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2 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider ORGANIZAÇÃO Parte Geral – Artigos 421 até 480 Parte Especial – Artigos 481 até 853 Atos Unilaterais – Artigos 854 até 886 CONTRATOS – DISPOSIÇÕES GERAIS 2.1 Princípios contratuais a) Princípio do Consensualismo; b) Princípio do “pacta sunt servanda”; c) Princípio da Função Social do Contrato; d) Princípio da Boa-Fé Objetiva; e) Princípio da Autonomia Privada. QUESTÃO: II Exame - Durante dez anos, empregados de uma fabricante de extrato de tomate distribuíram, gratuitamente, sementes de tomate entre agricultores de uma certa região. A cada ano, os empregados da fabricante procuravam os agricultores, na época da colheita, para adquirir a safra produzida. No ano de 2009, a fabricante distribuiu as sementes, como sempre fazia, mas não retornou para adquirir a safra. Procurada pelos agricultores, a fabricante recusou-se a efetuar a compra. O tribunal competente entendeu que havia responsabilidade pré-contratual da fabricante. A responsabilidade pré-contratual é aquela que: a) deriva da violação à boa-fé objetiva na fase das negociações preliminares à formação do contrato. b) deriva da ruptura de um pré-contrato, também chamado contrato preliminar. c) surgiu, como instituto jurídico, em momento histórico anterior à responsabilidade contratual. 01 02 3 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider d) segue o destino da responsabilidade contratual, como o acessório segue o principal. Gabarito: A 2.2 Contratos de adesão: Artigos 423 e 424. Art. 423 do Código Civil: “In dubio pro aderente”. Art. 424 do Código Civil: Proibida renúncia antecipada de direitos. 2.3 Contratos atípicos Art. 425 do Código Civil: 2.4 Vedação do “pacto corvina” Art. 426: “ Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”. Caso haja a contratação sobre herança de pessoa viva, o contrato será nulo, na forma do art. 166, VII, do Código Civil. 2.5 Formação dos Contratos - Contrato entre presentes: Pessoa na frente, por telefone ou outro meio de comunicação semelhante. - Contrato entre ausentes: carta ou intermediário, por exemplo. REGRA: Proposta, desde que séria e consciente obriga o proponente, na forma do art. 427 do Código Civil. EXCEÇÃO: Deixa de ser obrigatória a proposta: art. 428 do Código Civil I – feita sem prazo a pessoa presente não foi aceita na hora; II – sem prazo para pessoa ausente e tiver transcorrido prazo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III – com prazo para pessoa ausente; IV – retratação – A retratação da proposta deve chegar ao aceitante antes ou simultaneamente que a proposta chegue até ele. Se a retratação da proposta chegar ao conhecimento do aceitante depois que a proposta chegou até ele, não terá validade. 4 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Para que haja aceitação e, como consequência, contrato, é necessário que a aceitação da proposta seja integral. Aceitação com modificação é nova proposta, art. 431 do Código Civil. - Lugar de celebração de um contrato: Onde ele foi proposto – Artigo 435 CC. - Quando está perfeito o contrato entre pessoas ausentes? Quando se expede a aceitação. Leitura do artigo 434 “caput” do CC. Aplicação da teoria da expedição. QUESTÃO: (XIX - Exame) No dia 14/07/2015, João, estando em São Caetano do Sul (SP) interessado em vender seu carro usado, enviou mensagem via celular para Maria, na qual indicava o preço mínimo do bem (quinze mil reais, com pagamento à vista), as condições físicas do automóvel e a informação sobre a inexistência de ônus sobre o objeto do negócio jurídico. Maria, em Birigui (SP), tendo recebido e lido de pronto a mensagem de João e, sem que houvesse prazo específico para a aceitação da proposta, deixa de respondê-la imediatamente. No dia 16/07/2015, Maria responde a João, via mensagem por celular, informando ter interesse em comprar o veículo, desde que o preço fosse parcelado em sete vezes. Contudo, João informa a Maria que o veículo fora vendido na véspera. Tendo em vista o enunciado, responda aos itens a seguir. A) A oferta de João foi feita entre pessoas presentes ou ausentes? B) A resposta de Maria, a partir do momento em que envia mensagem via celular a João alterando as condições do que fora originalmente ofertado, poderia qualificá-la como mera proposta? 2.6 Estipulação em favor de terceiro: art. 436/ 438 Código Civil As partes na estipulação em favor de terceiro são: estipulante e promitente. Uma das partes (promitente) prestará determinado benefício a outra pessoa, que não estaria no contrato (beneficiário). Não necessita o consentimento do beneficiário. O promitente pode reservar-se o direito de trocar de beneficiário por ato “inter vivos” ou “causa mortis”. 5 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 2.7 Promessa de fato de terceiro – art. 439 e 440 do Código Civil São obrigações sucessivas. O devedor estabelece com o credor que ele (devedor) irá fazer com que o terceiro (que não está no contrato original) cumpra uma obrigação. A obrigação do devedor não é que o terceiro cumpra, mas sim que esse terceiro assuma a obrigação. Após assumida a obrigação, o devedor estaria desobrigado (art. 440 CC); QUESTÃO: (III Exame) Danilo celebrou contrato por instrumento particular com Sandro, por meio do qual aquele prometera que seu irmão, Reinaldo, famoso cantor popular, concederia uma entrevista exclusiva ao programa de rádio apresentado por Sandro, no domingo seguinte. Em contrapartida, caberia a Sandro efetuar o pagamento a Danilo de certa soma em dinheiro. Todavia, chegada a hora do programa, Reinaldo não compareceu à rádio. Dias depois, Danilo procurou Sandro, a fim de cobrar a quantia contratualmente prevista, ao argumento de que, embora não tenha obtido êxito, envidara todos os esforços no sentido de convencer o seu irmão a comparecer. A respeito da situação narrada, é correto afirmar que Sandro a) não está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, pois a obrigação por este assumida é de resultado, sendo, ainda, autorizado a Sandro obter ressarcimento por perdas e danos de Danilo. b) não está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, por ser o contrato nulo, tendo em vista que Reinaldo não é parte contratante. c) está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, pois a obrigação por este assumida é de meio, restando a Sandro o direito de cobrar perdas e danos diretamente de Reinaldo. d) está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, pois a obrigação por este assumida é de meio, sendo incabível a cobrança de perdas e danos de Reinaldo. Gabarito: A 2.8 Vícios Redibitórios: art. 441-446 do Código Civil 6 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider REQUISITOS: defeito oculto (não se admite vício aparente); contrato comutativo; vício grave que a torne imprópria ao uso ou lhe diminua o valor; oneroso; vício pré-existente. AÇÕES CABÍVEIS: 1 – Ações Edilícias Ação redibitória: Redibir o contrato: voltar ao “status quo antes”. O contrato será desfeito e serão pagas eventuais despesas. Açaõ estimatória ou “quanti minoris”: O contrato é mantido, mas é solicitado então um abatimento. *Caso o alienante estivesse de má-fé: Sabia ou tinha condições de saber do vício: Além do que prevê a lei, também irá pagar perdas e danos ao comprador; *Caso estejade boa-fé, ainda assim responderia pelas ações redibitórias ou estimatórias. PRAZOS: - Vício de fácil constatação: art. 445 “caput”, CC: 30 dias para bens móveis e 1 ano para bens imóveis. Caso o adquirente já se encontrava na posse do imóvel, então teremos que esse prazo é reduzido pelo metade: 15 dias para móveis e 6 meses para imóveis. - Vício de difícil constatação: 445, parágrafo primeiro, CC. O prazo terá como início no momento em que o adquirente percebeu o vício, até o limite de 180 dias, se móvel e 1 ano se for imóvel. *Garantia contratual estipulada entre as partes – Artigo 446 do CC. A garantia estipulada contratualmente se soma com a garantia legal. Exemplo: Em 10 de abril Carlos compra carro de Joaquim. Pactuaram garantia contratual de 45 dias. Em 15 de maio foi descoberto o vício, deverá Carlos- adquirente denunciar o vício até o máximo de 15 de junho. Não importa que a denúncia ocorra fora do período de garantia. *Aplica-se para as doações onerosas. 