegou igualmente que o filho nunca o amou e nunca o 
tratou com carinho. Por fim, sustentou que o filho não comprovou nenhum tipo de abalo 
psicológico e que, ainda que estivesse falando a verdade, o direito não pode obrigar 
ninguém a amar e muito menos substituir o amor por uma indenização em dinheiro. Em sua 
réplica, Cassio argumentou que o pai realmente lhe dava amparo material, mas insistiu na 
tese da ausência de suporte afetivo e psicológico, afirmando que os transtornos psicológicos 
decorrentes desse tipo de situação são óbvios e não precisam de prova específica. Alegou 
também que a indenização,nesses casos, têm um caráter punitivo e pedagógico, a fim de 
dar uma resposta a um comportamento não admitido pelo direito. 
 
Atividade) Com base no caso jurídico apresentado, elabore um silogismo jurídico: PM, Pm, 
C. 
 
Magna Campos 
Sofismas14: 
 São argumentos válidos apenas na aparência, formulados com ou sem o propósito 
de induzir a erro. O sofisma pressupõe um processo de argumentação formalmente 
correto com o qual se consegue chegar a uma tese evidentemente falsa ou inválida. 
Erro lógico. 
 ATENÇÃO: NÃO CONFUNDIR SOFISTAS COM SOFISMAS!!! 
Exemplo 1: 
 
Saddam: Em 1990 invadiu outro país sem autorização da ONU por causa do petróleo. 
Em 2004, está preso e sendo julgado por crimes de guerra e contra a humanidade. 
 
Bush: Em 2002 invadiu outro país sem autorização da ONU por causa do petróleo. 
Em 2004, foi reeleito presidente dos Estados Unidos da América. 
 
Conclusão: O mundo trata melhor quem fala inglês. 
(Propaganda do CNA- Escola de Idiomas) 
Exemplo 2: 
Deus é amor. 
O amor é cego. 
Stevie Wonder é cego. 
Logo, Stevie Wonder é Deus! 
 
Exemplo 3: 
Disseram-me que eu sou ninguém. 
Ninguém é perfeito. 
Logo, eu sou perfeito. 
Mas só Deus é perfeito. 
Portanto, eu sou Deus. 
Se Steve Wonder é Deus, eu sou Steve Wonder!! 
Meu Deus, então eu estou cego!!! 
 
Exemplo 4: 
Quando bebemos álcool em excesso ficamos bêbados. 
Quando estamos bêbados, dormimos. 
Enquanto dormimos, não cometemos pecados. 
Se não cometemos pecados, vamos para o céu. 
Conclusão: para ir para o céu devemos viver bêbados. 
Exemplo 5: 
Hoje em dia, os trabalhadores não têm tempo para nada. 
No entanto, sabemos que os vadios têm todo o tempo do mundo. 
Tempo é dinheiro. Portanto, os vadios têm mais dinheiro que os trabalhadores. 
Conclusão: para ser rico não precisa trabalhar. 
Exemplo 6: 
 
14
 Exemplos retirados e adaptados de: http://www.paralerepensar.com.br/silogismos.htm. 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
16 
Você é o que veste. 
Você é o que tem. 
Você é o lugar que mora. 
Você é o que come. 
Você é o que você compra. 
Conclusão: Não importa quem você é, mas o que é! 
 
Magna Campos 
ESTUDO DE CASO JURÍDICO 05: 
 
Associação Brasileira de Proteção aos Animais x Laboratório LIFE 
 
A Associação Brasileira de Proteção aos Animais, fundada há mais de 20 anos, ingressou 
com ação civil pública contra o Laboratório LIFE, requerendo a imediata extinção de todos 
os testes com animais e a consequente liberação de todos os bichos mantidos presos para 
esse fim. Argumenta que os animais são sujeitos de direitos e, nessa condição, têm direito a 
uma vida digna, especialmente no que se refere aos mamíferos. Citou a Declaração 
Universal dos Direitos dos Animais. O Laboratório LIFE, em sua defesa, argumentou que os 
animais, no direito brasileiro, não são sujeitos de direito, mas sim objetos, motivo pelo qual 
podem ser sacrificados em nome do bem estar humano. Argumenta que a extinção geral 
dos testes com animais é desarrazoada, especialmente no seu caso, que produz 
medicamentos - e não cosméticos ou outros produtos não essenciais para a saúde humana 
- e toma o cuidado de se utilizar apenas de testes indolores, nos quais os animais são 
anestesiados desde o início do procedimento. 
 
