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Aline Sayuri Kazari USJT - Direito Direito Civil II Aula I – 13/02/2015 Professor: Fábio Figueiredo Autonomia privada de contratação: Introdução ao Direito Civil Constitucional A expressão Direito Civil Constitucional trata-se de um neologismo. Convencionou-se chamar de Direito Civil Constitucional, a imensa gama de direitos individuais que ascenderam as Constituições. A maior evolução do Direito Privado se deu no Direito Romano. Os vários institutos do Direito Privado como os contratos, casamento, sucessões, direitos obrigacionais, direito das coisas tiveram sua origem no Império Romano. No entanto, com a queda do Império Romano houve uma obstacularização no desenvolvimento do Direito Privado. Da queda do Império Romano até o ano de 1.789 houve apenas a evolução do Direito Público com o estudo das ditas teorias públicas, pelos diversos contratualistas, destacando-se, entre eles, Hobbes, Locke e Rousseau, em busca de respostas a perguntas como “Por que o Estado manda e os indivíduos obedecem?”. Entre a queda do Império Romano até o ano de 1.789 o indivíduo era considerado mínimo e o Estado máximo, porém, em 1.789 eclode um movimento que já vinha ocorrendo desde o século XII, de uma maneira mais acentuada na França: o movimento burguês. Nascia na Europa, uma nova classe social, que possuía um exacerbado poder econômico, mas nenhum poder político. A insatisfação com a falta de liberdade de contratação, de autonomia privada, fez eclodir, sob a tríade axionômica liberdade, igualdade e fraternidade, a Revolução Francesa, propiciando o renascimento do Direito Privado. Na concepção do Direito Civil, (i) liberdade era a “mais ampla e irrestrita liberdade de contratação possível”; (ii) igualdade a “isonomia formal”, ou seja, tratar a todos de maneira equânime; e (iii) fraternidade a “boa-fé nos atos de comércio”. Porém a liberdade irrestrita de contratação ocasionou a celebração de contratos que aviltavam a dignidade da pessoa humana. Como dito por Lacordaire “Entre o forte e fraco, a liberdade escraviza e a lei liberta.”, ou seja, entre o forte e o fraco sempre haverá uma dominação que apenas será possível desfazer através da lei. O primeiro Código Civil Brasileiro, o Código Napoleônico de 1.804, foi criado justamente sob a ótica dessa tríade axionômica, de caráter extremamente patrimonialista. Em 1.865, foi apresentado por Teixeira de Freitas, um esboço do novo Código Civil, com cinco mil artigos, embasado no Código Civil Alemão (BGB), porém não fora aprovado. Já em 1.911, um novo Código Civil foi apresentado por Clóvis Beviláqua, sendo aprovado em 1.916, passando a vigorar em 1.917. O novo Código era embasado no Código Napoleônico, com valores extremamente patrimonialistas e contendo os princípios da tríade axionômica, sendo privilegiado o contratante, o proprietário, o chefe de família e o testador. Não havia desse modo, uma efetiva proteção à família. Aline Sayuri Kazari USJT - Direito O grande marco de uma nova visão do Direito Privado ocorreu após o término da II Grande Guerra Mundial, com a criação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1.948, a fim de se evitar as barbaridades até então cometidas com respaldo na lei. Em 1.995 o professor Capelo de Souza cria a sua tese denominada “Direito Geral de Personalidade”, onde ele constata que é impossível um texto normativo, por mais extenso que seja contemplar todos os direitos que emanam da pessoa humana. O que se pode observar é a existência de uma cláusula geral de proteção à personalidade humana, prevista em várias Constituições, inclusive na brasileira, quando determina no artigo 1º, inciso III da CF/88, a dignidade da pessoa humana, passando a ser o vetor de todos os demais sistemas. Com a criação da Constituição Federal de 1.988, com valores existencialistas e não mais patrimonialistas, rogou-se a releitura da tríade axionômica do Código Civil de 1.916, por haver um grande descompasso de valores entre ambos. Essa releitura forçou várias academias ao chamado estudo do Direito Civil Constitucional, que nada mais é que a releitura do Código Civil à luz da Constituição Federal. Tal releitura transmitiu novos valores à tríade axionômica existente até então: (I) a mais ampla e irrestrita liberdade de contratação, deu lugar à autonomia privada de contratação, ou seja, a autonomia da vontade de contratação nos limites da lei, da moral e da ordem pública instalada (anseios populacionais de uma nação); (ii) a isonomia forma deu lugar à isonomia substancial, qual seja, tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais na proporção e medida de suas desigualdades; (iii) a fraternidade deu lugar ao solidarismo constitucional. Na criação do Código Civil de 2.002, levou-se em conta, os valores Constitucionais, permanecendo assim, o estudo do Direito Civil Constitucional, podendo ser observado claramente essa nova tônica do Direito Privado, nos artigos 112 a 114 e 421 a 423 do referido Código: “Art. 112 CC. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.” (Valor da dignidade humana). “Art. 113 CC. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os costumes do lugar de sua celebração.” (Direito consuetudinário e boa-fé objetiva). “Art. 114 CC. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.” (Os atos devem ser expressos, formais, solenes e com outorga). “Art. 421 CC. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” (Função social do contrato). “Art. 422 CC. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua extinção, os princípios de probidade e boa-fé.” (Boa-fé objetiva e probidade – honestidade e transparência). Aline Sayuri Kazari USJT - Direito “Art. 423 CC. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.” Material adicional: FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Direito Civil Constitucional – Aula 1 – Princípios – Parte I. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QpLSExSc3gI>. Acesso em: 15 fev. 2015. FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Direito Civil Constitucional – Aula 1 – Princípios – Parte II. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MEAgvqWNuMY>. Acesso em: 15 fev. 2015. FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Direito Civil Constitucional – Aula 1 – Princípios – Parte III. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UfP9qZPUNL8>. Acesso em: 15 fev. 2015. FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Direito Civil Constitucional – Aula 1 – Princípios – Parte IV Final. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jRxmEqPkYOI>. Acesso em: 15 fev. 2015.
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