7 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 2.9 Evicção Evicção é a perda total ou parcial de um bem por sentença judicial. Essa sentença judicial atribui a outra pessoa o bem. Funda-se no mesmo princípio da garantia em que se assenta a teoria dos vícios redibitórios. Partes na evicção: a) O alienante, que transferiu a coisa de forma onerosa. b) O evicto (adquirente ou evencido), que perdeu a coisa adquirida. c) O evictor (ou evencente), que ganhou a ação judicial. Requisitos da evicção: a) Perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada; b) Onerosidade da aquisição; c) Ignorância, pelo adquirente, da litigiosidade da coisa. Se sabia que a coisa era litigiosa, não pode demandar evicção; d) Anterioridade do direito do evictor/aquele que ganhou a ação judicial: O alienante só responde pela perda decorrente de causa já existente ao tempo da alienação. Direitos do evicto (aquele que perdeu a coisa em virtude de sentença judicial: 450 do CC). Salvo estipulação em contrário, o evicto tem direito: a) Restituição integral do preço b) Indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir c) Indenização pelas despesas dos contratos e d) Pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção. e) Custas judiciais e honorários do advogado. - Diz o art. 447 do Código Civil: “Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção, subsistindo esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.” 8 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider - A responsabilidade decorre da lei. Independe, portanto, de previsão contratual. Mesmo que o contrato seja omisso, ele existirá de acordo com a lei. - Ocorre em todo o contrato oneroso, pelo qual se transfere domínio, posse ou uso. Exclusão da responsabilidade do alienante Podem as partes excluir a responsabilidade pela evicção? Sim, expressamente. Contudo, mesmo com a existência de tal cláusula, se a evicção se der, tem direito o evicto (aquele que perdeu a coisa) a: 1- Recobrar o preço que pagou pela coisa evicta, com algumas condições: a -Se não soube do risco da evicção ou b - se informado, não assumiu o risco da evicção. O que precisa então para que o alienante seja completamente exonerado? Precisa haver a cláusula expressa + a ciência de quem está comprando assume os riscos da evicção. Quem compra deve saber que corre o risco de ser evicto e assim, tenha assumido o risco, renunciando a garantia. FIXAÇÃO: 1. Isenção do alienante de toda a responsabilidade = cláusula expressa de exclusão da garantia + ciência específica do risco pelo adquirente. 2. Responsabilidade do alienante apenas pelo preço relacionado com a coisa evicta = cláusula expressa de exclusão da garantia – ciência do risco pelo adquirente ou ter assumido o risco. 3. Omissão da cláusula de “non praestaenda evictione” = responsabilidade total do alienante + perdas e danos. Evicção parcial: Se houve evicção parcial e não total da coisa? Poderá o evicto optar: entre a rescisão do contrato e a restituições da parte do preço do desfalque. - Se não for considerável, pode apenas pleitear a indenização e não a rescisão do contrato. OBS.: Prescrição: Pelo que prevê o art. 199, III, do novo Código Civil, não corre a prescrição entre evictor, evicto e alientante, pendendo a ação de evicção. 9 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Somente após o trânsito em julgado da sentença a ser proferida na ação em que se discute esta, com a decisão sobre a destinação do bem evicto, o prazo volta a correr. 2.10 Contratos Aleatórios: Artigo 458 – 461Código Civil São os que apresentam incertezas na prestação devida por um ou por ambos os contraentes. Exemplo: seguro, jogos, apostas, etc. O risco é assumido pela outra parte. 2.11 Contrato Preliminar – Art. 462 – 466 do Código Civil Exemplo: Promessa de compra e venda de imóvel. O inadimplemento será tratado nos artigos de extinção do contrato. QUESTÃO: (03/2007-CESPE) Carlos e Cláudia celebraram, mediante instrumento particular, contrato de promessa de compra e venda de imóvel, obrigando-se o promitente vendedor e a promitente compradora à celebração do contrato definitivo no prazo de 90 dias, após o pagamento da última parcela de preço, que as partes ajustaram em R$ 300.000,00 e que deveria ser pago em três parcelas iguais, mensais e sucessivas. Do instrumento constou cláusula de irretratabilidade e irrevogabilidade. Tendo Cláudia pago todas as parcelas do preço, nos prazos do contrato, Carlos se recusou a outorgar a escritura definitiva, alegando que o contrato preliminar era nulo, porque celebrado por instrumento particular e não por escritura pública, e que, além disso, tinha o direito de se arrepender. Considerando essa situação hipotética, redija, na qualidade de advogado de Cláudia, texto argumentativo acerca dos fundamentos invocados por Carlos para se recusar à celebração do contrato definitivo. 2.12 Contrato com Pessoa a Declarar: Art. 467- 471 do Código Civil Uma das partes pode reservar-se (desde que acordado no contrato) o direito de colocar outra pessoa em seu lugar na relação contratual. 10 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider O prazo legal é em caso de inexistência de outro prazo no contrato. Caso o terceiro que ingressar no contrato seja insolvente, etc., o contrato irá vigorar entre as partes originais. 2.13 Extinção do contrato a) Regra: A extinção, dá-se em regra pelo cumprimento, adimplemento da obrigação. O cumprimento da prestação libera o devedor. Comprova-se pela quitação. b) Clausula resolutiva: Pode ser expressa ou tácita. Havendo no contrato uma condição resolutiva expressa poderá ocorrer a extinção do negócio, eis que já havia na manifestação das partes uma intenção à extinção (motivo anterior). A cláusula resolutiva expressa consta sempre do contrato. Prevê o artigo 474 do novo Código Civil que “a cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial”. Obs.: Em todo o contrato sinalagmático presume-se a existência de uma cláusula resolutiva tácita, autorizando o lesado a pleitear a resolução do contrato com perdas e danos. Diz o art. 474: “A clausula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial”. Em ambos os casos a resolução deve ser JUDICIAL. Na expressa a sentença temefeito declaratório e é ex tunc, pois a resolução se dá automaticamente no momento do inadimplemento. Na tácita tem efeito desconstitutivo, dependendo de interpelação judicial. c) Direito de arrependimento: Deve estar expressamente previsto no contrato, autoriza qualquer das partes a rescindir o ajuste, mediante declaração unilateral de vontade. d) Extinção por causas posteriores ou supervenientes a celebração: toda vez que se tem a extinção do contrato por fatos posteriores à celebração, tendo uma das partes sofrido lesão ou prejuízo fala-se em rescisão contratual. A rescisão (gênero) pode-se se dar pela resolução - extinção do contrato por descumprimento -, ou pela 11 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider resilição - dissolução por vontade bilateral ou unilateral, quando admissível por lei ou pelo próprio contrato, não havendo inadimplemento, que são espécies desta de rescisão, nas seguintes hipóteses: Portanto rescisão pode ser: resolução ou resilição. 