Atividade: com base no caso, coloque-se: 
 
1) no papel de acusação, e elabore: 
 
a) Um raciocínio lógico dedutivo e gere uma conclusão válida dele. 
b) Um raciocínio lógico indutivo e gere uma conclusão válida dele. 
 
2) no papel da defesa, e elabore: 
 
a) Um raciocínio lógico dedutivo e gere uma conclusão válida dele. 
b) Um raciocínio lógico indutivo e gere uma conclusão válida dele. 
 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
18 
Lógica jurídica 
 
A argumentação opera no sentido de convencer e/ou persuadir uma ou mais pessoas sobre 
determinado tema ou ideia e pode ser utilizada em qualquer área do saber. Contudo, 
diferentemente das ciências exatas, a argumentação jurídica não trabalha com verdades 
irrefutáveis, mas versões de um fato ou axioma que se encaixem nos interesses do orador. 
O Direito, ao contrário das disciplinas lógicas e matemáticas, não oferece premissas 
imutáveis, uma vez que é impossível catalogar todas as interações humanas passíveis de 
sua tutela. Assim, as ciências jurídicas se apoiarão em normas orientadoras, 
jurisprudências, balizadores de conduta e presunções jurídicas (comportamentos/ideias 
aceitos pela comunidade) para orientar e balizar os argumentos a serem produzidos. 
E neste contexto, Rodríguez (2005) reforça que o fator de persuasão mais válido é o 
raciocínio jurídico usado tanto na interpretação normativa quanto na análise das provas. E 
esse raciocínio jurídico depende dos argumentos para ser exteriorizado. 
Neste sentido, os profissionais do direito podem recorrer ao silogismo jurídico para uma 
estruturação lógica do raciocínio, buscando apresentar coerência de qualidade entre os 
fatos, as premissas legais ou valores de conduta e a necessidade de amparo jurídico. 
Partindo destas premissas norteadoras, o orador, como ensina Voese (2006), pode se valer 
da lógica jurídica que está prevista em três etapas. 
No primeiro momento, conhecido como premissa maior, o orador deverá demonstrar a 
coerência entre a lei, jurisprudência ou presunções jurídicas e a versão de um fato que se 
deseja acusar ou defender. É essencial, que o argumentador discurse de forma abrangente, 
para que as próximas fases sejam alocadas no contexto que se propõe argumentar. 
Quando tal premissa não toma a lei como referência, mas um valor instituído na sociedade, 
o orador terá que convencer a plateia de que o entendimento apresentado é aceito pelo 
coletivo e que existe verossimilhança no que foi exposto. Esse recurso dialoga com o do 
enquadramento do discurso argumentativo proposto de Perelman e Olbrechts-Tyteca 
(1996). 
Vale lembrar que a utilização de mecanismos legais (lei, jurisprudência ou presunções 
jurídicas) facilita a sustentação da tese, porquanto, já é um instituto consolidado. Porém, não 
garante o sucesso da argumentação, que será construído nas próximas etapas. 
A segunda fase, conhecida como coesão, é o momento da argumentação jurídica em que o 
objetivo é apresentar elementos que contextualizem o ato e sustentem a tese. Para isso, o 
argumentador poderá recorrer a provas e indícios que julgar importantes na construção da 
verossimilhança e referência legal. 
É importante salientar que todos os meios de provas estão submetidos à heterogeneidade 
social e referencial, ou seja, podem ser avaliados de acordo com as ideias pré-concebidas 
do orador e do juiz. Além disso, devem obedecer as normas e presunções, pois serão 
classificados por sua qualidade e efeitos legais. 
Por fim, a terceira etapa, corresponde ao fechamento do raciocínio lógico. Nesse ponto, o 
orador justificará a necessidade de uma decisão legal sobre o conflito que se apresenta. 
Ressaltemos que a argumentação preocupa-se com o verossímil, ou seja, com a versão 
mais coerente e plausível e não propriamente com a verdade. Afinal, não podemos 
esquecer que 
para compreender a argumentação deve-se abandonar o conceito binário 
de certo/errado. No Direito concorrem teses diferentes, e não 
necessariamente existe uma verdadeira e outra falsa. O que existe é, no 
momento da decisão, uma tese mais convincente que as demais. 
(RODRÍGUEZ, 2005, p. 13) 
Magna Campos 
 
