TRABALHO FROTTEURISMO

Prévia do material em texto

ELIANE RODRIGUES
TRANSTORNO PARAFÍLICO FROTTEURISTA
JOINVILLE
2016
INTRODUÇÃO
As interpretações da sociedade sobre o que é uma conduta sexual aceitável se alteram ao longo do tempo, nas diferentes culturas, e a definição de parafilia tem sido muito debatida. Apesar disso, o termo geralmente diz respeito a fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais intensos e recorrentes em resposta a objetos e situações incomuns. De acordo com a nova classificação, a maioria das pessoas com interesses sexuais atípicos não tem um transtorno mental. Para o diagnóstico do transtorno parafílico, o DSM-5 (2014, p. 686) requer que a pessoa com interesses sexuais atípicos:  sinta angústia pessoal sobre o seu interesse sexual, não apenas sofrimento resultante da desaprovação da sociedade, ou tenha desejo ou comportamento sexual que envolva o sofrimento psicológico, lesões ou morte de outra(s) pessoa(s), ou prática sexual que envolva pessoas que não querem ou que sejam incapazes de dar o seu consentimento legal.
Analisaremos mais especificamente neste filme que tem o título “Thanks for Sharing”, “Terapia de Sexo” em português, Neil um jovem médico de urgências, portador do Transtorno Frotteurista em fase de negação.  
Os alunos também se serviram de pesquisas em livros, sites e artigos na confecção desta pesquisa. 
DIFERENÇA ENTRE PARAFILÍA E TRANSTORNO PARAFÍLICO
Ao analisarmos o filme “Thanks for Sharing”, “Terapia de Sexo” em português sob direção de stuart Blumberg , encontramos casos de pessoas com parafilias e outras com transtornos parafílicos. Segundo o DSM-V – “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V” (2014, p. 685),
O termo parafilia representa qualquer interesse sexual intenso e persistente que não aquele voltado para a estimulação genital ou para carícias preliminares com parceiros humanos que consentem e apresentam fenótipo normal e maturidade física [...]. Um transtorno parafílicos é uma parafilia que está causando sofrimento ou prejuízo ao indivíduo ou uma parafilia cuja satisfação implica dano ou risco de dano pessoal a outros. Uma parafilia é condição necessária, mas não suficiente, para que se tenha um transtorno parafílico, e uma parafilia por si só não necessariamente justifica ou requer intervenção clínica.
A diferença entre Parafilia e Transtorno parafílico, é que no primeiro podemos deduzir que são atos sexuais que fogem da normalidade, mas que não traz sofrimento para si e para outros, enquanto que o transtorno parafílico traz sofrimento para pessoa acometida e para terceiros. 
TRANSTORNO FROTTEURISTA
Vamos nos concentrar em nossa pesquisa no Transtorno Parafílico Frotteurista. No processo de pesquisa deste trabalho observamos ao ler COSTA FILHO(2015), que a etimologia do nome Frotteurismo (Frotagem): vem do francês Frottement (fricção). Caracteriza-se pela necessidade de tocar ou esfregar os órgãos genitais em outras pessoas, mesmo vestidas, geralmente em locais públicos. 
2.1 Critérios Diagnósticos
Segundo o DSM-5 (2014, p. 691-692) os “Critérios Diagnósticos” para  o Transtorno Frotteurista são:
A. Por um período de pelo menos seis meses, excitação sexual recorrente e intensa resultante de tocar ou esfregar-se em pessoa que não consentiu, conforme manifestado por fantasias, impulsos ou comportamentos.
B. O indivíduo colocou em prática esses impulsos sexuais com pessoa que não consentiu, ou os impulsos ou as fantasias sexuais causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Especificar se:
Em ambiente protegido: Este especificador é aplicável principalmente a indivíduos institucionalizados ou moradores de outros locais onde as oportunidades de tocar outra pessoa ou esfregar-se nela são limitadas.
Em remissão completa: O indivíduo colocou em prática seus impulsos com pessoa que não consentiu, e não houve sofrimento ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas da vida do indivíduo durante pelo menos cinco anos enquanto em um ambiente não protegido.