1. Resolução: Se não foi cumprido o contrato ou parte dele, pode importar na resolução do contrato. Produz efeitos e tun., extinguindo o que foi executado. Obrigam-se as partes a restituírem o que já foi entregue e obriga o inadimplente ao pagamento das perdas e danos. Sempre aquele que deu causa a resolução do contrato, com culpa, responderá por perdas e danos. A resolução pode ser: Resolução por inexecução voluntária: impossibilita a prestação por culpa do devedor (tanto na obrigação de dar como na de fazer). Sujeitará o inadimplente ao ressarcimento por todas as perdas e danos (danos materiais e danos morais). Resolução por inexecução involuntária: impossibilita o cumprimento da obrigação nos casos de força maior ou caso fortuito. Não haverá perdas e danos, mas tudo será devolvido. Só haverá responsabilidade por tais eventos se o devedor estiver em mora (art. 399), havendo previsão no contrato (art. 393 do) ou nos casos previstos em lei (exemplo: art. 583 do CC – caso envolvendo o comodato). Cláusula resolutiva tácita: Enquanto a cláusula resolutiva expressa consta do contrato, a cláusula resolutiva tácita segunda deriva da lei. Como exemplo de cláusula resolutiva tácita podemos citar a exceção do contrato não cumprido (“exceptio non adimpleti contractus”), prevista no art. 476 do CC, e que pode gerar a extinção de um contrato sinalagmático, no caso de descumprimento total do contrato. Por outro lado, prevê o art. 477 NCC a “exceptio no rite adimpleti contractus”, para os casos de descumprimento parcial do negócio. Vale lembrar ainda o conceito de cláusula “solve et repete”, aquela que afasta a aplicação dessas duas regras. Entendemos que essa última cláusula não terá validade para os contratos de adesão, pelo que consta no art. 424 do CC. Resolução por onerosidade excessiva: evento extraordinário e imprevisível, que dificulte extremamente o adimplemento do contrato, gerando a extinção de 12 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider contrato de execução diferida ou continuada (trato sucessivo). Utilização da teoria da imprevisão (cláusula “rebus sic stantibus”), agora, para a extinção do contrato. Provadas as condições pode haver a rescisão ou revisão das prestações. Quanto ao art. 478 do CC, foram aprovados os seguintes enunciados na III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “Enunciado n. 175 – Art. 478: A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às consequências que ele produz”. “Enunciado n. 176 – Art. 478: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual”. Vale lembra que, antes da resolução (extinção do contrato), os arts. 479 e 480 do CC possibilitam a revisão da avença, o que deve sempre ser buscado pelo juiz e aplicador do direito, tendo em vista o princípio da conservação contratual, que é anexo à função social pactos. 2. Resilição: Não há inadimplemento, mas direito reconhecido em lei não deriva de inadimplemento contratual, mas somente de manifestação de vontade, que pode ser bilateral ou unilateral. Pode ser: Resilição bilateral ou distrato: mediante a celebração de um novo negócio em que ambas as partes resolvem, de comum acordo, pôr fim ao contrato anterior que firmaram. Submete-se às mesmas normas e formas relativas aos contratos e está previsto no art. 472 do CC. Resilição unilateral: há contratos que admitem dissolução pela simples declaração de vontade de uma das partes. Só ocorre excepcionalmente, como na locação, no mandato, no comodato e no depósito. Opera-se mediante denúncia notificada à outra parte (art. 473 do CC). São modalidades de resilição unilateral 13 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider TITULO VI – DAS VARIAS ESPÉCIES DE CONTRATO 3. COMPRA E VENDA 3.1 SEÇÃO I – DISPOSIÇÕES GERAIS Conceito – art. 481, CC: “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. Na compra e venda os contratantes apenas se obrigam reciprocamente. A transferência do domínio depende de outro ato: a tradição para os móveis e o registro para os imóveis. Assim, entre nós, o comprador que não teve a coisa entregue, não tem o direito de entrar com uma busca e apreensão, mas tão somente com perdas e danos. Isso porque a troca do domínio ainda não se efetivou. Natureza jurídica: a) Contrato bilateral b) Consensual – se aperfeiçoa com o acordo de vontade independente da entrega da coisa. É o que diz o art. 482: “A compra e venda, do pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço”. c) Oneroso d) Em regra comutativo – porque as prestações são certas e as partes podem antever vantagens e sacrifícios. Podem se transformar em aleatórios quando tem por objeto coisa futura ou coisas existentes, mas sujeitas a riscos. e) Em regra não solene. Exceção: compra e venda de imóveis. Elementos da compra e venda: Coisa + preço + consentimento. a) Consentimento: Deve ser livre e espontâneo e requer capacidade das partes. Se incapazes devem ser supridas pela assistência ou representação. b) Preço: Sem a fixação do preço, a venda é nula. Não se admite a “qualquer coisa”. O preço deve sempre ser pago em dinheiro ou redutível a dinheiro (cheque). 03 14 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider E se der um objeto? Não é compra e venda, mas permuta! Se não for determinado, deve ser ao menos ser determinável. Ha vários modos que o preço pode ser estabelecido. • A fixação do preço pode ser dada a taxa de mercado ou bolsa, em certo e determinado dia e lugar. • Que terceiro fixe o preço. Se o terceiro não quiser a incumbência, fica sem efeito o contrato, salvo quando designar outra pessoa. • Pode ser fixado em função dos índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de objetiva determinação. • Pode ser convencionado o preço quando não há fixação dele, se entende então que as partes se sujeitam ao preço corrente nas vendas habituais daquele produto. Mas e se não souberem qual é o preço corrente? Se faz o preço médio. E se a fixação do preço ficar ao completoarbítrio de outrem? A clausula é nula por ser potestativa – 489 CC. c) Coisa: Deve atender a 3 requisitos: existência, individuação e disponibilidade. • Existência: É nula a venda de coisa inexistente. Mas se tiver potencial para existir? Neste caso, é possível. Ex.: safra futura, filhotes. Art. 483: A compra e venda pode ter objeto coisa atual e futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório. • Individuação: O objeto da compra deve ser determinado ou determinável. Admite-se a venda de coisa incerta, indicada apenas pelo gênero e quantia. • Disponibilidade: A coisa deve se encontrar dentro do comércio e não fora do comércio. Ex.: bens inalienáveis Ex.: direitos da personalidade 15 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Efeitos da compra e venda: a) Gerar obrigações reciprocas para os contratantes. b) Acarretar a responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção. c) Responsabilidade pelos riscos: até o momento da tradição a coisa é de responsabilidade do vendedor. d) Repartição de despesas: as despesas com escritura e registro ficarão a cargo do comprador. As despesas com a tradição ficarão a cargo do vendedor. e) Direito de reter a coisa ou o preço: Na compra e venda à vista, as obrigações são recíprocas e simultâneas. Mas, cabe ao comprador SEMPRE o primeiro passo: pagar o preço. Antes de receber o pagamento, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa. Sendo a venda a crédito, pode o vendedor sobrestar a entrega, se antes da tradição o devedor cair em insolvência, até obter dele caução de que pagará o preço ajustado. OBS.: A coisa deve ser entregue, na falta de estipulação expressa, no local em que se encontrava ao tempo da venda. Limitações a compra e venda a) Venda de ascendente a descendente, diz o art. 496: “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido”. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. A anuência do cônjuge e outros descendentes deve ser expressa. É anulável tal venda. Os legitimados para a propositura da ação anulatória são os outros descendentes e o cônjuge do alienante. b) Aquisição de bens por pessoa encarregada de zelar pelos interesses do vendedor: Diz o art. 497 que não podem ser comprados, ainda que em hasta publica, sob pena de nulidade: • Pelos tutores ou curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados a sua guarda ou administração; 16 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider • Pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; • Pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; • Pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. c) Venda de parte indivisa em condomínio: o condômino não pode alienar sua parte indivisa a estranho, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condomínio aqui é pro indiviso porque se for para o diviso não há direito de preferência. O condômino que quiser pode exercer seu direito de preferência ou preempção, ajuizando ação no prazo decadencial de 180 dias contados da data em que teve ciência da alienação. No momento do ajuizamento, deve o condômino, efetuar a consignação do valor que deseja pagar. Mas e se mais de um condômino quiser comprar? Se dará preferência ao condômino que tiver benfeitorias de maior valor, e na falta dessas, o condômino de quinhão maior. Se as partes forem iguais todos que quiserem poderão adquirir a parte vendida, depositando o preço. d) Venda entre os cônjuges: é possível a venda entre cônjuges com relação aos bens excluídos da comunhão. Enunciado 152, CJF: É possível a venda entre cônjuges no regime da comunhão universal? Sim, pois há bens excluídos dessa comunhão, como os de uso pessoas e os utensílios de trabalho. 17 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Vendas especiais a) Venda mediante amostra: Diz o art. 484, CC: “Se a venda se realizar a vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato.” Amostra: reprodução integral e corpórea de uma coisa a ser vendida. Protótipo: primeiro exemplar de uma coisa criada, de uma invenção. Modelo: reprodução exemplificativa por desenho ou imagem acompanhada por uma descrição detalhada. Nesses três casos a venda ocorre sob condição suspensiva – fica suspensa até a entrega da coisa conforme a amostra, o protótipo ou o modelo. Se a coisa não for entregue conforme o prometido, funcionará como condição resolutiva. Art. 484, parágrafo único, CC – havendo divergência entre a amostra, o protótipo ou o modelo e o contato, prevalecerão os primeiros. Corresponde ao art. 30 do Código de Defesa do Consumidor (lembrar sempre do Diálogo das Fontes). O meio de oferta prevalece sobre o contrato. Se a mercadoria entregue não for toda igual ao da amostra, se caracteriza inadimplemento. O comprador deve protestar imediatamente, sob pena de o seu silencio ser interpretado como aceitação. b) Venda “ad corpus” e venda “ad mensuram”: O art. 500, CC apresenta regra aplicável somente a compra e venda de bens imóveis: “Se na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, as dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional do preço.” É a venda “ad mensuram”. O preço é estipulado com base nas dimensões do imóvel. Ex.: preço por hectare. 18 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Se em posterior medição, se vê que a área é menor, o comprador tem 2 saídas: 1. Exigir complementação; 2. Se não for possível, então pode optar pela resolução do contrato ou abatimento. OBS.: Presume-se que a referência as dimensões eram somente enunciativas, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio. -1/20 é 5%. Diferença tão pequena não justifica o litígio. Contudo, é presunção juris tantum, cabe ao comprador provar que precisava da área de 5%. Assim, se na venda “ad mensuram” se encontrar uma diferença inferior a 1/20, há uma presunção “juris tantum” de que a menção a área foi meramente enunciativa, ou seja, empregada apenas para dar uma indicação aproximativa do todo. Assim, o comprador não poderá ingressar em juízo para obter a complementação da área. Mas e se ao invés de falta tem excesso de hectare? Se o vendedor provar que estava de boa-fé e que se enganou, cabe ao comprador completar o valor correspondente ou devolver o excesso. Venda “adcorpus”: Na venda “ad corpus” o vendedor aliena o imóvel como corpo certo e determinada; logo, o comprador não poderá exigir o implemento da área, pois adquiriu o bem pelo conjunto e não em atenção a área declarara da que assume caráter meramente enunciativo. “Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência as suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda “ad corpus”. -é venda “ad corpus” porque não leva em consideração a medida, mas sim a coisa em si. 19 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider SEÇÃO II – DAS CLÁUSULAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA Da retrovenda: Está em desuso. Constitui um pacto adjeto, pelo qual o vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado, em certo prazo, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador. Ex.: A venda para B. Em certo prazo, A pode ter o imóvel de volta, se pagar tudo a B mais despesas. Tem a natureza jurídica de um pacto acessório, adjeto ao contrato de compra e venda. Caracteriza-se por uma condição resolutiva expressa. Traz como consequência o desfazimento da venda. As partes retornam ao “status quo ante”. Não constitui nova alienação. Somente bens imóveis. Qual é o prazo máximo que o vendedor pode exercer esse direito? 3 anos. Se as partes ajustaram período maior reputa-se como não escrito. Mas e se o comprador não quiser mais devolver? O vendedor pode depositar em juízo. E se mais de uma pessoa pode exercer o direito de resgate? Se só uma exercer, poderá o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o deposito. O direito de resgate – retrovenda – pode inclusive ser cedido a terceiros, transmitido a herdeiros e legatários. Da venda a contento e da sujeita a prova: A) Venda a contento: a venda a contento do comprador constitui pacto adjeto a contratos de compra e venda relativos, em geral, a gêneros alimentícios e bebidas finas. É aquela que se realiza sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória após declaração do comprador de que a coisa o satisfaz. É uma venda condicional. Entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue. Não será perfeita enquanto que o comprador não manifestar o seu agrado. O comprador que recebeu, com condição suspensiva de gostar, tem obrigação de mero comodatário. Isso até que aceite, se disse que gostou e aceitou, então será como uma compra e venda qualquer. 