As versões das partes não se preocupam tanto com a verdade, mas, sim, em garantir que 
uma determinada tese, na qual sempre se encontram embutidos interesses e valores, 
prepondere sobre a outra. Desta forma, o argumento “antes de ser um modo de 
comprovação da verdade, é apenas um elemento linguístico destinado à persuasão”.(RODRÍGUEZ, 2005, p. 23) 
Por isso, a argumentação jurídica serve como critério de razoabilidade, tal qual ensina 
Asensi (2010), uma vez que no contexto argumentativo não se parte da existência de 
verdades, assim, em condições normais, sem uso de má fé de uma das partes, o argumento 
que prepondera é o argumento mais razoável, é aquele que consegue maior adesão dos 
interlocutores. Esse critério substitui o critério de verdade e valoriza a dialeticidade. 
A partir desse ponto, o magistrado, atendo-se às normas e interpretando as versões dos 
fatos apresentados, produzirá justiça no sentido pleno, ou pelo menos, impedirá ou 
minimizará uma possível injustiça. 
 
2.2. Principais características 
 
Dentre as principais características da argumentação jurídica estão: incorporação de outros 
campos do saber; o conhecimento do outro e das circunstâncias; evitar prejulgamento e 
realizar justificativas razoáveis e organização racional de ideias, como explicita Asensi 
(2010). 
A incorporação de outros campos de saber refere-se ao fato de, na argumentação jurídica, 
não bastar o apoio exclusivo nas questões sobre o Direito. A incorporação de conhecimento 
de outros campos do saber leva ao exercício da interdisciplinaridade, o qual é essencial 
para o sucesso da argumentação, tendo em vista que uma boa argumentação consegue 
articular de forma convincente e persuasiva aspectos culturais, sociológicos, políticos, 
jurídicos, linguísticos etc. Por isso, “a argumentação jurídica convincente clama 
incessantemente pela interdisciplinaridade”. (ASENSI, 2010, p. 27). 
Também é importante, sempre que possível, que o orador conheça seus interlocutores e as 
circunstâncias/contexto em que o argumento é utilizado. Pois só assim, é possível adequar 
os argumentos para incorporação dos interlocutores e compreensão dos contextos, 
garantindo mais eficácia da comunicação e da argumentação. 
Em matéria de argumentação, é preciso ter ciência que todo argumento é contingente, pois 
são passíveis de contestação, de problematização, de contraposição com a realidade. 
assim, evitar prejulgamentos é essencial para o conhecimento do outro e 
para identificar problemas, insuficiências e fraquezas dos argumentos que 
lhe são apresentados e, sobretudo, de seus próprios argumentos. É preciso 
um distanciamento para poder analisar argumentos e criticá-los de forma 
mais eficiente, rigorosa e racional, de modo a ampliar a adesão dos 
interlocutores à ideia. Ao se realizar o prejulgamento acerca do interlocutor, 
sufoca-se a possibilidade de conhecê-lo efetivamente e, assim, de adequar 
a argumentação às suas especificidades e circunstâncias. (ASENSI, 2010, 
p. 30) 
 
Proceder com justificativas razoáveis e bem fundamentadas é outra característica a ser 
perseguida pela boa argumentação. 
 