 Comorbidades
As Comorbidades conforme o DSM-5 (2013, p. 694),
Condições que ocorrem de forma comórbida com o transtorno frotteurista incluem hipersexualidade e outros transtornos parafílicos, especialmente transtorno exibicionista e transtorno voyeurista. Transtorno da conduta, transtorno da personalidade anti social, transtornos depressivos, transtornos bipolares, transtornos de ansiedade e transtornos por uso de substância também ocorrem de forma concomitante.
 Etiologia
Segundo Spizzirri (2014),  
apesar das causas que levam à parafilia serem desconhecidas, vários estudos sugerem a presença de anormalidades neurobiofisiológicas associadas ao comportamento parafílico. Além disso, vivências emocionais durante o processo de maturação psicossexual, como sentimentos de repressão sexual adquiridos no desenvolvimento pessoal, exposição ambiental, como fatores de risco.
Ainda na visão de Spizzirri (2014) 
a superproteção ou desorganização familiar e história de abuso sexual e/ou emocional na infância são elementos recorrentes e que contribuem para a compreensão dessa condição. Assim sendo, as primeiras experiências ou fantasias sexuais, sejam elas gratificantes ou não, podem influenciar comportamentos futuros. 
2.4 Prevalência
Segundo o DSM 5 (2014, p.693) “Atos frotteuristas, incluindo tocar ou esfregar-se em outro indivíduo sem ser convidado para tal, podem ocorrer em até 30% dos homens adultos na população em geral”.
ANÁLISE DE CENAS 
A partir da análise de cenas do filme “Thanks for Sharing”,  “Terapia de Sexo” em português sob direção de stuart Blumberg, foi possível reconhecer alguns aspectos do Transtorno Parafílico Frotteurista. O referido filme traz personagens que possuem vícios sexuais. Escolhemos um personagem em particular chamado Neill para analisar, protagonizado pelo ator Josh Gad. É possível verificar que Neil é um jovem adulto de 27 anos e que trabalha em um hospital  como médico. 
Durante o filme,  o personagem relata em uma reunião do grupo de apoio que sonhava em ser médico desde os 8 anos de idade, e que então trabalhou sem parar, colocando de lado a vida social. Roberta, protagonizada pela atriz Carol Kane, é mãe de Niel e possui uma relação infantilizada com ele, trata-o como uma criança, superprotegendo e solicitando favores. No ambiente de trabalho Neil se apresenta espontâneo com as questões que lhe aparecem, porém levando as coisas com um cunho sexual, supervalorizando este aspecto. Através do reconhecimento histórico do personagem, por parte da análise, será destacado a seguir algumas cenas para exemplificação do conhecimento sobre o Transtorno Parafílico Frotteurista:
Cena 1 : ( tempo : 03 min 12 s - 03 min 50s)
Nesta cena Neil, está em um metro, observa uma mulher que está ao telefone e se aproxima dela por trás, esfregando-se nela, na primeira tentativa a mulher percebe porém não toma nenhuma atitude, após a segunda vez a mulher bate nele com o telefone. Segundo DSM 5 (2014, p.691) esse comportamento pode ser caracterizado como Transtorno Parafílico Froutteurista visto que causa prejuízo a terceiros e ao próprio indivíduo, como especificado no Critério A: “..tocar ou esfregar-se em pessoa que não consentiu, conforme manifestado por fantasias, impulsos ou comportamentos”.
Cena 2 : (tempo:  6min10s – 6min 33s). 
Mike que é o ator que faz o papel de coordenador da terapia, é um dos mais antigos viciados em sexo em recuperação. Está sóbrio nos Alcoólicos Anônimos (A.A) há 15 anos, mas ele relata que o negócio do sexo é diferente, “ é como se fumasse craque, você quer parar, mas o cachimbo está preso no seu corpo”. Podemos observar aqui o sofrimento de quem possui o transtorno parafílico, que segundo vimos no DSM-5 (2014, 691-692), já citado acima, é aquela parafilia que traz sofrimento para o indivíduoe para outros. O portador do transtorno quer parar, mas vive com a fonte de seu vício colada em si mesmo, vive atormentado pelos pensamentos, e impulsos sexuais que várias vezes lhe remete ao ato parafílico, trazendo sofrimento a si e aos outros. 