20 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider O negócio jurídico vai se perfectibilizar quando o comprador aceitar. Depende de seu gosto, portanto. Não pode o vendedor dizer que a recusa é por mero capricho. Vencido o prazo sem manifestação do comprador, entende-se que ele aceitou. Mas e se não há prazo? O vendedor terá direito a intimar o comprador, tanto judicialmente como extra, para que a faca em prazo dado pelo juiz. Esse direito é simplesmente pessoal. Não se transfere a outras pessoas. b) Venda sujeita a prova: presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor. Da mesma forma que a anterior, as obrigações até a aceitação são de mero comodatário para o comprador. Depois que aceitar é que a venda se perfectibiliza. c) Da preempção e da preferência: a seção aqui em estudo trata da preferência convencional, ou seja, aquela que as partes escolheram. Pode ser convencionado que o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa que já foi a ele vendida e que agora ele irá vender de novo. Assim, o vendedor pode usar de seu direito de “prelação” na compra. O prazo para exercer o direito de preferência não pode passar de 180 dias se a coisa for móvel e de 2 anos se a coisa for imóvel. Mas e se não houver prazo estipulado no contrato? O direito de preempção irá decair, se a coisa for móvel, em 3 dias. Se a coisa for imóvel, em 60 dias irá decair. Conta-se da data em que o comprador notificou o vendedor originário. Mas e se o comprador não avisar ao vendedor que está revendendo a coisa? Responderá por perdas e danos se alienou a coisa sem ciência do outro. Respondera solidariamente o adquirente se estiver de má-fé. ATENÇÃO: O direito de preferência só será exercido se e quando o comprador original vier a revender a coisa comprada. Ele não pode ser compelido para tanto. Direito de preferência é pessoal, não podendo ser cedido ou repassado a herdeiros. 21 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider OBS.: Retrocessão: Consiste ao direito de preferência atribuído ao expropriado. Art. 519: “Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa.” Quando na desapropriação não for dada a destinação legal que deveria ter sido dada, cabe ao que perdeu a terra o direito de preferência pela terra. d) Da venda com reserva de domínio: o vendedor tem a própria coisa vendida como garantia de pagamento. Somente a posse é transferida ao comprador. A propriedade permanece com o vendedor. Somente passara a propriedade após o recebimento do preço. Ex.: compra e venda a crédito de bens móveis, como eletrodomésticos. Para valer contra terceiros o contrato com reserva de domínio deve ser registrado no Cartório de títulos e documentos do domicilio do comprador. Não pode ser objeto de compra e venda com reserva de domínio aquele bem que não se pode individualizar perfeitamente. Na dúvida, decide-se em favor do terceiro adquirente de boa-fé. Apesar da transferência de domínio somente se der quando o preço for integralmente pago, o comprador responde desde a tradição pelos riscos da coisa. O vendedor somente poderá executar o comprador após constituir o comprador em mora, mediante protesto de título ou interpelação judicial. Verificada a mora, pode o vendedor mover ação de cobrança ou poderá mover ação para recuperar a posse da coisa. Tem a opção. e) Da venda sobre documentos: Diz o art. 529: “Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato, ou no silencio deste, pelos usos”. Achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido comprovado. 22 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider ATENÇÃO: • Tem uso no comércio marítimo, na venda de praça a praça e entre países distantes. • O vendedor, entregando o documento se libera das obrigações e tem direito ao preço. • O comprador, na posse justificada de tal documento, pode exigir do transportador a entrega da mercadoria. • Estipulado o pagamento por intermédio de banco, caberá ao banco efetuá-lo contra a entrega de documentos, sem obrigação de verificar a coisa vendida, pela qual não responde. Nesse caso, somente após a recusa do estabelecimento bancário a efetuar o pagamento, poderá o vendedor pretendê-lo diretamente ao comprador. 4. CAPITULO II – DA TROCA OU PERMUTA A troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra,que não seja dinheiro. Difere da compra e venda apenas por isso. Na compra e venda a prestação é dinheiro, aqui é uma coisa. Como ocorre com a compra e venda, a troca é contrato oneroso, bilateral e consensual. Não tem caráter real, mas apenas obrigacional. Gera para os permutastes a obrigação de transferir, um para o outro, a propriedade de determinada coisa. Diz o art. 533: Aplicam-se a troca as disposições referentes a compra e venda, com as seguintes modificações: I – Salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; II – É anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante. Ex.: se o objeto que o ascendente vai trocar com o filho é de valor maior que o filho vai dar par o pai, os outros filhos devem ser ouvidos, bem como a esposa. Devem consentir expressamente. 04 23 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 5. CAPITULO III – DO CONTRATO ESTIMATÓRIO Chamado de consignação. O consignante entrega bens móveis a outrem, denominado consignatário, para que este os venda pelo preço estimado. Ao ser vendido, o consignatário deve pagar o preço ou se não fizer isso, restituir a coisa consignada. Ex: carro na revenda. • Natureza real, pois se aperfeiçoa na entrega do bem ao consignatário. • Oneroso, comutativo e bilateral. E se ocorre alguma coisa com o bem na posse do consignatário? Se a restituição da coisa não puder ser feita, ainda que por caso fortuito ou forca maior, ainda assim, o consignatário irá responder pelo valor dos bens deixados em consignação. • A coisa consignada não faz parte do patrimônio do consignatário, assim, não pode ser objeto de penhora ou sequestro pelos credores. • Por outro lado, o consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição. Findo o prazo do contrato, terá ele direito ao preço ou a restituição da coisa. Mas enquanto durar o prazo não pode dispor da coisa, nem perturbar a posse direta do consignatário, pena de se sujeitar a interditos possessórios. 05 24 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 6. CAPITULO IV – DA DOACAO: É o contrato em que uma pessoa, por livre e espontânea vontade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o patrimônio de uma outra pessoa. Características: a) Natureza contratual b) Intenção de doar c) Transferência de bens para o patrimônio do donatário d) Aceitação da doação pelo donatário. Natureza jurídica: a) Unilateral: Só gera obrigações para uma das partes, apesar de precisar de 2 para que o contrato se perfectibilize. b) Consensual: Só se aperfeiçoa com o acordo de vontades entre o doador e o donatário, independente da entrega da coisa, contudo, a doação de bens moveis de pequeno valor é real. c) Solene: a doação deve ser feita por escritura pública ou instrumento particular, contudo, em bens móveis de pequeno valor admite-se a doação verbal, se no momento posterior, a coisa lhe for entregue. d) Gratuito: Não é oneroso para a outra parte. É necessário aceitação do donatário, já que é um ato unilateral? Sim, é indispensável. A aceitação pode, assim, ser expressa, tácita ou presumida: - Expressa: no próprio instrumento. - Tácita: Quando revelada pelo comportamento do donatário. Ex.: começa a usar a cosia - Presumida: Ha vários casos: # Quando o doador fixa o prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não. Se não se manifestar, entende-se que aceitou. Isso só se aplica nos casos de doação pura em que não há ônus para o donatário. 