Argumentação Jurídica: Lógica e Raciocínio Lógico 
20 
ANEXO I: CONTO – O CÃO E O CAVALO - VOLTAIRE 
Zadig reconheceu que o primeiro mês do casamento é mesmo, como está escrito no 
Zenda, a lua-de-mel, e que o segundo é a lua-de-fel. Viu-se dentro em pouco obrigado a 
repudiar Azora, que se tornara dificílima de trato, e buscou refúgio no estudo da natureza. 
"Ninguém pode ser mais feliz", dizia ele, "do que um filósofo que lê nesse grande livro 
colocado por Deus ante nossos olhos. É dono das verdades que descobre; alimenta e eleva 
a alma; vive tranquilo; nada teme dos homens, e a sua extremosa mulher não lhe vem cortar 
o nariz". 
Penetrado dessas ideias, retirou-se para uma casa de campo à margem do Eufrates. 
Ali, não se preocupava ele em calcular quantas polegadas de água corriam por segundo sob 
os arcos de uma ponte, ou se caía mais uma linha cúbica de chuva no mês do rato do que 
no mês do carneiro. Não planejava fabricar seda com teias de aranha, nem porcelana com 
cacos de garrafa; mas dedicou-se principalmente ao estudo dos animais e das plantas, 
adquirindo em breve uma agudeza que lhe desvendava mil diferenças onde os outros não 
viam mais que uniformidade. 
Ora, estando um dia a passear pelas proximidades de um bosque, acorreu-lhe ao 
encontro um eunuco da rainha, seguido de vários oficiais que demonstravam a maior 
inquietação e vagavam de um lado para outro, como pessoas desorientadas que 
houvessem perdido a maior preciosidade deste mundo. 
- Jovem - disse-lhe o primeiro eunuco -, não viste o cão da rainha? 
- É uma cadela, e não um cão - respondeu Zadig discretamente. 
- Tens razão - tornou o primeiro eunuco. 
- É caçadeira, e por sinal que muito pequena - acrescentou Zadig. 
- Deu cria há pouco; manqueja da pata dianteira esquerda e tem orelhas muito 
compridas. 
- Viste-a então? - perguntou o primeiro eunuco, esbaforido. 
- Não - respondeu Zadig -, nunca a vi na minha vida, nem nunca soube se a rainha 
tinha ou não uma cadela. 
Ao mesmo tempo, por um comum capricho da sorte, sucedeu escapar-se das mãos de 
um cavalariço o mais belo exemplar das cavalariças do rei, extraviando-se nos campos de 
Babilônia. O monteiro-mor e todos os outros oficiais corriam à sua procura com mais 
inquietação do que o primeiro eunuco em busca da cadela. O monteiro-mor dirigiu-se a 
Zadig e perguntou-lhe se acaso não vira o cavalo do rei. 
- É - respondeu Zadig - o cavalo de melhor galope; tem cinco pés de altura e os 
cascos pequenos; a cauda mede três pés e meio de comprimento; o freio é de ouro de vinte 
e três quilates; e as ferraduras de prata de onze denários. 
- Que direção tomou ele? Onde está? - perguntou o monteiro-mor. 
- Não o vi - respondeu Zadig -, nem nunca ouvi falar nele. 
O monteiro-mor e o primeiro eunuco não tiveram mais dúvidas de que Zadig houvesse 
roubado o cavalo do rei e a cadela da rainha; levaram-no perante a assembleia do grande 
desterham, que o condenou ao knut e a passar o resto da vida na Sibéria. Mal se encerrara 
o julgamento, foram encontrados o cavalo e a cadela. Viram-se os juízes na dolorosa 
obrigação de reformar sua sentença; mas condenaram Zadig a desembolsar quatrocentas 
onças de ouro, por haver dito que não vira o que tinha visto. Primeiro foi preciso pagar a 
multa; depois lhe concederam licença para se defender perante o conselho do grande 
desterham. Zadig falou nos seguintes termos: 
Magna Campos 
- Estrelas de justiça, abismos de ciência, espelhos da verdade, Ó vós que tendes o 