Cena 3 : (tempo 8min10s - 10min50s)
Adam, padrinho de Neil no grupo de apoio, lembra-o a causa de estar participando 
da terapia, ele diz que Neil possui processos judiciais por causa de encoxamentos, tocar outras pessoas sem permissão,  Neil fica desconfortável, diz eu sei em voz baixa, Adam explica que os procedimentos da terapia o auxiliarão. Isso revela que Neil causou prejuízo para si e para terceiros. Logo após Neil está em sua casa com um livro em mãos, este livro era do grupo de apoio e era responsabilidade de Neil preenchê-lo e mostrar para Adam, porém no item “ nos conte a sua história” ele para, e não consegue preencher, em seguida se masturba, e depois vai até a geladeira e coloca várias rosquinhas na boca, depois parece que se arrepende e joga as rosquinhas que sobraram no lixo depois acessa a internet vendo pornografias e se masturba novamente,  deita na cama e depois vai até o lixo e olha as rosquinhas no lixo. Segundo DSM 5 (2014, p. 694) uma das comorbidades do Transtorno Parafílico Frotteurista é Transtornos de Ansiedade, como pode ser verificado no personagem Neil. Nesta cena também vemos a presença de comportamentos descritos no Critério B: O fato de Neil estar cumprindo pena alternativa para o crime de “Contato sexual sem consentimento” : “...causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo”
Cena 4: (Tempo 24min34s - 25min40s) 
Nesta cena Neil pede para conversar com sua supervisora, pede desculpas pelas suas brincadeiras, se justifica dizendo que é culpa do estresse e sua infância difícil, neste momento a supervisora descobre que Neil estava filmando suas partes íntimas. Segundo DSM 5 (2014, p. 694) uma outra das comorbidades do Transtorno Parafílico Frotteurista é Transtornos Voyeurista, como pode ser verificado no personagem Neil. “Nesta cena também vemos a presença de comportamentos descritos no Critério B: O fato de Neil perder o emprego devido ao seu comportamento”: “... causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo”.
Cena 5: (Tempo 28min - 30min)
O personagem Neil, que tem o “Transtorno Parafílico Frotteurista”, e que foi enviado para reunião do grupo de apoio através de ordem judicial, conta que desde criança sempre sonhou ser médico, batalhou muito durante anos, sem ter vida social e conseguiu realizar este sonho. Todavia havia sido demitido por filmar debaixo da saia de sua chefe. Desabafou que havia mentido o tempo todo sobre sua sobriedade e que estava descontrolado, assustado e precisava de ajuda. Observamos que a partir deste momento ele começa uma busca pela reabilitação de verdade. Teria que em 90 dias, ir em noventa encontros, prestar conta ao seu padrinho (Adam - viciado em sexo, e em remissão por 5 anos), todo dia por telefone, e deveria ficar sem metrô e sem internet por um tempo. No percurso do filme Neil começa a andar de bicicleta, caindo alguns tombos por não ter habilidade com ela, se abstém da internet, do uso do metrô e se desfaz de todos os filmes pornôs.  Até o final do filme ele permanece em remissão. Segundo o DSM-5 (2014, p.692), “O especificador "em remissão" não trata da presença ou da ausência continuada de frotteurismo por si só, que pode ainda estar presente após a remissão dos comportamentos e do sofrimento”. 
Cena 6: (Tempo 1h1min13s - 1h2min30s)
Nesta cena Neil vai até a casa de Roberta (Carol), sua mãe, ela pede para Neil trocar uma lâmpada e neste momento pergunta o que aconteceu com a calça de Neil, ele nao responde, ela pede para que tire a calça para ela limpar, Neil se nega a tirar e a mãe tira a calça de Neil assim mesmo naquela situação, colocando a lâmpada. Para Spizzirri (2014), a desorganização familiar ou superproteção e história de abuso sexual e/ou emocional na infância são elementos recorrentes e que contribuem para a compreensão dessa condição. Assim sendo, as primeiras experiências ou fantasias sexuais, sejam elas gratificantes ou não, podem influenciar comportamentos futuros. 