06 25 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider # Quando a doação é feita em contemplação de casamento futuro com certa pessoa e o casamento se realiza. Ex.: vou te dar uma casa se tu se casares com fulano de tal. Há o casamento. O casamento gera a presunção de que foi aceita a doação. Pode a aceitação se totalmente dispensável? Sim, em casos de doação pura e quando o donatário for absolutamente incapaz. Entende-se que só pode trazer benefício ao incapaz. Espécies de doação: Ha várias espécies de doação: a) Pura e simples ou típica: quando o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário. b) Onerosa ou modal ou com encargo ou gravada: aquela em que o doador impõe ao donatário uma incumbência. O encargo (que não suspende a aquisição, nem o exercício do direito) pode ser imposto em benefício do doador, de terceiro ou de interesse geral. Ex.: Vou doar esse terreno, mas em parte dele quero que se obrigue a fazer um orfanato. E se a pessoa não cumpre, já está com o terreno mesmo? O seu cumprimento, em caso de mora, pode ser exigido judicialmente. Tanto o MP, como o doador e como terceiro (alguma entidade) tem o direito de exigir que seja cumprido o encargo. c) Remuneratória: é aquela doação feita em retribuição a serviços prestados. Havia uma dívida, mas essa dívida não pode mais ser cobrada. Ex.: Devo ao médico, mas não tenho dinheiro. Faz tempo, a dívida já foi prescrita. Então eu doei alguma coisa. Se a dívida era exigível, a retribuição se chama pagamento. Se não era exigível, a retribuição se chama doação remuneratória. d) Mista: embora haja intenção de doar, existe um preço fixado, caracterizando uma venda e não uma doação. 26 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Ex:compra e venda de uma casa pelo valor de R$1.00. É preço vil, querem disfarçar uma compra e venda quando na verdade é uma doação. Deve-se verificar qual é o negócio preponderante, para se aplicar as regras a ele destinadas. e) Contemplação do merecimento do donatário: é quando o doador menciona que está dando porque é grande amigo, por exemplo. Não perde o caráter de ser pura. f) Feita ao nascituro: é valida, desde que aceita pelo seu representante legal. Sendo titular de direito eventual, uma condição, caducará a doação se não nascer com vida. g) Em forma de subvenção periódica: Trata-se de uma pensão, em favor do donatário. Extingue-se quando o doador morrer, salvo se outra coisa dispuser. Contudo, quando o donatário morrer não se transmite. h) Em contemplação de casamento futuro – propter nuptias: é o presente de casamento. Ficara sem efeito a doação se o casamento não se realizar. A eficácia da doação se subordina a condição suspensiva – realização do casamento. Dispensa aceitação, já que se presume que foi aceita com a realização do casamento. Pode ser inclusive beneficiado os filhos do casal. i) Entre cônjuges: Art. 544: a doação de ascendentes a descendentes ou de um cônjuge a outra, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. j) Doação conjuntiva – em comum a mais de uma pessoa: Se nada for estipulado em contrário, entende-se que a doação a mais de uma pessoa deve ser distribuída igualmente entre elas. 27 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider k) De ascendentes a descendentes: Os descendentes estão assim obrigados a conferir, no inventário do doador, por meio de colação, os bens recebidos – Artigo 544. l) Doação oficiosa: É a que excede o limite de que o doador dispõe, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Declara-se nula somente a parte que exceder tal limitee não toda a doação. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade de seus bens, já que a outra metade pertence aos herdeiros – Artigo 549. m) Com cláusula de retorno e reversão: Se o doador sobreviver mais tempo que o donatário, o doador pode estipular que uma vez o donatário morto, os bens voltem ao patrimônio do doador. É uma condição resolutiva expressa. Não prevalece a clausula de reversão em favor de terceiro. n) Manual: É a doação verbal de bens móveis de pequeno valor. É uma exceção, que a doação precisa ser solene e consensual. Aqui ela é informal e real. o) Feita para entidade futura: a doação a entidade futura caduca se, em 2 anos, está não estiver constituída regularmente. A existência legal das peças jurídicas de direito privado começa com a inscrição do ato constitutivo no registro. Restrições à doação a) Doação pelo devedor já insolvente: Ou pela doação, ficou reduzido a insolvência. É uma fraude contra credores, podendo ser impugnada pela ação paulina. b) Doação da parte inoficiosa: Nulifica a parte exceder ao que poderia dispor em testamento. c) Doação de todos os bens do doador: Não pode todos os bens do doador serem doados. Tem que haver uma reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. A lei tenta impedir que o doador seja reduzido à miséria. 28 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider d) Doação do cônjuge adultero a seu cúmplice: Ex.: homem que tem amante e doa bens para a “outra”. Pode ser anulada a doação pelo cônjuge ou pelos herdeiros necessários. Prazo de 2 anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. – Artigo 550, CC. A doação é anulável. Mas e se o casamento não foi dissolvido? Pode propor, não tem problema. Revogação da doação: O direito de se revogar a doação é de ordem pública e, portanto, irrenunciável antecipadamente. Ex.: no contrato de doação diz que renuncia ao direito de revogar a doação. Não pode. a) Casos comuns a todos os contratos: Tendo natureza contratual, a doação pode ter todos os vícios do negócio jurídico. Pode também ser declarada nula se o agente for absolutamente incapaz, bem como nos demais contratos. Pode ainda ser rescindida, de comum acordo, ou resolver-se, revertendo os bens para o doador. b) Por descumprimento de encargo: Diz o art. 555 que “a doação pode ser revogada por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo”. Para que a doação possa ser revogada por descumprimento do encargo, é necessário que o donatário tenha incorrido em mora. Se o doador fixou prazo para cumprimento do encargo, e o donatário nada faz, está em mora. c) Por ingratidão do donatário: Se encontra nas artes 557 e 558. • Se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele. E o homicídio culposo? Não está incluído. Também não será possível a revogação se a absolvição criminal se der por ausência de imputabilidade, ou por uma das excludentes de ilicitude. 29 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider • Ofensas físicas cometidas pelo donatário contra o doador. Necessário consumação e que haja dolo. • Se o injuriou gravemente o ou caluniou. • Podendo o donatário dar alimentos ao doador, aquele não o faz. Quando o ofendido não for do doador, mas cônjuge, ascendente, descendente, ou irmão do doador, ou descendente adotivo, também pode o doador pleitear a revogação da doação. Qual é o prazo para que se peça a revogação? Dentro de um ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador, um dos fatos acima elencados. Quem pode ajuizar a ação de revogação da doação? É personalíssima, somente o doador. Contudo, se a ação foi iniciada, e o doador morreu os herdeiros e sucessores podem prosseguir com a ação. Mas e no caso de homicídio doloso? Se morreu, como vai ajuizar? É uma exceção, nesse caso, os herdeiros podem ajuizar a ação de revogação da doação. De qualquer forma, só se admite a revogação da doação, por ingratidão, nas doações puras. Não se admite, portanto: nas doações puramente remuneratórias, nas oneradas com encargo já cumprido, nas que se fizerem em cumprimento de obrigação natural, e nas feitas para determinado casamento. 