peso do chumbo, a dureza do ferro, o fulgor do diamante e tanta afinidade com o ouro! Já 
que me é dado falar perante esta augusta assembleia, juro-vos por Orosmade que jamais vi 
a respeitável cadela da rainha, nem o sagrado cavalo do rei dos reis. Eis o que me 
aconteceu. Passeava eu pelas cercanias do bosque onde vim a encontrar o venerável 
eunuco e o ilustríssimo monteiro-mor, quando vi na areia as pegadas de um animal. 
Descobri facilmente que eram as de um cão pequeno. Sulcos leves e longos, impressos nos 
montículos de areia, por entre os traços das patas, revelaram-me que se tratava de uma 
cadela cujas tetas estavam pendentes, e que portanto não fazia muito que dera cria. Outras 
marcas em sentido diferente, que sempre se mostravam no solo ao lado das patas 
dianteiras, denotavam que o animal tinha orelhas muito compridas; e, como notei que o 
chão era sempre menos amolgado por uma das patas do que pelas três outras, compreendi 
que a cadela de nossa augusta rainha manquejava um pouco, se assim me ouso exprimir. 
Quanto ao cavalo do rei dos reis, seja-vos cientificado que, passeando eu pelos caminhos 
do referido bosque, divisei marcas de ferraduras que se achavam todas a igual distância. 
"Eis aqui", considerei, "um cavalo que tem um galope perfeito." A poeira dos troncos, num 
estreito caminho de sete pés de largura, fora levemente removida à esquerda e à direita, a 
três pés e meio do centro da estrada. "Esse cavalo", disse eu comigo, "tem uma cauda de 
três pés e meio, a qual, movendo-se para um lado e outro, varreu assima poeira dos 
troncos." Vi debaixo das árvores, que formavam um dossel de cinco pés de altura, algumas 
folhas recém-tombadas, e concluí que o cavalo lhes tocara com a cabeça, e que tinha, 
portanto, cinco pés de altura. Quanto ao freio, deve ser de ouro de vinte e três quilates: pois 
ele lhe esfregou a parte externa contra certa pedra que eu identifiquei como uma pedra de 
toque. E, enfim, pelas marcas que as ferraduras deixaram em pedras de outra espécie, 
descobri eu que era prata de onze denários. 
Todos os juízes pasmaram do profundo e sutil discernimento de Zadig, o que logo 
chegou aos ouvidos do rei e da rainha. Só se falava em Zadig nas antecâmaras, na câmara 
e no gabinete; e, embora vários magos opinassem que o deviam queimar como feiticeiro, 
ordenou o rei que lhe restituíssem as quatrocentas onças de ouro em que fora multado. O 
escrivão, os meirinhos, os procuradores compareceram em grande pompa à presença de 
Zadig, para lhe entregar as suas quatrocentas onças; apenas retiveram trezentas e noventa 
e oito para as custas do processo, e os seus ajudantes reclamaram gratificação. 
Zadig compreendeu como era, às vezes, perigoso ser demasiado sábio, e jurou 
consigo que, na próxima ocasião, nada diria do que acaso houvesse testemunhado. 
Essa oportunidade não se fez esperar. Um prisioneiro de Estado, que fugira, passou 
pelas janelas de sua casa. Zadig, interrogado, nada respondeu; mas provaram-lhe que ele 
olhara pela janela. Foi multado, por esse crime, em quinhentas onças de ouro, e ele 
agradeceu a indulgência dos juízes, segundo o costume de Babilônia. "Como é lamentável, 
meu Deus," dizia ele consigo, "ir a gente passear num bosque por onde passaram a cadela 
da rainha e o cavalo do rei! Que perigoso chegar à janela! E que difícil ser feliz nesta vida!" 
 
Tradução de Mário Quintana

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