TRATAMENTO PSICOTERÁPICO
A psicoterapia é de extrema importância para o paciente para o reconhecimento da etiologia do Transtorno Parafílico e para o posterior estabelecimento de metas e estratégias para o enfrentamento da doença. As terapias são multidisciplinares e o acompanhamento ao indivíduo deve ser a longo prazo para o tratamento eficaz. Um dos tratamentos psicoterápicos indicado pode ser a TCC, Terapia Cognitiva Comportamental, a teoria da TCC, e segundo Carvalho (2014)
A terapia cognitiva, também conhecida como terapia cognitiva comportamental (TCC), é um tipo específico de psicoterapia que enfatiza a importância dos processos cognitivos na compreensão e no tratamento de diversos transtornos mentais. Desenvolvida por Aaron Beck no final dos anos 1950, esta tornou-se uma das psicoterapias mais investigadas empiricamente e com mais evidências científicas de eficácia.
Esta abordagem tem seu foco nas teorias do aprendizado social (condicionamento clássico, aprendizagem instrumental e modelagem). Entretanto, cognições e comportamentos têm íntima relação, durante a intervenção, utilizaram-se ainda outras ferramentas como a Sensibilização Encoberta, Inventário, Vantagens/Desvantagens, Dessensibilização Sistemática e o Auto Registro, que aceleraram o processo de extinção do comportamento parafílico. O objetivo da TCC é reestruturar as cognições disfuncionais e dar flexibilidade cognitiva no momento de avaliar situações específicas. A TCC visa à resolução de problemas focais, objetivando, em última análise, dotar o paciente de estratégias cognitivas para perceber e responder ao real de forma funcional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas pesquisas teóricas sobre “Frotteurismo”, bem como na análise do filme , observamos as dificuldades que os indivíduos portadores deste Transtorno Parafílico enfrentam no cotidiano de suas vidas e nos levou a refletir sobre o valor dessas vidas marcadas por um sofrimento interno alienante e aprisionador, levando-os a sérios problemas na esfera social, profissional e familiar.  
Como vimos na fala de Mike (cena 2) o coordenador da terapia que está 15 anos em remissão nos Alcoólicos Anônimos (A.A), ele relata que o negócio do sexo é diferente, “ é como se fumasse craque, você quer parar, mas o cachimbo está preso no seu corpo”. Podemos observar aqui o sofrimento de quem tem o transtorno parafílico, quer parar, mas vive com a fonte de seu vício colada em si mesmo, vive atormentado pelos pensamentos, e impulsos sexuais que várias vezes lhe remete ao ato parafílico, trazendo sofrimento a si e aos outros. 
Conclui-se que a experiência com o conhecimento significou enfrentar desafios e também nos fez descobrir e desvelar inúmeras possibilidades de tratamentos, dentro de psicoterapias mais indicadas como também a TCC (Terapia Cognitivo Comportamental). 
Os portadores do Transtorno Frotteurista devem ser olhados por profissionais que respeitem suas individualidades e que percorrem juntamente com eles um caminho, abarcando todos os significados e consequências desse transtorno com o propósito de ajudar o paciente a modificar seu comportamento.
REFERÊNCIAS
American Psychiatry Association. Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais. (DSM-5). Porto Alegre: Artes Médicas; 2014.
CARVALHO, Sílvia.Psicoterapia e Medicina Geral e Familiar: o potencial da terapia cognitivo comportamental. Rev Port Med Geral Fam [online]. 2014, vol.30, n.6, pp.406-409. ISSN 2182-5173.
COSTA FILHO, Paulo E. Garcia. Medicina Legal Criminalística. 2 ed. Rio de Janeiro: Alumnus, 2015.
SPIZZIRRI, Giancarlo. Transtornos parafílicos.São Paulo, Revista Pisque; 2014
TERAPIA DO SEXO. (Thanks for Sharing). Direção de Stuart Blumberg. Com Mark Ruffalo, Gwyneth Paltrow, Tim Robbins, Josh Gad, Joely Richardson, Patrick Fugit, Pink, Carol Kane.