30 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 7. CAPITULO V – DA LOCAÇÃO DE COISAS Pode ser de bem móvel ou imóvel Sendo bem imóvel: o CC não dispõe a respeito da locação de prédios. A locação urbana rege-se pela Lei 8.245/91 – a Lei do Inquilinato. Diz o art. 1º da Lei que: “Continuam regidas pelo CC as locações de imóveis de propriedade da União, dos Estados, dos Municípios, de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; de espaços destinados a publicidade; de apart-hotéis, hotéis residências ou equiparados; e o arrendamento mercantil”. Assim, as normas referentes a bens imóveis no CC, tem aplicação somente a esses tipos de bens. Sendo bem móvel: a locação de bem móvel é regida pelo CC (art. 565 e seguintes) ou pelo CDC (Lei nº. 8.078/90), que é uma sobrestutura jurídica (mais do que um microssistema, como o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº.8.069/90). O conceito está no art. 565 do CC: “Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.” Natureza jurídica: Contrato bilateral – envolve prestações recíprocas; Oneroso – Ambas as partes obtêm proveito; Consensual – aperfeiçoa-se com o acordo de vontades; Comutativo – Não envolve risco; Não solene – a forma é livre; Trato sucessivo – Prolonga-se no tempo. 07 31 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Elementos fundamentais da locação São 3 os elementos fundamentais: objeto, preço e consentimento. a) Objeto: Pode ser coisa móvel ou imóvel. O bem imóvel é sempre infungível. Já o bem móvel deve ser infungível. b) Preço: O preço aqui é chamado de aluguel ou remuneração. É também elemento fundamental, se não houver preço a ser pago não haverá locação e sim comodato. O Preço deve ser determinado ou ao menos determinável. Pode o pagamento ser feito em espécie ao invés de dinheiro? Em regra, o pagamento é feito em dinheiro, mas nada impede que se convencione de outro modo. c) Consentimento: Pode ser expresso ou tácito. Obrigações do locador Quem é que pode locar? Somente o locador? Não, todo aquele que tiver poderes de administração, como, por exemplo, inventariante em relação aos bens do espólio, os pais que possuem o usufruto dos bens dos filhos. Estão no art. 566 do Código Civil: a) Entregar ao locatário a coisa alugada: a entrega deve ser feita com os acessórios. Também importante que o locador deve entregar a coisa no estado em que possa ser utilizada, para servir ao uso em que se destina. Ex: aluga automóvel e não funciona. O locador está descumprindo sua obrigação, razão suficiente para rescisão do contrato. b) Manter a coisa no mesmo estado: compete ao locador realizar os reparos necessários para que a coisa seja mantida em condições de uso, salvo convenção em contrário. Importante é que o locador será obrigado a isso – salvo convenção em contrário – se tais estragos não derivarem de culpa do locatário. Se derivarem, o locatário é de que deve fazer os reparos.32 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider c) Garantir o uso pacífico da coisa durante o tempo do contrato: isso envolve o fato de que o locador não pode perturbar o locatário e também garantir que terceiros não perturbem a locação para com o locatário. Tal disposição está na primeira parte do art. 568: “O locador resguardara o locatário dos embaraços e turbações de terceiros, que tenham ou pretendam ter direitos sobre a coisa alugada…” d) Responde ainda, o locador, por vícios ou defeitos da coisa, que sejam anteriores a locação. Obs.: Responsabilidade pelas reparações que a coisa alugada venha a necessitar e que não decorram de culpa do locatário. Sim, qualquer dano que for decorrente de culpa do locatário, ele que irá pagar. Diz a lei no art. 567: “Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.” A lei defere ao locatário a escolha em caso de deterioração da coisa alugada: rescinde o contrato (em caso de grave deterioração) ou pede redução proporcional do aluguel. Obrigações do locatário: Estão no art. 569 do Código Civil: a) Servir-se da coisa alugada para os usos convencionados e tratá-la como se sua fosse. A coisa alugada destina-se a algo e não pode o locatário mudar essa destinação a seu livre arbítrio. Ex.: Não pode o locatário de um automóvel de passeio usá-lo para disputar corridas de velocidade. Nesse caso, além de ser hipótese de rescisão do contrato, pode o locador também exigir perdas e danos: Art. 570: “Se o locatário empregar a coisa em uso diverso do ajustado, ou do a que se destina, ou se ela se danificar por abuso do locatário, poderá o locador, além de rescindir o contrato, exigir perdas e danos.” b) Pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados e, na falta de prazos, de acordo com o costume do lugar. Na falta de convenção em contrário, a dívida é “quérable” e deve ser paga, pontualmente, no domicilio do devedor. 33 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider c) Levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito. d) Restituir a coisa quando a locação terminar no estado em que recebeu. Salvo as deteriorações naturais ao uso regular. E se o locatário não devolve quando acabou o contrato? Caracteriza esbulho E se a coisa se encontra em estado deplorável? Pode o locador se recusar a receber as chaves, não dando quitação. Prazos da locação As regras relativas aos prazos não se aplicam aos prédios urbanos, tem regulamentação própria. A locação de coisas pode se ajustar por prazo determinado ou indeterminado. PRAZO DETERMINADO: na hipótese de haver locação por prazo determinado, a relação cessa de pleno direito com o advento do termo, independente de notificação ou aviso – Art. 573 – Deve, assim, o locatário devolver a coisa ao locador. Mas e se não devolve? Cabe ao locador reclamar a coisa através de notificação, a fim de colocá-lo em mora. Mas e se mesmo após a notificação, o locatário não se sai do bem? Se notificado, o locatário não restituir a coisa, sua mora poderá provocar dupla sanção: 1 – Pagará o aluguel que o locador, na própria notificação, arbitrar. É um meio compulsório que quer obrigar o locatário a restituir a coisa. Diz o art. 575 que: “Se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade.” 2 – Responderá pelo dano que a coisa venha a sofrer, ainda que proveniente de caso fortuito. Pode o locador tentar reaver a coisa locada antes do prazo determinado? Somente se pagar ao locatário perdas e danos resultantes. Pode o locatário devolver antes de findo o contrato? Somente se pagar, proporcionalmente, a multa prevista no contrato. 34 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Se esta multa for excessiva, poderá o juiz reduzi-la. OBS.: Morrendo o locador ou o locatário, transfere-se aos seus herdeiros a locação por tempo determinado. Exige, sempre, notificação do locatário. Direito de retenção do locatário: Direito de retenção é um meio direto de defesa. Pode assim, in caso, o locatário se recusar a entregar a coisa sem antes receber o que lhe é de direito. Assim, a lei dá ao locatário o direito de retenção sobre as benfeitorias necessárias (sempre) e das úteis (se feitas com a autorização do locador), desde que expressamente não acordado o contrário. Coisa alienada durante a locação: O adquirente não é obrigado a respeitar o contrato de locação, se nesse contrato de locação não houver cláusula que diga que o contrato continua vigendo em caso de alienação e não estiver registrado. Portanto, para que após a venda da coisa o contrato de locação continue a existir, é necessário que: haja cláusula no contrato de locação a respeito e também que esteja esse contrato registrado. O registro será o de Títulos e Documentos do domicílio do devedor quando a coisa for móvel e será o de Registro de Imóveis quando a coisa for bem imóvel. De qualquer forma, se, de acordo com o disposto acima, o adquirente para acabar com o contrato de locação, ele só pode querer tirar o locatário se respeitar o prazo de 90 dias após notificação. Leasing ou arrendamento mercantil: É uma espécie do gênero locação. Trata-se de negócio jurídico complexo, no qual uma empresa/pessoa física, necessitando de certo equipamento ou imóvel, em vez de adquiri-lo, consegue que uma instituição financeira o faça. Esse banco vai e adquire, mas então aluga para a empresa, por um certo prazo. 35 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider No final do prazo o locatário deve devolver o bem locado com a opção de o locatário adquirir o bem por um preço residual, que já foi estipulado no momento em que se celebrou a avenca. Partes no contrato: arrendador-financiador/locatário-financiado/alienante do bem almejado. 36 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 8. CAPITULO VI – DO EMPRÉSTIMO Empréstimo é o contrato pelo qual uma das partes entrega uma coisa à outra, para ser devolvida posteriormente. Duas são as espécies de empréstimos: mútuo e comodato. 8.1 SECAO I – DO COMODATO: Comodato é o empréstimo para uso apenas. É um empréstimo GRATUITO de coisas infungíveis. Podem ser bens moveis ou imóveis. O contrato se perfectibiliza com a tradição da coisa. Características do comodato: a) Gratuidade do contrato: se fosse oneroso, iria se confundir com a locação. b) Infungibilidade do objeto: restituição do mesmo objeto recebido como empréstimo. Tem que devolver a mesma coisa. É um contrato real. c) Aperfeiçoamento do contrato com a tradição. d) Contrato unilateral: após a tradição, só há obrigações para o comodatário de restituir a coisa. e) Contrato temporário. Tal ajuste pode ser por prazo determinado ou indeterminado, como na locação. f) Contrato não solene: Obs.: Tutores, curadores e administradores de bens alheios não podem dar em comodato, sem expressa autorização, os bens que estão sob suas guardas. Obrigações do comodatário: a) Conservar a coisa – art. 582, CC: o comodatário deve conservar a coisa comose fosse sua. Deve evitar desgastá-la. Não pode alugá-la, nem a emprestar. Deve responder pelas despesas de conservação. O comodatário não pode nunca tentar cobrar do comodante as despesas comuns, feitas com o uso e gozo da coisa emprestada. Mas e se houver despesas extraordinárias que devem ser feitas? Devem ser comunicadas ao comodante, para que autorize. 08 37 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Como possuidor de boa-fé, o comodatário tem direito a retenção de benfeitorias. b) Uso da coisa de forma adequada: Responde por perdas e danos se usar o bem inadequadamente. Também pode ser causa de resolução do contrato. c) Restituir a coisa: Deve ser restituída a coisa no prazo convencionado. E se não há prazo? Entende-se como necessário quando acaba a razão pela qual o bem foi emprestado. Ex.: empresta trator para colheita. Acaba a colheita se entende que acabou o prazo. Mas e se o comodante quer antes? Pode pegar antes do prazo? Somente se decorrer de uma situação imprevista e urgente, desde que reconhecida pelo juiz. E se não devolve? -Caracteriza-se esbulho. Está sujeito a reintegração de posse. -Também incide em sanção: responderá pelos riscos da mora e terá de pagar aluguel arbitrado pelo comodante durante o tempo de atraso. ->Em regra, o comodatário não responde pelos riscos da coisa, não responde pela deterioração ou caso fortuito. Mas se estiver em mora, irá responder, ainda que decorrente de caso fortuito. Extinção do comodato a) Pelo final do prazo dado, ou não havendo prazo, pela utilização da coisa de acordo com a finalidade para que foi emprestada. b) Pela resolução por iniciativa do comodante, em caso de descumprimento do comodatário de suas obrigações. Ex.: aluga o terreno emprestado. c) Por sentença, a pedido do comodante, se provada a necessidade de restituição do bem antes do prazo acordado. d) Pela morte do comodatário, se o contrato foi celebrado “intuito personae”. Se não foi personalíssimo, se transmite aos herdeiros. 38 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider 8.2 SECAO II – DO MÚTUO: Empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário se obriga a restituir ao mutante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Ex.: dinheiro. Neste tipo de empréstimo, o mutuante transfere o domínio do bem ao mutuário. Isso não acontece no comodato. Como o mutuário se torna PROPRIETÁRIO, corre por conta desse todos os riscos da tradição. É empréstimo para consumo, pois o mutuário não está obrigado a devolver o mesmo bem, do qual se torna dono. Sendo dono, pode consumir, vender, etc. Mutuo é diferente do comodato: # É empréstimo de consumo, enquanto que o comodato é empréstimo de uso. # Tem por objeto coisas fungíveis. Já o comodato tem por objeto coisas infungíveis. # Mutuário desobriga-se restituindo coisa da mesma espécie, qualidade e quantidade. Já o comodatário só se exonera restituindo a própria coisa emprestada. # O mútuo acarreta a transferência de domínio. O comodato não. # Mútuo permite a alienação da coisa emprestada, ao passo que o comodato não pode fazer isso. Características do mútuo: -a) gratuito, real, unilateral, não solene e temporário. b) o contrato de mútuo surge como um ato para socorrer um amigo. Daí se presume que ele seja gratuito. Permite, contudo, que se convencione expressamente, a onerosidade do contrato. c) O mútuo é tratado como um contrato gratuito. Mas na verdade, quase a totalidade dos casos de mútuo, uma taxa de juros é fixada, que é a remuneração pelo uso do capital. d) Mutuo é temporário. Não existe mútuo para sempre. Se for para sempre será doação. Mas e se não houver prazo para a restituição do bem? O CC determina que: 1) Até a próxima colheita, se for de produtos agrícolas; 2) De 30 dias, pelo menos, se for de dinheiro; 3) Do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível. 39 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider Mútuo com fins econômicos: Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitindo-se a capitalização anual – Taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos a fazenda nacional. E se faz um mutuo para um menor sem autorização dos pais? Regra: No intuito de proteger o menor, a lei nega ao mutuante o direito de reaver o dinheiro emprestado, quer do próprio menor, do pai, mãe, avo ou fiadores. Por isso que, quando se empresta dinheiro, o mutante deve verificar se a pessoa é capaz para ser mutuário. Exceção: Contudo, o mutuante terá direito ao reembolso se: a – O representante do menor ratificar o empréstimo; b – se o menor, estando ausente essa pessoa se viu obrigado a contraí-lo para os seus alimentos habituais; c – se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho, caso em que a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; d – Se o empréstimo reverteu em benefício do menor; e – Se este obteve o empréstimo maliciosamente. 40 Curso Preparatório para OAB 1ª Fase Prof. Patrícia Strauss Riemenschneider CONTRATOS – 28 ORGANIZAÇÃO CONTRATOS – DISPOSIÇÕES GERAIS 3. COMPRA E VENDA 4. CAPITULO II – DA TROCA OU PERMUTA 5. CAPITULO III – DO CONTRATO ESTIMATÓRIO 7. CAPITULO V – DA LOCAÇÃO DE COISAS 8. CAPITULO VI – DO EMPRÉSTIMO CONTRATOS –
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